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Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 1 ORELHA INTRODUÇÃO Pode-se dividir a orelha em: Externa Unidade que capta o som Média Responsável pela condução da energia mecânica Interna Onde ocorre a ampliação e a codificação da energia mecânica na cóclea ORELHA EXTERNA Formada por duas partes: o pavilhão auricular, fixado lateralmente na cabeça; e o meato acústico externo (MAE), que se estende do pavilhão auricular até a membrana timpânica. O pavilhão auricular, na porção medial, está localizado a concha, uma escavação profunda, ao redor da qual há quatro saliências: hélice, antélice, trago e antítrago. A orelha externa fornece proteção para a orelha média e a interna, mantendo em equilíbrio a temperatura e a umidade, condições necessárias para preservação da integridade da membrana timpânica. ORELHA MÉDIA A orelha média é uma cavidade pneumática (cheia de ar), denominada cavidade timpânica. Comunica-se com a nasofaringe por meio de um canal osteocartilaginoso, a tuba auditiva. Na cavidade timpânica encontra-se a cadeia ossicular, composta por três ossículos: martelo, bigorna e estribo, articulados entre si, e que se estendem da membrana timpânica a orelha interna A membrana timpânica protege a orelha média da entrada de corpos estranhos, sendo sua elasticidade responsável pela transmissão da energia mecânica do som para os ossículos da orelha média, que participam da amplificação sonora. ORELHA INTERNA A orelha interna é um conjunto complexo de estruturas no interior do osso temporal dividido em dois sistemas: o labirinto anterior ou cóclea, que contém os órgãos da audição, e o labirinto posterior ou sistema vestibular, que contém os órgãos responsáveis pelo equilíbrio. O sistema vestibular interage com o sistema visual e o proprioceptivo para organização de estímulos sensoriais e motores, contribuindo para as funções de orientação e equilíbrio Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 2 ANAMNESE A anamnese inicia-se pela identificação, em que se obtêm informações importantes que possibilitam avaliar o perfil do paciente em relação à sua saúde. IDADE Em recém-nascidos, destacam-se infecções perinatais, uso de medicamentos ototóxicos e mutações genéticas. Em crianças pré-escolares e escolares, há maior prevalência de otite média. Em idosos, adquire relevância a presbiacusia. ANTECEDENTES PESSOAIS Em crianças, deve-se perguntar sobre: • Antecedentes pré-natais (uso de substâncias ototóxicas; infecções [toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, HIV/AIDS]) • Antecedentes perinatais (prematuridade, anoxia, hipoxia) • Antecedentes pós-natais (necessidade de internação em unidade de terapia intensiva, uso de aminoglicosídeos ou diuréticos de alça, hiperbilirrubinemia, meningite neonatal). Em adultos e idosos, avaliar: • Tabagismo, uso de bebidas alcoólicas, alimentação e sedentarismo • Antecedentes cirúrgicos, especialmente otorrinolaringológicos • Uso de medicamentos (aminoglicosídeos, diuréticos de alça, salicilatos e cisplatina) • Exposição a ambientes ruidosos • História de traumatismo cranioencefálico. • Antecedentes familiares • Questionar a existência de outros familiares com perda auditiva, como disacusias congênitas, otosclerose e presbiacusia. SINAIS E SINTOMAS Disacusia (hipoacusia e anacusia) Significa perda parcial ou total de audição que diminua a inteligibilidade da mensagem falada. Tontura Sensação de desequilíbrio corporal Vertigem São tonturas do tipo rotatório caracterizadas pela ilusão de que o ambiente está se movendo ao seu redor Zumbido Sensação de som na ausência de estímulo sonoro externo EXAME FÍSICO INSPEÇÃO DAS ORELHAS EXTERNA E MÉDIA Deve-se observar forma, tamanho e cor do pavilhão auricular, com o objetivo de detectar malformações, como agenesia de pavilhão auricular; microtia do pavilhão auricular; aplasia ou hipoplasia do meato acústico externo; orelhas proeminentes; fístulas ou cistos pré- auriculares. No meato acústico externo, pesquisar edema, secreções, descamações, sangue ou cerume, corpo estranho, escoriações ou alterações na estrutura (estreitamento, abaulamento, deformidades). À otoscopia ou à otomicroscopia, a membrana timpânica, quando normal, tem formato arredondado, coloração perlácea, plana brilhante com uma região anterior que reflete a luz do otoscópio, chamada triângulo luminoso de Politzer. OTOSCOPIA Membrana timpânica integra, transparente Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 3 Membrana timpânica com perfuração central Otite media aguda Cerume PALPAÇÃO DA ORELHA EXTERNA A palpação do pavilhão auricular e da região retroauricular é útil para avaliação de tumorações, identificação de linfonodos, cistos, abscessos ou hematomas. Indispensável para identificar áreas de flutuação quando houver suspeita de abscesso. Observar também a presença de orifícios (fístulas), malformações dos arcos branquiais, como o coloboma auricular. NARIZ E SEIOS PARANASAIS INTRODUÇÃO A principal função do nariz é levar o ar, em condições adequadas, para os alvéolos pulmonares realizarem a hematose. As cavidades nasais são responsáveis pela filtração, aquecimento e umidificação do ar inspirado. A filtração é realizada pelas vibrissas (pêlos localizados no vestíbulo da cavidade nasal), pelo reflexo do espirro, ação adesiva e bactericida do muco e pelos cílios do epitélio de revestimento da mucosa nasal. O aquecimento é feito pela vascularização da mucosa nasal, sede de rico plexo sanguíneo capilar e sinusoidal venoso. A umidificação é realizada por meio das secreções nasais, da transudação serosa dos vasos da mucosa nasal e da secreção lacrimal. Os seios paranasais são extensão da cavidade nasal, denominados de acordo com o osso onde se desenvolvem e crescem, tendo-se, então, seios frontais, seios maxilares, células etmoidais e seios esfenoidais. ANAMNESE Na anamnese registram-se os dados da identificação, antecedentes pessoais e antecedentes familiares, além dos sintomas como: obstrução nasal, hiposmia ou anosmia, rinorreia, epistaxe e alteração do olfato. IDADE Em recém-nascidos (RN) com alterações respiratórias, deve-se suspeitar de malformações congênitas e infecções perinatais. Abaixo dos 6 meses pode ser uma urgência com necessidade de cuidados intensivos, já que o RN é respirador nasal obrigatório. ANTECEDENTES FAMILIARES História familiar de alergia associa-se ao aparecimento de rinite. Se ambos os pais apresentarem rinite alérgica, a possibilidade em seus filhos chega a 80%. Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 4 SINAIS E SINTOMAS Os principais sinais e sintomas são obstrução nasal, rinorreia, alteração do olfato e epistaxe. Alteração do olfato. As alterações do olfato podem ser classificadas em: Anosmia Perda completa da olfação Hiperosmia Aumento da olfação Hiposmia Diminuição da olfação Disosmia Distorção da percepção olfatória, podendo ser subdividida em parosmia, quando há um estímulo ambiental, e fantosmia, sem estímulo ambiental, que é uma alucinação olfatória Epistaxe. Consiste em alteração da hemostasia dentro da cavidade nasal, em decorrência de comprometimento da mucosa. EXAME FÍSICO Compreende a inspeção e a rinoscopia anterior e posterior. INSPEÇÃO Analisa-se a pirâmide nasal, para detectar dismorfias, distúrbios de desenvolvimento e desvios; sinais sugestivos de processos infecciosos: hiperemia, edema e abaulamento; presença de traço sobre o dorso nasal denominado “saudação alérgica” que pode estar presente em pacientes com rinite. RINOSCOPIA ANTERIOR O exame das cavidades nasais é realizado com iluminação obtida por uma fonte de luz externa. Com um espéculo nasal apropriado e de tamanho adequado para cada paciente, promove-sea lateralização da asa do nasal para permitir melhor visão do interior da cavidade nasal Observar: inferiormente, o assoalho da cavidade nasal e se há secreções ou lesões; lateralmente, a cabeça da concha inferior (coloração da mucosa, hipertrofia, degenerações polipoides), cabeça da concha média e meato médio (local em que ocorre drenagem das secreções provenientes dos seios frontal, maxilar e etmoidal anterior); medialmente, septo nasal (deformidades, perfurações, ulcerações e abaulamentos). Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 5 RINOSCOPIA POSTERIOR. Com a língua relaxada, apoiada no assoalho da boca e assim mantida com auxílio de abaixador de língua, introduz-se o espelho de laringe pequeno, previamente aquecido, em direção à parede posterior da orofaringe até ultrapassar os limites do palato mole. Avaliar as paredes da rinofaringe, as cóanas, a cauda da concha inferior, a porção posterior do septo nasal, o tamanho das tonsilas faríngeas e as tubas auditivas bilateralmente (exame de difícil realização em crianças e pacientes não colaborativos). BOCA E FARINGE INTRODUÇÃO A faringe é a continuação da cavidade bucal e pode ser dividida em nasofaringe ou rinofaringe, orofaringe e laringofaringe. A nasofaringe estende-se da base do crânio até uma linha imaginária no palato mole. Comunica- se com a cavidade nasal por meio das cóanas e com a orelha média pelas tubas auditivas. A orofaringe tem como limite anterior a superfície posterior do palato mole. Lateralmente encontram-se duas membranas, anteriormente, o arco palatoglosso, e o palatofaríngeo, posteriormente. Entre as duas pregas situam-se as fossas tonsilares que são ocupadas pelas tonsilas palatinas. Inferiormente, encontra-se o dorso da língua e posteriormente a epiglote. A hipofaringe ou laringofaringe estende-se da borda superior da epiglote até a borda inferior da cricoide. Após a mastigação, a fase faríngea da deglutição começa com a elevação do palato mole para fechar a nasofaringe, a qual consiste em contrações dos constritores da faringe para propulsionar o bolo alimentar. Simultaneamente, a laringe é fechada para proteger a via aérea. A faringe participa da função respiratória, dando passagem às correntes aéreas, da função fonatória, fazendo parte da caixa de ressonância faringobuconasal e desempenha função primordial na deglutição dos alimentos. ANAMNESE IDADE As faringotonsilites virais correspondem a 75% dos casos de infecção das vias aéreas em crianças menores de 2 anos. Já a mononucleose infecciosa ocorre, em geral, na segunda ou terceira década de vida. A infecção pelo Streptococcus pyogenes beta- hemolítico começa a ser significativa a partir dos 2 ou 3 anos, com maior prevalência entre 5 e 15 anos. PROFISSÃO Em profissionais que têm contato com crianças em idades pré-escolar, escolar e pré- adolescente, a incidência de faringotonsilites é maior. SINAIS E SINTOMAS DOR DE GARGANTA. A dor espontânea ou à deglutição é encontrada em quase todas as enfermidades da faringe, inflamatórias ou neoplásicas. Com frequência, acompanha-se de dor reflexa nos ouvidos. DISPNEIA. Ocorre na hiperplasia exagerada das amígdalas palatinas. Os volumosos cistos da face faríngea da epiglote e as neoplasias malignas avançadas da orofaringe, principalmente da laringofaringe, também podem provocar dispneia. Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 6 DISFAGIA. É a dificuldade de deglutir, decorrente de processos inflamatórios, neoplásicos e paralíticos do véu palatino e dos músculos constritores da faringe. TOSSE. A hiperplasia amigdaliana pode desencadear tosse reflexa. As secreções oriundas das tonsilas palatinas e aspiradas durante o sono são causas importantes de traqueítes e traqueobronquites “descendentes”, manifestadas por crises de tosse. HALITOSE. Determinadas tonsilas palatinas podem transformar-se em depósito de detritos alimentares e produtos de descamação do próprio epitélio das tonsilas, dando origem às “massas caseosas” que são pequenas formações esbranquiçadas ou branco- amareladas. Devido a um processo fermentativo, tornam-se fétidas, sendo uma das causas de intenso mau hálito. EXAME FÍSICO Utiliza-se o abaixador de língua, posicionado nos dois terços anteriores da língua, para se conseguir uma boa visualização. Solicita-se ao paciente manter a língua dentro da boca, de forma relaxada. Deve-se analisar a orofaringe, as tonsilas palatinas, o palato mole, os arcos palatoglossos e os palatofaríngeos. Para sistematização do exame da faringe, pode- se utilizar a classificação de Mallampati, As tonsilas devem ser avaliadas quanto ao tamanho, simetria, presença de exsudato ou caseum, tamanho das criptas, ulcerações, tumores ou abaulamentos. Para facilitar o registro dos achados clínicos, deve-se utilizar a classificação de Brodsky, que inclui a posição e o tamanho das tonsilas Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 7 LARINGE INTRODUÇÃO A laringe é um órgão musculocartilaginoso situado na região infra-hióidea, no nível das vértebras C3 a C6, indo da porção laríngea da faringe até a margem inferior da cartilagem cricóidea. Desempenha três funções: esfincteriana, protegendo a via respiratória no momento da deglutição; respiratória, regulando o fluxo aéreo inspiratório e expiratório; fonatória, produzindo o som glótico pela vibração das pregas vocais, seguida pela ressonância e articulação desse som, fenômenos que ocorrem no trato vocal supraglótico. O esqueleto da laringe é constituído por nove cartilagens (três ímpares e três pares) que se articulam por membranas, ligamentos e pregas ANAMNESE IDADE Em crianças, os distúrbios vocais funcionais e as malformações congênitas são as principais causas de rouquidão. Nas faixas etárias mais avançadas, são as laringites crônicas e doenças neoplásicas. SEXO As disfonias funcionais são mais frequentes nos meninos, durante a infância, enquanto na idade adulta acometem mais as mulheres. PROFISSÃO Distúrbios laríngeos são frequentes em profissionais que abusam da voz, como professores, locutores e cantores. Trabalhos em ambientes com poluentes inalatórios, como pedreiras e marcenarias, podem ser prejudiciais à mucosa das vias respiratórias superiores e predispor ao desenvolvimento de lesões laríngeas. ANTECEDENTES PESSOAIS. Deve-se avaliar: tabagismo e etilismo; antecedentes cirúrgicos (sintomas vocais que aparecem no pós-operatório de cirurgia cardíaca e de tireoide levantam a possibilidade de secção do nervo laríngeo recorrente); doenças sistêmicas; uso de medicamentos; exposição a ambientes com irritantes inalatórios; história de traumas laríngeos, sejam externos (traumas cervicais) ou internos (intubações orotraqueais); antecedentes e intercorrências neonatais quando ocorre estridor. SINAIS E SINTOMAS Os principais sinais e sintomas são rouquidão e estridor. ROUQUIDÃO Caracteriza-se pela mudança do timbre e da intensidade da voz. O início, a frequência e sintomas associados devem ser avaliados. ESTRIDOR Som produzido pelo turbilhonamento do ar quando há qualquer tipo de restrição nas vias respiratórias superiores. Deve-se avaliar: tipo do estridor (Inspiratório e/ou expiratório); época de início; sintomas associados; periodicidade (constante ou intermitente); fatores de melhora ou piora; sinais respiratórios indicativos de gravidade. EXAME FÍSICO Como os distúrbios vocais podem ser consequência de lesões neurológicas, é necessário avaliar os pares cranianos. Verificar posição e contração da musculatura do palato mole, estase salivar, mobilidade da língua e reflexo do vômito. Semiologia | Ana Beatriz Rodrigues e Gleysla Silva 8 No caso de estridor, esclarecer se é inspiratório, expiratório ou ambos. Identificarsintomas respiratórios associados, isto porque a intensidade do estridor, isoladamente, não permite definir se o quadro é leve, moderado ou grave. Uma obstrução muito grave pode não gerar estridor, mas os sintomas de desconforto respiratório podem ser evidentes. Em recém-nascidos e prematuros, realizar ausculta cervical para melhor avaliar o estridor. Pode-se avaliar a laringe e a hipofaringe também por meio de laringoscopia indireta. Para isso, utiliza-se o espelho de Garcia, sendo importante realizar o exame durante a fonação e a respiração. Observar: posição, simetria e mobilidade de pregas vocais; estase salivar, restos alimentares, secreção ou lesão em região supraglótica e glótica Observação: não é possível fazer este exame em crianças e adultos que não colaboram. Nestes casos, torna-se obrigatória a endoscopia das vias respiratórias. Laringoscopia indireta. Introduz-se o espelho de Garcia com cuidado na orofaringe do paciente ao mesmo tempo que se segura a língua dele. Com o espelho, é possível visualizar a região supraglótica, a glótica e, dificilmente, a subglótica.
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