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Maíra de Souza Introdução à Educação Física 04 Sumário Capítulo 3 – Disciplina Introdução à Educação Física ............................................................. 06 3.1 o esporte moderno: dos jogos olímpicos da era de Coubertin aos megaeventos e seus impactos .................................................................................................................................... 06 3.1.1 as dimensões sociais do esporte ................................................................................... 06 3.1.1.1 Esporte-educação ............................................................................................... 11 3.1.1.2 Esporte-participação ......................................................................................... 12 3.1.1.3 Esporte-performance ......................................................................................... 13 3.1.2 o olimpismo de pierre de Coubertin ........................................................................... 14 3.1.3 o legado dos megaeventos esportivos ....................................................................... 20 06 Introdução Se alguém perguntasse a você “o que é esporte?”, o que você responderia? Você já parou para pensar sobre quais os esportes você já vivenciou? Será que os esportes realizados na antiguidade tinham os mesmo objetivos do esporte moderno? outra questão: o que você entende por olimpismo? Você saberia explicar quem foi pierre de Coubertin? E quais os seus feitos? No que se refere aos megaeventos esportivos, você consegue identificar o seu legado? Bem, esses são alguns pontos sobre os quais pretendemos fazer você refletir. Perguntas como essas devem ser feitas no cotidiano tanto dos estudantes e dos profissionais de educação física, quanto da sociedade como um todo, pois muito se fala sobre o esporte, mas pouco de conhece a respeito. O que justifica, talvez, a inquietação ao se deparar com as perguntas realizadas anteriormente. E o mais alarmante é quando se descobre que não se faz ideia da resposta. Neste capítulo você irá conhecer o conceito de esporte, analisando as varias manifestações esportivas realizadas desde a antiguidade até os dias atuais. também será possível perceber o esporte como um direito de todos pode ser entendido a partir da abrangências das suas três dimensões sociais. E ainda você será conduzido a reconhecer os legados dos jogos olímpicos desde a educação olímpica aos megaeventos, identificando os impactos socioculturais dos mesmos. Vamos lá?! 3.1 o esporte moderno: dos jogos olímpicos da era de Coubertin aos megaeventos e seus impactos 3.1.1 as dimensões sociais do esporte A palavra esporte em sua origem significa regozijo, ou seja, diversão, e até hoje serve de base para quase todas as definições atuais. Segundo o Dicionário Aurélio (2018), esporte significa “divertimento, recreio; qualquer exercício corporal ao ar livre (para recreio, ou demonstrar agilidade, destreza ou força); e desenvolvimento físico”. Capítulo3Disciplina Introdução À Educação Física 07 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Betti (1991) descreve o conceito de esporte como uma ação social institucionalizada composta por regras, que se desenvolve com base lúdica, em forma de competição entre dois ou mais oponentes ou contra a natureza, cujo objetivo é determinar o vencedor ou registrar o recorde. os resultados alcançados pelos praticantes são resultantes das habilidades ou estratégias utilizadas por estes, e podem ser intrínsecas ou extrinsecamente gratificantes. No entanto, apesar de apresentar uma concorrência entre oponentes, composta por regras e a busca pelos recordes, o esporte pode ser retratado através de um desenvolvimento da parte lúdica, na qual esta deve ter como propósitos a descontração, diversão e a interação pessoal. para compreender melhor o esporte faz-se necessário analisar a sua história. Tubino (2010), reuniu em sua publicação alguns autores que expressam acerca da origem do esporte: CARL DIEM (1966) A história do esporte é íntima da cultura humana; Os povos tiveram, em cada época, seus esportes representando a essência de cada povo. UEBERHOST (1973) O esporte surgiu a partir da busca do conhecimento do homem sobre o próprio homem na sua natureza, sua vida pessoal e comunitária. VAN DALEN, MITCHEL E BENNET (197?) O esporte nasceu para resolver problemas pedagógicos primitivos EPPENSTEINER (1973) A origem do esporte esta ligada às motivações da ação esportiva (elas vêm da natureza e da cultura); O esporte é um fenômeno biológico e não histórico; Em todos os momentos históricos, a natureza e a cultura coexistem ao criar um “instinto esportivo”, que para ele é a resultante da combinação do lúdico, do movimento e da luta. percebe-se que, na antiguidade, as práticas esportivas eram muito diferentes das atuais, pois muitas eram de caráter utilitário, tanto para a própria sobrevivência (natação, corrida, caça etc.) quanto para as preparações para as guerras (marchas, caminhadas, esgrima, lutas etc.). Várias civilizações antigas já possuíam atividades físicas/pré-esportivas em suas culturas, no entanto, muitas dessas práticas desapareceram com o tempo. Enquanto outras se transformaram nos chamados “Esportes autótonos”, por continuarem a ser praticados ao longo do tempo sem receber influências de outras culturas. os Jogos Gregos foram considerados como as primeiras manifestações esportivas. Caracterizavam-se como festas populares, religiosas, verdadeiras cerimônias pan-helênicas, cujos participantes eram as cidades gregas. Inicialmente, esses Jogos ocorriam somente nas cidades da Grécia Continental e, mais tarde, estenderam-se a outros povos. Segundo tubino (2010) os jogos gregos mais conhecidos foram: JOGOS FÚNEBRES Eram em homenagem a figuras de destaque nas cidades gregas que haviam morrido. JOGOS PÍTICOS Eram celebrados em homenagem a Apolo e foram criados em 528 a.C., em Delfos. JOGOS ÍSTIMICOS Tinham as mesmas competições dos Jogos Olímpicos e eram celebrados em Corinto, de dois em dois anos. JOGOS NEMEUS Eram disputados em honra a Zeus de Kleonae, e foram os últimos Jogos a desaparecer. 08 JOGOS FÚNEBRES Eram em homenagem a figuras de destaque nas cidades gregas que haviam morrido. JOGOS PÍTICOS Eram celebrados em homenagem a Apolo e foram criados em 528 a.C., em Delfos. JOGOS ÍSTIMICOS Tinham as mesmas competições dos Jogos Olímpicos e eram celebrados em Corinto, de dois em dois anos. JOGOS NEMEUS Eram disputados em honra a Zeus de Kleonae, e foram os últimos Jogos a desaparecer. a principal manifestação esportiva de toda a antiguidade foram os Jogos olímpicos, celebrados em olímpia a cada quatro anos, em um bosque sagrado chamado “altis”, em homenagem a Zeus Horquios. Na ocasião, as principais provas eram: corrida de estádio, corrida do duplo estádio, corrida de fundo, luta, pentatlo, corrida das quadrigas, pancrácio, corrida de cavalos montados, corrida com armas, corrida de bigas, pugilato e outras. No que se refere à premiação, os vencedores dos Jogos olímpicos da antiguidade recebiam, como preferidos dos deuses, uma coroa de ramo de oliveira e outras honras e recompensas como, por exemplo, ter o direito a primeira fila nos teatros, isenção de impostos, escravos, pensões vitalícias, etc. (TUBINO, 2006). VoCÊ SaBIa? Figura 1 – Deuses gregos. Fonte: http://www.turismogrecia.info/guias/gre- cia/os-jogos-olimpicos-na-grecia-antiga os Gregos antigos consideravam que eram os deuses que decidiam conced- er a vitória para um atleta. a vitória era frequentemente representada por uma fêmea alada (com asas) car- acterizada como Nike, que, significa “vitória” em Grego, como servente ou mensageira dos deuses, Nike voava para a pessoa escolhida, trazia a ele uma recompensa divina em forma de coroa ou fita. Na História de Roma foram criados espaços especializados para a higiene corporal,como as termas. Também foram desenvolvidos os Jogos Públicos, configurados em grandes espetáculos realizados nos circos e anfiteatros, que, inclusive, deturpavam o sentido anterior ao adaptar os preceitos helênicos para os combates entre gladiadores, com feras e execuções. Na época do Império Romano os Jogos foram utilizados na “política do pão e Circo” para alienar a população diante das ações antipopulares do Imperador (SIGOLI; ROSE JUNIOR, 2004). 09 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Na Idade Média e no Renascimento, as práticas esportivas foram escassas e, às vezes, muito violentas. Vamos conhecer algumas que conseguiram destaque na História do Esporte: Consistia numa verdadeira batalha corporal, com duas equipes contrárias usando cavalos, espadas e até lanças. os vencedores recebiam prêmios e os perdedores, muitas vezes, morriam nas disputas. torneio medieval. Fonte: http://g1.globo.com/mundo/fotos/2013/04/ ingleses-revivem-luta-de-cavaleiros-em-torneio-me- dieval.html Esporte medieval popular, de grande violência, com número ilimitado de jogadores, que tentavam conduzir uma pelota (bexiga animal com ar) até um ponto pré-estabelecido de cada lado. os jogos provocavam muitos feridos. Soule. Fonte: https://one360.eu/blog/achives/37150 um jogo de origem francesa, que consistia em bater numa bola com a palma das mãos. Era disputado em salas fechadas e teve o seu auge no século XVI. Jeu de palme. Fonte: https://www.art.com/products/p14190540- sa-i2944053/john-millar-watt-jeu-de-paume-a-kind- of-handball.htm É uma modalidade iniciada no século XVI em Florença, a qual permanece sendo exibida no “Carnaval Florentino”. Muitos afirmam que esse esporte é um dos precursores do Futebol, por se tratar de jogo com 27 jogadores por equipe, cujo objetivo era conduzir a bola com os pés ou mãos até o final da área adversária. Gioco del Calcio. Fonte: http://www.smarknews.it/press/vi- ta-e-calcio-la-metafora-dellesistenza-racchi- usa-in-450-grammi-e-70-cm-di-circonferen- za/?print=print Era uma modalidade disputada entre dois cavaleiros com armaduras e lanças de ferro. Teve o seu fim no ano de 1559. Justa. Fonte: https://www.taringa.net/posts/ info/19348638/Las-Justas-Medievales.html 10 O esporte moderno foi concebido na Inglaterra, a partir de 1820, pelo inglês Thomas Arnold, o qual codificou os jogos existentes com regras e competições, dando origem ao Associacionismo Inglês. Esse associacionismo tornou-se o primeiro suporte para a Ética esportiva. Recebendo grande estímulo em 1896 (Atenas), com a restauração dos Jogos Olímpicos por Pierre de Coubertin, o esporte moderno consolida os princípios da ética esportiva por meio do conceito de Fair Play, bem como do amadorismo (defesa da aristocracia contra a prática popular do esporte). ocorreu uma contribuição importante para o movimento esportivo moderno a partir da ação da Associação Cristã de Moços (ACM), que introduziu nos Estados Unidos os principais esportes coletivos, como o basquete e o vôlei, pois até o final do século XIX compreendia apenas o atletismo, o futebol, o remo e timidamente a natação. percebe-se que o esporte moderno foi crescendo com novas modalidades, maior número de praticantes, autonomia das federações internacionais e já com uma intervenção permanente do Estado na maioria dos países. Acredita-se que o conceito de esporte, depois de classificado como moderno foi abandonando a perspectiva pedagógica e incorporando um sentido de rendimento. Tubino (2010) afirma que no esporte moderno a perspectiva única sempre foi o rendimento, pois havia a necessidade de campeões, classificações, regras, entidades, dirigentes, árbitros e outros aspectos imprescindíveis. Segundo o autor, esse quadro durou até o final da década de 1970, quando surge a defesa do direito de todas as pessoas às práticas esportivas, a partir da publicação da Carta Internacional de Educação Física e Esporte (UNESCO). Neste momento, o rendimento esportivo era substituído gradualmente pelas práticas esportivas de todos, independentemente de idade, raça, estado físico e outras situações humanas. Essa movimentação no contexto esportivo provocou uma revisão conceitual do esporte, cujo processo pode ser demarcado por três conjuntos de ações notáveis daquele período histórico: • as manifestações dos intelectuais contra as exacerbações desportivas da época; • Os Documentos Esportivos Filosóficos Internacionais; • Surgimento e desenvolvimento do movimento Esporte para todos. Tubino (2001) apresenta os vários autores que se manifestaram contestando o esporte voltado unicamente para os resultados. Vamos observar os conceitos a seguir: ANTONELLI (1963) FEIO (1978) E CAZORLA (1984) CAGIGAL (1979, 1982) CLAYES(1984) SERGIO (1986) Eram em homenagem a figuras de destaque nas cidades gregas que haviam morrido. Observaram os aspectos que ultrapassavam a ênfase no rendimento, como o jogo. Vincula às relações com a cultura, qualquer discussão conceitual do esporte. Observou a existência de quatros aspectos: o ético-social, o psicopedagógico e o psicoprofilático. Propôs a interpretação do fenômeno esporte em dois sentidos: o esporte-espetáculo e o esporte-práxis; No esporte-práxis o fenômeno esportivo ganhou um grande alcance social ao aumentar a possibilidade de participação. Só entende a razão principal do esporte quando a prática esportiva possa chegar a um maior número de pessoas. 11 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Quanto aos Documentos Filosóficos Internacionais que influenciaram a reconceituação do esporte, o primeiro a iniciar esse processo de revisão foi o Manifesto Mundial do Esporte (1964) editado polo “Conseil Internacionale d’ Education Physique et Sport (CIEPS), da UNESCO e assinado pelo Premio Nobel da Paz (Sir Phillip Noel Baker). Este documento reconhece o esporte para além do rendimento, apresentando um esporte na escola e um esporte do tempo livre, aberto para todos. Em 1978, UNESCO divulgou a Carta Internacional de Educação Física e Desporto, lançando a perspectiva do direito à prática esportiva, aumentando consideravelmente a significação conceitual deste esporte reconceituado. Já o movimento Esporte para Todos, possibilitou a realização de grandes campanhas de valorização das práticas esportivas, reforçando assim o aumento da abrangência do renovado conceito de esporte. Diante desse conceito renovado, desenvolvido a partir do pressuposto de direito de todas as pessoas, independentemente de sua condição, muitos tiveram acesso às práticas esportivas. logo, o esporte como um direito de todos pode ser entendido pela abrangência das suas três manifestações, representando as dimensões sociais do esporte: o esporte-educação, esporte- participação e o esporte-performance. É evidente que, nessa amplitude, aberta às práticas esportivas por todas as pessoas, o Esporte adaptado, o Esporte para a terceira Idade etc. também poderão ser exercidos nas dimensões do esporte. Nota-se que essas dimensões, explicadas pelo argumento do seu conceito, compreendem uma serie de situações sociais específicas, e que o aprofundamento de qualquer uma delas será o resultado da abordagem nas suas situações sociais intrínsecas. logo, ao perceber o esporte como instituição social, não se deve analisar fora de suas dimensões, pois essa seria uma via reducionista, a qual conduziria a uma visão e perspectiva retrógrada deste fenômeno. Vamos conhecer cada manifestação esportiva que está diretamente relacionada a um ou mais princípios, descritos a seguir: 3.1.1.1 Esporte-educação Esporte-Educação (voltado para a formação da cidadania) está dividido em: Esporte Educacional e Esporte Escolar. Esporte educacional Esporte na escola • Pode ser oferecido também para crianças e adolescentes fora da escola (comunidades em estado de carência, por exemplo); • Deve estar referenciado nos princípios da: inclusão, participação, cooperação,co-educação e co-responsabilidade. • É praticado por jovens com algum talento para a prática esportiva; • Não prescinde de formação para a cidadania, como uma manifestação do Esporte-Educação.; • Está referenciado nos princípios do Desenvolvimento Esportivo e do Desenvolvimento do Espírito Esportivo; • O Espírito Esportivo é mais do que “Fair-play”, pois compreende também a determinação em enfrentar desafios e outras qualidades morais importantes. 12 É no esporte-educação que se percebe o aspecto do esporte de maior conteúdo socioeducativo. o mesmo, entendido no processo educacional de formação das pessoas, deve ser considerado como um caminho essencial para o exercício pleno da cidadania no futuro individual dessas pessoas (TUBINO, 2001). 3.1.1.2 Esporte-participação Esta é a dimensão social do esporte referenciada como o principio do prazer lúdico, e que tem como objetivo o bem-estar social dos seus participantes. também conhecido como Esporte popular tem relações íntimas com o lazer e o tempo livre, sendo praticado de forma espontânea, em espaços não comprometidos com o tempo e fora faz obrigações da vida diária. ou seja, oferece a oportunidade de liberdade a cada praticante, a qual se inicia na própria participação voluntária. legenda: Crianças brincando na rua Fonte: www.shutterstock.com além das condições hedonísticas que o envolvem, o mesmo tem o seu valor social evidenciado na participação e nas alianças ou parcerias desenvolvidas. Essa ação fortalece os grupos e comunidades, tornando-os ativos e com mais possibilidades de percepção do conceito de obrigação social, e consequentemente mais agentes do seu próprio destino. No que se refere às regras, estas podem ser oficiais, adaptadas ou até criadas, pois são estabelecidas entre os participantes. o esporte-participação, que também é conhecido como esporte comunitário, esporte-ócio, esporte-lazer ou esporte do tempo livre, tem como princípios: a participação, o prazer e a inclusão. o esporte-participação como a própria denominação sugere, ao promover a participação e ao obter sucesso neste seu objetivo principal, acaba por equilibrar o quadro de desigualdades de oportunidades esportivas encontrado na dimensão do esporte performance. 13 Introdução à Educação Física Laureate International Universities 3.1.1.3 Esporte-performance Conhecido também como esporte de competição, esporte de desempenho e esporte institucionalizado, é traz consigo os propósitos de novos êxitos esportivos, a vitória sobre adversários nos mesmos códigos, e é exercido sob regras preestabelecidas por entidades internacionais de cada modalidade. tem como objetivo alcançar resultados, vitórias, recordes, títulos esportivos, projeções na mídia e prêmios financeiros. legenda: esportes olímpicos. Fonte: Globo.com Há uma tendência natural para que seja praticado pelos chamados talentos esportivo, impedindo, assim, de ser considerada uma manifestação comprometida com os preceitos democráticos. trata-se da dimensão social que oportuniza os espetáculos esportivos, onde uma série de possibilidades sociais positivas e negativas pode acontecer. a ética deve ser uma referência nas competições e nos treinamentos. os dois princípios do esporte-performance são: a Superação e o Desenvolvimento Esportivo. Convém esclarecer que o esporte-performance pode ser: de rendimento ou de alto rendimento (alta competição, alto nível etc.). Os princípios para essas duas manifestações são comuns. a preferencia pelo espetáculo esportivo é uma característica muito visível nessa dimensão. As modalidades esportivas de pouco impacto em matéria de espetáculo definham, enquanto aquelas que podem torna-se grandes shows para o público em geral, principalmente os divulgados na mídia, crescem aceleradamente. É no esporte-performance que encontram-se as críticas pelos autores que combatem o capitalismo, considerando o esporte de competição e suas vinculações com negócios financeiros como sendo sintomas evidentes da exacerbação do capitalismo. o esporte-performance tornou- se irremediavelmente dependente dos esquemas comerciais, onde, para alcançar o sucesso, faz-se necessário a presença de ídolos e também a realização de grandes espetáculos. o avanço da tecnologia tem conseguido levar o espetáculo para fora do contexto esportivo, ao evidenciar detalhes de grande interesse para o público como as emoções, os bastidores e os fatos paralelos. No entanto, existem sintomas positivos que justificam a relevância social no esporte-performance. Veja a seguir: 14 Será sempre um meio de progresso nacional e de intercâmbios internacionais ao ser reconhecido como atividade cultural; A organização esportiva comunitária não deixa des ser um fator de fortalecimento social (desde que seja legítimo); Envolvimento de vários tipos de recursos humanos qualificados, provocando a existência de várias profissões de especialistas esportivos; A indústria esportiva favorece o crescimento de mão-de-obra especializada; É um fator de geração de turismo; O fenômeno chamado efeito-imitação exerce grande influência no esporte popular. alguns fatos novos relativos ao esporte continuam a surgir, tais como o interesse cada vez maior pelos esportes coletivos e os de aventura, o aparecimento dos esportes de shopping (patinação, boliche, kart etc.), a exacerbação dos negócios no esporte de rendimento e a proliferação de federações internacionais de uma mesma modalidade (tênis, boxe, surfe etc.). Por tudo isso, pode-se afirmar que o esporte é um dos maiores fenômenos deste final de século 20 e sem dúvida o melhor meio de convivência humana. 3.1.2 o olimpismo de pierre de Coubertin Definir Olimpismo não é fácil e amplia, sobretudo, quando o tempo, a simplificação da semântica ou o puro desconhecimento, confundem o termo com os Jogos olímpicos, com olimpíada, com o Olimpo ou mesmo com a própria Olímpia. E isto verifica-se um pouco por todo o mundo. Esta dificuldade concentra-se se considerarmos, por outro lado, que o próprio sentido de olimpismo contém em si diferentes realidades ou dimensões, nomeadamente: DIMENSÃO HISTÓRICA Estudo da História do Movimento Olímpico e dos Jogos Olímpicos,antigos e modernos; Ligada à cultura da excelência na performance desportiva e àobservância das regras do jogo; Avaliação do impacto da ação do Movimento Olímpico ou daorganização dos Jogos Olímpicos na sociedade ou numa determinada comunidade; Avaliação do impacto da ação do Movimento Olímpico ou daorganização dos Jogos Olímpicos na sociedade ou numa determinada comunidade; 1 DIMENSÃO DESPORTIVA2 DIMENSÃO SOCIOLÓGICA3 DIMENSÃO POLÍTICA4 15 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Em 2010, Jacques Rogge, então presidente do Comité Olímpico Internacional, afirmou que “o olimpismo é Educação de gente jovem”. Nesta perspectiva, o olimpismo já não surge enquanto conceito vago ou abstrato. ao realizar tal associação, o então presidente do CoI, procurou ir ao encontro da visão originalmente concebida por pierre de Coubertin, e que conseguimos igualmente identificar no ponto 1º dos Princípios Fundamentais da Carta Olímpica, aproximando-se de uma abordagem muito concreta: a dimensão humanista do olimpismo. Pierre de Coubertin, cidadão francês, nasceu em Paris no dia 1 de Janeiro de 1863 e foi o criador e principal mentor do Movimento olímpico durante as primeiras décadas da sua existência, tendo sido igualmente crucial no processo de criação dos Jogos olímpicos da Era Moderna. De acordo com o OIC (2018), Coubertin via o esporte como parte da educação de qualquer jovem assim como a ciência, a literatura e as artes. Com esta visão, seu objetivo era oferecer educação harmoniosa para o corpo e a mente da juventude. Na sua visão, o olimpismo é, sobretudo, uma obra pedagógica, com a potencialidade de poder ser assumida, por qualquer Ser Humano, enquanto filosofia de vida, onde o desporto representa um meio e não um fim,e assume posição enquanto dinamizador da vontade e via de transmissão de valores civilizacionais, resultantes de uma corrente ininterrupta de pensamento humano, com origem na antiga Grécia. De fato, a própria denominação olimpismo, resulta dessa homenagem à antiguidade, que sabemos, suscitava em Coubertin uma espécie de inspiração romântica, filosofia para a qual, a celebração dos Jogos Olímpicos da Era Moderna deveria constituir a mais visível forma de divulgação. Neste sentido, é possível identificar quatro grandes fontes na gênese do Olimpismo, isto é, na construção da sua dimensão humanista: A Grécia Antiga O Espírito Cavaleiresco Os Ideais das Luzes O modelo pedagógico assente no desporto promovido pelos educadores anglo-saxões São de fácil compreensão os laços que ligam o olimpismo à antiguidade Helénica. Coubertin inspirou-se no festival religioso celebrado em olímpia para denominar o seu próprio evento moderno. olímpia acolheu durante mais de um milénio os Jogos olímpicos, celebração organizada em honra de Zeus e o mais importante evento de um calendário quadrienal “os Jogos Pan-helénicos” (para todos os gregos) que incluía igualmente celebrações em Nemeia (Jogos Nemeus), Delfos (Jogos Píticos) e no Istmo de Corinto (Jogos Ístmicos). Mas a influência gerada pelos antigos helenos, extravasa em muito a pura associação aos Jogos olímpicos, para se centrar no próprio legado civilizacional e, mais concretamente, num determinado modelo de organização político-social: a pólis. 16 No contexto do século VIII a.C., a pólis ou Cidade, assumia-se como um agente de formação dos seus cidadãos, empenhada na promoção de uma aprendizagem diversificada de conteúdos, que preparassem o cidadão para a vida, mas igualmente na promoção de uma determinada conduta e modelo de caráter, sintetizado na expressão Kalos Kagathos, ou seja, o desenvolvimento harmonioso do indivíduo (ideal cavaleiresco de beleza física e intelectual e bondade espiritual), que se ligava por sua vez à ideia de Aretê, um alto ideal de virtude moral, característica dos heróis homéricos e concretizado numa conduta cortês e distinta. Esta simbiose, era produto da influência gerada pelos poemas de Homero e de Hesídono, que aliás constituíam a matriz educativa helénica, e um ideal de vida, cujos cidadãos deviam demonstrar com especial ênfase a quando da sua participação nos festivais “pan-helénicos”, onde, precisamente, se homenageava a divindade e se superava o antagonismo reinante entre as diferentes cidades, pela evidenciação das características civilizacionais comuns de todo um povo: entre elas, Kalos Kagathos e aretê. os antigos acreditavam que os deuses concediam a vitória (simbolizada pela deusa Nike que descia dos Céus ao encontro do vencedor) ao mais digno e valoroso dos atletas. Com o advento do período Helenista e mais tarde a conquista romana, o papel formador da Pólis extinguiu-se, sendo substituída pelo emergir de novas correntes filosóficas e pela atividade dos sofistas (professores privados), acabando por elitizar o processo educativo. O fim do Império Romano e a ascensão da Igreja, elitizam ainda mais esse processo, centrando-o na reclusão dos mosteiros. Se de fato, o surgimento das universidades, já na baixa Idade Média, contribuiu para a disseminação do conhecimento, a verdade é que essa circulação realiza-se ainda em circuito fechado. É com o Renascimento que se assinala um momento histórico crucial. o surgimento do Movimento Humanista, reclamando um regresso à antiguidade clássica e o afastamento do teocentrismo, para colocar o Homem no centro do universo. Esta nova ideia, representa uma quebra com o passado: os estudiosos focam-se na compreensão do Homem e nas formas de assegurar o seu desenvolvimento, relegando a teologia e a metafísica para segundo plano. Este Movimento é potenciado pelas próprias inovações da época, como a invenção da imprensa mecânica ou a revolução cultural suscitada pela idade das descobertas, pela redescoberta das civilizações clássicas ou pelo patrocínio dos mecenas. por outro lado, melhores condições alimentares e progressos na medicina reduzem a mortalidade infantil e aumentam a esperança média de vida. As crianças passam a ter rosto e um futuro previsível, levando a crescente burguesia (nova classe endinheirada que emerge do povo) a olhar para a educação dos filhos como uma forma de promover a sua ascensão social. assiste-se assim a um aumento do número de estabelecimentos de ensino, orientados pela influência dos humanistas, dedicados cada vez mais ao desenvolvimento de teorias pedagógicas que cumpram com o derradeiro objetivo de aperfeiçoamento do Homem. ao Renascimento sucede o período Iluminista, ou “Século das luzes”. Se o primeiro promoveu uma “imitação” da civilização clássica, o segundo olhou para esses modelos do passado enquanto bases de reflexão e inovação. É a época do Ideal do “Homem Esclarecido” e da consciência do eterno aperfeiçoamento que sempre deve presidir à existência humana. “ousar saber” era o princípio que guiava o Iluminismo. a experiência passa a ser a base do conhecimento: desenvolve-se o método científico e a subordinação da teoria à prática. Esta ênfase no esclarecimento Humano conduz ao natural desenvolvimento da educação e ao emergir de novos estudos sobre o tema. Todavia, a prática revela que, apesar de todo o dinamismo filosófico, a pedagogia educativa é ainda tributária de uma herança medieval, acentuadamente teórica e assustadora. No Reino unido, alguns colégios instauram uma nova dinâmica, fazendo acompanhar o ensino das ciências com a introdução do desporto, um novo conceito que, mais do que promover o exercício físico, 17 Introdução à Educação Física Laureate International Universities dotava a sua prática de regras cujos objetivos pretendiam, não só promover o bem-estar, mas igualmente a ética e um conjunto de valores pessoais e sociais capazes de afastar os jovens do vício ou de atividades degradantes do caráter. Em pleno período revolucionário de 1971 na França, o Marquês de Condorcet, dirigiu-se à assembleia Nacional, num discurso em prol da educação pública e universal que contemple o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, intelectuais e morais de todos os cidadãos. todavia, os primeiros 70 anos do século XIX na França, são uma época de forte convulsão social e política, onde se sucedem os regimes e as ideologias. Depois da queda do II Império, em 1870, a França que reemerge das cinzas é uma nação ferida, em busca de uma identidade forte, capaz de reerguer o seu prestígio aos olhos dos cidadãos. a III República volta-se para os ideais da Revolução Francesa, que pretende recuperar e difundir, sobretudo através da educação pública, laica e universal. Coubertin colabora com o Governo, realizando diversas viagens à Inglaterra e aos Eua sob os auspícios do Ministério da Instrução pública, onde encontra um sistema capaz de “Rebronzer la France”. o grande rosto desta causa Republicana é, aliás, o estadista Jules Simon apoia pierre de Coubertin na formação do “Comité pour la Propagation des Exercises Physiques”, também conhecido por Comité Jules Simon e que, em 1890, dará origem à Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques (USFSA), cujo símbolo consistia em dois anéis entrelaçados e cujo lema do seu primeiro campeonato atlético foi “Citius, Altius, Fortius”, de acordo com proposta efetuada pelo seu presidente honorário, Henri Didon, e que em 1924, seria adotado como lema Olímpico. Mas Coubertin objetivava mais do que apenas aportar contributos ao aperfeiçoamento do sistema educativo francês. para o jovem que considerava a evolução pedagógica ainda muito longe dos progressos científicos e tecnológicos do seu tempo, a solução preconizada para o aperfeiçoamento do Homem e da Humanidade, envolvia a popularização e democratização do desporto à escala global, conceito que percebia como uma poderosa correia de transmissão de aprendizagenséticas e dinamizadora de uma cultura de vontade relativo ao desenvolvimento integral, pessoal e social, tendo em vista a paz duradoura entre os povos e as nações do mundo. Era necessário reformar a sociedade pela educação das massas. Se em suma, no rescaldo desta evolução histórica, podemos afirmar o Olimpismo, na sua dimensão humanista, como uma filosofia de vida baseada em ideais humanistas e universalistas, onde o desporto é encarado como facilitador dos objetivos de aperfeiçoamento pessoal e social e da paz, tão ou mais importante é o movimento evolutivo que lhe é inerente. Esta é, acentuadamente, uma filosofia de origem Europeia mas que, simultaneamente, contém em si aspirações universais, através da preposição de um conjunto de valores e ideias transversais às mais diferentes culturas. um dos pontos mais importantes para o jovem pierre era a busca da paz. Em seus primeiros escritos, ele considera os atletas participantes de encontros esportivos internacionais como ‘embaixadores da paz’. após a fundação do CoI, Coubertin passou a associar uma missão ética com suas ideias de paz, que veio a se tornar central para o Movimento olímpico e que poderia levar à educação política (MÜLLER, 2009, p.346). De fato a evolução do olimpismo corresponde à evolução da própria humanidade. Hoje representam preocupação do Movimento olímpico temas tão diversos como a proteção do ambiente e a sustentabilidade dos recursos, a integração da mulher, ou o combate à pobreza e à exclusão social. Tudo isto são reflexos da dimensão humanista do Olimpismo e esta constitui, sem dúvida, uma forma pertinente de o Movimento olímpico reforçar a sua importância junto do cidadão comum. Nesta medida é fundamental ter em linha de conta: 18 A DIMENSÃO HUMANISTA DO OLIMPISMO Reivindica um lugar de destaque, jamais podendo ser tratada como um paliativo, face à ambição de obter resultados enquanto um fim (e não um meio), no qual o desporto de competição se transformou. OS COMITÉS OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS São subcidiados na medida dos resultados obtidos nas grandes competições Internacionais. Esse paradigma tem de ser revisto, porquanto os governos devem reconhecer o papel fundamental destas instituições enquanto promotoras da filosofia do Olimpismo, nomeadamente através das Academias Olímpicas. AÇÃO HUMANISTA DOS MOVIMENTOS OLÍMPICO E PARALÍMPICO Deve ser reforçada através da educação, estabelecendo uma parceria efetiva com o Estado, na promoção social do Ideal Olímpico num todo, e não apenas associado à prática desportiva. A ACADEMIA OLÍMPICA INTERNACIONAL Deve assumir-se enquanto entidade verdadeiramente universal e representar uma voz própria e ativa na definição daquilo que é a linha condutora da educação a nível internacional; Deve articular com as Academias Nacionais formas de ação e pressão junto das entidades governamentais nacionais. pierre de Coubertin sempre criticou líderes mundiais dos esportes por serem muito técnicos e não defenderem o espírito olímpico já que ele sempre esteve interessado na atitude moral e responsável do atleta para a qual a ‘Educação olímpica’ poderia em muito contribuir. Durante sua vida, Coubertin sempre desejou a criação de um Centre d’Études Olympiques (Centro de Estudos Olímpicos) para estudos e aprofundamento. Esse projeto acabou se concretizando em Berlin entre 1938 e 1944 sob o controle de Carl Diem, usando fundos providos pelo Reich (MÜLLER, 2009, p.351). Ainda dentro do sonho de Educação Olímpica de Coubertin, a Academia Olímpica Internacional (International Olympic Academy – IOA) foi fundada em 1961 em olímpia, na Grécia como o maior centro de Educação olímpica, um compromisso com as aspirações de Coubertin e um legado para muitas gerações (MIRAGAYA, 2008). 19 Introdução à Educação Física Laureate International Universities NÃo DEIXE DE CoNHECER... Se você ficou quer entender mais sobre a Educação Olímpica, acesse o Programa de Educação olímpica. Nele você encontrará uma série de recursos didáticos acessíveis criados pelo CoI. Disponível em: <https://www.olympic.org/olympic-values-and-education-program> a Educação olímpica de pierre de Coubertin se multiplicou num legado internacional que foi muito além dos países e suas culturas, abrangendo a humanidade, envolvendo todos os tipos de pessoas e suas instituições. o legado de Coubertin pode ser observado na Carta do CoI, em vigor desde 2007. Essa Carta faz várias referências ao conteúdo e à forma de Educação olímpica tais como: A combinação de esporte com cultura e educação como pedra fundamental do Olimpismo na introdução do documento. O COI tem compromisso com a ética esportiva e em particular com o fair play e para isso dá apoio à IOA e outras instituições dedicadas à "Educação Olímpica". O objetivo do Movimento Olímpico é contribuir para a construção de um mundo melhor e repleto de paz, especialmente através da educação pelo esporte. A carta do COI obriga os Comitês Olímpicos Nacionais a promover o Olimpismo em todas as áreas de educação e, por exemplo, adotar iniciativas independentes para ‘Educação Olímpica’ através das Academias Olímpicas Nacionais. Esporte + cultura + educação Movimentos Olímpicos Carta do COI COI NÃo DEIXE DE CoNHECER... No final de 1918, Coubertin publicou 21 “Cartas Olímpicas” no jornal de Lausanne, “La Ga- zette”, com o objetivo de ocasionar a simpatia dos leitores no apoio à causa do olimpismo e ao trabalho realizado em lausanne pelo Movimento olímpico, tal como o Instituto olímpico. Se você ficou interessado sugere-se a leitura atualizada pela última vez em 2011, a qual apre- senta um conjunto de regras adotado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para a orga- nização dos Jogos e para o comando do Movimento Olímpico. Escrita oficialmente em francês e inglês, a Carta é traduzida para alemão, espanhol, russo e árabe, para as reuniões do CoI. Disponível em: <http://www.fadu.pt/files/protocolos-contratos/PNED_publica_CartaOlimpica. pdf> 20 3.1.3 o legado dos megaeventos esportivos Quando pensamos em megaeventos esportivos e consequente investimento público para tal, surgem vários argumentos acerca da sua realização. Isso acontece porque eles se constituem em um meio para a promoção do desenvolvimento econômico, social e político das nações e/ou cidades sede (SPAAJI, 2012). E, além disso, configuram-se como oportunidades ímpares para o desenvolvimento do esporte nestas localidades (COALTER, 2004). No entanto, alguns autores contestam se de fato “existe esse desenvolvimento?”, e “para quem?”. Coackley e Souza (2015) fazem uma reflexão em seu estudo ao apontar que os países que sediaram megaeventos esportivos como os Jogos olímpicos, os paralímpicos e a Copa do Mundo, receberam propostas de elites políticas e corporações que, embora tenham prometido grandes ganhos econômicos e sociais para os países, criaram infraestruturas para os eventos pouco sustentáveis e de retorno insatisfatório para a população como um todo. Acredita-se que vários fatores dificultam a promoção de legados positivos para a população em geral e para as cidades e países sede. Veja alguns deles: EXIGÊNCIAS DAS INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS O Comitê Olímpico Internacional (COI) e Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), impõem rígidas condições para que os países sede possam realizar os eventos; Exigem infraestrutura de transporte público e a construção das instalações esportivas dentro de determinados parâmetros, mesmo que estes não estejam alinhados c om as necessidades e demandas da população local que potencialmente poderia também utilizar estas estruturas construídas; O objetivo principal das mesmas é o de fazer com que o evento aconteça, otimizando ao máximo a sua participação no capital social, político e econômico gerado pelos eventos. ESTABELECIMENTO DOS PRAZOS São relativamente curtos frente à infraestrutura que os mesmos demandam; O processo de planejamento tende a ser feito de cima parabaixo, a favor de determinados interesses, com muito pouca - ou nenhuma - participação da população que será diretamenteafetada; A agenda de “desenvolvimento” tende a se centrar na construção de infraestrutura para a expansão e trâmite do capital; Metas de desenvolvimento tais como inclusão social e participação popular nas tomadas de decisões, são rapidamente esquecidas no processo de planejamento e dotação orçamentária. INVESTIMENTOS PÚBLICOS Detalhes da contabilidade normalmente ficam dispersos devido à participação de diversos órgãos públicos e privados, cada um com sua própria agenda e orçamento; Vários fatores dificultam contabilizar gastos e lucros como, por exemplo, verbas para cobrir situações de emergência e não previstas; contas não declaradas como despesas; verbas contratos sem licitação. INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS E COORPORAÇÕES VINCULADAS Detêm total posse dos lucros produzidos com a sua marca, o que difi culta que agentes locais possam ter lucros com os eventos; A contrapartida financeira para os países sede tende a não ser substantiva frente aos investimentos feitos para que os eventos aconteçam. 21 Introdução à Educação Física Laureate International Universities EXIGÊNCIAS DAS INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS O Comitê Olímpico Internacional (COI) e Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), impõem rígidas condições para que os países sede possam realizar os eventos; Exigem infraestrutura de transporte público e a construção das instalações esportivas dentro de determinados parâmetros, mesmo que estes não estejam alinhados c om as necessidades e demandas da população local que potencialmente poderia também utilizar estas estruturas construídas; O objetivo principal das mesmas é o de fazer com que o evento aconteça, otimizando ao máximo a sua participação no capital social, político e econômico gerado pelos eventos. ESTABELECIMENTO DOS PRAZOS São relativamente curtos frente à infraestrutura que os mesmos demandam; O processo de planejamento tende a ser feito de cima para baixo, a favor de determinados interesses, com muito pouca - ou nenhuma - participação da população que será diretamenteafetada; A agenda de “desenvolvimento” tende a se centrar na construção de infraestrutura para a expansão e trâmite do capital; Metas de desenvolvimento tais como inclusão social e participação popular nas tomadas de decisões, são rapidamente esquecidas no processo de planejamento e dotação orçamentária. INVESTIMENTOS PÚBLICOS Detalhes da contabilidade normalmente ficam dispersos devido à participação de diversos órgãos públicos e privados, cada um com sua própria agenda e orçamento; Vários fatores dificultam contabilizar gastos e lucros como, por exemplo, verbas para cobrir situações de emergência e não previstas; contas não declaradas como despesas; verbas contratos sem licitação. INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS E COORPORAÇÕES VINCULADAS Detêm total posse dos lucros produzidos com a sua marca, o que difi culta que agentes locais possam ter lucros com os eventos; A contrapartida financeira para os países sede tende a não ser substantiva frente aos investimentos feitos para que os eventos aconteçam. Diante disso, observa-se que os países sede, normalmente, não conseguem cumprir suas promessas de desenvolvimento em prol do bem comum. Revelando, assim, que o legado da realização de megaeventos esportivos tende a ser negativo para grande parte da população que financia boa parte destes eventos através de impostos. Na verdade, o que ocorre é uma concentração de recursos públicos em áreas estratégicas para a realização do evento em detrimento de investimentos em outras áreas fundamentais para a promoção do desenvolvimento humano, tais como saúde e educação. acredita-se que a realização de megaeventos esportivos promove “desenvolvimento” sim, mas desenvolvimento dentro de uma determinada perspectiva e centrado em alguns setores da sociedade. Segundo o Ministério do Esporte (2008), vale ressaltar que a possibilidade da realização e organização de um Megaevento Esportivo, decorrente da elaboração e de um planejamento consistente e responsável, poderá gerar também “possíveis legados”, que são apresentados em cinco categorias a seguir: Legados do Evento em Si Legados da Candidatura do Evento Construções esportivas: estádios, arenas e outros equipamentos; Construções de infra-estrutura da cidade, como obras de transporte(metrô e etc.), alojamento de atletas; Compras de equipamentos esportivos, de segurança, telecomunicações, informática, etc.; Ocupações de empregos temporários e/ou permanentes. Aprendizado do processo de candidatura como, projetos, o processo em si e a organização prévia do evento; Planejamento urbanístico da cidade-candidata que poderá ser utilizado pelo Poder Público, independente da realização do evento. Legados da Imagem do País Projeção da imagem do país; Projeção da imagem da cidade-sede dentro e fora do país, considerada como cultura urbana; Projeção de oportunidades econômicas e de serviços que o país poderá oferecer; Nacionalismo e confiança cívica, bem como o orgulho regional e nacional. Legados da Governança Planejamento participativo; Cooperação de diferentes órgãos administrativos; Parceria público- privada; Lderança do poder público local. Legados de Conhecimento Treinamento e capacitação do pessoal envolvido na gestão do megaevento; Ecos do voluntário que sugere a transmissão dos conhecimentos adquiridos por eles para sua comunidade, podendo se estender até na família e comunidade; Construção de estruturas adequadas, visando o aproveitamento futuro pela população. 22 Legados do Evento em Si Legados da Candidatura do Evento Construções esportivas: estádios, arenas e outros equipamentos; Construções de infra-estrutura da cidade, como obras de transporte(metrô e etc.), alojamento de atletas; Compras de equipamentos esportivos, de segurança, telecomunicações, informática, etc.; Ocupações de empregos temporários e/ou permanentes. Aprendizado do processo de candidatura como, projetos, o processo em si e a organização prévia do evento; Planejamento urbanístico da cidade-candidata que poderá ser utilizado pelo Poder Público, independente da realização do evento. Legados da Imagem do País Projeção da imagem do país; Projeção da imagem da cidade-sede dentro e fora do país, considerada como cultura urbana; Projeção de oportunidades econômicas e de serviços que o país poderá oferecer; Nacionalismo e confiança cívica, bem como o orgulho regional e nacional. Legados da Governança Planejamento participativo; Cooperação de diferentes órgãos administrativos; Parceria público- privada; Lderança do poder público local. Legados de Conhecimento Treinamento e capacitação do pessoal envolvido na gestão do megaevento; Ecos do voluntário que sugere a transmissão dos conhecimentos adquiridos por eles para sua comunidade, podendo se estender até na família e comunidade; Construção de estruturas adequadas, visando o aproveitamento futuro pela população. Evidências como essas nos conduz a uma reflexão acerca da importância de pensar sobre o projeto de sociedade que buscamos. uma sociedade soberana e democrática, voltada para a emancipação dos trabalhadores e para a garantia de condições dignas de vida e dos direitos fundamentais a todos os cidadãos, no sentido de alcançar a contínua satisfação das necessidades humanas. Neste sentido, a geração de legados pressupõe uma ação determinada, proativa, acima de tudo referenciada na perspectiva do desenvolvimento humano, da justiça e da inclusão social desta e de futuras gerações. Logo, se faz necessário de identificar possibilidades transformadoras, identificar também como maximizar eventuais legados e otimizar os benefícios da realização dos grandes eventos com buscando garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e superar os limites e vulnerabilidades existentes na cidade,estado ou país que os realizam. Desde o final do século XIX, momento em que Pierre Coubertin estabeleceu os modernos Jogos Olímpicos, os mesmos têm refletido a promoção e representação de valores sociais e políticos de seu tempo, frequentemente refletindo os prevalentes ou contestados valores das nações participantes e, ocasionalmente, dando oportunidade para protestos vindos de baixo. para Coubertin, as Olimpíadas significavam a celebração da ciência, razão, progresso e busca da perfeição, uma perspectiva universal que procurava se elevar acima dos particulares interesses das nações. Mais frequentemente, no século XX, as olimpíadas proporcionavam um palco internacional para a expressão dos competitivos interesses ideológicos das nações dominantes. m 1936, as Olimpíadas de Berlim simbolizaram o embate entre o fascismo e a democracia. Entre 1948 e 1972, os Jogos tiveram lugar com a Guerra Fria como pano de fundo. Neste sentido, o legado político e social focalizou-se sobre o próprio evento e o efeito econômico foi menos específico quanto aos Jogos, e mais simbólico quanto à alegada superioridade de um particular sistema socioeconômico. A Olimpíada significou apenas um pequeno peão num grande jogo político. Figura 4 – olimpíadas de Berlim. Fonte: https://incentivandoesportesblog.wordpress.com/2017/05/28/o-que-esporte-politica- e-historia-tem-em-comum-tudo-olimpiadas-de-berlim-um-case-de-sucesso-para-a-alemanha- nazista 23 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Já na década de 60 e 70, houve um problema particular em encontrar ansiosos anfitriões, considerando que o custo de escala dos Jogos eram considerados proibitivos. Receber as olimpíadas não era percebido como uma opção atraente, principalmente quando esses fatores foram combinados com problemas políticos de segurança. o número de cidades candidatas cresceu acentuadamente a partir da metade dos anos 80, com americanos e europeus dominando o processo, refletindo o crescimento e importância atribuídos às Olimpíadas como um megaevento global. para se ter uma ideia o número de cidades candidatas passou de 20 cidades, no ano de 1992, para 50 cidades em 2008. o renascimento do interesse em sediar as olimpíadas apresenta muitas dimensões, pois a realização de um evento de larga escala é uma ótima estratégia de regeneração, abrangendo novas formas de financiamento, aceleração de desenvolvimento e renovação urbana, enquanto combina elementos de mudança política e engenharia social com o objetivo de reduzir as tensões internas no âmago das cidades e seu potencial latente de inquietação social (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2008). um dos aspectos positivos dos megaeventos esportivos é que eles podem ser propícios para o envolvimento da população em atividades físicas, ao criarem espaços e equipamentos dessa ordem. Eles podem também proporcionar um aumento de interesse pelo esporte e conhecimento sobre o mesmo (UK SPORT, 2011). No entanto, por si só os megaeventos não podem promover mudanças sustentáveis no comportamento dos indivíduos no que se refere à adoção de comportamentos positivos relacionados à saúde. ou seja, o “efeito inspiração” não dura a longo prazo. todavia, vale ressaltar que os atletas podem servir como “modelos esportivos” para ajudar as pessoas a se motivarem e se manterem motivadas para a prática. para que esse “efeito” seja consolidado, faz-se necessário que os países sede bem como suas organizações esportivas realizem um planejamento incluindo incentivos à prática de atividade física, bem como a oferta de estruturas e programas esportivos o que se tem observado nos últimos anos é que os países sede tendem a investir no desenvolvimento do esporte de alto rendimento. porém, estes investimentos, acabam por se concentrar em determinadas modalidades em detrimento de outras, dependendo diretamente do potencial do ganho medalhas. Esta estratégia de se investir em modalidades que podem “render” medalhas pode ter um impacto negativo no desenvolvimento de modalidades que poderiam estar inspirando e, ao mesmo tempo, possibilitando um maior engajamento por parte da população nas mesmas (COACKLEY; SOUZA, 2015). 24 a construção de legados positivos necessita de planejamento minucioso. o ideal é que este fosse realizado pensando de fato na população, e não nos interesses das instituições promotoras, que for sua vez, tendem a se beneficiar de forma majoritária, bem como a seus aliados que possuem acesso a informações privilegiadas e capital suficiente para desenvolver projetos que conseguem gerar lucro dentro do curto prazo estabelecido para a preparação e realização dos eventos. os megaeventos esportivos estão profundamente enraizados em nossa sociedade e vão continuar acontecendo, independentemente desses fatos. Eles são atrativos, possuem um grande poder de mobilização, possuem também potenciais que podem ser devidamente explorados em prol do bem comum. para isto, no entanto, é necessário que a decisão para se sediar estes eventos, esteja alinhada com as metas de desenvolvimento de longo prazo das cidades e países sede. No caso do esporte, os megaeventos esportivos poderiam se estabelecer enquanto uma oportunidade de se propagar uma cultura esportiva mais forte no país não somente no sentido de promoção dos níveis de atividade física e esportiva da população e aprimoramento do nível de desempenho dos atletas de alto-rendimento, mas também de se potencializar o conhecimento e entendimento, por parte da população em geral, acerca das diferentes modalidades esportivas e complexidades envolvidas no fenômeno esportivo (fatores sociais, psicológicos, culturais, etc.). VoCÊ SaBIa... a realização de megaeventos é uma oportunidade para acelerar investimentos em infraestru- tura e serviços, além de impulsionar o turismo e gerar empregos para a população. No entan- to, é notória a necessidade de um bom planejamento. Se você realizou a leitura do e-book e também tem acompanhado a realização dos me- gaeventos nos últimos anos, é necessário realizar uma reflexão. Assim, sugere-se que você assista à entrevista com o antigo ministro do Esporte, aldo Rebelo, falando sobre os vári- os benefícios que os grandes eventos esportivos trariam para o Brasil em 2014. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=hZqFrnmbp_k> 25 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Síntese Concluímos esse capítulo que tivemos a oportunidade de analisar as dimensões sociais do esporte. além disso, foi possível reconhecer os legados dos jogos olímpicos desde a educação olímpica aos megaeventos, identificando os impactos socioculturais dos mesmos. Sendo assim, você teve a oportunidade de: • Entender a transição conceitual assumida pelo esporte ao longo dos anos, identificando-o enquanto um fenômeno social e o melhor meio de convivência humana; • Conhecer a contextualização do esporte moderno, desde os Jogos olímpicos da era de Coubertin até a estruturação dos megaeventos; • Identificar os impactos positivos e negativos causados pela realização dos megaeventos, analisando as metas de desenvolvimento. 26 ARAÚJO, A. C. [et.al]. Megaeventos esportivos e seus legados [recurso eletrônico] : reflexões sobre Copa do Mundo 2014 a partir da Mídia-Educação. Natal, RN: EDUFRN, 2016. 96 p. : PDF ; 1,4 Mb. – (Coleção megaeventos esportivos). ISBN 978-85-425-0643-3. Disponível em: <http://repositorio.ufrn.br> COAKLEY, J.; SOUZA, D. L. Legados de megaeventos esportivos. Rev. Bras. Educ Fís. Esporte. v. 29 n.4 p.675-86 São Paulo, Out-Dez. 2015 CoaltER, F. Stuck in the blocks? a sustainable sporting legacy? 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