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CAPÍTULO 3: DOENÇA RENAL CRÔNICA (INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA) INTRODUÇÃO A insuficiência renal crônica (IRC) é uma condição onde existe perda da função renal, de caráter progressiva e irreversível, por um período de no mínimo 3 meses. A perda da função renal leva a um conjunto de sinais e sintomas sistêmicos (alterações hidroeletrolíticas, distúrbios na volemia, distúrbios endócrinos), bem como a necessidade de terapia de substituição renal. Várias doenças, bem como alterações estruturais nos rins, podem levar um paciente a desenvolver um quadro de IRC, caracterizado por alterações da estrutura e da função dos rins que em última instância tem o tecido renal funcional substituído por fibrose, que levam a um ritmo de filtração glomerular menor que 60 mL/min. As principais doenças que evoluem com um quadro de perda renal irreversível são: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Melito, Doenças glomerulares e Doença renal policística. Outras condições relevantes são: doenças vasculares, doenças metabólicas, doenças túbulo-intersticiais, vasculites, tumores, doenças hereditárias. No Brasil cerca de 15 milhões de habitantes possuem função renal menor que 60 mL/min, a maioria utiliza diálise como forma de tratamento (cerca de 80% usam hemodiálise, o restante diálise peritoneal), e por volta de 5 mil pessoas ao ano realizam transplante renal no país. ESTADIAMENTO E PROGNÓSTICO O estadiamento da doença renal crônica indica qual o grau de evolução da doença e tem como base dois critérios: O ritmo de filtração glomerular e a albuminúria. Dependendo de em qual estágio se encontra o paciente o seu prognóstico será diferenciado. Quanto menor for o ritmo de filtração glomerular e maior as taxas de albumina na urina piores serão os estadiamentos do paciente. Como sabemos um ritmo de filtração ótimo, de acordo com a homeostasia de um organismo saudável, é em torno de 120 mL/min, assim pacientes que apresentem um RFG de até 90 mL/min são considerados normais, abaixo desse valor já é possível encaixar o paciente em um determinado estágio de evolução da IRC. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estágio 1 (G1): RFG ≥ 90 mL/min (TFG normal, mas o paciente apresenta alguma condição que pode favorecer desenvolvimento de DRC); Estágio 2 (G2): RFG entre 89 e 60 mL/min (discretamente reduzida); Estágio 3 (dividido em G3a e G3b): RFG entre 59 e 30 mL/min; (já é um grau de filtração glomerular 3 vezes menor do que o considerado normal, oscilando entre moderado e gravemente reduzido. De 59 a 45 mL/min são pacientes com RFG (ou taxa de filtração glomerular – TFG) moderadamente reduzida. Já de 44 a 30 mL/min são os que estão no estágio G3b – onde a TFG é de moderada a gravemente reduzida). Estágio 4 (G4): RFG < 30 mL/min e até 15 mL/min (gravemente reduzido); Estágio 5 (G5): RFG < 15 mL/min é um grau avançadíssimo de IRC, praticamente uma falência renal total. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O prognóstico da IRC: O prognóstico do paciente depende obviamente das condições em que se encontram a taxa de filtração glomerular do paciente, bem como do grau de perda de albumina do mesmo. Quanto menor a taxa de filtração glomerular e maior a perda proteica maior será o risco do paciente desenvolver um grau avançado de IRC (falência renal), necessitando assim de terapia renal substitutiva. Essa classificação sobre a progressão da IRC é feita com base nos critérios de KDIGO (RFG e Albumina). AVALIAÇÃO DA FILTRAÇÃO GLOMERULAR Para estimar o ritmo de filtração glomerular (RFG) de forma fidedigna seria necessário usar uma substância que fosse totalmente filtrada nos glomérulos, e que não fosse secretada nos túbulos renais, sabe-se que uma substância exógena denominada de inulina possui essas características, porém o uso da mesma é totalmente inviável na prática clínica de rotina. Assim foi necessário pensar em uma substância produzida pelo próprio organismo que possuísse características parecidas, assim surgiu a ideia do uso da creatinina, como principal marcador para avaliar, diagnosticar e propor tratamentos nos pacientes com doença renal crônica (apesar de uma pequena quantidade de creatinina ser secretada nos túbulos renais). A dosagem de creatinina sérica tornou-se, juntamente com a análise de creatinina na urina de 24 horas, os principais métodos avaliativos. Atualmente tem-se visto cada vez mais o emprego da cistatina C como método avaliativo da filtração glomerular. Uma outra técnica, surgiu com o uso de equações capazes de fornecer a depuração da creatinina dos pacientes (quantidade de substância retirada do sangue e colocada na urina em determinado intervalo de tempo), usando como critérios a idade, o sexo e a raça. - Equação de Crokcofit-Gault: Muito usada na prática clínica, porém apresenta algumas falhas, uma vez que não considera o índice de obesidade em pacientes, nem a secreção de creatinina nos túbulos (dando um valor hiperestimado). RFG = (140 - idade) X peso / (72 x Creatinina); multiplicar o resultado por 0,85 no caso de sexo feminino. - Modification of Diet in Renal Disease (MDRD): estudo com um grupo de pacientes de DRC, baseia-se na TFG e não no clearence de creatinina. - Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI): grupo de estudo que desenvolveu uma equação para cálculo da TFG, entre as três está apresenta os resultados mais fiéis. COMPLICAÇÕES DA DOENÇA RENAL CRÔNICA - Alterações do controle volêmico: Com a perda da função renal existe uma dificuldade de regular os mecanismos de concentração e diluição da urina, assim ocorre retenção de determinados íons, especialmente sódio e água, ajudando a aumentar a volemia; - Distúrbios hidroeletrolíticos: acidose metabólica, a excreção de H+ é prejudicada pois a formação de amônia se encontra prejudica levando ao aumento do pH sanguíneo (o controle do pH sanguíneo é feito através dos rins, dos pulmões e dos sistema-tampões do sangue). Ocorre ainda hipercalemia (aumento de potássio); - Desnutrição (anorexia): provocada pelo quadro de uremia (aumento de ureia no sangue). Uma vez que a eliminação de excretas nitrogenadas encontra-se prejudicada; - Anemia: um dos principais sintomas do paciente com DRC, são vários os mecanismos envolvidos na anemia por perda da função renal. A eritropoietina é um hormônio produzido pelos fibroblastos peritubulares, que atua estimulando as células precursoras das hemácias (eritrócitos) na medula óssea; com a perda do parênquima renal a produção deste hormônio se encontra diminuída. Pacientes em estágio 3 de IRC possuem quadros evidentes de anemia: palidez cutânea, fraqueza/indisposição. Existe ainda outras condições que provocam o quadro anêmico, entre eles uma das mais importantes é a sustentação de um quadro inflamatório sistêmico nos pacientes com DRC, isso favorece a produção de uma proteína denominada – hepcidina, que atua promovendo uma menor absorção de ferro no intestino, menor disponibilidade de ferro a medula e também impede a maturação de eritrócitos (as hemácias ficam com menor vida útil na DRC < 90 dias). - Doença Mineral Óssea: É comum a instalação de um hiperparatireoidismo, com deficiência na eliminação de fósforo nos rins ocorre aumento do fósforo sérico, a alta atividade da paratireoide gera também maior concentração de cálcio no sangue, porém devido ao aumento de fósforo esse cálcio quela (fica inativo se juntando ao fósforo e calcificando). Além disso existe uma impossibilidade de obter vitamina D ativa (por inativação da enzima que converte a forma ativa da vitamina D (calcitriol), e consequentemente sem vitamina D, o organismo diminui a absorção de cálcio, e juntamente com a menor quantidade de cálcio devido ao aumento de PTH e de fósforo, ocorre uma hipocalcemia. EXAMES CLÍNICOS LABORATORIAIS Prevenção da progressãoda DRC (controle dos fatores de risco): 1 – diminuir a proteinúria por meio de dieta com menos proteínas; 2 – controle da pressão arterial sistêmica (uso de BRA, inibidores da enzima conversora de ang. IECA, bloqueadores dos canais de cálcio, diuréticos; 3 – restringir ingestão de sal; 4 – controle do diabetes melito (diminuir a hemoglobina glicosilada); 5 – redução de peso e atividades físicas; 6 – não fazer uso de drogas nefrotóxicas; 7 – cessar tabagismo; 8 – controle da acidose metabólica. TRATAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA O tratamento consiste no controle das complicações sistêmicas oriundas da perda de função renal nos doentes renais crônicos: Manejo da anemia: Doença metabólica óssea: Hipertensão arterial: Controle hidroeletrolítico: TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA A última opção do doente renal crônico é a chamada terapia de substituição renal (TRS), esta consiste de diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal) ou transplante renal. A TRS é indicada nos pacientes em estágio 5 de DRC, com ao menos um dos seguintes sintomas descontrolados: - Hipervolemia refratária (que não está sendo controlada mesmo com o tratamento convencional); - Hipercalemia/Acidose metabólica refratários;
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