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1. Conceito É a condição que implica a redução da frequência de evacuações, sendo menos que 3 vezes na semana, associada a alguns sintomas. A constipação crônica é definida pela presença dos sintomas por mais de três meses. Sintomas de constipação Esforço ao defecar Sensação de dificuldade Evacuação incompleta ou pequeno volume Fezes em cíbalos/ressecadas Tempo prolongado de evacuação Necessidade de manobras para eliminar as fezes 2. Epidemiologia O sexo feminino é o mais afetado, de forma que a prevalência aumenta com a idade, já que idosos praticam menos exercícios, utilizam medicamentos constipatórios. A taxa de prevalência é de 14%, de modo que é a segunda causa de procura médica especialista. Cerca de 30 a 70% dos pacientes evacuam uma vez por semana. A prevalência é afetada por uma constante multifatorial. 3. Consenso de ROMA IV Caracteriza a constipação pela presença de pelo menos 2 sintomas dos seguintes: • Esforço aumentado • Fezes endurecidas – escala de Bristol, formas 1-2 • Sensação de evacuação incompleta • Obstrução anorretal ou bloqueio anorretal • Manobras manuais para facilitar defecação • Menos de três evacuações espontâneas por semana Os critérios devem ser preenchidos nos últimos três meses e terem iniciados há pelo menos 6 meses. 4. Classificação • Funcional ou primária Não existe uma causa, seja por doença, seja por uso medicamentoso. ✓ Propriamente funcional – ritmo intestinal (3/4 dias sem evacuações) + sintomatologia associada ✓ Trânsito lento – ausência de doença sistêmica, mas manifestação de neuropatias ou miopatias, paciente passa dias sem evacuar (10-15 dias) ✓ Desordem de dessecação ou defecação dissinérgica – obstrução de saída, em que ocorre fragilidade musculatória pélvica ou do esfíncter, sendo necessário manipulação manual • Orgânica ou secundária A constipação é consequência de doenças do próprio sistema gastrointestinal, mas pode ser devido ao acometimento dos outros. Algumas etiologias podem ser descritas a seguir: ✓ Gastrointestinal – câncer colorretal, doença diverticular, megacólon, doença hemorroidária, prolapso retal ✓ Endocrinometabólicas – diabetes, hipotireoidismo, uremia, hiperparatireoidismo ✓ Psiquiátricas – depressão, ansiedade, demência ✓ Distúrbios eletrolíticos – hipercalcemia, hipocalemia, hipermagnesemia ✓ Neurológicas – doença de Parkinson, AVC, neuropatia autonômica, esclerose múltipla ✓ Tecido conjuntivo – esclerose sistêmica, amiloidose ✓ Medicamentos – opioides, drogas adrenérgicas, suplementos de cálcio ou ferro, antiácidos, antidepressivos tricíclicos, antiparkinsonianos, BCC, AINES, anticolinérgicos, quimioterápicos, espasmolíticos, lítio, diuréticos, antipsicóticos, entre outros 5. Diagnóstico • História clínica e exame proctológico Aplicação dos critérios de Roma IV, investigação de doenças ou condições constipantes, investigação da presença de fissuras ou hemorroidas, avaliação de tônus anal e contratura de esfíncter anal externo e interno. • Laboratório ✓ Hemograma – anemia ferropriva, exceto em pacientes vegetarianos ou veganos sem suplementação ✓ Glicemia – disautonomia por DM ✓ Cálcio e potássio ✓ TSH e T4 livre – hipotireoidismo ✓ Creatinina – uremia • Parasitológico de fezes e sangue oculto O PF é realizado principalmente em pacientes com diarreia crônica, para realizar diagnóstico diferencial. • Colonoscopia Investigar ou afastar diagnósticos diferenciais. Indicado em pacientes com mais de 50 anos que não realizaram rastreio, presença de sinais de alarme e constipação de início recente. Constipação funcional Clínica Integrada de Gastroenterologia – aula 24 Nicole Sarmento Queiroga Figura 1. Escala de Bristol. • Afastar sinais de alarme ✓ Febre ✓ Massa abdominal ✓ Perda de peso ✓ Tenesmo ✓ Sangue oculto positivo ✓ Início agudo em pacientes acima de 40 anos – principalmente se alterações súbitas do trânsito intestinal Em pacientes com confirmação de constipação funcional, devem ser feitos alguns testes para investigação em casos de pacientes refratários ao tratamento usual. • Tempo de trânsito do cólon Permite a diferenciação dos subtipos. O exame consiste na administração de duas cápsulas (total de 48 anéis) de marcadores radiopacos ao paciente e realização de um exame de imagem, geralmente Raio-X abdominal, após cinco dias. ✓ Normal – menos de 20% dos anéis presentes no exame – trânsito normal ✓ Lentificação – mais de 20% dos anéis presentes no exame, inércia colônica ou trânsito lento ✓ Concentração na região pélvica – padrão de obstrução terminal Em caso de suspeita de disfunção do assoalho pélvico: • Manometria anorretal e teste de expulsão do balão • Ressonância magnética funcional • Defecorressonância • Manometria do cólon • Eletromiografia 6. Tratamento A terapia é feita de forma empírica, não se sabendo qual subtipo de constipação funcional. Em caso de refratariedade da constipação a todos os meios de tratamento, deve-se realizar a investigação e avaliação do trânsito colônico. Se, na investigação, o paciente apresenta trânsito colônico normal, alguma das etapas não foi realizada de forma adequada por má adesão ou por posologia inadequada, mas se ele apresenta inércia colônica, deve-se fazer uso dos procinéticos colônicos ou se apresenta obstrução de saída, outras estratégias devem ser associadas, como fisioterapia para reaprendizagem do reflexo evacuatório ou do funcionamento do esfíncter. • Modificação do estilo de vida – prática de exercícios • Interrupção ou substituição do uso de drogas constipantes, se possível • Dieta laxativa Ingesta de 25g de fibras diárias + 1,5 a 2 litros de água por dia. A ingesta exclusiva de fibras não melhora o trânsito intestinal porque é de digestão incompleta e demorada, podendo piorar a constipação do paciente. No entanto, se associada à ingesta líquida, ocorre digestão mais rápida, beneficiando a formação do bolo fecal. • Reeducação dos hábitos ✓ Obediência ao reflexo evacuatório – respeito à vontade de defecar ✓ Disciplina de horários ✓ Postura A posição de cócoras é a melhor para eliminação de fezes e para evitar constipação, porque permite o relaxamento completo do M. Puborretal. De forma oposta, quando o paciente está sentado, a angulação deixa o músculo em um grau de contração que deixa o reto com curvatura de difícil eliminação. • Terapia farmacológica Na maioria das vezes não é necessária, de modo que a mudança do estilo de vida e da dieta já conseguem promover grandes alterações no trânsito intestinal. Indicado para pacientes que não podem deixar de utilizar medicamentos constipantes, como antiparkinsonianos, já que as medidas antigas não são suficientes. ✓ Incrementos do bolo fecal ou formadores de massa Polissacarídeos naturais ou sintéticos que são derivados de celulose. Absorvem água, aumentando a massa fecal e facilitando o deslocamento do conteúdo intestinal e o peristaltismo. Psyllium ou plantago ovata, metilcelulose, policarbofilam, farelo de trigo, uso de sachê, colher de sopa ou cápsula de 1 a 3 vezes ao dia. Pode promover distensão e flatulência. ✓ Agentes osmóticos Primeira opção após formadores de massa, mais seguro e com menos efeitos colaterais, podendo ser administrado para gestantes e crianças. Aumentam a frequência e consistência de fezes, por aumentar a secreção de água. Lactulose, PEG 4.000 e antiácidos (magnésio). Não são de ação imediata, de forma que pode ser necessário o alívio do paciente com meios mais rápidos, para iniciar a terapia. O uso pode ser limitado pela Figura 2. Algoritmo de investigação e diagnóstico. Figura 3. RX pélvico com trânsito normal, lentificado e concentração de anéisem região pélvica – obstrução terminal. Figura 4. Postura ideal para evacuação. Figura 5. Influência da postura na anatomia pélvica. posologia (2 ou 3 vezes ao dia), cheiro ou gosto desagradável/adocicado ou pela apresentação – sachê, líquido. ✓ Laxante estimulantes ou irritativos Aumentam a atividade motora e modificam o transporte de eletrólitos pela mucosa, são utilizados para resolver uma situação grave, em que o paciente já está sem evacuar há muitos dias, servindo como medida imediata, mas não de terapia constante. Bisacodil, sene, picossulfato de sódio, cáscara sagrada. Inclui a manifestação de hipocalemia, enteropatia com perda de proteína. ✓ Enemas – procedimentos invasivos na ampola fecal. Supositórios ✓ Prosecretoras Ativação do canal de cloro (lubiprostone) ou agonistas guanilato ciclase C (linaclotide), promovem a secreção de eletrólitos que, por sua vez, promove secreção de água para amolecimento fecal. ✓ Serotoninérgicos Agonista de 5HT4, possui ação procinética, estimulando a musculatura do cólon, para melhorar o trânsito. Prucaloprida.
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