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Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Endometriose Endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna, estrogênio-dependente e de natureza multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. Obs: Como é estrogênio-dependente, ocorre uma regressão dos focos e diminuição dos sintomas na pós menopausa. Obs: Pode ter um caráter malignizante → Não tem transformação maligna, mas pode ter um impacto na paciente de uma doença maligna (impacto na qualidade de vida, na fertilidade). Definido como presença de glândulas endometriais e estroma em locais extrauterinos. Pode ser encontrada em qualquer lugar extrauterino, como na pele, olho, pele, pulmão, peritônio pélvico, septo retovaginal, ureter, bexiga, pericárdio, pleura, etc. Não se sabe ainda a causa que leva a essa localização extrauterina do endométrio, mas existem teorias e fatores de risco que são relacionados. Um dos fatores de risco/teoria é o hímen imperfurado, que o fluxo retrógrado da menstruação vai aumentar o risco para o desenvolvimento da endometriose. Geralmente está associado a sintomas angustiantes, como dor pélvica, dismenorreia grave, dispareunia e infertilidade, mas pode acontecer de ser assintomática e ser um achado incidental em cirurgia. Obs: Na endometriose, os sintomas não estão relacionados com a quantidade de doença → a extensão da doença não está relacionada com mais ou menos sintomas. Permanece controverso os dados sobre: Incidência, patogênese, história natural e melhor tratamento. A endometriose é uma afecção clínica e recorrente caracterizada pela presença de tecido endometrial funcional fora da cavidade uterina e do miométrio. Acredita-se que 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva, 50% a 60% de adolescentes e adultas com dores pélvicas e até 50% de mulheres com infertilidade sejam afetadas pela doença. Contudo, em seus estágios iniciais ou em mulheres inférteis assintomáticas e oligossintomáticas, pode ser subdiagnosticada. EPIDEMIOLOGIA: - É uma doença hormônio dependente, sendo uma doença de mulheres na idade reprodutiva (geralmente se manifesta entre 25 e 35 anos). - A prevalência é difícil de ser estimada. Está presente em 1 a 7% da população, com sintomas variados e inespecíficos, podendo ser assintomática (por isso a dificuldade de estimar incidência). - 1% das pacientes são submetidas a cirurgia de grande porte para qualquer indicação ginecológica e descobrem a endometriose por essa forma. As cirurgias de endometriose geralmente são cirurgias extensas, precisando de um planejamento específico para programação cirúrgica. ETIOLOGIA: - A causa definitiva é desconhecida, mas existem as teorias. - As principais teorias estão relacionadas à menstruação retrógrada (teoria do transplante), em que ocorre a implantação de células endometriais por regurgitação transtubária durante a menstruação, o que justifica o fato de que a endometriose é mais frequente nas porções inferiores da pelve (ovários, fundo de saco). - Para explicar a endometriose em outras partes do corpo, existe a teoria da indução, onde alguns fatores hormonais ou biológicos induzem a diferenciação de células totipotentes (indiferenciadas) em um tecido endometrial. - Outra teoria é pelo papel do sistema imune, através de uma imunidade celular deficiente, incapaz de reconhecer o tecido endometrial em locais atípicos, e as próprias citocinas e interleucinas geral o quadro inflamatório da endometriose. Obs: Existem relatos de endometriose em homens, e as teorias da indução e do papel do sistema imune podem explicar essa ocorrência. Outras causas: • Grupos familiares, pelo padrão hereditário multifatorial. • Mutações genéticas → Alteração nos cromossomos 10q26 e 20p13 e nos genes EMX2 e PTEN. • Defeitos anatômicos como por exemplo obstrução do trato reprodutivo. • Toxinas ambientais como 2,3,7,8 tetraclorodibenzo-p- toxina (produtos do processamento industrial). A teoria mais aceita é a postulada por Sampson, em 1927, de que haveria aderência de tecido endometrial pós- menstrual na cavidade peritoneal e demais órgãos, decorrente de fluxo tubário retrógrado. Praticamente 90% das mulheres com tubas uterinas pérvias apresentam fluxo retrógrado, no entanto somente 10% delas apresentariam endometriose. Portanto, outros fatores associados a tal fluxo seriam capazes de permitir a implantação de tecido endometrial fora da cavidade uterina. A metaplasia de células da linhagem peritoneal explica a endometriose em homens, em pré-púberes e em mulheres que nunca menstruaram e a presença de lesões em sítios atípicos, como cavidade pleural e meninges. A presença de células endometriais viáveis na luz de vasos sanguíneos e linfáticos sugere que focos endometrióticos distantes podem surgir, em decorrência da disseminação dessas células por via hematogênica e linfática, explicando, assim, lesões na pleura, cicatriz umbilical, espaço retroperitoneal, vagina e colo do útero. Os mecanismos envolvidos associando endometriose e infertilidade ainda não foram plenamente esclarecidos; as propostas compreendem: alterações no microambiente folicular ou no oócito, falência na implantação, disfunção ovulatória, defeitos imunológicos, hiperativação de macrófagos peritoniais, alteração das citocinas no fluido folicular e na circulação sanguínea, síndrome do folículo luteinizado não roto, alterações no desenvolvimento embrionário precoce, aumento da apoptose celular em células da granulosa, Luíza Barreto – Medicina 2021.1 além de alterações endócrinas como fase lútea inadequada e hiperprolactinemia. Há tendência à predisposição genética e constitucional à doença. Além das alterações citadas, é plausível que distorções anatômicas pélvicas estejam relacionadas à redução da fertilidade encontrada em pacientes portadoras de endometriose. Alguns estudos observacionais de fertilização in vitro, com ciclos naturais, demonstraram que a fase folicular é significativamente mais longa e a taxa de fertilização é menor em pacientes com endometriose mínima ou leve, quando comparadas àquelas com fator tubário e infertilidade sem causa aparente. DIVISÃO: Foi proposto um conceito que dividiu a endometriose em três doenças distintas: peritoneal, ovariana e endometriose profunda. • A peritoneal se caracteriza pela presença de implantes superficiais no peritônio; • A ovariana por implantes superficiais no ovário ou cistos (endometriomas) → geralmente é assintomática, principalmente relacionados com a infertilidade. • E endometriose profunda, definida como uma lesão que penetra no espaço retroperitoneal ou na parede dos órgãos pélvicos, com uma profundidade de 5mm ou mais → é caracterizada principalmente pela possibilidade dela aderir e penetrar em outros órgãos. Obs: Quando não é dentro da cavidade peritoneal, chama de endometriose extraperitoneal. SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA ENDOMETRIOSE: Existem várias classificações diferentes. A da Sociedade Americana de Fertilidade utiliza o sistema de pontos para avaliar aparência, tamanho e profundidade desses implantes peritoneais e ovarianos; analisa também a presença, extensão e tipo de aderências e obliterações de fundo de saco. • Estágio I → Mínima • Estágio II → Leve • Estágio III → Moderada • Estágio IV → Grave Obs: Avalia de forma insatisfatória os sintomas, por isso hoje não está tão em uso. Uma outra classificação é a que divide em doença mínima, leve, moderada ou grave. Tem pouca avaliação dos sintomas, se referindo principalmente à localização e a quantidade dos implantes: • Doença mínima: Implantes isolados e sem aderências • Doença leve: Implantes superficiais com < 5 cm de agregados espalhados no peritônio e ovários, sem aderências significativas. • Doença moderada: Exibe vários implantes, tanto superficial e invasivo,com adesão peritubária e periovariana. • Doença grave: Caracterizada por múltiplos implantes superficiais e profundos, incluindo grandes endometriomas ovarianos, com aderências densas. Atualmente, o que mais vai ser utilizado é avaliar os sintomas da paciente, já que uma doença extensa não tem relação com a gravidade dos sintomas. Obs: Toda paciente com diagnóstico de endometriose deve ser abordada de uma forma a prevenir sintomas futuros, mas ela não necessariamente vai apresentar os sintomas. Não tem como prever a progressão da doença e evolução dos sintomas. Os locais mais acometidos são da região pélvica, como ovários, fundo de saco, apêndice, trompas, etc. De forma menos comum, pode ocorrer na vagina, colo uterino, septo retovaginal, umbigo, etc. É raro apresentar em locais extraperitoneais como mama, pâncreas, fígado, rim, ossos, pulmão, etc, mas pode acontecer. Na imagem, é um endometrioma de parede, localizado próximo à cicatriz da cesárea, e foi criado após a cesárea por conta da manipulação do endométrio, que permitiu o implante nessa região. Vai se apresentar como uma massa abdominal dolorosa, cíclica, mas que com o passar dos anos pode se tornar contínua, pela dificuldade de absorção de toda a hemossiderina. O diagnóstico é feito pela excisão ampla da lesão, mas pode ocorrer recidiva em até 4% das pacientes, após retirar o foco de endometriose. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Pode envolver um ou dois ovários, sendo que em 1/3 dos casos envolve ambos os ovários. A conduta do endometrioma é cirúrgica, para diminuir a possibilidade de implantes. Geralmente os endometriomas não estão associados a implantes em outros locais, mas é um fator de risco para câncer de ovário, por isso a conduta é cirúrgica. QUADRO CLÍNICO: A maioria se apresenta com uma dor pélvica, uma dismenorreia progressiva e as vezes outros sintomas associados como sangramentos e infertilidade. Infelizmente, ainda hoje, a média estimada do tempo entre o início dos sintomas referidos pelas pacientes até o diagnóstico definitivo é de aproximadamente 7 anos. Obs: O risco de infertilidade é principalmente pela deformação anatômica que a endometriose causa. As aderências deformam a anatomia das trompas e dos ovários. A endometriose pode se mostrar assintomática em 2% a 22% das mulheres, mas na maioria dos casos a sintomatologia envolve dismenorreia, dispaurenia, dor pélvica não cíclica, isquemia, disúria, alterações nos hábitos intestinais e, frequentemente, infertilidade. No entanto, a apresentação clínica é muito variável e nenhum desses sintomas é específico para a endometriose, dificultando o seu diagnóstico. SINTOMATOLOGIA: Pode ser assintomática ou se manifestar como dor pélvica, infertilidade e massa pélvica. Outras formas de apresentação, a depender da localização, podem causar dispareunia, fadiga crônica, sangramento uterino anormal, sangramento retal, constipação, diarreia, hematúria. Dor pélvica: O sintoma mais comum é a dor pélvica, presente em ¾ das pacientes sintomáticas. Inicialmente é uma dor cíclica, mas é progressiva, de modo que com o passar do tempo vai se tornar uma dor pélvica crônica. O mecanismo da dor pélvica vai se basear principalmente em citocinas pró-inflamatórias, levando a uma inflamação peritoneal local, infiltração profunda com lesão tecidual, formando então aderências. Essas aderências vão gerar um espessamento fibrótico, que vão acumular sangue no local, gerando uma tração dolorosa com a movimentação dos tecidos. Dismenorreia: É mais sugestiva quando surge após alguns anos de menstruação sem dor, inicia no período pré- menstrual e geralmente a distribuição da dor é bilateral. Os sintomas vão depender da localização do acometimento, se vai ser retal, vesical, ureteral, mas a intensidade desses sintomas não se relaciona com a quantidade de focos endometriais ou profundidade da infiltração → Se a paciente for assintomática, não significa que ela não tem endometriose profunda ou que os focos são poucos, da mesma forma que podem ter poucos focos com sintomas intensos. Apesar disso, o sítio da dor pode ajudar a identificar a localização da lesão. Obs: Geralmente a paciente que apresenta dispareunia e dor ao defecar, apresenta sinais de doença profunda, e é uma paciente que tem principalmente acometimento de intestino. Endometriose extrapélvica: Geralmente a paciente apresenta dor e uma massa palpável com padrão cíclico, que aumenta durante o período menstrual. O local mais comum é o trato intestinal, principalmente cólon e reto, podendo apresentar um quadro de dor abdominal e/ou lombar, distensão abdominal, hemorragia retal cíclica, constipação, diarreia e obstrução. Quando o acometimento é pulmonar, pode ocorrer pneumotórax, hemotórax e hemoptise durante o período menstrual. No acometimento umbilical, ocorre principalmente a presença de massa palpável e dor cíclica. A endometriose de bexiga é o local mais comum do trato urinário, pode ter um quadro assintomático ou apresentar disúria, urgência miccional e tenesmo vesical no período menstrual. Na endometriose ureteral, a paciente pode apresentar dor no flanco, hematúria macroscópica, hidronefrose, até mesmo perda da função renal. INFERTILIDADE: Ocorre por uma distorção anatômica pelas aderências pélvicas que em um tempo se tornam fibróticas e geral dor à movimentação. A infertilidade também está associada aos endometriomas, que perde a capacidade funcional do ovário. Também se relaciona com a produção de substâncias como prostaglandinas, gerando um ambiente hostil, prejudicando a função ovariana, fertilização e implantação do embrião. DIAGNÓSTICO: A suspeita vai ser feita a partir da história clínica da paciente, que pode se apresentar como uma mulher com infertilidade, dismenorreia, dispareunia ou dor pélvica crônica. O exame físico pode não ter anormalidades, mas é importante inspecionar vulva, vagina, colo e cicatriz de episiotomia. São locais pouco comuns, mas é importante buscar por focos. Outros sinais que podem ser encontrados são nódulos em fundo de saco, edema doloroso do septo retovaginal e aumento ovariano unilateral. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 O diagnóstico é clínico, mas utiliza exames de imagem específicos para confirmar. A USG transvaginal ou transretal consegue identificar focos mais fáceis de serem visualizados, como os cistos endometrióticos ovarianos, endometriose de bexiga, ureteral ou retovaginal. Se tiver a suspeita clínica de lesão profunda, como em pacientes com dispareunia ou dor ao defecar, deve solicitar exames mais adequados, como USG transretal com preparo, RNM para pesquisa de endometriose e USGTV com preparo intestinal. Na suspeita de implante em bexiga, solicita cistoscopia. Os exames de imagem mais utilizados para confirmação diagnóstica em pacientes com suspeita de endometriose são a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética da pelve, por sua sensibilidade e especificidade, que variam de 80% a 94%. Ambos os métodos têm suas indicações e limitações, não existindo até o momento superioridade de um método sobre outro. Pela fácil acessibilidade, inocuidade e baixo custo, a ultrassonografia é a primeira escolha em exames não invasivos para avaliação de pacientes com suspeita clínica de endometriose. Tanto ultrassonografia transvaginal quanto transretal são capazes de identificar lesões intestinais com precisão na descrição de suas características e localização, porém, a aplicabilidade da via transretal se torna limitada uma vez que é menos tolerada pelas pacientes e outros possíveis sítios de lesões pélvicas são mais facilmente identificados pela via transvaginal. A ultrassonografia transvaginal é capaz de identificar tanto lesões propriamente ditas, evidenciadascomo nodulações ou espessamentos em estruturas acometidas, como sinais indiretos de comprometimento pélvico, por meio da avaliação da mobilidade dos órgãos pélvicos. A ressonância magnética é usualmente realizada como forma adicional em casos complexos de endometriose e para programação cirúrgica mais precisa em determinados casos em que a ultrassonografia mantiver incertezas. As recomendações propostas propõem que seja realizada a manutenção da ultrassonografia transvaginal como primeira escolha para a investigação da paciente com suspeita clínica de endometriose e que a ressonância seja solicitada em casos de queixas típicas com resultados negativos na ultrassonografia ou em casos de lesões em andar superior de abdome ou de múltiplos sítios de lesões. Existem alguns marcadores ligados a endometriose, e um deles é o Ca 125. Em muitos casos vai ter o aumento desse marcador em pacientes que não possuem endometriose. Não deve ser solicitado como exame de rotina, pois o aumento dele pode levar ansiedade à paciente. Um aumento desse marcador sugere endometriose, mas não é diagnóstico → > 35 sugere endometriose. Ele pode ser solicitado para avaliar a eficácia do tratamento após o diagnóstico, mas não é solicitado para diagnosticar. É usado para avaliar a remissão dos focos de endometriose ou recorrência. O diagnóstico da endometriose pode ser fortemente sugerido por meio de ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética. No entanto, esses exames não apresentam sensibilidade e especificidade adequadas. O único biomarcador sérico usado com certa frequência em pacientes com endometriose é o CA-125, que mostrou potencial diagnóstico para endometriose moderada/grave. No entanto, o CA-125 apresentou baixa sensibilidade, com valores de 24% a 94% na concentração de corte de 35 U/mL. Outra forma de diagnóstico, após a clínica e exames de imagem, é a laparoscopia. É uma técnica padrão para inspeção visual da pelve e estabelecimento de um diagnóstico definitivo → Retirada do implante e envio para a anatomia patológica. Com a laparoscopia, é possível registrar o tipo (se é peritoneal, ovariana ou profunda), extensão e localização de todas as lesões e aderências. Hoje em dia não é tão utilizado por não ter necessidade de submeter a paciente a um procedimento cirúrgico com internamento hospitalar sendo que existem outros meios de diagnóstico por exame de imagem. Obs: Não deve ser realizada dentro dos 3 meses de tratamento hormonal → Se a paciente estiver em tratamento hormonal, pode diminuir os focos de endometriose e não ser possível visualizar. A confirmação de todo diagnóstico é pela biópsia da lesão suspeita → Manda para a anatomia patológica para o diagnóstico histopatológico. Nos casos de endometriomas ovarianos (< 3 cm) com infiltração profunda também deve fazer biópsia para descartar malignidade. Deve remover o cisto e não precisa remover o ovário (em geral eles se localizam na superfície Luíza Barreto – Medicina 2021.1 anterior do ovário). Contém um líquido castanho escuro, espesso (como se fosse chocolate ou Nutella). Assim, até o momento, o padrão-ouro para o diagnóstico de endometriose consiste na laparoscopia e no diagnóstico histológico baseado nas lesões, sendo este último de importância controversa. O diagnóstico cirúrgico tem muitas desvantagens, quando comparado com um diagnóstico minimamente invasivo, tais como riscos inerentes ao próprio procedimento (dano ao órgão, hemorragia, infecções e formação de adesão), complicações anestésicas e alto custo financeiro associado ao paciente e ao sistema de saúde. Além disso, apenas um terço das mulheres que realizam um procedimento laparoscópico receberá diagnóstico de endometriose, portanto muitas mulheres livres de doenças são desnecessariamente expostas a esse risco. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: • DIP • Abscesso tubo-ovariano • Salpingite • Endometrite • Cisto ovariano hemorrágico • Torção ovariana • Dismenorreia primária • Leiomioma em degeneração PREVENÇÃO: Muitos estudos têm relacionado com o estilo de vida da paciente. Pacientes com endometriose que fazem exercícios regularmente e tem uma alimentação balanceada tem muito menos sintomas do que as pacientes obesas, com dieta rica em carne vermelha, carboidratos, etc, e isso está relacionado principalmente à exposição hormonal. O ACO pode diminuir os focos de endometriose, mas ainda não é capaz de prevenir. TRATAMENTO: • Acompanhar o desenvolvimento das lesões • Controle da dor pélvica • Tratamento da infertilidade do casal O tratamento deve ser clínico ou cirúrgico. Tratamento da dor: O principal objetivo do tratamento clínico é o alívio dos sintomas álgicos e a melhora da qualidade de vida, não se esperando diminuição das lesões ou cura da doença, mas sim o controle do quadro clínico. Realizar o tratamento da infertilidade. Embora nem toda mulher com endometriose seja infértil, 50% delas recebem o diagnóstico da doença quando estão tentando engravidar. O processo inflamatório pélvico pode resultar em obstrução das trompas e interferir na ovulação, no transporte dos gametas e na implantação do embrião no útero. Os estudos, no entanto, ainda não estabeleceram o mecanismo exato pelo qual a endometriose provoca infertilidade. Na suspeita de endometriose, mesmo que o exame físico e de imagem estejam normais, deve fazer o tratamento clínico da paciente para alívio da dor. Caso não haja melhora, deve avaliar uma laparoscopia cirúrgica, com o objetivo de tentar identificar a causa. Se já tiver diagnostico de endometriose profunda ou endometrioma ovariano e a paciente apresentar endometrioma > 6 cm, lesão em ureter, íleo, apêndice ou retossigmoide com sinais de suboclusão, já deve ir direto para o tratamento cirúrgico. Se não, pode tratar a paciente clinicamente. Em caso de suspeita de infertilidade por endometriose, deve investigar se tem dor pélvica associada. Se sim, avaliar fatores prognósticos em relação a infertilidade (idade, tempo, reserva ovariana, etc). Se for um mau prognóstico, já deve partir para a fertilização in vitro, e se for um bom prognóstico, faz tratamento cirúrgico da endometriose. Se não houver gestação mesmo com a fertilização in vitro, deve fazer o tratamento cirúrgico. Se a paciente não tem dor pélvica, vai fazer a reprodução assistida, que pode ser uma inseminação (não precisa necessariamente ser uma fertilização in vitro). Se ela não engravidar, faz tratamento cirúrgico. TRATAMENTO CLÍNICO → VISÃO GERAL DAS OPÇÕES TERAPÊUTICAS: 1. Progestágenos isolados 2. Contraceptivos orais combinados (E + P) 3. Anti-progestágenos 4. Agonistas de GnRh Luíza Barreto – Medicina 2021.1 5. Inibidores da aromatase 6. Danazol (esteroide sintético) Obs: Os três últimos são ultimas opções, por conta dos efeitos colaterais. O uso de terapias medicamentosas para endometriose é baseado no fato de que a endometriose é responsiva aos hormônios. Duas condições fisiológicas – gravidez e menopausa – estão frequentemente associadas à resolução da dor provocada pela endometriose. Os análogos farmacológicos dessas condições são os progestagênios e os contraceptivos orais combinados (COCs), que levam a condições hormonais semelhantes à observada durante a gravidez, e os androgênios e agonistas do GnRH (GNRHa), que promovem a supressão do estrogênio endógeno. Embora a progesterona cause alterações secretoras no endométrio durante a fase lútea do ciclo menstrual normal, os progestagênios sintéticos causam atrofia endometrial por diminuição da síntese de receptores de estrogênio. Kistner, em 1958, foi o primeiro a usar essa classe de medicamento para tratar a endometriose com altas doses de progestagênios, levando a um estado de pseudogravidez. Agonistas do GnRH: O grandeinconveniente do uso de GnRHa no tratamento da dor associada à endometriose é a ocorrência de efeitos adversos secundários ao hipoestrogenismo, sendo os principais as ondas de calor e o ressecamento vaginal, que podem estar presentes em até 90% dos casos. Porém, esses não são os únicos efeitos colaterais; entre os menos frequentes, podemos citar cefaleia, tontura, labilidade emocional, acne, mialgia, edema, redução do volume mamário, ganho de peso, diminuição da libido e insônia. Outro grande problema é a perda de massa óssea decorrente do hipoestrogenismo induzido por seu uso, que pode variar de 3% a 6% em um período de seis meses de uso e até 12% em um ano. Para evitar essa perda óssea e minimizar os efeitos colaterais, pode-se utilizar a terapia add-back, que é a utilização de baixas doses de progestagênios isolados ou associados a estrogênios durante o uso de GnRHa. Todavia, considerações cautelosas devem ser feitas quando da análise da prescrição de agonistas do GnRH para mulheres jovens, antes da aquisição do pico de massa óssea. Os progestágenos vão ser a opção terapêutica inicial para a paciente. A hormonioterapia (anticoncepcional oral, injetável ou implante) associada ao uso de analgésicos é a primeira opção para tratar os efeitos da endometriose. Além do tratamento clínico, recomendam-se psicoterapia de apoio, fisioterapia e acompanhamento nutricional. INDICAÇÕES DE TRATAMENTO CIRÚRGICO: Obs: Existe também a possibilidade de usar o DIU mirena, caso os implantes sejam apenas pélvicos, pois o mirena tem ação apenas local. - Como a endometriose é uma doença crônica, o tratamento é feito ao longo da vida da paciente, tentando maximizar o tratamento clínico e evitar ao máximo cirurgias repetidas. - O trabalho deve ser multidisciplinar, associando a clínica da dor e psicologia, dependendo do quadro da paciente. O tratamento deve ser individualizado, relacionado à gravidade dos sintomas, dimensão e localização da doença, se há desejo de gestação, idade da paciente, efeitos colaterais das medicações e complicações cirúrgicas. RESUMO: A suspeita clínica de endometriose geralmente envolve a história clínica da paciente e exame físico, abordando sua sintomatologia e história pessoal e familiar. Entretanto, a apresentação clínica da doença varia consideravelmente, sem características clínicas patognomônicas, fato que dificulta o seu diagnóstico. Um diagnóstico presuntivo de endometriose pode ser fortemente sugerido pela ultrassonografia transvaginal e pela ressonância magnética em casos de endometrioma ou endometriose infiltrativa profunda. No entanto, esses exames de imagem não possuem a sensibilidade e a especificidade necessárias quando se trata de endometriose peritoneal superficial. O biomarcador sérico mais utilizado na investigação da endometriose foi o CA- 125, que não apresenta sensibilidade (70%-75%) suficiente para sua indicação na prática clínica. Portanto, apesar de seu risco e alto custo, a videolaparoscopia e a análise anatomopatológica subsequente ainda se apresentam como o procedimento padrão-ouro para o diagnóstico definitivo de endometriose. REFERÊNCIAS: Endometriose (FEBRASGO 2021) e aula.
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