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A TERCEIRIZAÇÃO (PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS) NOÇÕES A terceirização no sentido estrito, ou prestação de serviços, tem sido largamente utilizada no Brasil, seja como técnica de especialização das atividades, seja para propiciar uma melhor gestão dos negócios da empresa, por meio do incremento de produtividade e da redução de custos na contratação de pessoal. Na terceirização, a empresa, em vez de executar determinados serviços com seus próprios empregados, contrata os serviços de uma outra empresa, para que esta os realize com o seu pessoal, sob sua responsabilidade (da empresa contratada). A terceirização na prestação de serviços não se confunde com a terceirização no trabalho temporário (Lei n.° 6.019/1974). No trabalho temporário pela Lei n,° 6.019/1974, não há passagem de uma determinada atividade para um terceiro, ocorre apenas a locação de mão-de-obra de uma fornecedora para uma tomadora (cliente) por um determinado período. A responsabilidade na realização de determinada atividade continua a ser da empresa cliente, que se utilizará por um determinado período dos empregados de um terceiro (fornecedora), integrando-os aos seus meios de produção. A Lei n.° 6.019/1974, que cuida do trabalho temporário, será objeto de análise em tópico específico. Os comentários feitos a seguir referem-se à terceirização na prestação de serviços. A terceirização tem recebido as mais diferentes denominações da doutrina, tais como terciarização, subcontratação, parceria, locação de serviços, desverticalização, exteriorização do emprego, filialização e reconcentração. São muitos os argumentos contrários à terceirização, quase sempre no sentido de que ela viola o núcleo central do contrato de trabalho regido pela CLT, implicando redução dos direitos do empregado quanto a promoções, salários, fixação na empresa e outras vantagens decorrentes de acordo ou convenção coletiva. Além disso, é muito mais seguro para o trabalhador ser empregado de uma grande empresa do que de pequenas empresas de duvidosa idoneidade econômica. É obviamente mais interessante para um faxineiro ou um porteiro, por exemplo, ser empregado de uma multinacional, uma empresa de grande porte, que dificilmente irá à insolvência ou deixará de cumprir e honrar suas obrigações trabalhistas, do que ser empregado de uma pequena empresa especializada na prestação desses serviços, pouco conhecida, de idoneidade incerta, que poderá deixar de recolher o FGTS do empregado, poderá fraudar alguns de seus direitos, como pagamento de horas extras, de adicionais previstos em lei etc., poderá mesmo falir, ou seus sócios simplesmente desaparecerem, deixando os trabalhadores totalmente desamparados e sem possibilidade de haver seus direitos legais. Há, todavia, os defensores dessa técnica, que afirmam a necessidade de se modernizar a administração empresarial, visando a novos métodos de racionalização administrativa, aumento de produtividade, redução de custos etc. Entendemos que a utilização da terceirização como técnica de racionalização empresarial é válida. Dificilmente as empresas conseguiriam, atualmente, dela prescindir e permanecerem competitivas no plano internacional, considerando a especialização da produção e a redução de custos que possibilita. Ressaltamos, contudo, que sempre haverá uma tendência ao cometimento de abusos por parte das empresas. Toda organização empresarial busca primordialmente lucros, e somente a intervenção do Estado costuma ser capaz de evitar que essa busca sacrifique valores maiores, como a dignidade da pessoa humana. Por esse motivo, pensamos ser premente a necessidade de uma adequada regulamentação da prestação de serviços. Faz-se mister a discriminação das atividades passíveis de serem executadas por trabalhadores terceirizados, definições como atividade-fim e atividade-meio, a especificação das situações e das condições para que atividades-fim possam ser executadas sob terceirização etc. Observamos, com desalento, que a atual falta de regulamentação da matéria tem permitido aos empresários e ao próprio govemo utilizar-se da terceirização para contratar trabalhadores de forma barata, escapando a sindicatos fortes, evitando a concessão de vantagens conferidas aos empregados dos quadros das empresas, fugindo a responsabilidades relativas ao descumprimento de obrigações trabalhistas pelas empresas prestadoras dos serviços etc. A falta de regulamentação dessa importante matéria pelo legislador pátrio tem acarretado um desmesurado e desordenado crescimento das atividades “terceirizadas” utilizadas pelas empresas. Podemos afirmar que esse setor da economia - das empresas prestadoras de serviços “terceirizados” – de tal forma agigantou-se que, em algumas empresas, encontramos muito mais trabalhadores contratados mediante essa modalidade de triangulação, atuando nas mais diversas atividades (senão em todas a que se dedica a empresa!), do que empregados próprios, nominalmente assim contratados. O Poder Legislativo, incontinenti, deveria regulamentar essa modalidade de prestação de serviços, garantindo aos trabalhadores condições razoáveis, como salários equiparáveis àqueles pagos pela empresa contratante a seus empregados ou por outras do mesmo ramo e igual porte, a responsabilidade solidária pelo pagamento dos créditos trabalhistas e tributários etc. Em resumo, a nosso ver a terceirização pode ser um instrumento útil para as empresas, desde que seja devidamente regulamentada e realmente venha a servir para a finalidade a que deve ser destinada: uma técnica de planejamento, racionalização e especialização da produção, que possibilite às empresas dedicarem-se efetivamente a suas atividades-fim, nas quais é elevada sua eficiência e produtividade, e legar a execução de outras atividades, secundárias ou de suporte, a terceiros, nelas especializados, com a conseqüente redução de custos e economia de tempo desejadas. A terceirização tem sido objeto de grandes controvérsias no Brasil, especialmente no âmbito da Justiça do Trabalho, aspectos esses a seguir analisados.
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