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Lara Torres Pinto Brito – 6º SEMESTRE DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO INTRODUÇÃO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Deslocamento, sem esforço, do conteúdo gástrico para o esôfago; Ocorre normalmente várias vezes ao dia (30 – 50 episódios/dia); Se não houver sintomas e nem lesão endoscópica: fisiológico. Essa é uma condição dita normal porque o esôfago se comunica com o estômago e não é hermeticamente fechado. O esfíncter esofagiano inferior, por mais competente que seja, não impede totalmente a passagem de alimentos. DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) Sintomas ou lesão de mucosa; Alta prevalência. A doença do refluxo vem quando o paciente tem sintomas e/ou lesão de mucosa. Isso porque o paciente pode ter sintomas de refluxo sem necessariamente tem lesão de mucosa. É possível que o paciente tenha DRGE sem achados de esofagite na endoscopia, mas na presença de sintomas típicos compatíveis com a doença. A endoscopia não é exame para diagnosticar DRGE. Isso porque o paciente pode ter DRGE e não ter alterações endoscópicas. Sua função vai ser pesquisar outras doenças ou investigar complicações decorrentes do DRGE. DRGE Evolução crônica: uma vez que esse paciente tem DRGE, é provável que a tenha para a vida inteira. Sendo possível passar períodos assintomáticos quando a doença está controlada Recorrência frequente Alto impacto na qualidade de vida Boa resposta ao tratamento: o tratamento clínico sozinho não é suficiente, é preciso associar a MEV. A dispepsia é um diagnóstico sindrômico – Síndrome Dispéptica –, ou seja, é um conjunto de sinais e sintomas. Um desses sinais e sintomas que compõem o quadro clínico da síndrome dispéptica é a pirose/azia. Uma das causas de pirose é a DRGE. Desse modo, está incluída como um dos diagnósticos etiológicos possíveis no paciente dispéptico. ETIOLOGIA O esôfago está altamente preparado para lidar com o refluxo fisiológico que acontece diariamente, para isso possui uma série de mecanismos de defesas que, ao falharem, podem ser responsáveis por transformar o processo fisiológico em algo patológico (DRGE). Ao final do esôfago, em sua transição com o estômago, existe um ponto de hipertonia (o EEI) que coincide com o ponto em que o esôfago está atravessando o diafragma (o esfíncter externo), que por si só também aperta por fora. Esses dois componentes – ponto de hipertonia + diafragma – formam o esfíncter esofagiano inferior que é um mecanismo de continência do conteúdo do estômago para o esôfago. A peristalse do esôfago está preparada para quando o conteúdo do estômago subir, mandar descer. Além disso, o epitélio esofágico é estratificado com células unidas que impedem que o conteúdo gástrico atinja camadas mais internas. Existe produção de muco protegendo as células do epitélio do esôfago. Entretanto, se houver lesão dessas células por conta do conteúdo gástrico, o epitélio tem alta capacidade de regeneração. Ou seja, quando há lesão, o epitélio se regenera impedindo que haja erosão/esofagite. Portanto, a doença vai surgir por dois mecanismos: aumento da agressão e/ou diminuição da defesa. Lesões da mucosa por contato com conteúdo gástrico Falhas na defesa do esôfago • Esfíncter interno (EEI), esfíncter externo (diafragma) • Pressão intra-gástrica aumentada • Secreção gástrica • Depuração do ácido no esôfago • Diminuição da resistência do epitélio (álcool, tabaco, AINES) • Anomalias anatômicas – hérnia de hiato • Alimentos e bebidas (chocolate, frutas cítricas, café, bebidas gaseificadas) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas tem a ser muito variáveis, podendo ser divididos em: típicos, atípicos e extra-esofágicos. TÍPICOS Outra manifestação típica é a regurgitação, sensação de que há algo subindo pela garganta até a boca. Pode, inclusive, sentir um gosto metálico porque, de fato, o conteúdo está retornando. Pode piorar após as refeições, devido ao aumento da pressão intra-gástrica, e quando o paciente deita, devido à ação da gravidade. Na presença dos sintomas típicos, o diagnóstico de DRGE está feito sem a necessidade de exames complementares. A necessidade de exames complementares vai depender do que mais o paciente apresenta. Em caso de presença dos sinais de alarme, por exemplo, talvez seja necessário um exame complementar como a endoscopia. Entretanto, não para fazer o diagnóstico de DRGE, mas para diagnosticar suas complicações. Atípicos e extra-esofágicos • Tosse crônica, rouquidão, faringite, bronquite, asma de difícil controle, pigarro, globus, roncos, laringite, sinusite, alterações dentárias • Podem ser os únicos sintomas Esses sintomas atípicos podem ocorrer porque na DRGE o conteúdo regurgitado passa, também, pela orofaringe que é uma região anatômica de comunicação do sistema respiratório com o digestório. Com isso, do mesmo modo que causa irritação da mucosa digestória, pode causar irritação da mucosa respiratória. MANIFESTAÇÕES DE ALARME São sintomas que, quando presentes, podem indicar complicações decorrentes da DRGE. Se o paciente possui histórico familiar de CA de esôfago/estômago e a idade devem ser considerados como sinal de alarme. DRGE e dispepsia de modo geral acometem pessoas mais jovens. Existe uma idade depois da qual, se iniciar a dispepsia, começa a aumentar o risco de CA. No Brasil, essa idade de risco é de 40 anos. Na presença de sinais de alarme é preciso fazer investigações a mais, seja para identificar suas complicações ou alguma doença que esteja se disfarçando de DRGE. DIAGNÓSTICO Sintomas clássicos (pirose e regurgitação) permitem diagnóstico presuntivo sem a necessidade de exames complementares. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) Indicada na pesquisa de outras doenças, para gravidade da doença ou em casos de complicações. Pacientes de longa data - com mais de 5 anos de sintomas – pode fazer metaplasia de intestino, sendo necessário investigar a presença dessa complicação por meio da EDA. Pirose Regurgitação Piora pós- refeição e em decúbito Pirose: dor epigástrica em queimação que pode irradiar para a região retroesternal. Azia: definida apenas como a dor epigástrica em queimação. A DRGE é típica de causar dor epigástrica em queimação que pode, ou não, subir para a região retroesternal. Pirose/azia fazem parte do espectro clínico da síndrome dispéptica. Odinofagia Disfagia Sangramento Anemia Perda ponderal Esofagograma • Não é indicado de rotina e está em desuso; • Mais indicado em casos de disfagia e odinofagia. O paciente ingere um contraste e faz radiografias para observar a passagem do contraste pelo esôfago. É um bom exame para pesquisa de tumores. MANOMETRIA ESOFÁGICA Detecta as pressões dentro do esôfago. Dentro da DRGE possui indicações muito restritas: Paciente com DRGE grave (síndrome de Crest); Sem melhora com tratamento; Pré-operatório da cirurgia da DRGE (fundoplicatura) – comprovar onde está o EEI e que existe sua frouxidão. Phmetria prolongada Pode ser feito com ou sem impedância; mas com impedância é melhor porque consegue visualizar o refluxo alcalino. É considerado “padrão-ouro” para a DRGE; porém nem sempre é indicado porque o diagnóstico é clinico. Pode ser indicado: Sintomas típicos sem resposta ao tratamento Manifestações atípicas sem esofagite na EDA Pré-operatório TESTE TERAPÊUTICO A partir do diagnóstico presuntivo (história clinica + exame físico) é prescrito o tratamento, orienta MEV e observa se há melhora do quadro. Em caso positivo, está feito o diagnóstico de DRGE. Situação em que está autorizado fazer o teste terapêutico: < 40 anos; Presença de sintomas típicos; Ausência de sinais de alarme.COMPLICAÇÕES ESÔFAGO DE BARRET É a metaplasia intestinal. Ou seja, quando há a substituição do epitélio escamoso esofágico por epitélio colunar intestinal, mais resistente. Epitélio estratificado >> epitélio colunar É considerado como uma LESÃO PRÉ MALIGNA porque aumenta 30-125 X mais risco de CA. Não deixa de ser uma alteração genética porque a célula estava preparada para ser uma célula do epitélio estratificado, mas sofreu uma indução genética que faz com que se diferencie em célula de epitélio colunar. Porém, enquanto ela é uma célula de epitélio colunar saudável, sem mutações – apesar de estar no lugar errado – é chamada de metaplasia; mas dentro da área de metaplasia podem ocorrer mutações atípicas/patológicas, ocorre a displasia que aumenta a chance de câncer. Quanto mais tempo de doenças e sua gravidade, maiores a chances de desenvolver esôfago de Barret. E, uma vez presente, é necessário fazer EDAs frequentes para monitorar a displasia. Vigilância endoscópica (2-3 anos. 6 meses se displasia) Alteração que pode ser vista macroscopicamente. A mucosa saudável é rosa e a metaplásica apresenta-se avermelhada. ÚLCERA PÉPTICA Alerta em casos de sangramento, hemorragia, etc, que devem ser questionados na anamnese (sinais de alarme). ESTENOSE Raro por conta do tratamento com IBP. Acontece por conta do excesso de agressão química que faz estenose do lumen esofágico, causando disfagia. TRATAMENTO É composto por medidas comportamentais + farmacoterapia. COMPORTAMENTAIS Elevação da cabeceira da cama (15cm) Moderar a ingestão dos seguintes alimentos na dependência de correlação com sintomas: gordurosos, cítricos, café, bebidas alcoolicas, bebidas gasosas, menta, hortelã, produtos a base de tomate, chocolate Cuidados especiais com medicamentos potencialmente “de risco”, como colinérgicos, teofilina, bloqueadores do canal de cálcio, alendronato Evitar deitar-se nas duas horas posteriores as refeições Evitar refeições copiosas Suspensão do fumo Redução do peso corporal em obesos FARMACOLÓGICO Antiácidos: não diminuem a produção de ácido, mas combatem sua ação elevando o pH. Não age na gênese do problema, uma vez que o ácido já foi produzido, devem ser utilizados nos momentos de dor. Bloqueadores dos Receptores H2 da Histamina / IBP: inibem a produção de ácido gástrico. Procinéticos: atuam melhorando a peristalse e, consequentemente, estimulando o esvaziamento gástrico e diminuindo a pressão intra-gástrica. O ácido clorídrico é produzido pelas células parietais que respondem a três tipos de estímulo: 1. Gastrina 2. Histamina 3. Estímulos neurológicos Esses três estímulos possuem um efeito comum: ativam uma proteína transmembrana da membrana apical da célula parietal. Essa proteína pega o hidrogênio + 1 próton e joga na luz do estômago, onde o hidrogênio se combina com o cloro, formando o ácido clorídrico = bomba de prótons. Os IBPs tendem a ser a classe mais eficaz porque, independente dos 3 estímulos, vai diminuir a produção de ácido. CIRURGIA FUNDOPLICATURA É realizada como exceção. Está indicada para: • Pacientes jovens (<40 anos) que não desejam terapia farmacológica por tempo ilimitado • Impossibilidade de tratamento clínico • Falha do tratamento clínico (?) ODINOFAGIA X DISFAGIA - Odinofagia: dor ao deglutir. - Disfagia: qualquer anormalidade no processo de deglutição que não necessariamente seja dor. Quando o paciente engasga, fica entalado.
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