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1 Dispepsia e Helicobacter pylori Caso clínico Janete, 56 a, queixa-se de queimação no estômago há 4 meses, iniciada pouco após o falecimento do seu marido. Relata ainda distensão abdominal e plenitude pós-prandial associada ao quadro. Nega disfagia, sangramento digestivo ou história familiar de neoplasia gástrica. Nega outras comorbidades. Nega uso crônico de medicações. Tabagista. Nega etilismo. Sinais Vitais: PA 125x70 mmHg; FC 84 bpm; FR 16 ipm; SpO2 99% em ar ambiente. Peso 70 kg e altura 1,65m; IMC 25,7 kg/m2. Exame físico: bom estado geral, sem sinais de desnutrição. Semiologia respiratória, cardiovascular e abdominal sem alterações. A queixa de distensão abdominal e plenitude pós-prandial é CLÁSSICA. No caso: o tabagismo como fator que destrói as defesas da mucosa gástrica. Paciente estável, não é obeso, exame físico sem alteração. Em queixas do TGI superior, principalmente de queimação o primeiro exame necessário (de escolha) é a endoscopia digestiva alta. Na endoscopia do caso: Diagnóstico de pangastrite erosiva moderada e teste da urease positivo. Para o teste da urease, o médico pega um pedaço de mucosa, desde a porção do antro e coloca em um frasco. Se a urease mudar de cor, é positivo. A bactéria H. pylori degrada a urease. Na endoscopia estamos vendo o piloro, com raras erosões (hiperemias) associada com edema da prega da mucosa provocando uma gastrite erosiva. Nessa imagem não mostra fundo, apenas antro e o corpo que denota uma pangastrite erosiva moderada. ‘Pan’gastrite quer dizer total, então pelo menos 2 estruturas do estômago são acometidas. Dispepsia: Sensação de dor ou desconforto esporádico ou persistente na parte superior do abdome. (Não quer dizer somente o paciente tendo queimor, epigastralgia, dor tipo cólica). É aquele paciente que tem má digestão, queimação leve, regurgitação. Dificuldade da digestão (desconforto pós-prandial) Não é gastrite. É uma entidade clínica e gastrite é uma entidade histológica. Dispepsia = sinal clínico. Prevalência de 30 a 40% na população 70% é funcional - não está relacionada com patologia, causa mais comum; Excesso de café, extrato de tomate, bebida alcoólica, chocolate, ingere muito ácido, não bebe muito líquido, não faz atividade física = comportamento inadequado no dia-a-dia. Nesses casos, o médico ‘revira’ o paciente e não encontra nada dos exames que justifique a dor do indivíduo. 30% outras causas orgânicas como DRGE, úlcera péptica gastroduodenal, gastrite erosiva – agravam o quadro da dispepsia. Nesses casos, você pode dar um esomeprazol para o paciente, ele terá um alívio dos sintomas do refluxo, mas não terá um alívio dos sintomas dispépticos, muitas vezes porque não está fazendo as mudanças comportamentais. 2 Fatores de risco: Idade (criança tem DRGE, porém é raro ter dispepsia antes dos 15 anos, devido a fatores comportamentais) Tabagismo Etilismo Ingestão abusiva de sal e conservantes Uso de medicamentos (AINEs) Classificação: investigada e não investigada Não investigada: ocorre na rede pública, por conta da demora da autorização dos exames. (opinião professor). Investigada: 1 – Orgânica 2 – Funcional 3 – Relacionada a H. Pylori (um problema devido a não detecção do patógeno, porém resolver com tratamento). Ex: paciente na endoscopia com urease negativa, biópsia negativa e continua com sintomas. Após o tratamento para a bactéria, resolve o problema. Obs: Intolerância à lactose e ao glúten estão aumentando no decorrer do tempo, o que pode ser confundido com alguns quadros do TGI. Distúrbios: Dispepsia tipo refluxo com endoscopia digestiva alta normal (vê esofagite sem erosão) – DRGE não erosiva, nesse caso usa-se inibidor de bomba de prótons por 1 mês para resolver o problema. Náuseas e vômitos – Distúrbios de náuseas e vômitos funcionais decorrente dos maus hábitos, nesse caso tratar com pró cinético como domperidona, bromoprida (ação periférica), ondansetrona ou metoclopramida (ação central) para ajudar na peristalse esofágica e gástrica, melhora, mas não resolve. Lesões causadas por medicamentos não devem ser denominadas como dispepsia, se tirar o medicamento melhora. Causas da dispepsia: Doença biliar: colelitíase – paciente relata dor tipo cólica, má digestão, plenitude pós-prandial, queimação pedir ultrassom e endoscopia. Gastrite e duodenite: devido a hipersecreção de ácido clorídrico do estômago com a redução da proteção gástrica pelo bicarbonato e muco na mucosa. 3 Diabetes Mellitus: provoca desnervação principalmente a periférica, esclerose de microvasos (cegueira, problemas renais). A motilidade gástrica através do SNC é controlada e conduzida pelo nervo vago, e no DM pode ocorrer a gastroparesia diabética. Nesse caso, o paciente vai ter queixa de distensão abdominal e plenitude pós- prandial. *Sinal de Murphy é para colecistite, inflamação da vesícula. No ultrassom - líquido perivesicular e edema de parede vesicular. DM e tireoidopatias são as mais importantes. Sinais e sintomas de alerta: quando presentes implicam em fazer endoscopia de início, pensar em neoplasia. -Neoplasia de esôfago. -Anemia por deficiência de ferro por conta de câncer. Critérios diagnósticos para dispepsia funcional: **Pode ser chamada de síndrome do intestino irritável Critérios de Roma IV (International Rome Committee IV – 2016) 1 ou mais dos seguintes sintomas: Sensação incomoda de plenitude pós-prandial Saciedade precoce Dor epigástrica Queimação epigástrica Nenhuma evidência de doença estrutural (inclui endoscopia) que explique os sintomas. Os critérios devem ser totalmente preenchidos por 3 meses Início dos sintomas deve ocorrer pelo menos 6 meses antes do diagnóstico Os sintomas devem interferir nas atividades diárias No Brasil: afastar parasitoses intestinais Pesquisa de ovos e larvas Dispepsia funcional se divide em: Síndrome do desconforto pós-prandial (pelo menos 3 x por semana) Síndrome da dor epigástrica (pelo menos 1 x por semana) Dispepsia funcional: Certificar-se que os sintomas são restritos ao trato digestivo alto 4 Afastar uso de AINES e medicamentos Caracterizar como DRGE, quando os sintomas forem compatíveis Se idosos e se for possível, indicar endoscopia Pode vir acompanhada de outras desordens funcionais – síndrome do intestino irritável São doenças reais de causa multifatorial Dismotilidade do aparelho gastrointestinal (comum em diabéticos) Hipersensibilidade visceral Alterações psicológicas (stress) Hipersecreção gástrica Infecção por H. pylori Irritantes da mucosa gastrointestinal Pós- infecção Fatores genéticos Eosinofilia duodenal Diagnóstico Diferencial: Alergia alimentar Hipersensibilidade ao glúten Intolerância à lactose Diagnóstico: História, exame físico e uso criterioso de exames complementares Pacientes jovens e sem sinais de alarme: exames laboratoriais são desnecessários, prova terapêutica (inibidor de bomba de prótons) Idade maior que 45 anos: dosagem de amilase (pancreatite aguda), anticorpos para doença celíaca, pesquisa de ovos e parasitas nas fezes, teste de gravidez, endoscopia digestiva alta Pesquisar e tratar o Helicobacter pylori em pacientes com dispepsia (test and treat) Realização de testes não invasivos Pacientes jovens (< 40 anos) Sem sinais de alarme Sem história familiar de câncer gástrico Teste de escolha para o diagnóstico e controle de tratamento – teste respiratório com ureia C13 Melhor custo benefício em relação a endoscopia Pode economizar em 30% os exames de endoscopia (não é a opinião do professor, por ele sempre pedir endoscopia, no dia a dia; para prova lembrar do teste respiratório) 5 Orientações Iniciais: Orientar sobre a não gravidade do diagnóstico É uma doença muito comum É uma doençacrônica, com períodos de melhora e piora Não existe uma causa específica que cause a doença Não é uma alergia alimentar, mas pode existir alimentos que piore a doença (lactose por exemplo) Tratamento: Suspender AINEs e irritantes da mucosa gastrointestinal (fármacos para depressão e ansiedade) Cessar tabagismo e etilismo (muito difícil) Avaliar necessidade de psicoterapia e terapia farmacológica (associação dos sintomas dispépticos e fatores emocionais, antidepressivos tricíclicos e inibidores da receptação da serotonina) Tratamento empírico de parasitoses intestinais Erradicar H. pylori Inibidor de bomba de prótons (superior ao bloqueador H2) ex: omeprazol, pantoprazol. Dose plena Duração de 1 a 2 meses Bom para refluxo, dor epigástrica, não tão efetivo para retardo do esvaziamento gástrico. Pró-cinético 2 – 4 semanas Ajuda na distensão e plenitude pós-prandial Medidas comportamentais são IMPRESCÍNDÍVEIS! Helicobacter pylori Bactéria gram negativa espiralada Desencadeia processo inflamatório agudo e subsequente evolução para inflamação crônica Afeta aproximadamente metade da população mundial (problema no futuro) Relação inversa com a situação socioeconômica A infecção é, em geral, adquirida na infância A transmissão ocorre principalmente via oral-oral e oral-fecal Coloniza apenas a mucosa gástrica Capacidade de produção de urease e de alcalinização do seu microambiente – permite sobreviver em meio ácido (colonizada no antro) Fatores que aumentam a patogenicidade: produção de urease e catalase, presença de flagelos e adesinas Dificilmente ocorre eliminação espontânea da bactéria A maioria das pessoas é assintomática, mas uma pequena parcela da população pode desenvolver uma úlcera péptica, linfoma tipo MALT e câncer gástrico. 6 A erradicação da bactéria previne a recidiva da úlcera, pode curar o linfoma gástrico MALT de pequeno grau e prevenir o câncer gástrico. Paciente com úlcera gástrica e H. pylori, primeiro tratar a úlcera. Sua erradicação pode causar efeitos colaterais (flora intestinal) Probióticos podem ajudar (nível C indo para B de evidência). Doenças associadas: Gastrite aguda e crônica Úlcera gástrica Úlcera duodenal Linfoma MALT de baixo grau Adenocarcinoma gástrico Depende da resposta imune do hospedeiro, da virulência da cepa e da interação de ambos. Diagnóstico: O uso de IBPs deve ser descontinuado por 2 semanas antes da realização de testes diagnósticos para a infecção por H. pylori, exceto a sorologia. O uso de antibióticos e sais de bismuto deve ser descontinuado por 4 semanas antes destes testes diagnósticos. Quais as indicações de erradicação do H pylori: Gastrite atrófica = atrofia das pregas da mucosa. Gastrite miconodular, parece paralepípedo. Tratamento: Controle da erradicação: Pelo menos após 4 semanas Teste respiratório ou pesquisa de antígeno fecal Testes moleculares para avaliar a resistência a antimicrobianos após falha ao 2º ou 3º tratamento 7 E se não erradicar o H. pylori? Caso tenha alergia a levofloxacino, usar bismuto (terapia quádruplo) ou sem bismuto.
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