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Mobilização do Sistema Nervoso David S. Butler B. Phty, Grad Dip Adv Manip Ther, M.A.P.A, M.M.P.A.A. Leeturer, Sehaal afPhysiatherapy, University of Sauth Australia, Adelaide com contribuição de Mark A. Jones B. S. (Psyeh), R.P.T., Grad Dip Adv Manip Ther, M. App. Se. (Manipulative Therapy) Leeturer, Sehoal of Physiatherapy, University of Sauth Australia, Adelaide iIustrações de Richard Gore Dip. Art Manole Thulo do ()rigillal: Mohilisation ofrhc Ncrvous Sysicm C"I'.\'r(qhr![) b)' Elscvicr Heahh Sciencc'> Tm.tuçào: Dra. Juliana Fra rc Fiviou-rapvuta Formada pc la Uriivcrsidadc Estadual de Londrina Curso> na, áreas de Terapia Manual. Dixlunçôe« Cranio-ruandibularcs. ínvtabilídade Espinha] Cursando Espcciali/ação em Fiviorcrapia Drrrnaro-f unrional Rvvisão Cientiiica: DI'. .Jayrnc de Paula Gonçalvc- Sócio Efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho Ex-professor Adjunto de Ortopedia da Faculdade de Medicina da FUA Título de Especialista em Medicina do Esporte pela Associação Médica Brasileira/Sociedade Brasileiru de Medicina do Esporte Membro Tn ular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia DI'. Aloriso Shiguemi lnouc Salgado Fisioterapeuta. pós-graduado pela Sociedade Francesa de Fisioterapia Desportiva Mest lC - Faculdade de Medicina - UNESP - Boiucat u Coordenador do curso de Pós-graduação em Terapia Manual pela CESUMAR - Maringá Curso, e csragios nos EUA e Europa Editoraçâo Eletrõnica; JLG Eduoracâo Gráfica S/C Lida. - ME Capa: Eduardo Ikrtolini Imagem da capa: Srock Photos Lida. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 13992m. Builcr. David S. (David Sheridan}. 1956 Mobilização do Sivicma Ncrvovo / David S. Butlcr: com contribuição de Mark A . .JOIlL''>; ilusuaçôcs de Richard Gore; [tradução de Juliana Frare: revisão científica Jayme de Paula Gonçalves, Afonso Shiguemi fnoue Salgado] - Barucri. SI': Manolc. 2003 il.: Tradução de: Mohilisrn ion 01 the nervous svsrcm Inclui hibliogralia ISBN 85-204- 1545-8 I .Ncrvos periféricos - Ferinu-ruos L' lesões. 2. Strevs (Fisiologia). 3. Manipulação (Terapêuuca). 4. Exercícios tcrapôuucos. 5. Exame neurológico. I. Joncs. Mark A. 11.Título. 03-0 193 CDD6L5.82 CDU(,15.82 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida. por qualquer processo, sem a permissão exprevsa dos editores. É proibida a reprodução por xerox. I" edição brasileira - 2003 Direitos em língua portuguesa adquiridos pela: Editora Manole Lida. Avenida Ccci, 672 Tamboré - 06460- I 20 - Baruer i - São Paulo - Brasil Fone: (I I) 4 I 96-(,000 - Fux: (I I) 4 I 9(,-6021 www.manole.corn.hr info@ mauolc.rom.hr Irnprevso no Brasil Printed in Brazil http://www.manole.corn.hr Agradecimentos Ao longo de varios anos, muitas pessoas contribuíram para a elaboração deste livro, al- gumas sem consciência de terem ajudado. Don Griffith, Ivor Cribb. Gwen Jull. Robyn Cupit. Marion Grover, Margaret Bullock. Geoff MaitJand, Ruth Grant. Pat Trott, Mary Magarey, Sir Sydney Sunderland, Peter Wells, Megan Dalton, Robbie Blake, Paul Ryan, Paul Lew, Liellie McLaughlin, Bem e Ellen Guth. Libby Brooke, Ted Huber. Shirley Gore, Libby Gore, Hugo Starn, membros do curso de graduação em terapia manipulatória avançada em Ade- laide nos últimos cinco anos, a equipe de fisio- terapia do West Hill Hospital em Dartford, Kent. E muitos outros. Agradecimentos aos fotógrafos Itzik Yossef e Peter Cox do South Australian Institute of Tech nology. Agradecimentos aos bibliotecários do South Australian Institute of Technology, da Univer- sity of Adelaide, da British Medicai Library. do West Hill Hospital e do Institute of Neurology de Londres. Agradecimentos especiais a Helen Slater e Michael Shacklock por terem editado capítulos e pelos conselhos construtivos e apoio. Agradecimentos especiais a Louis Gifford e Philippa Tindle por terem estimulado meus pensamentos iniciais e por terem compartilha- do idéias ao longo dos últimos cinco anos. Agradecimentos especiais a Mark Jones por sua magnífica contribuição sobre os processos de razoamento clínico na fisioterapia manipu- Jatória. Um reconhecimento de gratidão à musica de Leonard Cohen. Bob Marley, Rembetico e Pa- co Pena. Minha admiração muito especial e agradeci- mento a Richard Gore por seu devotado e dili- gente trabalho de arte. Muito obrigado também a Judy Waters e a John Macdonald da Churchill Livingstorie. Os erros são meus. Apesar de toda esta demonstração de grati- dão, a maior é sem dúvida reservada a Juliet que lutou mais do que todos. Prefácio Parece notável que se passaram apenas 30 anos desde que a descrição de Phalen da "sín- drome do túnel do carpo" a tornou uma enti- dade clínica facilmente reconhecível. É igual- mente notável que se passaram apenas 20 anos desde a descoberta da existência de vias específicas da dor. A pesquisa realizada nas três últimas décadas forneceu uma grande quanti- dade de informações sobre o sistema nervoso e muitas dessas informações ainda aguardam para serem investigadas e analisadas por aque- les que mantêm contato com pacientes. Nos últimos dez anos, alguns fisioterapeutas também não permaneceram inativos. Na bus- ca por melhores resultados e respostas relati- vas a mecanismos de sinais e sintomas e por melhores respostas ao tratamento, muitos fi- sioterapeutas ortopédicos dirigiram a atenção para o sistema nervoso. Um tratamento de mobilização do sistema nervoso, baseado em observações clínicas e pesquisa, tem evoluído. Atualmente, o exame realizado por muitos fi- sioterapeutas poderia ser adequadamente de- nominado neuro-ortopédico. Retrospectivamente, essas mudanças pare- cem lógicas. Por que a terapia manual é domi- nada por técnicas articulares? Certamente nem todas as respostas repousam na articula- ção. Ela deve ter o seu lugar apenas como uma das estruturas inervadas que nós abordamos. É por que a articulação provê uma alavanca con- veniente para a sustentação? Nós estamos num estágio de evolução que ainda considera a terapia manual subalterna à ortopedia? Eu sinto que muitos fisioterapeutas tratam uma articulação, um músculo ou uma fáscia esque- cendo que eles estão conectados ao sistema nervoso. Todas as estruturas estão conectadas de alguma maneira com o sistema nervoso e este possui uma biornecânica complexa, assim como as estruturas que ele inerva. Algumas pessoas têm sido instrumentais nesse desenvolvimento. Na fisioterapia, Geoff Maitland sobressai-se. Foi o seu conceito aber- to de "sinais e sintomas" que inevitavelmente chamou a atenção para o que ele denominou "as estruturas do canal cspinal sensíveis à dor" e, principalmente, o desenvolvimento do SluJ11p Test como uma ferramenta de avaliação e de tratamento. São os processos de raciocínio clínico inerentes do conceito de Maitland que facilitaram o desenvolvimento do material apresentado neste livro. Os textos de Maitland são textos fundamentais, necessários a este li- vro. Robert Elvey merece crédito por introdu- zir o Teste de Tensão do Membro Superior na prática clínica. Este e o Slump Test tornaram-se mais do que apenas técnicas. Eles criaram uma consciência em um número de fisioterapeutas, eu inclusive, de que a testagem da tensão não era meramente uma ferramenta diagnóstica para testar estruturas como o disco. Eles pos- suíam um papel muito maior porque testavam a mecânica e a fisiologia normais do sistema nervoso durante movimentos corporais. Isto permitiu um maior reconhecimento do fato de que, se o movimento e a elasticidade do siste- ma nervoso estivessem comprometidos, muito frequentemente sintomas poderiam originar- se de seus próprios tecidos. Em última instân- cia, poderia haver repercussões sobre o tráfego de impulsos para e dos tecidos não-neurais. O passo seguinte foi transformar procedimentos de exame em técnicas de tratamento. O siste- vii VIU PREFÁCIO ma nervoso deve apresentar funções mecâni- cas ideais assim como as outras estruturas do corpo. Na medicina, alguns clínicos e pesquisadores sobressaem-se, talvezinvoluntariamente. Em- bora sem uma base experimental. mas pela atenção cuidadosa de seus pacientes, Cyriax foi capaz de desenvolver a noção da "dor dural". Retrospectivamente e julgando pelo número de citações recentes, Breig estava à frente de seu tempo com seu trabalho sobre a biomecânica do sistema nervoso central e com a sua insistência em que nós estamos apenas começando a perce- ber as sequelas neurofisiológicas da tensão ad- versa no sistema nervoso. Destaca-se o trabalho de Sunderland sobre a estrutura interna do ner- vo periférico e o papel da isquemia em lesões de encarceramento. O seu texto clássico, Nerves and Nerve Injuries, é relevante tanto para os fisiotera- peutas quanto para os cirurgiões. O trabalho re- cente sobre o papel de fatores vasculares e do transporte axoplasmático nas lesões nervosas realizado por Lundborg. Rydevik. Dahlin e cole- gas forneceu explicações a muito do que os fisio- terapeutas observam na clínica. Mackinnon e Dellon realizaram estudos adicionais sobre a compressão nervosa e o seu tratamento e vêm questionando as bases patológicas de muitas sín- dromes (p.ex.. tenossinovite de Quervain). Co- mo Breig em relação ao sistema nervoso central, Mackinnon e Dellon evidenciaram que, no siste- ma nervoso periférico, as consequências clínicas de lesões nervosas são muito subestimadas. Na Austrália, Bogduk auxiliou muito com estudos anatômicos que esclareceram a inervação espi- nal. Seus escritos desmistificam a neuroanato- mia para os fisioterapeutas e médicos. Estes en- contram-se entre muitos outros. A maioria não perceberá que seu trabalho é de grande impor- tância para a terapia manual. Do ponto de vista de um fisioterapeuta, existe uma ligação eviden- te entre esses homens e mulheres pelo fato de todos perceberem que a estrutura do sistema nervoso está relacionada a funções e que uma delas é o movimento. Os fisioterapeutas modernos encontram-se numa situação complicada. Não somente eles necessitam do conhecimento da anatomia ma- croscópica de todo o corpo, mas também ne- cessitam conhecê-la em nível microscópico e compreender a microanatomia relevante. É no nível microscópico que se encontram as res- postas à existência de sintomas e ao tratamen- to. Neste livro, eu apresento informações que considero relevantes e necessárias para um fi- sioterapeuta mobilizar e compreender alguns dos raciocínios para a mobilização do sistema nervoso. Algumas são principalmente conhe- cimentos básicos que, infelizmente, não são ensinados nas escolas de fisioterapia que cen- tram a atenção na ortopedia. Quando ensina- das, elas são rapidamente esquecidas porque jamais são utilizadas na prática clínica. Ainda há muita pesquisa a ser realizada para que sejam esclarecidos os problemas do sistema nervoso. Contudo, já existem muitos fatos acei- tos e que podem ser integrados e utilizados na avaliação, no tratamento e no prognóstico. As barreiras de difusão sangue-nervo são um exemplo. Seria gratificante se algumas das in- formações deste texto pudessem ser utilizadas como uma alavanca para a pesquisa. Não existe um atalho dos estudos a ser utilizado. Deve-se admitir que uma prova clara da existência de neuropatia como foi delineada, nem sempre es- tá disponível. Muito da avaliação e do trata- mento de lesões nervosas menores, onde não existe prova de envolvimento neural, é, nesse estágio, especulativa e dependente da inferên- cia de experiências de raciocínio clínico. Mesmo assim, pesquisas recentes do mundo da fisiote- rapia são estimulantes e eu tenho uma grande esperança em relação ao estabelecimento da va- lidade experimental dos procedimentos de dife- renciação estrutural analisados ao longo deste livro. Os processos de raciocínio clínico na terapia manual são analisados com uma certa profun- didade neste livro. Como um tratamento "re- ceita" não é seguido e como cada tratamento depende de achados subjetivos e da avaliação física e de experiências prévias de raciocínio clí- nico, isto pode significar que nós estamos de al- guma forma adiante da literatura. Já existe grande divergência entre os neurocientistas e aqueles da "linha de frente". Espera -se que to- dos percebam que a linha de frente não é ne- cessariamente a cirurgia. A ligação entre os fi- sioterapeutas e os cientistas é fraca, em muitas áreas não existe, necessitando desenvolver-se. Muito deste trabalbo é direcionado ao siste- ma nervoso periférico (SNP), refletindo prova- velmente os trabalhos de pesquisa disponíveis e o conhecimento atual do sistema nervoso cen- tral (SNC). Sabe-se mais sobre o SNP. Ele é mais acessível, possui melhores poderes de regenera- ção e é mais responsivo ao movimento que o SNC, mais protegido. Contudo, apesar da aten- ção recente ao sistema nervoso periférico, deve- se respeitar o SNC como um fator contribuinte para os sintomas, sinais e respostas ao trata- mento. É um raciocínio sensato, uma vez que para cada axônio do sistema nervoso periférico, existem 1.000 no sistema nervoso central. Os fisioterapeutas sempre tiveram um papel no tratamento da lesão nervosa grave. Entre- PREFÁCIO ix tanto, o que está emergindo é um papel impor- tante na lesão menor, mas algumas vezes igual- mente incapacitante. na outra extremidade do espectro da lesão nervosa - as neurapraxias. as lesões irritativas e as lesões que nem mesmo podem ser rotuladas como ne urapraxia. Espe- ra-se que esse papel não se restrinja apenas ao tratamento, mas que contribua para o conheci- mento científico em relação a essas lesões. Finalmente, este livro foi escrito por um fi- sioterapeuta, o qual é basicamente um clínico e que se interessou pelas áreas da biomecânica e da patologia em husca de respostas a proble- mas clínicos observados por ele diariamente. Algumas vezes, sinto como se tivesse apenas arranhado a superfície. Adelaide D.B Sumário Introdução - em direção a uma abordagem multifatorial xiii PARTE I Base para tensão neural adversa L Anatomia funcional e fisiologia do sistema nervoso 3 Introd ução 3 O sistema nervoso periférico 5 O sistema nervoso cen tral 10 Relações do sistema nervoso - espaços e ligações 16 O fundamento dos sintomas 19 Circulação 19 Sistemas de transporte axonal 25 Inervação do sistema nervoso 26 Resumo 30 2. Neurobiomccânica clínica 35 Introdução 35 O canal espinal. neuroeixo e meninges 37 A elevação da perna estendida 41 Mecanismos adaptativos de membros superiores 43 Mecanismos adaptativos do sistema nervoso autônomo 44 O conceito de pontos de tensão 46 Outras considerações biomecânicas 49 3. Processos patológicos 55 Lesões do sistema nervoso 55 Processos patológicos 58 Consequências tardias de uma lesão nervosa Lesão nervosa menor 69 Outros fatores nos processos de tensão adversa 4. Consequências clínicas da lesão para o sistema nervoso 75 De onde pode vir a dor? 75 Sinais e sintomas após uma lesão neural Área de sintomas 80 Tipos de sintomas 82 História 83 Padrões de postura e movimento 84 79 PARTE TI Avaliação 5. Raciocínio clínico 91 Mark Jones e David Butler Introdução 91 O processo de raciocínio clínico 92 Característica da perícia clínica 95 Analisando estruturas e fatores contribuintes 96 Estratégias de investigação 98 Diferenciação esrrut ura I 101 Precauções e contra-indicações 104 6. Exame da condução nervosa 107 Pontos gerais 107 Exame neurológico subjetivo 108 Exame físico da sensibilidade 109 Exame da função motora ll5 Testes adicionais e análises 122 Testes para a função da medula espinal l22 Eletrodiagnóstico 123 64 69 7. Testes de tensão - membros inferiores e tronco 127 XI XII MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO o conceito dos testes de tensão básicos 127 Flexão Cervical Passiva 128 Elevação da Perna Estendida (SLR) 130 Flexão do Joelho na Posição Pronada (PKB) Teste da Inclinação Anterior (Slump test) 136 139 8. Testes de tensão - membros superiores 147 Teste de Tensão do Membro Superior 1 147 Teste de Tensão do Membro Superior 2 153 Teste de Tensão do Membro Superior 3 157 Outros testes de tensão no membro superior 159 9. Aplicação,análise e testes adicionais 161 Pontos importantes do teste 161 A relevância dos achados no exame 161 Características essenciais da análise dos testes de tensão 163 Estabelecendo os locais de tensão adversa 165 Levando os testes de tensão mais adiante 168 Registros 171 Palpação do sistema nervoso 172 Classificações das lesões nervosas 176 PARTE 1II Tratamento e potencial de tratamento 10. Tratamento 185 História 185 Pontos gerais do tratamento 185 Princípios básicos da mobilização 187 Desordem irritá vel (dornín io fisiopa tológico) 188 Desordens não-irritáveis (domínio paiomecânico) 190 Tratamento das estruturas interfaciais Questões frequentes sobre o tratamento Fazendo o prognóstico 198 Comunicação 200 193 194 11. Autotratamento 203 Introdução 203 Automobilização 203 Algumas técnicas úteis 205 Postura 209 Profilaxia 210 PARTE IV Disfunções selecionadas e estudos de casos 12. Disfunções da tensão neural adversa centradas nos membros 213 Introdução 213 As extremidades 213 O pé e o tornozelo 214 A mão e o punho 218 Síndrorne do desfiladeiro torácico 222 Meralgia parestésica 223 A lesão nervosa em lesões musculares do membro inferior 224 Cirurgia de nervos periféricos 225 Lesão por esforço repetitivo (LER) 227 13. Disfunções de tensão neural adversa centradas no canal vertebral 231 Lesões de raízes nervosas 231 Perda da extensão da coluna vertebral 235 Lesão em chicote (whiplash) 236 Hematoma epidural 238 Coccidínia e espondilolistése 238 Pós-cirurgia de coluna lombar 239 Dor de cabeça (Cefaléia) 241 Síndrorne de T4 243 Trauma e inflamação do neuroeixo 244 14. Estudos de casos selecionados 247 Uma dor no pé incomum e vaga 247 Um exemplo de patologia extraneural 251 O tipo de "dor generalizada" - por onde começar? 253 Um típico cotovelo de tenista? 255 Uma breve menção sobre a dor da polpa digital 258 Índice 261 Introdução - em direção a uma abordagem multifatorial o raciocínio relacionado especificamente às articulações é dominante nos sistemas de tera- pia manual utilizados atualmente no mundo. Entretanto, existem outras escolas de pensa- mento que defendem o tratamento através dos músculos e fáscias. As implicações óbvias são as que a melhor abordagem será a "seletiva da estrutura". Eu acredito que a ausência de pre- conceitos na terapia manual deve levar a um questionamento da abordagem uniestrutural no tratamento dos chamados distúrbios "rnus- cu loesq ueleticos". Em qualquer distúrbio neuro-ortopédico. é im- possível que haja apenas uma estrutura envolvida. Por exemplo, no tipo de lesão nervosa pura que pode ocorrer em consequência de uma injeção mal aplicada, provavelmente ocorrerão manifes- tações de estruturas não neurais relacionadas através da condução do impulso e do transporte axoplasmático. O paciente que gira e bloqueia seu pescoço pode apresentar um espasmo reflexo da musculatura do pescoço associada. Quanto mais tempo o pescoço permanecer bloqueado, maior a probabilidade de que ocorram alterações nos mús- culos associados, em outras estruturas e nas res- postas afetivas. Contudo, num certo estágio de um distúrbio, e possível que o problema seja curado com o tratamento direcionado a uma estrutura. Entretanto, em termos de velocidade de recupera- ção e de tratamento preventivo, é questionável que a abordagem uniestrutural seja ideal. Com um modelo que utiliza uma estrutura articular como foco, conhecimentos do papel do sistema nervoso e de seu controle da apre- sentação de sintomas podem ser diminuídos ou mesmo depreciados. O sistema nervoso está certamente envolvido, direta ou indiretamen- te, em todos os problemas do paciente. Ele po- deria estar lesado e ser uma fonte de sintomas. Mesmo quando não lesado, ele ainda iransrni- te os impulsos aferentes de estruturas não neurais e sinais eferentes de respostas (p.ex.. espasmo muscular). Sintomas são uma expres- são da condição dos tecidos envolvidos (p.ex.. articulação, músculo, Iáscia. dura rnater, etc.) quando conduzidos através do sistema nervo- so e modificados pelo meio ambiente. Eles for- necem indícios valiosos ao fisioterapeuta para que ele compreenda o problema do paciente e descubra o tratamento mais eficaz. Portanto, é essencial que seja dada atenção a todos os fato- res que possam influenciar os sintomas de um paciente e é necessário um modelo que não se- ja dominado por uma única estrutura mas, ao contrário, que todas as estruturas e fatores contribuintes (p.ex.. meio ambiente e cultura) sejam levados em conta. Abordagens diretas ou estruturais clássicas da terapia manual en- focam uma estrutura tal como a articulação (p.ex.. Cyriax, McKenzie, Kaltenborn, Mai- tland no início, quiropraxia e osteopaua) ou o músculo (p.ex., Janda e Lewit). A sua sobrevi- vência é testemunho de medidas de sucesso. No entanto, outras abordagens sem um foco estrutural que poderiam ser denominadas "Ia- cilitadoras" ou "indiretas" (p.e x.. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva. Feldenkrais. Alexander, psicológica) também podem pro- duzir bons resultados. Pode-se dizer que essas abordagens ocupam-se mais da qualidade do movimento que de estruturas específicas ou da biomecânica. O ponto dessa discussão é esti- mular o uso de uma abordagem multifatorial no exame e no tratamento do paciente. Apesar da obtenção de perícia em todas as abordagens não ser esperada, a percepção e a compreensão do que está disponível facilitam a utilização e a consulta para o benefício do pa- ciente e do fisioterapeuta. É tentador sugerir que o sistema nervoso seja o sistema central. que liga xiii XIV MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO a abordagem estrutural/direta e a Iacilitadora/in- direta. uma vez que ambas comunicam seus efei- tos através do sistema nervoso. Contudo, isto po- deria inibir o pensamento sem preconceito, como ocorreria se qualquer outra estrutura ou sistema fosse considerado "central", O conheci- mento científico atual dos processos envolvidos nos distúrbios ncuro-ortopédicos encontra-se numa distância desconhecida ao longo da via de seu conhecimento total. Sc nós adotarmos pre- maturarnerue o que parece ser lógico ou óbvio como um fato absoluto, isto desencorajará nossa busca adicional de conhecimento e compreen- são. O disco intervenebral durante muito tempo foi considerado uma estrutura não inervada e, consequenternente, não era uma fonte direta de sintomas. A seguir, isto foi refutado (Bogduk et al., 1981) e estou certo de que a história ainda não terminou. Historicamente. foi a aceitação rí- gida c, algumas vezes, cega de uma teoria que re- teve e direcionou erroneamente o avanço do co- nhecimento científico. Bergland (1985) argumentou que, em detrimento da ciência, o sistema nervoso foi erroneamente considerado como um órgão elétrico e não como uma glân- dula. Os fisioterapeutas também devem ter uma mente aberta e considerar o papel dos hormônios nas funções/disfunções de nosso corpo e de sua subsequente expressão no comportamento. A esse respeito, eles devem considerar se possuem os meios para influenciar a distribuição horrno- nal por meio da mobilização do sistema nervoso e afetar a qualidade e a quantidade do fluxo axo- plasmático. É essencial que a pcsq u isa con tin ua- da explore todas as possibilidades. Portanto, nós devemos cuidar para conside- rar todas as estruturas possíveis e utilizar tanto as abordagens "estruturais/diretas" quanto as "facilitadoras/indiretas". Este livro visa apre- sentar a ciência, a teoria, as hipóteses, as técni- cas e os conceitos relacionados ao exame e ao tratamento do sistema nervoso em distúrbios ne u ro-ortopédicos. mas com total conheci- mento e sem preconceitos em relação a outras estruturas e abordagens. REFERÊNCIAS Bergland R 1985 The íabric ar mind. Pcnguin. Melbourne Bogduk N. Iynan W. Wilson A S 1981 Ihe nerve supply to lhe hurnan lumbar iruerven ebral discs. Jour nal ar Anaiorny 132: 39-56 PARTE I Base para tensão neural adversa 1. Anatomia funcional e fisiologia do sistema nervoso INTRODUÇÃO Para se interpretar os sinais e sintomas de uma lesão do sistemanervoso (SN) correta- mente, o fisioterapeuta precisa entender sua anatomia estática e dinâmica; e este entendi- mento também é fundamental para uma mo- bilização segura e eficaz. Este capítulo é um estudo da anatomia e fisiologia associada com o movimento do SN*. No contexto, o estudo do movimento do SN não é diferente do movimento nos músculos e articulações. O SN é construído primariamente para condução de impulsos. O objetivo princi- pal deste capítulo é mostrar que a função de condução de impulsos é suportada por uma anatomia que permite a condução enquanto acomoda os movimentos do corpo. Uma vez que este capítulo possui uma ten- dência para a anatomia funcional do SN relacio- nada com a função de seus próprios movimen- tos, a mais importante função da condução de impulsos pode dar a impressão de ser colocada em segundo plano. Existem muitos textos inte- ressantes neste assunto. Entre os mais recentes e recomendados estão os livros de Walton (1982), Mathers (1985) e Bowsher (1988). o conceito de trato tecidual contínuo Os sistemas nervosos central e periférico precisam ser considerados como sendo unitário ou um só, uma vez que eles formam um trato tecidual contínuo. Para a maioria das funções, * S.N. - Sistema Nervoso * S.N.C. - Sistema Nervoso Central * S.N.P. - Sistema Nervoso Periférico qualquer divisão em componentes periféricos e centrais pode ser somente artificial. O sistema está em continuidade de 3 ma- neiras. Primeiramente, os tecidos conjuntivos são contínuos, embora em diferentes formatos, como o epineuro e a dura mater. Um simples axônio pode estar associado com um grande nL1I11erOdestes tecidos conjuntivos. Em segun- do lugar, os neurônios se encontram ínterco- nectados eletricamente de forma que, por exemplo, um impulso gerado no pé pode ser recebido pelo cérebro. Por fim, o sistema ner- voso pode ser considerado como contínuo qui- micamente. Os mesmos neurotransmissores existem na periferia e em nível central e há um fluxo de citoplasma no interior dos axônios. Não existe nenhuma outra estrutura no corpo com tamanha interligação. Estresses im- postos sobre o sistema nervoso periférico (SNP*) durante o movimento são transmitidos para o SNC. Por outro lado uma tensão pode ser transmitida do SNC* para o SNP. Se o SN fosse considerado como um órgão ao invés de lima estrutura multissegmentada. is- to levaria a um melhor entendimento do sistema e das conseqüências patornecânicas e patofisioló- gicas de se alterar sua mecânica. Uma das maio- res implicações de vê-lo como um órgão é que, se houver alguma alteração em alguma parte do sis- tema, isto terá repercussões em todo o sistema. O trato tecidual contínuo torna isto inevitável. A necessidade de uma anatomia especializada Existe uma importante diferença entre os aspectos mecânicos do SN e de outras estrutu- ras do corpo. Isto é, o SN carrega impulsos pro- 3 4 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO venierues de e para aquelas outras estruturas. Este aspecto ernbasa a importância da mecâni- ca normal do tecido neural dos tecidos conjun- tivos associados. Seres humanos são capazes de movimentos amplamente especializados com o sistema ner- voso alongado ou relaxado, estático ou em mo- vimento. Observações em dançarinos, ou espor- tistas e mulheres, por exemplo, tornam isto óbvio. O sistema nervoso não somente tem que conduzir impulsos através de notáveis amplitu- des e variedades de movimentos, mas também tem que se adaptar mecanicamente durante os movimentos. Alguns fatos biornecânicos ajudam a enfatizar isto. O canal vertebral é de 5 a 9 em mais longo na flexão que na extensão (lnman & Saunders. 1942, Brcig. 1978, Louis. 1981). Po- dendo ser até mais longo em indivíduos hipcr- móveis. Isto mostra variações consideráveis no comprimento do canal vertebral e sua repercus- são sobre os tecidos que estão contidos neste ca- na I é de grande im portância clínica. Devido ao trato tecidual contínuo, qual- quer movimento de um membro deve ter con- seqüências mecânicas nos troncos nervosos e neuroeixo. O termo neuroeixo é usado quando o SNC é considerado em seu comprimento, sem levar em conta suas curvas e dobras (Bowsher 1988). Considere também o que acontece no cotovelo e quadril. Aqui, os princi- pais nervos estão em lados opostos ao eixo de movimento. Então, na flexão de cotovelo, en- quanto o nervo ulnar se alonga, sua contrapar- te, os nervos mediano e radial. devem adapiati- vamente encurtar. Os mesmos tecidos, embora ainda conduzindo impulsos, sofrem deforma- ções mecânicas muito diferentes. O inverso irá ocorrer durante a extensão do cotovelo. Os nervos periféricos precisam se adaptar às alterações marcantes no comprimento do leito nervoso. Por exemplo, Millesi (1986) calculou que, da flexão do punho e cotovelo para a exten- são do punho e cotovelo, o leito do nervo media- no é aproximadamente 20% mais longo. De qualquer maneira, o nervo mediano precisa se adaptar a isto e conduzir impulsos ao mesmo tempo. Os troncos nervosos também necessitam de um mecanismo de proteção contra forças com- pressivas. Isto é especialmente onde os troncos correm próximos ao exterior, como os nervos cu- tâneos, ou onde os troncos correm sobre ossos, como o nervo Iibular comum na cabeça da fíbula. r/ t ,"" .-- ..- Fig.1.1 Na posição Sluntp a ADM da cxrensâo do joelho será determinada pela posição da cabeça. Estando com a coluna cervical em c xicnvâo. o paciente pode realizar uma maior extensão do joelho. Parece que a mecânica do sistema nervoso vai além de se adaptar ao movimento e prote- ção contra a compressão. O trato tecidual contí- nuo também tem a capacidade de limitar certas combinações de movimentos. Uma revisão da anatomia e biomecânica nos capítulos seguintes vai mostrar que ele possui uma anatomia fun- cionai altamente capaz para tal propósito. Uma combinação de movimentos, como a posição do teste de inclinação anterior islump test) é um exemplo. Este teste será discutido em detalhes no capítulo 7. Assim, para satisfazer este duplo papel de condução de impulsos e uma variedade de mo- vimentos relacionados, adaptações anatômicas complexas as quais protegem os neurônios e permitem a condução em qualquer postura ou movimento estão embutidas no sistema. Tão diferentes funções para uma estrutura exige uma anatomia funcional complexa. Modelo geral e características Existem 2 principais tipos de tecidos com- pondo o SN: aqueles associados com a condu- ção de impulsos e aqueles associados com o su- porte e proteção dos tecidos de condução. Exemplos dos primeiros são os axônios. mieli- na e células de Schwann, exemplos dos últi- mos é o tecido conjuntivo como a neuroglia. meninges e perineuro. Estes dois tipos de teci- dos tem um íntima relação que permite a con- dução de impulsos ininterruptos enquanto o corpo se move. Algumas características gerais de neuroa- natomia são relevantes para o estudo de seus mecanismos. O SNP necessita de mais mecanis- mos adaptativos que o SNC. Muito do neuroei- xo e das meninges é protegido pelo crânio e, em um nível mais baixo, pela coluna vertebral. Uma área problema é onde os nervos periféri- cos se ligam com o neuroeixo menos móvel. A maioria dos nervos periféricos e troncos está si- tuada profundamente e está localizada na pane flexora dos membros. Isto os mantém próxi- mos ao eixo de movimento bem como oferece proteção. O nervo ulnar no cotovelo é um no- tável exemplo de um nervo na parte extensora e está consequentemente vulnerável a lesões. Além de tudo, todo o SN forma um "H" no seu lado. Sendo um trato tecidual contí- nuo, isto significa que qualquer tensão locali- zada em qualquer parte do "H" pode ser dissi- pada em duas direções. Tal pensamento será útil no exame da mecânica das áreas que con- tribuem para a existência de tensão adversa. O SNP forma muitas subdivisões e plexos, tanto internos quanto externos. O principal propósito disto é unir os componentes senso- riais, motores e autonômicos necessários para um tronco nervoso. Entretanto, com um pou- co de "pensamento mecânico", aforma geral das subdivisões e plexos poderia também ser vista como um conveniente distribuidor de forças. Pegue as interconexões do plexo bra- quial como exemplo (Fig. 1.2). Durante o mo- vimento, a malha do SN mantém afastadas as forças excessivas de um ramo simples. Uma ra- mificação de fibras nervosas ainda mais com- plexa ocorre dentro dos troncos nervosos. Isto será ilustrado e discutido mais tarde. Fig. 1.2 o plexo braquial como um distribuidor de forças. A tensão aplicada sobre um tronco será distribuída por IOelO o plexo. ANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO 5 Em seu trajeto através do corpo, o SN en- tra em contato com muitas estruturas diferen- tes: inflexível e dura, como o nervo radial no sulco espiral do úrnero. ou mole, como o ner- vo tibial envolvido pelos músculos posteriores da coxa. O sistema também cursa através de túneis que podem ser ósseos, fibra-ósseos ou somente de tecidos moles. Ocorrendo uma le- são, a natureza das estruturas circundantes te- rá grande importância quanto ao tipo e exten- são da lesão. O SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Nesta seção, por conveniência, o sistema nervoso será discutido sob os títulos tradicio- nais de sistema nervoso central e periférico. O sistema nervoso periférico é tradicionalmente definido em termos anatômicos como os ner- vos cranianos (exceto o nervo óptico), os ner- vos espinais com suas raízes e ramos e os com- ponentes periféricos do sistema nervoso autônomo (Gardner e Bunge 1984). O sistema nervoso periférico está associado com as célu- las de Schwann; estas são substituídas por es- truturas gliais no sistema nervoso central. o neurônio Um neurônio compreende um corpo ce- lular (pericário), alguns dendritos e normal- mente um axônio. Axônios são mielinizados ou amielinizados e são agrupados juntos em feixes, ou fascículos. Os axônios são normal- mente referidos como "fibras nervosas". O ci- toplasma do neurônio, conhecido como axo- plasma, é contido, e flui dentro e ao redor de um sistema de microtúbulos e neurofilamen- tos, dentro do axônio. Cada axônio é circunda- do por células de Schwann, as quais, no caso das fibras mielinizadas, produzem mielina e encobrem o axônio. Em fibras nào-rnieliniza- das, uma célula de Schwann está associada com um número de axônios ao passo que, nas fibras mielinizadas, a proporção é de uma célu- la de Schwann por axônio. Nódulos de Ran- vier (referência à Fig. 1. 3) interrompem a con- tinuidade da bainha. Esta descontinuidade na .bainha de mielina permite rápida condução de impulsos visto que o potencial de ação salta de 6 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Fig.1.3 Diagrama de neurônios mielinizados e não-mielinizados. A axônio: BM membrana basal: VS vaso sangüíneo; E endoneuro; M rnielina: NR nodo de Ranvier; se célula de Schwann; seN núcleo da célula de Schwann. um nódulo para o próximo. Um axônio indivi- dual pode ter o comprimento de um membro, por exemplo, do corpo celular num gânglio de origem dorso lombar para um terminal sináp- tico no pé. Contudo, mesmo que o suprimento sangüíneo do axônio distaI possa ser diferente do corpo celular e o tecido conjuntivo difira, há uma conexão especial sobre o neurônio - ainda é uma célula. Uma anormalidade em uma parte do neurônio terá conseqüências pa- ra todo o neurônio. Circundando as células de Schwann. ou o complexo Schwann/mielina em fibras mielinizadas. está uma membrana basal colagenosa. a qual, por sua vez, é circun- dada pelo endoneuro. a mais interna das três camadas de tecido conjuntivo (Fig. 1.3). Embora os tecidos conjuntivos juntem seus atributos físicos e forneçam proteção às fibras ner- vosas, estas fibras nervosas estão também adaptadas para suportar forças tênsil e compressível. Axônios correm um curso ondulatório nos túbulos endo- neurais como também o fazem os fascículos no epi- neuro. O leve curso ondulatório percorrido pelos axônios nos túbulos endoneurais permite alguma distensão. Estas ondulações causam um fenômeno óptico conhecido como as "bandas espirais de Fon- tana" - estas bandas desaparecem em áreas de com- pressão nervosa (Mackinnon & Dellon. 1988). Parece que se a bainha de mielina possui ca- racterísticas que servem a um propósito biomecâ- níco. Quando uma fibra nervosa é alongada, a dis- tância internodular nas fibras mielinizadas expande, assim defendendo o menos protegido nodo de Ranvier (De Renyi. 1929, Landon & Williams, 1963). Com o alongamento, as lamelas da bainha de mielina resvalam umas nas outras. Fendas ou incisões (incisões de Schirnidt-Lanter- mann) na bainha de mielina correm oblíquas ao axônío. e separam-se durante a clistensão do ner- vo; o cilindro axônico sendo mais elástico que a mielina (De Renyi. 1929, Glees. 1943, Robertson. 1958, Singer & Bryant, 1969) (Fig.1.4). É razoável supor que, se o axônio é alongado, então seu diâ- metro climinuirá. Friede & Samorajsk.i (1969) cal- cularam que as fendas permitiriam considerável alongamento e mudanças no volume do axônio. Além destas referências antigas, pequena atenção foi clirecionada à propriedades bíornecânicas da bainha de mielina. Entretanto, deve haver meca- nismos adaptativos. Aqueles que tratam pelo mo- vimento devem também considerar o movimento neste nivel microscópico. Dado que a ocorrência de SLe se NR Ae Fig. 1.4 Representação diagramática da biornecânica da bainha de mielina. Com o alongamento de uma fibra nervosa, as larnelas de mielina deslizam uma sobre a outra e as fendas de Schmidt Lantermann (SLC) se abrem. Ae cilindro do axônio: SC célula de Schwann: NR nodo de Ranvier. desmielinização é uma possível fonte de geração (Calvin et aI 1982) de impulso ectópica. uma bio- mecânica anormal da bainha de mielina pode tam- bém contribuir. Três tipos de fibras nervosas são encontra- das no nervo periférico - fibras motoras, senso- riais e autônomas. Fibras motoras originam-se de corpos celulares localizados no corno ventral da medula espinal e terminam na junção neu- romuscular. Corpos celulares das fibras nervo- sas simpáticas pré-sinápticas também situam-se no corno ventral de segmentos da medula espi- nal de TI a L3. Fibras pós-ganglionares provêm do tronco simpático. Fibras sensitivas originam- se de corpos celulares na raiz dorsal do gânglio e terminam em receptores como os corpúsculos de Meissner, corpúsculos de Pacini ou como ter- minações nervosas livres. A proporção de fibras em cada nervo depende da função do nervo. O nervo mediano e o nervo ciático, ambos desti- nados primariamente para as extremidades, têm a maior proporção de fibras autônomas. Al- guns nervos, como o nervo cutâneo femoralla- teral. são puramente sensitivos, ao passo que não existem nervos puramente motores. Todos os nervos carregam pelo menos umas poucas fi- bras aíerentes. talvez de estruturas articulares se não de músculos. Endoneuro Circundando a membrana basal está o tubo endoneural: uma estrutura distendível, elástica fei- ta de uma matriz de tecido colagenoso compacto (Fig. 1.3). Observe o endoneuro e as outras duas camadas de tecido conjuntivo na Fig. 1.5. A matriz contém Iibroblastos. capilares, mastócitos e células de Schwann. Não há evidência de qualquer canal linfático (Sunderland, 1978, Lundborg, 1988). O endoneuro desempenha um importante papel na manutenção do espaço endoneural e pressão fluida, portanto a constância do meio que envolve as fibras nervosas. Uma pressão li- geiramente positiva é mantida no espaço. Sem linfáticos, qualquer alteração na pressão, como pode ocorrer com o edema (cap. 3), poderia in- terferir na condução e movimento do axoplas- ma (fluxo axoplasrnático). De acordo com al- guns pesquisadores (Granit & Skoglund, 1945, Sunderland. 1978), se os tubos se tornarem grcl- vemente danificados, a instalação de desorgani- ANATOMIA FUNCIONAL E F1SIOLOGIA DO SISTEMA "lERVOSO 7 Fig.1.5 Bainha de tecido conjuntivo de um segmento de nervo periférico multifascicular. A axônio; VS vaso sangüíneo; E cndoncuro. EE cpincuro externo; EI epineuro interno; M rnesoneu ro: P perincuro. zação neural, incluindo formação deneuroma e sinapse artificial entre fibras vizinhas, é possível. A orientação fibrilar colagenosa no endo- neuro é essencialmente longitlldinal- evidên- cia de que o endoneuro tem um papel na prote- ção dos axônios contra forças tensionais. As três bainhas de tecido conjuntivo, o endoneuro, pe- rineuro e epineuro. têm fibras colágenas arran- jadas longitudinalmente, embora com algumas fibras cruzadas formando uma treliça. Nervos cutâneos têm uma porcentagem maior de en- doneuro, provavelmente devido à proteção ex- tra que um nervo requer quando está próximo da superfície (Gamble & Earnes 1964). Perineuro Cada fascículo é circundado por uma fina bainha lamelada conhecida como perineuro (ver Fig. 1.5). Mais de 15 camadas podem estar presentes em troncos nervosos de mamíferos (Thornas & Olsson, 1984). Não há lâmina basal entre células perineuroriais. e as células se so- brepõe. Assim elas formam "junções compac- tas" (Thornas & Olssen 1984). Lundborg (1988) resume os papéis do perineuro como: 8 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO • Proteger os conteúdos dos tubos endoneu- rais • Agir como uma barreira mecânica a forças externas • Servir como uma barreira de difusão, man- tendo certas substâncias fora do meio intra- fascicular. Com lamelas compostas de colágeno e uma pequena quantidade de elastina. o perineuro é vis- to como sendo a estrutura mais resistente a forças tensionais(Sunderland, 1978). Muitas das fibras colágenas correm paralelas à direção da fibra ner- vosa, embora existam feixes circulares e oblíquos os quais podem proteger o nervo de enroscar quando tem de contornar um ângulo agudo, como faz o nervo ulnar no cotovelo (Thornas. 1963). O perineuro é o última bainha periférica de tecido conjuntivo nervoso a romper em testes tensionais (Sunderland, 1978). Embora, recentemente, Kwan et al (1988) tenham constatado que o peri- neuro do nervo tibial de coelhos rompe primeiro sob testes de força tensional embora deixe os ner- vos grosseiramente intactos. A pressão intrafascicu- lar tem de ser aumentada para aproximadamente 300-750 mmHg antes do perineuro romper (Se- lander & Sjostrand 1978). É um tecido rígido, forte. Seu importante papel como uma barreira de difu- são é discutido mais tarde neste capítulo. Epineuro Este revestimento de tecido conjuntivo mais externo circunda, protege e forra os fascículos. Feixes de colágeno são arranjados primariamente no eixo longitudinal do tronco nervoso (Thornas & Olsson. 1984). Fibras elásticas orientadas longi- tudinalmente próximas ao perineuro foram iden- tificadas. Observe na figura 1.5 que o epineuro mantém os fascículos a parte (epineuro interno) bem como formando uma bainha ao redor dos fascículos (epineuro externo). O epineuro interno facilita o deslizamento entre fascículos - uma adaptação necessária ao movimento, especial- mente quando um nervo periférico tem que se dobrar em um ângulo agudo durante o movi- mento do membro (MiJlesi, 1986). O conteúdo relativo do epineuro difere entre nervos e indiví- duos (Sunderland & Bradley, 1949). Por exem- plo, há mais epineuro onde os troncos nervosos cruzam articulações, ou em áreas de túnel como o túnel do carpa. O epineuro forma uma bainha distinta, bem diferenciada da fáscia circundante. Considerável amplitude de movimento dos tron- cos nervosos em relação à fáscia vizinha, como ocorre no leito nervoso, é permitida (McLellan.& Swash. 1976, Sunderlarid. 1978, Wilgis & Mur- phy, 1986). A quantidade de movimento varia dependendo da área do tronco nervoso. Em vá- rias posições ao longo do tronco, o epineuro se encontra ancorado ao tecido circundante. Os tecidos conjuntivos de sustentação do nervo periférico são altamente reativos, bem mais que os do tendão, por exemplo (Daniel & Terzis, 1977).Cé- lulas dentro dos tecidos conjuntivos podem reagir a agressões traumáticas multiplicando e sintetizando colágeno. O tecido conjuntivo pode se desenvolver, sustentado por uma circulação intrínseca bem de- senvolvida. Existe uma rede capilar linfática no epi- neuro. drenada por canais que acompanham as ar- térias do tronco nervoso (Sunderland 1978). Uma certa quantidade de gordura existe nos nervos periféricos e provavelmente tem um papel protetor de acolchoamento. Há mais gordura no nervo ciático nas nádegas do que em qualquer outro lugar (Sunderland. 1978). Esta gordura de- saparece quando existe emagrecimento e pode predispor o nervo à compressão neuropática. Todos os tecidos conjuntivos do nervo peri- férico são altamente inervados (ver página 29). Mesoneuro O mesoneuro é um tecido areolar frouxo ao redor dos troncos nervosos periféricos, as- sim chamado porque parecia-se com o mesen- tério do intestino delgado (Srnith. 1966) (ver Fig 1. 5). Van Beek & Kleinert (1977) sugeri- ram que o tecido fosse chamado o "adventício" porque o nervo não tem um verdadeiro me- sentério como o intestino. Em muitas áreas, vasos sanguíneos entram no nervo via meso- neuro. Este tecido permite ao nervo periférico deslizar ao longo, paralelo ao tecido adjacente, mas, o nervo pode contrair-se como um "mo- delo de acordeão" (Smith 1966). Em 1989, Sunderland reconheceu que um tecido con- juntivo fascial não-especializado existe ao re- dor do nervo periférico e que este tecido forne- ce uma estrutura frouxa de modo que o nervo possa apresentar deslizamento. Lundborg (1988) referiu-se a isto como um "tecido con- juntivo frouxo". O movimento nervoso nem sempre será do tipo deslizante. Como Sunder- land (1989) observou, aqueles que trabalham com técnicas de injeção sabem que o nervo em forma de cordão pode deslizar de lado para longe do ponto de pressão. O mesoneuro é uma estrutura importante se pensarmos no sistema nervoso em termos mecânicos. Seu papel ainda não é completamente compreen- dido. Embora o nervo provavelmente deslize através do mesoneuro até certo ponto. há pro- babilidade de existir fixação tanto internamen- te, no mesoneuro, quanto externamente, do mesoneuro para estruturas adjacentes. Arranjo fascicular no epineuro Os nervos não são estruturas uniformes. Os fascículos avançam em um curso ondulado por todo o tronco nervoso e formam constantemen- te plexos mutáveis dentro do tronco. A Fig. 1.6 mostra isto em um segmento do nervo musculo- cutâneo. A posição dentro do tronco difere as- sim como o número e tamanho dos fascículos. Uma relação inversa existe entre o número e ta- manho dos fascículos. Parece, entretanto, que a malha Iascicular como descrita por Sunderland (1978) é mais complexa na porção proximal do tronco nervoso e menos mais distalmente. Junto com o agru pa men to os req ueridos constitu intes aferentes e eferentes de um feixe nervoso, a constante mudança de posição dentro do tronco oferece proteção contra forças de compressão e tensão, principalmente se os fascículos avança- rem em uma linha reta. Quanto maior for o número de Iasciculos presentes, melhor estará um nervo protegido contra forças compressivas (Fig. 1.7). O nervo fibular comum no joelho fornece um bom exemplo. Na dobra do joelho, o nervo é com- posto de aproximadamente oito fascículos, mas Fig.1.6 Ramificação fascicular no nervo rnusculoruiâneo. De: Sunderland S 1978 Ncrvcs and nervc injuries. 2nd edn. Churchill t.ivingsroric, Edinburgh. Com permissão dos editores e do autor. ANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO 9 Fig.1.7 Compressão dos fascículos. Quando um nervo periférico é multifascicular. uma maior pressão é necessária para afetar as fibras nervosas do que quando existe um menor número de fascículos. poucos centímetros a mais distalmente. na ca- beça da fíbula. aproximadamente 16 fascículos estão presentes (Sunderland & Bradley, 1949). Na cabeça da fíbula. o nervo fibular comum es- tá sujeito a forças compressivas, pois ele está inconvenientemente localizado em região de muitas proeminências. O nervo, também, está anexo firmemente à cabeça da fíbula, dificul- tando escapar de forças externas. Existe tam- bém uma maior quantidade de tecido conjunti- vo no nervo fibular comum na cabeça da fíbula (68%), comparadaa 51 % na fossa poplítea (Sunderland & Bradley, 1949). Em geral, pelo menos a metade do nervo periférico é consti- ruída de tecido conjuntivo. A variação é de 21 % a 81 %, com maiores porcentagens pre- sentes se um nervo está localizado próximo de uma articulação (Sunderland 1978). A importância do arranjo fascicular é óbvia quando se trata de cirurgia nervosa - todo conhe- cimento será vital para obter a melhor restauração fascicular possível durante a sutura do nervo. O significado é menor para fisioterapeutas. Se o siste- ma nervoso for palpado (Cap. 9) será mais fácil ob- ter uma resposta neural em áreas onde haja pou- cos fascículos (ver Fig. 1.7). Em segmentos onde houver 11mgrande número de fascículos, será ne- cessária uma palpação mais firme e o tecido con- juntivo pode ser sintomático antes do tecido neu- ral. Isto pode também auxiliar na interpretação do sinal de Tinel (Cap. 6). Se um nervo for percutido I()MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO em uma área onde há poucos fascículos, a resposta das fibras nervosas é mais provável. Eu usei a in- terpretação do arranjo fascicular como pane de uma hipótese a respeito da biomecânica do siste- ma nervoso. Simplesmente, onde o sistema ner- voso se move significativamente em relação aos tecidos da interface, como a área urneral média, há um menor número de fascículos e menos teci- do conjuntivo do que onde o sistema nervoso tem melhores fixações, como na cabeça da Iíbula, Com este plexo interneural sempre mudando, a apre- sentação dos sinais e sintomas pode bem ser "tirar a sane grande" dependendo de quais fascículos fo- ram lesados. Um dano a uma parte do tronco ner- voso periférico pode ter repercussões clínicas alta- mente diferenciadas de um dano similar um centímetro ou ainda mais ao longo do tronco. o sistema nervoso autônomo o sistema nervoso autônomo (SNA) é fre- quentemente o sistema nervoso esquecido. Sua divisão do sistema nervoso somático deveria ser considerada como artificial. Ele consiste de dois neurônios em série. Os axônios do primeiro são conhecidos como fibras "pré-ganglionares". Elas se originam no cérebro ou na medula espinal, se localizam na coluna cinzenta lateral da medula espinal e saem juntos com alguns nervos crania- nos c raízes ventrais, fazendo sinapse em um gânglio autônomo. Os axônios dos corpos celu- lares originados no gânglio autônomo são co- nhecidos como "pós-ganglionares" e estão distri- buídos para as glândulas e músculo liso. Ambas as fibras pré- e pós-ganglionares são arranjadas em divisões simpáticas e parassimpáticas com- plementares. Cada neurônio pré-ganglionar po- de fazer sinapse com aproximadamente 20 neu- rônios pós-ganglioriarcs - certamente um importante fator na disseminação difusa da ati- vidade simpática (Williams & Warwick, 1980). O sistema nervoso autônomo para os membros é um sistema de fibras nervosas eíererues. Não há evidência de qualquer fibra aferente. o tronco simpático e os gânglios O tronco simpático compreende duas ca- deias de fibras pré-ganglionares, uma de cada lado da coluna vertebral, se estendendo da ba- se do crânio até o cóccix. Uns 21 - 25 gânglios estão contidos na cadeia. Um número de fibras pós-ganglionares (ramos comunicantes) emer- ge do gânglio e conectá ao nervo espinal cor- resporiderue ou a outras fibras na cadeia (Gardner & Bunge. 1984). Os gânglios simpáticos são capsulados, sen- do as cápsulas uma continuação do epineuro dos feixes que se ligam ao gânglio. Na coluna cervical, a cadeia é anterior aos processos trans- versos da vértebra cervical. No tórax, ela é ante- rior e fixada à cabeça das costelas, próxima das articulações costovertebrais. Finalmente, no ab- dome, ela é ântero-lateral aos corpos vertebrais. As cadeias são anteriores ao sacro e unem-se anteriores ao cóccix (Williams & Warwick, 1980). A localização da cadeia em relação ao ei- xo de movimento e sua conexão com estruturas adjacentes será importante no movimento cor- poral. Estes assuntos serão discutidos e ilustra- dos na seção de biornecânica do sistema nervo- so autônomo, no capítulo 2. As fibras pré-ganglionares para cabeça e pescoço originam-se dos segmentos C8 à T5. Aquelas para membro superior originam-se de T2 à TI O e aquelas para os membros inferiores de TIO a L2. Entretanto, com a continuidade da cadeia, as influências mecânicas podem ori- ginar-se muito mais longe. O SISTEMA NERVOSO CENTRAL Raízes nervosas As raizes nervosas são consideradas mais uma pane do sistema nervoso central do que do perifé- rico. Elas envolvem as rneninges. não têm células de Schwann e recebem pelo menos a metade de sua nutrição do líquido cefalorraquidiano (LCR). Os tecidos conjuntivos dos troncos nervo- sos são muito diferentes daqueles nas raízes ner- vosas, mesmo que o mesmo axônio possa estar presente como nas raízes ventrais. Muitos auto- res chamaram atenção para o fato de que as ca- pas de tecido conjuntivo nas raízes nervosas são muito mais frágeis, ou mesmo nem estão pre- sentes. Assim, sugere-se, também baseado em achados clínicos, que raízes nervosas são mais suscetíveis a lesões (Murphy, 1977). Morfologi- camente e fisiologicamente, os tecidos conjunti- vos são diferentes e nenhum resultado serve para comparação. As raízes nervosas são priva- das de tecidos conjuntivos que são uma parte muito importante de um nervo periférico. Gam- ble (1964) conduziu um estudo de microscopia eletrônica e descobriu que os tecidos conjunti- vos das raízes nervosas eram mais parecidos com as leptomeninges (aracnóide e pia mater) do que aqueles do tronco nervoso periférico. Em con- senso, Park & Watanabe (1985), usando um mi- croscópio eletrônico, observaram que cada radí- cula, conforme emergia, se encontrava embainhada por uma camada de pia matcr. a mais externa das que formaram uma capa ao re- dor dos fascículos individuais. Quando examina- da sob o microscópio esta parecia-se com uma "capa de fios de gaze". Park & Watanabe (1985) chamaram estas camadas de "pia radicular" e notaram, sob microscopia, que a natureza de malha aberta da bainha permitia livre percola- ção do líquido cefalorraquidiano (LCR). Este decréscimo no conteúdo e resistência das estruturas do tecido conjuntivo não signifi- ca que as fibras nas raízes nervosas são deixa- das sem proteção. De outra maneira, pareceria que a avulsão da raiz nervosa da medula espi- nal e o dano grave às raízes nervosas seriam de ocorrência banal. Para a maior parte, isto não acontece. Normalmente, os danos às raízes ner- vosas não originam-se de tração, mas ao con- trário. ocorrem indiretamente a partir de estru- turas vizinhas como os discos e articulaçôes zigoapofisárias. É extremamente difícil separar raízes nervosas da medula pela aplicação de tensão sobre troncos nervosos e plexos (Barnes, 1949, Frykolm, 1951). Observações de paralisia obstétrica, casos em que os danos são no plexo braquial e não no nível da raiz nervosa, indicam mecanismos consideravel- mente seguros para a raiz. Tensão e movimen- to, os quais podem ser facilmente absorvidos pelo nervo periférico, são transmitidos em ou- tra parte no nível da raiz nervosa. Existem inú- meras características no nível da raiz nervosa que permitem a origem desta transmissão. 1. Os quarto, quinto e sexto nervo cervical espinal têm uma forte ligação com as depressões de seus respectivos processos transversos. Sunderland (1974) examinou material cadavérico da coluna cervical inferior e descobriu que, "as estruturas neurais e suas ANATOMiA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO II capas não estavam unidas ao Iorame". A artéria vertebral pressiona os nervos espinais de volta às depressões. Sunderland (1974), em seu estudo sobre a coluna cervical e torácica superior, notou que tais ligações não eram evidentes em outras partes. Ligações extra-tecais das raízes nervosas lombo-sacrais foram bem descritas e são revisadas abaixo. Nenhuma comparação foi feita entre estas ligações nas várias regiões do corpo. Embora o complexo de raiz nervosa permita movimento no forame intervenebral, há outras áreasde ligação, como as ligações da linha média dura do canal vertebral (ver pg. 17). 2. Em níveis segmentares, os tecidos duraI e epidural formam uma bainha de tecido conjuntivo. Os tecidos epidurais devem incluir a bainha epidural descrita por Dommisse (1975) e Hasue et ai (1983). Mais além do gânglio da raiz dorsal, esta bainha forma o epineuro e perineuro. As três bainhas de tecido conjuntivo do nervo periférico não se unem exatamente com as três meninges como freqüentemente é ensinado. Funcionalmente esta combinação não seria a melhor. O forte perincuro não tem equivalente mecânico nas raízes nervosas, e se houvessem algum resquício de transmissão de tensão, seria muito forte para a delicada aracnóide. Os tecidos epidurais e a dura combinam-se para formar o epineuro e camadas externas do perineuro. O endoneuro é uma continuação da pia. Haller et al (1971) notaram que a "finalização aberta" do perineuro naquelas suas camadas mais externas são contínuas com a dura / aracnóide e as camadas interiores formam a bainha piaI. Essa combinação é melhor para a distribuição da força ao mesmo tempo que preserva um meio constante ao redor da fibra nervosa. O perineuro pode continuar seus mecanismos de barreira de difusão com a dura e seu LCR contido, e a barreira nervosa sangüínea dos vasos endoneurais é continuada em alguma direção com a pia rnarcr. Esta área juncional é frequentemente mal-entendida. A maioria das descrições da área é de animais, especialmente ratos. 3. A aliança duraI forma um mecanismo tampão. Isto não apenas impede as raízes nervosas de serem puxadas para fora do Iorarne. 12 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Fig. 1.8 Zona de junção entre o nervo periférico e o sistema nervoso central (fora de escala). A aracnóide; D dura mater: TE tecido epidural; P perineuro; E epineuro. De: Sunderland S 1978, Nerves and nerve injuries, 2nd edn.Churchill Livingsione. Edinburgh. Com permissão do autor e dos editores. ela é também um conveniente distribuidor de forças. O tamponamento do forame ocorre como se a aliança duraI fosse atraída para o farame intervertebral. Sunderland (1974) também notou que a tração foi finalmente transmitida à medula via ligamentos denticulados e isto parcialmente diminuía a tensão aplicada sobre as raízes nervosas. 4. Raízes nervosas também têm seus próprios mecanismos embutidos, os quais consistem de ondulações, e estão aptas a desdobrarem-se. O LCE fornece aproximadamente metade das necessidades metabólicas da raiz nervosa (Park & Watanabe, 1985). O LCF também acolchoa e protege as raízes (Louis, 1981; Rydevik et al. 1984). Fascículos individuais dentro da raiz nervosa têm a capacidade de deslizar um sobre o outro como fazem no nervo periférico. A torção dos vasos sangüíneos abastecendo os fascículos, como será explicado e ilustrado mais adiante neste capítulo, fornecem abundantes evidências (Parke & Watanabe 1985). Algumas forças irão eventualmente ser transmitidas centralmente. É importante per- ceber que tanto os tecidos conjuntivos como os tecidos neurais absorverão força. Parece que raízes nervosas nem sempre têm uma saída direta do canal vertebral nas regiões cervical inferior e torácica superior. Existem rela- tos persistentes na literatura de raízes nervosas anguladas entre C3 e T9 (Baldwin, 1908; Fig. 1.9 Tamponamento do forarne intervenebral. C medula espinal; D dura rnarer: RN raiz nervosa; GRD gãnglio da raiz dorsal. De: Sunderland S 1978, Nerves and nerve injuries, 2nd edn. Churchill Livingstone. Edinburgh. Com permissão do autor e dos editores. Prykolm, 1951; Reid. 1958, 1960; Nathan & Peuerstein. 1970). Raízes nervosas anguladas ou "ascendentes" significa que as raízes descendem na teca duraI e então ascendem para emergirem de seus respectivos forames intervertebrais (Fig. 1.10). Reid (1960) dissecou 80 cadáveres, de 5 anos de idade e mais, e descobriu que 71 % ti- nham raízes nervosas correndo numa direção "anômala". Nathan & Feuerstein (1970) relata- ram uma incidência de raízes nervosas anguJadas em 38 de 50 casos. Reid (1960) também notou que, mudando-se a posição flexão/extensão da cabeça, poderia-se fazer com que as raízes corres- sem rostralmente ou caudalmente. Isto era mais evidente em cadáveres mais jovens. Os resultados dele foram derivados quando posicionou-se a ca- beça numa representação de "postura ereta nor- mal". A extensão aumentou o número de raízes ascendentes. Esta ocorrência pode posicionar as raízes e mangas durais em risco durante movi- mento. Uma observação da Figura 1.10 mostra que estas raízes anguladas podem estar em risco par movimentos em todas as direções. Raízes ner- vosas anguladas podem ser, pelo menos em parte, um resultado de alguma patologia como uma di- minuição degenerativa da coluna vertebral ou a dura sendo atada ou ancorada abaixo com o resto das meninges e neuroeixo adaptando-se pela an- Fig. 1.10 Trajeto angulado da raiz nervosa. D dura mater: 3D bainha da dura; P pedículo: GRD gânglio da raiz dorsal; ME medula espinal. Adaptado de Nathan & Feuersrein (1970). gulação. Em ambos os estudos, tais mudanças ra- ramente foram encontradas em cadáveres com idade menor que 25 anos. Deve-se notar que Dommisee (1986) debateu a existência delas. o neuroeixo o neuroeixo (medula espinal) é uma con- tinuação da medula oblonga. Próxima a L2, ela converge para um ponto, formando o cone me- dular (Fig. 1.11). O neuroeixo ocupa aproxi- madamente metade do espaço em cada direção do canal vertebral (Hollinshead & Jenkins. 1981). Os tratos ascendentes estão localizados na periferia da medula. Isto não só os torna mais suscetíveis a forças compressivas de discos herniados ou sangue, por exemplo, mas tam- bém significa que eles terão que assimilar uma grande quantidade de movimentos. Na flexão ANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO 13 Fig.1.11 o neuroeixo e a dura mater, IC intumescência cervical; CEq cauda equina: D dura rnarer seccionada e rebatida; CE cauda equina; P ponte; NE nervo espinal; IL intumescência lombar. Adaptado de Mathers (1985). da coluna, a coluna posterior precisará se mo- ver mais que os tratos do lado anterior do neu- roeixo (Breig 1978). Parece provável que o oposto ocorra durante a extensão da coluna. Nos movimentos de flexão lateral de coluna, os tratos no lado convexo irão alongar mais do que aqueles no lado côncavo (Fig. 1.12). Axônios no SNC estão bem protegidos por uma variedade de estruturas de tecido conjun- tivo, mas, como os nervos periféricos, as fibras nervosas não estão sem sua própria proteção intrínseca. Em movimentos fisiológicos nor- mais as fibras não apresentam problemas em acompanhar os movimentos do corpo que elas controlam via condução. Axônios não são re- 14 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Fig. 1.12 Tratos da medula espinal com localização aproximada do eixo de flexão e extensão. As colunas dorsais terão de se mover mais que outros tratos durante os movimentos de flexão e extensão. * centro aproximado de rotação; CV corpo vertebral; TCE trato corucospínal: CD colunas dorsais; GC substância cinzenta; TECer trato espinocerebelar; TEtal trato espinotalârnico: DL ligamento deruiculado: PE processo espinoso. tos, como os livros os mostram, mas estão ar- ranjados em pregas e espirais os quais endirei- tam a medida que a medula espinal alonga (Fig. 1.13). As colunas posteriores são mais pregueadas e curvas que as colunas anteriores, uma vez que elas estão mais distantes do eixo instantâneo de rotação que os outros tratos (White & Pansabi 1978). Breig (1978) observou 2 métodos de adap- tação neuroaxial ao alongamento: • Desdobrando-se e descurvando-se à medida que os axônios se retificam • Movimentando-se em relação aos segmen- tos vertebrais vizinhos A porção final de uma medula espinal fres- ca certamente irá fluir como um gel mucóide se retirada dos envoltórios de tecido conjuntivo (Breig 1978). Transfeldt & Simmons (1982) mostraram movimentos adaptativos similares presentes nas medulas espinais de gatos. ~ f, , f ' ~ I .t. j I, Fig. 1.13 Efeito do alongamentosobre um segmento da medula espinal humana retirado da fissura mediana anterior c da comissura branca anterior (X 525). A Efeito de alongamento como ocorre na flexão da coluna vertebral. B Efeito de encurtamento. Observe a separação das fibras nervosas em algumas áreas mais estressadas e como. devido ao dobramento das fibras. elas não podem ser acompanhadas em todo o seu comprimento. De: Breig A 1978 Adverse mechanical tension in the central nervous system. Alrnqvist & wíksell. Stockholm. com permissão. As meninges Três membranas de tecido conjuntivo, co- nhecidas como meninges, envolvem a medula espinal. As duas primeiras, a aracnóide e a pia mater. são conhecidas como leptomeninges. A camada mais espessa e externa é a dura-rnater (Figs. 1.14, 1.15). Pia mater e aracnóide Estas são membranas muito delicadas, muito mais que a dura mater. Uma malha de fibras colá- genas forma a pia mate r e a aramóide. Isso permi- te alongamento e alguma compressão sem distor- ções (Breig. 1978) (Fig. 1.16). E oferece proteção aos elementos neurais, ao mesmo tempo, que permite movimentos. Esta malha também está presente na neuroglia tanto da substância cin- zenta quanto da branca, bem como nos duetos linfáticos dentro do neuroeixo (Breig 1978). A pia mater é um tecido contínuo, separando o lí- quido céfalo-raquidiano (LeR) do espaço suba- ramoídeo dos espaços fluidos extracelulares espi- nais. O trabéculo aramoídeo passa da pia para a Fig. 1.14 Micrografia da medula cspinal lornbar em uma criança de 15 meses de idade. L ligamento denticulado: D dura (observe as camadas): A aracnóide: S scpto dorsal: lL camada intermediária lcprorncníngca. De: Nicholas D S. wellcr R O 1988 Thc fine anaromy of lhe human spinalmeninges . .Journal of Neurosurgery 69: 276-2R2. com permissão dos editores e dos autores. aracnóide. Nicholas & Weller (1988) documenta- ram a existência de uma camada leptorneníngea intermediária localizada entre a aracnóide e a pia rnater (ver Fig. 1.14). Eles sugeriram que esta ca- mada' junto com o trabéculo aracnoídeo, podem diminuir os níveis de pressão no LCR durante os movimentos do corpo. A aracnóide deve conter o LCR e parece bem adaptada para isto, con- sistindo de múltiplas camadas com algumas das membranas unidas (Waggener & Beggs 1967). LeR, espaços subaracnoideo e sub-dural o espaço subaracnoídeo (ver Fig. 1.14, 1.15) contém LCR. O LCR tem um papel pri- mariamente nutritivo, mas também auxilia na biomecânica da medula espinal. Acredita-se que aja como proteção hidráulica, banhando e circundando a medula e raízes nervosas com fluido e portanto oferecendo proteção durante o movimento corporal (Louis 1981). O signifi- cado do papel mecânico é evidente pelas com- plicações que podem seguir a punção dural ou du rotornia. tanto acidental quanto intencio- nal. A proteção do LCR é perdida com a fuga deste líquido através do defeito duraI resuItan- ANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO 15 Fig. 1.15 Cone diagramático do canal cspina]. meninges e medula espinal. A aracnóidc: D disco: LD ligamento denriculado; DM dura matcr: RN raiz nervosa: P pedículo (cortado). ESA espaço subaracnóide; ME medula espinal; NE nervo espinal. t Fig. 1.16 O arranjo do colágcno da aracnóide e pia marcr permite que ocorra um ponto de distensão l' compressão. 16 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO te. A consequente tração na dura craniana e vasos sanguíneos (todos inervados) é provável causadora de sintomas (Spielman 1982). A te- ca duraI é capaz de mudar sua capacidade e forma rapidamente em resposta a mudanças na pressão intra-craniana, intra-abdominal e intratorácica (Martins et aI 1972). Isto indica que LCR tem considerável dinâmica em res- posta ao movimento. Devido à forma relativa- mente incompressível do canal vertebral, a forma da teca duraI deve mudar conforme a pressão do plexo venoso epidural muda. A in- clusão da patologia dentro do canal vertebral poderia facilmente interferir com estes meca- nismos. O espaço subdural (ver Fig. 1.14) é um es- paço potencial, contendo um pequeno fluido seroso. o qual provavelmente permite desliza- mento da aracnóide na dura. Dura mater A dura mater é a camada meníngea mais externa e, de longe, a mais dura e mais resis- tente (ver Figs. 1.14 e 1.15). Ela consiste pri- mariamente de fibras colágenas e algumas fi- bras de elastina alinhadas no eixo longitudinal e em camadas (Tunturi 1977). Isto dá à teca durai grande resistência axial. embora seja con- sideravelmente mais fraca na direção transver- sa (Haupt & Stofft. 1978). Freqüentemente ci- rurgiões têm comentado que, se a dura rasga, ela rasga na direção axial. A dura mater é um tecido excepcional. ela não deteriora com a ida- de e é apropriada como um material para subs- tituição de válvula cardíaca (van Noort et a l. 1981). Isto sugere uma resistência, combi nada com boa vascularização e inervação. A inerva- ção duraI e suas conseqüências serão discutidas mais tarde neste capítulo e no capítulo 4. A teca durai espinal é um tubo incluso contí- nuo correndo do forame magno para o filamento terminal no cóccix. Existem prolongamentos em níveis segmentares - as mangas da raiz nervosa. A dura mater espinal é contínua com a dura cranial. Outros conteúdos do canal espinal O espaço epidural contém O plexo venoso vertebral interno, que será discutido em mais detalhes neste capítulo. Existem também depó- sitos de gordura, os quais estão localizados na foramina intervertebral e no nicho posterior entre os ligamentos flavos (Parkin & Ha rrison. 1985). A gordura parece ser regulada pelo es- paço disponível. Na estenose do canal vertebral a quantidade de gordura no canal diminui. RELAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO- ESPAÇOS E LIGAÇÕES Uma relação entre as partes componentes existe em qualquer estrutura móvel. No siste- ma nervoso, é definida pelo espaço ao redor das partes componentes e conexões entre es- sas. Um espaço adequado é necessário ao redor do tecido neural e conjuntivo e deve haver es- paço suficiente durante o repouso e durante movimentos fisiológicos da coluna. Dentro do canal vertebral. o espaço subaracnoídeo ocu- pado pelo LCR, o espaço sub-durai potencial e o espaço epidural são as principais considera- ções. A integridade desses espaços é essencial para o movimento. O sistema nervoso está ligado a tecidos e estruturas circundantes. Estas ligações diferem nas diferentes áreas do corpo, mas são caracte- rísticas anatômicas reproduzíveis e são essen- ciais para a amplitude de movimento normal do sistema nervoso. Este é um importante conceito para fisioterapeutas. Da mesma forma como o joelho, por exemplo, tem ligamentos colaterais e cruzados para orientar e limitar o seu movimento, um papel similar é desempe- nhado pelas conexões do sistema nervoso. Al- terações na estrutura e natureza dos espaços e ligações provavelmente têm significado clínico em síndromes de tensão adversa. As ligações precisam ser consideradas quando se trata da- quelas que ligam tecido neural a tecido con- juntivo, como os ligamentos denticulados, e daquelas que ligam tecido conjuntivo (e por- tanto tecido neural) a outras estruturas, como os ligamentos durais. Hassue et aI (1983) demonstraram que o espaço ao redor do tecido neural, tanto no ca- nal vertebral como no Iorarne inrervertebral. é menor em machos que em fêmeas. Estes auto- res também apontam que estenose progressiva e degenerativa é mais comum no sexo mascu- lino. As conexões externas da dura Dentro no crânio, a dura mater é frouxa- mente aderida às porções centrais dos ossos cra- niais e delicadamente aderida no nível das suturas (Murzin & Goriunov, 1979). A dura mater espinal é contínua com a dura mater cranial. Há uma fir- me ligação no forame magno e, na extremidade caudal, ao cóccix pelo filamento terminal. Este é um tubo elástico delgado, mais elástico que a me- dula espinal. e um provável pára-choque para su- portar distensão da medula (Tani et al 1987). É uma ocorrência normal para fisioterapeutas inves- tigar a presença de coccidínea (cap. 13) e constatarque pacientes com esta desordem freqüente apre- sentam a mecânica do sistema nervoso alterada. Uma rede de ligamentos durais (ligamentos de Hoffman) liga a teca anterior à porção anterior e ântero-lateral do canal espinal (Figs. 1.17 e 1.18). Antigos anatomistas estavam conscientes da existência desses ligamentos. Um ressurgimento do interesse estimulou a volta aos estudo desses li- gamentos como uma parte da biomecânica neu- roaxial e meníngea (SpenceretaI, 1983;Tenceret al, 1986). Na coluna lombar, os ligamentos são ANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO 17 particularmente bem desenvolvidos e não apenas fixam a dura centralmente, eles também atam-na no nicho lateral. Blinka (1969) notou que os liga- mentos durais ao redor de L4 eram mais fortes e mais numerosos que em outros lugares - tão for- tes que não poderiam ser deslocados com uma sonda. Ligamentos durais torácicos tendem a ser mais finos e mais longos e, na coluna cervical, eles são mais curtos e mais espessos. Os estudos de Tencer et al (1985) revelaram que, na coluna lom- bar, os ligamentos durais, raízes nervosas e troncos são de igual importância na distribuição de forças. Contudo, Tencer et al (1985) também descobriram que estes ligamentos forneciam mínima restrição a movimento dural no eixo longitudinal. Apesar disto, o sistema nervoso periférico proporciona ao neuroeixo e suas membranas uma ligação física muito forte com o resto do corpo. Dorsalmente. uma prega ou septo (septo dorso-mediano) tem sido considerada uma ca- racterística consistente no aspecto posterior do canal vertebral entre o ligamento flavo e a du- ra mate r posterior (Parkin & Harrison, 1985; Blornberg. 1986; Savolaine et ai, 1988) (ver Fig. 1.17). Estas ligações são mais longas do Fig. 1.17 Corte transversal do canal espinal e as fixações do neuroeixo e meninges. A aracnóide; CV corpo vertebr~l; D dura mal<;r; Dul ligamento durai; Del ligamento denticulado; DM septo dorsornediano: RD raiz dorsal; ESA espaço subaracnóide: TSA trabeculas subaracnóides; NE nervo espinal; RV raiz ventral; PE processo espinhoso. 18 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Fig. 1.18 Ligamentos da dura rnarcr. A torácico; B lombar. A rcca durai está sendo afastada com uma cânula. De Tenccr A F, Allen B L, Ferguson R L, 1985. Estudo biomecânico de fratura da coluna ioracolornbar com osso no canal. Parte 111.Propriedades mecânicas da dura marer e seus ligamentos. Spine 10: 741-747. com permissâo dos autores e editores. que as ligações anteriores (Parkin & Harrison. 1985). Elas são anatomicamente complexas, fortes, e parece inevitável que estejam envol- vidas na biomecânica dos tecidos neuromenín- geos, particularmente nos consideráveis movi- mentos ântero-posteriores notados por Penning & Wilmink (1981). Esta ligação duraI posterior poderia também ser uma razão pela qual algumas injeções epidurais podem não ter o efeito desejado. Se a prega for um tecido contínuo, toda a dura pode não ser banhada na injeção de material. Ligações durais internas Dentro do saco duraI existem 21 pares de liga- mentos denticulados (ver Figs. 1.14, 1.15 e 1.17). Estes saem da pia mater para a dura e são orienta- dos a manter o cordão central na teca duraJ. Com o cordão atado à teca. qualquer tensão ou movimen- to é muito maior na teca do que na medula. Tani et al (1987) mostraram que os ligamentos denticula- dos, assim como o filamento terminal, previnem alongamento excessivo da medula durante flexão. Ligamentos denticulados espessos associados com espondilose cervical têm sido implicados em dege- neração medular (BedFord et al 1952). As trabéculas subaracnoíde correm da arac- nóide para a pia. Elas formam grandes canais pa- ra o LCR, e provavelmente amortecem ondas de pressão no LCR (Nicholas & Weller 1988). Ligações do sistema nervoso periférico Os nervos periféricos também se encon- tram ligados ao tecido circundante. Entretan- to, a eles são permitidos movimentos na base do nervo, menos em algumas áreas do que em outras, como onde os vasos sangüíneos en- tram ou onde os nervos ramificam-se. Esta é uma área pouco estudada, provavelmente es- pelhando a importância dada à biomccânica ME o LO Fig. 1.19 Os Iigarneruos dcnticuiados fixam a medula cspinal na icca duraI. Estes ligamentos estabilizam a medula ccru ralmcnre na teca durai e proporcionam estabilidade contra lorça'> transversais c axiais. D dura; LD lígarncnto deruiculado: ME medula cspinal: ar tensão axial; tt tensão transvcrval. Adaptado de whue & Panjabi (1978). nervosa no presente. Os tecidos mcsoneurais. o próprio nervo e a estrutura à qual se liga, claramente possuem anatomia totalmente complexa com finalidade de movimentos. O que é inconfundível é que, durante o curso de um nervo periférico, existem algumas áreas onde o nervo se encontra mais faxado do que em outras, por exemplo, o nervo fibular co- mum na cabeça da Iíbula. e o nervo radial à cabeça do rádio. Ainda em outras áreas, uma quantidade notável de movimento de mais de 1,5 em ocorre (McLellan Ei' Swash, 1976). Em uma seção anterior discuti o mesoneuro. Onde um nervo periférico está fixado a uma estrutu- ra adjacente ele deve ligar-se de algum modo através do mesoneuro. se o mesoneuro for uma estrutura contínua. Esta conexão precisa de análise histológica, O FUNDAMENTO DOS SINTOMAS O conhecimento de três processos é im- ANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO 19 por tante para uma compreensão da reprodu- ção dos sintomas relacionados com o sistema nervoso: • O suprimento sangüíneo ao sistema nervo- so • Os sistemas de transporte axonal • A inervação dos tecidos conjuntivos do sis- tema nervoso. Todos estes processos serão influenciados por deformação mecânica. CIRCULAÇÃO O sistema nervoso consume 20% do oxi- gênio disponível na circulação sangüínea con- tudo representa apenas 2% da massa corporal (Dom misse, 1986). Entre as células, neurônios são especialmente sensíveis a alterações no fluxo sangüíneo. Um suprimento vascular ininterrupto é imperativo para a demanda me- tabólica da função neuronal normal. O supri- mento sangüíneo do sistema nervoso (vasos dos nervos) é bem preparado para garantir que o fluxo sangüíneo para os neurônios esteja de- simpedido em todas as posturas dinâmicas e estáticas. O sangue proporciona a energia ne- cessária para a condução de impulsos e tam- bém para o movimento intracelular do cito- plasma do neurônio. Existe um modelo geral de suprimento san- güíneo para os neurônios: vasos extrínsecos suprin- do artérias nutridoras para o nervo. Uma vez dentro do SNC, há um sistema intrínseco bem desenvolvi- do (Fig. 1.20). Em muitas partes do corpo, o supri- mento sangüíneo é tão seguro que se algum vaso nutrido estiver comprometido, o sistema intrínseco Fig. 1.20 Organizaçâo cxtraucural c intrancural do sistema circulatório. VEN vaso cxtrancurnl: VIN vaso intrancural; VA vaso alirncruador: SN sistema nervoso. 20 MOBfLIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO pode fornecer o sangue necessário para a função neural normal. Com um suprimento tão seguro, pode parecer que o SN pode ser relativamente inde- pendente com seu suprimento sangüíneo. O arran- camento de vasos nurridores. como ocorre em ci- rurgias de nervos periféricos. pode não originar um defeito. Entretanto, se após o arrancarnento. uma artéria nutridora vital for bloqueada, o nervo irá fa- lhar rapidamente (Porter & Wharten 1949). Vasculatura do canal vertebral e neuroeixo Estas estruturas têm um suprimento múlti- plo. A artéria vertebral, a profunda cervical, a pos- terior intercostal e as artérias lombares suprem a coluna vertebral. Elas também suprem, através de subdivisões segmentares, o canal vertebral e con- teúdo. Em determinados níveis vertebrais, ramos nutridores medulares se originam e unem a artéria anterior que corre longitudinalmente e duas pe- que nas artérias espinais posteriores. Em todos os níveis, as artérias espinais segmentares originam artérias radiculares as quais suprem a metade distai das raízes nervosas. A artéria espinal anterior supre cerca