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Selma Freitas Se lm a Fr ei ta s Direito Ambiental Di re ito A m bi en ta l Direito Urbanístico D ir ei to U r ba n ís ti co D ir ei to U r ba n ís ti co Direito Urbanístico Selma Freitas Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Marcelo Augusto Travezani Revisão Ortográfica Vanessa Almeida Coordenadora Pedagógica de Curso- EAD Eleonora Altruda de Faria Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Ana Flávia Marcheti 1º Edição: Fevereiro de 2013 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 F866d Freitas, Selma. Direito urbanístico. / Selma Freitas. - São Paulo : Know How, 2013 000 p. : 22 cm.. Inclui bibliografia ISBN : 1. Direito urbanístico. 2. Estatuto da cidade. 3. Plano diretor. I. Título. CDD – 346.81045 Direito Urbanístico SUMÁRIO Capítulo. 1. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano 2. Legislação e Executivo são responsáveis pelo Plano Diretor 3. A participação da sociedade 4. A participação democrática 5. Definição das ações prioritárias e dos instrumentos urbanísticos 6. O projeto de Lei do Plano Diretor Capítulo 1. A origem das posturas municipais 2. Preceito municipal escrito de ordem pública 3. A natureza jurídica das posturas 4. Posturas e Autonomia local 5. Considerações sobre as posturas municipais 6. Instituir posturas municipais 7. A recodificação do município de São Paulo 8. Códigos de obras Sumário 3 4 7 31 Capitulo 3 Plano diretor de desenvolvimento urbano 1. Plano diretor de desenvolvimento urbano Plano Diretor é o principal instrumento insti- tuído pelo Estatuto da Cidade, reunindo os demais instrumentos e estabelecendo como cada porção do território municipal cumpre sua função social. O Plano Diretor, especialmente em razão da obrigatoriedade de sua aprovação definida pelo Es- tatuto da Cidade, em seu artigo 41.º, incisos. I e II, combinado com o seu artigo 50.º, aos municípios que possuam mais de vinte mil habitantes, ou inte- grem aglomerações urbanos e regiões metropolita- nas, como segue: Art. 41. “O plano diretor é obrigatório para cidades: I – com mais de vinte mil habitantes; II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;” Art. 50. “Os Municípios que estejam enqua- drados na obrigação prevista nos incisos I e II do art. 41 desta Lei que não tenham plano diretor aprova- do na data de entrada em vigor desta Lei deverão aprová-lo até 30 de junho de 2.008. (Redação dada pela Lei n.º 11.673, 2.008).” O Estatuto da Cidade determina que o Plano Diretor seja obrigatório para os municípios que: 1. Plano diretor de desenvolvimento urbano • tenham mais de 20 mil habitantes; • integrem regiões metropolitanas ou aglome- rações urbanas; • estejam incluídos em áreas de especial inte- resse turístico; • façam parte de áreas de influência de empre- endimentos ou atividades com significativo; • impacto ambiental de âmbito nacional ou regional; • queiram utilizar os instrumentos urbanísti- cos previstos no Estatuto da Cidade. Como lei municipal deve ser revista pelo menos a cada dez anos e deve expressar a construção de um pacto social, econômico e territorial para o desen- volvimento urbano do Município. O Estatuto da Cidade define quais cidades têm a obrigatoriedade de elaborar o Plano Diretor, que não deve tratar somente da área urbana, mas da to- talidade do território municipal, englobando as áreas rurais, as florestas, as comunidades tradicionais, as áreas de preservação ambiental, os recursos hídricos, enfim, toda a área do município. Os Planos Diretores são diferentes de um mu- nicípio para outro, em função da região do país em que o município insere-se, diferenças tais como: 8 • do bioma; • da extensão do território municipal; • da extensão da área urbanizada; • da aglomeração urbana da qual eventual- mente o município faz parte; • do tamanho da população; • dos padrões de urbanização; • dos aspectos econômicos; • da existência e configuração de grandes infraes- truturas, tais como portos, ferrovias, estradas, aeroportos. As aprovações de resoluções serão feitas pelo Conselho Nacional das Cidades que estabelecerá os critérios que devem ser utilizados para definir quais são os municípios integrantes das áreas de especial. Tais áreas devem ser de interesse turístico e de influência de empreendimentos com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, que tenham grandes obras que venham colocar o meio ambiente em risco ou que alterem as caracterís- ticas da região como aeroportos, rodovias, barragens ou hidrelétricas. A concepção de Plano Diretor expressa no Es- tatuto da Cidade pressupõe o enfrentamento dos pro- blemas urbanos, principalmente como um processo político de tomada de decisões sobre a gestão do ter- ritório municipal, que envolva toda a sociedade. Para que o processo de elaboração do Plano é fundamental que haja a participação efetiva da popu- 9 lação em todas as etapas garantidas pelo Poder Pú- blico Municipal e participação dos diversos segmen- tos da sociedade, de fóruns de acompanhamento, da realização de audiências públicas, e ainda, conferin- do transparência nas informações. Os instrumentos do Estatuto da Cidade devem ter sua aplicação prevista no Plano Diretor, definin- do conceitos, procedimentos de aplicação e a demar- cação no território. Alguns deles, como o parcela- mento, edificação e utilização compulsórios, direito de preempção, outorga onerosa do direito de cons- truir, operações urbanas consorciadas e transferên- cia do direito de construir, só podem ser aplicados se houver previsão expressa no Plano Diretor. Vale destacar que o Plano Diretor é a instân- cia de integração das políticas setoriais no âmbito do planejamento e do ordenamento de todo o ter- ritório e o Município deve tirar partido desse poder de regulação para constituir suas políticas setoriais e programar seus investimentos no tempo. A obrigação de aprovação do Plano Diretor deve ser cumprida, sob pena de serem impostas san- ções ao gestor municipal que deixar de fazê-lo, e o artigo 52.º, inciso VII, do Estatuto da Cidade, define como sendo um ato de improbidade administrativa o descumprimento da obrigação de aprovação do Plano Diretor, como segue: 10 “Art. 52. Sem prejuízo da punição de outros agentes públicos envolvidos e da aplicação de outras sanções cabíveis, o Prefeito incorre em improbidade administrativa, nos termos da Lei n.º 8.429, de 2 de junho de 1992, quando: I – (VETADO); II – deixar de proceder, no prazo de cinco anos, o adequado aproveitamento do imóvel incorpo- rado ao patrimônio público, conforme o disposto no § 4.º do art. 8.º desta Lei; III – utilizar áreas obtidas por meio do direito de preempção em desacordo com o disposto no art. 26 desta Lei; IV – aplicar os recursos auferidos com a ou- torga onerosa do direito de construir e de alteração de uso em desacordo com o previsto no art. 31 desta Lei; V – aplicar os recursos auferidos com opera- ções consorciadas em desacordo com o previsto no § 1.º do art. 33 desta Lei; VI – impedir ou deixar de garantir os requi- sitos contidos nos incisos I a III do § 4.º do art. 40 desta Lei; VII – deixar de tomar as providências neces- sárias para garantir a observância do disposto no § 3.º do art. 40 e no art. 50 desta Lei; VIII – adquirir imóvel objeto de direito de preempção, nos termos dos arts. 25 a 27 desta Lei, 11 pelo valor da proposta apresentada, se este for, com- provadamente, superior ao de mercado.” O Poder Público municipal deve atentar para a constituição de uma política fundiária no Plano Diretor,que disponibilize terrenos para provisão de habitação de interesse social e para a implantação de infraestrutura na perspectiva de combater os déficits habitacionais e melhorar os serviços públicos. Os pontos importantes do Plano Diretor, que é lei municipal, será o desenvolvimento do município. Nele, deve estar explicitado o projeto de cidade, re- sumidamente, como vemos: • é resultado do planejamento do futuro da cidade; • organiza seu crescimento e transformação; • define as ações prioritárias; • dimensiona as metas a serem buscadas; • regulamenta os instrumentos urbanísticos para normatizar o processo de construção e o mer- cado imobiliário; • estabelece o sistema de gestão democrático. O Plano Diretor definirá as principais obras e programas urbanos que o município vai realizar no período de sua vigência, ou seja, Diretrizes Orça- mentárias e o Orçamento Anual devem incorporar 12 as diretrizes e as prioridades nele contidas da Cidade. A Lei 10.257/01 regulamenta os artigos 182.º e 183.º da Constituição Federal de 1.988 estabele- cendo e complementando com diretrizes gerais a política urbana e outras providências. A propriedade urbana cumpre sua função social, quando atende às exigências do Plano Diretor. 2. Legislativo e executivo são responsáveis pelo plano diretor Vem estabelecido no Estatuto da Cidade que a iniciativa da elaboração do Plano Diretor deve par- tir do poder executivo, ou seja, o prefeito da cidade, caso contrário sua validade pode ser questionada. Essa iniciativa de elaboração do Plano deve partir do prefeito. Não, apenas, porque o Estatuto da Cidade exige, mas porque começar a elaboração de um Plano Diretor é uma decisão política e requer recursos financeiros, técnicos e administrativos, que só o Executivo detém. Tanto a administração, como sociedade civil e Câmara de Vereadores devem participar da iniciativa desse processo, pois é obrigatório por Lei, e terá que ser sempre participativo. É importante não esquecer, ainda, que a par- ticipação deve estar de acordo com a Resolução n.º 25/05 do Conselho Nacional das Cidades, pois se 13 o prefeito ou os vereadores obstruírem o processo, isto pode ser considerado um ato de improbidade administrativa e, se julgado procedente, serão puni- dos com a perda de seus direitos políticos (Estatu- to da Cidade, Art. 52, inciso VI e Lei Federal n.º 8.429/92). Se o Poder Executivo for pressionado e não to- mar a iniciativa, será possível entrar com uma repre- sentação junto ao Ministério Público denunciando a omissão do poder Executivo e exigindo o início do processo de elaboração do Plano Diretor. É neste aspecto que, muitas vezes, o proces- so se perde, as cidades ficam à mercê dos interes- ses econômicos de pequenos grupos detentores do poder, quase sempre, interesses escusos ao interes- se público e o planejamento é conceituado sobre o prisma da temporalidade. O ato de planejar deverá ser calcado dentro de metas a curto, médio e longo prazo, cabendo à ges- tão do município dar continuidade às ações, a médio e longo prazo, idealizadas nos planos diretores de gestões anteriores. Na omissão do representante do poder executi- vo, sempre será possível a Câmara Municipal formular um Plano Diretor (ou mesmo a sociedade civil, atra- vés de uma Lei de Iniciativa Popular) para começar a discussão e, eventualmente até ir para a votação. 14 Neste caso, mesmo que o processo venha a ser questionado pelo fato de que a iniciativa não tenha sido do poder Executivo, toda essa discussão já é uma forma de pressionar o prefeito a envolver-se com a elaboração do Plano Diretor. Essa observação é pertinente principalmente nas cidades de médio e pequeno porte, quando há interesses de grupos políticos que fazem seus suces- sores, sendo comum uma administração abandonar um Plano Diretor para substituí-lo em parte, ou to- talmente, atribuindo a autoria à sua gestão. 3. A Participação da sociedade O Estatuto da Cidade exige que haja participa- ção popular em todas as etapas do Plano Diretor. O Conselho Nacional das Cidades, na Resolução 25/05, estabeleceu regras mais específicas para o processo participativo dos Planos Diretores. Alguns municípios elaboram um Decreto tra- tando do tema como será feita a participação, o que torna as regras públicas passíveis de cobrança e fisca- lização por todos, inclusive pelo Ministério Público. A Prefeitura deve formar um núcleo gestor, um grupo paritário de representantes do poder público e da sociedade responsável por preparar, conduzir e monitorar a elaboração do Plano Diretor. 15 Esse grupo deve ter técnicos do poder públi- co e representante da sociedade civil, para que as decisões não sejam tomadas, apenas, no gabinete e fiquem estabelecidas as formas e modos de construí- -lo, bem como os prazos para cada etapa. Embora não esteja tudo normatizado, cabe ao poder público, induzir e proporcionar os elementos econômicos, políticos e culturais dentro do espaço urbano e através de diretrizes formuladas em seu plano, fazer intervenções de forma a orientar e pro- duzir o processo de desenvolvimento urbano. 4. A Participação democrática Acompanhando o processo de elaboração do Plano Diretor no Executivo, o poder legislativo poderá fiscalizar e avaliar se está sendo implementa- do de forma participativa, e se preparar para orga- nizar os trabalhos na Câmara, assim que o Plano foi encaminhado, observando os seguintes aspectos: • Se os prazos estabelecidos são suficientes e respeitam o tempo de mobilização da população. Desconfie quando os prazos estiverem apertados ou se existirem poucas reuniões agendadas. • Se a metodologia está sendo participativa, de forma a permitir que todos tenham possibili- dade de manifestarem-se, de falarem e decidirem, 16 de forma democrática. • Se as atividades estão sendo realizadas em locais de fácil acesso, servidos de transporte públi- co, em horários adequados, preferencialmente serem noturnas ou acontecerem em finais de semana. • Se há a garantia nas discussões, de uma diver- sidade de pessoas, grupos sociais ou bairros. A Resolu- ção 25/05 estabelece que os debates devam ser organi- zados por segmentos sociais, por temas e por regiões. • Se estiver havendo participação da sociedade através de um grupo de representantes escolhidos democraticamente (núcleo gestor), mas também de forma direta, em grandes eventos com plenária am- pliada, onde a proposta de lei seja discutida e pactua- da com todos. A Resolução 25/05 sugere que a pro- posta de Plano seja aprovada em uma Conferência ou evento similar, com plenária ampliada. • Se o número e a forma das reuniões e audi- ências públicas foi suficiente. • Se aconteceram atividades de capacitação ao longo do processo, que permitiram que a população fos- se capacitada sobre os temas e fortalecida para discutir e tomar decisões de forma qualificada e equilibrada. • Se as informações foram divulgadas através de ampla comunicação pública, para todos, com an- tecedência e com material disponível, em linguagem acessível. A Resolução 25/05 diz que devem ser divulgados: o cronograma, os locais das reuniões, 17 apresentações dos estudos e propostas sobre o Pla- no Diretor, com antecedência de no mínimo 15 dias; e os resultados dos debates e das propostas adotadas nas diversas etapas do processo. Mesmo com as dificuldades para sua elabo- ração com vários problemas a serem observados, podemos constatar que certos tópicos do Plano Di- retor estão sendo aplicados com alguma eficiência, em muitas prefeituras de pequeno, médio e grande porte, tais como: - Assentamentos de população de baixa renda; - Urbanização dos loteamentos de baixa renda; - Delimitação de áreas de interesse, principal- mente as destinadas à habitação; - Não aprovação de projetos que causam impac- to ao sistema viário, infraestrutura e paisagem urbana; - Criação e implantação de equipamentos co-letivos, bem como normatização para sua utilização e implantação; - Preservação e regulamentação de utilização dos recursos naturais e patrimônios culturais e históricos; - Lei de Uso e Ocupação do Solo; - Lei de Parcelamento do Solo. São estas leis elaboradas que ditam as normas e regulamentam a produção e construção do seu espa- ço, em termos de regulação espacial. Dessa forma, regulamentam as construções públicas e privadas na 18 área municipal, definindo as condições de utilização do solo no âmbito do perímetro urbano. Cabe ao Plano Diretor criar normas complemen- tares que se adaptem à realidade do território urbano, porém, o que vemos, novamente, são adaptações a leis de zoneamento e uso de solo de outras cidades e regiões, nem sempre atendendo à realidade local. Como exemplo, podemos citar o artigo 4.º da Lei de Parcelamento do Solo, o item II DOS RE- QUISITOS URBANÍSTICOS PARA LOTEA- MENTO, que diz: “Os lotes terão área mínima de 125,00 m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5,00 m (cinco metros).” Quando observados os planos diretores em seu conteúdo, em várias cidades, veremos que este item não apresenta qualquer norma complementar alte- rando as dimensões mínimas exigidas ou determi- nando o desmembramento mínimo, para assegurar uma melhor qualidade de vida. Novamente, parece que se interpõe o interesse imobiliário como deter- minador do espaço urbano. Nas intervenções às leis originais, o Plano Di- retor tem o dever de dinamizar a própria utilização do solo com programas específicos, que tenham um objetivo maior que é a de induzir o desenvolvimen- to. Podemos citar como intervenção pública: • Renovação urbana - revitalização e restaura- ção de áreas degradadas, dando-lhes nova dinâmica 19 e incentivando seu uso. Como exemplo, podemos citar as proximidades dos trilhos ferroviários. • Estruturação urbana - integrar ao tecido ur- bano as áreas rarefeitas, através da implantação de atividades econômicas e de uso habitacional, além de soluções para preservação ambiental. Como exem- plo, podemos citar os fundos de vale. • Dinamização urbana - criar focos de interes- ses urbanos, de maneira a diversificar o crescimento e ordenamento urbano. Como exemplo, podemos citar a remodelação paisagística de uma região urba- na pouco valorizada. 5. Definição das acções prioritárias e dos instrumentos urbanísticos São necessários para que os objetivos do Plano sejam cumpridos, as ações e os instrumentos urba- nísticos. As ações são planos específicos, programas projetos e obras que precisam ser executados no prazo de vigência do Plano Diretor, para que se al- cance os resultados esperados. As ações prioritárias deverão ser consideradas nos orçamentos anuais. Os instrumentos servem para regular a atuação de todos os agentes que cons- troem no território do município. Nem todos os instrumentos do Estatuto da Ci- dade precisam estar no Plano Diretor, mas apenas 20 aqueles que são necessários para cumprir os obje- tivos definidos e, quando adotados, devem ser re- gulamentados para que sejam autoaplicáveis, para que tenham validade a partir da aprovação do Plano Diretor. O legislativo municipal deve cuidar para que não sejam adotados instrumentos e ações, que não estejam ligados a nenhuma proposta e que não haja propostas sem instrumentos ou ações. É necessário, também, verificar se existem instrumentos aplicados de forma contraditória ou sem delimitação física no território, e se as ações prioritárias são, realmente, as mais importantes para a cidade. Esse mesmo poder legislativo tem o dever de defender no projeto de lei o conteúdo mínimo exigi- do pelo Estatuto da Cidade, tais como os da Refor- ma Urbana e os estabelecidos pelas Resoluções do CNC sejam tratados. 6. O projeto de lei do plano no diretor A tramitação do Projeto de Lei do Plano Diretor na Câmara Municipal é de suma importância para sua elaboração. Para alcançar um bom resultado, alguns princípios são fundamentais para conduzir de forma adequada sua aprovação na Câmara Municipal: 21 • A tramitação do PL não pode ser sumária e superficial, mas também não pode alongar-se indefi- nidamente, sem cronograma e prazos; • O processo de participação já realizado deve ser avaliado e respeitado; • O Legislativo precisa estar capacitado e isento para promover audiências públicas e analisar a pro- posta de acordo com os interesses coletivos; • O conteúdo mínimo e a autoaplicabilidade da lei devem ser garantidos; • Todas as críticas, sugestões, emendas e pro- postas devem ser analisadas e sua inclusão ou rejei- ção deve ser justificada; • As modificações que vierem a ser feitas de- vem ser coerentes e apresentadas publicamente, com transparência; • O PL deve ser votado em dia e horário que permitam a presença da imprensa e de todos os seg- mentos que participaram do processo. O Projeto de Lei do Plano Diretor é um docu- mento árido e difícil de ser compreendido para os que não são especialistas. Para analisar a proposta é necessário que o Executivo envie para a Câmara alguns documentos, que justifiquem e expliquem a estratégia adotada. 22 No mínimo, os seguintes documentos devem ser encaminhados: • Relatório contendo uma síntese e a documen- tação detalhada do processo participativo; • Relatório completo da leitura técnica e comu- nitária da cidade, incluindo uma síntese. Esse relató- rio deve conter informações de mapas e fotos que devem estar disponíveis para consulta, com a cola- boração do Executivo; • Relatório descrevendo a estratégia traçada para alcançar os objetivos definidos no Plano Di- retor. Por exemplo, se o objetivo é reservar espaço para moradia social, mostrar como ele aparece na lei, em quais princípios e diretrizes, quais instrumentos previstos para alcançar este objetivo, qual o critério para delimitar as zonas, quais ações estratégicas pre- vistas. Lembrando que um Plano não pode ter ape- nas bons objetivos, princípios e diretrizes, ele deve prever como realizá-los. • Documento que justifique, de maneira deta- lhada, a proposta como um todo, mostrando como ela articula-se com a política municipal. As Câmaras dos municípios têm autonomia para debater, aceitar ou rejeitar o Projeto de Lei do Plano Diretor. Dependendo do processo participa- tivo e da qualidade do projeto encaminhado pelo 23 Executivo, os vereadores podem aprová-lo, propor modificações ou até mesmo recusá-lo, devolvendo ao Executivo para uma reelaboração. É preciso que a Câmara Municipal esteja prepa- rada para avaliar o projeto de lei do ponto de vista técnico, e do ponto de vista do seu processo partici- pativo, observando se preciso a criação de uma Co- missão Especial do Plano Diretor, que se encarrega- rá de organizar o processo de discussão do assunto, de reunir os conhecimentos necessários para analisar e propor alterações. O Estatuto da Cidade estabeleceu o prazo de outubro de 2.006 para que 1.683 municípios tives- sem um Plano Diretor aprovado. No entanto, mui- tos municípios ficam sem prazo para promover um adequado processo de tramitação. De maneira alguma significa que as Câmaras Municipais devam aprovar em regime de urgência, sem debater adequadamente o projeto, deve-se sim estabelecer um cronograma consistente para análise e discussão do PL e procurar o Ministério Público para justificar o atraso, pois a responsabilidade será exclusivamente do Legislativo. 24 Questões 1. O Plano Diretor é obrigatório para cidades: a) com mais de dez mil habitantes. b) com mais de vinte mil habitantes. c) com mais de trinta mil habitantes. d) com mais de cinquenta mil habitantes. e) com mais de cem mil habitantes. 2. A lei que instituir o Plano Diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada: a) dois anos. b) três anos. c) cinco anos. d) oito anos. e) dez anos. 3. Dentre as afirmações sobre o Plano Diretor, quais estão corretas? I - OPlano Diretor é parte integrante do proces- so de planejamento municipal, devendo o plano pluria- nual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. II - O Plano Diretor deverá englobar o territó- rio do Município como um todo. III - Os Poderes Legislativo e Executivo munici- 25 pais deverão garantir a publicidade dos documentos e informações referentes à elaboração do Plano Diretor. a) Todas as afirmações estão corretas. b) Somente a afirmação I está correta. c) Somente a afirmação II está correta. d) Somente a afirmação III está correta. e) Somente a afirmação I e II estão corretas. 4. São sanções aplicáveis ao proprietário de imó- vel urbano, que descumpre o Plano Diretor, exceto: a) parcelamento ou edificação compulsória. b) confisco ou perdimento de bens. c) IPTU progressivo no tempo. d) desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública. 5. As Câmaras dos municípios têm autonomia para debater, aceitar ou rejeitar o Projeto de Lei do Plano Diretor? a) Sim b) Não 26 Capitulo 4 A origem das posturas municipais 1. A origem das posturas municipais Em decorrência do crescimento das cida- des na Europa, a partir do império napoleônico, postularam-se normas cada vez mais rígidas de procedimentos de conduta dos cidadãos, do uso dos bens urbanos, e a avançar sobre a regula- mentação dos padrões de higiene e salubridade das áreas públicas e das construções. Surgiram os Códigos de Posturas ou as Pos- turas Municipais no século XIX, originadas da necessidade de um novo delineamento jurídico que reestruturasse as relações sociais e a convi- vência nas cidades. O espaço urbano como causador de tais problemas humanos seria o alvo de legisladores, engenheiros, médicos e sanitaristas, que criariam os códigos e leis para coibir a proliferação de doenças e disciplinar o ambiente das cidades e a população de forma geral. As concepções de punição dos Códigos de Posturas Municipais apontavam para a ideia de prevenção, entendendo-se assim como um mal positivo, e que deveria ser corrigido na forma da prevenção. Os códigos de posturas correlacionam, uma postura preventiva da ordem e da segurança pú- blica, um conjunto de normas que estabeleciam 1. A origem das posturas municipais regras de comportamento e convívio de uma determinada comunidade e sociedade, portanto assumem também uma esfera normativa. Seriam criados um conjunto de normas, re- gras e imposições de penalidades aos infratores, deu-se o nome, em Portugal e, por conseguinte, no Brasil, de Código de Posturas, no qual inú- meros assuntos eram tratados, entre eles: • o controle de animais soltos; • os vendedores de ruas; • a licença de comerciar; • o policiamento da cidade; • o regulamento do trânsito e do tráfego; • o horário de funcionamento do comércio; • o controle de certas atividades profissionais; • assuntos ligados à saúde, como a vacinação, higiene pública e de atividades de matadouros; • organização dos cemitérios; • proibição de despejos de restos nas ruas; • licença para construir e tantos outros. O Código de Posturas Municipal teve sua origem na época do Brasil colonial, quando em pequenos povoados e vilas, apesar de todo o poder centralizador das Capitanias Hereditárias, assumia por iniciativa própria, funções impor- tantes de governo, entre elas o estabelecimen- to de regras e normas, seguindo padrões éticos, 32 morais e culturais da época, que facilitassem a convivência dos habitantes de um mesmo local. As cidades portuárias passaram a receber embarcações, tornaram-se lugares de trânsito de comerciantes, aventureiros, imigrantes, e a cida- de como meio de sociabilidade, ganha espaço mais efetivo na vida brasileira, e nesse sentido, surge, também, a preocupação com a higiene pública, com a medicina psiquiátrica, o clima e suas doenças. Segundo Weber: “serão os códigos de pos- turas municipais, formulados pelas autoridades locais, que regularão o dia a dia da população”, e através destas normas e de uma constante vi- gilância sobre os habitantes tem um mecanismo regulamentador. Foucault, analisando as socie- dades do século XIX, esclarece que: “Temos, portanto, nas sociedades moder- nas, a partir do século XIX até hoje, por um lado, uma legislação, um discurso e uma organi- zação do direito público articulados em torno do princípio do corpo social e da delegação de poder; e por outro, um sistema minucioso de coerções disciplinares que garanta efetivamente a coesão deste mesmo corpo social.” 33 Regulamentar a cidade também significava ini- bir a ação de indivíduos que poderiam desafiar o poder do Estado. Limpar a cidade significa também organizar os mecanismos institucionais capazes de garantir a continuidade do sistema social. A delinquência precisava ser inibida, pois ela polui a vida nas cidades e desafia o poder do Estado. Era necessário limpar, higienizar física e espiritual, moralizar o corpo e a alma do indivíduo. Os códigos de posturas foram os instrumentos utilizados para difundir estas técnicas de controle e vigilância com a finalidade de coibir a desordem e possibilitar uma nova ordem de convívio social. As posturas municipais eram um conglomera- do de normas que regulavam o comportamento dos munícipes, desde suas relações de vizinhança e cida- dania, até relações de cunho trabalhista, referentes a "criados e amas de leite". Com a Proclamação da Independência em 1.824, surge a Constituição Imperial, citando, textu- almente, como competência das Câmaras de Verea- dores: “Especialmente o exercício de suas funções municipais, formação de suas posturas policiais, aplicação de suas rendas e todas as suas particulares e úteis atribuições”. 34 Nessa época, não havia praticamente qualquer outra legislação que dissesse respeito aos problemas específicos do município, não só a nível local, como também a nível estadual e federal. Os Códigos Sanitá- rios e de Obras, a Consolidação das Leis de Trabalho e mesmo o Código Civil só surgiram posteriormente. Como ilustração, coletamos a matéria abaixo: “Foi determinado pelo Código de Posturas de Porto Alegre, em 1.831, que os castigos aos escravos deveriam ser feitos na parte interior da cadeia e não em lugares patentes e públicos, evitando, portanto, o olhar de cena tão infamante pela população.” (Códi- go de Posturas de Porto Alegre de 1.831, de Paulo Roberto Staud Moreira) A partir de então, os Códigos de Posturas co- meçaram a perder importância e sofrer processo de esvaziamento. Processo este incrementado pelo fato de que os problemas decorrentes da urbaniza- ção acentuada, principalmente a partir da segunda metade do século, levaram à necessidade de abrir-se o leque da legislação urbana, a fim de responder-se adequadamente às novas solicitações criadas. Cada vez mais as competências são atribuídas aos municípios desde a partir da Constituição de 1.988, voltando a ter um papel de destaque dentro da 35 estrutura política nacional. Com isso, cresceu signifi- cativamente a importância das posturas municipais. Num sentido mais atual, as posturas municipais compreendem um instrumento jurídico, constituído por um conjunto de normas, que regulam a utiliza- ção do espaço e o bem-estar público, sendo o princi- pal órgão mantenedor do nível de qualidade de vida urbana do município. 2. Preceito municipal escrito de ordem pública Muitos juristas observam que a expressão “or- dem pública” tem definição vaga e ampla, e varia no tempo e no espaço, sendo mais fácil a sua percepção na vida social. Normas de ordem pública são normas de apli- cação imperativa que visam direta e, essencialmente, tutelar os interesses primordiais da coletividade. A ordem pública consiste num agrupado dos princípios fundamentais, refletidos em normas de direi- to privado, subjacentes ao sistema jurídico que o Esta- do e a Sociedade estão fundamentalmenteinteressados em que predominem sobre as convenções privativas. O conceito de Ordem Pública pode ser analisa- do sob duas perspectivas: • a perspectivada ordem pública interna, res- 36 pectivamente às normas e princípios que não podem ser afastados pela vontade das partes, agindo como marco limitador à atividade individual de contratar. • e sob a perspectiva da ordem pública inter- nacional que está vinculada aos atos praticados no exterior, que têm repercussão em território nacional e funcionam como filtro de leis, sentenças e atos em geral, impedindo sua eficácia quando proeminentes valores de justiça e moral são ameaçados. Isto significa que normas de ordem pública, tanto no Direito interno como no Direito interna- cional, constituem os princípios indispensáveis para organização da vida social. Trata-se conforme preceito de Direito, con- substanciando em um conjunto de regras e princí- pios, que tendem a garantir a singularidade das ins- tituições de determinado país, e a proteger os senti- mentos de justiça e moral de determinada sociedade. As Posturas municipais são o regramento ema- nado das câmaras municipais, que obrigam ao cum- primento de certos deveres de ordem pública. É consenso, pois, que a ordem pública materializa- -se pelo convívio social pacífico e harmônico, pautado pelo interesse público, pela estabilidade das instituições e pela observância dos direitos individuais e coletivos. 37 3. A natureza jurídica das posturas A natureza jurídica das posturas reclama, pri- meiramente, a delimitação face ao conceito de regu- lamentos de polícia. Assim, parece-nos incontornável, neste domí- nio, a definição sobre regulamentos de polícia, como sendo aqueles que são elaborados independente- mente da necessidade de estabelecer os pormenores de aplicação de uma lei especial específica, que se fundem na sua força obrigatória, no desempenho das atribuições normais e permanentes da autorida- de administrativa. Por esta ordem de ideias, distinguem-se as pos- turas dos regulamentos policiais, segundo o Código Administrativo de 1.940, as deliberações das câma- ras municipais podem revestir a forma de postura, ou regulamento policial sempre que contenham dis- posições preventivas de caráter genérico e execução permanente. Quando estas deliberações são tomadas por iniciativa da câmara, sobre matérias das atribuições municipais, nasce a postura, regulamento autônomo. O caráter preventivo das suas normas confere- -lhe natureza policial. A polícia caracteriza-se pelo fim de prevenir ou evitar danos sociais. Ao aprofundarmo-nos na análise sobre a natu- 38 reza jurídica das posturas, vislumbramos uma defi- nição de posturas, no seu duplo aspecto material e formal, como sendo: a) normas imperativas de conteúdo negativo e fins preventivos, gerais, impessoais, de execução permanente, que os corpos administrativos elabo- ram no exercício da sua competência regulamentá- ria, como entes autônomos e que obrigam na área das respectivas circunscrições, tendo como limites a lei e regulamentos superiores, que elas não podem contrariar ou substituir. A sua coercitividade consis- te numa pena – em regra multa, que cominam relati- vamente a cada caso. b) outra definição de posturas que nos cabe en- tender é que, os regulamentos de polícia assumem grande relevância no domínio da administração lo- cal, cumprindo a esse propósito distinguir entre as posturas, que são regulamentos locais, independen- tes ou autônomos e os regulamentos policiais que, diversamente, são regulamentos locais, de polícia, mas complementares ou de execução. c) E numa visão avançada à definição de pos- tura, poderíamos observar como o ato normativo geral e abstrato, proveniente de um órgão colegial democrático representativo, emanado em matéria de 39 polícia e em áreas de atribuições próprias das autar- quias locais. Sobre esta temática os regulamentos de polícia disciplinam as relações entre a administração pública e os particulares, ou destes entre si, a expressão po- lícia é utilizada num sentido amplo, não abrangendo apenas a atividade administrativa de manutenção da ordem, segurança e tranquilidade públicas, e que a postura constitui a forma normal dos regulamentos policiais dos órgãos das autarquias locais. Neste domínio, trazemos, ainda, à colação o pa- recer n.º 28/2.008, do Conselho Consultivo da Pro- curadoria Geral da República, onde se entendeu que as “medidas de polícia” configuram-se como provi- dências limitativas da liberdade de certa pessoa ou do direito de propriedade de determinada entidade, aplicadas pelas autoridades administrativas indepen- dentemente da verificação, e julgamento de trans- gressão, ou contravenção, ou da produção de outro ato concretamente delituoso, com o fim de evitar a produção de danos sociais, cuja prevenção caiba no âmbito das atribuições da polícia. Assim, bastará que o perigo assuma proporções graves para, independentemente da produção de fato delituoso, a polícia poder tomar as precauções permi- tidas por lei, a título de defesa da segurança pública. Este entendimento foi aproveitado nas postu- 40 ras que restringem a liberdade dos indivíduos im- pondo sob coação, limites ao exercício de certas atividades, e à prática de atos que pela sua natureza possam prejudicar a tranquilidade, a segurança e a higiene pública, dentro dos vários setores da polícia municipal, que compreenderá a polícia urbana, a po- lícia rural, a polícia econômica, a polícia das estradas e a polícia sanitária. Por outro lado, ficam configuradas, juridica- mente, as posturas, do ponto de vista formal, como regulamentos autônomos, de polícia, embora reves- tidos de especificidades, que nos levam a concebê- -las, numa perspectiva material, como uma lei local, na medida em que as mesmas introduzem com cará- ter inovador, no ordenamento jurídico com coman- dos normativos, dotados de generalidade e abstra- ção, embora circunscritos a uma área delimitada do território, inaugura o poder de emanar estas normas, diretamente na Constituição e sendo as mesmas emitidas por órgão democrático representativo. O procedimento de elaboração, aprovação e entrada em vigor das posturas segue as normas pre- vistas para os regulamentos, das quais se evidencia procedimento administrativo, o que serve para dizer que, deverá sujeitar-se a um projeto de postura e a apreciação pública. 41 4. Posturas e autonomia local Como vimos, as posturas são dotadas de cará- ter inovador, ao nível da regulação de matérias que se inserem na esfera dos interesses próprios locais, pois regulamentam áreas ainda não abrangidas pela lei, constituindo, nesta medida, uma manifestação do princípio da autonomia local. Entende-se por autonomia local, o direito e a capacidade efetiva de as autarquias locais regulamen- tarem e gerirem, nos termos da lei, sob sua respon- sabilidade e no interesse das respectivas populações, uma parte importante dos poderes públicos. Como exemplos, poderiam tratar do tema con- forme a Lei 9.011 de 1.º de Janeiro de 2.005, que dispõe sobre a estrutura organizacional da Adminis- tração Direta do Poder Público Municipal. A Secre- taria Municipal Adjunta de Regulação Urbana tem por finalidade planejar e coordenar a elaboração e implementação da política de regulação e controle urbano no Município, visando ao pleno cumprimen- to da função social da propriedade e ao bem-estar da população. Compete à Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana, segundo Código de Posturas de Belo Horizonte: 42 I - planejar, coordenar e gerenciar a política de controle urbano no Município, visando à unificação dos procedimentos de atendimento aos munícipes; II - manter banco de dados atualizado sobre as redes existentes no subsolo; III - coordenar as ações de concessionárias de serviço público, visando a articulá-las com o Municí- pio e monitorando a utilização do subsolo; IV - licenciaras atividades de obras e posturas urbanas, em conjunto com as Secretarias de Admi- nistração Regional Municipal, na forma e no limite do regulamento desta Lei; V - coordenar o licenciamento de atividades em espaços públicos, no solo, no subsolo e nos espaços aéreos; VI - coordenar a expedição de atos de autori- zação, permissão ou concessão de uso e parcelamento do solo; VII - desenvolver outras atividades destinadas à consecução de seus objetivos. Podemos, ainda, citar como exemplo, o código de posturas de São Paulo de 1.886 e do Rio de Ja- neiro de 1.889. Tinham uma postura moralizante e não aceitavam a permanência de cortiços em áreas centrais, sob o argumento de que era preciso sanear e limpar a cidade. Além disso, com o crescimento urbano acelera- do, o saneamento tornou-se de fato um problema a 43 ser enfrentado e tratado na escala urbana em várias cidades do Brasil, como São Paulo, Santos, Recife. 5. Considerações sobre as posturas municipais Inicialmente, devemos compreender alguns ter- mos utilizados de modo geral, como posturas públi- cas, quais sejam como exemplo alguns da cidade de Belo Horizonte: a) logradouro público é o conjunto formado pelo passeio e pela via pública, no caso da aveni- da, rua e alameda; a passagem de uso exclusivo de pedestre e, excepcionalmente, de ciclista; a praça; o quarteirão fechado. b) via pública é o conjunto formado pela pista de rolamento; pelo acostamento; pelas faixas de es- tacionamento, ilha e canteiro central, se existentes. c) afastamento frontal mínimo e a menor dis- tância entre a edificação e o alinhamento do lote per- mitido pela Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo. d) afastamento frontal e a distância entre o ali- nhamento do lote ou terreno e a edificação. e) afastamento lateral e a distância entre a divisa lateral do lote ou terreno e a edificação. f) alinhamento e o limite divisório entre o lote 44 ou terreno e o logradouro público. g) comprimento da fachada do estabelecimento e a medida da projeção da fachada frontal do estabe- lecimento sobre o alinhamento do lote. h) testada do lote ou terreno e a medida da li- nha divisória entre o lote ou terreno e o logradouro público. i) fachada e qualquer uma das faces externas da edificação. j) fachada frontal e face externa da edificação voltada para o logradouro público. k) publicidade e a mensagem veiculada por qualquer meio, forma e material, cuja finalidade seja a de promover ou identificar produtos, empresas, serviços, empreendimentos, profissionais, pessoas, coisas ou ideias de qualquer espécie. l) engenho de publicidade e todo e qualquer dispositivo ou equipamento utilizado, com o fim de veicular publicidade, tais como: tabuleta, cartaz, letreiro, totem, poliedro, painel, placa, faixa, pintu- ra, banner, adesivos, bandeira, estandarte, balão ou pipa, bem como outros mecanismos que se enqua- drem nestas definições, independentemente da de- nominação dada. Em todo o Código de Posturas, encontramos citações à classificação, quanto ao uso do espaço pú- blico. Logo, o uso sempre será condicionado ao li- 45 cenciamento ou proibições. Essas premissas são en- contradas na Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, Lei 7.166/96, e nos mapas do zoneamento das Áreas de Diretrizes Especiais e a Hierarquização do Sistema Viário. 6. Instituir posturas municipais Quando instituído um Código de Posturas, que é parte integrante do Plano Diretor, deverão ser observadas disposições sobre medidas de polí- cia administrativa a cargo do Município, em matéria de higiene e ordem pública; tratamento da proprie- dade, dos logradouros e dos bens públicos; horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais e industriais e matéria conexa, estatuindo as necessá- rias relações entre o poder público e os particulares. A competência será do prefeito e, em geral, aos funcionários municipais incumbe velar pela obser- vância dos preceitos deste Código e as infrações, que já são punidas pelo Código Penal e outras leis fede- rais ou estaduais. Constituirá infração e dano, toda ação ou omis- são contrária às disposições do Código, ou de outras leis, decretos, resoluções e atos baixados pelo Go- verno Municipal, passíveis de penalidades, além da imposição de obrigação de fazer ou desfazer, acar- retando multa e/ou apreensão, conforme gravidade 46 e circunstância. Esse auto de infração será o instrumento por meio do qual a autoridade Municipal (fiscais muni- cipais) apurará a violação de leis, decretos e regula- mentos do Município. Deverá ser observado o tratamento da proprie- dade, dos logradouros e dos bens públicos, a cons- trução e a reconstrução dos passeios dos logradou- ros e, ainda, o fechamento e conservação de terre- nos no alinhamento. E, ainda, tratativas referentes às queimadas e fiscalização sanitária abrangendo inclusive a parte de alimentação pelo órgão competente do Municí- pio, que cooperará com as autoridades estaduais na execução da legislação Sanitária do Estado, e com as autoridades federais. A Prefeitura deverá exercer, em cooperação com os poderes do Estado, as funções de polícia da sua competência, estabelecendo medidas preventi- vas e repressivas no sentido de garantir a ordem, o sossego, a moralidade, tranquilidade dos habitantes e dos divertimentos, garantindo a segurança pública. No interesse público a Prefeitura Municipal fiscalizará a fabricação, o comércio, o transporte, o depósito e o emprego de inflamável e explosivo e, ainda, do funcionamento do comércio, da indústria e atividades profissionais. Dispor, ainda, sobre o comércio localizado e do 47 comércio ambulante em logradouros públicos ou lu- gares franqueados ao público, das atividades indus- triais que dependem de licença da Prefeitura. Existem, na atualidade, séries de atividades para as quais o Alvará de funcionamento, ou licenciamen- to emitido pelo município poderá ser feito via Inter- net, verificando a periodicidade do mesmo. 7. A recodificação do município de São Paulo Em Assembleia Provincial de 14 de maio de 1.873 foi aprovado o primeiro código de posturas da cidade de São Paulo. Muito rigoroso e injusto, sofreu oposição da população paulistana, até, então, desacostumada a respeitar as posturas municipais, por falta de uma eficiente fiscalização. Com sua suspensão imediata a presidência da Província não tinha poder para revogá-las. A solução foi manter vigente até aprovação de outro, mais ade- quado. Foi, então, nomeada uma comissão em 1.873 que substituiu o Código de Posturas em 1.875. Na época, com o rápido desenvolvimento eco- nômico propiciado pelo florescimento da atividade agroexportadora baseada no café, demonstrou que não bastava uma compilação de normas municipais de confusa e simplória redação. A responsabilidade de reorganizar as posturas 48 vigentes faziam-se necessárias pelo fato de que o chamado código de 1.886 não era na verdade um novo código, e sim mera recodificação do código de 1.875. Nas recodificações, ou rearranjos, que houve- ram foram incorporadas posturas aprovadas depois da entrada em vigência do código de 1.875. As Câmaras Municipais sofriam limitação das atribuições, no que se refere a novas formas de in- tervenção pública, e o poder público era considera- do como sendo uma abusiva ingerência na esfera do privado, numa atitude de proteção à liberdade indi- vidual e à inviolabilidade da propriedade particular. A modernização do Estado ocorreu na época da República, com a descentralização administrativa e com a revalorização política dos municípios. Em São Paulo, a reorganização das estruturas burocráti- cas no nível municipal e estadual, objetivaria, preci- puamente, renovar a capacidade de ação. Os projetos com o decorrer do tempo, diante de urgente modernidade, passaram a atender quatro condi- ções básicas: higiene, comodidade, estética e economia. Ao longo do tempo, a maior parte das atribui- ções dopoder local passou a ser regida por legisla- ção específica, como temos exemplos atuais: lei de zoneamento, lei de parcelamento do solo, código de obras, código tributário, ficando o Código de Pos- turas restrito às demais questões de interesse local, 49 notadamente aquelas referentes ao uso dos espaços públicos, ao funcionamento de estabelecimentos, à higiene e ao sossego público. Com novos programas municipais estabeleceu- -se uma melhoria das condições de habitabilidade e de saneamento básico das moradias subnormais, a reurbanização de favelas e a regularização fundiária, em caso de invasão de áreas públicas municipais. Devemos deixar constatado que as posturas municipais, até hoje, são um importante instrumen- to que visa a mitigar uma situação dolorosa, infeliz- mente, dia a dia mais grave e que cumpre ao Estado e à iniciativa privada atuar, para diminuir o agudo déficit habitacional nas cidades brasileiras. 8. Códigos de obras São normas disciplinadoras do crescimento urbano. A providência inicial, uma vez decidida à ela- boração de um projeto de edificação, é a consulta junto aos Órgãos Públicos, particularmente junto às Prefeituras Municipais, sobre as exigências a se- rem observadas para a aprovação de tal projeto. Tais exigências, de uma maneira geral, estão contidas no Código de Obras específico de cada Município. Os códigos de obras têm por objetivos, en- tre outros: 50 • Coordenar o crescimento urbano. • Regular o uso do solo. • Controlar a densidade do ambiente edificado. • Proteger o meio ambiente. • Garantir espaços abertos destinados a pre- servar a ventilação e iluminação naturais adequadas a todos os edifícios. • Eliminar barreiras arquitetônicas que impe- dem ou limitam a possibilidade de deslocamento de pessoas portadoras de deficiência ou com dificulda- de de locomoção. Códigos de Obras definem, entre outros, os se- guintes itens: • Tipo de ocupação permitido para um deter- minado lote, se residencial, comercial, industrial ou de uso misto. • A projeção máxima do edifício sobre o ter- reno (taxa de ocupação). • Área máxima permitida para a construção (coeficiente de utilização). • Espaços a serem observados com relação às divisas. • Dimensões mínimas e detalhes construtivos de corredores, escadas e rampas. O Código de obras acabou sendo uma forma 51 de regulamentar a ocupação da cidade, que se con- solidava com Legislação de Zoneamento da cidade. Na cidade de São Paulo, como exemplo, foi substituído pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado/PDD, Lei n.º 7.688/71 e sofreu alterações significativas, através do Plano Diretor de Desenvol- vimento Estratégico - PDE, aprovado pela Lei n.º 13.430/2002, que fixando diretrizes gerais relativas ao uso e ocupação do solo, que deve ser seguida por todos os agentes públicos e privados que atuam no município de São Paulo. O objetivo desse método foi desenvolver a ci- dade, formando polos industriais, comerciais e de serviços. Assim, trazendo um desenvolvimento so- cial e cultural, manutenção das características origi- nais de alguns bairros, proteção ao meio ambiente e configuração do espaço urbano pautado pelo inte- resse público, que assegure o bem-estar equânime de seus habitantes. Questões 1.O que se postulava com as posturas municipais? 52 2. Qual a concepção de punição dos Códigos de Posturas? 3. Quem tem competência para fiscalizar o Có- digo de Obras e Posturas? 4. As Câmaras Municipais sofriam restrições na aplicação do Código? 53 5. Qual a providência inicial quando da elabora- ção de um projeto de edificação? 54 Capítulo 1 1 - d 2 - a 3 - e 4 - e 5. Direito Urbanístico abrange a cidade, o campo, e deixa de ser mera disciplina da cidade, que passa por projetos de estruturação regional e, posteriormente, os planos nacionais de um país. Capítulo 2 1 - c 2 - d 3 - d 4 - b 5. A gestão, essencialmente, deve ser forma- da com a participação direta da população, atra- vés de fóruns de discussão, debate e definições Gabarito de políticas públicas e acompanhamento na im- plantação das deliberações. Capítulo 3 1 - b 2 - e 3 - a 4 - b 5 - a Capítulo 4 Resposta n.º 1 - Postularam-se normas cada vez mais rígidas de procedimentos de conduta dos cidadãos, do uso dos bens urbanos, e a avançar sobre a regulamentação dos padrões de higiene e salubridade das áreas públicas e das construções. Resposta n.º 2 - As concepções de punição dos Códigos de Posturas Municipais apontavam para a ideia de prevenção, entendendo-se, assim, como um mal positivo e que deveria ser corrigi- do na forma da prevenção. Resposta n.º 3 - A competência será do pre- feito e, em geral, aos funcionários municipais in- cumbe velar pela observância dos preceitos do Código de obras e posturas e as infrações, que já são punidas pelo Código Penal e outras leis federais ou estaduais. Resposta n.º 4 - As Câmaras Municipais so- friam limitação das atribuições, no que se refere a novas formas de intervenção pública, e o po- der público era considerado como sendo uma abusiva ingerência na esfera do privado, numa atitude de proteção à liberdade individual e à in- violabilidade da propriedade particular. Resposta n.º 5 - É a consulta junto aos Ór- gãos Públicos, às Prefeituras Municipais, sobre as exigências a serem observadas para a aprova- ção do projeto. Tais exigências, de uma maneira geral, estão contidas no Código de Obras espe- cífico de cada Município. Capítulo 5 1 - b 2 - d 3 - b 4 - a 5 - c Capítulo 6 1 - a 2 - b 3 - d 4 - c 5 - Direito de Propriedade. Referências Básicas CÓDIGO CIVIL COMENTADO - DOU- TRINA E JURISPRUDÊNCIA – 7.ª Ed. Edito- ra: Manole, 2.013. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FE- DERATIVA DO BRASIL de 1.988. DALLARI, Adilson Abreu. FERRAZ, Sér- gio. (coord.). Estatuto da Cidade: comentários à Lei Federal 10.257/2.001. São Paulo: Malheiros, 2.002. 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