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Farmacologia Mila Schiavini MED101 Glicocorticoides ❖ Considerações gerais: • Os glicocorticoides são hormônios esteroides, sintetizados no córtex da glândula suprarrenal, que afetam o metabolismo dos carboidratos e reduzem a resposta inflamatória. ❖ Funções básicas: • Modulação da resposta inflamatória. • Metabolismo dos carboidratos, proteínas e lípídeos (contra-regulador insulínico). • Manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. • Preservação do sistema imune, cardiovascular, SNC, musculoesquelético, rins, endócrino. • OBS: um adulto saudável produz 10 a 20 mg de cortisol por dia. Para fazer reposição, deve-se saber a dose basal do cortisol. • ❖ Síntese e liberação: 1. Mineralocorticoides: • Aldosterona: atua principalmente no equilíbrio hidroeletrolítico (retenção água e sódio). 2. Esteroides sexuais: • Dão os caracteres sexuais primários e secundários. • Exemplos: testosterona, estradiol, progesterona. 3. Glicocorticoides: • Cortisol é o principal representante. • Atua principalmente nos processos anti-inflamatórios. Farmacologia Mila Schiavini MED101 • Atua também como contrarregulador da insulina. Farmacologia dos glicocorticoides: ❖ Farmacocinética: • Absorção: ✓ Boa absorção oral e tópica. ✓ Formulações intravenosa promovem rápida disponibilidade (quase imediatas). ✓ Efeitos mais prolongados com suspensões para uso intramuscular. ✓ Alcançam pico plasmático entre 30-90 minutos. • Distribuição: ✓ 90% no plasma liga-se a proteínas. ✓ 95% dos 90% ligados a proteínas, estará ligado à transcortina (CBG – proteína específica de ligação do cortisol) e 5% à albumina. ✓ Glicorticoides sintéticos 70% ligados à proteínas. • Metabolismo: ✓ Predominantemente hepático (cuidado ao utilizar em pacientes com insuficiência hepática). ✓ Prednisona (é um pró-fármaco) é hidroxilada no fígado em pednisolona (forma ativa). Em pacientes com comprometimento hepática, a prednisona pode não ser tão ativa, pois ela será menos convertida no fígado. • Eliminação: ✓ Predominantemente renal. Obs.: IMPORTANTE: doenças renais e hepáticas atenção com uso de corticoides!! ❖ Mecanismo de ação: • O corticoide é um receptor intra-celular que residem inativos no citoplasma. • Com a ligação do complexo “ligante-receptor” ele migra para o núcleo. • Entram no núcleo em forma de dímero. • No núcleo interagem com sequência de DNA. • Mecanismos de ação complexos: ✓ Diminui síntese de citocinas e de óxido nítrico (potente vasodilatador), diminuindo a resposta inflamatória. ✓ Inibe a COX-2 e a fosfolipaseA2 (através da lipocortina). ✓ Inibe expressão de receptores de endotelina (broncoconstrição). ❖ Efeitos gerais: • Metabolismo dos carboidratos e proteínas: Farmacologia Mila Schiavini MED101 ✓ Proteção dos tecidos dependentes de glicose, já que é um contrarregulador da insulina (aumentando a glicose no sangue – importante para momentos de jejum). ✓ Estimulam a gliconeogênese com aumento da glicemia. • Metabolismo dos lipídeos: ✓ Redistribuição da gordura corporal. ✓ Aumento dos ácidos graxos livres. • Equilíbrio hidroeletrolítico: ✓ Efeitos permissivos à filtração glomerular. ✓ Reduz a captação de cálcio pelo intestino e aumenta sua excreção renal. ❖ Efeitos gerais: • Sistema cardiovascular: ✓ Aumento da pressão arterial. Pacientes com déficit da produção de cortisol tendem a ter hipotensão. • Sistema músculo esquelético: ✓ Miopatia por excesso de esteróides (Síndrome de Cushing). ✓ Fraqueza muscular por falta de cortisol (Doença de Addison). • Sistema nervoso central: ✓ Humor. ✓ Altas taxas de cortisol podem desenvolver manias, insônia e até neuroses ou psicoses. • Sistema hematopoiético: ✓ Aumento do número de hemácias e plaquetas. ✓ Linfopenia e redução da massa linfoide. ✓ Redução de linfócitos, basófilos, monócitos e eosinófilos. ✓ Aumento dos leucócitos polimorfonucleares circulantes maduros, causando leucocitose nas primeiras horas. • Ações anti-inflamatórias e imunossupressoras: ✓ Múltiplos mecanismos. ✓ Inibem a produção de diversas células relacionadas aos processos de inflamação e de defesa. ✓ Diminuem liberação de substâncias quimiotáxicas e vasodilatadoras (NO). ✓ Reduzem a expressão de citocinas. ✓ Reduzem a ação da COX2 e FosfolipaseA2 (importante para o tratamento de pacientes que tem quadros inflamatórios crônicos e processos alérgicos). ❖ Tempo de ação: • Ação curta (< 12 HORAS): ✓ Cortisona, hidrocortisona e fludrocortisona (grande efeito mineralocorticoide). • Ação intermediária (12-36 HORAS): ✓ Prednisona, prednisolona e metilpredinisolona. • Ação longa (>36 HORAS): ✓ Dexametasona, triancinolona e betametasona. ❖ Potência: • É a medida da expressão da capacidade de um fármaco em gerar determinado efeito (quanto mais potente, mais ele gera efeito com uma menor dose). • A medida da potência é calculada pelo CE 50 (concentração necessária para produzir metade do efeito máximo). • Um indivíduo adulto produz em torno de 10 a 20 mg de cortisol/dia. • Pico do cortisol é as 8 horas da manhã e menor liberação as 4 h. • Cortisol = Hidrocortisona = 1. • 20 mg de cortisol corresponde a 5 mg prednisona (4 x mais potente). Farmacologia Mila Schiavini MED101 ❖ Uso clínico: • Tratamento da doença de ADDISON: ✓ Falta de respostas ao ACTH pela suprarrenal. • Tratamento da insuficiência de suprarrenal secundária e terciária: ✓ Hipófise ou hipotálamo não produz. • Tratamento da hiperplasia suprarrenal congênita. ✓ Defeito enzimático na produção de hormônios suprarrenais. ✓ ACTH vai estar alto. • Aceleração da maturação pulmonar. ✓ Criança que nasce prematura, não produz ainda surfactante. • Tratamento das alergias. • Tratamento dos distúrbios reumáticos. • Doenças renais. • Doenças infecciosas. • Doenças oculares. • Doenças cutâneas. ✓ Fármaco mais utilizado em dermatologia. • Doenças hepáticas. • Neoplasias malignas. • Outros: sarcoidose, trombocitopenia, traumatismo raquimedular, anemias de origem autoimune. ❖ Precauções: • Diabetes (os glicocorticoides aumentam a glicemia). • HAS (os glicocorticoides causam hipertensão). • Insuficiência renal (por serem excretados nos rins). • Doenças hepáticas (por serem metabolizados no fígado). • Glaucoma. • Catarata. • Doenças do TGI (pela inibição da COX-1). • Osteoporose. • Infecções fúngicas. • Pacientes imunocomprometidos. • Gestantes (os glicocorticoides atravessam). Farmacologia Mila Schiavini MED101 Obs.: ter cuidado com a retirada abrupta! ❖ Interações medicamentosas: • Aumento dos efeitos dos anticoagulantes orais. • Aumenta o efeito dos relaxantes musculares. • Aumenta edema com medicações que retém sódio. • Aumento da toxicidade da digoxina. • Diminui o efeito dos diuréticos. ❖ Efeitos adversos: • Osteoporose. • Acne. • Hirsutismo. • Aumento do apetite. • Distúrbios emocionais. • Catarata e glaucoma. • Hipotireoidismo e infertilidade (inibição do LH e TSH pela hipófise). • Hiperglicemia. • Edema periférico. • Alterações cutâneas. • Inibição da cicatrização. • Aumento do risco de infecções. • Retardo do crescimento em crianças (atividade osteoclástica aumentada e osteoblástica diminuída, além de inibir a liberação de GH pela hipófise). • Síndromede Cushing. ❖ SÍNDROME DE CUSHING: • Conjunto de sinais e sintomas relacionadas ao excesso de corticoide (exógeno ou endógeno). • Hipersecreção de ACTH pela hipófise (Doença de Cushing). • Secreção de ACTH por tumor não hipofisário (síndrome paraneoplásica). • Causa exógena: uso prolongado de glicocorticoides (mais tempo dependente do que dose dependente) – mais comum. • Sinais: estrias violáceas, obesidade centrípeta, “face de lua-cheia”, “giba de búfalo”, rubor facial, acne, hirsutismo, membros hipotróficos, HAS, DM, infertilidade. • Sintomas: fraqueza muscular, aumento do apetite, insônia, agitação, cefaleia (pode ser por aumento da pressão intracraniana), ansiedade. ❖ Minimizando efeitos adversos: • Indicação rígida. • Preferir corticoides de ação curta ou intermediária. • Tratamentos curtos (entre 5 a 7 dias – acima de 7 dias deve-se fazer desmame). • Quando possível formulação tópica ou inalatória. • Associação com AINEs e imunossupressores. • Menor dose para efeito terapêutico. • Terapia prolongada: teste tuberculínico, RX de tórax e tratar estrongiloidíase. ❖ Terapia de reposição para insuficiência da suprarrenal: • Insuficiência suprarrenal: ✓ Lesões estruturais ou funcionais do córtex da suprarrenal (Doença de Addison). Farmacologia Mila Schiavini MED101 ✓ Lesões da adeno-hipófise ou hipotálamo (secundária). - Países desenvolvidos: doença auto-imune. ✓ Países subdesenvolvidos: adrenalite tuberculosa. ✓ Outras causas: adrenelectomia, hemorragia suprarrenal, infiltração neoplásica, AIDS, distúrbios hereditários. • Insuficiência suprarrenal aguda: ✓ Potencialmente fatal. ✓ Causas: suspensão aguda de corticoide, traumas, infecções (menigococo e pseudomonas). Sintomas: náuseas, vômitos, desidratação, hiponatremia, fraqueza letargia, hipoglicemia e hipotensão. ✓ Tratamento: ▪ Hidrocortisona 100 mg IV 8/8 h até estabilização. ▪ Repor mineralocorticoide (fludrocortisona). ▪ Corrigir distúrbios hidroeletrolíticos. • Insuficiência suprarrenal crônica: ✓ Doença de Addison. ✓ Manifestações como a insuficiência aguda, mas de menor intensidade. ✓ Pode haver perda de peso e hiperpigmentação cutânea. ✓ Infecção secundária ou trauma podem ser fatais. ✓ Tratamento: ▪ Reposição fisiológica: Prednisona 5 mg/dia (V.O.). • Hiperplasia suprarrenal congênita: ✓ Distúrbio genético no qual há uma deficiência na síntese do cortisol. ✓ Secreção aumentada de ACTH (falta de feedback) com aumento das suprarrenais. ✓ ACTH em excesso estimula a produção de esteroides sexuais: virilização precoce. ▪ Tratamento: Prednisona 5 mg/dia, via oral. ❖ Teste supressão dexametasona: • Teste para diagnóstico para síndrome de Cushing. • Dexametasona 1 mg via oral às 23 h do dia anterior com determinação do cortisol as 8h da manhã seguinte. • Cortisol < 1,8 mcg/dL sugere ausência de Cushing. • Se houver excesso de cortisol (> 1,8 mcg/dL) o diagnóstico é sugestivo de Cushing. • Outros: medição do cortisol urinário livre, medição do cortisol sérico à meia noite, medição do ACTH sérico, exames de imagem. ❖ Glicocorticoides nas doenças não endócrinas: • Distúrbios reumáticos: ✓ Doenças reumáticas mais graves: ▪ Lúpus eritematoso sistêmico (LES), poliarterite nodosa (PAN), granulomatose de Wegener, doença de Churg-Strauss e arterite de células gigantes. ▪ Prednisona 1 mg/kg/dia, V.O. ✓ Artrite Reumatóide: 5 a 10 mg de prednisona V.O. ao dia. ✓ Osteoartrite e inflamações: ▪ Opção de injeção local de corticoide (intra-articular). • Doenças renais: ✓ Síndrome nefrótica por lesão mínima: ▪ Prednisona: 1 a 2 mg/Kg por dia durante 6 a 8 semanas, seguida da redução de dose. ▪ 95% de remissão em 3 meses. ✓ Glomerulonefrite membranosa. ✓ Doença renal secundária ao lúpus. • Doenças alérgicas: ✓ Reação alérgica grave: corticoide tem início tardio. Utilizamos adrenalina (epinefrina). ✓ Urticária, picadas de insetos, angioedema, rinite alérgica. Farmacologia Mila Schiavini MED101 • Doenças gastrointestinais: ✓ Doenças inflamatórias: retocolite ulcerativa e doença de Crohn. • Doenças pulmonares: ✓ DPOC. ✓ Asma. ✓ Inalados x orais. ✓ Maturação pulmonar do feto: ▪ Entre 26 e 34 semanas de gestação. ▪ Betametasona: 12 mg I.M., duas doses, com 24 horas de diferença (pré-véspera do parto e véspera do parto) o corticoide vai estimular a produção de surfactante e vai estimular a maturação do alvéolo. • Doenças infecciosas: ✓ Pode parecer paradoxal. ✓ Pneumonia por Pneumocysti carinii na AIDS. ✓ Meningite por Haemophilus influenzae. ✓ Paralisia facial de Bell. • Doenças malignas: ✓ Leucemia linfocítica aguda, linfomas e tumores do SNC. ✓ Efeitos adversos da quimioterapia: náuseas (são antinauseantes). • Doenças cutâneas: ✓ Local: tópica (eventualmente intralesional). ▪ São 7 níveis de potência relacionadas à supressão da hiperemia. ▪ Escolha: potência, local, gravidade da doença. ▪ Aplicação 2 vezes ao dia é suficiente. ✓ Sistêmico: intramuscular, intravenosa e oral. ▪ Doenças mais graves (ex: pênfigo vulgar ou pênfigo bolhoso). • Outras: ✓ Doenças hepáticas. ✓ Sarcoidose. ✓ Trombocitopenia. ✓ Anemia hemolítica (origem imune). ✓ Transplante de órgãos (para evitar remissão). ✓ Trauma raquimedular (nas primeiras 8 horas): ▪ Metilprednisolona: - 30 mg/ kg em bolus (15 minutos). - 5,4 mg/kg/h durante 23 horas. ❖ Pulsoterapia: • “The big shot”: dose alta em curto espaço de tempo. • Objetivo: deter um quadro rapidamente progressivo e agressivo. • Metilprednisolona (500 a 1000 mg) e dexametasona (100 a 200 mg). • Intravenosa de 3 a cinco dias. • Boa potência com pouco efeito mineralocorticoide. • Administrar lentamente (em torno de 2 a 3 horas). ❖ Retirada: • 5 a 10 mg a cada uma ou duas semanas, quando a dose em uso de prednisona for maior que 40 mg/dia de prednisona ou equivalente. • 5 mg a cada uma ou duas semanas quando a dose de prednisona estiver entre 20 a 40 mg/dia. • 2,5 mg a cada uma ou duas semanas quando a dose de prednisona estiver entre 10 e 20 mg/dia. Farmacologia Mila Schiavini MED101 • 1 mg a cada duas a quatro semanas quando a dose de prednisona estiver abaixo de 10 mg/dia (a prednisona pode ser substituída por prednisolona solução oral, pela posologia, ou ser utilizada em dias alternados). ❖ Glicocorticoides usados na prática médica: • Betametasona: ✓ Uso tópico, oral e parenteral. ✓ Bastante potente. ✓ Ação longa. ✓ Indicado na maturação pulmonar do feto entre 26 e 34 semanas (é potente, se liga pouco a proteína plasmática e atravessa a barreira placentária de maneira efetiva). ✓ Diprospan, Duoflam, Celestone. • Hidrocortisona: ✓ Uso tópico, sistêmico e intra-articular. ✓ Ação curta. ✓ Usada para reposição (intravenosa). • Beclometasona: ✓ Uso inalatório. ✓ Asma (Clenil). • Clobetazol: ✓ Uso tópico. ✓ Bastante potente. • Dexametasona: ✓ Várias apresentações. ✓ Bastante potente. ✓ Ação longa. • Prednisona: ✓ Uso oral. ✓ Ação intermediária. ✓ Inerte (quando ativada no fígado vira prednisolona). • Predinisolona: ✓ Uso oral. ✓ Ação intermediária. • Metilprednisolona: ✓ Uso intravenoso, utilizada em pacientes com trauma raquimedular. ✓ Ação intermediária. ✓ Solu-medrol. • Desonida: ✓ Tópico (gel, creme). ✓ Semelhante ao clobetasol, mas menos potente. • Defrazacorte: ✓ Uso oral. ✓ Poucos efeitos mineralocorticoides. • Triancinolona: ✓ Várias apresentações. ✓ Ação intermediária. ✓ Oncilon-Aorobase(utilizado para tratar lesões na mucosa da boca – aftas).
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