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TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Professor Me. Antonio Batista Alves Neto GRADUAÇÃO Unicesumar Acesse o seu livro também disponível na versão digital. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; NETO, Antonio Batista Alves. Teoria e Prática na Educação Infantil. Antonio Batista Alves Neto. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. 224 p. “Graduação - EaD”. 1. Educação Infantil. 2. Teoria . 3. Prática 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1854-7 CDD - 22 ed. 372 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo Coordenador de Conteúdo Márcia Maria Previato de Souza Designer Educacional Amanda Peçanha Dos Santos Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Arthur Murilo Heicheberg Qualidade Textual Felipe Veiga da Fonseca Ilustração Rodrigo Barbosa Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian- do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi- ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complemen- tando sua formação profissional, desenvolvendo com- petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe- cimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó- runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra dis- ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professor Me. Antonio Batista Alves Neto O professor Antonio Batista Alves Neto possui Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) na área de Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores; Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Graduação em História pela UniCesumar. Atualmente é professor do curso de Pedagogia EaD da UniCesumar, é palestrante na área da educação e é Pós-Graduando em Docência do Ensino Superior pela UniCesumar. Desenvolve, ainda, pesquisa na área de Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores, trabalhando as temáticas: formação de professores, literatura, didática, práticas pedagógicas e gestão da sala de aula, indisciplina e Políticas Públicas. <http://lattes.cnpq.br/9858403150871278> SEJA BEM-VINDO(A)! Olá, prezado(a) aluno(a), é com grande satisfação que apresentamos o livro de Teoria e Prática na Educação Infantil. Esta obra tem como um de seus objetivos instrumen- talizar-lhe nos mais diversos assuntos e desafios necessários de serem enfrentados na Educação Infantil. Do campo da psicologia do desenvolvimento ao campo das políticas públicas, este material lhe proporcionará condições para avançar em sua formação e, com isso, pensar a sua prática. Um dos indicadores de que a discussão sobre Educação Infantil é de extrema relevância para o campo da educação, de forma geral, é o fato de que o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13005 de 2014, que vigorará até 2024, tem como uma de suas 20 metas, mais especificamente a meta número 1, intitulada “Educação Infantil”. Essa meta tem dois gran- des objetivos, sendo o primeiro o de universalizar a Educação Infantil na pré-escola, para crianças de 4 a 5 anos de idade. O segundo é o de ampliar a oferta de Educação Infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos de idade. Em que sentido isso é relevante para o campo da educação? É relevante na medida em que a Educação Infantil passa, ainda mais, a ser compreendida como etapa da educação ne- cessária para o sucesso escolar dos indivíduos, e efetiva nos documentos o sentimento de que a infância e sua educação são importantes, muito diferente do que podemos verificar em outras épocas, em que a criança era tida meramente como um “miniadulto”. Trata-se da valorização do “ser” criança e seu processo de desenvolvimento. Entretanto, a pergunta para você, nesse momento, é: o simples registro de uma Lei, ou seja, a existência da garantia do direito à Educação Infantil prevista em uma folha de papel garante, de fato, que ela se materialize no “chão” da escola? Evidentemente que não! É nesse sentido que abordaremos, também, os aspectos legais e políticos ligados à história da EducaçãoInfantil em nosso país, para que possamos compreender, de fato, como essa educação chegou onde chegou e o que ainda falta para se tornar uma edu- cação de qualidade, ou seja, seus limites e possibilidades. E para além das questões históricas e legais ligadas à ideia de infância e à ideia de edu- cação para essa infância, é necessário pensarmos sobre como ela se desenvolve. Nesse sentido, esta obra também lhe proporcionará uma discussão com autores consagrados para o estudo e compreensão do desenvolvimento e do processo de ensino e aprendi- zagem que pode e deve ocorrer no que hoje denominamos de infância. Resumidamente, o que dissemos até aqui é que as crianças são seres importantes, preci- samos compreender o seu desenvolvimento e, para que tal desenvolvimento se efetive, é necessário que haja condições materiais de qualidade. Em outras palavras, devemos estudar, debater e fazer acontecer a Educação Infantil. Nesse sentido, este material lhe proporcionará cinco unidades para que você possa re- fletir sobre os assuntos aqui apresentados e outros mais. Na primeira unidade, intitulada Fundamentos Filosóficos, Históricos e Sociológicos da Educação Infantil, apresentaremos a você os principais fatos e grandes pensadores liga- APRESENTAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL dos à ideia de infância e seu processo histórico, com o objetivo de lhe possibilitar, também, a compreensão de como alcançamos a ideia de infância presente na con- temporaneidade. Na segunda unidade, intitulada Políticas Públicas e Educação Infantil: instrumentos para a prática docente, tivemos a preocupação de reunir os principais documentos que embasam essa etapa da educação. Embasamento este, extremamente neces- sário para a sua atuação, pois como atuar na educação, de maneira geral, sem com- preender o que pode, o que não pode e o que deve ser feito? E mais, abordaremos os processos políticos que culminaram em tais direitos e deveres. Na terceira unidade, intitulada Considerações Teóricas e Práticas sobre a Aprendi- zagem e o Desenvolvimento Infantil: limites e possibilidades, temos como um dos objetivos discutir algumas das principais teorias e autores que se debruçaram sobre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, fugindo sempre do saudosismo teórico que pode impedir a compreensão e o respeito às mais diversas linhas de pensamento existentes. Na quarta unidade, intitulada Uma Didática para a Educação Infantil, buscamos rea- lizar uma discussão em torno do “como ensinar?”. Como ensinar matemática, como trabalhar as diversas linguagens e mais, a relevância da afetividade para que todas essas aprendizagens se efetivem de maneira saudável na Educação Infantil. Por fim, na quinta e última unidade, intitulada Organização e Prática: o trabalho pe- dagógico na Educação Infantil, enfatizamos a importância do ato de planejar, das possibilidades e das formas de se pensar o trabalho pedagógico na Educação Infan- til, buscando sempre um olhar sensível para o processo de avaliação. Quase para concluir, prezado(a) aluno(a), jamais compreenda este material como uma verdade única, pronta e acabada. Esta obra pretende mostrar algumas das pos- sibilidades teóricas para se pensar a infância e a Educação Infantil, deixando claro que existem muitas outras possibilidades de se fazer essa análise. Diante disso, leia este livro, leia os materiais extras, utilize todos os recursos disponi- bilizados, tire suas próprias conclusões e tenha em mente que nossa disciplina não pode resumir-se apenas em uma obra, assim como sua prática como educador(a) não pode ser fundamentada em apenas uma visão de educação. Por fim, desejamos que este material auxilie sua formação, e que sua formação pos- sa te dar condições para transformar a educação, nunca menos que isso! Pois como já disse Brandão (2010, p. 7), “se for para me superar faça, se for para repetir tudo o que eu já fiz, não vale a pena! Desista!”. Prof. Me. Antonio Alves APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL 15 Introdução 16 O Surgimento do Conceito de Infância 20 O Fim da Infância como a Conhecemos 25 As Ideias Educativas de Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536) 28 As Ideias Educativas de Comenius (1592 – 1670) 31 As Ideias Educativas de Rousseau (1712 – 1778) 34 As Ideias Educativas de Frederico Froebel (1782 - 1852) 36 Considerações Finais 44 Referências 45 Gabarito UNIDADE II POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO INFANTIL: INSTRUMENTOS PARA A PRÁTICA DOCENTE 49 Introdução 50 A “Creche” e a “Pré-Escola”, ou Seja, a “Educação Infantil” 54 A Educação Infantil nos Documentos Internacionais 58 A Educação Infantil nos Documentos Nacionais 83 A Prática Docente: Entre os Desafios das Políticas para a Educação Infantil e os Aspectos Legais. SUMÁRIO 10 87 Considerações Finais 94 Referências 96 Gabarito UNIDADE III CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS SOBRE A APRENDIZAGEM E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL: LIMITES E POSSIBILIDADES 99 Introdução 100 Teorias da Educação: Por Onde Caminhar? 103 Contribuição de Vigotski (1896 - 1934) Para Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil. 111 Contribuição de Jean Piaget (1896 – 1980) Para Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil 118 Vigotski e Piaget: Relações Possíveis, Limites e Possibilidades 120 O Brincar e o Desenvolvimento Infantil: Entre Vigotski e Piaget 125 Considerações Finais 132 Referências 134 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE IV UMA DIDÁTICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 137 Introdução 138 Requisitos Gerais para Ensinar na Educação Infantil: Como se deve Ensinar com a Certeza de Atingir o Objetivo 148 A Afetividade na Educação Infantil 152 Desenvolvimento das Linguagens para a Aquisição do Conhecimento na Infância 155 O Ensino da Matemática na Educação Infantil. 158 Letramento e Alfabetização: Implicações para a Educação Infantil 161 A Educação Infantil e a Literatura: Formando Leitores 169 A Música na Educação Infantil 175 Considerações Finais 182 Referências 183 Gabarito SUMÁRIO 12 UNIDADE V ORGANIZAÇÃO E PRÁTICA: O TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 187 Introdução 188 A Organização da Educação Infantil 190 Planejamento do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 202 Avaliação Mediadora na Educação Infantil: Um Olhar Sensível e Reflexivo sobre a Criança 211 Considerações Finais 218 Referências 219 Gabarito 220 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Me. Antonio Batista Alves Neto FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar a construção do conceito de infância na sociedade ocidental. ■ Compreender o quadro histórico da formação da ideia de uma nova infância. ■ Refletir sobre a contribuição das ideias educativas de Erasmo de Rotterdam para a educação (1466 – 1536). ■ Retratar a contribuição das ideias educativas de Comenius para a educação (1592 – 1670). ■ Refletir sobre a contribuição das ideias educativas de Rousseau para a educação (1712 – 1778). ■ Refletir sobre a contribuição das ideias educativas de Frederico Froebel para a educação (1782 - 1852). Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O surgimento do conceito de infância ■ O fim da infância como a conhecemos ■ As ideias educativas de Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536) ■ As ideias educativas de Comenius (1592 – 1670) ■ As ideias educativas de Rousseau (1712 – 1778) ■ As ideias educativas de Frederico Froebel (1782 - 1852) INTRODUÇÃO Nesta unidade, apresentaremos a você algumas das principais ideias acerca dos fundamentos históricos, filosóficos e sociológicos da Educação Infantil. O que é a infância? De onde vem este conceito? Ele sempre existiu? A criança dos dias de hoje tem as mesmas características comportamentais, biológicas e sociais que a criança de séculos passados, por exemplo? Alguns dessesquestionamentos podem parecer evidentes, no entanto, é necessário que o professor tenha mais do que a suposição. O bom professor carrega em sua prática a fundamentação necessária para lidar com os desafios diários da realidade a qual é submetido. Passaremos, então, pelo surgimento do conceito de infância, historicamente falando, pela problematização acerca do “fim da infância” e pelas ideias educa- tivas, cronologicamente apresentadas, de Rotterdam, de Comenius, Rousseau e Froebel. E uma observação inicial se faz extremamente necessária. Os assuntos aqui discutidos não podem ser esquecidos, abandonados nas unidades seguintes. Ao falarmos nas próximas unidades sobre aspectos legais, sobre desenvolvi- mento infantil, sobre possibilidades didáticas e sobre a organização da Educação Infantil, devemos ter em mente que esta discussão inicial se torna fundamento para as demais. Sendo assim, busque estabelecer, ao longo da leitura desta obra, todas as relações possíveis, pois elas serão muitas. Ao final desta unidade, esperamos ter proporcionado discussões suficientes para que você possa ter maior clareza e fundamentação a respeito dos temas apre- sentados. Afinal, a prática docente exige, inevitavelmente, muita clareza e toda fundamentação possível, pois para ser um docente, como veremos na Unidade 4, é necessário, antes de tudo, ser exemplo. Exemplo de que? De conhecimento, de paixão pelos estudos, pela leitura, pois só assim seremos autoridades do pro- cesso de ensino e aprendizagem. Vamos ao surgimento da infância. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 Jefferson Realce Jefferson Realce FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 O SURGIMENTO DO CONCEITO DE INFÂNCIA Não poderíamos iniciar esta obra de forma diferente! Antes de falar de creches, de Educação Infantil, aspectos legais e pedagógicos, é necessário apre- sentarmos uma concepção historicamente construída de infância. Para este início, daremos voz e espaço a alguns pensadores com posiciona- mentos nem sempre idênticos (muitas vezes até divergentes), mas igualmente relevantes para as problematizações que traremos aqui, de maneira que você possa tirar suas próprias conclusões. Neil Postman (2012), na clássica obra O desaparecimento da Infância, tema este que será mais abordado no próximo tópico desta unidade, nos apresenta uma visão sobre a infância, apontada por muitos como um “catastrófica”. Não vamos tirar este adjetivo do autor, mas preferimos que você, aluno(a), mais uma vez, tire suas próprias conclusões. Postman (2012) divide a obra já citada, em duas partes. Na primeira parte, encontramos os quatro primeiros capítulos, sendo ela intitulada de A invenção da infância. O primeiro capítulo está denominado de “Quando não havia crian- ças”, o segundo A prensa tipográfica e o novo adulto, o terceiro Os incunábulos da infância e o quarto A jornada da infância. Já a segunda parte do livro está intitulada O desaparecimento da Infância. E é exatamente isto, a segunda parte do livro leva, propositadamente, o título da obra O Surgimento do Conceito de Infância Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 e apresenta os cinco capítulos finais, sendo o primeiro denominado de O prin- cípio do fim, o segundo O meio que escancara tudo, o terceiro O adulto criança, o quarto A criança em extinção e o quinto Seis perguntas. A segunda parte desta obra “nos instala nos tempos modernos e tenta mostrar como a passagem do mundo de Gutenberg” (POSTMAN, 2012, p. 13), inventor da impressão com caracteres móveis, para o mundo de Samuel Morse, responsável pela primeira mensagem elétrica já transmitida neste planeta, criou e transformou a ideia de infância, de acordo com Postman (2012). E talvez você esteja se perguntando, por que o professor autor deste livro se deu o trabalho de “destrinchar” o sumário da obra de Postman (2012)? Ora, a resposta é simples, caso você tenha feito uma leitura atenta dos parágrafos anteriores, pôde verificar que a própria didática empregada na organização e titulação dos capítu- los já nos ajuda a compreender a ideia de infância e do que acontecerá com esta infância, segundo o autor. E para avançarmos, vamos falar de um tempo em que não havia crianças, em que não havia o conceito de infância. Quando falamos de um tempo em que não havia crianças, estamos, propo- sitadamente, falando de um tempo em que não se tinha a ideia de infância, é evidente que o ser biológico (criança) sempre existiu, caso contrário como che- garíamos à vida adulta, não é mesmo? A questão é compreender, aqui, que em determinados períodos da história esta ideia de “infância” não existia, ou como nos diz Postman (2012, p. 11), concordando com Ariés (1978), não existia a “ideia social de infância”, o que fazia dos seres biológicos “crianças” meros miniadultos em muitos períodos. Então, neste ponto, já respondemos a um dos questiona- mentos apresentados em nossa introdução: a infância sempre existiu? Não! Foi criada ao longo da história da humanidade. Expliquemos melhor tudo isso... Na Antiguidade, os próprios gregos, os mesmos que criaram a ideia de escola, em determinados períodos, não destinavam grande atenção à infância. Em sua literatura, encontramos relatos de homens maduros que tinham relações com suas jovens esposas que nem sequer chegavam aos quinze anos de idade. Tais esposas, relata Postman (2012), eram educadas por suas mães a nunca ques- tionar e a sempre obedecer a seus maridos. Mesmo na Idade Média não havia registro de grande interesse ao ser “criança”, interesse este que passa a ser obser- vado apenas na Idade Moderna. Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Jefferson Realce Falando em impressão, jornais, livros etc., você sabia que o primeiro jornal no Brasil (ainda colônia) foi criado, oficialmente, com a vinda da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808? O primeiro jornal editado no Brasil chamava-se “Ga- zeta do Rio de Janeiro”. Tratava-se de um jornal oficial da corte do Rio de Janeiro. Fonte: UNIVESP TV (2018, on-line)1. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Avançando pouco mais de dez séculos desde as práticas dos gregos anti- gos, Postman (2012, p. 34) fala sobre a “invenção da impressão com caracteres móveis”, e nos mostra como a tipografia criou um novo mundo. Um mundo diferente e simbólico que exigiu, por sua vez, uma nova concepção sobre quem eram os “seres pequenos” e quem eram os “seres grandes”. Estamos falando de uma nova concepção de idade adulta: A nova idade adulta, por definição, excluiu as crianças. E como as crian- ças foram expulsas do mundo adulto, tornou-se necessário encontrar um outro mundo que elas pudessem habitar. Este outro mundo veio a ser conhecido como infância (POSTMAN, 2012, p. 34). Ora, por qual motivo o ser “criança” foi excluído deste dito mundo “adulto”? Simples, caro(a) aluno(a), a tipografia mudou as formas de comunicação, e para dominar essa comunicação era necessário uma série de habilidades que apenas os adultos, teoricamente, detinham. Por isso, o que divide o mundo adulto da infância, inicialmente, é o domínio do mundo letrado/alfabético. Postman (2012, p. 50) diz ainda que, entre os séculos XVI e XVII, “um novo ambiente simbólico inteiramente novo tinha sido criado”. Trata-se do já citado ambiente “letrado”, que encheu esse mundo de novas e diversas informações e experiências abstra- tas. Esse novo mundo, além de tudo: Exigia novas habilidades, atitudes e, sobretudo, um novo tipode cons- ciência. Individualidade, enriquecida capacidade para o pensamento conceitual, vigor intelectual, crença na autoridade da palavra impressa [...] O que aconteceu, simplesmente, foi que o Homem Letrado tinha sido criado. E ao chegar, deixou para trás as crianças. Pois, no mundo medieval, nem os jovens nem os velhos sabiam ler [...] É por isso que Jefferson Realce Jefferson Realce O Surgimento do Conceito de Infância Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 não havia necessidade da ideia de infância, porque todos compartilha- vam o mesmo ambiente informacional e, portanto, viviam no mesmo mundo social e intelectual (POSTMAN, 2012, p. 50). Diante de tudo isso, é evidente que, com a criação da prensa tipográfica, temos então a exigência dos pré-requisitos citados para acessar esse novo mundo infor- macional, pré-requisitos estes que as crianças não detinham. Com isso, chegamos a um ponto muito importante deste tópico. Quando, então, surgiu a ideia social de infância? Como nos mostra Postman (2012), essa “ideia” é talvez a mais humanitária do que consideramos ser o período da renas- cença (1300-1600 d.C). No entanto, “a infância como estrutura social e como condição psicológica, surgiu por volta do século XVI e chegou refinada e forta- lecida aos nossos dias” (POSTMAN, 2012, p. 12), de maneira que temos hoje, inclusive, uma definição legal própria para essa fase, apresentada pela Lei 8.069 de 13 de julho de 1990. E considerando o que diz a Lei em seu Artigo 2º: “consi- dera-se criança, a pessoa até doze anos de idade incompletos” (BRASIL, 1990). Retomando as ideias de Postman (2012), reforçamos que ele não fala de um aparecimento abrupto do conceito de infância e muito menos de um desapare- cimento veloz e imperceptível. Muito pelo contrário, trata-se de um processo histórico e paulatino na visão do autor, de maneira que ele entende que tanto a construção como a desconstrução da ideia de infância se dá de formas variadas dependendo da cultura, região, época etc. A exemplo disso, ele nos fala sobre como o contexto de industrialização no século XVIII foi um grande “inimigo” de infância na Inglaterra. O pouco que se havia conquistado em termos de esco- larização e alfabetização até o final do século XVII foi desconstruído com o “crescimento de grandes cidades industriais e a necessidade de trabalhadores nas fábricas e nas minas, a natureza especial das crianças foi subordinada à sua utilidade como fonte de mão de obra barata” (POSTMAN, 2012, p. 67), um feito do capitalismo industrial próprio do período em questão. Entretanto, essa já é uma questão para o nosso próximo tópico, no qual fala- remos do dito “desaparecimento da infância”! O que pretendíamos apresentar neste primeiro tópico da Unidade I do nosso livro é uma verdade historicamente possível sobre o surgimento do conceito de infância, e o descrevemos por meio do pensamento sociológico de Neil Postman (2012), ao afirmar que “nasce a infância Jefferson Realce FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 quando nasce a necessidade de estabelecer uma linha divisória entre as informa- ções dos adultos e as informações das crianças, ou seja, o que é próprio do mundo adulto e o que é próprio da infância”. Apresentado de outra forma, nasce a ideia de infância quando surge o mundo informatizado e, com ele, a necessidade de proteger as crianças das “informações próprias do mundo adulto”. Agora, para que possamos continuar discutindo com Neil Postman, traremos para o nosso debate outros questionamentos, outras problematizações, para verificarmos se estamos de fato, como anuncia Postman, diante do “fim da infância”. O FIM DA INFÂNCIA COMO A CONHECEMOS Caro(a) aluno(a), até aqui você já deve ter percebido que optamos pelas ideias de Postman (2012) no que se refere à construção histórica da ideia do ser “criança”. E tudo bem, isso é natural. Ao construirmos nossas ideias, precisamos nos fun- damentar e, para esse momento, escolhemos dar mais voz a uma vertente do que a outra. Isso não significa, em hipótese alguma, que você não deva buscar outras fontes e formular suas próprias e fundamentadas ideias. A exemplo prá- tico disso, não demos, ainda, espaço para Marín-Díaz (2010), por exemplo, em nossas discussões na íntegra do livro. Deixamos a “Leitura Complementar” desta unidade por conta da autora, justamente no artigo que passaremos a citar agora em nossas discussões. Jefferson Realce O Fim da Infância como a Conhecemos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Dando continuidade, realizamos um questionamento básico para esta unidade: “a infância, recém-criada no século XVI - XVII, está desaparecendo ou estamos, já, diante de uma nova forma de infância, de um novo jeito de ser criança?”. Postman (2012) é direto! Ele compreende em seu livro que a infância foi uma ideia construída, criada, e que está por desaparecer nos moldes em que vivemos hoje: A infância, como tentei mostrar, foi fruto de um ambiente em que uma forma especial de informação, exclusivamente controlada por adultos, tornou-se pouco a pouco disponível para as crianças por meios con- siderados psicologicamente assimiláveis. A subsistência da infância dependia dos princípios da informação controlada e da aprendizagem sequencial. Mas o telégrafo iniciou o processo de extorquir do lar e da escola o controle da informação. Alterou o tipo de informação a que as crianças podiam ter acesso, sua qualidade e quantidade, sua sequência, e as circunstâncias em que seria vivenciada (POSTMAN, 2012, p. 86). Mais uma vez, Postman (2012) é incisivo ao afirmar que a infância nasce quando se torna necessário dividir o que é próprio do mundo adulto e o que é próprio para as crianças, diante de tantas informações possibilitadas pelo telégrafo elétrico. É justamente seguindo o raciocínio crítico do nosso “reflita” que contestamos tudo que já foi apresentado até aqui sobre as considerações de Postman (2012). Para isso, utilizamos as reflexões da pesquisadora brasileira Dora Lilia Marín-Díaz (2010), no texto intitulado Morte da Infância Moderna ou Construção da Quimera Infantil?. E convenhamos que o próprio título do texto de Marín-Díaz é provocativo e proposi- tivo e nos leva a refletir se, de fato, a infância surgida no contexto da Idade Moderna não está apenas mudando suas características, uma vez que as influências dos tempos Diante da preocupação de Postman (2012) com as informações desenfre- adas tornadas acessíveis às crianças por meio de elementos tecnológicos tão rústicos como o telégrafo, o que pensaria o autor sobre crianças de 2, 3 e 4 anos de idade que passam boa parte do seu dia com um tablet na mão? Fonte: o autor. Jefferson Realce Jefferson Realce FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 são outras, e se autores como Postman não estão criando uma quimera, um bicho de sete cabeças em torno desta nova forma de ser criança, sobre este novo conceito de infância. Nas palavras da própria autora, estamos diante da “morte da infância moderna e/ou da emergência de uma figura infantil pós-moderna nas condições contemporâneas”? (MARÍN-DÍAZ, 2010, p. 193). Marín-Díaz vai além, entra no debate e contesta Postman: Há duas décadas que o sociólogo norte-americano Neil Postman sur- preendeu o campo das ciências sociais com a proclamação da morte da infância. Nem bem se estava assimilando as novas idéias sobre a in- fância como uma construção social, construída segundo Ariès (2006) a partir do século XVII, quando Postman (1999)já proclamava sua mor- te (MARÍN-DÍAZ, 2010, p. 194). E é este o melhor tipo de reflexão acadêmica, caro(a) aluno(a), o debate! E para que haja debate, é necessário que haja ideias opostas. Nesse sentido, Marín-Díaz (2010, p. 194) diz ainda que o mesmo argumento utilizado por Postman (2012) para afirmar que a infância pode estar acabando, são “os mesmos fatos, porém, [...] usados como argumentos para explicar a emergência de uma infância dife- rente e, com ela, de um mundo e uma cultura infantil particular que precisa de reconhecimento, atenção e privilégios”. Na prática, é o mesmo que dizer que se colocássemos Postman (2012) e Marín-Díaz (2010) para discutirem sobre o uso de tecnologias na Educação Infantil, por exemplo, um poderia julgar o próprio “uso de tecnologias na Educação Infantil” como um absurdo, e o outro como algo próprio do tempo em que vivemos. Seria isso? Enfim, essa é só uma supo- sição. Qual conclusão você, aluno(a), tira sobre isso? Em relação aos efeitos psicológicos dessa “nova infância” e seu desenvolvi- mento, abordaremos com maior propriedade em nossa Unidade 3, intitulada “Considerações Teóricas e Práticas sobre a Aprendizagem e o Desenvolvimento Infantil: limites e possibilidades”, onde falaremos, literalmente sobre a psicologia do desenvolvimento, apresentando autores próprios para o tema. Nestes dois primeiros tópicos da Unidade 1, reforçamos que estamos apenas fazendo uma discussão filosófica, histórica e sociológica sobre o surgimento e o possível desa- parecimento e/ou mudança na forma de ser ou de se compreender a infância. Caminhando para palavras finais, apontamos, ainda, as seis perguntas que Postman (2012, p. 166) nos apresenta no último capítulo do seu livro: O Fim da Infância como a Conhecemos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 1- A infância foi descoberta ou inventada? (POSTMAN, 2012, p. 157). 2- O declínio da infância significa um declínio geral da cultura ameri- cana? (POSTMAN, 2012, p. 159). 3- Até que ponto a Maioria Moral e outros grupos fundamentalistas contribuem para a preservação da infância? (POSTMAN, 2012, p. 161). 4- Haverá tecnologias de comunicação que tenham potencial para sus- tentar a necessidade de infância? (POSTMAN, 2012, p. 162). 5- Haverá instituições sociais suficientemente fortes e suficientemente empenhadas em resistir ao declínio da infância? (POSTMAN, 2012, p. 163). 6- Será o indivíduo impotente para resistir ao que está acontecendo? (POSTMAN, 2012, p. 165). Para cada um dos questionamentos que o autor apresenta, ele nos oferece uma série de provocantes proposições. Deixo-as aqui para que você tenha a tarefa de verificar tais ideias e, se possível, de formular suas próprias proposições sobre cada um dos questionamentos apresentados pelo pensador. Fato é que, para Postman (2012), o acesso à informação criou a ideia de infância e a acessibilidade indiscriminada nos dias em que ele escreveu levaria ao fim desta mesma infân- cia. Como? Isso discutiremos mais à frente, mas aqui o pensador diz ainda que: No momento em que escrevo, garotas de 12 e 13 anos estão entre as modelos mais bem pagas nos Estados Unidos. Nos anúncios de todos os meios de comunicação visual são apresentadas ao público como se fossem mulheres adultas, espertas e sexualmente atraentes, completa- mente à vontade num ambiente de erotismo. Após vermos tais exibi- ções de pornografia velada, nós, que ainda não estamos inteiramente condicionados às novas atitudes americanas para com as crianças, te- mos saudades do charme e da sedutora inocência de Lolita. Nas cidades de todo o país diminui rapidamente a diferença entre crimes de adul- tos e crimes de crianças; e em muitos Estados as penas se tornam as mesmas. Entre 1950 e 1979, o índice de crimes graves cometidos pelos menores de quinze anos aumentou cento e dez vezes, ou onze mil por cento (POSTMAN, 2012, p. 17). A percepção supracitada, ainda que catastrófica, fala de um período ao final da década de 1970. O que diria o pensador sobre os dias de hoje? A questão é que, por mais que haja divergências sobre estarmos perdendo a ideia social de infância FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 ou não, é necessário que nos debrucemos sobre isso, pois, a transformação social da ideia de infância trata-se de um fenômeno cada dia mais evidente. Postman (2012, p. 17-18) diz ainda que: Os mais velhos também se lembram do tempo em que havia uma gran- de diferença entre roupas de crianças e de adultos. Na última década a indústria de roupas infantis sofreu mudanças tão aceleradas que, a todos os fins práticos, as “roupas infantis” desapareceram. O próprio Erasmo de Rotterdam (1927), autor que discutiremos posteriormente, aborda, no século XVI, a ideia de que crianças e adultos necessitam de tipos dife- rentes de roupas. Agora, cabe aqui uma pequena observação, caro(a) aluno(a). Os apontamentos que fizemos não têm a intenção de moralizar a ideia do “ser criança”, mas apenas apresentar como tais autores pensavam a ideia de infân- cia, sempre lembrando que esta é uma “verdade possível” sobre os fatos e sobre a interpretação dos momentos e indivíduos. Para findar, retomemos os questionamentos que apresentamos inicialmente: o que é a infância se não uma construção social que varia de tempos em tempos, de região para região, de cultura para cultura, de povo para povo? Philippe Ariès (1978) diz, sobre isso, que as formas de ser e de pensar a infância realmente se transformam, e a título de exemplo, segundo o autor, para a mentalidade medie- val, a prática de brincar com as partes íntimas das crianças, por exemplo, era algo comum. Hoje, felizmente, como assinala Postman (2012), essa prática pode levar a até 30 anos de cadeia. Outras mudanças são observadas ao longo do tempo: [...] O costume de comemorar o aniversário de uma criança não exis- tiu nos Estados Unidos no decorrer de quase todo o século XVIII, e, de fato, a indicação exata da idade de uma criança é, afinal, um hábi- to cultural relativamente recente, com não mais de duzentos anos [...] (POSTMAN, 2012, p. 11). E como definir de onde vem este conceito, uma vez que aceitamos aqui que cada povo, espaço e tempo tende a construir a sua ideia moral de infância? Sendo assim, a criança dos dias de hoje não tem como apresentar as mesmas características comportamentais e sociais que a criança de séculos passados, por exemplo, pois ainda que detenham os mesmos aparatos biológicos, estão submetidas a influ- ências e estímulos diferentes. As Ideias Educativas de Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Agora, caro(a) aluno(a), faremos um movimento historicamente reverso. Após termos tratado de questões tão atuais como as apresentadas no segundo tópico desta primeira unidade, retornaremos no tempo e buscaremos a visão de alguns clássicos no que se refere a ideias educativas, no que se refere à infância. Abordaremos em seguida, de maneira cronológica, as ideias educativas de Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536), as ideias educativas de Comenius (1592 – 1670), as ideias educativas de Rousseau (1712 – 1778) e por fim, as ideias educativas de Frederico Froebel (1782 - 1852). E para que possamos ter mais objetividade ao apresentar cada pensador, escolhemos, cuidadosamente, uma obra específica de cada um, para assim estabelecermos uma relação dialógica com fontes pri- márias, possibilitando a você a oportunidade de se relacionar da maneira mais direta possível com cada um destes clássicos. Vamos aos pensadores. AS IDEIAS EDUCATIVAS DE ERASMO DE ROTTERDAM (1466 – 1536) Neste tópico, buscaremos verificar algu- masdas ideias educativas de Erasmo de Rotterdam, no sentido de compreen- dermos como este grande pensador do século XV – XVI idealizou a “infância”, a educação de sua época. Trataremos de conceitos apresentados em um de seus livros mais famosos, considerado um dos mais importantes de sua produção, a obra intitulada De Pueris (Dos Meninos), em que este afirma que nunca é cedo demais para iniciar o processo educacional e no FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 qual apresenta importantes contribuições para se pensar e repensar a infância e a educação de sua época, trazendo, ainda, importantes contribuições para a nossa, sendo esse o motivo de o retomarmos. Considerado um dos mais importantes nomes do renascimento durante o pró- prio renascimento (1300 – 1600), Erasmo, escritor, teólogo, filósofo, crítico social e monge holandês, é considerado um humanista cristão. Tal pensador buscava voltar-se ao cristianismo mais puro, uma vez que era crítico de certos autoritaris- mos da igreja católica. Sobre educação, Rotterdam (1927) acreditava que esta se principiava ainda na fase do aleitamento e que o próprio direito à educação nasce no berço. Para o pensador, é necessário também que se escolha logo um pedagogo competente, recomendando que “para tanto deves, desde logo, procurar um homem de bons costumes e de caráter meigo, dotado de conhecimentos invulgares, a cujo regaço possas confiar teu filho” (ROTTERDAM, 1927, p. 22), de maneira que se com- preenda que a aprendizagem não é veneno, buscando sempre respeitar a ordem dos valores e o entendimento de que a paternidade não se reduz ao ato gerativo. Outra questão apresentada por Rotterdam (1927) nesta clássica obra, que contribui muito com nosso tempo, diz respeito ao fato de que riqueza não dis- pensa instrução, e falhar na educação é fazer do ser humano, nas palavras do autor, um monstro, ou seja, o pior castigo. De acordo com Rotterdam (1927), é negar a educação, sendo necessário compreender, ainda, que o futuro depende dos antecedentes educacionais, de maneira que de nada adianta exigir da criança um comportamento “educado” se não houver, antes disso, um exemplo que o “arraste” para a prática de tal comportamento. Um aspecto de extrema relevância sobre o pensamento do autor para a composição desta nossa unidade é o que ele chama de os “três erros básicos em pedagogia”. Daremos então alguma atenção a isto: Aqui, peca-se de três maneiras: ou por negligência total em face da edu- cação dos filhos ou por que são, tardiamente, iniciados na instrução ou, porque confiados a quem ensina o que deve ser desaprendido. A primeira categoria já foi assinalada como indigna do nome de pais, pois ela, em nada, difere de quantos abandonam os neonatos, sendo por isso penaliza- dos pelo ordenamento jurídico que também prescreve, minuciosamente, o modo de instruir a infância e subsequente adolescência (ROTTERDAM, 1927, p. 46). As Ideias Educativas de Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Neste ponto, o pensador nos alerta para os perigos e as consequências, inclusive legais de seu tempo, em relação à negligência. Ora, fato é que a negligência não é um erro pedagógico apenas de seu tempo, pois deve ser observada por todo pedagogo que se relacione com crianças e seus familiares. Não se trata, aqui, de um apontamento paterno, mas sim de um apontamento ao que se põe, também, a educar em todas as esferas. Enfim, estes três erros pedagógicos (negligência, educação tardia, ou confiança da educação do filho a quem não o faz correta- mente) são pontos fatais na educação do indivíduo. Rotterdam (1927, p. 55) dizia ainda que “grandes vícios nascem de pequenos defeitos”. É nos menores detalhes que podemos encontrar os maiores problemas. E que mesmo o melhor dos ensinos, o melhor da erudição não dispensa conhe- cimentos vulgares, pequenos, de maneira que também a erudição sem virtude mutila o caráter de uma criança. E finalizamos algumas reflexões sobre educação em Rotterdam com um dos pontos que julgamos mais importantes no posicionamento desse pensador moderno, trata-se das qualidades do professor, sendo uma das mais importan- tes, segundo o autor, amar e fazer-se amar: “o primeiro grau da aprendizagem consiste no amor ao professor. Com o caminhar do tempo, a criança, que foi ini- ciada no amor ao estudo por causa do amor ao mestre, passa a amar o mestre por amor ao estudo” (ROTTERDAM, 1927, p. 66). Ou seja, o amor, o carinho, a afetividade são indispensáveis elementos didáticos àqueles que se colocam na função de educar o outro. Avancemos agora para algumas considerações sobre educação e infância em Comenius. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 AS IDEIAS EDUCATIVAS DE COMENIUS (1592 – 1670) Jan Amos Comenius, filósofo, educador e pastor, considerado até os dias atuais como o “pai da didática”, é mais do que uma referência bibliográfica necessária a todos os pedagogos, mas também uma inspiração em termos de educador. Comenius nasceu no contexto do surgimento do protestantismo e, diante de uma série de conflitos possibilitados pelas inquisições católicas, Comenius vê o reitor da Universidade em que estuda ser queimado vivo. Essa situação brota em Comenius a ideia de que a religião deve ser algo mais tolerante e, com isso, o pensador traça educação e reli- gião no mesmo sentido, formando então sua filosofia didática. Para lidar com esse pensador não poderia ser diferente, escolhemos a obra intitulada Didática Magna, publicada pela primeira vez em 1657 e cuja subtitu- lação foi denominada da arte universal de ensinar tudo a todos. E para prevenir aqueles que julgam ser romântico, utópico demais pensar em uma didática capaz de ensinar tudo a todos, alertamos que existe uma grande diferença, nas proposi- ções comenianas, entre “ensinar tudo a todos” e “ensinar tudo a todos ao mesmo tempo e da mesma maneira”. Isso sim é tarefa impossível e, para tal reflexão, apre- sentamos uma literatura contemporânea que nos põe a pensar sobre esse autor: As Ideias Educativas de Comenius (1592 – 1670) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 TEORIA E PRÁTICA Estudar não é tarefa fácil! Mas é para qualquer um! É direito garantido a todos, por isso não podemos nos esquecer de nenhum. E o acesso é importante. Mas tem também a permanência, que é coisa ainda mais relevante. E eu vou com Comenius, pois penso e sei que a todos é possível ensi- nar, basta que de maneira didática, o professor viva a se superar. Na escola, na universidade, em qualquer nível ou modalidade... Educação é coisa séria, difícil e desafiadora, por isso todos os dias é necessário se repensar, enquanto professor ou professora. E estar em sala, à frente do processo, exige compreensão, paciência e dedicação. Tendo sempre em mente que talvez isso seja, também, uma missão. Por isso, insisto... Ser professor ou professora não é para qualquer um! É coisa de gente louca, forte, corajosa e às vezes até sistemática. Sendo necessário saber que muita teoria se precisa para estar na práti- ca (ALVES, 2018, p. 101). O poema apresentado, também de autoria deste que vos escreve e já publicado em livro anterior, é uma tentativa poética de mostrar aquilo que Comenius (2011) denomina de “didática”. Muito se discute teoricamente sobre as milhares concei- tuações possíveis sobre esse termo. O que ele representa na prática de nossas salas de aula? Como no poema, a didática é o como tentamos levar o conteúdo, o como tentamos possibilitaro acesso ao que há de mais elevado no que foi produzido pela humanidade aos nossos alunos. O poema Teoria e Prática refere-se ao fato de que, para ensinar, é necessário que o professor “viva a se superar”. E este é um importante posicionamento didático, pois superar-se significa compreender que precisamos estar em constante processo de aperfeiçoamento, principalmente con- siderando uma realidade como a apresentada no segundo tópico desta unidade, onde temos diante de nós uma nova forma de ser criança. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 E sobre as crianças, Comenius (2011) logo nos fala sobre como devemos tratá- -las, com uma linguagem ainda mais poética do que esta que vos tento apresentar: Desta prudência dá-nos mostras o próprio sol que, no princípio da primavera, não incide logo sobre as plantas novinhas e tenras, nem, logo desde o princípio, às estreita e queima com seu calor, mas aque- cendo-as pouco a pouco, sensivelmente, fá-las crescer e ganhar vigor; e, finalmente, quando já são adultas e amadurecem os seus frutos e as suas sementes, lança-se sobre elas com toda a sua força (COMENIUS, 2011, p. 453). O que Comenius (2011) nos ensina aqui é sobre a necessidade da prudência do já citado “como” incidir ou se aproximar dos aprendentes. A exemplo do sol, ele nos ensina a calma e aponta a necessidade de uma metodologia, de se pensar em “como proceder” diante dos indivíduos. “À imitação do sol, o diretor da escola esforçar-se-á por levar a juventude a cumprir o seu dever” (2011, p. 453), o que nos dá a possibilidade de compreender a formação da indisciplina, em Comenius (2011), como sendo, também, o ato do descumprimento dos deveres, uma vez que a disciplina é tratada como o ato de cumpri-los. E como deveria ser a postura do diretor, do educador, segundo Comenius (2011)? “Com exemplos constantes, mostrando que é um modelo vivo de todas aquelas coisas para as quais os alu- nos devem preparar-se. Se falta isso, todo o resto é vão” (COMENIUS, 2011, p. 453). Com isso, fica a seguinte indagação: seria o próprio exemplo um elemento didático? Com toda certeza, em Comenius, sim! Comenius (2011) nos fala ainda sobre como atrair com “arte” os espíritos para a vontade de aprender: [...] Como efeito, se os estudos são adequadamente regulados, são, por si mesmos, atrativos para os espíritos, e, pela sua doçura, atraem e en- cantam a todos [...] Se acontece diversamente, a culpa não é dos alunos, mas dos professores. Mas, se se ignoram os métodos de atrair com arte os espíritos, é, sem dúvida, em vão que se emprega a força. Os açoites e as pancadas não têm nenhuma força para inspirar, nos espíritos, o amor das letras, mas, ao contrário, têm muita força para gerar, na alma, o tédio e a aversão contra elas (COMENIUS, 2011, p. 449). Da maneira mais simples possível, o que o autor nos mostra aqui é um outro elemento didático importante, o planejamento, a organização prévia para que o aluno (da Educação Infantil à Pós-Graduação) sinta que a aula, o conteúdo que As Ideias Educativas de Rousseau (1712 – 1778) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 está diante dele foi pensado, elaborado e cuidadosamente previsto para aquele momento, para que os alunos não se sintam objeto de improviso, pois assim, de fato, é difícil inspirar interesse e atenção. Para concluir esta breve reflexão sobre os posicionamentos de Comenius (2011, p. 77) em educação, não poderíamos deixar de citar que, para ele, “a for- mação do homem é muito mais fácil na primeira infância, ou melhor, só pode ser dada nessa idade”. E a exemplo da planta, o autor nos diz que o “enxerto” deve ser feito enquanto ela ainda é jovem. Enfim, compreender a natureza humana é indispensável para as relações educativas, e compreender Comenius é funda- mental para saber como se posicionar diante de tais relações. Apresentadas algumas proposições da educação comeniana, avancemos agora para o igualmente relevante Rousseau. AS IDEIAS EDUCATIVAS DE ROUSSEAU (1712 – 1778) Como apresentamos anteriormente, Comenius é considerado, até os dias atuais, como o “pai da didática” e o primeiro pedagogo da histó- ria ocidental. Rousseau é considerado o pai da pedagogia contemporânea. Rousseau (2017), influenciou o ilumi- nismo e o que veio posteriormente às ideias e teorias iluministas, como a própria Revolução Francesa, chegando, também, a atingir o romantismo. E se para Rousseau (2017), o homem nasce bom, sendo a socie- dade que o corrompe, é necessário que pensemos não apenas métodos, como predominantemente vemos em Comenius (2011), mas principalmente a socie- dade que cerca o indivíduo a ser educado. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 A obra que escolhemos para apresentar brevemente o pensamento de mais esse clássico pensador é considerada um grande e um dos principais tratados da educação, e está intitulada Emílio ou Da Educação. Essa obra se divide em cinco partes, de maneira que o autor apresenta ao seu leitor a sua visão de criança e de aprendizagem em cada etapa de seu desenvolvimento. A primeira parte do livro fala da educação, do nascimento até os dois anos de idade, sendo esta a “idade da necessidade”. A segunda parte se refere à educação do indivíduo dos dois anos aos doze anos de idade, sendo a “idade da natureza”. Na terceira parte do livro, vemos considerações sobre a educação dos doze aos quinze anos de idade, sendo o período da “idade da força”. A quarta parte do livro refere-se ao perí- odo dos quinze aos vinte anos e fala da idade da razão. E a quinta parte do livro, dos vinte aos vinte e cinco anos de idade, Rousseau (2017) fala sobre a idade da sabedoria e do casamento. A título de curiosidade e informação, para o pensa- dor anterior, Comenius (2011), o indivíduo deveria começar a trabalhar apenas após os vinte e oito anos de idade, enquanto para Rousseau (2017) a essa idade o jovem já teria passado da dita idade da sabedoria e do casamento. Um fato interessante a ser apontado inicialmente sobre o nosso autor é que este teve cinco filhos que decidiu não criar, deixando para a assistência pública (internato) suas crianças, e posteriormente escreveu o já citado livro, uma das mais respeitadas obras em todo o mundo sobre “como criar filhos”. Acalme-se caro aluno, trago esta informação justamente para que você exercite a necessária tarefa de não julgar o passado com os valores do presente. Esta prática de deixar os filhos em internatos era comum na época em questão. Avançando um pouco mais, vamos focar brevemente no que Rousseau (2017) denomina de “idade da necessidade”, do nascimento aos dois anos de idade, já que nossa obra foca a Educação Infantil. E no Livro dessa obra, Rousseau (2017) inicia falando às mães, falando e reforçando a ideia de que a primeira educação é a mais importante de todas, é a que mais importa. E o autor segue orientando as mães, “forma logo uma cerca em torno da alma de teu filho: outro pode traçar- -lhe o circuito, mas apenas tu deves colocar a barreira” (ROUSSEAU, 2017, p. 42). O autor completa ainda com o que talvez seja uma das frases mais conhe- cidas da obra: As Ideias Educativas de Rousseau (1712 – 1778) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Nascemos fracos, necessitamos de forças; nascemos desprovidos de tudo, necessitamos de assistência. Nascemos estúpidos, necessitamos de juízo. Tudo que não temos ao nascer e de que necessitamos quando adultos nos é dado pela educação. Essa educação vem da natureza, ou dos homens, ou das coisas.O desenvolvimento interno de nossas facul- dades de nossos órgãos é a educação da natureza; e o conhecimento de nossa própria existência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas. (ROUSSEAU, 2017, p. 42). Aqui, o pensador evidencia o que para ele são aprendizados que dependem de fato- res externos ou internos, ambos relevantes para a formação da criança. No entanto, tudo o que se refere ou no que dependemos da natureza, segundo Rousseau (2017, p. 42) “nada podemos fazer”. De acordo com ele, nascemos sensíveis e desde o nosso nascimento somos afetados de diversas maneiras pelos objetos que nos cercam, mas, aos poucos, vamos adquirindo (dos 0 aos 2 anos) consciência de nossas sen- sações e passamos a evitar ou a procurar situações ou objetos. Para concluir mais este ponto, vamos retornar mais uma vez ao sociólogo Postman. O autor chave do início de nossa unidade, Neil Postman (2012), tam- bém se posiciona diante da obra Emílio ou da Educação, a fim de fazer uso de suas reflexões para corroborar com sua tese de que o fim da infância se dá com a entrada da criança no mundo informatizado. Postman (2012), ao fazer a aná- lise do discurso em torno de Emílio, conclui que para Rousseau se entende que a leitura é o fim da infância. Ou seja, que é justamente a passagem da falta de informação alfabética para a informação alfabética sistematizada que retira a criança do que ele denomina de infância. Entretanto, a essa questão ainda vol- taremos a discutir em nossa Unidade 3. Agora, vamos encerrar esta unidade apresentando as ideias educativas de Frederico Froebel. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 AS IDEIAS EDUCATIVAS DE FREDERICO FROEBEL (1782 - 1852) Para início deste nosso último tópico intitulado As ideias Educativas de Frederico Froebel (1782 - 1852), precisamos fazer uma observação inicial. Lembrem-se que nos comprometemos, no início deste livro, em apresentar as ideias dos pen- sadores anunciados por meio de uma obra cuidadosamente escolhida de cada um. Isso por questões didáticas, ou seja, utilizando apenas fontes primárias, diri- gindo a maior rigorosidade teórica possível, para que vocês pudessem conhecer alguns dos pensamentos desses ícones da educação mundial de forma direta. E ao chegarmos em Froebel, apresentaremos a vocês, agora, a obra The Education of Man, “A Educação do Homem”. Ou seja, por se tratar de uma obra original- mente alemã, de difícil acesso e com poucas traduções relevantes e confiáveis, optamos por utilizar a versão em inglês. Sendo assim, apresentaremos uma tra- dução livre, diretamente realizada por meio deste que vos escreve, para melhor proveito das ideias do nosso último pensador. Feitas as devidas considerações, vamos a Froebel. É necessário que você, aluno(a), saiba, de imediato, que Froebel viveu em períodos extremamente conturbados. Entre 1789 e 1848, ou seja, em pratica- mente todo o período da vida de nosso pensador tivemos o desenvolvimento da Revolução Industrial, a Revolução Francesa, as Revoluções Nacionais e as Guerras Napoleônicas. As ideias de Froebel (1908), bem como as dos demais pensadores já apre- sentados, influenciam a educação até os dias de hoje. No entanto, Froebel (1908) tem uma particularidade por ter sido o que se considera o primeiro educador a pensar uma educação mais sistematizada para as crianças pequenas, compa- rando-as a plantas. Exatamente isso, o autor comparou as crianças a plantas que cresciam com a ajuda de nutrientes do solo. Os nutrientes, nesse caso, viriam a ser a mediação do professor, do “jardineiro”. Daí surge o conceito de “kinder- gartens” apresentado na obra em questão. Ou seja, Jardim de Infância (que será abordado em aspectos legais na próxima unidade). Para Froebel (1908), a liberdade é de extrema importância para que o desen- volvimento ocorra de forma correta. Desenvolvimento este que ele dividiu nas fases denominadas infância, de meninice, puberdade, mocidade e maturidade. As Ideias Educativas de Frederico Froebel (1782 - 1852) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 A infância é o momento onde a criança mais deve ser protegida pelos pais, aliás, ele vislumbrava uma união entre família e escola para o sucesso dos “kindergar- tens”: “The union of school and family influences essential to right education” (FROEBEL, 1908, p. 63), ou seja, aqui ele aponta a importância entre a união da família com a escola para que o processo educativo dê certo, para que ocorra de forma harmônica. Aliás, foi ele o primeiro pensador a enfatizar esta união, tão necessária, entre família e escola. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS, HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para findar, uma breve reflexão histórica, a título de exemplo da discussão do segundo tópico de nossa primeira unidade, se faz necessária: diante das inva- sões bárbaras, “e com o colapso do Império Romano, o sepultamento da cultura clássica e a imersão da Europa na Idade Média” (POSTMAN, 2012, p. 24), obser- vamos quatro pontos importantes em relação à história da infância. O primeiro é que neste contexto (conflituoso) a capacidade de ler e escrever desapareceu (deixou de ser repassada). O segundo é que desaparece a educação, o terceiro é que desaparece, também, a vergonha. E, por consequência desses três, desapa- rece o próprio conceito de infância estabelecido até o presente momento, ainda que de maneira rústica tenha existido. O ponto que devemos entender nesta primeira unidade de nosso livro e com esta citação final, é que a história descrita nos traz um fato, nos ensina que a infância, a ideia do ser criança, nem sempre existiu e pode um dia desapare- cer. A história da humanidade é repleta de exemplos, de culturas e costumes que ao longo do tempo deixaram de existir por diversos motivos. Estaremos então vivenciando um novo período, um período de desaparecimento da ideia social de infância, como nos apresenta Neil Postman (2012), ou estamos apenas vivenciando uma nova e pós-moderna maneira de pensar a infância, como nos apresenta Marín Díaz (2010)? Enfim, mesmo não havendo consenso nesse sentido, cremos que a proposição de Postman (2012, p. 11) é relevante para este final: “as crianças são mensa- gens vivas que enviamos a um tempo que não vemos”, os pensadores clássicos abordados também nesta unidade, de Rotterdam a Froebel, nos enviaram suas mensagens, e aqui completamos: que futuro, você, aluno(a) do curso de peda- gogia, acredita que estamos escrevendo com nossas atuais mensagens? Pensemos, agora, alguns aspectos políticos sobre a infância. 37 MORTE DA INFÂNCIA MODERNA OU CONSTRUÇÃO DA QUIMERA INFANTIL? Dora Lilia Marín-Díaz Introdução A metáfora da morte está por toda parte, e não está menos nas livrarias, nas quais os textos sobre a morte da infância se encontram junto aos que se ocupam da morte do eu, da sociedade, da ideologia e da história. Muitas vezes parece que esses debates só permitem a reduzida opinião entre o desespero fátuo e o otimismo nervoso (Buckingham, 2002, p. 17). Há duas décadas que o sociólogo norte-americano Neil Postman surpreendeu o campo das ciências sociais com a proclamação da morte da infância. Nem bem se estava assimi- lando as novas idéias sobre a infância como uma construção social, construída segundo Ariès (2006) a partir do século XVII, quando Postman (1999) já proclamava sua morte. Algo parecido com o que fizera Foucault a propósito da morte do homem na década de setenta. O desaparecimento ou morte é uma metáfora que está presente em muitas das análises que tentam explicar os acontecimentos e as mudanças radicais no mundo contemporâneo. Segundo osestudos de Buckingham (2002), no que se refere à morte da infância, tudo parece indicar que o enfraquecimento das fronteiras entre o mundo adulto e o mun- do infantil ocorre lenta e inexoravelmente; a transformação da organização familiar, o déficit das estruturas e organizações governamentais, as novas formas de comunica- ção e informação, entre muitos outros fatores, seriam as causas desse processo de de- saparecimento. Os mesmos fatos, porém, são usados como argumentos para explicar a emergência de uma infância diferente e, com ela, de um mundo e uma cultura infantil particular que precisa de reconhecimento, atenção e privilégios. Tratar-se-ia do deslocamento de uma concepção de infância para outra que parece ser diferente daquela que predominou na sociedade ocidental nos dois últimos sécu- los. Diante desse movimento, o que autores como Postman (1999), Corea e Leukowicz (1999) descrevem como morte da infância moderna, autores como Rushkoff e Tapscott (1998) analisam como a emergência de uma nova figura infantil, uma infância adaptada às condições e às tensões contemporâ- neas ou, digamos assim, o nascimento de uma infância pós-moderna. À frente dessa dupla perspectiva – ou morte da infância moder- na ou nascimento de uma infância pós-moderna –, neste trabalho, produto da pesquisa que adiantei nos últimos oito anos, e que concluí com a Dissertação de Mestrado em 2009, usando algumas ferramentas arqueo-genealógicas propostas por Michel Fou- cault, proponho-me mostrar uma terceira via, segundo a qual é preciso identificar duas concepções de infância: uma constituída nos primórdios da Modernidade e que corres- ponderia às análises de Ariès (que denominarei como infância clássica), e outra consti- tuída a partir da segunda metade do século XVIII, a que chamarei de moderna liberal. Seguindo essa perspectiva, considero que o que acontece hoje é a incorporação ampla 38 e massiva (e não sem conflitos) dessa segunda concepção de infância, potenciada com a expansão das tecnologias da comunicação e da informação no último meio século. Assim, aqueles que lamentam a perda da infância moderna se referem fundamental- mente ao apagamento das características próprias da concepção clássica da infância, enquanto aqueles que proclamam o nascimento de uma infância pós-moderna só estão descrevendo a incorporação das características da concepção moderna liberal, dese- nhada desde a segunda metade do século XVIII e que se firmou com o aparecimento da psicologia dita científica no fim do século XIX. As discussões entre uma e outra pers- pectiva tiveram uma consequência particularmente significativa: a consolidação de um campo discursivo sobre a infância e, com ele, a produção de uma quimera infantil, uma forma de subjetividade na qual se combinam os mais heterogêneos, incongruentes e diversos elementos e características que atribuímos às crianças. Particularmente, esse duplo sentimento diante da criança: de ternura, promovido pelos anúncios publicitários de venda de produtos infantis, e de medo, promovido pelos noticiários e jornais sobre as crianças delinquentes e criminosas das periferias das nossas cidades. Morte ou Emergência de Outra Figura Infantil? Como assinalei anteriormente, temos hoje interpretações opostas sobre o problema das transformações contemporâneas que experimentamos em relação às crianças. Por um lado, estão aqueles que defendem a premissa de que a infância que conhecemos está desaparecendo ou morrendo e que a responsabilidade por tal fato é dos meios de comunicação, especialmente da televisão e da Internet. Nessa perspectiva, a mídia é responsabilizada por eliminar as fronteiras entre infância e maturidade através do enfra- quecimento da autoridade adulta. Por outro lado, há também autores, como Rushkoff e Tapscott (1998), por exemplo, que argumentam que o uso dos meios de comunicação e informação não só mantêm essas fronteiras, como produzem e ampliam o distancia- mento entre as gerações; com isso, estaria acontecendo uma ruptura cultural sem pre- cedentes entre o mundo adulto e infantil da qual sai beneficiada a infância, até agora fortemente controlada pelos adultos. A tese de Postman em seu livro O desaparecimento da infância (1999) é de que a fron- teira que separava o mundo adulto do infantil se quebrou devido ao fato de que os dois princípios fundamentais dos quais tal fronteira dependia já não são mais possíveis: o controle da informação e a sequência da aprendizagem. Com relação ao controle da informação, a infância, que antes estava protegida da exposição a conteúdos e informa- ção que poderiam tirar-lhe a inocência, hoje está amplamente exposta a eles através da mídia. Tal fato derruba a possibilidade de uma aprendizagem sequencial, do ensino pro- gressivo de conteúdos que, supostamente, se acoplavam à forma natural do raciocínio infantil (do simples para o complexo, do fácil para o difícil, do particular para o geral) e que fora centro da proposta didática de Comenius no século XVII. [...] Fonte: Marín-Díaz (2010). 39 1. Após conhecer, ainda que brevemente, um pouco de obras clássicas de autores mundialmente respeitados por suas produções, você pode perceber que cada um deles, Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536), Comenius (1592 – 1670), Rous- seau (1712 – 1778) e Frederico Froebel (1782 - 1852), viveram em tempos his- tóricos diferentes, tendo concepções ora parecidas de infância e de educação, ora divergentes, ou simplesmente atentando-se a temas diferentes em suas obras. O que gostaríamos de insistir com cada um de vocês é que mantenham o respeito para com todos eles, buscando sempre se aprofundar antes de ti- rar qualquer conclusão precipitada sobre uma ou outra fonte teórica ou autor. Diante disso, selecione um dos pensadores aqui citados e apresentados em nossa unidade, e apresente algumas características de seu pensamento sobre a educação, sobre suas ideias educativas. 2. Considerando as proposições apresentadas por Neil Postman (2012, p. 34), leia as alternativas e assinale a correta: “A nova idade adulta, por definição, excluiu as crianças. E como as crianças foram expulsas do mundo adulto, tornou-se necessário encontrar um outro mundo que elas pudessem habitar”. a) Este outro mundo veio a ser conhecido como idade de transição. b) Este outro mundo veio a ser conhecido como infância. c) Este outro mundo veio a ser conhecido como adolescência. d) Este outro mundo veio a ser conhecido como novos adultos. e) Este outro mundo veio a ser conhecido como miniadultos. 40 3. Na clássica obra Emílio ou Da Educação, Rousseau (2017) divide as etapas do desenvolvimento do ser humano em cinco. E considerando cada uma dessas etapas, analise as afirmativas a seguir: I. A primeira etapa fala do nascimento até os dois anos de idade, sendo esta a “idade da necessidade”. II. A segunda etapa se refere à educação do indivíduo dos dois anos aos doze anos de idade, sendo a “idade da natureza”. III. Na terceira etapa vemos considerações sobre a educação dos doze aos quin- ze anos de idade, sendo o período da “idade da força”. IV. A quarta etapa refere-se ao período dos quinze aos vinte anos e fala da “ida- de da razão”. E na quinta etapa, dos vinte aos vinte e cinco anos de idade, Rousseau (2017) fala sobre a idade da “sabedoria e do casamento”. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) I e III, apenas. c) I e IV, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II, III e IV. 4. O pai da didática e autor da obra Didática Magna Comenius (2011), nos traz em sua obra uma série de proposições didático-pedagógicas sobre “como” se fazer a educação. Diante disso, avalie o excerto abaixo em relação à postura do educador: “Com exemplos constantes, mostrando que é um modelo vivo de todas aque- las coisas para as quais os alunos devem preparar-se. Se falta isso, todo o resto é vão” (COMENIUS, 2011, p. 453). Considerando as proposições de Comenius (2011), explique a necessidade do ser “exemplo” para diferenciarmos o educador “autoritário”do educador “auto- ridade”. 5. O sociólogo norte americano Neil Postman (2012), autor da obra O desapareci- mento da Infância, que discutimos em nossa primeira Unidade, traz uma série de proposições teóricas sobre a infância. Sobre isso, analise o trecho abaixo: A nova idade adulta, por definição, excluiu as crianças. E como as crianças foram expulsas do mundo adulto, tornou-se necessário encontrar um outro mundo que elas pudessem habitar. Este outro mundo veio a ser conhecido como infância (POSTMAN, 2012, p. 34). Diante disso, explique, de acordo com Postman (2012), o que ele considera “o princípio do fim da infância”. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR O Desaparecimento da Infância Neil Postman Editora: GRAPHIA Sinopse: é possível imaginar o mundo sem crianças, tal como as reconhecemos ainda hoje? Um dos mais brilhantes críticos sociais da atualidade, Neil Postman, mostra neste livro, que não só é possível imaginar: aconteceu antes e está acontecendo de novo. A concepção atual de infância inexistia até o fi m da Idade Média. Surge na Renascença, após a revolução promovida pela palavra impressa, que socializa a necessidade de alfabetização, multiplica e torna rotineiras as escolas, hierarquiza o conhecimento por faixa etária, dissemina noções de pudor, estabelecendo, por tudo isso e pela difi culdade de acesso aos segredos culturais que armazena, limites bem demarcados entre crianças e adultos. Agora, com a informação eletrônica – sobretudo a TV, que só requer aptidões naturais e o entendimento da fala, adquirido a partir do primeiro ano de vida – as fronteiras começam a desmoronar. A erotização precoce e a crescente participação infanto-juvenil nos índices de criminalidade são apenas os aspectos mais alarmantes de um conjunto de sinais de que a infância – e em especial a meninice, entre os sete anos e a puberdade – está em extinção. Para Postman, já habitamos um tempo de crianças adultas e de adultos infantis, e estamos no limiar de outro em que a idade das pessoas só estabelecerá diferenças marcantes em dois extremos – a primeira infância e a senectude. Os prenúncios dessa massa de criaturas indiferenciadas invadem o dia a dia, dentro e fora da tela mágica da TV: nas roupas, nos hábitos alimentares, no padrão linguístico, na profi ssionalização prematura dos esportistas, no fi m das velhas brincadeiras infantis, em atitudes mentais e emocionais, e, é claro, no campo do sexo e da violência. Não há soluções fáceis e prontas para a questão. A família e a escola, além naturalmente das próprias crianças, são as grandes forças de resistência a este desfecho do século XX. Mas estão perdendo a luta. MATERIAL COMPLEMENTAR De Pueris (Dos meninos) Erasmo de Rotterdam Editora: Escala Sinopse: fi lósofo holandês e o grande divulgador do humanismo renascentista no norte da Europa e Alemanha, Erasmo de Rotterdam (1467-1536) escreveu a obra A Civilidade Pueril que, por cerca de três séculos, indicou formas de garantir a pedagogia das boas maneiras, infl uenciando diretamente muitas práticas pedagógicas. Dados sobre essa obra de Erasmo apontam indistintamente referências às crianças e aos jovens, o que comprova que ele não as diferenciava, mas se referia a uma disciplina que servisse a todos indistintamente, e não só a jovens de elite, como era comum na época. Erasmo também elaborou De Pueris, que literalmente signifi ca Sobre os Meninos ou Dos Meninos - um texto em que o educador descortina o fundamento de tudo que vai orientar a vida em desenvolvimento do menino e dos adolescentes. Segundo ele, todo o processo educativo estaria pautado pelo alinhamento cultural orientado pelo humanismo e, além de seus estudos na área pedagógica, o fi lósofo também foi um erudito dedicado à teologia, retórica e aos estudos clássicos. Emílio ou Da educação Rousseau Editora: Edipro Sinopse: publicado em 1762, este incontornável clássico da fi losofi a moderna provoca e fascina o leitor de hoje quase com a mesma intensidade com que chocou o Século das Luzes. Rejeitando os métodos pedagógicos de seu tempo, Jean-Jacques Rousseau mostra como é possível educar uma criança segundo a natureza e, com isso, protegê-la dos vícios da sociedade. Todavia, Emílio é muito mais que um tratado de educação. O relato romanceado da vida de um menino, do nascimento até o casamento, forma uma obra rica e desconcertante, que se volta contra os sistemas de pensamento dominantes da época ao mesmo tempo em que contempla todos os temas cruciais da fi losofi a do século XVIII. No horizonte da pedagogia de Rousseau está a preocupação, essencialmente política, de formar o homem para a sociedade europeia de seu tempo. Na ocasião de sua publicação, o livro foi considerado revolucionário e escandaloso em diversos aspectos, e tanto precipitou os malogros de Rousseau quanto consolidou seu renome como fi lósofo e escritor. Síntese de décadas de refl exão e resultado de anos de redação, Emílio é a obra-mestra para entender o pensamento de Rousseau e uma referência sempre fundamental para a refl exão sobre o problema da educação. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR The Education of Man Friedrich Froebel Editora: Saraiva Sinopse: In this classic of childhood education, Froebel identifi es the fundamentals of his now-ubiquitous kindergarten system, including how to channel child’apos;s play and integrate it into the development of intelligence and social skills. Tradução livre: Neste clássico da educação infantil, Froebel identifi ca os fundamentos de seu sistema de jardim de infância, agora onipresente, incluindo como canalizar o brincar da criança e integrá-lo ao desenvolvimento da inteligência e das habilidades sociais. REFERÊNCIAS ALVES, N. Textos Poéticos para se Pensar a Sociedade. Curitiba: CRV, 2018. ARIÉS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: ABDR, 1978. BRANDÃO, C. R. Prefácio. In: SOUZA, A. Paulo Freire: vida e obra. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. p. 7-19. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 9. abr. 2019. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Edu- cação – PNE e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em: 9 abr. 2019. COMENIUS, I. A. Didática magna. Tradução de Ivone Castilho. 4. ed. São Paulo: Mar- tins Fontes, 2011. FROEBEL, F. The Education of Man. New York: D. Appleton and Company, 1908. MARÍN-DÍAZ, D. L. Morte da Infância Moderna ou Construção da Quimera Infantil? Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 193-211, set./dez. 2010. Disponí- vel em: <http://www.ufrgs.br/edu_realidade>. Acesso em: 9 abr. 2019. POSTMAN, N. O Desaparecimento da Infância. Tradução de Suzana Menescal de Alencar e José Laurentino. Rio de Janeiro: Graphia, 2012. ROTTERDAM, E. De Pueris (Dos Meninos): A Civilidade Pueril. Rio de Janeiro: Escala, 1927. ROUSSEAU, J. J. Emílio ou Da Educação. Tradução, introdução e notas Laurent de Saes. São Paulo: Edipro, 2017. REFERÊNCIA ON-LINE 1 Em: <http://univesptv.com.br/>. Acesso em: 4 fev. 2019. GABARITO 45 1. Nesta questão, você, aluno(a), tem a liberdade de verificar o pensador com quem mais se identificou e revisar o seu conteúdo a fim de, inclusive por meio de ma- teriais extras indicados aqui, buscar saber mais sobre o pensador. Diante disso, apresente algumas características de seu pensamento. 2. A resposta correta é a letra “b”, uma vez que o autor reflete ora sobre o surgimen- to da infância, no primeiro momento, após o surgimento de um mundo infor- matizado. 3. Considerando as etapas do desenvolvimento humano em Rousseau (2017), é correto o que se afirma em todas as opções apresentadas: na primeira etapa o autor fala do nascimento até os dois anos de idade, sendo essa a “idade
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