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PUBERDADE PRECOCE PUBERDADE FISIOLÓGICA • A puberdade compreende o período entre a infância e a vida adulta, consistindo em uma fase de crescimento e desenvolvimento na qual há modificações físicas e psicológicas que levam à maturidade sexual e capacidade reprodutiva. • É resultado da associação de fatores genéticos e ambientais, porém os fatores que determinam seu início ainda não são totalmente conhecidos. • A puberdade está intimamente relacionada com o eixo hipotálamo-hipófise-gônada (HHG). O núcleo arqueado do hipotálamo e seus neurônios liberam o GnRH, que é transportado para a hipófise anterior e estimula a liberação do hormônio luteinizante (LH) e do folículo-estimulante (FSH). • Estes últimos influenciam as gônadas para a produção dos hormônios sexuais: nos meninos, o LH estimula a síntese de testosterona, enquanto o FSH, a espermatogênese; já nas meninas, o LH e o FSH estimulam a síntese de esteroides e a ovulação, respectivamente. • As mudanças hormonais da puberdade têm início na vida fetal, quando a hipófise fetal secreta LH e FSH (com predomínio deste último). Durante os 6 primeiros meses de vida, a secreção de testosterona pelos testículos e de estradiol pelos ovários se torna importante. • Após esse período, no entanto, a secreção hormonal diminui, permanecendo baixa durante toda a infância, até que retorne na puberdade. • Existem dois eventos principais na puberdade: a adrenarca e a gonadarca. • A adrenarca ocorre pela estimulação do eixo hipotálamo- hipófise-suprarrenal, com crescimento da camada reticular da suprarrenal e aumento na produção de androgênios. • Este evento é responsável pelo aparecimento dos pelos púbicos e axilares, caracterizado pelo aumento da dosagem de de-hidroepiandrosterona (DHEA) ou sua forma sulfatada (S- DHEA). • A gonadarca, por sua vez, leva à ativação do eixo HHG, com o desenvolvimento das mamas nas meninas e dos testículos nos meninos. Caracteriza-se pelo aumento dos níveis de LH e FSH, além da testosterona e estrogênio. • Como avaliar a normalidade do desenvolvimento? Isso é feito de forma objetiva pela observação das mudanças físicas, com seu início e o ritmo de evolução, através da classificação de Tanner. • Essa classificação se refere ao desenvolvimento de mamas (M) e pelos (P) nas meninas e genitália (G) e pelos (P) nos meninos. • Nas meninas, a menarca geralmente está relacionada com o T4 no desenvolvimento das mamas, no qual há crescimento das aréolas. • Nas meninas, os estrogênios levam ao desenvolvimento das mamas, aumento dos grandes e pequenos lábios, aumento e redistribuição da gordura corporal (predomínio no quadril), crescimento do útero, estrogenização do epitélio vaginal (acidificação do pH e aparecimento de leucorreia). • O aparecimento de pelos púbicos, como dito anteriormente, têm sua origem na produção de hormônio suprarrenal. • O estirão puberal é consequência da ação conjunta dos esteroides sexuais, hormônio de crescimento e fatores de crescimento (como o IGF-1). • Os hormônios sexuais influenciam de forma importante a maturação óssea e o fechamento das epífises de crescimento, assim como a aquisição de massa óssea. • Para identificar e analisar os distúrbios puerperais, é importante conhecer a cronologia normal dos eventos puberais. • Nas meninas, o primeiro sinal é a aceleração do crescimento, porém o aspecto mais marcante é a telarca (desenvolvimento das mamas); alguns meses depois, os pelos púbicos começam a aparecer. • A menarca ocorre geralmente após 2 anos do início do desenvolvimento das mamas e, após esse momento, se inicia a desaceleração do crescimento. • A puberdade nas meninas ocorre entre 8 e 13 anos de idade, porém existem variabilidades étnicas e regionais da época de início e ritmo de evolução. PUBERDADE PRECOCE • A puberdade precoce (PP) é definida como o aparecimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos nas meninas e antes dos 9 anos nos meninos. • No entanto, a idade não deve ser utilizada como critério isolado: deve-se analisar a progressão dos caracteres sexuais, a velocidade de crescimento e ritmo de maturação óssea. • O desenvolvimento precoce da puberdade causa problemas como estatura final inferior ao esperado (para o padrão genético familiar), além de inadequação psicossocial. • Os caracteres sexuais secundários podem ser classificados em dois tipos: os heterossexuais e os isossexuais. • Os heterossexuais são discordantes com o sexo genético da criança, como é o caso da feminilização nos meninos e virilização nas meninas. • Os isossexuais, por sua vez, são concordantes com o sexo genético. • Quanto à etiologia, a puberdade precoce pode ser classificada de acordo com a atividade do eixo HHG em: 1. Central (GnRH-dependente) – secundária à ativação do eixo HHG, também chamada de PP verdadeira. 2. Periférica (GnRH-independente) – secundária à produção autônoma de esteroides sexuais pelas suprarrenais ou gônadas, independente do controle ou ativação do eixo HHG; chamada de pseudo-puberdade precoce. 3. Combinada ou mista – compreende doenças com produção exacerbada de esteroides sexuais, que induz ao amadurecimento precoce do eixo HHG. • Algumas condições levam a manifestações puberais isoladas, como o desenvolvimento isolado das mamas, dos pelos púbicos ou da menarca, chamadas respectivamente de telarca, adrenarca e menarca isoladas. Essas condições são chamadas de desenvolvimento prematuro benigno. • Como é a fisiopatologia da puberdade precoce? O aumento dos esteroides sexuais (seja por produção autônoma ou ativação do eixo HHG) leva a uma aceleração na velocidade de crescimento do paciente, associado ao avanço da idade óssea (IO). • Com isso, há o fechamento precoce das epífises ósseas e, consequentemente, o comprometimento da estatura final da criança, geralmente resultando em baixa estatura. • O hipotireoidismo é uma causa de puberdade precoce que cursa também com baixa estatura, porém apresenta atraso na idade óssea. PUBERDADE PRECOCE CENTRAL • Nesse tipo de PP, que depende da ativação do eixo HHG (dependente de gonadotrofinas), o desenvolvimento sexual ocorre na sequência da puberdade fisiológica, com a maturação sexual completa, porém com início precoce. • Devido à produção normal dos esteroides sexuais, os caracteres sexuais são sempre isossexuais, ou seja, concordantes com o sexo genético da criança. • Tem incidência de 1 caso a cada 5.000-10.000 crianças, é mais comum no sexo feminino (3:1) e tem três principais causas: idiopática, genética e neurogênica. • A causa idiopática é a mais comum nas meninas, estando presente em mais de 80% dos casos e é caracterizada por ser uma PP sem causa orgânica definida. • A causa genética inclui mutações em genes específicos, como nos KISS-1 e KISS-1R e na proteína GPR54. • Já a etiologia neurogênica é a mais frequente em meninos e é consequência de doenças que acometem o Sistema Nervoso Central (SNC). Os tumores do SNC correspondem a 50% dos casos de PP central com etiologia neurogênica. • Outras causas de acometimento do SNC incluem hamartoma hipotalâmico, anomalias congênitas, cistos, lesões vasculares, infecções, entre outros. PUBERDADE PRECOCE PERIFÉRICA • Nesse grupo de condições, o desenvolvimento puberal ocorre de forma independente do controle do eixo HHG, ou seja, há uma produção autônoma de esteroides sexuais. Dessa forma, estes casos não obedecem à cronologia dos eventos puberais normais e a maturação sexual é incompleta. • Outro aspecto importante é que os caracteres sexuais podem ser iso ou heterossexuais. Ou seja, meninas podem apresentar caracteres sexuais secundários masculinos, diante de um tumor da suprarrenal, por exemplo. • Para identificar a causa da PP periférica, deve-se avaliar inicialmente os caracteres sexuais (se são iso ou heterossexuais), para então direcionar aprocura por alguma etiologia possível. • Para as meninas, são possíveis causas de PP periférica isossexual: hipotireoidismo primário não-tratado; cistos ovarianos foliculares (produtores de estrógenos); tumor de células granulosas; síndrome de McCune-Albright; exposição a esteroides sexuais ou interferentes endócrinos (substâncias que atuam como se fossem hormônios). • Já as causas heterossexuais, ou seja, que levam à virilização das meninas, são: resistência periférica a glicocorticoides (como a Síndrome dos Ovários Policísticos); tumor ovariano ou adrenal virilizante; exposição a andrógenos. PUBERDADE PRECOCE MISTA • Esse tipo de distúrbio se inicia como uma PP periférica, com a produção autônoma de esteroides sexuais, porém, com o passar do tempo essa produção acaba ativando o eixo HHG. • Dessa forma, manifesta-se inicialmente com uma maturação sexual incompleta, tornando-se posteriormente completa e com a sequência cronológica normal, após a ativação do eixo HHG. • As causas são as mesmas causas da PP periférica, que não tenham sido tratadas ou que o tratamento tenha sido inadequado. DIAGNÓSTICO AVALIAÇÃO CLÍNICA • Na avaliação dos pacientes com distúrbios puberais deve-se atentar para diferenciar as condições benignas daquelas causadas por doenças, como os tumores. • Pacientes com as características a seguir devem ser avaliados para afastar um possível distúrbio puberal: 1. Aparecimento precoce e/ou evolução acelerada dos caracteres sexuais secundários; 2. Sinais clínicos de virilização; 3. Estatura acima do padrão genético familiar; 4. Velocidade de crescimento acima do esperado para o sexo e idade. • Deve-se investigar a história clínica, como as condições de nascimento, antecedentes perinatais de infecções, uso de medicamentos e uso prévio de hormônios, antecedentes de doença neurológica, ritmo de evolução e idade do aparecimento dos caracteres sexuais, dados anteriores de crescimento, além da história familiar puberal, como a menarca materna e o período da mudança de voz paterna. • O exame físico deve incluir os dados de estatura e peso, o estadiamento puberal, de acordo com a classificação de Tanner, verificando se há caracteres heterossexuais associados, além do exame neurológico. • No momento do exame físico das meninas, é importante investigar possíveis alterações decorrentes do estrogênio e dos androgênios. • A presença de manifestações androgênicas deve orientar o profissional a excluir a presença de alteração suprarrenal, sendo os diagnósticos diferenciais a adrenarca precoce, o tumor de suprarrenal e a hiperplasia congênita da suprarrenal (forma tardia). Avaliação laboratorial • O diagnóstico é basicamente clínico, no entanto, a dosagem das gonadotrofinas é importante para classificar a puberdade precoce, uma vez que o tratamento varia entre a PP central e periférica. • Deve-se realizar a dosagem de FSH e LH (para avaliar ativação do eixo), além dos esteroides sexuais (estradiol e testosterona) e adrenais (DHEA e SDHEA). • Se houver dúvida se há ou não participação do eixo, deve-se realizar o teste de estímulo com GnRH ou um análogo do GnRH para posterior dosagem das gonadotrofinas. • Se a dosagem de LH basal for > 0,6 U/L, há ativação comprovada do eixo HHG. • Se o LH for normal, deve-se realizar um teste de estímulo com GnRH (administrar 100mcg, EV), com nova dosagem do LH em 15, 30, 45 e 60 minutos após a administração. • Se o pico de LH for > 9,6 U/L em meninos ou > 6,9 U/L em meninas, há evidência de ativação do eixo. • Caso o estímulo seja feito com um análogo do GnRH, a dosagem posterior de LH deve ser feita em 30 e 120 minutos: se LH > 10 U/L, há ativação do eixo. Avaliação por imagem • Todas as crianças em avaliação dos distúrbios puberais devem realizar uma radiografia de mão e punho para determinar a idade óssea (IO). • Este é um índice útil na avaliação da progressão dos efeitos hormonais, já que os esteroides aceleram a maturação óssea. • Considera-se uma idade óssea normal 2 anos acima ou abaixo da idade cronológica do paciente. • A determinação da idade óssea pode ser feita através de alguns métodos. O mais conhecido e difundido é o método de Greulich-Pyle, que consiste em um Atlas com fotos de radiografias da mão e punho, com o qual o médico compara a radiografia do paciente em questão, considerando a imagem que mais se aproxima com a investigada. • A ultrassonografia pélvica/abdominal permite avaliar as gônadas e suprarrenais, descartando a presença de tumores. • Além disso, permite avaliar sinais da ação estrogênica, como aumento do volume uterino e ovariano para a idade, presença de cistos foliculares (secundário à ativação do eixo HHG) e presença de endométrio. • A RM de crânio e hipófise avalia anormalidades hipotalâmicas-hipofisárias e deve ser sempre considerada nos casos de meninos com suspeita de puberdade precoce central. • O hamartoma hipotalâmico, por exemplo, consiste em uma imagem iso a hipointensa em T1 e iso a hiperintensa em T2; não apresenta calcificações dentro da lesão e não evidencia aumento do sinal após uso do contraste. TRATAMENTO • O tratamento da puberdade precoce possui alguns objetivos principais, que são: suprimir o eixo HHG, a secreção de gonadotrofinas e de esteroides gonadais; regredir os caracteres sexuais secundários até a idade cronológica vigente, inclusive menstruações; desacelerar o ritmo de avanço da maturação óssea; recuperar a velocidade de crescimento normal; e normalizar os problemas psicossociais advindos desta condição. • Apesar disso, o sucesso terapêutico depende da idade do diagnóstico e do início do tratamento: nos meninos, os melhores prognósticos consistem em tratamentos em menores de 6 anos de idade. • Quando houver causa anatômica identificada (exemplo: tumores do SNC), independente da classificação da PP (central, periférica ou mista), o caso deve ser manejado por especialista da área. Nesses casos, o tratamento pode consistir em remoção cirúrgica do tumor. • O tratamento clínico da PP central, na qual há ativação das gonadotrofinas, baseia-se no uso de análogos do GnRH de ação prolongada, como o acetato de leuprolide (3,75mg a cada 28 a 28 dias, via IM ou SC). • Esses medicamentos competem com os receptores de GnRH na hipófise, realizando um feedback negativo para a secreção das gonadotrofinas (LH e FSH), bloqueando o eixo. • No geral são usados até alcançar uma idade óssea de 12 a 13 anos. Em alguns casos, pode ser necessária a associação com o GH, quando a criança tem baixa estatura devido à aceleração do crescimento precoce. • Algumas reações adversas dos análogos de GnRH devem ser conhecidas e orientadas à família e ao paciente, como: cefaleia, vômitos, sangramento vaginal, sintomas vasomotores e abscesso no local de aplicação da medicação. Existe, ainda, uma fraca associação de análogos de GnRH com obesidade e redução mineral óssea. • Já o tratamento da PP periférica consiste basicamente no manejo da doença de base. Pode ser feito um tratamento clínico com o bloqueio da síntese ou da ação dos esteroides sexuais, através de agentes progestágenos, moduladores dos receptores de estrógenos (como o tamoxifeno), espironolactona (antiandrogênico) ou inibidores da aromatase.
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