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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DESEMBARGADOR (A) DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESTADO DO PIAUÍ Ref. aos autos processuais originário nº ......................... PACIENTE: GABRIELA DOS SANTOS IMPETRADO: MM JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PARNAIBA MARIANA LUSTOSA, brasileira, advogada, inscrita na Ordem dos Ad- vogados do Brasil, Seccional Piauí, sob o nº 7.989, com escritório profissional em Av. Prefeito Hugo Bastos, n° 345, Sala 07, onde recebe intimações e co- municações de estilo, vem respeitosamente perante esse Egrégio Tribunal, com fulcro no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, e artigos 647 e 648, ambos do Código de Processo Penal, impetrar o presente HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO COM PEDIDO DE CONCESSÃO DE LIMINAR em benefício da paciente GABRIELA DOS SANTOS, brasileira, convi- vente, com 26 anos de idade, residente e domiciliada na Rua da Tristeza, n° 25, Centro, Cidade de Parnaíba/PI, a qual vem sofrendo violenta coação em sua liberdade, por ato ilegal e abusivo do Juízo da Vara Criminal da Comarca de Parnaíba, neste Estado, pelos motivos de fato e de direito a seguir delinea- dos: I – DA SÍNTESE FÁTICA A prisão preventiva de Gabriela dos Santos foi requerida por meio de representação do delegado de polícia civil Dr. José Dias, no qual o mesmo nar- ra a ocorrência fática e alega a existência do crime de homicídio praticado pela paciente direcionada ao seu filho recém nascido. O delegado tomou ciência do ocorrido e logo se direcionou ao hospital, onde detém-se a narrativa dos se- guintes fatos: “(...) Chegou ao meu conhecimento que na noite de 25 de janeiro de 2021, GABRIELA DOS SANTOS deu a luz a uma criança não-nominada, em sua própria casa, e que mais tarde compareceu ao Hospital Municipal de Paraibu- na, onde passou a noite com dores abdominais. Consta que GABRIELA pas- sou a noite no hospital e que na manhã seguinte, dia 26.01.2021, telefonou pa- ra um irmão chamado BENTO DOS SANTOS, e pediu que ele jogasse em um matagal um saco de lixo que continha “lavagem”. BENTO agiu conforme a soli- citação.(...) No hospital, GABRIELA embora negasse estado de gravidez, apre- sentava sinais evidentes de que tinha gerado um filho recentemente, tanto que, segundo as funcionárias do estabelecimento ouvidas, estava com placenta e um cordão umbilical saindo pela vagina. Tais funcionários informaram ainda que a placenta estava “madura” e que, portanto, a criança gestada teria entre 37 e 40 semanas de concepção.(...) Diante da impossibilidade da ocorrência de um relatório, de forma precipitada, o Delegado requereu que a investigada fosse presa de forma preventiva, sus- tentando a sua prisão em manutenção da ordem pública, uma vez que a barba- ridade do delito cometido, estaria a causar comoção social. Alegando-se ainda que apesar de não deter antecedentes e nem condutas criminosas anteriores a pratica deste ato, a GABRIELA DOS SANTOS, representa insensibilidade e perigo social e familiar. A autoridade Coatora sustenta sum decisão de aplicara a cautelar restritiva de liberdade em esta presente no caso OS INDICIOS DE MATERIALIDADE E DE AUTORIA, requisitos necessários a prisão preventiva segundo o Art. 312 do CPP, bem como a existência de um crime punido com RECLUSÃO, detendo este a pena base superior aos 4 anos (art. 313 I, CPP), não acreditando este, na possível aplicação de outras medidas cautelares diversas da restrição de liberdade. Tendo assim, sido decretada a prisão preventiva da paciente, como remédio cautelar em fundamento a ordem pública, conforme se tem a denúncia. Mesmo diante de possíveis inconsistências com o fato e condições subjetivas favo- ráveis da Paciente. II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA A Constituição da Republica Federativa do Brasil prescreve em seu arti- go 5º, inciso LXVIII, que será concedido habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber- dade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Em igual substrato, o Código de Processo Penal contempla em seus ar- tigos 647 e 648: Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liber- dade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. Há que se mencionar que a Qualificação delituosa configura o crime de Aborto, disposto no Art. 124 do Código Penal, não configurando assim, o HO- MICIDIO DOLOSO, como a denúncia e a fundamentação da PRISÃO Preventi- va elucidam. Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) Pena - detenção, de um a três anos. Conforme o resguardado na legislação do Art. 313, vê-se que a prisão preventiva não se aplica ao crime de auto aborto, por este deter pena de De- tenção e esta ainda ser inferior ao mínimo legal exidgido para a aplicação desta medida cautelar: Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decre- tação da prisão preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Sendo o crime tipificado Autoaborto, a mantença da prisão preventiva fe- re a expressa disposição legal. No mais, a respeito da fundamentação de co- moção social, no cenário causado pelo provável crime, esta comoção não en- seja requisito tipificado e que possa se basear a prisão preventiva. Se reafirma que para o cabimento da prisão preventiva, o crime deve se adequar as condi- ções do Art. 313 do CPP, devendo ser doloso, punido com pena privativa de liberdade superior a quatro anos. Manter-se a prisão preventiva com base somente em comoção social sem se ater aos pressupostos legais é admitir que se prossiga com uma irregularidade processual. Diante de não haver nenhum indicio de que a paciente irá impossi- bilitar ou atrapalhar a aplicação da justiça ao seu caso, pode-se requerer e es- perar que lhe seja aplicado uma das cautelares constantes nos Arts. 319 e 320 do Codigo de Processo Penal. O Supremo Tribunal Federal dispõe sobre constituir fundamentação idônea somente o a comoção social que decorrer do fato: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE DO CRIME. COMO- ÇÃO SOCIAL. FUNDAMENTOS INIDÔNEOS. A jurisprudência do Su- premo Tribunal Federal está sedimentada no sentido de que a alusão à gravidade em abstrato do crime e à comoção social não é suficiente para a decretação da prisão preventiva com fundamento na garantia da ordem pública. Ordem concedida. (STF - HC: 90146 GO, Relator: EROS GRAU, Data de Julgamento: 06/02/2007, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 09-03-2007 PP- 00052 EMENT VOL-02267-03 PP-00459 LEXSTF v. 29, n. 341, 2007, p. 455-460 RCJ v. 21, n. 135, 2007, p. 133) A manutenção da prisão preventiva da Paciente deve estar baseado em fatos claro, reais e determinados, que possam justificar sem que restem duvidas so- bre a necessidade de aplica-la e não haver o cabimento de demais medida cautelares. Poderá ser decretada a prisão preventiva, quando, havendo indícios de autoria e prova da materialidade, for necessária para a garantia da ordem pú- blica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal (artigo 313 do Código de Processo Penal). Assim, ainda que vossa(s) Excelência(s) considerem haver indícios suficientes de autoria, o mesmo não se pode dizer com relação ao periculum in libertatis, pois essa exigência cautelar aqui não se encontra presente. Nesta linha, é a lição de Luís Flávio Gomes, que com extrema proprie- dade doutrina “que a prisão cautelar é excepcional e instrumental. Desse modo, só se justifica quando o juiz, motivadamente, demonstra seu em- basamento fático e jurídico,valendo das provas produzidas dentro do processo” (Direito de Apelar em Liberdade, Ed. RT, p. 39). Destaca-se que a simples alegação de gravidade do delito não é sufici- ente a sustentar decreto prisional cautelar, posto que como pacífico entendi- mento doutrinário e jurisprudencial, a necessidade da medida deve ser com- provada por fatos concretos e não apenas na afirmação de que a gravida- de do crime afeta a paz social e deixa abalada a comunidade local. III - DOS PRESSUPOSTOS DA CONCESSÃO DA LIMINAR Diante do flagrante ilegalidade da decretação da prisão do paciente Ga- briela Dos Santos, não pairam dúvidas para que, num gesto de estrita justiça, seja concedida liminarmente o direito à liberdade. A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se devida- mente caracterizada. O que concerne o periculum libertatis (perigo na liberdade do acusado), conforme demonstrado minuciosamente, não se vislumbra qual- quer justificativa plausível para a prisão cautelar do paciente. Ainda diante do periculum in mora, diante da determinação de expedição do mandado de prisão sem se ater ao regramento legal, requer-se o Alvará de soltura em favor da paciente, com o intuito de que esta possa responder pelo processo em trânsito em liberdade. IV – DOS PEDIDOS Diante do exposto, resta induvidoso que o paciente sofre constrangimen- to ilegal por ato do Juízo da Vara Criminal da Comarca de Parnaíba/PI, circuns- tância contra legem que deve ser remediada por esse Colendo Tribunal. Ante o exposto, com base no artigo 5º, LXVIII, da CF, c/c artigos 647 e 648 do CPP, requer-se que Vossa Excelência digne-se de: a) Liminarmente, conceder a liberdade da paciente, GABRIELA DOS SANTOS. b) a confirmação no mérito da liminar pleiteada para que se consolide, em favor do paciente, a competente ordem de habeas corpus, para fazer cessar o constrangimento ilegal que o paciente vem sofrendo, como medida da mais inteira Justiça, expedindo-se, imediatamente, o compe- tente ALVARÁ DE SOLTURA, a fim de que seja a paciente posta em li- berdade com, das medidas cautelares diversas da prisão, nos termos do artigo 319, incisos I e V do Código de Processo Penal; c) a intimação pessoal do Douto Advogado para a sustentação oral, a ser marcada em dia e hora por esta Colenda Câmara. Nestes Termos, Pede Deferimento. Parnaíba/PI, 01 de fevereiro de 2021. ______________________ MARIANA LUSTOSA OAB/PI n° 7.989
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