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CURSO INTENSIVO PARA RESIDÊNCIAS P S I C O LO G I A TEORIAS E TÉCNICAS PSICOLÓGICAS PROFESSORAS Viviane Valença de Resende Ana Vanessa de Medeiros Neves Psicóloga graduada pela Universidade Sal- vador, com formação clínica complementar na abordagem da Terapia Familiar Sistêmi- ca e Aprimoramento em Práticas Colabora- tivas e Construcionismo Social pelo Insti- tuto Humanitas de Pesquisa e Intervenção em Sistemas Humanos, Pós-graduanda em Saúde Mental pela Universidade Ruy Barbosa, com certificação internacional em Terapia Narrativa pelo Dulwich Centre (em andamento) e ceritificação internacio- nal em Práticas Colaborativas e Dialógicas pelo Houston Galveston Institute e pelo Taos Institute (em andamento). Foi uma das autoras do livro “Casos Clínicos em Psi- cologia” e do livro “Como se faz? Iniciando a prática clínica em Psicologia: da atuação profissional aos fundamentos de gestão”, ambos publicados em 2019 pela Editora Sanar, e do “Preparatório para Residência em Psicologia”, publicado em 2020 tam- bém pela Editora Sanar. Atualmente, é Psi- coterapeuta Sistêmica de adolescentes, jovens adultos, adultos e famílias, Autora e Professora da Sanar Saúde e Pesquisa- dora no Instituto Humanitas de Pesquisa e Intervenção em Sistemas Humanos, com projeto de pesquisa sobre os impactos da pandemia do COVID-19 no exercício profis- sional dos psicólogos. Graduada em Psicologia pela Escola Bahia- na de Medicina e Saúde Pública. Possui Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, com ênfase em Desenvol- vimento Humano. Especialista em Terapia de Base Analítica pela Associação Paulista de Psicologia Analítica. Possui formação em Terapia Comunitária Integrativa pela Universidade Federal do Ceará. Concursa- da do Ministério da Saúde, atuando desde 2010 na área de saúde do servidor. Mento- ra, professora e autora para concursos e re- sidências em diversas disciplinas nas áreas da Psicologia e Saúde Pública. Fundadora da Editora Concursos PSI e Coordenadora do Núcleo de Psicologia da Editora Sanar. 2020 © Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora. Intensivo para residências em Psicologia: Teorias e Técnicas Psicológicas Fernanda Fernandes Fabrício Sawczen Fabrício Sawczen Karen Duarte Caio Vinicius Menezes Nunes Paulo Costa Lima Sandra de Quadros Uzêda Silvio José Albergaria da Silva Título | Editor | Projeto gráfico e diagramação| Capa | Revisor Ortográfico | Conselho Editorial | Editora Sanar S.A R. Alceu Amoroso Lima, 172 - Salvador Office & Pool, 3ro Andar - Caminho das Árvores CEP 41820-770, Salvador - BA Tel.: 0800 337 6262 atendimento@sanar.com www.sanarsaude.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP) Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846 M488it Medeiros, Ana Vanessa. Intensivo para residências em Psicologia: Teorias e Técnicas Psicoterápicas / Ana Vanessa Medeiros e Viviane Resende. - 1. ed. - Salvador, BA : Editora Sanar, 2020. 117 p.; il.. E-Book: PDF. Inclui bibliografia. ISBN 978-65-87930-10-7 1. Behaviorismo. 2. Psicanálise. 3. Psicologia. 4. Residência. 5. Técnicas Psicológicas. 5. Teorias. I. Assunto. II. Título. III. Medeiros, Ana Vanessa. IV. Resende, Viviane. CDD 150 CDU 159.9 ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Psicologia. 2. Psicologia. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MEDEIROS, Ana Vanessa; RESENDE, Viviane. Intensivo para residências em Psicologia: Teorias e Técnicas Psicoterápicas. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2020. EBook (PDF). ISBN 978-65-87930-10-7 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Indicador de tipos Myers-Brigs (MBTI). Figura 2. Mapa mental sobre Técnicas Psicodramáticas. Figura 3. Processo Grupal - grupos operativos. SUMÁRIO Apresentação .................................................................................... 6 1. Conceitos básicos e agentes de mudança em psicoterapia ... 8 2. Abordagens psicodinâmicas ...................................................... 11 3. Abordagens cognitivas e comportamentais ............................ 38 4. Abordagens humanistas e fenomenológicas .......................... 70 5. Psicoterapias breves ................................................................... 96 6. Grupos ........................................................................................... 107 Gabarito ............................................................................................. 111 Referências ....................................................................................... 112 Olá, futuro (a) residente! Seja muito bem-vinda(o) à nossa aula sobre Teorias e Técnicas Psicológi- cas. Sou Ana Vanessa Neves, coordenadora de Psicologia da Sanar, fun- dadora da Concursos Psi, psicóloga concursada do Ministério da Saúde (CRP 03/03592) e especialista em Psicologia Analítica. Estou de volta, mas não vim sozinha dessa vez. Trouxe comigo a querida Viviane Resende, Psicóloga (CRP 03/16491) com formação clínica com- plementar na abordagem Sistêmica, Pós-graduanda em Saúde Mental. Psicoterapeuta Sistêmica de indivíduos e famílias, Autora e Professora da Sanar Saúde. Uma das autoras dos livros “Como se faz? Iniciando a Prática Clínica em Psicologia: da atuação profissional aos fundamentos de gestão”, “Casos Clínicos em Psicologia” e do “Preparatório para Resi- dência em Psicologia”, todos da Sanar! Nessa aula, iremos abordar conceitos de algumas das principais corren- tes teóricas da Psicologia e aspectos fundamentais para o processo de psicoterapia. Temos certeza que ao ver na sua grade de estudo essa disciplina, o seu primeiro pensamento deve ter sido de quase desespero. E agora? Tenho que estudar todos os assuntos de todas as teorias? Pen- sando assim, parece mesmo um conteúdo muito amplo, não é? Mas não se preocupe! As possibilidades são muitas, mas sabemos exata- mente o que destacar dessas disciplinas para te ajudar no seu projeto de aprovação. APRESENTAÇÃO 7Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas E para isso, selecionamos os assuntos mais cobrados nas provas de Resi- dência de todo o país e os sistematizamos de forma que seu estudo fique bem mais fácil. Organizamos a aula dividindo as correntes e modalidades de psicotera- pia em cinco eixos principais: Abordagens Psicodinâmicas, Abordagens Cognitivas e Comportamentais, Abordagens Humanistas, Psicoterapias Breves e Grupoterapias. Dentro de cada um desses eixos iremos abordar, de forma clara e dire- ta, as principais linhas teóricas e aspectos do processo psicoterapêutico, com questões para ilustrar como esses assuntos são cobrados nas pro- vas, e Pocket Aulas para fixar os conceitos mais importantes. Aviso importante: Vale a pena repetir que, tendo em vista que o curso intensivo tem como foco exclusivo a sua preparação para as provas de residência, a seguir iremos apresentar os principais conceitos e técnicas, conforme o que costuma ser exigido nas questões. Nem de longe iremos esgotar os conteúdos das abordagens, pois você não precisa disso para ser aprovada(o). Deixe as ansiedades e preferências de lado e aceite que, investir tempo e energia somente no que tem mais chance de ser cobrado nas questões é justamente o que diferencia o nosso curso de um estudo sem orientação. Preparada (o) para dar mais um passo rumo à sua aprovação? Então, va- mos lá! Clique no ícone para assistir a apresentação gravada. https://sanar.link/aula_psi_7104 8Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas1. CONCEITOS BÁSICOS E AGENTES DE MUDANÇA EM PSICOTERAPIA De maneira característica, as diversas teorias psicológicas – ou teorias da personalidade – apresentam princípios que ajudam na compreensão so- bre como cada pessoa se constitui como alguém único e diferente, assim como também permite entender por que existem padrões que se repe- tem em diversas pessoas. Cada uma destas teorias propõe modelos explicativos e conceitos pró- prios, construídos a partir da visão de mundo do autor, das bases filosófi- cas e descobertas científicas que este utilizou como referência para seus experimentos, bem como dos resultados obtidos através de seus estudos e observações. Sabemos que cada perspectiva teórica utiliza as técnicas terapêuticas a partir de um corpo teórico. No entanto, veremos a seguir que existem al- guns elementos que são comuns ao processo terapêutico independente da abordagem (CORDIOLI e GIGLIO, 2008): • A psicoterapia se desenvolve em um contexto terapêutico, caracteri- zado por um ambiente de confiança e apoio, no qual o paciente acre- dita que o terapeuta irá ajudá-lo e que seu problema será solucionado. • O processo terapêutico deve proporcionar uma oportunidade para o paciente expressar suas emoções, reviver e revisar experiências pas- sadas, percebendo as repetições no presente e encontrando novas for- mas de agir. • As técnicas utilizadas pelo terapeuta são condizentes com um modelo explicativo sobre a origem e manutenção dos sintomas, fornecendo um método para sua resolução. 9Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • A psicoterapia deve oferecer um ambiente no qual o paciente possa compreender e buscar soluções para os modos problemáticos de sen- tir, pensar e se comportar. • A psicoterapia deve proporcionar a oportunidade para novas aprendi- zagens, fazendo com que o paciente supere seus medos e evitações. • É indispensável que o paciente reconheça a necessidade de mudança e do esforço pessoal para alcançar os resultados almejados. Fatores ou agentes de mudança em psicoterapia (CORDIOLI e GIGLIO, 2008): • Técnicas utilizadas: abrangem o método e estratégias específicos de cada abordagem, as diferentes intervenções do terapeuta, bem como a forma como são estruturadas e conduzidas as sessões. • Relação paciente-terapeuta: nesse fator são considerados os fenô- menos transferenciais, a aliança terapêutica e o vínculo afetivo com o terapeuta. • Experiência afetiva: diz respeito ao clima favorável para expressar e compartilhar emoções e realizar a catarse, quebrando mais facilmente os mecanismos de defesa e tornando o paciente mais acessível e pas- sível de tratamento. • Aumento das habilidades cognitivas: ocorre através da aquisição e in- tegração de novos padrões de pensamentos e de percepção, bem como pela promoção do maior conhecimento sobre si mesmo. • Regulação do comportamento: trata-se da aprendizagem quanto ao controle de ações e hábitos e, consequentemente, a mudança do com- portamento. • Fatores Sociais: podem ser interpessoais, grupais ou sistêmicos – são intervenções junto ao ambiente social ou familiar visando mudanças nos modos de interação social. 10 ANOTAÇÕES 11Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas 2. ABORDAGENS PSICODINÂMICAS O que caracteriza uma abordagem como psicodinâmica? Podemos desta- car alguns aspectos: • Ênfase nos determinantes inconscientes do comportamento. • Destaque dado ao conflito intrapsíquico. • Importância atribuída ao autoconhecimento. • Busca da mudança por meio do insight e da relação terapêutica. Significa que as abordagens psicodinâmicas consideram as forças psico- lógicas que agem sobre o comportamento humano, enfatizando a intera- ção entre as motivações conscientes e subconscientes. Essa dinâmica gera a energia necessária ao funcionamento do psiquismo. O processo analítico tem o objetivo de auxiliar os pacientes a compreen- der os significados dos sintomas manifestos e a encontrar alternativas mais adaptadas para lidar com o sofrimento psíquico. As abordagens de base psicanalítica seguem um modelo similar de plane- jamento psicoterápico. Ao iniciar o processo analítico, o terapeuta formu- la uma hipótese psicodinâmica com base na queixa do sujeito. Essa hipó- tese o auxiliará na determinação de um foco de investigação ao longo da psicoterapia. Independente da modalidade de terapia psicodinâmica adotada, existem alguns critérios a serem considerados no momento de definir se o caso a ser atendido tem indicação para as abordagens psicodinâmicas (COR- DIOLI, 2008). 12Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas A perspectiva psicodinâmica considera que os sintomas e queixas atuais são um reflexo do conflito intrapsíquico primário e que o modo como a pessoa se comporta é fruto da interação entre o conflito primário e o con- flito atual. Assim, a hipótese inicial que delimita o foco da psicoterapia é formulada com base no funcionamento psíquico do sujeito, da queixa sinalizadora do conflito atual e mais profundamente do conflito primário. 2.1. PSICANÁLISE A seguir, iremos revisar alguns dos fundamentos da Psicanálise para que possamos ter facilmente acessíveis conceitos importantes para o estudo sobre as técnicas psicanalíticas e optamos por trazer de forma bem di- dática alguns artigos do Freud em que ele apresenta sua técnica, porque diversas questões fazem referência direta à sua obra. No entanto, se você precisar estudar a parte conceitual mais básica sobre a teoria psicanalítica, então recomendamos que se dedique antes à aula do curso dedicada inteiramente à essa abordagem e depois venha estu- dar sobre as técnicas. No artigo Recomendações Aos Médicos Que Exercem A Psicanálise, Freud (1912) apresentou orientações práticas para o manejo da técnica analítica. ACERTE O ALVO! Diversos tópicos deste texto costumam ser cobrados em questões, então, mantenha a atenção aos negritos. 13Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas O primeiro ponto da técnica psicanalítica apresentada nesse artigo e que merece nossa atenção em termos de provas é a orientação sobre como manter uma atenção flutuante. A atenção flutuante implica em um estado artificial de atenção cultivado pelo psicanalista que intencionalmente deixa a própria atividade mental funcionar livremente, consciente e inconsciente, buscando abolir momen- taneamente a sua memória e desejo, com o objetivo de manter a atenção livre para o que realmente emerge na experiência mútua da situação clí- nica. Comentário: Lembre-se do que acontece quando você realiza um atendi- mento - você apenas ouve o que a pessoa compartilha com você. Isso te permite estar 100% presente. Somente depois do atendimento é que faz anotações, correto? Psicólogos clínicos experientes sabem que quanto mais você pratica isso, melhor se torna a sua capacidade de memorizar o conteúdo compartilhado. Conforme essa técnica, o analista deve simplesmente escutar e não se preocupar se irá lembrar do conteúdo. Os elementos do material que guar- dam conexão entre si ficam naturalmente à disposição da consciência do analista, enquanto os outros conteúdos que no momento ainda parecem desconexos ficam registrados na memória inconsciente e vêm à lembran- ça assim que o paciente traz algum conteúdo que possa ser relacionado a eles. 14Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas ACERTE O ALVO! Freud diz que não se deve realizar anotações durante a sessão. Atenção: Esse tópico já foi cobrado em prova de residência. Comentário: Freud apresenta argumentos importantes para os analistas não realizarem anotações durante o atendimento, tais como: 1. A má im- pressão que esse ato transmite a alguns pacientes. 2. O forte argumento de que o ato de realizar anotações durante o atendimento favorece a se- leção dos conteúdos, direcionando a atenção do analistapara partes do discurso do paciente ao invés de manter a atenção flutuante. Existe uma única situação em que seria aceitável o registro durante os atendimentos: quando o analista pretende publicar um estudo científico. A recomendação de Freud é que as sessões sejam anotadas ao final do dia, após os atendimentos. No caso dos sonhos, ele primeiramente os es- cutava por completo e somente depois solicitava ao paciente que os re- petisse para que pudesse fixá-los na memória. Freud chama a atenção para a recomendação de que o analista se vista do papel profissional e mantenha um distanciamento de suas emoções e expectativas, pois essa postura lhe possibilita sustentar a atenção espe- cificamente nas necessidades do paciente, concentrando suas forças no objetivo do tratamento e ao mesmo tempo permite proteger a sua pró- pria vida emocional. Atenção: Como sabemos, a ‘regra fundamental da psicanálise’ consiste na exigência feita ao paciente de que comunique tudo o que lhe vem ao pensamento, sem crítica ou seleção. 15Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Em contrapartida, cabe ao analista ouvir tudo, sem julgamento ou esco- lha, fazendo uso de tudo o que é dito para fins de interpretação e identifi- cando o material inconsciente oculto, sem deixar que sua própria censura selecione o conteúdo trazido pelo paciente. Freud afirma que o analista deve voltar seu próprio inconsciente como órgão receptor na direção do inconsciente transmissor do paciente. O analista não pode permitir que suas próprias resistências ocultem da consciência o que foi percebido pelo inconsciente, pois isto interfere no processo analítico ao introduzir nova forma de seleção e deformação do conteúdo emergido. A fim de evitar as influências de seu próprio inconsciente, o analista deve passar também pelo processo analítico para ter acesso aos seus próprios complexos, visto que esses podem interferir na compreensão do conteú- do trazido pelo paciente, produzindo pontos cegos na sua percepção ana- lítica. É importante não direcionar a atenção do paciente para determinados conteúdos ou períodos específicos de sua vida. Ele precisa aprender que refletir sobre fatos ou concentrar a atenção não solucionam os enigmas de sua neurose, visto que esse objetivo somente pode ser atingido obede- cendo à regra fundamental da psicanálise. Atenção: mesma orientação se aplica aos familiares dos pacientes. Freud adverte contra a tentativa de conquistar a confiança ou apoio de pais ou parentes oferecendo livros sobre psicanálise. Essa atitude geralmente tem como efeito o surgimento prematuro de oposição do parente ao tra- tamento. Ao término da análise, quando a energia psíquica se torna novamente dis- ponível e pode ser investida em novos objetos, muitas vezes o analista sen- te-se tentado a recomendar ao paciente modos de sublimação do instinto. 16Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas No entanto, o analista deve ter cuidado para não cair na tentação de orientar o paciente quanto à condução que deve dar aos seus projetos, permitindo que ele seja guiado pelos próprios desejos e capacidades. Vejamos a seguir um exemplo de como esse conteúdo foi cobrado recen- temente em uma prova de residência. 01. Com base no texto de Sigmund Freud intitulado Recomenda- ções aos médicos que exercem a psicanálise, assinale a alterna- tiva correta. 🅐 Freud recomenda que os médicos se baseiem nas experiências dele como a única forma de condução de uma análise. 🅑 Devido ao grande número de informações geradas ao longo de anos de tratamento, fatos, datas, nomes, acontecimentos, tais dados devem ser registrados sistematicamente, para evitar algum desvio ou confusão do médico com outros pacientes. 🅒 A seleção do material a ser registrado é daquele de maior in- teresse na condução do caso. Esta é a contrapartida do médico ao interesse do paciente no material apresentado. 🅓 O médico deve simplesmente escutar e não se preocupar se está lembrando de alguma coisa. 🅔 Para os médicos que iniciam os atendimentos de seus pacientes, recomendam-se trocas de experiências pessoais entre o médico e o paciente, para incentivar a confiança entre ambos. Clique aqui para ver o gabarito da questão. Em 1905 Freud ministrou uma série de conferências na Clark University (EUA) para uma plateia composta por leigos em psicanálise. Durante cin- co dias apresentou em linguagem simples e acessível, numa sequência bastante didática, os fundamentos da teoria e prática psicanalítica. Pos- 17Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas teriormente, converteu suas palavras no texto que nos foi apresentado sob o título “Cinco lições de psicanálise”. Ele afirma que os sintomas se formam como resíduos de experiências emocionais (traumas psíquicos) e que as características de cada um des- ses sintomas podem ser compreendidas identificando-se sua relação com a cena traumática que o causou. Comentário: Segundo Freud afirma nessa conferência, nem sempre os sintomas são formados a partir de um único acontecimento. Na maioria dos casos o sintoma se instala após numerosos traumas, às vezes análo- gos e repetidos. No caso dos pacientes histéricos e neuróticos, ocorre uma fixação da vida psíquica aos traumas que dão origem às suas patologias, sendo frequente a recordação de situações dolorosas que ocorreram há muito tempo, mas às quais se mantêm presos emocionalmente. Essa fixação em situações dolorosas lhes mantém presos ao passado e lhes tornam alheios a realidade e ao presente. A enfermidade se instala porque a emoção envolvida na situação pato- gênica não pode ser exteriorizada normalmente e a essência da doença consiste no uso anormal das emoções que ficaram represadas. Parte de nossas excitações psíquicas é normalmente conduzida para as inervações somáticas, constituindo a expressão das emoções. Essa ex- pressão é parte natural do fluxo de energia psíquica. Quando esse fluxo fica bloqueado em uma catexia (fixação da energia psí- quica), o organismo precisa dar vazão a essa energia através de outro canal. Os sintomas físicos observados na conversão histérica se formam como re- sultado do desvio de parte da energia psíquica para inervações somáticas. 18Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas A energia psíquica flui em dois canais – inervações somáticas e expressão das emoções. No caso das neuroses, o segundo canal está bloqueado por uma catexia, logo, a libido termina tendo que circular com maior intensi- dade pela via somática, dando origem aos sintomas físicos. Para acessar os conteúdos inconscientes através da fala, a psicanálise utiliza o método da associação livre, que consiste em orientar o paciente para que verbalize todos os pensamentos, sensações ou lembranças sem qualquer julgamento ou censura, mesmo que lhe pareça tolo ou errado. O que acha de dar uma olhada a seguir em uma questão sobre associação livre e que foi aplicada em uma prova de residência? Caminharemos agora para a técnica de interpretação dos sonhos, instru- mento de tão grande importância que foi destacado por Freud como a via régia para o inconsciente. ACERTE O ALVO! A famosa frase “a interpretação dos sonhos é a via régia para o inconsciente” já mereceu destaque em questões de provas. Outra variação da mesma frase é “a inter- pretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente”. Em ambas as traduções, significa que o acesso seguro ao inconsciente ocorre através da interpretação dos sonhos. Os sonhos têm o objetivo de permitir a expressão de desejos. As ideias, pensamentos e sentimentos que não podem ser conscientemente acei- tos podem ser expressos de modo velado através dos sonhos. Assim 19Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas como ocorre com os sintomas, os sonhos também são distorcidospela repressão, por essa razão, ao interpretá-los devemos analisar seu conte- údo manifesto e latente. O conteúdo manifesto do sonho é aquele do qual nos lembramos ao acor- dar e que descrevemos sem nenhuma interpretação. Esse conteúdo é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho. Note que a repressão atua de modo tão intenso que, mesmo enfraquecida pelo sono, atua sobre o conteúdo do desejo inconsciente só permitindo que chegue à consciência se estiver camuflado. O conteúdo latente, por sua vez, diz respeito ao desejo reprimido e torna- -se acessível através da associação livre. ACERTE O ALVO! O sonho manifesto pode ser descrito como uma realiza- ção velada de desejos reprimidos. Atenção: Mesmo no caso dos pesadelos, existe a realização de um desejo, visto que a ansiedade é uma das reações do ego contra desejos violentos reprimidos. Freud propõe que o inconsciente utiliza o simbolismo para a representa- ção dos complexos, sobretudo os sexuais. Esse simbolismo traz um com- ponente individual, variando de um sujeito para outro e em parte é tipica- mente fixo, sendo possível encontrá-los também nas lendas e mitos. Denomina-se elaboração onírica ao processo de transformação do con- teúdo latente em manifesto, através das deformações. A interpretação 20Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas do sonho é o processo inverso, através do qual se decifra o conteúdo ma- nifesto em latente. O famoso livro freudiano “A interpretação dos sonhos” apresenta as de- finições dos dois processos utilizados na elaboração onírica, conforme trago a seguir de maneira mais simplificada: 1. Condensação: É o resumo das ideias que têm pontos em comum e uma analogia entre si. Funde elementos que estão em nível latente com traços comuns num só. Logo, o sonho é compreendido como uma coleção de pensamentos oníricos que vão sendo condensados dentro de uma cadeia de significações associativas. 2. Deslocamento: É resultante da censura, onde um elemento do sonho em nível latente é substituído por um dos seus fragmentos constituin- tes. Há uma transferência da importância que tem uma ideia para ou- tra completamente diferente e afastada dela. O mecanismo do deslocamento pode operar mudando a ênfase de um ele- mento relevante, que diz respeito ao desejo inconsciente, para outro sem importância como uma forma de disfarçar. A interpretação freudiana é baseada nas associações feitas pelo pacien- te com os vários detalhes do sonho. Na luta entre trazer à consciência e manter reprimido, os conteúdos neu- róticos muitas vezes se disfarçam, deformando-se, tentando substituir a ideia original. Esses disfarces assumem a forma de chistes, atos falhos, esquecimentos, perda ou quebra de objetos e os simbolismos aparente- mente incompreensíveis nos sonhos. O trabalho de análise com vistas à remissão dos sintomas não se detém nos episódios atuais da doença, retrocedendo sempre até a puberdade 21Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas e a infância mais remota, pois esse resultado só é possível acessando os restos de lembranças quase sempre esquecidos, trazendo-os de volta à consciência. A técnica psicanalítica aponta a necessidade de retornar até os anos ini- ciais de vida, pois apenas os fatos da infância são capazes de explicar a suscetibilidade que algumas pessoas possuem aos traumatismos. O tratamento psicanalítico consiste em descobrir o caminho através do qual ocorreu a substituição do material psíquico por seu representante camuflado, refazendo o trajeto do sintoma até a ideia reprimida. ACERTE O ALVO! “A técnica psicanalítica consiste em conduzir à consci- ência o material psíquico patogênico, dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos sintomas de substituição” (FREUD, 1910 [1909]). Durante o tratamento ocorre o importantíssimo fenômeno da transfe- rência, caracterizado pela projeção dos afetos amorosos e hostis do pa- ciente sobre seu médico. A atribuição de determinados sentimentos ao médico ocorre sem que haja qualquer justificativa na relação atual e esse fato permite compreender que essas projeções são advindas de fantasias antigas e inconscientes. Quando a análise atinge um determinado ponto em que a vida sentimental não pode mais ser acessada através da evocação das lembranças, o pa- ciente passa a vivenciá-la através da relação com o médico. 22Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Comentário: A transferência é estabelecida espontaneamente em todas as relações humanas, inclusive no processo terapêutico. A psicanálise uti- liza esse fenômeno em prol do restabelecimento do paciente através da interpretação dos conteúdos emergentes, com vistas a torná-lo conscien- te e possibilitar o restabelecimento do fluxo normal da energia libidinal. Assim, fica claro que o sucesso terapêutico depende da supressão das resistências. É necessário trazer à consciência as lembranças e emoções associadas ao trauma, liberando essa energia psíquica para que possa ser novamente utilizada. Quando o conteúdo do sintoma é liberado e pode ser analisado pela cons- ciência, a repressão é substituída pelo julgamento maduro, permitindo ao paciente tornar-se consciente dessa ideia que anteriormente era hostil. A partir do processo terapêutico, o indivíduo pode enfrentar a situação que originou seu sintoma, possibilitando a aceitação total ou parcial des- se desejo, bem como permitindo que essa energia volte a estar disponível e ser canalizada para outro alvo. A sublimação é apontada por Freud nesse artigo como uma das soluções convenientes para o término do conflito sexual, visto que a energia libidi- nal que estava fixada pode então ser utilizada pelo psiquismo para outras atividades de ordem não sexual e de maior valor social. Freud chama a atenção para o fato de que certa parte dos desejos libi- dinais deve ser realmente utilizada para satisfação direta dos impulsos sexuais e alerta que não devemos esquecer que a felicidade individual não deve ser negada pela civilização. Além de apresentar a você os conteúdos a partir da obra de Freud, inclu- ímos a seguir a caracterização das técnicas psicanalíticas de forma bas- 23Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas tante acessível e usando como referência livros didáticos sobre teorias e técnicas. Existem técnicas que se mantêm constantes nos diversos referenciais analíticos (EIZIRIK; HAUCK, 2008): • MANEJO DA ASSOCIAÇÃO LIVRE: Técnica segundo a qual o paciente é instruído a comparecer à sessão com a disposição para falar sobre tudo que vier à sua mente, mesmo quando o conteúdo lhe seja embara- çoso ou sem sentido, possibilitando que o analista identifique o conte- údo inconsciente por meio do discurso. • INTERPRETAÇÃO DAS RESISTÊNCIAS: Diz respeito às forças intrapsí- quicas alheias à vontade do paciente as quais impedem a passagem de conteúdos do inconsciente para a consciência. A interpretação das re- sistências é parte fundamental do processo analítico, pois possibilita o acesso ao material reprimido. • INTERPRETAÇÃO DO VÍNCULO TRANSFERENCIAL: A transferência é o processo segundo o qual o paciente realiza no setting analítico a atu- alização de suas relações com objetos anteriores (relações primárias), através da projeção inconsciente destes conteúdos sobre o analista. As relações primárias resultam na maneira como a pessoa se relaciona com o mundo e, portanto, com o analista. Comentário: A instauração da transferência é ponto fundamental do pro- cesso de análise, pois permite que o paciente elabore o conflito primário. Assim, considera-se que a situação analítica está instaurada quando é estabelecida a neurose de transferência. Freud observou que a transfe- rência podia ser considerada não só como obstáculo ao tratamento, mas também como um agente terapêutico, uma vez que a relação do sujeito com suas figurasparentais é revivida na transferência. 24Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • INTERPRETAÇÃO DO VÍNCULO CONTRA-TRANSFERENCIAL: Envolve os sentimentos e opiniões do analista com relação ao paciente dentro de cada momento do processo terapêutico. A observação da contra- transferência é de fundamental importância para o processo analítico, pois se trata de uma comunicação de inconsciente para inconsciente. Comentário: É necessário que o analista seja capaz de identificar quais conteúdos são advindos da relação terapêutica e quais são pessoais, a fim de que os conflitos internos do analista interfiram o mínimo possível no processo de análise. • CONFIGURAÇÃO DO CAMPO ANALÍTICO: É o conjunto da relação terapêutica. A compreensão do que ocorre dentro desse campo permite o entendimento acerca dos mecanismos psíquicos do paciente. • NEUTRALIDADE ANALÍTICA: Consiste em manter certa distância em relação à transferência e à personalidade do paciente, à contratransfe- rência, às pressões do meio externo, aos próprios valores do analista e ao referencial teórico, sem perder a naturalidade e a espontaneidade. Comentário: Este cuidado deve ser tomado tendo em vista que atitudes como a emissão de julgamentos, a exposição de conteúdos de sua vida pessoal ou a tomada de partido no conflito interferem na transferência e impedem que o analista se torne o receptáculo dos conflitos. • INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA: Principal ferramenta do processo analí- tico e tem por objetivo tornar conscientes os conteúdos inconscientes. Compreende-se como interpretação toda intervenção que tenha por objetivo explicitar o funcionamento psíquico do paciente, através do ato de evidenciar mecanismos defensivos, padrão de relações objetais ou os conteúdos latentes. Atenção: O momento para realizar a inter- 25Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas pretação é fator de fundamental importância para a obtenção de um melhor resultado, devendo-se observar ao longo da sessão o instante em que exista uma maior intensidade de afeto com relação ao conte- údo sendo trabalhado e então realizar a interpretação deste material. Comentário: A interpretação pode ser transferencial, dizendo respeito à transferência do paciente para com o analista ou extra transferencial, quando se refere à relação do paciente com outras pessoas. Além disso, a interpretação também pode relacionar-se ao momento atual, como pode se referir a situações do passado. • ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS: A interpretação dos so- nhos é considerada por Freud como a principal via de acesso ao incons- ciente, pois permite o conhecimento acerca dos conteúdos recalcados e do funcionamento psíquico do paciente. Na Psicanálise, o trabalho do sonho é entendido como a realização de um desejo inconsciente, cujo conteúdo se expressa por meio de imagens substitutivas do verdadei- ro significado, pois o recalque dos conteúdos originais os distorce para que possa se manifestar na consciência. Conforme vimos, o modo como estas imagens inconscientes são distorcidas ocorre por meio dos pro- cessos de condensação e deslocamento. • LUDOTERAPIA: Técnica psicoterápica de abordagem infantil que se baseia no fato de que brincar é um meio natural de auto expressão da criança. O objetivo da Ludoterapia é ajudar a criança a expressar, com maior facilidade, seus conflitos e dificuldades através dos simbolismos presentes no ato de brincar. Comentário: Melanie Klein propôs que podemos compreender o mundo interno da criança através da interpretação do ato de brincar. Ela notou que a criança expressa suas fantasias, desejos e experiências simbolica- mente no brinquedo, propondo que o brincar e o uso que faz dos brinque- dos equivale à associação livre dos adultos. 26Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Indicações de psicoterapias de orientação analítica (CORDIOLI, 2008): 1. Conflitos internos, predominantemente de natureza edipiana, que in- terferem nas relações pessoais atuais. 2. Atrasos ou lacunas em tarefas evolutivas. 3. Transtornos de personalidade leves ou moderados. 4. Problemas desadaptativos. Em princípio, as psicoterapias de orientação analítica são contra indica- das nas seguintes situações (CORDIOLI, 2008): 1. Ausência de motivação para uma terapia de insight ou de interesse em um trabalho introspectivo. 2. Pacientes com problemas agudos (psicoses, transtorno do humor e de ansiedade). 3. Pacientes com pouca capacidade de introspecção (alexitimia). 4. Para pacientes impulsivos que não toleram níveis, mesmo que peque- nos, de frustração, como ocorre com pacientes borderline, altamente narcisistas e centrados em si mesmos ou voluntariosos. 5. Para pacientes com transtornos de personalidade que dificultam o estabelecimento de um vínculo (esquizoides, esquizotípicos, antis- sociais) e que dificilmente se enquadram na estrutura do tratamento analítico. 6. Na presença de problemas de natureza aguda, que exigem solução ur- gente. 7. Pacientes gravemente comprometidos e sem condições cognitivas para trabalhar na busca de insight (demência, déficit cognitivo). 8. Em transtornos mentais para os quais existem outros tratamentos efetivos de menor custo (transtornos de ansiedade, transtornos do humor, transtornos alimentares, depressão, etc.). 27Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas 9. Quando há ausência de um ego razoavelmente integrado e coopera- tivo (psicóticos, transtornos de personalidade graves, dependentes químicos, transtornos mentais orgânicos). Assista agora a Pocket Aula sobre Psicanálise clicando no ícone ao lado 2.2. PSICOLOGIA ANALÍTICA A abordagem junguiana é bastante ampla e seus conteúdos são exigidos em algumas provas de bancas com perfil mais eclético, que diversificam as abordagens cobradas de uma prova para a outra. Mas quando essa teoria é citada, hum... “senta que lá vem história”, pois as questões tendem a fugir do padrão óbvio e exigem do candidato conheci- mento teórico e tempo de leitura e interpretação. Por essa razão, vamos estudar os fundamentos e conceitos centrais para que você se sinta segu- ra(o) para responder às questões da prova. Para compreender o ser humano integralmente, a Psicologia Analítica leva em conta tanto o passado – como realidade ou as causas que permitem a compreensão dos comportamentos atuais (causalidade) – como também apresenta uma visão prospectiva – olhando para as potencialidades e me- tas como uma linha de desenvolvimento futuro da pessoa (teleologia). https://sanar.link/aula_psi_6986 28Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Em Psicologia Junguiana, a personalidade como um todo é denominada psique, incluindo todos os pensamentos, sentimentos e comportamen- tos, tanto conscientes quanto inconscientes. A psique se organiza em diferentes níveis e sistemas. Os níveis estão divi- didos em três: consciência, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Quanto aos sistemas, os principais são: o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, a anima e o animus, a sombra e o Self. Vamos, a seguir, revisar os principais conceitos e técnicas, conforme o que costuma ser mais exigido nas provas. • ARQUÉTIPOS: tendências inatas que direcionam o desenvolvimento e asseguram que todas as pessoas mantenham as características psíqui- cas humanas, originando a estrutura da psique. São capacidades filo- geneticamente herdadas que predispõem os seres humanos a iniciar e realizar padrões de comportamentos típicos da espécie, reagindo fren- te a situações diversas. Comentário: A existência e o conteúdo de cada arquétipo independem da experiência individual, mas a expressão dele ocorre apenas frente a situ- ações específicas ao longo da vida. Clarificando, apesar de todas as pes- soas herdarem os arquétipos, a expressão de um ou outro na vida de cada pessoadepende da experiência individual, ou seja, os acontecimentos no curso de vida podem ativar determinado arquétipo e talvez outro jamais seja ativado. • INCONSCIENTE COLETIVO: instância mais antiga da personalidade, pois é o substrato biológico e inato no qual estão registrados os pa- drões arquetípicos do comportamento humano. Deste modo, ao nas- cermos, já possuímos uma estrutura psíquica que nos predispõe a inte- 29Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas ragir com o mundo. Se diferencia do inconsciente pessoal pelo fato de seu conteúdo não depender da experiência individual. • EGO: se constitui a partir do inconsciente coletivo ao longo da forma- ção da consciência na infância. Fornece o senso de identidade e conti- nuidade à personalidade, desempenhando a função básica de vigia da consciência. Uma ideia, um sentimento, uma lembrança ou uma percep- ção, só podem chegar à consciência se forem reconhecidos pelo ego. ACERTE O ALVO! O Ego é o centro da consciência, mas o Self é o centro da personalidade total. • INCONSCIENTE PESSOAL: reservatório das experiências pessoais que, em outro momento da vida, foram conscientes, mas que agora es- tão reprimidas, suprimidas, esquecidas, ignoradas ou fracas demais para deixar uma impressão consciente na pessoa. Comentário: A consciência e o inconsciente pessoal se organizam em pa- ralelo a partir das experiências pessoais. • PERSONA: diz respeito aos papéis sociais aprendidos e que desem- penhamos na nossa interação com outras pessoas. Exemplos: temos a persona do pai/mãe, do professor, do médico, do pastor, etc. Cada pes- soa tem em sua persona mais de um papel social; por exemplo, uma mu- lher pode possuir a persona de mãe, de filha, de esposa, de profissional, membro da igreja, etc. • SOMBRA: parte não desenvolvida da personalidade, conteúdo do in- consciente pessoal composto por características ou comportamentos 30Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas subvalorizados ou considerados indesejáveis, aspectos instintivos e animalescos ou avaliados como ridículos e que por essas razões foram reprimidos. Comentário: Durante o processo de aprendizado ocorre a separação es- pontânea dos aspectos socialmente aceitos daqueles indesejados. As características desejáveis compõem a persona e permitem ao ego o con- tato adequado com o campo da consciência coletiva (cultura). As carac- terísticas aprendidas como indesejáveis são reprimidas no inconsciente pessoal e compõem a sombra. Todo o psiquismo é dinâmico e os aspectos de sombra também interagem com o ego. • COMPLEXOS: aglomerados de pensamentos, sentimentos, percep- ções e memórias repletos de energia psíquica presentes no inconscien- te pessoal, que se formam a partir de experiências emocionalmente re- levantes, vivenciadas de forma intensa, tanto negativa como positiva. Todos os pensamentos, lembranças e emoções que tenham o mesmo conteúdo central passam a se organizar cognitivamente em torno do mesmo núcleo de energia psíquica. O núcleo central do complexo é um arquétipo que atrai e condensa as experiências pessoais e traumáticas relacionadas ao conteúdo específico do complexo; por exemplo, um complexo materno. Comentário: Na psique de todas as pessoas existe o arquétipo da mãe, ou seja, um padrão de representação sobre como é uma mãe. A partir do tipo de interação com a mãe real, uma pessoa pode sofrer um trauma e pas- sar a ter dificuldades em lidar com essa representação da figura materna, constituindo um complexo materno que concentra energia e o mantém in- conscientemente fixado nessa relação mal resolvida. • ANIMA/ANIMUS: arquétipo que predispõe os indivíduos a interagir com pessoas do sexo oposto e que demonstra a tendência natural do ser humano para desenvolver características tanto femininas quanto 31Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas masculinas. O arquétipo do feminino presente no homem é chamado de ânima e o arquétipo do masculino presente na mulher é o animus. Comentário: A ativação do animus na psique feminina se dá por meio do contato com homens que serviram de modelo: o pai, um irmão, tio, avô, um professor, um namorado. Do mesmo modo, a ativação da anima na psique masculina, por meio do contato com mulheres que serviram de modelo: a mãe, uma irmã, tia, avó, uma professora, uma namorada. • SELF (SI MESMO): Arquétipo central, arquétipo da ordem e totalidade da personalidade. É um fator interno de orientação, o potencial inato que ordena a vida psíquica e direciona o desenvolvimento da persona- lidade. O consciente e inconsciente se complementam para formar o Self. ACERTE O ALVO! O Si mesmo não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que abarca tanto o consciente quanto o inconsciente; ele é o centro desta totalidade, tal como o Ego é o centro da consciência. O si mesmo é o ponto central da psique total do indivíduo. Comentário: O Self com frequência aparece nos sonhos ou imagens de forma impessoal, como um círculo, mandala, cristal ou pedra, ou de forma pessoal como um símbolo de divindade. Todos estes são símbolos da to- talidade, unificação, reconciliação de polaridades, ou equilíbrio dinâmico, os objetivos do processo de Individuação. 32Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • INDIVIDUAÇÃO: processo de desenvolvimento da personalidade rumo à consciência plena de todos os seus aspectos. Fator interno de auto-o- rientação que organiza e integra os diversos níveis e sistemas da psique. Comentário: A meta da Individuação é atingir o conhecimento profundo de que todos esses níveis da psique são um mesmo todo, pleno de poten- cialidades, e desse modo a pessoa pode perceber-se dentro de sua verda- deira natureza de indivíduo, ou seja, indivisível, completo, total e repleto de possibilidades de realização. • TIPOS PSICOLÓGICOS: combinações dos processos psicológicos bá- sicos que permitem identificar características de personalidade de um indivíduo. A tipologia junguiana utiliza um sistema de classificação que compreende eixos e duas dimensões polares: as atitudes – extrover- são x introversão – e as funções – pensamento x sentimento, sensação x intuição. As atitudes e funções fazem parte da psique de todos os in- divíduos. • ATITUDES: tendências temperamentais básicas, que podem ser per- cebidas desde muito cedo no comportamento em crianças e que se mantêm estáveis até a vida adulta. A atitude diz respeito à orientação da consciência e à direção normal do fluxo de energia psíquica em suas relações com os objetos. Comentário: As duas atitudes são opostas e ambas estão presentes na personalidade, mas habitualmente uma delas é dominante e consciente, enquanto a outra é inconsciente. Se o ego é introvertido na sua relação com o mundo, o inconsciente pessoal é extrovertido, e vice-versa. » Extroversão: Nesta atitude, a energia psíquica consciente flui natu- ralmente na direção do objeto, orientando o indivíduo para o meio externo. O extrovertido se preocupa com as interações com as pes- soas e coisas, transmitindo a impressão de ser ativo e amistoso e de se interessar pelas coisas à sua volta. 33Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas » Introversão: Na atitude introvertida, a atenção da pessoa está orientada para o próprio mundo subjetivo. O introvertido demons- tra maior interesse pela exploração e análise de suas próprias ex- periências e assuntos pessoais, apresentando postura reservada, retenção das emoções e facilidade de expressão no campo da es- crita. • FUNÇÕES: As quatro funções mentais são os recursos por meio dos quais a consciência processa as informações e interage com o mundo. As pessoas utilizam predominantemente duas funções e essa tendên- cia se estabelece ao longo da vida, a partir da história de aprendizado individual. » Pensamento: consiste em associar ideiasumas às outras para che- gar a um conceito geral ou à solução de um problema. Trata-se de uma função intelectual que procura compreender as coisas. » Sentimento: função avaliadora que aceita ou rejeita uma ideia, tendo como base o sentimento agradável ou desagradável que tal ideia suscita, bela ou feia, excitante ou monótona. Quem usa predo- minantemente o sentimento e julga o valor inerente às coisas tem facilidade no contato social, preocupa-se com a harmonia do am- biente. » Sensação: percepção sensorial que inclui todas as experiências conscientes produzidas pela estimulação dos órgãos dos sentidos: visões, ruídos, cheiros, paladares e contatos, tanto quanto as sen- sações que têm origem no interior do corpo. » Intuição: percepção por meio de processos inconscientes e de con- teúdos subliminares. A intuição busca os significados, as relações e possibilidades futuras da informação recebida. Os fatos são apre- endidos no seu conjunto e a apreensão do ambiente geralmente acontece por meio de “pressentimentos”, “palpites” ou “inspiração”. 34Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Figura 1. Indicador de tipos Myers-Brigs (MBTI). Como você concentra a sua atenção E EXTROVERSÃO Preferência por assimilar energia do mundo exterior: das pessoas, atividades e coisas I INTROVERSÃO Preferência por assimilar energia do mundo interior: das ideias, emoções e impressões pessoais A forma como capta informa- ções S SENSAÇÃO Preferência por captar informações através dos cinco sentidos e observar o que é real N INTUIÇÃO Preferência por captar informações através do sexto sentido e observar o que poderia ser A forma de tomar decisões T PENSAMENTO Preferência por informações organizadas e estruturadas para decidir de forma lógica e objetiva F SENTIMENTO Preferência por informações organizadas e estruturadas para decidir de forma pessoal e baseada em valores Fonte: Gassenferth, 2015. Comentário: O pensamento e o sentimento são chamados de funções ra- cionais porque utilizam o processamento de informações e o julgamento. A sensação e a intuição são chamadas funções irracionais porque se ba- seiam na percepção do concreto, do particular e do ocasional. Dentre as diversas técnicas utilizadas na psicoterapia junguiana, desta- cam-se: análise dos sonhos; caixa de areia (sandplay); imaginação ativa e outras de tipo expressivo tais como desenhos, pinturas, colagens, escul- turas, escrita, role-play. A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS, na Psicologia Analítica, difere bas- tante do método proposto na psicanálise, pois o sonho é compreendido como um auto retrato espontâneo, em forma simbólica, da real situação no inconsciente. 35Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas O sonho e a consciência se relacionam basicamente de forma compensa- tória, ou seja, quando a consciência tende para uma determinada atitude de forma polarizada, os sonhos apresentam imagens compensatórias de modo a assegurar o ajuste e a homeostase do organismo. Em psicologia Analítica são utilizadas as técnicas de associação e ampli- ficação no trabalho com sonhos. » Associação: se utiliza a cadeia de associações do próprio paciente para estabelecer o contexto pessoal do sonho. Comentário: Quando ocorrem resistências, as associações são trabalha- das utilizando as imagens oníricas e tornando conscientes os conteúdos emocionais e individuais de cada imagem. » Amplificação: a compreensão do conteúdo onírico é ampliada atra- vés da identificação destas imagens com padrões coletivos. • IMAGINAÇÃO ATIVA: técnica que utiliza exercícios de introspecção através do estabelecimento de um diálogo interno com as imagens do inconsciente ou com as fantasias do paciente, com o objetivo de facili- tar a expressão das emoções relacionadas a essa imagem. • CAIXA DE AREIA (SANDPLAY): técnica projetiva que utiliza caixas de areia e miniaturas como via de expressão, através da construção de cenários e elaboração de histórias. A seguir, você pode conferir em uma questão como o conteúdo sobre Psi- cologia Analítica foi cobrado recentemente em uma prova de residência. 36Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas 02. Uma vez que a psicologia analítica repousa no fundo em an- tagonismos equilibrados, nenhum julgamento pode ser definiti- vo e sua reversibilidade deve ser sempre levada em considera- ção. Portanto, na interpretação dos sonhos, é preciso considerar o problema dos tipos psicológicos. Segundo essa teoria, identifi- que como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas: ] ̣ I. Em relação à natureza da psique, inexistem critérios que nos colocam em posição de formarmos um juízo definitivo dela. Tudo o que podemos pensar encontra-se num estado psíquico, isto é, no estado de uma representação consciente. As diferenças de opinião são o veículo da vida intelectual do indivíduo. ] ̣ II. Ao contrário de todos os outros ramos da ciência nos quais é procedimento legítimo lançar uma hipótese sobre um objeto impessoal de pesquisa, na psicologia vemo-nos inevitavelmente confrontados com a relação entre dois indivíduos, havendo uma impossibilidade de eles se desviarem da própria subjetividade ou serem despersonalizados de alguma outra forma. ] ̣ III. A interpretação correta depende do contexto, isto é, das associações ligadas à imagem onírica e do estado de espírito efe- tivo do sonhador. ] ̣ IV. Na psicologia analítica, o conhecimento sobre os tipos psi- cológicos é relevante e tem sentido a classificação por si só dos quatro tipos de função da atitude. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo. 🅐 F, V, V, F. 🅑 V, V, F, V. 🅒 V, F, V, F. 🅓 F, F, F, V. 🅔 V, V, V, F. Clique aqui para ver o gabarito da questão. 37Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Assista agora a Pocket Aula sobre Psicologia Analítica clicando no ícone ao lado ANOTAÇÕES https://sanar.link/aula_psi_6987 38Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas 3. ABORDAGENS COGNITIVAS E COMPORTAMENTAIS 3.1. TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) abrange diversas aborda- gens dentro do modelo cognitivo e cognitivo-comportamental, e tem tido sua eficácia amplamente comprovada para o tratamento de diversos transtornos neuropsiquiátricos em diversas etapas do desenvolvimento humano. Ela mantém o seu foco de intervenção sobre os problemas apresenta- dos pelo paciente no momento atual e que o levaram a buscar tratamento, tendo como objetivo principal possibilitar ao cliente a aprendizagem de novas estratégias mais funcionais para que possa, assim, atuar no am- biente de forma a promover as mudanças necessárias. Seu método terapêutico consiste na cooperação entre terapeuta e pa- ciente, com vistas ao planejamento conjunto das estratégias para a supe- ração de problemas concretos (LIMA; WIELENSKA, 1993). Para isso, bus- ca-se definir com clareza os objetivos do tratamento, em conformidade com os problemas e questões apresentados pelo paciente, explorando, a partir deles, cada um dos níveis de organização cognitiva, desde os pen- samentos automáticos até o sistema de crenças do sujeito. A partir da identificação e análise de cada um dos níveis de organização cognitiva, são utilizadas técnicas cognitivas que buscam testar os pen- samentos automáticos e substituir as distorções cognitivas. As cren- ças são testadas por meio de argumentos e propostas de exercícios que o paciente realiza durante as sessões de terapia e em outros contextos (SHINOHARA, 1997). 39Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Diante disso, alguns conceitos se destacam e são fundamentais para a prática terapêutica nas abordagens cognitivo-comportamentais. A se- guir,detalharemos os principais: • Cognição e consciência: O termo cognição é aplicado para designar o conjunto de atividades e processos pelos quais um organismo adqui- re informação e desenvolve conhecimentos. São mecanismos mentais que agem sobre as informações sensoriais, buscando sua interpreta- ção, classificação e organização. Beck e seus colaboradores identificaram três níveis básicos de processa- mento cognitivo: Consciência, Esquemas e Pensamentos Automáticos (BECK, 1997; CLARK; BECK; ALFORD, 1999). O nível mais alto da cognição é a consciência, um estado de atenção no qual decisões podem ser tomadas racionalmente. A atenção consciente nos permite: 1. Monitorar e avaliar as interações com o meio ambiente; 2. Ligar memórias passadas às experiências presentes; 3. Controlar e planejar ações futuras (STERNBERG, 2008). Comentário: Na TCC, os terapeutas incentivam o desenvolvimento e a aplicação de processos conscientes adaptativos de pensamento, como o pensamento racional e a solução de problemas. • Esquemas: Esquemas são estruturas cognitivas que permitem a for- mação de significados, ou seja, matrizes ou regras fundamentais para o processamento de informações, os quais começam a ser desenvol- vidos desde cedo e que nos auxiliam a interpretar e explicar o mundo (CLARK; BECK; ALFORD, 1999; WRIGHT; BECK; THASE, 2003). 40Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Esses esquemas permitem ao ser humano selecionar, filtrar, codificar e atribuir significado às informações vindas do meio ambiente (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008). As estruturas cognitivas são formadas a partir das primeiras relações com o ambiente e as figuras cuidadoras; desde então a criança vai for- mando um sentido de si e do mundo que a cerca. Os esquemas são os núcleos iniciais e servem como modelo de processa- mento das experiências posteriores, conduzindo o modo como a realida- de é percebida e formando a identidade. As informações dissonantes com os esquemas tendem a ser descartadas ou modificadas pelo indivíduo a fim manter-se adequado a estas matri- zes; então a tendência é que estas estruturas se perpetuem e sejam muito resistentes à mudança. Clark, Beck e Alford (1999) propõem a existência de três grupos principais de esquemas: 1. Esquemas simples: são regras sobre a natureza física do ambiente, gerenciamento prático das atividades cotidianas ou leis da natureza que podem ter pouco ou nenhum efeito sobre a psicopatologia. 2. Crenças e pressupostos intermediários: são regras condicionais como afirmações do tipo se então, que influenciam a autoestima e a regulação emocional. 3. Crenças nucleares sobre si mesmo: são regras globais e absolutas para interpretar as informações ambientais relativas à autoestima. Todas as pessoas têm uma mistura de esquemas adaptativos (saudáveis) e crenças nucleares desadaptativas. O objetivo da TCC é identificar e de- senvolver os esquemas adaptativos e, ao mesmo tempo, tentar modifi- car ou reduzir a influência dos esquemas desadaptativos. 41Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • Crenças centrais e intermediárias: Alguns autores utilizam o termo crenças centrais como similar a esquema, contudo, Beck enfatiza a di- ferença entre a estrutura cognitiva – esquema – e o conteúdo da estru- tura – crença central. ACERTE O ALVO! Enquanto os esquemas são as estruturas cognitivas que organizam e processam a entrada de informação e representam os padrões de pensamento adquiridos ao longo do desenvolvimento da pessoa, as crenças dizem respeito ao próprio conteúdo das cognições. As crenças surgem a partir da interação social do indivíduo com o meio. Esse processo começa nos primeiros estágios do desenvolvimento e for- nece ao indivíduo uma “teoria” coerente sobre o mundo para que ele possa se adaptar à realidade. As Crenças Centrais são estruturas cognitivas constituídas pelas convicções básicas que cada indivíduo tem sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o mundo (BECK, 1997; BECK; RUSH; SHAW; EMERY, 1997; FALCONE, 2001). As crenças centrais são o nível mais fundamental de crença, sendo glo- bais, rígidas e super generalizadas. Por terem sua origem nos primeiros estágios de desenvolvimento, estas crenças são tão antigas e enraizadas que o indivíduo as tem como verdades absolutas, e nem lhe ocorre a pos- sibilidade de questioná-las. 42Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas As Crenças Intermediárias são o nível existente entre as crenças centrais e os pensamentos automáticos e compõem-se por regras e suposições que, em geral, assumem o contorno de um dever (BECK, 1997; BECK et al, 1997; FALCONE, 2001). Este tipo de crença constitui uma forma de reduzir o sofrimento provoca- do pelas crenças centrais, correspondendo basicamente a regras e supo- sições tais como “eu devo”, “eu tenho que”, “se... então”. Quando as crenças não são funcionais, acarretam em distorção da rea- lidade e transtornos mentais. No entanto, as crenças são aprendidas e, portanto, podem ser revisadas, “desaprendidas” e ensinadas outras. Ou seja, assim como a pessoa aprendeu crenças que hoje geram dificuldades e são insatisfatórias, ela também pode “desaprendê-las” e aprender ou- tras mais satisfatórias e mais reais. • Pensamentos automáticos: Pensamentos automáticos são cognições que passam rapidamente por nossas mentes quando estamos em meio a situações ou relembrando acontecimentos. Embora os indivíduos possam estar conscientes da presença de pensamentos automáticos em um nível subliminar, normalmente não se costuma efetuar a análise racional e cuidadosa dessas cognições. Os Pensamentos Automáticos se desenvolvem a partir das crenças cen- trais, e são interpretações imediatas, rápidas, espontâneas e involuntá- rias das experiências (BECK, 1997; BECK et al, 1997; FALCONE, 2001). Eles são pré-conscientes e, na maior parte do tempo, permanecem des- percebidos, coexistindo com os fluxos de pensamentos mais manifestos e podendo revelar, portanto, a maneira como as situações são significa- das pelo indivíduo, e que distorções ele faz da realidade. 43Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Pensamentos automáticos parecem surgir espontaneamente e, em geral, a pessoa está mais ciente da emoção sentida em decorrência deles do que do próprio pensamento. Inclusive, um dos indícios mais importantes de que os pensamentos automáticos podem estar ocorrendo é a presen- ça de emoções fortes. Quando treinado, é possível ao indivíduo reconhe- cer estes pensamentos e identificar as crenças centrais vinculadas a eles e, a partir de então, realizar a análise racional sobre seu funcionamento. • Distorções Cognitivas: As distorções cognitivas são formas de pensar desvirtuadas da realidade, padronizadas pelos eventos da vida e que geram grande sofrimento. Comentário: Beck (1997) identificou que pessoas com transtornos emo- cionais apresentam equívocos característicos na lógica dos pensamen- tos automáticos e outras cognições. Isso porque os esquemas mal adap- tativos distorcem a realidade para que esta se torne condizente com as crenças centrais de desamparo, desamor e desvalor. Ao programar métodos de TCC para reduzir erros cognitivos, os terapeu- tas normalmente ensinam aos pacientes que o objetivo mais importante é simplesmente reconhecer que se está cometendo distorções cognitivas. Nesse sentido, os erros de cognição mais comuns são: 1. Pensamento dicotômico ou polarizado (do tipo tudo ou nada): os julgamentos sobre si mesmo, as experiências pessoais ou com os ou- tros são separados em duas categorias, como certo ou errado, suces- so ou fracasso, não vendo as coisas dentro de um continuum. 2. Catastrofização: a pessoa acredita que o futuro ocorrerá da pior for- ma possível, superestimando a possibilidade de ocorrências negati- vas e sem considerar outros resultados prováveis. 3. Personalização: crençade que eventos negativos ou comportamen- tos aversivos de terceiros se devem a algo que a própria pessoa te- 44Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas nha feito, mesmo quando há pouco ou nenhum fundamento para esse pensamento. O indivíduo assume responsabilidade excessiva ou cul- pa por eventos negativos. 4. Ditadura do “deveria”: ter uma ideia excessivamente rígida de como deve ser o seu comportamento e grande exigência sobre seu desem- penho. A pessoa também cria expectativas exageradas em relação ao comportamento dos outros, gerando afetos negativos, quando estas não são preenchidas, bem como adoecimento psicológico. 5. Desqualificação do positivo: a pessoa diz para si mesmo que experi- ências, atos ou qualidades positivos não contam e descarta as carac- terísticas positivas, evidenciando as negativas. 6. Inferência Arbitrária: chega-se a uma conclusão, a partir de evidên- cias contraditórias ou mesmo na ausência de evidências. 7. Abstração seletiva ou filtro mental: a pessoa chega a uma conclusão, depois de examinar apenas um detalhe retirado do contexto ou uma pequena porção das informações disponíveis. Os dados importantes são descartados ou ignorados, a fim de confirmar a visão tendenciosa que a pessoa tem da situação. 8. Supergeneralização: Chega-se a uma conclusão sobre um aconteci- mento isolado e, então, a conclusão é estendida de maneira ilógica a amplas áreas do funcionamento, mesmo aquelas não relacionadas à situação. 9. Maximização e minimização: refletem em erros na avaliação do sig- nificado ou magnitude de um acontecimento. A relevância de um atri- buto, evento ou sensação é exagerada ou minimizada. 10. Argumentação emocional: A pessoa pensa que algo deve ser verda- de porque “sente” (em realidade, acredita) isso da maneira tão convin- cente que acaba por ignorar ou desconsiderar fatos e evidências. 11. Rotulação: Quando a pessoa se habitua a colocar um rótulo global e fixo sobre si mesmo, ou sobre os outros, sem considerar as ocorrên- cias. 45Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas 12. Leitura mental: A pessoa acha que sabe o que os outros estão pen- sando e não considera outras possibilidades mais prováveis. 13. Vitimização: A pessoa tende a se sentir vítima e não responsável pe- las suas escolhas. • Tríade cognitiva: Por fim, este conceito diz respeito à forma como o in- divíduo vê a si mesmo, o mundo e o seu futuro. A tríade cognitiva surge a partir de esquemas e crenças ou conceitos inflexíveis (um conjunto de elementos cognitivos disfuncionais), modelados em experiências ante- riores. Estes padrões geram pensamentos, pressuposição e premissas desadaptativos. Vimos, até então, que a premissa básica das terapias cognitivo-compor- tamentais (TCC) é a de que a maneira como as pessoas interpretam suas experiências determina seus sentimentos e comportamentos. Nesse sentido, o modo como o paciente estrutura a sua experiência sofre, portanto, influência de fatores biológicos, anatômicos e sistêmicos. No entanto, existem erros de lógica no processamento da informação sob a forma de pensamentos disfuncionais e distorções cognitivas. As avalia- ções e interpretações distorcidas provocam então alterações no humor, reações físicas e comportamentos desadaptativos que criam e perpetu- am um ciclo vicioso. Dessa forma, para atender aos objetivos propostos, as Terapias Cogniti- vo-Comportamentais fazem uso de algumas técnicas específicas, tanto do modelo comportamental como do cognitivista. 46Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas Segundo Wright, Basco e Thase (2008), a maioria das técnicas comporta- mentais usadas na TCC destina-se a ajudar as pessoas a: 1. Romper padrões de evitação ou desesperança; 2. Enfrentar gradativamente situações temidas; 3. Desenvolver habilidades de enfrentamento; 4. Reduzir emoções dolorosas ou excitação autonômica. A seguir, iremos descrever as principais técnicas utilizadas nas Terapias Cognitivo-Comportamentais (RANGÉ; SOUSA, 2008): • Questionamento socrático e descoberta guiada: Conforme vimos, as pessoas se orientam com relação às suas vivências, tendo por base sua matriz de esquemas, e estruturam suas crenças de modo a confor- mar-se a estas regras fundamentais. Nesse sentido, o questionamento socrático é uma das estratégias mais usadas em TCC para desafiar e modificar o modo de pensar do indivíduo. Esta técnica consiste no processo de formular perguntas e buscar res- postas, através de questionamento e avaliação das próprias consta- tações. Na clínica cognitiva, o questionamento socrático é aplicado por meio da coleta de evidências que sustentam – ou não – a lógica do pen- samento do cliente para que, no momento seguinte, ao dialogar sobre o assunto, terapeuta e cliente tenham dados suficientes para realizar inter- pretações alternativas. Assim, o terapeuta elabora perguntas - que sejam as mais abertas possí- veis - a fim de que o cliente abranja o maior número de informações obje- tivas em sua avaliação. Terapeuta e cliente desenvolvem juntos uma “investigação empírica” ou “descoberta guiada”, por meio da qual os pensamentos automáticos e as 47Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas crenças do indivíduo são admitidos como hipóteses e que, portanto, po- dem ser analisadas sistematicamente a fim de terem sua validade e/ou utilidade testada (RANGÉ; SOUSA, 2008). O objetivo de desafiar as crenças é que o indivíduo aprenda a avaliar de maneira crítica seus pensamentos automáticos e possa gerar pensa- mentos alternativos mais adaptativos. • Registro de pensamentos disfuncionais (RPD): Nesta técnica, é cons- truído um quadro em que o cliente deverá realizar anotações, sempre que experimentar uma emoção desagradável. Neste registro, devem constar os seguintes itens: » Dia/hora: registrar o momento em que lhe ocorreu a emoção desa- gradável. » Situação: a pessoa deve descrever o que está acontecendo que pode ter levado a esta emoção, bem como a corrente de pensamen- to, devaneio ou lembrança que possa ter levado à emoção. » Sentimentos: a pessoa deve especificar a emoção (tristeza, ansie- dade, raiva, etc.) e assinalar a intensidade da emoção em uma esca- la de 0 a 100. » Pensamentos automáticos: a pessoa deve anotar os pensamentos da forma como apareceram na mente e indicar o grau de convicção para cada pensamento em uma escala de 0 a 100. » Resposta racional: após o registro dos pensamentos automáticos, a pessoa irá contestar racionalmente cada pensamento através das seguintes perguntas: ˶ Que provas eu tenho da verdade deste pensamento? ˶ Há outras possibilidades para eu compreender esta situação? ˶ O que é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar? Qual o melhor que poderia acontecer? Entre estes dois extre- mos, qual o resultado mais provável e realista? 48Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas ˶ Se um amigo ou amiga tivesse estes pensamentos, o que você lhe diria? ˶ O que você deveria fazer? ˶ Feito isto a pessoa deverá anotar cada resposta racional para os pensamentos registrados e avaliar o grau de convicção em cada resposta racional em uma escala de 0 a 100. » Reavaliação: por fim, a pessoa deverá reavaliar o grau de convicção em cada pensamento automático (PA = 0 a 100), bem como a inten- sidade de cada emoção. Esta técnica permite a identificação dos pensamentos e emoções do cliente em situações perturbadoras e para sua posterior reestruturação. Inicialmente, a pessoa é orientada a preencher apenas os quatro primei- ros tópicos do quadro. Somente após o cliente ter compreendido bem as primeiras quatro colunas, são inseridas as duas últimas que permitem a modificação do pensamento e da emoção. • Identificação de distorções cognitivas: Como vimos, as distorções cognitivas são formas de pensar desvirtuadas da realidade, padroniza-das pelos eventos da vida e que geram grande sofrimento. Beck (1997) identificou que pessoas com transtornos emocionais apresentam equí- vocos característicos na lógica dos pensamentos automáticos e outras cognições. A partir da análise de cada um dos níveis de organização cognitiva, são utilizadas técnicas cognitivas que buscam testar os pensamentos auto- máticos e substituir as distorções cognitivas. As crenças são testadas por meio de argumentos e propostas de exercícios que o paciente realiza durante as sessões de terapia e em outros contextos (SHINOHARA, 1997). 49Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • Técnica da seta descendente: A Técnica da Flecha ou Seta Descenden- te consiste no questionamento sucessivo sobre o significado de uma determinada cognição até alcançar o seu significado mais central. A narrativa do paciente é questionada quanto ao seu significado, identi- ficando-se a cadeia de pensamentos a partir de um pensamento espe- cífico inicial. Esta técnica permite ao indivíduo a tomada de consciência sobre sua ca- deia de pensamentos, possibilitando verificar como esta conduz a conclu- sões equivocadas e reforça antigas suposições que não são necessaria- mente corretas (DATTILIO, 2011). • Continuum cognitivo: O continuum cognitivo é uma técnica que pode auxiliar muito na modificação de pensamentos polarizados ou dicotô- micos. A técnica consiste em: » construir uma linha contínua que vai de um extremo ao outro (de 0 a 100%); » solicitar ao paciente que especifique as características de cada ex- tremo; » solicitar ao paciente que se localize neste continuum. • Técnica do gráfico em pizza: O gráfico em forma de pizza é uma es- tratégia utilizada em conjunto com outras técnicas e visa auxiliar o pa- ciente a ter uma visão multidimensional da situação. Neste gráfico são representados os fatores associados à situação que está sendo anali- sada e o percentual de contribuição/importância de cada um deles para o quadro geral. • Role-play racional-emocional: O terapeuta propõe uma dramatiza- ção na qual ele representa a parte “racional” – que argumenta a favor da modificação da crença disfuncional – e o cliente interpreta a parte 50Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas “emocional” – que sustenta por que a crença disfuncional ainda é “senti- da” como funcional. No segundo momento, os papéis são trocados. • Cartões de enfrentamento: São elaborados pequenos cartões com estratégias de enfrentamento, respostas adaptativas ou sentenças motivacionais diante de situações de risco. O conteúdo tem como função relembrar as estratégias discutidas na sessão e auxiliar na análise de pensamentos disfuncionais. • Exposição graduada: Esta técnica consiste em expor o cliente a dife- rentes atividades – situações ou objetos que lhe despertem certo nível de ansiedade – a partir de uma hierarquia previamente montada jun- to com a pessoa. A exposição tem início com atividades que provocam menos ansiedade e tem por intuito reduzi-la gradativamente. A mudança para o próximo item da lista ocorre apenas quando houver acentuada redução na ansiedade. Esta técnica pode ser aplicada também através do uso da imaginação, quando o nível de ansiedade diante do ob- jeto ou situação real causaria desconforto muito intenso. • Planejamento de atividades: Esta técnica consiste na organização de uma agenda de atividades programadas para cada hora, disposta em uma tabela com todas as horas do dia, ao longo de todos os dias da se- mana. O objetivo é de evitar que o indivíduo se entregue à inatividade e ao isolamento social. Associado ao planejamento de atividades é possível aplicar a técnica de mestria e prazer, que consiste em instruir a pessoa para que, após a reali- zação de cada atividade, avalie em uma escala de cinco pontos o nível de satisfação obtida com sua execução, tanto em termos de prazer experi- mentado, quanto de julgamento do próprio desempenho. 51Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • Prescrição de tarefas graduadas: Técnica que consiste no planejamento e execução de tarefas simples, que apresentem um nível baixo de dificuldade, por meio das quais a pessoa pode obter sucesso e sentir-se estimulada a realizar tarefas mais complexas. As etapas para execução desta técnica são: 1. a definição de um problema; 2. a formulação de um projeto; 3. a observação do desempenho; 4. a discussão dos resultados, com atenção especial para desmere- cimento e ceticismo, bem como o reforço pelo alcance dos objeti- vos e de avaliações mais realistas; 5. o planejamento de novas tarefas mais complexas. • Técnicas de relaxamento: Algumas técnicas de relaxamento também são utilizadas na TCC, como as técnicas de respiração e/ou de relaxa- mento muscular. Nesse sentido, faz-se necessário ressaltar que as téc- nicas de relaxamento devem ser aplicadas com cautela pelos profissio- nais. A técnica de relaxamento muscular progressivo de Jacobson, por exemplo, é contraindicada para pacientes com histórico de síndromes fibromiálgicas, pois ela consiste em contrair/tensionar e relaxar os principais grupos musculares do corpo alternadamente. • Técnicas de Mindfulness: A técnica de Mindfulness, traduzida como “atenção plena”, consiste em um conjunto de técnicas meditativas e de respiração tendo como foco o presente, levando o sujeito a uma per- cepção dos seus pensamentos, emoções e sensações no momento. Ela tem se mostrado como uma estratégia eficaz para promover o desen- volvimento socioemocional dos indivíduos, influenciando no bem-es- tar e a qualidade de vida e sendo amplamente utilizada pela TCC, bem como por outras abordagens. 52Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas • Entrevista motivacional: Essa técnica envolve o aconselhamento dire- tivo, centrado no paciente e com o objetivo de estimular a mudança de um comportamento disfuncional, podendo ser utilizada, por exemplo, na adesão em programas de tratamento. • Psicoeducação: Trata-se de uma técnica que relaciona os instrumen- tos psicológicos e pedagógicos com objetivo de ensinar os pacientes sobre determinada temática inerente ao seu tratamento, sendo muito empregada no âmbito hospitalar. Em casos de pacientes em cuidados paliativos, por exemplo, pode ser uti- lizada para ensinar o paciente e/ou cuidador em relação à doença física e (ou) psíquica, bem como em relação ao respectivo tratamento. • Treino de Habilidades Sociais (THS): As habilidades sociais são clas- ses de comportamentos existentes no repertório da pessoa, as quais garantem a competência social. Em algumas situações, pode acontecer de o indivíduo possuir as habilidades sociais, mas por diversos fatores não conseguir utilizá-las. Assim, o THS tem como objetivo principal fornecer ao paciente um reper- tório amplo e variado de comportamentos sociais mais adaptados, com vistas à superação dos déficits no desempenho social, sendo realizado, nas abordagens cognitivo-comportamentais, a partir destas etapas (CA- BALLO, 1996): 1. treino de habilidades; 2. redução da ansiedade; 3. reestruturação cognitiva; 4. treino em solução de problemas. 53Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Teorias e Técnicas Psicológicas As técnicas aplicadas nas TCC são bastante frequentes em provas, por essa razão vamos resolver uma questão sobre esse tema. 03. Na assistência a pacientes portadores de doenças crônicas, a adesão ao tratamento é fator central. Ao trabalhar em progra- mas de adesão ao tratamento, o psicólogo pode lançar mão de uma técnica que envolve o aconselhamento diretivo, centrado no paciente e com o objetivo de estimular a mudança de um com- portamento disfuncional. Como se chama essa técnica? 🅐 Entrevista motivacional. 🅑 Reabilitação cognitiva. 🅒 Psicoterapia breve de apoio. 🅓 Experiência emocional corretiva. Clique aqui para ver o gabarito da questão. As
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