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1 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 TUTORIA PROLIFERAÇÃO – PROBLEMA 6 Problema 6 CAQUEXIA DO CÂNCER Muitos pacientes com câncer sofrem progressiva perda de gordura e massa corporal magra, associada a profunda fraqueza, anorexia e anemia — condição referida como caquexia. Existe alguma correlação entre o tamanho e a extensão da disseminação do câncer e a gravidade da caquexia. Entretanto, a caquexia não é causada pelas demandas nutricionais do tumor. Embora os pacientes com câncer com frequência sejam anoréxicos, a evidência atual indica que a caquexia resulta da ação de fatores solúveis, como as citocinas produzidas pelo tumor e pelo hospedeiro, e não da redução na ingestão alimentar. Em pacientes com câncer, o gasto calórico permanece alto, enquanto a taxa metabólica basal está aumentada, apesar da reduzida ingestão de alimentos. Isso está em contraste com a taxa metabólica mais baixa que ocorre como resposta adaptativa na inanição. A base dessas anormalidades metabólicas não é totalmente compreendida. Suspeita- se que o TNF produzido por macrófagos em resposta às células tumorais ou pelas próprias células tumorais seja o mediador da caquexia. O TNF suprime o apetite e inibe a ação da lipoproteína lipase, inibindo a liberação de ácidos graxos livres das lipoproteínas. Além disso, um fator mobilizador de proteína chamado fator indutor de proteólise, que causa a quebra das proteínas da musculatura esquelética pela via ubiquitina-proteossomo, foi detectado no soro de pacientes com câncer. Outras moléculas com ação lipolítica também foram encontradas. Não existe tratamento satisfatório para a caquexia do câncer a não ser a remoção da causa de base, o tumor. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS Os complexos sintomas que ocorrem em pacientes com câncer e que não podem ser prontamente explicados pela disseminação local ou distante do tumor ou pela elaboração de hormônios não nativos do tecido de origem do tumor são referidos como síndromes paraneoplásicas. São sintomas que ocorrem em locais distantes de um tumor ou de sua metástase. 2 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Essas síndromes ocorrem quando um câncer causa sintomas incomuns devido a substâncias que circulam na corrente sanguínea. Essas substâncias podem ser hormônios produzidos pelo tumor ou anticorpos produzidos pelo sistema imunológico. As síndromes paraneoplásicas podem afetar muitos sistemas de órgãos diferentes, incluindo o sistema nervoso e o sistema endócrino (hormônios), causando problemas como mudanças do sistema nervoso, baixo nível de açúcar no sangue, diarreia ou pressão arterial alta. Eles podem afetar a função de vários tecidos e órgãos e causar sintomas em locais distantes do tumor. Elas aparecem em 10-15% dos pacientes com câncer, e seu reconhecimento clínico é importante por várias razões: • Tais síndromes podem representar a mais precoce manifestação de uma neoplasia oculta. • Em pacientes afetados, as alterações patológicas podem estar associadas a significativa doença clínica, podendo até ser letais. • O complexo de sintomas pode simular doença metastática, confundindo assim o tratamento. O aparecimento do quadro clinico das síndromes paraneoplásicas pode ser síncrono ao do tumor em si, mas também pode preceder ou suceder o diagnóstico do tumor. Em algumas situações, o tratamento do tumor em si leva à resolução da síndrome paraneoplásica. Em outros casos, é possível resolver os sintomas paraneoplásicos, ainda que não seja possível tratar a neoplasia.. As mais comuns dessas síndromes são: hipercalcemia, síndrome de Cushing e endocardite trombótica não bacteriana; as neoplasias associadas com mais frequência a essas e outras síndromes são os cânceres de pulmão e de mama, bem como as malignidades hematológicas. HIPERCALCEMIA A hipercalcemia em pacientes com câncer é multifatorial, mas o mecanismo mais importante é a síntese de uma proteína relacionada ao hormônio paratireóideo (PTHrP) pelas células tumorais. Hipercalcemia: excesso de cálcio no sangue. Também estão implicados outros fatores derivado do tumor, como TGF-a, um fator polipeptídico ativador de osteoclastos, e a forma ativa da vitamina D. 3 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Outro possível mecanismo para a hipercalcemia é a doença metastática osteolítica disseminada do osso; note- se, porém, que a hipercalcemia resultante de metástases esqueléticas não é uma síndrome paraneoplásica. A hipercalcemia pode ser fatal e é a mais comum desordem metabólica associada ao câncer, ocorrendo de 10% a 20% dos pacientes com câncer. Enquanto a maioria do cálcio no corpo é armazenada nos ossos, cerca de 1% do cálcio do corpo circula na corrente sanguínea. O cálcio é importante para muitas funções corporais, incluindo a formação óssea, contrações musculares e nervosas e função do cérebro. Causas: O nível de cálcio no sangue é controlado por muitos fatores, incluindo o hormônio da paratireóide, suas causas são: Cânceres que afetam diretamente o osso ou metástase nos ossos causam ruptura do osso, causando a liberação do excesso de cálcio no sangue. Alguns cânceres afetam a capacidade dos rins na remoção do excesso de cálcio no sangue. Falta de atividade física pode causar ruptura do osso, liberando cálcio no sangue. A desidratação causada por náuseas e vômitos, torna difícil para os rins a remoção adequada do cálcio no sangue. Os tipos de câncer que podem causar hipercalcemia incluem câncer de mama, de pulmão, mieloma múltiplo, linfoma, leucemia, renal, cabeça e pescoço e gastrointestinal. Sintomas Perda de apetite, náuseas e vômitos. Constipação e dor abdominal. Micção frequente. Fadiga, fraqueza e dor muscular. Alterações do estado mental, incluindo confusão, desorientação e dificuldade para pensar. SÍNDROME DE CUSHING A síndrome de Cushing que surge como um fenômeno paraneoplásico normalmente se relaciona à produção ectópica de ACTH ou de polipeptídeos semelhantes ao ACTH pelas células cancerosas, como ocorre em cânceres de pulmão de células pequenas. A síndrome de Cushing consiste em uma constelação de anormalidades clínicas causadas por concentrações cronicamente elevadas de cortisol ou corticoides relacionados. 4 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 A doença de Cushing é a síndrome de Cushing que resulta de excesso de produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), geralmente secundária a adenoma hipofisário. Às vezes, um tumor induz várias síndromes concomitantemente. Por exemplo, carcinomas broncogênicos podem elaborar produtos idênticos ao ACTH ou ter os efeitos desse hormônio, de hormônio antidiurético, hormônio paratireóideo, serotonina, gonadotrofina coriônica humana e de outras substâncias ativas. Às vezes, as glândulas adrenais produzem corticosteroides em excesso devido a um problema nas glândulas adrenais ou devido a um excesso de estímulo pela hipófise, que controla as glândulas adrenais e outras glândulas endócrinas. Uma anomalia na hipófise, como um tumor, pode fazer com que a hipófise produza uma grande quantidade de corticotrofina, o hormônio que controla a produção de corticosteroides pelas glândulas adrenais (doença de Cushing). Tumores externos à hipófise, como o câncer de pulmão de pequenas células ou um tumor carcinoide nos pulmões ou em outro lugar no corpo, também podem produzir corticotrofina (um quadro clínico denominado de síndrome da corticotrofina ectópica). Às vezes, um tumor não canceroso (adenoma) surge nas glândulas adrenais, o que fazcom que produzam corticosteroides em excesso. Adenomas adrenais são extremamente comuns. Cerca de 10% de todas as pessoas apresentam adenomas adrenais até os 70 anos de idade. No entanto, apenas uma pequena fração destes adenomas produz hormônio em excesso. Os tumores cancerosos das glândulas adrenais são muito raros, mas alguns deles também produzem hormônio em excesso. Os sinais e sintomas típicos incluem face em lua e obesidade do tronco, hematoma fácil e pernas e braços finos. O diagnóstico é feito pela história de utilização de corticoides ou pelas concentrações elevadas de cortisol sérico. O tratamento depende da causa. ENDOCARDITE TROMBÓTICA NÃO BACTERIANA As síndromes paraneoplásicas também podem manifestar-se como hipercoagulabilidade, levando à trombose venosa e à endocardite trombótica não bacteriana. A endocardite não infecciosa se desenvolve quando coágulos sanguíneos fibrosos sem micro- organismos (vegetações estéreis) se formam em válvulas cardíacas danificadas. https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-hormonais-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-da-hip%C3%B3fise/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-a-hip%C3%B3fise https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-hormonais-e-metab%C3%B3licos/biologia-do-sistema-end%C3%B3crino/gl%C3%A2ndulas-end%C3%B3crinas https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-hormonais-e-metab%C3%B3licos/biologia-do-sistema-end%C3%B3crino/gl%C3%A2ndulas-end%C3%B3crinas https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-hormonais-e-metab%C3%B3licos/tumores-carcinoides/tumores-carcinoides-e-s%C3%ADndrome-carcinoide 5 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Os danos podem ser decorrentes de defeito congênito, febre reumática ou doença autoimune (em que os anticorpos atacam as válvulas cardíacas). Raramente, o dano é resultante da inserção de um cateter no coração. A endocardite não infecciosa, assim como a endocardite infecciosa, pode fazer com que as válvulas cardíacas apresentem vazamento ou não abram normalmente. As artérias podem ficar obstruídas se vegetações se desprenderem (tornando-se êmbolos), viajarem através da corrente sanguínea para outras partes do corpo e se alojarem em uma artéria, obstruindo-a. Às vezes, a obstrução pode ter consequências graves. A obstrução de uma artéria no cérebro pode causar um acidente vascular cerebral e a obstrução de uma artéria do coração pode causar um ataque cardíaco. Os órgãos afetados frequentemente incluem os pulmões, rins, baço e cérebro. Frequentemente, o êmbolo também viaja para a pele e para a parte posterior do olho (retina). Os sintomas de endocardite não infecciosa surgem quando se formam êmbolos. Os sintomas dependem da parte do corpo que for afetada. Outras manifestações são o baqueteamento dos dedos e a osteoartropatia hipertrófica em pacientes com carcinoma de pulmão. Outros ainda são discutidos na consideração dos cânceres dos vários órgãos do corpo. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DO CÂNCER Métodos Morfológicos Na maioria dos casos, o diagnóstico laboratorial do câncer não é difícil. As duas extremidades do espectro benigno-maligno não representam problemas; no meio, porém, está uma “terra de ninguém” onde é preciso pisar com muita cautela. Os clínicos tendem a subestimar as contribuições que fazem para o diagnóstico de uma neoplasia. Somente dados clínicos e radiológicos não são suficientes de avaliar como um diagnóstico patológico ótimo. São diagnósticos bons, que ajudam na descoberta do câncer, porém, somente a biopsia confirma. Por exemplo, as alterações induzidas por radiação na pele ou mucosa podem ser semelhantes às do câncer. Outro exemplo são as secções obtidas de uma fratura em cicatrização podem simular um osteossarcoma. A avaliação laboratorial de uma lesão pode ser apenas tão boa quanto a amostra submetida para exame. https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/infec%C3%A7%C3%B5es-bacterianas-em-beb%C3%AAs-e-crian%C3%A7as/febre-reum%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/infec%C3%A7%C3%B5es-bacterianas-em-beb%C3%AAs-e-crian%C3%A7as/febre-reum%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/rea%C3%A7%C3%B5es-al%C3%A9rgicas-e-outras-doen%C3%A7as-relacionadas-%C3%A0-hipersensibilidade/doen%C3%A7as-autoimunes https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/acidente-vascular-cerebral-avc/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-acidente-vascular-cerebral https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/acidente-vascular-cerebral-avc/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-acidente-vascular-cerebral https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos-sangu%C3%ADneos/doen%C3%A7a-arterial-coronariana/s%C3%ADndromes-coronarianas-agudas-ataque-card%C3%ADaco-infarto-do-mioc%C3%A1rdio-angina-inst%C3%A1vel https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-cora%C3%A7%C3%A3o-e-dos-vasos-sangu%C3%ADneos/doen%C3%A7a-arterial-coronariana/s%C3%ADndromes-coronarianas-agudas-ataque-card%C3%ADaco-infarto-do-mioc%C3%A1rdio-angina-inst%C3%A1vel 6 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 A amostra deve ser adequada, representativa e adequadamente preservada. Várias abordagens à amostragem são disponibilizadas, incluindo excisão ou biópsia, aspiração com agulha fina e esfregaços citológicos. Quando não é possível a excisão de uma lesão, a seleção de um local apropriado para biópsia de uma grande massa requer a percepção de que as margens podem não ser representativas e grande parte do centro pode estar necrótica. Algumas vezes, é desejável solicitar o diagnóstico de secção congelada, como por exemplo na determinação da natureza de uma lesão de massa ou na avaliação dos linfonodos regionais em um paciente com câncer para detecção de metástases. Esse método, no qual uma amostra é rapidamente congelada e seccionada, permite a avaliação histológica em minutos. Em mãos experientes e competentes, o diagnóstico de secção congelada é acurado, mas há alguns casos especiais nos quais são necessários os melhores detalhes histológicos fornecidos pelos métodos rotineiros que consomem mais tempo. Nesses casos, é melhor esperar alguns dias, apesar das desvantagens, do que realizar uma cirurgia inadequada ou desnecessária. ASPIRAÇÃO COM AGULHA FINA A aspiração com agulha fina dos tumores é outra abordagem em amplo uso. Envolve a aspiração das células de uma massa, seguida pelo exame citológico do esfregaço. Esse procedimento é usado com mais frequência no caso de lesões prontamente palpáveis que afetam mama, tireoide, linfonodos e glândulas salivares. As modernas técnicas de imagens permitem a extensão do método para estruturas mais profundas, como fígado, pâncreas e linfonodos pélvicos. O uso dessa modalidade diagnóstica previne a cirurgia e seus riscos associados. Embora acarrete algumas dificuldades, como o pequeno tamanho da amostra e erros de amostragem, em mãos experientes ela pode ser confiável, rápida e útil. ESFREGAÇOS CITOLÓGICOS Os esfregaços citológicos (Papanicolaou) proporcionam outro método para a detecção do câncer. Historicamente, essa abordagem é usada amplamente para a descoberta do carcinoma da cérvice, muitas vezes em estágio in situ (continua no seu lugar de origem), mas atualmente é usada para investigar muitas outras formas de malignidade suspeita, como carcinoma endometrial, carcinoma broncogênico, tumores de bexiga e próstata, bem como carcinomas gástricos; para a identificação das células tumorais em fluidos abdominais, pleurais, articulares ecerebroespinais; e, com menos frequência, para avaliação de outras formas de neoplasia. 7 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 As células neoplásicas são menos coesas que outras e, portanto, são descartadas em fluidos ou secreções. As células descartadas são avaliadas quanto às características de anaplasia indicativas de sua origem de um tumor. O gratificante controle do câncer cervical é o melhor testemunho do valor do método citológico. IMUNOCITOQUÍMICA A imunocitoquímica oferece um poderoso adjuvante ao exame histológico de rotina. A detecção de citoqueratina por anticorpos monoclonais marcados com peroxidase aponta para um diagnóstico de carcinoma indiferenciado, em vez de um grande linfoma celular. Da mesma forma, a detecção de antígeno específico da próstata (PSA) em depósitos metastáticos por coloração imuno- histoquímica permite o diagnóstico definitivo de um tumor primário na próstata. A detecção imunocitoquímica de receptores estrogênicos permite prognosticar e direcionar a intervenção terapêutica nos cânceres de mama. FLUXOCITOMETRIA A fluxocitometria é usada rotineiramente na classificação de leucemias e linfomas. Nesse método, os anticorpos fluorescentes contra moléculas de superfície celular e antígenos de diferenciação são usados para obter o fenótipo de células malignas. Marcadores Tumorais Ensaios bioquímicos para enzimas associados a tumor, hormônios e outros marcadores tumorais no sangue não podem ser utilizados para o diagnóstico definitivo do câncer; mas podem ser testes de triagem úteis e, em alguns casos, têm utilidade na quantificação da resposta à terapia ou na detecção da recorrência da doença. A aplicação desses ensaios é considerada em muitas formas específicas de neoplasia discutidas em outros capítulos; assim, somente alguns exemplos são suficientes neste capítulo. ANTÍGENO ESPECÍFICO DA PRÓSTATA (PSA) O PSA, empregado na triagem de adenocarcinoma de próstata, pode ser um dos marcadores tumorais usados com mais frequência e sucesso na prática clínica. Pode-se suspeitar de um carcinoma prostático quando níveis elevados de PSA são encontrados no sangue. Entretanto, a triagem de PSA também ressalta os problemas encontrados com o uso de praticamente todo marcador tumoral. Embora os níveis de PSA quase sempre estejam elevados no câncer, os níveis de PSA também podem estar elevados na hiperplasia prostática benigna. Além disso, não há nível de PSA que assegure que um paciente não tenha um câncer de próstata. 8 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Assim, o teste de PSA sofre tanto de baixa sensibilidade como de baixa especificidade. O ensaio de PSA é extremamente valioso, porém, para a detecção de doença residual ou recorrência após tratamento do câncer de próstata. ANTÍGENO CARCINOEMBRIONÁRIO Outros marcadores tumorais ocasionalmente usados na prática clínica incluem o antígeno carcinoembrionário (CEA), que é elaborado pelos carcinomas de cólon, pâncreas, estômago e mama, e a alfafetoproteína, que é produzida por carcinoma hepatocelular, restos do saco vitelino nas gônadas e, ocasionalmente, por teratocarcinomas e carcinomas de células embrionárias. Infelizmente, assim como o PSA, esses dois marcadores podem ser produzidos também em uma variedade de condições não neoplásicas. Assim, tanto os ensaios de CEA como os de alfafetoproteína não possuem a sensibilidade e a especificidade necessárias para a detecção precoce dos cânceres. Como ocorre com a triagem de PSA, eles ainda são particularmente úteis na detecção de recorrências após a excisão. Com a ressecção bem-sucedida do tumor, esses marcadores desaparecem do soro; seu reaparecimento geralmente significa o começo do fim. Diagnóstico Molecular Um número crescente de técnicas moleculares é usado para o diagnóstico de tumores e para prever seu comportamento. DIAGNÓSTICO DE MALIGNIDADE Como cada célula T e B mostra um rearranjo exclusivo de seus genes receptores de antígenos, a detecção, baseada na reação em cadeia da polimerase (PCR), do receptor de célula T ou de genes de imunoglobulina permite a distinção entre proliferações monoclonais (neoplásticas) e policlonais (reativas). Muitas neoplasias hematopoiéticas, assim como alguns tumores sólidos, são definidas por translocações específicas, assim o diagnóstico pode ser feito pela detecção de tais translocações. Por exemplo, a hibridização por fluorescência in situ (FISH) ou a análise por PCR pode ser usada para detectar translocações características do sarcoma de Ewing e de várias leucemias e linfomas. A detecção baseada em PCR de transcritos de BCR-ABL produz o diagnóstico molecular da leucemia mieloide crônica. PROGNÓSTICO E COMPORTAMENTO Certas alterações genéticas estão associadas a mau prognóstico e, portanto, a presença dessas alterações determina a terapia subsequente do paciente.Os métodos FISH e PCR podem ser usados para detectar a amplificação de oncogenes, como HER2/NEU e NMYC, que produzem prognóstico e informações terapêuticas para cânceres de mama e neuroblastomas. 9 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 DETECÇÃO DE DOENÇA RESIDUAL MÍNIMA Outro uso emergente das técnicas moleculares é na detecção de doença residual mínima após o tratamento. Por exemplo, a detecção de transcritos de BCR-ABL pelo ensaio PCR confere uma medida da doença residual em pacientes tratados de leucemia mieloide crônica. O reconhecimento de que praticamente todos os tumores avançados estão associados a células tumorais circulantes intactas e produtos derivados dos tumores (p. ex., DNA do tumor) levou ao interesse em acompanhar a carga tumoral por meio de exames de sangue sensíveis. DIAGNÓSTICO DE PREDISPOSIÇÃO HEREDITÁRIA AO CÂNCER A mutação na linhagem germinativa de vários genes supressores de tumor, como BRCA1, aumenta o risco do paciente para o desenvolvimento de certos tipos de câncer. Assim, a detecção desses alelos mutados pode permitir que o paciente e o médico planejem um protocolo agressivo de triagem, assim como uma oportunidade para a cirurgia profilática. Além disso, tal detecção permite o aconselhamento genético dos parentes em risco. TOMADA DE DECISÃO TERAPÊUTICA Número crescente de terapias que visam diretamente às mutações específicas está sendo desenvolvido e, portanto, a detecção dessas mutações em um tumor pode guiar o desenvolvimento da terapia direcionada, conforme é discutido posteriormente. Atualmente está se tornando evidente que certas mutações que podem se tornar alvos podem transgredir as categorias morfológicas. Por exemplo, as mutações da ALK quinase, originalmente descritas em um subgrupo de linfomas de células T, também foram identificadas em uma pequena porcentagem de carcinomas de células não pequenas e neuroblastomas. Estudos clínicos demonstraram que os cânceres de pulmão com mutações de ALK respondem aos inibidores de ALK, enquanto em outros cânceres de pulmão isso não ocorre, levando à recente aprovação pela Food and Drug Administration (FDA) dos inibidores de ALK para uso em pacientes com câncer de pulmão “com ALK mutada”. Outro exemplo recente, drástico, da terapia molecularmente “elaborada” é vista no melanoma, em que os tumores com uma substituição da valina por glutamato no aminoácido 600 (V600E) da serina/treonina quinase, BRAF, respondem bem à inibição de BRAF, enquanto os melanomas sem essa mutação não mostram qualquer resposta. De algum interesse é que a mutação V600E também está presente em um subgrupo de cânceres de cólon, em certos cânceres tireóideos, em 100% das leucemias de célulaspilosas e na histiocitose de Langerhans. 10 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Esses tumores são morfologicamente diversos e têm origens celulares distintas, mas compartilham idênticas lesões oncogênicas em uma via comum de pró- crescimento. Perfil Molecular dos Tumores O perfil molecular dos tumores pode ser efetuado tanto em nível de RNAm como de sequenciamento nucleotídico. A seguir é feita a descrição de cada um deles. PERFIL DE EXPRESSÃO Essa técnica permite mensurações simultâneas dos níveis de expressão de vários milhares de genes. Seu princípio, a chamada tecnologia de chip genético. Como se pode observar, o processo começa pela extração de RNAm de duas fontes (p. ex., normais ou malignos, normais e pré-neoplásicos ou de dois tumores do mesmo tipo histológico). As cópias do DNA complementar (DNAc) são sintetizadas in vitro com nucleotídeos rotulados com fluorescência. As fitas de DNA rotuladas com fluorescência são hibridizadas para sondas de DNA probes específicos da sequência ligados a um suporte sólido, como um chip de silicone. Um chip de 1 cm2 pode conter milhares de probes arranjados em uma série de colunas e séries. Após a hibridização, imagens a laser de alta resolução detectam os sinais fluorescentes de cada um dos spots. A intensidade da fluorescência de cada spot é proporcional ao nível da expressão do RNAm original usado para sintetizar o DNAc hibridizado para aquele spot. Para cada amostra, portanto, obtém-se nível de expressão de milhares de genes e, com o uso de instrumentos de bioinformática, podem ser comparados os níveis relativos de expressão genética em diferentes amostras. Em essência, um perfil molecular é gerado para cada tecido analisado. Essa análise revelou que linfomas de células B grandes com fenótipos idênticos (Capítulo 11) de diferentes pacientes são heterogêneos em relação à sua expressão genética e taxas de sobrevivência. Abordagens semelhantes estão sendo exploradas agora em outros cânceres, como os cânceres de mama e os melanomas. SEQUENCIAMENTO GENÉTICO COMPLETO A progressão e o desenvolvimento de tecnologias de sequenciamento da próxima geração prometem uma análise até mais profunda dos tumores. Os avanços em tais tecnologias estão ultrapassando atualmente a famosa lei de Moore dos microprocessadores. O sequenciamento de todo o genoma de um tumor, que há alguns anos apenas levaria meses e custaria milhões de dólares, atualmente leva dias e custa alguns milhares de dólares. 11 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 As sequências de todos os genomas tumorais, quando comparadas às do genoma normal do mesmo paciente, podem revelar todas as alterações somáticas presentes em um tumor. Recentes resultados de análises genômicas dos tumores revelaram que tumores individuais podem conter desde algumas poucas mutações somáticas (certas leucemias da infância) a dezenas de milhares de mutações, sendo a maior carga mutacional encontrada em cânceres associados à exposição mutagênica, como o câncer de pulmão e o câncer de pele. Entre eles há dois tipos de mutações: (1) aquelas que subvertem o controle normal e (2) aquelas sem efeito sobre o fenótipo celular. O primeiro grupo de mutações é referido como mutações impulsionadoras porque podem impulsionar o processo neoplásico e, portanto, poderiam ser alvos terapêuticos. O outro grupo de mutações quase sempre cai nas regiões não codificadoras do genoma ou seu efeito sobre o crescimento é neutro, não conferindo qualquer vantagem ou desvantagem. Tais mutações são chamadas de mutações passageiras. Elas resultam da instabilidade genômica das células cancerosas e estão simplesmente “correndo lado a lado”. Em geral, as mutações impulsionadoras são recorrentes e estão presentes em substancial porcentagem de pacientes com determinado câncer. Assim, por exemplo, os genes de fusão BCR-ABL estão presentes em todos os casos de leucemia mielógena crônica, enquanto a proteína de fusão é um excelente alvo de droga. Contudo, as mutações impulsionadoras podem estar presentes em apenas um subgrupo de tumores de determinado tipo. Por exemplo, aproximadamente 4% dos cânceres de pulmão de células pequenas abrigam um gene de fusão da tirosina quinase EML4-ALK; como já mencionado, nesses casos relativamente raros, o paciente responde bem aos inibidores ALK. Uma complicação adicional é que algumas mutações passageiras, no entanto, têm papéis importantes na resistência à droga. Por exemplo, as mutações em BCR-ABL que conferem resistência ao imatinibe na leucemia mielógena crônica estão presentes como mutações passageiras em raros clones antes de iniciar a terapia. Por conferirem uma poderosa vantagem seletiva, essas mutações são convertidas de passageiras em impulsionadoras em face da farmacoterapia; suspeita-se que a instabilidade genômica das células cancerosas lance as sementes da resistência por meio de cenários semelhantes em muitos tipos de tumores. Além disso, em alguns casos, várias mutações distintas e relativamente incomuns convergem para a mesma via, (como a resistência à apoptose) e contribuem para o fenótipo do câncer. 12 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Portanto, é relevante categorizar as mutações com base em sua capacidade de impulsionar as células ao longo das vias “características do câncer”. Espera-se que a identificação de todas as mutações com potencial para se tornarem alvos em cada tumor individual dê um novo foco ao tratamento dos tumores que se desloca do tecido de origem para a lesão molecular, visto que estão sendo desenvolvidas drogas cujos alvos são mutações específicas. Essa abordagem representa uma modificação no paradigma da classificação e terapia dos tumores. Talvez, no futuro, o grupo diversificado de tumores que sofrem uma mutação comum, como BRAF, seja classificado como BRAFomas em vez dos tipos individuais baseados na morfologia ou na célula de origem! RESUMIDAMENTE • Existem várias abordagens à amostragem para o diagnóstico dos tumores, incluindo excisão, biópsia, aspiração com agulha fina e esfregaços citológicos. • Estudos de imuno-histoquímica e fluxocitometria ajudam no diagnóstico e na classificação dos tumores porque diferentes padrões de expressão da proteína definem diferentes entidades. • As proteínas liberadas pelos tumores no soro, como PSA, podem ser usadas para a triagem do câncer em populações e para monitorar a recorrência após o tratamento. • As análises moleculares são usadas para determinar o diagnóstico, o prognóstico, a detecção de doença residual mínima e o diagnóstico da predisposição hereditária ao câncer. • O perfil molecular do tumor por séries de DNAc e o sequenciamento podem determinar a expressão de grandes segmentos do genoma e catalogar todas as mutações do genoma tumoral, sendo, portanto, úteis na estratificação molecular de tumores idênticos sob outros aspectos ou daqueles com histogênese distinta que compartilham uma mutação, para fins de tratamento e prognóstico. 13 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 ESTADIAMENTO DO CÂNCER O TNM é um sistema de classificação anatómico utilizado para tumores sólidos que é universalmente aceito, simples e de fácil aplicabilidade. E revisado a cada quatro anos e difundido mundialmente pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) e pela AJCC, cujo último Manual de Estadiamento do Câncer foi publicado em 2002. Estadiamento é o processo para determinar a localização e a extensão do câncer presente no corpo de uma pessoa.É a forma como o médico determina o avanço da doença no organismo de um paciente. Para a maioria dos tipos de câncer, os médicos usam informações que ajudam a planejar o tratamento e a determinar o prognóstico do paciente. Embora cada caso seja diferente, cânceres com o mesmo estadiamento tendem a ter prognósticos semelhantes e, muitas vezes, são tratados da mesma forma. O estadiamento do câncer é também uma maneira que os médicos utilizam para descrever a extensão do câncer, por exemplo, ao referir-se a um determinado caso e discutir suas possibilidades terapêuticas. BASES PARA O ESTADIAMENTO Para se fazer o estadiamento é fundamental conhecer a história natural dos tumores, seu comportamento biológico e sua principal via de disseminação. Os tumores sólidos têm capacidade de invadir tecidos circunjacentes (ao redor). A propagaçäo do tumor, por extensão local, pode ser realizada através de continuidade, como invasão da cárdia por um tumor localizado no esôfago distal; contiguidade, por exemplo, tumor de parede anterior do reto que infiltra a próstata e bexiga; e por implantes, como o câncer de ovário, em que células neoplásicas podem se desprender do tumor e implantar na superfície de qualquer órgão intracavitário. A disseminação do tumor pode se dar por via linfática, atingindo os linfonodos regionais, ou por via hematogênica (órgãos a distância) de acordo com seu comportamento biológico. Por exemplo, sarcomas são tumores que se propagam preferencialmente por via hematogênica, fazendo parte de seu estadiamento a utilização da tomografia computadorizada (TC) de tórax para avaliação pulmonar. Portanto, o estadiamento de um tumor sólido leva em consideração três eventos importantes na história natural do câncer: 1. O tamanho elou grau da extensão local do tumor primário (T). 2. A presença ou ausência de metástases para linfonodos regionais (N). 3. A presença ou ausência de metástase a distância (M). A cada um desses componentes adicionam-se letras ou números com a finalidade de indicar a extensão da doença. 14 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 TIPOS DE ESTADIAMENTO Estadiamento clínico Na maioria das vezes, o paciente só procura o médico quando já apresenta sintomas da doença. A anamnese bem feita e o exame fisico, geral e Iocorregional detalhado são importantes para a elaboração do diagnóstico tanto do câncer quanto das demais doenças. Apesar de toda a evolução tecnológica, ouvir as queixas dos pacientes e procurar entendê-las continua sendo parte fundamental da boa prática médica. Um exemplo ilustrativo em que apenas pela história suspeita-se do diagnóstico é o caso de uma mulher pós-menopausada, obesa, diabética, hipertensa, com queixa de hemorragia vaginal, que nos faz pensar em câncer de endométrio. Outras vezes, apenas pelo exame físico o médico é capaz de elaborar um diagnóstico. Um exemplo disso é o câncer de mama inflamatório em que o diagnóstico é puramente clínico, através dos achados de edema e eritema difuso na pele associado ao aspecto de casca de laranja por causa da embolização do tumor no interior dos linfáticos da derme. O câncer inflamatório da mama é classificado como T4d, portanto, estádio clínico IIIB. Entretanto, vale a pena lembrar que toda lesão suspeita de câncer deve ter seu diagnóstico confirmado através de exame citológico ou histopatológico antes de se iniciar qualquer tratamento oncológico. A biópsia é fundamental e apresenta diversas modalidades, como punção com agulha fina, trocarte, incisional, excisional, e consiste na retirada de material para exame anátomo-patológico. Por causa da melhor eficácia dos exames complementares é possível realizar diagnósticos precoces de câncer em pacientes assintomáticos. A mamografia, por exemplo, realizada em mulheres com mais de 45 anos da idade, constitui um excelente método de detecção precoce de câncer de mama. O estadiamento clínico leva em consideração dados sobre a história e exame físico, mas muitas vezes utiliza-se de métodos complementares de diagnósticos, como endoscopias (endoscopia digestiva alta, broncoscopia, cistoscopia, colonoscopia e laringoscopia) e métodos de imagem (TC, ressonância nuclear magnética [RNM], ultrassonografia e cintilografia) para melhor avaliação do caso. Por exemplo, um paciente do sexo masculino, tabagista há 30 anos, com história de dor torácica e emagrecimento de cinco quilos no período, procura assistência médica. A radiografia de tórax evidencia uma massa pulmonar. Para se avaliar a extensão da doença solicitasse TC de tórax, e a broncospia com biópsia para o diagnóstico de câncer de pulmão. Solicitados exames para estadiamento, como TC de abdome superior e cintilografia óssea, embasado no conhecimento da história natural do câncer de pulmão cujas metástases mais 15 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 freqüentes são para ossos, supra-renais, figado e sistema nervoso central (SNC), faz-se o estadiamento do tumor como T2 (4 cm), NO (ausência de linfonodos na TC) c Ml (presença de metástase óssea): estádio clínico IV. Com estadiamento correto, o paciente faz quimioterapia, pois trata-se de uma doença sistémica. Se esse mesmo paciente fosse considerado como T2NOM0 (ausência de doença sistémica), a conduta seria a cirurgia (lobectomia ou pneumectomia associada à linfadenectomia mediastinal). Por meio do sistema TNM é possível estimar quais as chances de sobrevida para cada caso. A taxa de sobrevida em cinco anos para pacientes com doença sistêmica é de 1,60/0 a 10%, ao passo que para pacientes com a doença localizada a taxa é de 47% a 68%. Portanto, a escolha do tratamento do câncer depende do estádio da doença ao diagnóstico. Os procedimentos terapêuticos, mesmo que não sejam curativos, podem alterar o curso clínico e a história natural do paciente com câncer. Em tumores intracavitários o exame físico freqüentemente é falho na avaliação do tumor, pois é impossível palpar-se cadeias linfáticas regionais ou avaliar sua extensão local. Por exemplo, em tumor de estômago a TC de abdome superior pode evidenciar a presença de linfonodos regionais ao longo das curvaturas gástricas, linfonodos retroperitoneais, ao longo das cadeias vasculares e suas relações com estruturas contíguas, como lobo hepático esquerdo e cólon transverso, avaliando a presença de metástase hepática e ascite. Estadiamento cirúrgico Para muitos tumores sólidos o estadiamento cirúrgico continua sendo importante para avaliação da disseminação da doença, fornecendo informação de sua real extensão. O câncer de ovário é um exemplo clássico de como a laparotomia fornece dados para o melhor estadiamento por meio de inventário completo cavitário e realização de biópsias peritoniais, análise citológica da ascite ou lavados peritoniais, além da realização do tratamento cirúrgico (pan- histerectomia com omentectomia). Estadiamento patológico O papel do patologista é fundamental para análise das biópsias e peças operatórias. A caracterização do tamanho do tumor, relação com estruturas adjacentes, infiltradas ou não por ele, presença de embolizaçäo linfática e vascular, infiltração perineural e de histiócitos e linfócitos são informações que ajudam a traçar um plano de tratamento adjuvante e estimar o prognóstico. Por exemplo, o câncer de colo uterino com extensão para vagina, evidenciado no exame anátomo-patológico, requer radioterapia adjuvante para obtenção de taxa mais alta para controle locorregional. No caso das linfadenectomias, quanto maior o número de linfonodos na dissecção, mais representativa é a amostra do N. 16 Louhainy Isabelle RezendeMiranda I Turma TXXIV I 2021.1 Para muitos tumores há recomendação de número mínimo de linfonodos para o estadiamento. Nas linfadenectomias axilares em tumores de mama, por exemplo, solicita- se o mínimo de dez linfonodos. Se houver linfonodos positivos, indica-se quimioterapia adjuvante por causa do risco de doença sistémica, ao passo que pacientes com linfonodos negativos e cujo tumor primário na mama não seja maior que I cm, não se beneficiam com tratamento sistémico adjuvante. LINFONODO SENTINELA (LNS) E o primeiro linfonodo a receber a drenagem linfática do tumor primário. Ocasionalmente, há mais de um linfonodo sentinela, que pode ser identificado com a ajuda de corante (o mais utilizado é o azul patente) que, quando injetado ao redor do tumor, atinge os vasos linfáticos locais e cora o LNS. Ao ser visualizado, o INS pode ser biopsiado. Existe também a técnica da linfocintilografia em que o radiofármaco é injetado da mesma forma que o corante. Ele emite radiação que é captada por gama câmaras, produzindo imagens, ou por probes, que são Instrumentos detectores de radiação utilizados no intra-operatório. Geralmente, esses dois métodos são associados, permitindo uma precisão cm torno de 98% na detecção do LNS. Indica- se a pesquisa do IX S para tumores iniciais em que os linfonodos regionais são negativos (NO) ao exame clínico e de imagem. A análise histopatológica minuciosa associada a dados de imunohistoquímica (pesquisa de micrometástases) permite avaliar o acometimento do LNS e predizer se os outros linfonodos da mesma base estão acometidos ou não pela doença. Assim, se o LINS não estiver acometido por metástases, a linfadenectomia eletiva não será necessária, evitando cirurgias desnecessárias e diminuindo a morbidade e os custos do procedimento. O estadiamcnto clínico é designado como cTNM e o patológico pTNM, e rTNM quando há recorrência de um tumor. Convém salientar que existem outros sistemas de estadiamento para certos tumores, como, por exemplo, a classificação de Ann Arbor para linfomas e a Federação de Ginecologia e Obstretícia (FIGO) para cânceres ginecológicos. Existem tumores que não são classificados pelo sistema TNM, como os tumores do SNC, pelas seguintes razões: o T não é o fator mais importante em relação à topografia e ao tipo histológico; o N não existe, pois não há vasos linfáticos no SNC; e o M deixa de ter importância, pois a maioria dos pacientes não vive o suficiente para desenvolver metástase a distância, com exceção dos tumores pediátricos que podem disseminar-se pelo liquor. 17 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1
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