Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA Tiago Loyo Aspectos históricos e epistemológicos da matemática Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os aspectos históricos do ensino da matemática. Identificar os aspectos epistemológicos do ensino da matemática. Analisar os aspectos epistemológicos e históricos na constituição do ensino da matemática. Introdução Certamente, a maior parte dos professores de matemática, principalmente do ensino fundamental, já ouviu a pergunta (ainda que retórica): “quem inventou a matemática?”. Mesmo no meio acadêmico matemático, muitos professores não têm resposta para essa questão, e vários deles nunca refletiram sobre os fundamentos da disciplina que lecionam. Se cada professor pensar sobre a matemática desde os primórdios, usando o pensamento filosófico, assim como aquele que inspirou os gregos na era de ouro da matemática, então poderá mostrar aos seus alunos que, apesar de não haver uma resposta direta a essa pergunta, ela pode ser respondida no âmago de cada um. Neste capítulo, você vai conhecer os aspectos históricos e epistemoló- gicos da matemática, e compreender quais influências sociais e históricas nos fizeram chegar à forma de ensinar essa disciplina que conhecemos e utilizamos hoje. Aspectos históricos do ensino da matemática Uma questão que sempre gera divergências entre os matemáticos é se a ma- temática é uma ciência ou uma linguagem. Na verdade, para não se perder em pensamentos fi losófi cos, muitos preferem deixar essa pergunta vagando no espaço de suas mentes. Se a matemática é uma ciência, ela deveria estudar e explicar fenômenos por si mesma; porém, na maior parte da vezes, isso não ocorre. Por outro lado, se considerarmos a matemática como mera linguagem, estaremos desprezando todos os elementos matematicamente naturais, como os prismas de cristais, os espirais de um girassol ou os processos periódicos naturais. Ainda que todos eles necessitem de símbolos lógicos para a sua representação, encerram em si informações de padrões matemáticos. Diante de um assunto tão filosófico e debatido há tantos anos, seria muita pretensão querer encontrar uma resposta aqui. O que importa é que o uso da matemática é inerente ao ser racional: o ser humano. Sem o pensamento matemático, o valor ordenado das letras nessa frase teria pouco sentido, os fenômenos físicos e químicos ocorreriam sem que pudéssemos compreendê-los, e o homem não seria mais que um mero espectador do Universo. A Figura 1 ilustra com bom-humor a “invenção” da matemática. Figura 1. A “invenção” da matemática. Fonte: Andrini e Vasconcellos (2015, p. 20). Para analisar os aspectos históricos do ensino da matemática e as suas mudanças sociais ao longo da história, devemos nos desprender de tudo que Aspectos históricos e epistemológicos da matemática2 sabemos e voltar a pensar no homem da idade das cavernas. De acordo com Eves (2004), as civilizações nômades iniciaram o desenvolvimento da conta- gem por volta de 3.000 a.C. — ou seja, há aproximadamente cinco mil anos. Porém, bem antes dessa fase, não havia linguagem escrita, e as expressões verbais eram extremamente primitivas. [...] a Idade da Pedra durou vários milhares de anos, começando talvez já em 5.000.000 a.C. e indo até por volta de 3.000 a.C. Num mundo de vastas pastagens e savanas onde abundavam os animais selvagens e as pessoas eram principalmente caçadores e colhedores. Suas vidas eram agrestes e difíceis, de maneira que elas viviam demasiado ocupadas e em permanente agitação para poderem desenvolver tradições científicas. Depois de 3.000 a.C. emergem comunidades agrícolas densamente povoadas ao longo do rio Nilo na África, dos rios Tigre e Eufrates no Oriente Médio e ao longo do rio Amarelo na China. Essas comunidades criaram culturas nas quais a ciência e a matemática começam a se desenvolver (EVES, 2004, p. 24). Esse período que antecede 3.000 a.C. (a chamada Idade da Pedra) foi marcado por uma grande evolução cognitiva e, em conjunto com ela, vinha a necessidade de contagem e enumeração de quantidades. Situações como quantidade de crianças na tribo, contagem de gado ou de dias começavam a ser um desafio ao homem naquela época. Segundo historiadores, diversas técnicas que buscavam representar quantidade foram desenvolvidas, como: colocar em uma bolsa de couro uma pedra para cada objeto que se queria quantificar; em uma corda, dar um nó para cada objeto que se queria quantificar; criar marcas lineares em ossos — a técnica mais conhecida e talvez a mais comum. O osso Ishango (Figura 2), por exemplo, data de aproximadamente 20.000 a.C. e traz marcações lineares para unidades. No entanto, segundo historiadores, essas marcações estão agrupadas de forma que podem representar bem mais que unidades simples, talvez um calendário lunar primitivo. 3Aspectos históricos e epistemológicos da matemática Figura 2. Osso Ishango. Fonte: Santos (2016, documento on-line). Observe que os riscos primitivos que representam unidades simples são bem próximos ao nosso usual algarismo 1. Então, será que o homem teria criado a contagem de objetos, ou simplesmente formulado símbolos que a representassem, atendendo a uma demanda de sua época? Talvez a resposta importe pouco, se pensarmos na linha evolutiva do ho- mem, uma vez que essa contagem está tão próxima do seu início que podemos dizer que o homem como ser pensante já surgiu contando. Portanto, a mate- mática é basicamente inerente ao ser humano. Com o advento da escrita, pouco depois de 5.000 a.C., a matemática começou a se tornar mais socializável, já que o pensamento começou a ganhar forma em tábuas de pedra. Dessa forma, não somente para a mate- mática, mas de forma geral, um homem poderia começar a passar os seus conhecimentos a outro de modo mais concreto do que simplesmente pela linguagem verbalizada. Mais especificamente dentro da matemática, os babilônios e os egípcios foram precursores em escrever cálculos matemáticos na pedra e em pergami- nhos, com o objetivo de passar a mensagem a outros. Assim, eles provavel- mente deixaram os primeiros registros do ensino da matemática. A Figura 3 traz o papiro Rhind, um dos mais antigos documentos matemáticos egípcios, que traz soluções para diversos problemas matemáticos. Justamente com o papiro Rhind, o papiro Moscou, encontrados no Egito, são possivelmente os documentos matemáticos mais antigos já encontrados. Na Figura 4, você pode ver a tábua Plimpton 322, de origem babilônica, que também apresenta soluções matemáticas. Aspectos históricos e epistemológicos da matemática4 Figura 3. Papiro Rhind. Fonte: Santos (2015, documento on-line). Figura 4. Tábua Plimpton 322. Fonte: Kelly (2017, documento on-line). Quando avançamos para o período histórico que se inicia aproximadamente no século VI a.C., encontramos na Grécia uma época riquíssima para a ma- temática. Pelo mundo, a matemática como linguagem foi sendo desenvolvida por diferentes civilizações de diversas formas. Assim, encontramos diferen- tes símbolos em várias culturas para representar uma unidade simples, por 5Aspectos históricos e epistemológicos da matemática exemplo. Ainda, algumas culturas utilizavam base decimal, enquanto outras, mais baseadas em astrologia, utilizavam outras bases, como a sexagesimal (base 60). Entretanto, a grandeza dessa disciplina está no fato de que o seu pensamento lógico a torna universal. Uma unidade pode ter símbolos variados em culturas diferentes, mas continua sendo uma unidade. Nesse sentido, os gregos começaram a tratar a matemática não só como ferramenta, como as demais civilizações, mas também como meio de pen- samento lógico, que poderia encerrar em si todas as explicações. Então, os gregos tinham para com essa disciplina um olhar mais filosófico e científico. Não é à toa que a palavra “matemática” vem do grego máthema, que significa ciência, conhecimento ouaprendizagem, e deriva da palavra mathematikós, que significa o prazer de aprender. Portanto, para esse povo, a matemática era a ciência do conhecimento. Na época, muitas culturas mantinham registros matemáticos de como determinar ciclos lunares ou como medir áreas circulares, volumes, entre outros. Porém, todas essas situações sempre estavam de acordo com as suas necessidades práticas. Já os gregos tiveram uma influência enorme nos avanços matemáticos, uma vez que, ao se debruçarem sobre o assunto, desenvolveram- -no além dos limites que o homem da época utilizava. Dessa forma, avanços em diferentes áreas da matemática foram obtidos, mas o mais significativo para o nosso contexto é o surgimento de escolas de matemática — ainda que não da forma como as conhecemos hoje, mas como o seu esboço. Podemos citar Platão e os seus discípulos, ou Pitágoras e a sua “sociedade secreta”: os pitagóricos. Portanto, iniciou-se uma revolução na forma de tratar a matemática, que passou de uma ferramenta simples a uma área de conhecimento, que é re- conhecidamente expansível e a qual o homem reconhece não ter condições de finalizar com a sua vida efêmera. Seria necessário, dessa forma, passar adiante todo o conhecimento acumulado, bem como registrar os avanços para quem nos suceder. Ainda na Antiguidade, por volta do século III a.C. foi fundada no norte do Egito a maior biblioteca da época, e possivelmente a mais importante da história, a Biblioteca de Alexandria. Ela tinha por finalidade reunir obras de todos os continentes e todo o conhecimento da humanidade. Aspectos históricos e epistemológicos da matemática6 Muitos nomes de relevância para a matemática foram bibliotecários em Alexandria, tais como Euclides e Eratóstenes. Eratóstenes foi um matemático egípcio, estudou em Cirene, Atenas e em Alexandria. Ficou conhecido, principalmente, por ter medido a circunferência da Terra com uma pequena margem de erro, utilizando apenas trigonometria simples, baseada na sombra de um pilar e na luz do sol no fundo de um poço. Por volta de 1600 d.C, ou seja, aproximadamente 800 anos depois, Galileu Galilei afirmou que a Terra era redonda. Apesar da sua enorme importância, não vamos nos ater neste capítulo aos avanços matemáticos da Idade Média, deixando a cargo do leitor os aprofun- damentos na história da matemática. A História da Matemática é um campo que permite que o professor elabore sua concepção referente à disciplina, assim como colabora para a organização de abordagens pedagógicas que poderão contribuir no processo de ensino aprendizagem. Com o estudo da História da Matemática se pode analisar a construção das noções básicas dos conceitos matemáticos, com isso o aluno revive suas descobertas e aumenta a sua compreensão do conteúdo sem a necessidade de memorização de suas definições. O uso dos fatos históricos na sala de aula proporciona um melhor entendimento dos alunos no que diz respeito à dimensão histórica dos assuntos envolvidos, despertando assim o interesse dos alunos, motivando-os ainda mais a buscar o conhecimento. O professor precisa despertar nos alunos o aspecto investigativo para que ele próprio busque alternativas para resolver problemas, propiciando assim que os alunos desenvolvam o senso crítico, colaborando para que, se forme cidadãos mais críticos e conscientes do seu papel na sociedade contemporânea, o que faz com que se tenha uma possibilidade mais evidente de êxito na construção do conhecimento (OLIVEIRA, 2014, p. 2). O trecho citado vem reforçar a sugestão dos PCNs para a educação básica, no que tange ao auxílio na compreensão e memorização dos conteúdos. Dessa forma, a construção do conhecimento por parte do aluno passa a ter mais significado quando acontece por meio de um processo investigativo e crítico. 7Aspectos históricos e epistemológicos da matemática Alguns dos grandes matemáticos gregos são Tales de Mileto, Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Euclides, Apolônio e Eratóstenes. Na Idade Média, exemplos de grandes matemáticos são Kepler, Galileu Galilei, Newton, Fermat, Euler, Gauss e Fibonacci. Aspectos epistemológicos do ensino da matemática O ramo da fi losofi a que estuda a natureza do conhecimento é chamado de epistemologia. Esse termo foi utilizado pela primeira vez pelo fi lósofo escocês James F. Ferrier, e é composto pelos conceitos de episteme e logos. O primeiro signifi ca conhecimento, enquanto o segundo corresponde a palavra (ainda que os sentidos mais utilizados sejam o de estudo ou ciência). Dentro do ensino da matemática, há diversas correntes metodológicas, que podem ser vistas como tendências em educação matemática. Os aspectos epis- temológicos do ensino da matemática formam um conjunto dessas tendências, englobando aquelas que tratam as teorias da educação matemática e o uso da própria educação matemática como campo científico. O construtivismo radical, as teorias da psicologia e a filosofia da educação também fazem parte desse grupo. A epistemologia e a história esclarecem aspectos relacionados à complexidade dos conceitos e suas relações entre si. Essas considerações devem iluminar discussões curriculares e constituem uma fonte de hipóteses para as investi- gações psicológicas e pedagógicas (CAMPOS; NUNES, 1994, p. 6). Os aspectos epistemológicos e históricos para a educação matemática buscam teorizar os conhecimentos matemáticos. Dessa forma, essa corrente busca fazer com que o professor tenha os conhecimentos históricos como alicerce para uma teorização e aplicação baseada no amplo conhecimento do conteúdo a ser abordado. Logo, o professor teria uma base concreta para ter a segurança necessária à produção de novos conhecimentos e de investigações temáticas, e ao desen- volvimento de aplicações pedagógicas do tema. Campos e Nunes (1994) acreditam que essa perspectiva epistemológica coloca como questão essencial o papel assumido pelo professor. Salientamos Aspectos históricos e epistemológicos da matemática8 que o professor deve assumir um papel de grande significado nessa prática, em que a sua experiência e a forma como ele a transmite serão o principal norteador de como se dará a sua prática pedagógica em sala de aula. Quando um professor decide seguir determinada prática pedagógica com o objetivo de facilitar a absorção do conhecimento por parte dos seus discentes, ele está se apoiando — ainda que de forma subconsciente — na sua bagagem epistemológica, que seria o conjunto de suas convicções, seus saberes e suas experiências enquanto aluno. É justamente no reforço e na ampliação dessa bagagem que se estruturam os aspectos epistemológicos da educação matemática. Para a plena aplicação das práticas epistemológicas, o professor precisará dominar o conhecimento pedagógico do assunto, bem como o conhecimento matemático relacionado. Dentro do conhecimento pedagógico, o professor precisará conhecer os métodos de ensino e aprendizagem relacionados ao tema, ter empatia para com os alunos, assim como carisma, que não pode ser desconsiderado como característica importante ao bom locutor. Já o conhecimento matemático servirá de base para o professor construir estratégias para a aplicação e o desenvolvimento do conteúdo. Dessa forma, dominar cada conteúdo é fundamental para conhecer os caminhos e as pos- sibilidades a serem tomadas dentro da realidade de cada aluno ou turma. A construção do processo de ensino da matemática ao longo da história Tomando como base a interação entre conhecimento e domínio do conteúdo, para consequente refl exão e aplicação, usaremos como base a história da matemática e o desenvolvimento de cada processo de ensino/aprendizagem para a construção do pensamento fi losófi co e matemático. Vimos que o processo de ensino da matemática passou por diferentes fases e formas ao longo da história de diferentes civilizações. Gomes (2005) escreve que, além dos grandes nomes para essa disciplina, a cultura grega, no período chamado cosmopolita,trouxe a separação entre os estudos das áreas do conhecimento. Os que podiam pagar estudos já o faziam com mestres ou tutores. Havia também grupos que se reuniam para promover estudos de determinadas áreas, como os pitagóricos. Além disso, os primeiros registros históricos deram início à propagação do conhecimento, e a datação e referência a feitos e descobertas passou a ser mais precisa. 9Aspectos históricos e epistemológicos da matemática Outro fator importante para todo esse registro foram os Elementos de Euclides, uma coletânea de livros nos quais Euclides de Alexandria juntava todo o conhecimento matemático da humanidade até aquele momento. De acordo com Gomes (2005), todo esse avanço grego se viu interrompido por volta do século V d.C., quando os bárbaros tomaram Roma. Na verdade, bem mais que interrompido, o conhecimento histórico acumulado até ali quase foi totalmente destruído. Nesse período, os mosteiros católicos eram praticamente a única forma de propagação e ensino de matemática. Porém, a forma de educação cristã da época não estimulava a filosofia e o pensamento criativo, sendo um grande inibidor da ciência e da sua evolução. Essa forma de conceber o ensino é uma antítese ao pensamento grego, e isso também foi fundamental para a “estagnação” do desenvolvimento matemático por séculos. Nos séculos seguintes, a educação voltou a se expandir, e a ciência se tornou popular, principalmente entre os nobres. Dessa forma, surgiram os grandes nomes da matemática da Idade Média. Com a Idade Moderna, vieram algumas constatações reflexivas sobre a educação, entre elas o fato de que a educação secundária estava divergente na sociedade industrial que despertava mundo afora. Houve então uma necessidade de aprimoramento dos professores, bem como de ampliação do quadro para a educação pública. Dessa forma, iniciou-se o pensamento e o aprimoramento da educação matemática, um movimento internacional de renovação e modernização. No início do século XX, esse processo ganhou espaço no Brasil com o movimento da Escola Nova. No nosso país, um marco importante da modernização da educação foi a unificação das matemáticas. Até então, tínhamos as três principais áreas da matemática divididas como diferentes disciplinas: álgebra, aritmética e geometria. Assim, para ser aprovado em matemática, um aluno precisaria ser aprovado em três disciplinas, com exames e notas diferentes. Os reflexos dessa mudança podem ser notados na cultura escolar e em muitos livros até os dias atuais, uma vez que cada professor tinha uma área de preferência. Dessa forma, professores de álgebra e aritmética tinham uma maior dificuldade nos temas geométricos. Então, muitos livros lançados nas décadas seguintes deixavam de abordar conteúdos de geometria, ou os traziam nos últimos capítulos, nos quais os professores quase nunca conseguiam chegar ao longo do ano letivo. Na década de 1950, com os avanços da corrida espacial, muitos países da Europa viram a necessidade de investir no ensino de matemática, a fim de não ficarem para trás em termos de avanços científicos. Seguindo esse mesmo Aspectos históricos e epistemológicos da matemática10 impulso, o Brasil precisou aproveitar o crescimento econômico para entrar nessa corrida. Por volta da década de 1960, teve início no país o Movimento da Matemática Moderna. Para saber mais sobre esse movimento, acesse o artigo O Movimento da Matemática Moderna no Brasil: encontro de certezas e ambiguidades (BÚRIGO, 2006) no link ou código a seguir. https://goo.gl/2FmZUG Esse movimento tinha como principais objetivos a consolidação da unifi- cação das três matemáticas, a ênfase na precisão, formalização da Matemática e no método de expressar a linguagem matemática, e a modernização do ensino de 1º e 2º grau (Ensino Fundamental e Ensino Médio), por meio de um processo algébrico rigoroso e abstrato. Além disso, introduziu elementos de teoria dos conjuntos no currículo básico. O uso da história da matemática para o ensino dessa disciplina é uma tendência moderna — mais especificamente dos dias atuais, com o uso da tendência epistemológica, que visa à associação direta do uso da história. Segundo os PCNs: Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitu- des e valores mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático. Além disso, conceitos abordados em conexão com sua história constituem- -se veículos de informação cultural, sociológica e antropológica de grande valor formativo. A História da Matemática é, nesse sentido, um instrumento de resgate da própria identidade cultural. Em muitas situações, o recurso à História da Matemática pode esclarecer ideias matemáticas que estão sendo construídas pelo aluno, especialmente para dar respostas a alguns “porquês” e, desse modo, contribuir para a constituição de um olhar mais crítico sobre os objetos de conhecimento (BRASIL, 1997, p. 34) 11Aspectos históricos e epistemológicos da matemática Como já foi citado, a associação dos conteúdos com a história da mate- mática traz consigo a reflexão sobre as necessidades humanas que fizeram despertar aquele conhecimento. Além disso, permite reflexões filosóficas com base naquele contexto histórico-social, associado ao conteúdo e às suas aplicações nos dias atuais. Dessa forma, podemos concluir como sendo de grande importância reflexiva o uso das tendências histórico-epistemológicas na educação matemática, que se apropria da experiência e do conhecimento do professor para fazer com que o aluno reflita e possa criticar todo o processo de construção do conhecimento matemático. Essa tendência gera ainda uma experiência bem mais significativa ao aluno, que passará a ter também uma bagagem e um repertório mais amplos sobre cada conteúdo estudado. 1. De acordo com os PCNs, a história da matemática é capaz de estimular alguns conceitos nos alunos (BRASIL, 1997). Entre esses conceitos, podemos destacar: a) conceitos abordados em conexão com a sua história, que se constituem como veículos de informação cultural, sociológica e antropológica de grande valor formativo. b) conceitos de álgebra linear, já que todo conhecimento algébrico é calçado na história da matemática. c) conceitos relacionados única e exclusivamente às competências que devemos desenvolver com os alunos em sala de aula. d) conceitos complexos relacionados à construção e demonstração dos teoremas e postulados elaborados por antigos matemáticos. e) conceitos simples do conteúdo matemático, tendo em vista que os assuntos mostrados a partir da história são os mais elementares, não permitindo, com isso, abordar a matemática mais profunda. 2. Eratóstenes, um dos bibliotecários da Biblioteca de Alexandria, por volta de 200 a.C., utilizando uma matemática simples, fez uma grande contribuição à ciência. O que ele determinou de forma aproximada? a) A circunferência da Terra. b) O volume de água presente no rio Nilo. c) O volume da Pirâmide de Quéops. d) A massa da Terra. e) A distância da Terra à Lua. 3. Podemos resumir o Movimento da Matemática Moderna no Brasil como: a) um movimento preocupado com o excesso de informação que nossos alunos vinham Aspectos históricos e epistemológicos da matemática12 tendo, propondo desta forma um conteúdo mais simplificado, para que todos pudessem acompanhar. b) um ensino baseado nas aplicações da matemática na área computacional, tendo em vista que os primeiros computadores pessoais começaram a surgir logo após a II Guerra Mundial. c) o conteúdo matemático baseado apenas em movimentos políticos, voltados à democracia, pois não se suportava mais tanta repressão por parte dos militares. d) a formalização da matemática e a introduçãode elementos baseados na teoria dos conjuntos, dando ênfase à precisão e ao rigor matemático. e) a substituição gradual dos professores presenciais por módulos de aula EaD. 4. Temos hoje a matemática como uma disciplina única, composta por suas subáreas de forma unificada para a Educação Básica. Essa unificação ocorreu no Brasil como parte de um processo de modernização do currículo. Quais eram as disciplinas que foram unificadas para compor nossa atual matemática? a) Álgebra e aritmética. b) Álgebra, aritmética e geometria. c) Aritmética e geometria. d) Álgebra e geometria. e) Álgebra e trigonometria. 5. Quais são os nomes dos primeiros documentos egípcios que relatam a existência da matemática nessa região do mundo? a) Pergaminho luso e papiro de Moscou. b) Papiro de Moscou e tábua algébrica. c) Pergaminho luso e tábua algébrica. d) Papiro de Rhind e papiro de Moscou. e) Tábua Plimpton e tábua de logaritmos. ANDRINI, Á.; VASCONCELLOS, M. J. Praticando matemática. São Paulo: Editora do Brasil, 2015. (6º ano). BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília: MEC, 1997. CAMPOS, T. M.M.; NUNES, T. Tendências atuais do ensino e aprendizagem da mate- mática. Em Aberto, Brasília, v. 14, n. 62, p. 3-7, 1994. EVES, H. Introdução à história da matemática. São Paulo: Unicamp, 2004. 13Aspectos históricos e epistemológicos da matemática GOMES, E. B. A história da matemática como metodologia de ensino da matemática: pers- pectivas epistemológicas e evolução de conceitos. 2005. 120 f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática) – Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemática, Universidade Federal do Pará, Belém, 2005. KELLY, A. Trigonometria em tablete de 3.700 anos da Babilônia. Pesquisa FAPESP, São Paulo, ed. 259, set. 2017. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/09/22/ trigonometria-em-tablete-de-3-700-anos-da-babilonia/>. Acesso em: 06 set. 2018. OLIVEIRA, V. C. A história da matemática e o processo de ensino aprendizagem. In: ENCONTRO REGIONAL DE ESTUDANTES DE MATEMÁTICA DA REGIÃO SUL, 20., 2014, Bagé. Anais... Bragé: UNIPAMPA, 2014. SANTOS, J. A matemática no continente Africano: o osso de Ishango. 2016. Disponível em: <https://www.matematicaefacil.com.br/2016/07/matematica-continente-africano- -osso-ishango.html>. Acesso em: 06 set. 2018. SANTOS, J. Os papiros da matemática egípcia: o papiro de Rhind ou Ahmes. 201. Dis- ponível em: <https://www.matematicaefacil.com.br/2015/11/papiros-matematica- -egipcia-papiro-rhind-ahmes.html>. Acesso em: 06 set. 2018. Leituras recomendadas BOYER, C. B. História da matemática. São Paulo: Edgard Blücher, 1996. BÚRIGO, E. Z. O movimento da matemática moderna no brasil: encontro de certezas e ambigüidades. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 6, n. 18, p. 35-47, maio/ago. 2006. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/ article/view/3226/3136>. Acesso em: 06 set. 2018. MACIEL, W. Epistemologia. [2018?]. Disponível em: <https://www.infoescola.com/filo- sofia/epistemologia/>. Acesso em: 06 set. 2018. WIGNER, E. The unreasonable effectiveness of mathematics in the natural sciences. 1960. Disponível em: <http://www.dartmouth.edu/~matc/MathDrama/reading/Wigner. html>. Acesso em: 06 set. 2018. Aspectos históricos e epistemológicos da matemática14 Conteúdo:
Compartilhar