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Sabrina Angheben │Gastroenterologia Patologias do Intestino Intestino delgado e grosso Histologia ● Mucosa do delgado - Vilosidades intestinais: são longos prolongamentos, denominados vilosidades - São projeções semelhantes a dedos - Glândulas de Lieberkuhn ou intestinais - São glândulas tubulosas simples localizadas abaixo da superfície. - Presentes no delgado e grosso - Formada por células caliciformes (maioria) e absortivas - Epitélio: - Colunar simples, constituído por dois tipos celulares - Enterócitos ou absortivas - Caliciformes - As células se ligam lateralmente por zônulas de oclusão, impedindo a passagem de moléculas por essa via - Sobre os enterócitos - Realizam absorção - Água - Pequenas moléculas, como aminoácidos, dipeptídeos, açúcares, ácidos graxos - Realizam a quebra final de moléculas - Possuem enzimas ancoradas em sua superfície - Enzimas para carboidratos e peptídeos - Apresenta microvilosidades em sua superfície, aumentando a superfície de absorção - Células de Paneth - Localizados no fundo das glândulas de Lieberkuhn - Secretam enzimas e lisozimas de defesa - Célula S, CCK e K ● Diferenças histológicas do intestino delgado - Glândulas duodenais ou de Brunner - São específicas do duodeno - Secreta glicoproteínas e íons bicarbonato. - Placas de Peyer - Porção terminal do Íleo - Há o acúmulo de tecido linfóide associado à mucosa do tubo digestivo (MALT ou GALT) - Localizados na mucosa e submucosa - Preenchido por linfócitos, macrófagos e células dendríticas - É revestido pelas células M que realizam endocitose ou fagocitose ● Intestino grosso: - Mucosa - Não apresenta fossetas ou vilosidades - Possui apenas perfurações para saída das glândulas de Lieberkuhn - Possui menos células absortivas que o delgado e mais caliciformes - Reto - É em sua maioria revestido pela camada adventícia - O restante é similar ao intestino grosso - O canal anal possui a transição do epitélio simples colunar para estratificado pavimentoso - Acúmulo de células sudoríparas Anatomia ● Duodeno: - Menor porção, com cerca de 25-30cm - É a mais larga e mais fixa - É retroperitoneal, exceto pelo seu início (ligamento hepatoduodenal) - Extende-se do piloro até a flexura duodenojejunal, ao nível de L2 - Porções - 1ª parte superior, bulbo ou ampola duodenal - Mais acometida por úlceras - 2ª parte descendente - Localizada a ampola maior e menor - Relação com rim direito e adrenal direita - 3ª parte horizontal ou inferior - Cruza a veia cava inferior, aorta e coluna vertebral - 4ª parte ascendente - Ligamento ou músculo suspensor do duodeno → Músculo de Treitz - Prega de peritônio que circunda a flexura duodenojejunal - Irrigação - Artérias pancreaticoduodenais superiores - Ramos da gastroduodenal - Bifurca em anterior e posterior - Artéria pancreaticoduodenal inferior - Ramo da mesentérica superior - Bifurca em anterior e posterior - Drenagem - Veia pancreaticoduodenal superior anterior - Deságua na gastro omental direita - Veia pancreaticoduodenal superior posterior - Deságua na veia gástrica direita ou diretamente na porta - Veia pancreaticoduodenal inferior anterior - Deságua na mesentérica superior - Veia pancreaticoduodenal inferior posterior - Deságua na mesentérica superior - Inervação - Simpática: nervos esplâncnicos maior (plexo celíaco) e menor (plexo mesentérico superior) - Parassimpática → troncos vagais anterior (plexo celíaco) e posterior (mesentérico superior) ● Jejuno e íleo - Mede cerca de 6-7 metros - Segue da flexura duodenojejunal até o íleo-terminal - Grande responsável pela absorção de água - Jejuno - Localiza se mais superior e a esquerda - no quadrante superior esquerdo (QSE). - Íleo - É o mais inferior e a direita - no quadrante inferior direito (QID). - Mesentério - Peritônio que prende o intestino à parede anterior - Permite mobilidade, vascularização, inervação e linfonodos. - Transição para cólon pela papila ileal ou válvula ileocecal. ● Vascularização jejuno e íleo: - Artéria mesentérica superior - Artérias jejunais - Artérias ileais - A artéria ileocólica supre a porção final do íleo, pelos ramos ileais, e o ceco, através dos ramos cecais. - Drenagem - Mesentérica superior ● Cólon - Absorção de água - Converte o quimo líquido em fezes semissólidas - Apêndices adiposos ou omentais no colo: - Pequenas projeções adiposas - Saculações: - Dilatações da parede do colo entre as pregas semilunares - Tênias do colo (musculatura longitudinal): - Existem três faixas longitudinais distintas → a tênia mesocólica, a tênia omental e a tênia livre. ● Ceco: - Totalmente revestido pelo peritônio, porém sem mesentério - Junção ileocecal - Óstio ileal → papilar ileal - Apêndice vermiforme: - É um divertículo intestinal de 9 cm, em média, preenchido por tecido linfóide - Possui mesentério - Mesoapêndice ● Colo - Os colos envolvidos por peritônio são suscetíveis à torções, volvos ou vólvulos. - Ascendente - Retroperitoneal - Flexura direita ou hepática - Transverso - Intraperitoneais → mesocolo transverso - Descendente - Retroperitoneal - Flexura esquerda ou esplênica → ponto de Griffith - Entre territórios da AMS e AMI - Sigmóide - Intraperitoneal → mesocolon sigmóide - Junção retossigmóide → ponto de Sudeck - Entre AMI e ilíaca interna ● Reto e ânus: - O reto se inicia na junção reto-sigmoide, ao nível de S3 até o fim do cóccix - É contínuo internamente com o cansal anal - Flexura sacral - Flexura anorretal ou perineal - Prega superior, média e inferior - Ampola retal - Dilatação do reto, inferior à prega média - Reservatório durante a defecação - Canal anal - Porção terminal do intestino grosso - Inicia com o estreitamento da ampola e termina no ânus - Esfíncter interno de contração involuntária, localizado na parede interna - Esfíncter externo de contração voluntária, na parede externa - Colunas anais ou de Morgagni → contém os seios anais, que produzem muco para facilitar a defecação ● Vascularização cólon Artéria mesentérica superior: Lado esquerdo: - Ramos: artérias ileais e jejunais (irriga jejuno e íleo) → artéria ileocólica (irriga ceco) → artéria apendicular (irriga apêndice) Lado direito: - Artéria cólica direita (irriga cólon ascendente) - Artéria cólica média (irriga cólon transverso) Artéria mesentérica inferior: - Artéria cólica esquerda (irriga cólon descendente) - Artérias sigmóideas (irriga sigmóide) - Artéria retal superior (irriga parte superior do reto) Artéria ilíaca interna (irriga porção média do reto) - Artéria pudenda (irriga porção inferior do reto) Drenagem: - Veia cólica média + veia cólica direita + veia ileocólica = veia mesentérica superior + veia esplênica = veia porta. - Veias cólicas esquerdas + veia sigmoidea e retossigmóidea + veias retais superiores (esquerda e direita) = veia mesentérica inferior → veia esplênica. - Veia ilíaca interna + veia ilíaca externa = veia ilíaca comum = veia cava inferior. Fisiologia A digestão e a absorção normais podem ser divididas em estágios sequenciais: ● Hidrólise na membrana do enterócito ● Hidrólise e solubilidade luminais ○ Ocorre hidrólise de proteínas, carboidratos e lipídeos liberados pelas glândulas salivares, estômago e pâncreas ● Absorção através da membrana do enterócito ○ Aminoácidos, pequenos peptídeos, monossacarídeos, monoglicerídeos e ácidos graxos ● Captação do enterócito para sangue e linfa Síndrome disabsortiva Consiste em qualquer síndrome etiologicamente relacionada com alguma anormalidade na absorção pelo intestino delgado. - Má digestão: quando há alteração da hidrólise do conteúdo luminal. - Resulta em má absorção. - Má absorção ou dissaborção: impedimento do transporte através da mucosa. - Seletiva → apenas uma classe de nutrientes - Pandisabsorção → amplo espectro de nutrientes ● Fisiopatologias: - Causas pré-epiteliais ou pré-entéricas - Impedimento da função da mucosa- Hidrólise - Captação - Empacotamento - Causas epiteliais ou entéricas - Impedimento da remoção dos nutrientes da mucosa ex. Síndrome do intestino irritável ● Diagnóstico ocorre em 4 estágios: Sobre diarréia Definição Consiste na eliminação de fezes amolecidas, de consistência líquida, geralmente acompanhado de: - Aumento do número de evacuações diárias - Aumento da massa fecal diária (>200 mg/dia) ou mais que 3x/dia Ocorre quando há um desbalanço entre absorção e secreção de fluidos para o intestino, seja por redução da absorção e/ou aumento da secreção. Tipos ● Conforme duração: 1. Diarréia aguda → <2 semanas 2. Diarréia persistente → 2<4 semanas 3. Diarréia crônica → >4 semanas ● Quanto à origem: 1. Alta - Proveniente do intestino delgado - Características - Mais volumosos - Grande perda de líquido - Esteatorréia - Restos alimentares 2. Baixa - Proveniente do cólon - Características - Evacuação em baixa quantidade - Aumento da frequência - Pela irritação do cólon, que controla a frequência - Tenesmo (desconforto e evacuação incompleta) - Urgência fecal - Irritação do reto - Pode haver sangue, muco e pus ● Quanto à fisiopatologia: 1. Osmótica - Ocorre com a ingestão de substâncias osmoticamente ativas e não absorvíveis pelo epitélio intestinal - Por osmose, irá reter grande quantidade de água no tubo digestivo para equilibrar a osmolalidade - O delgado e o cólon não são capazes de sustentar o gradiente osmótico - Aproximadamente 3,5L de água são perdidos para cada 1 mOSm de aumento da osmolalidade. - Ex. - Sorbitol - Manitol - Glicerina - Deficiência de lactase - Ingestão de sais de magnésio - Quadro - Diarréia - Cessa em jejum (não há diarréia noturna) - Cessa com a suspensão da substância - Distensão abdominal - Cólica abdominal - Flatulência (fermentação bacteriana no cólon) - Fezes ácidas (fermentação bacteriana) - Sódio e potássio estão reduzidos nas fezes - Manutenção da absorção de eletrólitos - GAP osmolar fecal elevado >125 mOSm/L (290 -2 x [NA+K]) 2. Secretória não-invasiva - Ocorre por estimulação de secreção ou inibição de absorção hidroeletrolítica - Ocorre por toxinas, drogas ou substâncias neuro-hormonais - Pode causar diarreia alta ou baixa - Diarréia - Não cessa com jejum - Possui GAP osmolar fecal baixo <50 mOSm/L - Ex. - Laxativos estimulantes, como fenolftaleína - Bactérias produtoras de toxinas, como cólera - Diarréia dos ácidos biliares - Diarréia dos ácidos graxos A diarréia dos ácidos biliares acontece toda vez que estas substâncias atingem o cólon, o que pode ser decorrente de sua absorção parcial no íleo (doença ileal leve a moderada), ou do lançamento súbito de uma grande quantidade dessas substâncias no trato gastrointestinal, excedendo a capacidade absortiva ileal (diarréia pós-vagotomia troncular, diarréia pós colecistectomia). Uma vez no lúmen colônico, os ácidos biliares provocam secreção de cloreto e água e, portanto, diarréia, que melhora quase sempre com o uso da colestiramina, um sequestrador de ácidos biliares. OBS: os ácidos biliares são reabsorvidos exclusivamente no íleo. A diarréia dos ácidos graxos ocorre nos estados mais acentuados de má absorção de lipídeos e no supercrescimento bacteriano. Os ácidos graxos (exceto os de cadeia curta) são hidroxilados pelas bactérias colônicas, tornando-se substâncias secretórias. 3. Diarréia invasiva ou inflamatória - A diarreia inflamatória se caracteriza por lesão e morte de enterócitos, atrofia de vilosidades e hiperplasia de criptas. - Ocorre pela liberação de citocinas e mediadores inflamatórios na mucosa intestinal - Causam efeitos secretores e estimulantes da motilidade - Ocorre pelos seguintes processos - Enterite - Colite - Enterocolite - Características - Disenteria (muco + sangue) - Pode ser infecciosa ou não - Ex. doença inflamatória intestinal 4. Síndrome disabsortiva → diarréia + esteatorréia - Esteatorréia sempre tem origem do intestino delgado - Mecanismos - Mecanismo secretório colônico - Mecanismo osmótico da má absorção de dissacarídeos (deficiência lactase) - Massa lipídica fecal - Exemplos - Doença celíaca - Doença de Chron - Giardíase - Estrongiloidíase 5. Diarréia funcional - É causada pela hipermotilidade intestinal - Ex - Síndrome do intestino irritável - Diarréia diabética por neuropatia autonômica Diarréias agudas - Etiologias - 90% dos casos é infecciosa - 10% por uso de medicações, ingestão de toxinas, isquemia, doença inflamatória intestinal e etc - Geralmente acompanhada de náuseas, vômitos e dor abdominal - Características - 3-7 evacuações por dia - Casos graves 20x/dia - Menor de 1L de líquidos nas fezes ● Agentes etiológicos mais comuns: - Maioria é viral - Escherichia coli enterotoxigênica - Salmonella - Shigella - Staphylococcus aureus → toxina pré-formada, causadora de infecção alimentar ● Rotavirose: - A rotavirose é uma infecção autolimitada que acomete basicamente crianças lactentes (até 2 anos). - Quadro: - Náuseas, vômitos, diarréia aquosa e febre moderada. - É a principal virose associada à diarréia nas crianças. - Pode ocorrer em surtos, típicos dos meses frios do inverno. - Protegida pela vacinação. - O rotavírus invade células intestinais a partir de receptores específicos e em seguida, escapa do endossomo, ficando livre no citosol para se multiplicar. - Em seguida, passa a produzir uma proteína chamada de NSP4, que bloqueiam alguns transportadores como o SGLT1, o que interrompe a absorção de sódio, glicose e água, provocando diarreia. - Além disso, ativa vias de sinalização, como a do AMP cíclico, que aumentam os níveis de cálcio e promovem hipersecreção e diarreia ● E. coli enterotoxigênica - É a principal causadora da diarreia dos viajantes. - Essa se adere a mucosa intestinal, produz toxinas termoestável e termosensível que estimulam a secreção de água para o lúmen intestinal. - Como não ultrapassa a mucosa e não promove lesão, a diarreia cursa sem muco, pus ou sangue, porém é caracterizada por ser explosiva e de grande volume. - Dura cerca de 5 dias. ● Shigella - É uma bactéria Gram-negativa, resistente ao suco gástrico. - Encontrada em alimentos e água contaminadas. - Existem quatro fases: incubação, durando de 1 a 4 dias; diarreia aquosa inicial, disenteria e fase pós-infecciosa. - As principais complicações são intestinais (megacólon tóxico, perfuração intestinal, prolapso intestinal) ou metabólicas (hipoglicemia, hiponatremia, desidratação). - O tratamento de escolha é feito com ciprofloxacino. ● Salmonella - É uma bactéria gram negativa que induz sua fagocitose pela ação de um sistema que injeta algumas moléculas nas células do intestino. ● Staphylococcus aureus - O S. aureus é capaz de produzir uma toxina termoestável. - A intoxicação alimentar está intimamente associada a essa bactéria, com em maionese, cremes, ovos. - Os sintomas se iniciam após algumas horas da ingestão do alimento, cursando com diarreia volumosa, náuseas, vômitos e cólicas. ● Clostridium difficile - Causa colite pseudomembranosa - Trata-se de uma bactéria gram-positiva cujos esporos são observados principalmente em ambiente hospitalar. - O risco de contaminação também está relacionado à idade avançada, doença de base grave, cateteres, antiácidos, cirurgias gastrointestinais. - Os esporos germinam no delgado e colonizam o cólon. Essas vivem pacificamente até que uma causa qualquer, como uso de antibióticos, destrua a fora e as clostidium se multiplica, causando a doença. - Essas produzem duas toxinas, A e B, que promovem lesão direta do cólon e alteração do citoesqueleto, respectivamente. ● Principais causas não infecciosas: - Diarreia alcoólica - Medicamentosa - Digoxina - AINES - Antiácidos à base de magnésio - ATB - Laxantes - Anti-hipertensivos - Alimentação - Sorbitol - Dieta enteral - Alergia alimentar ● Fatores de risco para pior evolução: - <5 anos- Baixa condição socioeconômica - Saneamento inadequado ● Risco de tornar persistentes - Crianças, idosos e imunossuprimidos ● Fatores de risco gerais: Diarréias crônicas ● Osmótica: - Intolerância à lactose ● Secretória: - Síndrome do cólera pancreático (VIPoma) - Produção excessiva de VIP por tumores na ilhota pancreática - Síndrome carcinóide - Produção de serotonina pelo tumor derivado das células neuroendócrinas - Carcinoma medular de tireóide - Hipersecreção intestinal pela calcitonina ● Disabsortiva: - Má absorção de carboidratos e ácidos graxos (efeito osmótico e secretório) - Principais causas - Crohn - Giardíase - Estrongiloidíase - Doença celíaca ● Invasiva ou inflamatória: - Causa inibição da absorção por lesar a mucosa - Estimula secreção pelas citocinas e demais mediadores - Quadro geral - Febre - Dor abdominal - Perda ponderal - Disenteria - Exemplos - Amebíase - Doença inflamatória intestinal - APLV ● Funcional: - Síndrome do intestino irritável. Diagnóstico ● Quando investigar: - Diarreia muito volumosa, que causa desidratação - Avaliar hipovolemia - Diarreia com sangue - Diarreia com muco - Diarreia com pus - >48h - Febre - Dor abdominal importante (ex. abdome agudo) - Hospitalização recente e uso de ATB - Idosos, gestantes e imunossuprimidos A investigação começa pelo exame de fezes, hemograma e bioquímica. ● Exame de fezes: - EAF → Elementos Anormais nas Fezes - Realizar pesquisa de leucócitos fecais e, caso positivo, indica diarréia aguda invasiva - Lactoferrina fecal (produto de neutrófilos) - Coprocultura - Solicitar em caso de diarréia invasiva - Pesquisa de toxina do C. difficile em caso de uso recente de penicilinas, cefalosporinas, quinolonas e clindamicina. - Parasitológico de fezes - Detecção de agente etiológico ● Colonoscopia: - Indicações: - Suspeita de doença inflamatória intestinal - Colite isquêmica - Pacientes com AIDS - Desidratação grave ● Eletrólitos fecais: - Indicado em caso de diarréia crônica para determinação do GAP osmolar fecal e pH ● Sinais de alarme em diarréias agudas: - Diarréia abundante com desidratação - Fezes sanguinolentas - Febre >38,5ºC - Ausência de melhora em 48h - Dor abdominal grave em pacientes com >50 anos - >70 anos - Imunocomprometidos - Homossexuais - Uso recente de ATB - História de viagem recente Tratamento ● Reposição hidroeletrolítica: - Avaliar - Estado de hidratação - Volemia - Eletrólitos, especialmente potássio e bicarbonato - Solução de reidratação oral - 1L água + 3,5g NaCl + 20g de glicose ou 40g sacarose + 1,5g KCl + 3h HCO3- ou citrato de sódio - Se necessário, realizar hidratação EV ● PLANOS DE REIDRATAÇÃO Plano A Direcionadas ao paciente HIDRATADO para realizar no domicílio: - Aumento da ingestão de água + ingestão de outros líquidos (SRO), principalmente após cada episódio de diarreia → evitar desidratação - Manutenção da alimentação habitual; - Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; - Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias Plano B Direcionadas ao paciente COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa. - Ingestão de solução de SRO até que desapareça os sinais de desidratação - Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; - Sinais de desidratação: Plano C O Plano C consiste em duas fases de reidratação endovenosa destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. - Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida e de manutenção) - O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; - Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações. - Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos. ● Alimentação: - De acordo com a aceitação, pode ser oferecida dieta líquida, evitando-se laticínios, ou uma dieta contendo carboidratos cozidos ou cereais (batata, arroz, trigo, aveia, macarrão), cozidos na água e sal. - Sopas, vegetais cozidos, cream-crackers, banana e iogurte podem ser consumidos. ● Antidiarréicos: - Contraindicados em caso de diarréia invasiva - Loperamida ou Imosec - 2mg após cada evacuação por 2 dias (não ultrapassar 16mg) - Não pode tomar quando tiver febre - Difenoxilato ou Lomotil - 4mg 6/6h em caso de diarréia aguda não invasiva - Subsalicilato de bismuto - 30mL 30/30 min por 8 doses - Agentes probióticos (Floratil) - Podem ser indicados na diarréia não invasiva, para repovoar a flora intestinal normal e, com isso, reduzir o período de diarréia em alguns pacientes com quadros mais prolongados. ● Antibiótico empírico: - Indicação - Febre - Fezes com sangue - +8 evacuações por dia - Desidratação - Diarréia por mais de 7 dias - Optar por - Ciprofloxacina 500mg 12/12h 5 dias - Azitromicina Esteatorréia Absorção e metabolismo dos lipídios A digestão dos lipídios ocorre com o auxílio de enzimas e de emulsificantes, que permitem uma maior área para a ação da enzima lipase pancreática. Grande parte deste processo ocorre no duodeno, jejuno e íleo (FREEMAN, 1985). Quando as gorduras provenientes do estômago ingressam no intestino delgado encontram um 4 ambiente alcalino (pH≅5,8-6,0), que permite uma atuação da bile produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar. A bile tem por função emulsificar os lipídios, aumentando a superfície dos mesmos com a formação de micro gotículas de gordura. Esteatorreia é a presença de excesso de gordura nas fezes. Isto é geralmente causado por problemas na digestão e absorção gastrointestinais. As mais comuns são doenças do intestino delgado ou do pâncreas. Eliminação de gordura nas fezes. Fisiologia: digestão de gordura ocorre no intestino delgado, realizada pela ação de enzimas pancreáticas (lipase) = quebrar moléculas de gordura em outras menores → formam micelas por meio da ação de sais biliares e em seguida são absorvidas pela parede intestinal. Causas: má absorção causada por diferentes etiologias, como falhas no processo digestivo, falta de sais biliares ou danos na mucosa intestinal. A má absorção intraluminal deve-se à falta de bile (cirrose ou obstrução dos canais biliares) ou de enzimas pancreáticas (pancreatites ou câncer do pâncreas). A má absorção pela mucosa intestinal pode ocorrer pela destruição das células da mucosa intestinal por drogas, como algumas classes de anti-inflamatórios não esteroides e outros, por parasitas, doenças autoimunes ou por medicações que impeçam a absorção normal dos sais biliares. A obstrução pós-mucosa pode ser congênita (linfangite intestinal, por exemplo) ou adquirida (trauma, linfoma, carcinoma, etc.) Com a obstrução dos canais linfáticos, ocorre a má absorção de gorduras com perda de proteínas e linfócitos, sem prejuízo da absorção de carboidratos. Há outras causas de má absorção, como o crescimento bacteriano, obstrução intestinal anatômica e distúrbios de motilidade do intestino. Algumas doenças metabólicas também podem levar à má absorção, por meio de distintos mecanismos. Outra causa possível é a síndrome do intestino curto, que ocorre quando há ressecção extensa do intestino delgado, deixando menos de 200 centímetros. Diagnóstico: exame de amostras fecais ao microscópios Tratamento: redução da ingestão de gordurase administração de enzimas pancreáticas. Disenteria ● Definição Eliminação de produtos patológicos, muco, pus, sangue ou restos de tecidos, com ou sem diarreia ● Etiologia e fisiopatologia - Representa lesão na mucosa intestinal. - Ocorre inflamação como processo reacional, especialmente leucócito e sangue - Aumenta o processo inflamatório - Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. - Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras de disenteria. ● Diagnóstico - Clínico + parasitológico de fezes ● Tratamento - Considerando que a etiologia mais comum é do gênero Shigella, inicia-se antibioticoterapia. - Hidratação Síndrome do Intestino Irritável Conceito ● Conforme Roma IV: ○ Dor abdominal recorrente e que se associa com a defecação e a mudança do hábito intestinal, tipicamente se apresenta por constipação, diarreia ou uma combinação de ambos alternadamente. ○ O início dos sintomas deve ter ocorrido há pelo menos 6 meses e ter estado presente durante os últimos 3 meses. É um distúrbio funcional do TGI sem relação com alterações metabólicas, bioquímicas ou estruturais. Consiste, portanto, na modificação da função intestinal. - Evolução crônica - Clinicamente manifestada como dor ou desconforto abdominal, associada à alterações do hábito intestinal - Constipação alternada com diarréia - Pode ocorrer outros sintomas - Muco nas fezes - Urgência retal - Distensão abdominal - Flatulência - Epidemiologia - Acomete 10-20% da população - Predomínio no sexo feminino (3:1) - Acomete mais jovens de 15-44 anos Os portadores da síndrome apresentam uma prevalência aumentada de comorbidades psiquiátricas (depressão, síndrome do pânico). Subtipos ● Predomínio de diarréia ● Predomínio de constipação ● Hábitos mistos ● Não classificada Fisiopatologia Os sintomas são entendidos dentro de um pluralismo fisiológico: simultaneamente, podem interagir distúrbios motores, aumento da sensibilidade visceral, alteração das conexões do sistema nervoso central com o intestino, ao mesmo tempo eventos socioculturais e influências psicossociais parecem modular a percepção dos sintomas. Ocorre por um conjunto de fatores, especialmente por: 1. Alterações de motilidade do TGI: a. Peristalse acelerada ou retardada, ou b. Aumento das contrações espasmódicas e c. Aumento da pressão luminal. 2. Hipersensibilidade visceral do TGI: a. Diminuição do limiar para percepção da distensão mecânica. 3. Processamento sensorial alterado no SNC, tornando o paciente mais sensível à dor visceral. ● Serotonina A serotonina, (5-hidroxitriptamina), recebeu maior atenção por sua mediação nas respostas da secreção, modulação do peristaltismo e das funções viscerais aferentes. Cerca de 80% do total desse neuromodulador encontra-se estocado no trato digestivo, 95% dessa quantidade nas células neuroendócrinas intestinais, e 5%, nos neurônios entéricos. Em situações de estresse, os fatores liberadores de corticotrofina e tireotrofina, produzidos no cérebro, degranulam mastócitos, promovendo o extravasamento de serotonina, o que provoca maior contração cólicas. Alguns estudos têm demonstrado certos padrões motores de dismotilidade que supostamente seriam mais comuns em pacientes com SII: ● Dismotilidade no Intestino Delgado: - Contrações jejunais “em salvas”; - Contrações ileais prolongadas. ● Dismotilidade Colônica: - A motilidade colônica basal é normal em pacientes com SII, mas há uma resposta motora exagerada a certos estímulos, tais como agentes colinérgicos, estresses agudos e fatores hormonais como a colecistocinina e prostaglandinas E, e F,. - Da participação desses últimos 2 fatores advém a maior frequência de sintomas quando da ingestão de dieta rica em gorduras (o que aumenta a liberação de colecistocinina) e durante os primeiros dias do período menstrual (quando há altos níveis de prostaglandinas). A única condição que comprovadamente se associa com o desenvolvimento da SII é a gastroenterite bacteriana, principalmente nos casos que necessitam de internação. Isso pode ser comprovado pelos seguintes fatos: - Cerca de 20% dos portadores de SII relacionam o início dos seus sintomas a um episódio prévio de gastroenterite. - 20-30% dos indivíduos com gastroenterite bacteriana aguda (principalmente infecções causadas por Salmonella sp.) desenvolvem sintomas persistentes compatíveis com SII. - O risco de desenvolvimento de SII é 14 vezes maior entre aqueles que já tiveram gastroenterite bacteriana em comparação com os que nunca tiveram. Estudos mais recentes sugerem que a ativação imunológica e a inflamação da mucosa também possam estar associadas às alterações neuropáticas relatadas na fisiopatologia da síndrome e justificam o conceito da SII pós-infecciosa Quadro clínico - Dor abdominal em cólica recorrente - Aliviada pelas evacuações - Alterações do hábito intestinal - Diarréia - Líquido ou líquido-pastosa - 50% dos casos acompanhada de muco - Constipação - Menos de 3 evacuações por semana → fezes endurecidas - Outros sintomas TGI - Distensão abdominal - Flatulência - RGE - Disfagia - Náuseas - Vômitos - Saciedade precoce - Dor torácica não-cardíaca - Sintomas extra-intestinais - Disfunção sexual - Dispareunia - Dismenorréia - Disúria e polaciúria - Lombalgia - Fibromialgia - Disfunção psicossocial - Ansiedade - Depressão Diagnóstico É essencialmente clínico; - Identificação da síndrome clínica pela anamnese - Exclusão de outras causas Quadro sugestivo → Critérios de Roma IV → Descartar sinais de alarme → Avaliação inicial (sem sinais de alarme) ou avançada (com sinais) ● Suspeita na história clínica: - Paciente com dor abdominal recorrente (mais de 1 dia por semana nos 3 meses anteriores), com início de pelo menos 6 meses antes do diagnóstico. - Dor abdominal + alteração do hábito ● Sinais de alarme: - Idade >=50 anos sem triagem de câncer colorretal - Mudança recente no hábito intestinal - Evidência de hematoquezia ou melena - Dor noturna ou tenesmo - Perda de peso importante - História familiar de CA colorretal ou doença inflamatória intestinal - Massa abdominal - Linfonodos palpáveis - Anormalidades laboratoriais - Sinais de anemia ferropriva - PCR aumentado ● Exames complementares: São realizados para confirmar os critérios de Roma IV ou descartar outras enfermidades. - Hemograma - VHS - PCR - Parasitológico de fezes - Sangue oculto nas fezes - Sorologia para doença celíaca - Calprotectina fecal - Exclusão de doença de chron - Caso haja sinais de alarme, associar colonoscopia - Se houver suspeita de lesão estrutural - USG ou TC ● Critérios de Manning: - A probabilidade da síndrome aumenta proporcionalmente ao número de critérios positivos ● Critérios de Roma IV - Característica das fezes Tratamento Varia conforme características individuais, o predomínio de sintomas de diarreia e constipação, além da classificação em leve, moderada e grave. - Leve → mudança no estilo de vida e dieta - Moderada/grave → associar terapia farmacológica - São pacientes com dor e alterações do hábito mais recorrentes - Menor qualidade de vida ● Exercícios físicos - Melhoria da qualidade de vida - Melhora do trânsito intestinal - Mais indicado → aeróbico ● Reeducação alimentar Como muitos pacientes com a síndrome possuem intolerância a diversos alimentos associados a distúrbios da má absorção de açúcar e permeabilidade intestinal, as principais formas de dietas recomendadas são as restritivas individualizadas para necessidade do paciente e feita com acompanhamento de profissionais da nutrição. - Recomendações gerais - Aumento da ingestão de água - Fibras solúveis - Reduzir consumo de álcool e cafeína - Evitar lactose e glúten (empírico) - Evitar alimentos flatogênicos: feijão, lentilha, repolho, rabanete, ameixa, germe de trigo, leite em excesso. - Dieta com baixa ingestão de FODMAP’s FODMAPs significauma dieta à base de carboidratos de cadeia curta, a letra F representa os alimentos fermentáveis, a O representa os oligossacarídeos, D são os dissacarídeos, M são os monossacarídeos e P de polióis, que são álcoois de açúcar. Todos esses tipos de alimentos são pouco absorvidos pelo intestino delgado, o que acaba levando a uma produção excessiva de gases, causando dor e diarreia. ● Psicoterapia: - Principalmente a cognitivo-comportalental. ● Farmacoterapia: 1. Antiespasmódicos: - Hioscina, trimebutina e brometo de pinavério. - Reduzem o reflexo gastrocólico, diminuindo a dor e a diarréia pós-prandiais. - São indicados para melhorar a dor em cólica. 2. Procinéticos: - Bromoprida, domperidona e cisaprida. - Eficácia controversa na variante-constipação. 3. Laxativos: - Os laxantes de escolha são as fibras (Psylium, metilcelulose). - Os laxativos estimulantes (bisacodil, sene e fenolftaleína) não devem ser usados, pois podem lesar o plexo mioentérico. - Os laxativos osmóticos (leite de magnésia e lactulose) podem ser usados na constipação refratária à suplementação dietética com fibras. - Supositórios de glicerina, óleo mineral e polietilenoglicol (oral ou por enema) podem ser usados na constipação aguda grave. 4. Antidiarréicos: - Indicados para os casos de diarréia refratária às medidas dietéticas e às fibras. - Utiliza-se a loperamida (Imosec) ou o difenoxilato (Lomotil) e colestiramina (casos refratários à loperamida). - Sempre usar de forma esporádica. 5. Antidepressivos: - Úteis em casos graves de SII. - Podem ser usados os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina e nortriptilina) ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina (fluoxetina, paroxetina e sertralina). - Estes últimos possuem menor incidência de efeitos colaterais. 6. Antagonistas serotoninérgicos 5-HT3: - Agentes como o ondansetron, ganisentron e alosetron reduzem a hipersensibilidade visceral e são úteis para combater os sintomas de dor abdominal crônica da SII. 7. Antifiséticos: - Dimeticona, a-D-Galactosidase: - Eficácia controversa na distensão abdominal e flatulência. ● Dor abdominal ○ Hioscina (antiespasmódico) + mebeverina (antiespasmódico) + tricíclico (antidepressivo) ● Pacientes constipados ○ Fibras solúveis → todos ○ Polietilenoglicol (PEG) → em casos mais graves ○ Lactulona → caso lactulona não funcione ● Pacientes com diarreia ○ Loperamida → Menor contratilidade abdominal ■ Liga-se ao receptor opióide Mi ○ Sequestradores de bile → Caso loperamida não funcione → Pacientes costumam ter má absorção de bile - Probióticos: sem evidências que suportem o uso - Antibióticos: há evidência de Rifamixina. Referências Gastroenterologia Essencial 4ª edição https://www.prmjournal.org/article/10.4322/prmj.2019.041/pdf/prmjournal -4-e41.pdf Doença celíaca Conceito É uma enteropatia crônica de mecanismo imunológico, que afeta o intestino delgado de indivíduos geneticamente predispostos à alergia ao glúten. Ou seja, é uma intolerância à proteína do glúten, que agride e danifica as vilosidades do intestino delgado, prejudicando a absorção. A doença ocorre quase exclusivamente em pacientes com MHC II, HLA-DQ2 e HLA-DQ8. - Parentes de 1º e 2º grau tem maior risco de desenvolver DC. - É uma doença autoimune dependente de linfócitos T e imunidade humoral. - Três anticorpos representam a doença: - Antigliadina - Antiendomísio - Antitransglutaminase tecidual - É diferente da sensibilidade ao glúten, que não envolve mecanismos alérgicos ou autoimunes. Fisiopatologia Ingestão da proteína, que se liga à mucosa intestinal (os sítios de ligação estão presentes apenas em pacientes celíacos) → Formam um complexo que resulta em hipersensibilidade. É parcialmente digerido, produzindo a gliadina. - Atrofia das vilosidades → responsáveis pela absorção do conteúdo - Hiperplasia das criptas → responsáveis pela secreção luminal Culmina na síndrome da má absorção clássica, causando diarréia volumosa crônica, esteatorréia, emagrecimento e desnutrição, apatia ou irritabilidade, vômitos, edema periférico e desidratação, Quadro clínico ● Doença celíaca clássica: - Diarreia crônica - Emagrecimento - Distensão abdominal - Perda de peso - Desnutrição - Esteatorreia - Edema secundário à hipoalbuminemia - Vômitos - Anemia - Redução da musculatura esquelética, especialmente glútea A forma clássica pode ter uma evolução grave, denominada crise celíaca, que consiste na presença de diarréia com desidratação hipotônica grave e hipopotassemia e desnutrição grave. - Ocorre quando há retardo do diagnóstico - Principalmente no 1-2 anos de vida ● Forma não-clássica: - Mono ou oligossintomático - Manifestações do TGI são ausentes ou menos importantes - Principais manifestações - Baixa estatura - Anemia ferropriva refratária à reposição VO - Anemia por deficiência de folato e B12 - Osteoporose - Atraso puberal - Irregularidade do ciclo menstrual - Esterilidade - Abortos de repetição - Epilepsia - Neuropatia periférica - Alterações psiquiátricas, como depressão - Perda de peso ● Forma assintomática: - Alterações sorológicas e histológicas da mucosa do intestino delgado compatíveis com DC, porém sem manifestações clínicas. Diagnóstico Paciente com sinais e sintomas de DC + indivíduos do grupo de risco, especialmente sintomáticos 1. Solicitar TTG (anticorpo antitransglutaminase recombinante humana da classe IgA) e IgA 1a. Se TTG e IgA normais, DC é pouco provável → Se caso for altamente provável, solicitar EDA 1b. Se Paciente de 1º grau acometido ou outro diagnóstico de doença autoimune, solicitar TTG no futuro 2. Se TTG normal e IgA alterado → ESA 3. TTG alterada + IgA normal → EDA 3a. Histopatológico negativo → repetir Em qualquer situação, se histopatológico for compatível, consiste no diagnóstico ● EDA com biópsia de intestino delgado - A avaliação histológica é o padrão ouro - Pelo menos 4 fragmentos, incluindo o bulbo e porções mais distais - Alterações detectadas - Mucosa plana ou quase plana - Criptas alongadas - Aumento de mitoses - Epitélio cubóide com vacuolizações - Borda estriada borrada - Aumento de linfócitos intraepiteliais ● Marcadores sorológicos - Anticorpo antigliadina IgG e IgA - Sensíveis, porém pouco específicos - Não são indicados para screening - Mais indicado para crianças - Antiendomísio IgA - Indicado para screening - Mais específico - Antitransglutaminase (antiTTG) IgA e IgG - Acurácia >90% - O anti TTG-IgG é o mais recomendado - Indicação - Identificar indivíduos que deverão ser submetidos à biópsia - Acompanhamento do paciente - Os auto-anticorpos diminuem ou mesmo desaparecem nos pacientes que aderem ao tratamento rígido com dieta sem glúten - Suas determinações seriadas podem ser utilizadas como controle da DC Tratamento ● Orientações dietéticas: - Dieta sem glúten, ou seja, excluir trigo, centeio e cevada - Leva à normalização da mucosa e ausência de manifestações clínicas → exceto quadro de longo prazo, levando à alteração da absorção ● Deficiências alimentares: - Pesquisar e tratar anemia por ferro, ácido fólico, B12 e cálcio ● Outras intolerâncias: - Pela alteração da mucosa pode ocorrer intolerância temporária à lactose e sacarose - Deficiência da produção de dissacaridases ● Corticóide, em alguns casos Complicações ● Linfoma intestinal de célula T - É a principal complicação - Deve-se considerar em pacientes com boa evolução com a dieta, que posteriormente deixam de ter resposta adequada - Má absorção e perda ponderal ● Maior incidência de câncer - Adenocarcinoma de esôfago - Adenocarcinoma de delgado - Adenocarcinoma de jejuno - Carcinoma escamoso da orofaringe ● Anemia, osteomalácia e osteoporose Referência https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/05/Doen--a- Cel--aca---PCDT-Formatado---port1449-2015.pdf Colonoscopia e retossigmoidoscopia Colonoscopia Consiste no exame endoscópico de observação dointestino grosso, podendo ser diagnóstico e/ou terapêutico. Possibilita a visualização de todo o cólon e, em alguns casos, porção final do íleo. - É operador-dependente ● Indicações: - Mais comuns - Sangramento retal - Anemia - Alteração do hábito intestinal - Outras indicações - História familiar de câncer colorretal - Emagrecimento a esclarecer - Dor abdominal - Exame de enema opaco inconclusivo - Importante para o diagnóstico - Doença de Crohn - Investigação - Investigação de sinais e sintomas colonoscopia pode ajudar no esclarecimento das situações de dor abdominal, retorragias (perda de sangue vivo nas fezes), alterações analíticas (por exemplo, anemia), alterações do trânsito intestinal ou diarreia crónica. - Rastreio do cancro do colorretal → é um dos métodos existentes para o rastreio do cancro colorretal. Algumas populações de risco (nomeadamente com antecedentes familiares de pólipos ou tumores colorretais, ou síndromes que predisponham a maior risco de lesões) a colonoscopia é o método de eleição para o rastreio. - Retocolite Ulcerativa - Achados comuns - Pólipos - Divertículos https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/05/Doen--a-Cel--aca---PCDT-Formatado---port1449-2015.pdf https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/05/Doen--a-Cel--aca---PCDT-Formatado---port1449-2015.pdf https://www.sped.pt/index.php/publico/carcinoma-colorretal ● Limitações: Apesar de sua alta sensibilidade, a colonoscopia pode apresentar resultados falso-negativos, fato que pode ser atribuído a impossibilidade anatômica de visibilizar o ceco, preparo intestinal inadequado ou técnica e treinamento inapropriados. Lesões obstrutivas, constrições, aderências, irradiação pélvica e doença diverticular estão associadas a dificuldades técnicas e exames menos sensíveis. ● Complicações: - Sangramento - É o mais comum, especialmente após polipectomia - Perfuração - São complicações que necessitam de laparoscopia de urgência - Alterações cardiopulmonares associadas à sedação - Resultando tanto da quantidade de medicação administrada, quanto de fatores individuais - Idade, insuficiência hepática ou pulmonar, anemia e instabilidade hemodinâmica
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