Buscar

SOCIOLOGIA DO DIREITO - RESENHA - ensaio sobre a cegueira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RESENHA: ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
	O filme, baseado na obra do autor José Saramago, retrata o surgimento de uma epidemia de cegueira desconhecida pela medicina, sendo denominada como “cegueira branca”, se diferenciando da cegueira até então conhecida, onde não há a percepção de luz.
	As primeiras pessoas ‘contagiadas’ pela epidemia foram direcionadas a um centro de quarentena para observação a fim de controle. Em pouco tempo, em virtude da disseminação desta, o sistema econômico e político entrou em colapso uma vez que não haviam meios eficazes e recursos suficientes para gerir a crise. Deste modo, sem cura para a doença aqueles que se encontravam confinados, já em situação degradante, foram abandonados.
	Ponto interessante da obra se mostra ao notar que nenhum dos personagens possui nome, sendo apenas designados por suas características físicas ou profissionais. Isto nos mostra que de nada importa quem você diante de tal situação, encontram-se todos em ‘pé de igualdade’.
	Embora todos tenham sido contaminados pela cegueira branca, a personagem que figura como esposa do médico não foi afetada, sendo a única pessoa a enxergar, encontrando-se na posição de líder e guia dos membros de determinada ala.
	A obra retrata de maneira profunda o homem em seu estado animal, onde os instintos tomam conta sobre a razão, não há ética, regras ou moral, no estado de sobrevivência em que se encontravam, na luta por espaço, comida e pelas satisfação das necessidades pessoais, valia a lei do mais forte, mostrando o ser humano em sua face mais egoística e obscura. 
	A dificuldade do ser humano em lidar com situações conflituosas se mostra evidente e nos remete ao questionamento sobre a sociedade que temos formado e em que vivemos.
	Em contraponto, na situação de miserabilidade em que se encontram todas aquelas pessoas, a personagem da esposa do médico se mostra como um tênue fio de esperança, a outra face da sociedade, aquela que representa o lado que se une em prol um dos outros, o pensamento no bem comum e não apenas em sua individualidade. 
	O estado de calamidade em que se encontraram faz desabrochar outras sensações e sentimentos, talvez esquecidos em tempos normais, como a valorização de pequenas coisas cotidianas como o afeto, cuidado ao próximo, alimentação, higiene e até mesmo as sensações obtidas em contato com a natureza como o sol e a chuva.
	O filme é perfeitamente correlacionável com atual pandemia que ainda assola não só um país, mas todo o mundo. Embora tenha começado em uma pequena cidade da China, a disseminação do novo covid-19 se alastrou de forma inimaginável por todo o mundo mudando, como na obra em questão, a forma de nós, seres humanos em lidarmos uns com os outros e com o surgimento de novos desafios sociais.
	Observamos a negligência de alguns governantes em lidar com o estado de calamidade pública, onde alguns preferiram priorizar seu sistema econômico em vez da saúde pública que em momento posterior sofreu - como observado - certo colapso, este expresso em milhares de pessoas mortas acometidas pela insuficiência do sistema em lidar com as questões sanitárias.
	Contudo, em breve leitura ao material complementar – A cruel pedagogia do vírus, de Boaventura de Sousa Santos – não podemos dizer que a crise enfrentada pelo mundo decorre apenas do surgimento do vírus, mas sim de sucessivos atos políticos e econômicos que ao longo dos anos foram fragilizando outras áreas sociais.
	Mais uma vez a sociedade fora divida em dois lados, aqueles que reuniam condições necessárias para se precaver e de outro lado aqueles que careciam do considerado fundamental, tal como condições mínimas de saneamento básico. 
	O que se observou, foi em um primeiro momento a compreensão geral da população acometida por um sentimento de empatia e conscientização da necessidade de se manter em quarentena para que fosse evitada a disseminação do vírus até que outras medidas mais eficazes fossem tomadas. Entretanto, a quarentena se mostrou como um instrumento de discriminação, uma vez que, para determinados grupos sociais se tornou difícil a quase impossível o isolamento em virtude de sua vulnerabilidade, como por exemplo os trabalhadores autônomos e informais, pessoas sem teto, idosos entre outros.
	Parafraseando Oscar Wilde em a Decadência da Mentira, a vida imita a arte, e o mesmo resta claro com a comparação da obra de José Saramago e realidade social hoje vivenciada em todo o mundo. Fato é que a existência da pandemia ocasionada pelo covid-19 mudou – e tem mudado – tudo o que antes consideraríamos como normal. A forma de se relacionar seja pessoal, interpessoal e politicamente, questionando-se inclusive, a eficiência do capitalismo como modelo. Além da ampliação do campo de visão e estudo para questões antes tidas como secundárias, mas que a longo prazo propiciarão a continuidade da vida humana digna no planeta.

Outros materiais