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Fisiologia Articular - Kapandji - Vol 3

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Prévia do material em texto

FISIOLOGIA ARTICULAR
À minha mulher
..•. '
.~~ ··_'-'-'·--.e' __
A. I. KAPANDJI
Ex-Interno dos Hospitais de Paris
Ex-Chefe de Clínica-Auxiliar dos Hospitais de Paris
Membro da Sociedade Francesa de Ortopedia e Traumatologia IS.O.F.C.O. T.}
Membro da Sociedade Francesa de Cirurgia da Mão (G.E.M.)
FISIOLOGIA ARTICULAR
ESQUEMAS COMENTADOS DE MECÂNICA H.UMANA
VOLUME 11I
5ª edição
TRONCO E COLUNA VERTEBRAL
I. - A COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO
11.- A CINTURA PÉLVICA E AS ARTICULAÇÕES SACROILÍACAS
111.- A COLUNA LOMBAR
IV. - A COLUNA TORÁCICA E A RESPIRAÇÃO
V. - A COLUNA CERVICAL
Com 397 desenhos originais do autor
----.~-"'--
Este livro pertence ao Sistema de Bibliote-
cas da UCB U",8ra Sd entregue nos pra-
zos prev,stosou qUándo solfcitado o aluno
será responsável pelo livro e em caso de
danificação ou jlarda davirá rajM'~'
- EDITORIAL MEDICA-
Cpanamerícana =:>
y
~r
MALOINE
Título do original em francês
PHYSIOLOGIE ARTICULAIRE. 3. Tronc et Rachis
© Éditions MALOINE. 27, Rue de I'École de Médecine. 75006 Paris.
Tradução de
Editorial Médica Panamericana S.A.
Revisão Científica e Supervisão por Soraya Pacheco da Costa, fisioterapeuta
ISBN (do volume): 85-303-0045-9
ISBN (obra completa): 85-303-0042-4
© 2000 Éditions MALOINE.
27, rue de I'École de Médecine. 75006 Paris.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
K26f
v.3
Kapandji, A. I. (Ibrahim Adalbert)
Fisiologia articular, volume 3 : esquemas comentados de
mecânica humana / A. I. Kapandji ; com desenhos originais
do autor; [tradução da 5.ed. original de Editorial Médica
Panamericana S.A. ; revisão científica e supervisão por Soraya
Pacheco da Costa]. - São Paulo: Panamericana ; Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000
: 397 i!.
00-1625.
231100
Tradução de: Physiologie articulaire, 3 : tronc et
rachis
Inclui bibliografia
Conteúdo: v.3. Tronco e coluna vertebral: A coluna
vertebral em conjunto - A cintura pélvica e as articulações
sacroilíacas - A coluna lombar - A coluna torácica e a
respiração - A coluna cervical
ISBN 85-303-0045-9
I. Mecânica humana. 2. Articulações - Atlas. 3.
Articulações - Fisiologia - Atlas. I. Título.
CDD 612.75
CDU 612.75
2-1-1100
UNIVERSIDADE CATOIICA
DE BRASILIA
SI.teml) de Bibliotecas
009949
Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Excetuando críticas e resenhas científico-
literárias, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas computadorizados ou transmitida
de nenhuma forma e por nenhum meio, sejam eletrônicos, mecânicos, fotocopiadoras, gravadoras ou qualquer outro,
sem a prévia permissão deste Editor
(Medicina Panamericana Editora do Brasil LIda.)
Medicina Panamericana Editora do Brasil LTDA.
Rua Butantã, 500 - IOº Andar - CEP 05424000 - Pinheiros - São Paulo - Brasil
Distribuição exclusiva para a língua portuguesa por Editora Guanabara Koogan S.A.
Travessa do Ouvidor, li - Rio de Janeiro - RJ - 20040-040
Te!.: 21-2221-9621
Fax: 21-2221-3202
www.editoraguanabara.com.br
Depósito Legal: M-53.357-2001
Impreso en Espana
PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volu-
mes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores de
todo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos,jisioterapeutas e cirurgiões. O fato de que
continue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é D ensino do funcionamento
do Aparelho Locomotor de maneira atratim, privilegiando a imagem diante do texto: o princípio é
explicar uma única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensão
definitivas. O fato de que estes livros não tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valor
intrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos músculos e das
articulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as três
dimensões do espaço, mas tarnbém uma quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcional
está viva e, conseqÜentemente, móvel- isto é, inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica da
Mecânica propriamente dita. ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evo-
lutivas, que se modificam segundo os contratempos e evoluem em função das necessidades, capazes
de renovar-se constantemente para compellSar o desuso. É uma mecânica sem eixo materializado,
móvel inclusive no percurso do movimento. As suas superfícies articulares integram um jogo mecâni-
co que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adi-
clOnazs.
Eis aqui o espírito que impregna estes volumes, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta aos
outros métodos de ensino para o futuro. Este é, na ~'erdade, o segredo da sua perenidade.
A. I. KAPANDJI
ADVERTÊNCIA DO AUTOR À QUINTA EDIÇÃO
A partir de sua primeira edição, há sete anos atrás, este livro. inspirado principalmente por
Duchenne de Boulogne, o "grande precursor" da Biomecânica, permaneceu fiel a si mesmo, exceção
feita por algumas pequenas correções. Neste momento, na oportunidade do aparecimento da quinta
edição, achamos necessário incluir modificações importantes, em especial no que se refere à mão. De
fato, o rápido desenvolvimento da cirurgia da mão exige um incessante aprofundamento quanto ao
conhecimento de sua fisiologia. Este é o motivo pelo qual, à luz de recentes trabalhos, temos escrito e
desenhado novamente tudo relacionado ao polegar e ao mecanismo de oposição: a função da articu-
lação trapézio-metacarpeana na orientação e rotação longitudinal da coluna do polegar se explica de
maneira matemática a partir da teoria das articulações de dois eixos tipo cardan; assim mesmo, se es-
clarece afunção da articulação metacarpofalangeana no "bloqueio" da preensão de grandes objetos
e, enfim, a função da articulação inteJialangeana na "distribuição" da oposição do polegar sobre a
polpa de cada um dos quatro dedos. A riqueza na variedade de preensão e preensões associadas às
ações está ilustrada com novos. desenhos. Temos apeJieiçoado a definição das distintas posições fun-
cionais e de imobilização. Por fim, como objetivo de estabelecer um balanço funcional rápido da mão,
propõe-se uma série de provas d~ movimentos, as "preensões mais ação" que, melhor do que as 1,'a-
lorações analíticas da amplitude de cada uma das articulações e da potência de cada mzísculo,faci·
litam uma apreciação sintética do valorddutilização da mão.
No final do livro suprimimos alg~{ns modelos obsoletos ou que não oferecem muito interesse,
e substituímos por um modelo da mão que ;explica, neste caso de maneira satisfatória, a oposição do
polegar. '. ~ ..
Em resumo, este é um livro renovado e enriquecido em profundidade.
ÍNDICE
A COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO
A coluna vert~bral, eixo mantido
A coluna vertebral, eixo do corpo e protetora do eixo nervoso
As curvaturas da coluna vertebral em conjunto
A aparição das curvaturas da coluna vertebral
Constituição da vértebra padrão
As curvaturas da coluna vertebral
Estrutura do corpo vertebral
As divisões funcionais da coluna vertebral
Os elementos de união intervertebral
Estrutura do disco intervertebral
O núcleo comparado com uma patela
O estado de pré-compressão do disco e a auto-estabilidade da articulação discovertebral
A migração de água no núcleo
As forças de compressão sobre o disco
Variações do disco segundo o nível
Comportamento do disco intervertebral nos movimentos elementares
Rotação automática da coluna vertebral durante a inflexão lateral
Amplitudes globais da flexão-extensão da coluna vertebral
Amplitudes globais da inflexão lateral da coluna vertebral em conjunto
Amplitudes globais da rotação da coluna vertebral em conjunto
Avaliação clínica das amplitudes globais da coluna vertebral
A CINTURA PÉLVICA E AS ARTICULAÇÕES SACROILÍACAS
A cintura pélvica no homem e na mulher
Arquitetura da cintura pélvica
As superfícies articulares daarticulação sacroilíaca
A faceta auricular do sacro
Os ligamentos da articulação sacroilíaca
A nutação e a contranutação
As diferentes teorias da nutação
A sínfise púbica e a articulação sacrococcígea
Influência da posição sobre as articulações da cintura pélvica
A COLUNA LOMBAR
A coluna lombar em conjunto
Constituição das vértebras lombares
O sistema ligamentar na coluna lombar
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
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40
42
44
46
48
50
52
56
58
60
62
64
66
68
70
72
76
78
80
8 ÍNDICE
Flexão-extensão e infiexão da coluna lombar
Rotação na coluna lombar
A articulação lombossacral e a espondilolistese
Os ligamentos ílio-lombares e os movimentos na charneira lombossacral
Os músculos do tronco em corte horizontal
Os músculos posteriores do tronco
Papel da terceira vértebra lombar e da décima segunda vértebra dorsal
Os músculos laterais do tronco
Os músculos da parede abdominal: o reto abdominal e o transverso do abdome
Músculos da parede abdominal: o oblíquo interno e o oblíquo externo
Músculos da parede abdominal: o contorno da cintura
Músculos da parede abdominal: a rotação do tronco
Músculos da parede abdominal: a flexão do tronco
Músculos da parede abdominal: a retificação da lordose lombar
O tronco como estrutura inflável
Estática da coluna lombar em posição ortostática
Posição sentada e de decúbito
Amplitude de flexão-extensão da coluna lombar
Amplitude de inclinação da coluna lombar
Amplitude de rotação da coluna dorsolombar
O forame de conjugação e o colo radicular
Diferentes tipos de hérnia discal
Hérnia discal e mecanismo de compressão radicular
O sinal de Lasegue
A COLUNA TORÁCICA E A RESPIRAÇÃO
A vértebra torácica padrão e a décima segunda torácica
Flexão-extensão e inflexão lateral da coluna torácica
Rotação axial da coluna torácica
As articulações costovertebrais
Movimentos das costelas ao redor das articulações costovertebrais
Movimentos das cartilagens costais e do esterno
As deformações do tórax no plano sagital durante a inspiração
Mecanismo dos músculos intercostais e do músculo triangular do esterno
O diafragma e o seu mecanismo
Os músculos da respiração
Relação de antagonismo-sinergia entre o diafragma e os músculos abdominais
A circulação aérea nas vias respiratórias
Os volumes respiratórios
Fisiopatologia respiratória - Os tipos respiratórios
O espaço morto
A distensibilidade torácica
Mobilidade elástica das cartilagens costais
82
84
86
88
90
92
94
96
98
100
102
104
106
108
110
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114
116
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152
154
156
158
160
162
164
Mecanismo da tosse - Fechamento da glote
Os músculos da laringe e a proteção das vias aéreas durante a deglutição
A COLUNA CERVICAL
ÍNDICE 9
166
168
A coluna cervical em conjunto 172
Constituição esquemática das três primeiras vértebras cervicais 174
As articulações atlantoaxiais 176
A fiexão-extensão nas articulações atlantoaxiais e atlantoodontóides 178
Rotação nas articulações atlantoaxiais e atlantoodontóides 180
As superfícies da articulação atlantooccipital 182
A rotação nas articulações atlantooccipitais 184
A inclinação lateral e a fiexão-extensão na articulação atlantooccipital - 186
Os ligamentos da coluna suboccipital 188
Os ligamentos suboccipitais 190
Constituição de uma vértebra cervical 194
Os ligamentos da coluna cervical inferior 196
Flexão-extensão na coluna cervical inferior 198
Os movimentos nas articulações uncovertebrais 200
A orientação das faces articulares - O eixo misto de rotação-inclinação 202
Os movimentos combinados de inclinação-rotação na coluna cervical inferior 204
Determinações geométricas dos componentes de inclinação e de rotação 206
Modelo mecânico da coluna cervical 208
Os movimentos de inclinação-rotação no modelo da coluna cervical 210
Comparações entre o modelo e a coluna cervical durante os movimentos de inclinação-rotação 212
As compensações na coluna suboccipital 212
Amplitude articular na coluna cervical 216
Equilíbrio da cabeça sobre a coluna cervical 218
Constituição e ação do músculo estemocleidomastóideo 220
Os músculos pré-vertebrais: o longo do pescoço 222
Os músculos pré-vertebrais: os retos anteriores maior e menor da cabeça e o reto lateral 224
Os músculos pré-vertebrais: os escalenos 226
Os músculos pré-vertebrais em conjunto 228
A fiexão da cabeça e do pescoço 230
Os músculos da nuca 232
Os músculos suboccipitais 234
Ação dos músculos suboccipitais: inclinação e extensão 236
Ação rotatória dos músculos suboccipitais 238
Os músculos da nuca: o primeiro e o quarto planos 240
Os músculos da nuca: o segundo e o terceiro planos 242
A extensão da coluna cervical pelos músculos da nuca 244
Sinergia-antagonismo dos músculos pré-vertebrais e do estemocleidomastóideo 246
As amplitudes globais da coluna cervical 248
Relações entre o eixo nervoso e a coluna cervical 250
Relações entre as raízes cervicais e a coluna vertebral 252
10 FISIOLOGIA ARTICULAR
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 11
12 FISIOLOGIA ARTICULAR
A COLUNA VERTEBRAL, EIXO MANTIDO
A coluna vertebral é o eixo do corpo e deve
conciliar dois imperativos mecânicos contraditó-
rios: a rigidez e aflexibilidade. Ela consegue esta
façanha graças à sua estrutura mantida. De fato
(fig. 1-1), a coluna vertebral em conjunto pode ser
considerada como o mastro de um navio. Este
mastro, apoiado na pelve, continua até a cabeça e,
no nível dos ombros, suporta uma grande verga
transversal: a cintura escapular. Em cada nível
existem tensores ligamentares e musculares dis-
postos como se fossem maromas, isto é, unindo o
mastro à sua base de implantação, a pelve. Na
cintura escapular encontra-se um segundo siste-
ma de maromas que constitui um losango de eixo
vertical maior e de eixo transversal menor. Na po-
sição simétrica, as tensões estão equilibradas em
ambos os lados e o mastro é vertical e retilíneo.
Na posição de carga de peso unilateral
(fig. 1-2), quando o peso do corpo recai sobre
só um membro inferior, a pelve bascula para o
lado oposto e a coluna vertebral está obrigada
a seguir um trajeto sinuoso: num primeiro mo-
mento, convexo na zona lombar para o lado do
membro em descarga, a seguir, côncavo na zo-
na dorsal e por último, convexo. Os tensores
musculares regulam a sua tensão de forma au-
tomática para restabelecer o equilíbrio. Tudo
isto acontece sob a influência do sistema ner-
voso central. Portanto, neste caso, se trata de
uma adaptação ativa graças ao ajuste perma-
nente do tônus dos diferentes músculos da pos-
tura pelo sistema extrapiramidal.
Aflexibilidade do eixo vertebral é devido
à sua configuração por múltiplas peças super-
postas, unidas entre si por elementos ligamen-
tares e musculares. Deste modo, esta estrutura
pode deformar-se apesar de permanecer rígida
sob a influência dos tens ores musculares.
Fig.1-1
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 13
Fig.1-2
14 FISIOLOGIA ARTICULAR
A COLUNA VERTEBRAL, EIXO DO CORPO
E PROTETORA DO EIXO NERVOSO
Na verdade, a coluna vertebral constitui o
pilar central do tronco (fig. 1-3). De fato, se na
sua porção dorsal (corte b) a coluna vertebral se
aproxima do plano posterior que se localiza a um
quarto da espessura do tórax, na sua porção cer-
vical (corte a), a coluna vertebral se situa mais
para o centro, no terço da espessura do pescoço.
Na sua porção lombar (corte c), a coluna verte-
bral é totalmente central, visto que se localiza na
metade da espessura do tronco. Esta diferença de
localização é devido às diferentes razões que va-
riam segundo o nível. Na sua porção cervical, a
coluna vertebral suporta o crânio e deve situar-se
o mais próximo possível do seu centro de gravi-
dade. Quanto à sua porção dorsal, os órgãos do
medias tino, especialmente o coração, deslocam a
coluna vertebral para trás. Contudo, na sua por-
ção lombar, a coluna vertebral, que suporta o pe-
so de toda a parte superior do tronco, recupera
uma posição central, constituindo uma proemi-
nência nacavidade abdominal.
Além desta função de suporte do tronco, a
coluna vertebral desempenha um papel prote-
tor do eixo nervoso (fig. 1-4): o canal verte-
bral que começa no nível do forame occipital,
aloj a o bulbo raquidiano e a medula espinhal,
de modo que constitui um protetor flexível e
eficaz deste eixo nervoso. Esta proteção não
deixa de ter a sua contrapartida, visto que, em
certas condições e em determinados pontos,
tanto o eixo nervoso quanto os eixos vertebrais
que saem dele podem entrar em conflito, como
veremos mais adiante, com a sua camada pro-
tetora vertebral.
I
~
---
3. TRONCO E COLUNA VERTEBR.t\L 15
c
1/2 ~
Fig.1-3 Fig.1-4
16 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO
Considerada em conjunto, a coluna verte-
bral é retilínea vista de frente ou de costas
(fig. 1-5). Contudo, em algun s indivíduos po-
de encontrar-se uma curvatura transversal sem
que, por isso, se possa afirmar que ela seja
uma curvatura patológica, evidentemente sem-
pre que a mesma permaneça dentro de limites
estreitos.
Pelo contrário, no plano sagital (fig. 1-6) a
coluna vertebral apresenta quatro curvaturas,
que são, de baixo para cima:
1. a curvatura sacraI, fixa devido à sol-
dadura definitiva das vértebras sacrais.
Esta curvatura é de concavidade ante-
flor;
2. a Iordose IOI)1bar, de concavidade poste-
nor;
3. a cifose dorsal, de convexidade posterior;
4. a Iordose cervical, de concavidade pos-
terior.
Quando o indivíduo está em equilíbrio nor-
mal, na posição de pé, a parte posterior do crâ-
nio, as costas e os gIúteos são tangentes a um
plano vertical; por exemplo, uma parede. A im-
portância das curvaturas é evidenciada pelas se-
tas, que marcam as distâncias entre este plano
vertical e o vértice das curvaturas. Estas setas
serão definidas mais adiante com relação a cada
segmento vertebral.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBR.'\L 17
Fig.1-6 Fig.1-5
18 FISIOLOGIA ARTICULAR
A APARIÇÃO DAS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL
Durante a filogênese, isto é, no percurso
da evolução da espécie humana a partir dos
pré-hominídeos, a passagem da posição qua-
drúpede à posição bípede (fig. 1-7) levou à re-
tificação e depois à inversão da curvatura lom-
bar, inicialmente côncava para a frente; deste
modo apareceu a lordose lombar côncava para
trás. De fato, a retroversão pélvica não "absor-
veu" totalmente o ângulo de retificação do
tronco; ainda persiste um certo ângulo que a
curvatura da coluna lombar deve anular. As-
sim, se explica esta lordose lombar que, por
outra parte, varia segundo os indivíduos, de-
pendendo do grau de anteversão ou de retro-
versão da pelve.
Durante a ontogênese, isto é, no percurso
do desenvolvimento do indivíduo (fig. 1-8, se-
gundo T.A. Willis), se pôde comprovar como, no
caso da coluna lombar, ocorre a mesma evolu-
ção. No primeiro dia de vida (a), a coluna lom-
bar é côncava para a frente. Com cinco meses
(b), a curvatura continua sendo ligeiramente
côncava para a frente; e somente aos treze meses
a coluna lombar se toma retilínea. A partir dos
três anos (d) se pode apreciar uma ligeira lordo-
se lombar que vai se consolidar aos 8 anos (e) e
adotar sua curvatura definitiva aos 10 anos (f).
Deste modo, a evolução do indivíduo é pa-
ralela à evolução da espécie.
a
b
Fig.1-8
c
d
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 19
Fig.1-7
20 FISIOLOGIA ARTICULAR
CONSTITUIÇÃO DA VÉRTEBRA PADRÃO
I
Quando uma vértebra padrão se decom-
põe nas diferentes partes que a constituem (fig.
1-9), se pode comprovar que é composta por
duas partes principais: o corpo vertebral pela
frente e o arco posterior por trás.
Numa vista "desarmada" (a), o corpo verte-
bral (1) é a parte mais espessa da vértebra: em
geral, ela tem uma forma cilíndrica menos alta
que larga, com uma face posterior cortada. O ar-
co posterior (2) tem a forma de uma ferradura. A
ambos os lados deste arco posterior (b) se fixa o
maciço elas apófises articulares (3 e 4); de moelo
que se delimitam duas partes (c): por um lado, se
localizam os pedículos (8 e 9) pela frente elo ma-
ciço elas articulares; e pelo outro, se situam as
lâminas (10 e 11) atrás do maciço das apófises
articulares; por trás, na linha média, se fixa a
apófise espinhosa (7). Este arco posterior assim
constituído une-se (d) à face posterior do corpo
vertebral pelos pedículos. Além disso, a vértebra
completa comporta as apófises transversas (5 e
6) que se unem com o arco posterior quase no
nível do maciço das apófises articulares.
Esta vértebra padrão se localiza em todos
os níveis da coluna vertebral, claro que com im-
portantes modificações que podem ver-se tanto
no corpo vertebral quanto no arco posterior, e
geralmente nas duas partes ao mesmo tempo.
Contudo, é importante constatar que estas
diferentes partes que constituem a vértebra se
relacionam no sentido vertical. Deste modo, ao
longo de toda a coluna vertebral, se estabelecem
três colunas (fig. 1-10):
- pela frente, uma coluna principal forma-
da pelo empilhamento dos corpos verte-
brais;
- por trás do corpo vertebral, duas colu-
nas secundárias constituídas pelo em-
pilhamento das apófises articulares. Os
corpos vertebrais estão unidos entre si
pelo disco intervertebral; enquanto as
apófises articulares estão unidas por ar-
ticulações de tipo artródia. Em cada ní-
vel existe um forame vertebral delimita-
do pela frente pelo corpo vertebral e por
trás pelo arco posterior. A sucessão de
todos estes forames vertebrais confor-
ma, ao longo de todo o eixo vertebral, o
canal vertebral, formado alternadamen-
te por partes ósseas, em cada vértebra, e
por partes ligamentares, entre as vérte-
bras no nível do disco intervertebral e
dos ligamentos do arco posterior.
a
d
5
4
6
b
Fig.1-9
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 21
9
c
e
Fig.1-10
22 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL
A presença de curvaturas da coluna verte-
bral aumenta a sua resistência aos esforços de
compressão axial. Os engenheiros puderam de-
monstrar (fig. 1-11) que a resistência de uma co-
luna com curvaturas é proporcional ao quadra-
do do nÚmero de curvaturas mais um. Portanto,
se tomarmos como referência uma coluna retilí-
nea (a), cujo número de curvaturas é igual a O, e
considerarmos a sua resistência como uma uni-
dade, numa coluna com uma só curvatura (b), a
sua resistência é o dobro da primeira. Numa co-
luna com duas curvaturas (c) a sua resistência é
cinco veces maior do que a da coluna retilínea.
Por último, no caso de uma coluna com três cur-
vaturas móveis (d), como a coluna vertebral com
a sua lordose lombar, a sua cifose dorsal e a sua
lordose cervical, a sua resistência é dez vezes
maior do que a da coluna retilínea.
Pode-se medir a importância das curvaturas
da coluna vertebral pelo índice raquidiano de
Delmas (fig. 1-12). Este índice somente pode
ser medido num modelo anatômico: consiste na
relação existente entre o comprimento alcança-
do pela coluna vertebral do platô da primeira
vértebra sacral até o atlas e a altura entre o pla-
tá superior de SI e o atlas. Uma coluna vertebral
com curvaturas normais (a) tem um índice de
95%; os limites máximos da coluna vertebral
normal são 95 e 96%. Uma coluna vertebral com
curvaturas acentuadas (b) possui um índice de
Delmas inferior a 94%. Isto significa que o seu
comprimento é nitidamente maior do que a sua
altura. Contudo, uma coluna vertebral com cur-
vaturas pouco pronunciadas (c), isto é, quase re-
tilínea, possui um índice de Delmas superior a
96%. Esta classificação anatômica é muito im-
portante, visto que existe uma relação entre ela e
o tipo funcional. De fato, A. Delmas demonstrou
que a coluna vertebral com curvaturas pronun-
ciadas é de tipo funcional dinâmico, enquanto a
coluna vertebral com curvaturas pouco acentua-
das é de tipo funcional estático.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 23
N=O I I N=1R=1 R=2
Fig.1-11
b d
[
Fig.1-12
24 FISIOLOGIA ARTICULAR
ESTRUTURA DO CORPO VERTEBRAL
o corpo vertebral tem a estrutura de um os-
so curto (fig. 1-14); isto é, urna estrutura em
concha com uma corticalde osso denso envol-
\'endo o tecido esponjoso. A cortical da face su-
perior e da face inferior do corpo vertebral deno-
mina-se platô vertebral (m). Ele é mais espesso
na sua parte central onde se encontra urna por-
ção cartilaginosa. A periferia forma urna borda
(fig. 1-13), o filete marginal (r). Este filete deri-
va do ponto de ossificação epifisária que tem a
forma de um anel e se une ao resto do corpo ver-
tebral aos 14 ou 15 anos de idade. As alterações
de ossificação deste núcleo epifisário constituem
a epifisite vertebral ou doença de Schauerrnann.
Em um corte vértico-frontal do corpo ver-
tebral (fig. 1-14), distinguem-se com nitidez, de
cada lado, corticais espessas, em cima e embai-
xo, o platô tibial coberto por urna camada carti-
laginosa e no centro do corpo vertebral trabécu-
Ias de osso esponjoso que se distribuem segun-
do linhas de força. Estas linhas são verticais e
unem o platõ superior e o inferior, ou horizon-
Tais que unem as duas corticais laterais, ou tam-
bém oblíquas, unindo o platõ inferior com as
corticais laterais.
Em corte sagital (fig. 1-15), aparecem no-
vamente as mencionadas trabécu1as verticais,
porém também existem dois sistemas de fibras
oblíquas denominadas fibras em leque. Por um
lado (fig. 1-16), um leque que tem origem no
platô superior para expandir-se, através dos dois
pedículos, em direção à apófise articular supe-
rior de cada lado e à apófise espinhosa. Por ou-
tro lado (fig. 1-17), um leque que tem origem no
platô inferior para expandir-se, através dos dois
pedículos, em direção às duas apófises articula-
res inferiores e à apófise espinhosa.
O entrecruzamento destes três sistemas tra-
beculares estabelece pontos de grande resistência,
mas também um ponto de menor resistência, e
em particular um triângulo de base anterior onde
somente existem trabéculas verticais (fig. 1-18).
Isto explica a fratura cuneiforme do corpo
vertebral (fig. 1-19): de fato, sob um esforço de
compressão axial de 600 kg, a parte anterior do
corpo vertebral sofre um esmagamento: é uma
fratura por esmagamento. Para esmagar por
completo o corpo vertebral e fazer com que "o
muro posterior" ceda (fig. 1-20), é preciso uma
força de compressão axial de 800 kg.
Fig.1-19
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 25
- Fig.1-14
Fig.1-16
Fig.1-20
26 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS DIVISÕES FUNCIONAIS DA COLUNA VERTEBRAL
Em uma vista lateral da coluna vertebral
(fig. 1-21, segundo Bruguer) se podem distinguir
com facilidade as diferentes divisões funcionais.
Pela frente (A) localiza-se o pilar anterior que
tem o papel fundamental de suporte. Por trás, o
pilar posterior (B) onde se encontram, como já
vimos, as colunas articulares que são sustenta-
das pelo arco posterior. Enquanto o pilar anterior
desempenha uma função estática, o pilar poste-
rior (B) desempenha uma função dinâmica.
Em sentido vertical, a disposição alterna-
da das peças ósseas e dos elementos de união
ligamentar permite distinguir, segundo Sch-
morl. um segmento passivo (I) constituído pe-
la própria vértebra e um segmento motor (II)
cujo contorno, na figura, está representado por
um traço negro espesso. Este segmento motor
compreende, de diante para trás: o disco inter-
vertebral, o forame intervertebral, as articula-
ções interapofisárias e, por último, o ligamento
amarelo e o intere~pinhoso. A mobilidade des-
te segmento motor é responsável pelos movi-
mentos da coluna vertebral.
Existe uma ligação funcional entre o pilar
anterior e o pilar posterior (fig. 1-22) que fica
assegurada pelos pedículos vertebrais. Se consi-
derarmos a estrutura trabecular dos corpos ver-
tebrais e dos arcos posteriores, se pode compa-
rar cada vértebra com uma alavanca de primeiro
grau, denominada "interapoio", onde a articula-
ção interapofisária (1) desempenha o papel de
ponto de apoio. Este sistema de alavanca permi-
te o amortecimento dos esforços de compressão
axial sobre a coluna: amortecimento indireto e
passivo no disco intervertebral (2), amorteci-
mento indireto e ativo nos músculos dos canais
vertebrais (3), tudo isso pelas alavancas que ca-
da arco posterior forma. Portanto, o amorteci-
mento das forças de compressão é ao mesmo
tempo passivo e ativo.
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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 27
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Fig.1-22
28 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS ELEMENTOS DE UNIÃO INTERVERTEBRAL
Entre o sacro e a base do crânio, a coluna
vertebral intercala vinte e quatro peças móveis;
numerosos elementos ligamentares asseguram a
união entre estas diferentes peças.
Num corte horizontal (fig. 1-23) e em vista
lateral (fig. 1-24), se podem distinguir estes ele-
mentos fibrosos e ligamentares:
Em primeiro lugar, os anexos do pilar an-
terior:
1. o ligamento vertebral comum anterior (1),
que se estende da base do crânio até o sa-
cro, na face anterior dos corpos vertebrais;
2. o ligamento vertebral comum posterior (2)
que, na face posterior dos corpos verte-
brais, se estende do processo basilar do oc-
cipital até o canal sacral. Entre estes dois
ligamentos de grande extensão, em cada
nível, a união fica assegurada pelo disco
intervertebral (D), que consta de duas par-
tes, uma, periférica, o anel fibroso, consti-
tuído por camadas fibrosas concêntricas (6
e 7), e outra, central, o nÚcleo pulposo (8).
Numerosos ligamentos anexos do arco
posterior asseguram a união entre dois arcos
vertebrais adjacentes:
1. o ligamento.amarelo (3), muito denso e
resistente, que se une ao seu homólogo
na linha média ~ se insere, acima na face
profunda da lâmina vertebral da vértebra
suprajacente e, abaixo na margem supe-
rior da lâmina vertebral da vértebra sub-
jacente;
2. o ligamento interespinhoso (4), que se
prolonga para trás pelo ligamento supra-
espinhoso (5). Este ligamento supra-es-
pinhoso é pouco individualizado na por-
ção lombar: ao contrário, ele é muito ní-
tido no ramo cervical;
3. na extremidade de cada apófise transver-
sa se insere, a cada lado, o ligamento in-
tertransverso (10):
4. por último, nas articulações interapofisá-
rias, existem potentes ligamentos intera-
pofisários (9) que reforçam a cápsula
destas articulações: ligamento anterior e
ligamento posterior.
O conjunto destes ligamentos assegura uma
união extremamente sólida entre as vértebras,
dando uma grande resistência mecânica à colu-
na vertebral.
-------------------------------------~~-----~~~~---~-~~~~ ~~~~~
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 29
9
10
Fig.1-23
Fig.1-24
2
3
4
5
30 FISIOLOGIA ARTICULAR
ESTRUTURA DO DISCO INTERVERTEBRAL
A articulação entre dois corpos vertebrais
adjacentes é uma anfiartrose. Ela está consti-
tuída pelos dois platôs das vértebras adjacen-
tes unidas entre si pelo disco intervertebral. A
estrutura deste disco é muito característica.
De fato, ela está formada (fig. 1-25) por duas
partes.
Uma parte central, o núcleo pulposo
(N), que é uma substância gelatinosa que deri-
va embriologicamente da corda dorsal do em-
brião. Trata-se de uma gelatina transparente,
composta por 88% de água, portanto muito hi-
drófila, e quimicamente formada por uma
substância fundamental à base de mucopolis-
sacarídios. Nesta substância foram identifica-
dos condroitino-sulfato misturado com proteí-
nas, certo tipo de ácido hialurônico e ceratos-
sulfato. Do ponto de vista histológico, o nú-
cleo contém fibras colágenas e células de as-
pecto condrocítico, células conjuntivas e raras
aglomerações de células cartilaginosas. Não se
encontram vasos nem nervos no interior do
núcleo. Contudo, o núcleo é septado por tratos
fibrosos que partem da periferia.
Uma parte periférica, o annllllls fibroSllS
(A) ou anel fibroso, conformado por uma sucessão
de camadas fibrosas concêntricas, cuja obliqüida-
de é cruzada quando se passa de uma camada pa-
ra a camada vizinha, tal como está representado na
parte esquerda (a) do esquema; na sua parte direi-
ta (b), também se pode constatar que as fibras são
verticais na periferia e que,quanto mais se aproxi-
mam do centro, mais elas são oblíquas. No centro,
em contato com o núcleo, as fibras são quase ho-
rizontais e descrevem um longo trajeto helicoidal
para ir de um platá ao outro. Deste modo, o núcleo
fica fechado num compartimento inextensível en-
tre os platôs vertebrais, por cima e por baixo, e o
anel fibroso. Este anel constitui um verdadeiro te-
cido de fibras, que no indivíduo jovem impede
qualquer exteriorização da substância do núcleo.
Ele se encontra comprimido no seu pequeno com-
partimento, de tal modo que quando o disco é sec-
cionado horizontalmente se pode apreciar a saída
da substância gelatinosa do núcleo por cima do
plano da secção. O mesmo fenômeno também po-
de ser comprovado quando se realiza um corte sa-
gital da coluna vertebral.
N
A
a
Fig.1-25
Fig.1-26
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 31
32 FISIOLOGIA ARTICULAR
o NÚCLEO COMPARADO COM UMA PATELA
Fechado sob pressão no seu compartimen-
to, entre dois platás vertebrais, o núcleo pulposo
tem uma forma parecida com uma esfera. Por-
tanto, numa primeira aproximação, se pode con-
siderar que o núcleo se comporta como uma bo-
linha intercalada entre dois planos (fig. 1-27).
Este tipo de articulação denominada "patela"
permite três espécies de movimento.
Movimentos de inclinação:
- inclinação no plano sagital: neste caso
observa-se uma flexão (fig. 1-28) ou
uma extensão (fig. 1-29);
- ou inclinação no plano frontal: inflexão
lateral.
Movimentos de rotação de um dos platás
com relação ao outro (fig. 1-30).
Movimentos de 'deslizamento ou de CÍ-
salhamento de um platá sobre o outro através
da esfera. Resumindo, este tipo de articulação
oferece uma grande possibilidade de movi-
mentos, exatamente seis graus de liberdade:
flexão-extensão, inclinação de cada lado, des-
lizamento sagital, deslizamento transversal,
rotação direita e rotação esquerda; porém cada
movimento é de escassa amplitude. Os movi-
mentos de grande amplitude só podem ser ob-
tidos graças à soma de numerosas articulações
deste tipo.
UO - SISTEMA DE BI8110lHlS
Fig.1-27
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 33
Fig.1-28
Fig.1-30
Fig.1-29
34 FISIOLOGIA ARTICULAR
o ESTADO DE PRÉ-COMPRESSÃO DO DISCO E A AUTO-ESTABILIDADE
DA ARTICULAÇÃO DISCOVERTEBRAL
As pressões exercidas sobre o disco inter-
vertebral são importantes, principalmente quan-
to mais próximo estiver do sacro.
Considerando inicialmente as forças de
compressão axial, se pode determinar que, quan-
do o platô vertebral exerce uma força sobre o
disco intervertebral, a pressão que o núcleo re-
cebe equivale à metade da carga aumentada em
50% e a pressão exercida sobre o anel equivale
à outra metade diminuída em 50%. Assim sen-
do, o núcleo suporta 75% da carga e o anel 25%.
De modo que, no caso de uma pressão de 20 kg,
ela se distribui em 15 kg sobre o núcleo e 5 kg
sobre o anel.
Contudo, o núcleo atua como distribuidor
da pressão em sentido horizontal sobre o anel
(fig. 1-31). Em simples posição de pé, no disco
Ls-S1, a compressão vertical que se exerce sobre
o núcleo se transmite pela periferia do anel em
28 kg por centímetro linear e de 16 kg por cen-
tímetro quadrado. Estas forças aumentam de
maneira considerável quando a coluna vertebral
se sobrecarrega. Naflexão anterior do tronco, a
pressão por centímetro quadrado ascende a 58
kg quando a força por centímetro linear atinge
os 87 kg. Durante o esforço de retificação estas
cifras aumentam até 107 kg/cm2 e 174 kg por
centímetro linear. As pressões podem alcançar
valores mais altos se a retificação se realiza com
uma carga. Neste caso, as citadas pressões se
aproximam dos valores do ponto de ruptura.
A pressão no centro do núcleo não é nula,
inclusive quando o disco não suporta nenhuma
carga. Esta pressão se deve ao estado de hidro-
filia, que faz com que ele aumente de volume
dentro do seu compartimento inextensível.
Deste modo se cria um estado de "pré-ten-
são". Na tecnologia do cimento, se denomina
pré-tensão (fig. 1-32) a um estado de tensão
prévia criado numa viga que deve suportar uma
earga. Se uma viga homogênea (A) recebe um
peso, se pode observar como ela toma uma in-
curvação de valor fI denominada seta. Se então
se considera uma viga (B), em cuja parte infe-
rior se introduz um cabo metálico fortemente
tenso entre as duas extremidades, se constitui
uma viga pré-tensa que com o mesmo peso vai
deformar-se em uma seta f2 nitidamente infe-
rior à setafz.
A pré-tensão do disco intervertebral lhe
permite, do mesmo modo, resistir melhor às for-
ças de compressãô e de inflexão. Quando, com a
idade avançada, o nú~leo perde as suas proprie-
dades hidrófilas, a sua pressão interna diminui e
o estado de pré-tensão tende a desaparecer, o
que explica a perda de flexibilidade da coluna
vertebral senil.
Quando um disco é submetido a uma pressão
axial assimétrica (fig. 1-33), o platô vertebral su-
perior sofre uma inflexão para o lado com mais car-
ga, deslocando-se um ângulo de oscilação a. As-
sim, a fibra AB' estará tensa na posição AB, embo-
ra simultaneamente, a pressão máxima do núcleo
do lado da seta vai exercer-se sobre esta fibraAB de
modo que a leve de novo à sua posição inicial. Es-
te mecanismo de auto-estabilidade está ligado ao
estado de pré-tensão. Observar, então, que o anel e
o núcleo formam juntos um par funcional cuja efi-
cácia depende da integridade de ambos os elemen-
tos. Se a pressão interna do núcleo diminui ou se a
capacidade de contenção do anel desaparece, este
par funcional perde a sua eficácia imediatamente.
O estado de pré-tensão explica também as
reações elásticas do disco, demonstradas pela
experiência de Hirsch (fig. 1-34): quando se im-
põe bruscamente uma sobrecarga (S) sobre um
disco previamente carregado (P), podemos ob-
servar como a espessura do disco passa por um
valor mínimo e depois por um valor máximo,
seguindo uma curva oscilante, que se amortece
instantaneamente. Se a sobrecarga é excessiva, a
intensidade desta reação oscilante pode chegar a
destruir as fibras do anel. Assim se explica a de-
terioração do disco após sofrer forças violentas
repetidas.
A
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 3S
B
1 1 ~ . ~
T T'
--- ~ -:::=;::::::::- --=======I=======:=o=--
Fig.1-32
F
Fig.1-31
s
Fig.1-33
Fig.1-34
36 FISIOLOGIA ARTICULAR
A MIGRAÇÃO DE ÁGUA NO NÚCLEO
o núcleo repousa sobre a parte central do
platô vertebral, parte cartilaginosa, porém com
numerosos poros microscópicos que comuni-
cam o compartimento do núcleo com o tecido
esponjoso situado debaixo do platô vertebral.
Quando uma pressão importante é exercida so-
bre o eixo da coluna vertebral, como no caso da
influência do peso do corpo na posição de pé
(fig. 1-35), a água contida na substância cartila-
ginosa do núcleo passa através dos forames do
platô vertebral ao centro dos corpos vertebrais.
Se esta pressão estática é mantida durante todo
o dia, nas últimas horas da noite o núcleo está
nitidamente menos hidratado que no início da
manhã: então, se pode deduzir que a espessura
do disco diminui sensivelmente. Para um indiví-
duo normal, esta perda de espessura acumulada
sobre a altura total da coluna vertebral pode
atingir os 2 em.
Ao contrário, durante a noite, em decúbito
sllpino (fig. 1-36), os corpos vertebrais não so-
frem a pressão axial exercida pela ação da gravi-
dade, mas somente a do tônus muscular, muito
relaxado também pelo sono. Neste momento, a
hidrofilia do núcleo atrai a água que retoma dos
corpos vertebrais para o núcleo. Assim, o disco
recupera a sua espessura inicial. De modo que
somos mais altos pela manhã que pela noite. Co-
mo o estado de pré-compressão é mais acentua-
do de manhã que de noite, a flexibilidade verte-
bral também é maior no começo do dia.
A pressão de embebição do núcleo é con-
siderável, visto que, segundo Chamley, pode al-
cançar os 250 mm Hg. Com a idade, este estado
de embebição diminui ao mesmo tempo que a
hidrofilia, provocando uma diminuição do esta-
do de pré-compressão. Isto explica a diminuição
tanto de estatura quanto de flexibilidade verte-
bral nos anciões.
Hirschdemonstrou que, aplicando uma
carga constante sobre um disco vertebral (fig.
1-37), a diminuição da espessura do disco não é
linear, mas sim, exponencial (primeira parte da
curva), o que sugere um processo de desidrata-
ção proporcional ao volume do núcleo. Quando
a carga é retirada, o disco recupera a sua espes-
sura inicial, porém, também neste caso, a curva
não é linear, mas exponencial inversa (segunda
parte da curva), e a restauração total da espessu-
ra inicial do disco precisa de algum tempo. Se
estas cargas e descargas do disco se repetem
com muita assiduidade, o disco não tem tempo
de recuperar a sua espessura inicial. Igualmente,
se as cargas e descargas se repetem de maneira
muito prolongada, embora se espere o tempo
necessário de recuperação, o disco não recupera
a sua espessura inicial. Neste caso se constata
um fenômeno de envelhecimento.
Fig.1-35
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 37
Fig.1-36
i-U---
I ESPESSURA
DO
DISCO
Carga constante
Fig.1-37
38 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS FORÇAS DE COMPRESSÃO SOBRE O DISCO
As forças de compressão sobre o disco
são mais importantes à medida que se aproxi-
mam do sacro. Isto é compreensível porque o
peso do corpo aumenta com a altura supraja-
cente (fig. 1-38). No caso de um homem de 80
kg se calcula que a cabeça pese 3 kg, os mem-
bros superiores 14 kg e o tronco 30 kg. Se se
estima que no nível do disco LS-Si a coluna
vertebral suporta apenas 2/3 do peso do tron-
co, ainda se alcança uma carga de 37 kg, isto é
aproximadamente a metade do peso do corpo
(P). Também devemos acrescentar o tônus dos
mÚsculos paravertebrais (Mi e M2), necessário
para manter a estática e o tronco ereto. Se,
além disso, somamos o peso de uma carga (E)
e a intervenção de uma sobrecarga brusca (S),
se pode compreender perfeitamente que os dis-
cos mais inferiores da coluna lombar estejam
submetidos a forças que ultrapassam, às vezes,
a sua resistência, principalmente nas pessoas
de idade.
A diminuição da altura do disco não é a
mesma, depende de o disco estar intato ou lesa-
do (fig. 1-39). Considerando um disco sadio em
repouso (A), com uma carga de 100 kg, se pode
observar como ele se aplaina 1,4 mm, ao mesmo
tempo que se alarga (B). Se a um disco já lesa-
do a mesma carga de 100 kg é aplicada, a altura
diminui 2 mm (C), e se comprova que depois de
a carga ter sido retirada, a recuperação da sua
espessura inicial é incompleta.
Este achatamento progressivo do disco le-
sado não deixa de repercutir nas articulações in-
terapofisárias (fig. 1-40): quando a espessura do
disco é normal (A), as relações das superfícies
çartilaginosas no nível das articulações interapo-
fisárias são normais: a interlinha é paralela e re-
gular. Quando a altura do disco diminui (B), as
relações articulares interapofisárias se alteram e
a interlinha se entreabre para trás. Esta distor-
ção articular épor si mesma, e depois de algum
tempo, um fator de artrose.
r
A
Fig.1-38
DISCO SADIO
SOB CARGA
B
Fig.1-39
A
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 39
DISCO LESADO
SOB CARGA
c
B
Fig.1-40
40 FISIOLOGIA ARTICULAR
VARIAÇÕES DO DISCO SEGUNDO O NÍVEL
A espessura do disco não é a mesma em to-
dos os níveis vertebrais (fig. 1-41). Na coluna
lombar (b) o disco é mais espesso, visto que
mede 9 mm de altura. Na coluna dorsal (a), ele
mede 5 mm de espessura e na coluna cervical
(c), a sua espessura é de 3 mm. Porém, muito
mais importante do que a sua altura absoluta é a
noção de proporção do disco com relação à altu-
ra do corpo vertebral. De fato, esta proporção dá
uma idéia perfeita da mobilidade do segmento
vertebral, visto que se constata que, quanto
maior ele seja, mais importante será a sua mo-
bilidade: em ordem decrescente se pode com-
provar que a coluna cervical (c) é a mais móvel,
visto que possui uma relação disco-corpórea de
2/5, depois vem a coluna lombar (b), um pouco
menos móvel que a cervical e que possui uma
relação disco-corpórea de 1/3. Por último, o me-
nos móvel dos três segmentos da coluna é o to-
rácico (a); sua relação disco-corpórea é de l/S.
Em cortes sagitais dos diferentes segmen-
tos da coluna vertebral, se pode observar que o
nÚcleo não se localiza exatamente no centro do
disco; dividindo a espessura ântero-posterior do
disco em dez partes iguais, o núcleo se situa:
• no caso da coluna cervical (fig. 1-42) a
4/10 da margem anterior e a 3110 da mar-
gem posterior, ela mesma ocupando 3/1 O.
A sua situação corresponde exatamente
ao eixo de mobilidade (seta branca);
• no caso da coluna dorsal (fig. 1-43), a
localização do núcleo é a mesma com
relação, tanto à margem anterior quanto
à margem posterior do disco. O núcleo,
em si, ocupa 3/1 O, mas a sua situação
com relação ao eixo de mobilidade é es-
tar deslocado para trás: a seta branca que
representa o eixo passa nitidamente pela
frente do núcleo;
• no caso da coluna lombar (fig. 1-44), o
núcleo se localiza a 4/10 da margem an-
terior do disco e a 2/1 O da margem pos-
terior, mas ele ocupa apenas 4/1 O; ou se-
ja, uma supeifície maior que correspon-
de a forças axiais mais importantes. Co-
mo no caso da coluna cervical, a sua si-
tuação corresponde exatamente à do ei-
xo de mobilidade (seta branca).
Para Leonardi, o centro do núcleo se locali-
za em uma distância igual a da margem anterior
da vértebra que do ligamento amarelo. Ele cor-
responde nitidamente a um ponto de equilíbrio,
como se a potência dos ligamentos posteriores
"puxasse" o núcleo para trás.
1/5
Fig.1-42
DORSAL
1/3
b
Fig.1-41
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 41
2/5
CERVICAL
c
Fig.1-43
4
10
2 Fig.1-44
42 FISIOLOGIA ARTICULAR
COMPORTAMENTO DO DISCO INTERVERTEBRAL
NOS MOVIMENTOS ELEMENTARES
Consideramos, em primeiro lugar, os movi-
mentos no eixo da coluna vertebral (fig. 1-45).
Antes de qualquer esforço (A), já vimos que
existe uma tensão prévia nas fibras do anel, sob
a pressão do núcleo, definindo o estado de pré-
tensão.
Quando uma força de alongamento axial
(B) se exerce sobre o disco, os p1atôs vertebrais
tendem a separar-se, o que aumenta a espessura
do disco; ao mesmo tempo, a sua largura diminui
e a tensão das fibras do anel aumenta. O núcleo,
que está ligeiramente achatado em estado de re-
pouso, toma uma forma mais esférica. O alonga-
mento diminui a pressão no interior do núcleo, o
que constitui a base do tratamento das hérnias
discais por alongamento vertebral: ao puxar o ei-
xo da coluna vertebral, a substância gelatinosa da
hérnia discal reintegra o seu compartimento ori-
ginal no núcleo. Contudo, não sempre se obtém
este resultado e se pode imaginar que, por efeito
da contração das fibras centrais do anel, a pres-
são interna do núcleo aumenta.
Quando se aplica uma força de compressão
axial (C), o disco se achata e se alarga, o núcleo
se achata, a sua pressão interna aumenta de ma-
neira notável e se transmite lateralmente em di-
reção às fibras mais internas do núcleo; deste
modo, a pressão vertical se transforma em forças
laterais e a tensão das fibras do anel aumenta.
Vejamos agora as compressões assimétri-
caso Durante os movimentos de extensão (fig.
1-46), a vértebra superior se desloca para trás,
o espaço intervertebral diminui na parte de trás
e o núcleo se projeta para a frente, de modo que
se situa sobre as fibras anteriores do anel au-
mentando a sua tensão e levando a vértebra su-
perior à sua posição inicial.
Durante a jiexão (fig. 1-47), a vértebra su-
perior desliza para a frente e o espaço interver-
tebral diminui na margem anterior; o núcleo se
'desloca para trás de modo que se situa sobre as
fibras posteriores do anel, aumentando a sua ten-
são. Aparece novamente o mecanismo de auto-
estabilização devido à ação conjugàda do par
núcleo-anel.
Durante as forças de injiexão lateral (fig.
1-48), a vértebra superior se inclina para o lado
da inflexão, o núcleo é deslocado para o lado da
convexidade da curva, daí a auto-estabilização.
Durante os .movimentos de rotação axial
(fig. 1-49), as fibras do anel, cuja obliqüidade se
opõe ao sentido do movimento da rotação, en-
tram em tensão. Inversamente, asfibras das ca-
madas intermédias, cuja obliqüidade é inversa,
se distendem. A tensão é máxima nas camadas
centrais cujas fibras são as mais oblíquas; neste
caso, o núcleo está fortemente comprimido e sua
tensão interna aumenta proporcionalmente com
o grau de rotação. Entende-se, então, que o mo-
vimento que associa a flexão e a rotação axial
tenha tendência a rasgar o anel fibroso ao mesmo
tempo que, aumentando a sua pressão, expulse o
núcleo para trás através das fissuras do anel.
Durante as forças estáticas sobre uma vér-
tebra ligeiramente oblíqua (fig. 1-50), a força
vertical (F) se decompõe em:
• uma força N perpendicular ao platô ver-
tebral inferior;
• e uma força T paralela a este platô verte-
bral.
A força N encaixa a vértebra superior sobre
a inferior, enquanto a força T faz com que ela se
deslize para a frente, colocando as fibras oblí-
quas sob tensão, alternadamente, em cada cama-
da fibrosa.
Em resumo, se pode constatar que, seja
qual for a compressão exercida sobre o disco in-
tervertebral, esta se traduz sempre por um au-
mento da pressão interna do núcleo e da tensão
das fibras do anel; porém, graças ao desloca-
mento relativo do núcleo, a entrada em tensão
das fibras é diferente, o que situa o sistema na
sua posição inicial.
B
Fig.1-46
Fig.1-48
A
Fig.1-45
Fig.1-50
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 43
c
Fig.1-49
44 FISIOLOGIA ARTICULAR
ROTAÇÃO AUTOMÁTICA DA COLUNA VERTEBRAL
DURANTE A INFLEXÃO LATERAL
Quando a coluna vertebral se flexiona late-
ralmente, se pode constatar como os corpos ver-
tebrais giram sobre si mesmos de modo que a
sua linha média anterior se desvia em direção à
convexidade da curva. Isso se pode observar ni-
tidamente numa radiografia de frente tomada em
inflexão lateral (fig. 1-51): as imagens dos cor-
pos vertebrais perdem a sua simetria e a linha
das apófises espinhosas (traços espessos) se des-
loca para a concavidade. No esquema, uma vér-
tebra foi desenhada de acordo com seu aspecto
osteológico para que a sua orientação possa ser
entendida e assim possa permitir a interpretação
dos aspectos radiológicos. Numa vista superior
(fig. l-52 A), se pode constatar como, nesta po-
sição de rotação, a apófise transversa da conca-
vidade se projeta em todo o seu tamanho, en-
quanto a apófise transversa da convexidade se
projeta em tamanho reduzido. Além disso, as in-
terlinhas apofisárias da convexidade estão toma-
das em fileira pelo feixe radiológico, enquanto
as apófises articulares da concavidade se proje-
tam de frente, assim como o pedículo vertebral.
Como explicar esta rotação automática
dos corpos vertebrais? Principalmente por dois
mecanismos: a compressão dos discos e a entra-
da em tensão dos ligamentos.
O deito da compressão dos discos pode ser
bem demonstrada graças a um modelo mecâni-
co fácil de realizar (fig. 1-53): pegamos algumas
rolhas de cortiça e borracha de espuma para que
sejam cortadas em cunha a fim de construir os
discos intervertebrais; colamos as duas cunhas e
traçamos uma linha no meio, sobre a sua face
anterior; então é suficiente inclinar o modelo pa-
ra um lado para apreciar a rotação dos corpos
vertebrais do lado oposto, perfeitamente visível
graças à separação dos diferentes segmentos da
linha média de uma vértebra da outra. A inflexão
lateral aumenta a pressão no disco do lado da
concavidade; como o disco é cuneiforme, a sua
substância comprimida tem a tendência de esca-
par-se pelo lado mais aberto; isto é, em direção
à convexidade, daí a rotação.
Esta sobrepressão se indica na figura 1-52 A
com o sinal + e a seta indica o sentido da rotação.
Por um mecanismo inverso, os ligamentos
da convexidade, que se encontram em tensão
devido à inflexão lateral, têm a tendência a des-
locar-se em direção à·linha média procurando o
caminho mais curto. Isto fica patente na figura
1-52 A, pelo sinal - no nível de um ligamento
intertransverso e a seta indicando a direção do
movimento.
Note-se que estes dois mecanismos são sinér-
gicos e contribuem, cada um da sua maneira, para a
rotação no mesmo sentido dos corpos vertebrais.
Esta rotação é fisiológica, porém, em cer-
tos casos, determinadas alterações da estática
vertebral causadas tanto por uma má distribui-
ção das tensões ligamentares quanto por desi-
gualdades do desenvolvimento, determinam
uma rotação permanente dos corpos vertebrais.
Neste caso, existe uma escoliose que associa
uma incurvação ou uma inflexão permanente da
coluna vertebral a uma rotação dos corpos ver-
tebrais. O exame clínico pode revelar esta rota-
ção (fig. 1-54). De fato, num indivíduo normal
(A), a flexão anterior do tronco determina um
perfil simétrico com relação à coluna vertebral.
Num indivíduo com escoliose (B), a flexão ante-
rior do tronco determina um perfil assimétrico
com uma corcova dorsal proeminente do lado da
convexidade da incurvação vertebral. Isto repre-
senta a rotação permanente dos corpos verte-
brais. Deste modo, o fenômeno fisiológico transi-
tório da rotação automática dos corpos vertebrais
passa a ser patológico quando se associa perma-
nentemente à incurvação da coluna vertebral.
3. TROXCO E COLUNA VERTEBRAL 45
B
A
Fig.1-52
Fig.1-51
Inclinação
A
Fig.1-54 Fig. 1-53
46 FISIOLOGIA ARTICULAR
AMPLITUDES GLOBAIS DA FLEXÃO-EXTENSÃO DA COLUNA VERTEBRAL
Considerada no seu conjunto entre o sacro
e o crânio, a coluna vertebral constitui o equiva-
lente de uma articulação com três graus de li-
berdade: permite movimentos de flexão-exten-
são, inclinação lateral à esquerda e direita e ro-
tação axial. As amplitudes destes diferentes mo-
vimentos elementares, embora muito escassa em
cada nível da coluna vertebral, são globalmente
muito importantes em função do número de ar-
ticulações vertebrais.
Os movimentos de flexão-extensão se rea-
lizam no plano sagital (fig. 1-55). A referência,
ao nível do crânio, é o plano mastigatório: se
pode imaginar com facilidade uma folha de pa-
pelão fortemente apertada entre as mandíbulas.
O ângulo formado pelo plano mastigatório entre
as duas posições extremas (AT) é de 250°. Esta
amplitude deve ser considerada se vemos que o
resto das articulações do corpo somente tem
180° de amplitude máxima. Naturalmente, estes
250° representam uma amplitude extrema nos
indivíduos especialmente flexíveis.
As amplitudes segmentares podem ser me-
didas em radiografias de perfil.
Na coluna lombar:
- a flexão (FL) é de 60°;
- a extensão (EL) é de 35°;
Para o conjunto da coluna dorsolombar:
- a flexão (FDJ é de 105°;
- a extensão (EDL) é de 60°;
Na coluna cervical:
- a flexão (Fc) é de 40°;
- a extensão (Ec) é de 75°;
Portanto, aflexão total da coluna vertebral
(FT) é de 110°.
Enquanto a extensão total da coluna verte-
bral (ET) é de 140°.
Estas cifras são dadas a título orientativo;
os autores ainda não estão de acordo sobre a
amplitude dos diferentes segmentos da coluna
vertebral. Por outro lado, estas amplitudes va-
riam consideravelmente segundo os indivíduos
e a idade. De modo que aqui vemos as ampli-
tudes máximas.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 47
Fig.1-55
48 FISIOLOGIA ARTICULAR
AMPLITUDES GLOBAIS DA INFLEXÃO LATERAL
DA COLUNA VERTEBR>\L EM CONJUNTO
o movimento de inflexão lateral também
denominado inclinação da coluna vertebral se
realiza no plano frontal (fig. l-56). Este movi-
mento é fácil de medir com precisão nas radio-
grafias de frente; baseando-se no eixo das vérte-
bras, ou na direção do platõ superior da vértebra
implicada. No crânio se pode tomar como ponto
de referência a linha bimastóidea, que passa pe-
lo vértice de ambos os mastóides.
A inflexão lateral da coluna lombar é
de 20°.
A inflexão lateral da coluna dorsal é
de 20°.
A infiexão lateral da coluna cervical é
de 35° a 45°.
A infiexão ou inclinação total da coluna en-
tre o sacro e o crânio é, então, de 75 a 85°.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 49
Lombar
20°
Fig.1-56
50 FISIOLOGIA ARTICULAR
AMPLITUDES GLOBAIS DA ROTAÇÃO
DA COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO
As amplitudes de rotação são difíceis de se
avaliar, visto que resulta impossível fazer radio-grafias no plano transversal e as tomografias axi-
ais realizadas para o estudo dos órgãos não têm
a precisão necessária para medir a rotação das
vértebras. Pode-se medir a rotação total da colu-
na vertebral fixando a pelve e contando o grau
de rotação do crânio.
Recentemente, os autores norte-america-
nos, Greggersen e Lucas, puderam medir de ma-
neira muito precisa as rotações elementares to-
mando como pontos de referência agulhas metá-
licas inseridas por anestesia local nas apófises
espinhosas. Trataremos novamente deste tema
quando estudarmos a coluna dorso lombar.
A rotação axial na coluna lombar (fig. l-57)
é muito escassa: 5°. Mais adiante, veremos as
causas desta limitação do movimento de rota-
ção axial.
A rotação axial na coluna dorsal (fig. l-58)
é muito mais acentuada: 35°, visto que está favo-
recida pela disposição das apófises articulares.
A rotação axial na coluna cervical (fig.
l-59) é muito ampla, visto que alcança de 45 a
50°. Pode-se constatar como o atlas realiza uma
rotação aproximada de 90° com relação ao sacro.
A rotação axial entre a pelve e o crânio
(fig. 1-60) alcança ou ultrapassa ligeiramente
os 90°. De fato, existem alguns graus de rota-
ção axial na atlantooccipital, porém, como
freqüentemente a rotação axial é menor na
coluna dorsolombar, a rotação total mal al-
cança os 90°.
Fig.1-57 Fig.1-58
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 51
Fig.1-59
II
Fig.1-60
52 FISIOLOGIA ARTICULAR
AVALIAÇÃO CLÍNICA DAS AMPLITUDES GLOBAIS
DA COLUNA VERTEBRAL
No caso da flexão-extensão e da inflexão
lateral, as medidas exatas da amplitude global da
coluna vertebral só podem ser tomadas sobre ra-
diografias do conjunto da coluna vertebral.
Contudo, a amplitude global dos movimen-
tos da coluna vertebral pode ser avaliada clinica-
mente pelos movimentos "testes".
Para mensurar a fiexão da coluna dor-
solombar (fig. 1-61), se pode:
- medir o ângulo a entre a vertical e a lin-
ha que une a margem ântero-superior do
trocanter maior (1) e o ângulo do acrô-
mio (2); este ângulo inclui também uma
amplitude de flexão do quadril;
- ou localizar o nível alcançado pela mar-
gem dos dedos (d) ao realizar uma fle-
xão de tronco em posição ortostática
com os joelhos estendidos; neste caso, a
flexão também inclui uma amplitude de
flexão do quadril. Esta localização pode
ser realizada, medindo em centímetros a
distância d dos dedos até o solo, ou bem
situando o nível n dos dedos com rela-
ção aos membros inferiores: patela, me-
tade da perna, garganta do pé ou dedos;
- ou medindo com uma fita métrica flexí-
vel a distância que separa a apófise es-
pinhosa de C7 da primeira espinhosa sa-
cral, primeiro em extensão e depois em
flexão. No esquema, este alongamento
da distância C7-S1 é de 5 em.
Para medir a extensão da coluna dorso-
lombar (fig. 1-62) se pode avaliar o ângulo a en-
tre a vertical e a linha que une a margem ântero-
superior do trocanter maior e o ângulo do acrô-
mio em máxima extensão. Porém esta medida
integra novamente um certo grau de extensão
nos quadris. Um método mais preciso consiste
em medir o ângulo b de extensão total da colu-
na e a seguir subtrair o ângulo de extensão da
coluna cervical isolado (esta última amplitude se
mede com o tronco vertical e a cabeça girada pa-
ra trás); no indivíduo um bom teste de extensão
e de flexibilidade vertebral é o movimento deno-
minado "ponte"; porém este, evidentemente,
não é um movimento teste que possa ser utiliza-
do em qualquer caso.
Para avaliar a "inclinação lateral da coluna
dorsolombar (fig. 1-63), se mede no indivíduo
visto de costas o ângulo a constituído pela ver-
tical e a linha que une o extremo superior do su-
co interglúteo e a apófise espinhosa de e7• Con-
tudo, seria mais exato medir o ângulo b forma-
do pela vertical e a tangente da curvatura verte-
bral no nível de C7• Um meio prático mais sim-
ples, mais imediato, consiste em localizar o ní-
vel n alcançado pelos dedos da mão do lado da
inclinação: por cima do joelho, no seu nível ou
abaixo dele.
Para avaliar corretamente o movimento de
rotação axial da coluna vertebral, se deve obser-
var ao indivíduo de cima (fig. 1-64); para imobi-
lizar a pelve, o sujeito deve sentar-se numa ca-
deira de encosto baixo, segurando a pelve e os
joelhos, o plano de referência é o plano frontal
(F), que passa pela parte superior (O) do crânio.
A rotação da coluna vertebral dorsolombar se
avalia pelo ângulo a formado pela linha dos om-
bros EE' e o plano frontal.
A amplitude total de rotação da coluna ver-
tebral se mede pelo ângulo de rotação (b) do pla-
no biauricular e do plano frontal. Também se po-
de medir o ângulo de rotação (b') constituído
pelo plano de simetria da cabeça (S') e o plano
sagital (S).
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 53
Fig.1-63 Fig.1-62
Fig.1-64
s
Fig.1-61
F
54 FISIOLOGIA ARTICULAR
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 55
56 FISIOLOGIA ARTICULAR
A CINTURA PÉLVICA NO HOMEM E NA MULHER
A cintura pélvica forma a base do tronco.
Ela também constitui o suporte do abdome e
conforma a união entre os membros inferiores e
o tronco. Trata-se de um anel ósteo-articular
fechado, composto por três peças ósseas e três
QJ1iculações.
As três peças ósseas são:
- os dois ossos ilíacos, pares e simétricos;
- o sacro, ímpar e simétrico, bloco verte-
bral constituído pela união de cinco vér-
tebras sacrais.
As três articulações, de escassa mobilida-
de, são:
- as duas articulações sacroilíacas que
unem o sacro a cada um dos ossos ilíacos;
- a sínfise pÚbica, que une ambos os ossos
ilíacos pela frente.
A cintura pélvica tem, em conjunto, a for-
ma de um funil com uma grande base superior
que conecta a cavidade abdominal com a pelve
através da abertura superior. No caso da cintura
pélvica, o dimorfismo sexual se aprecia nitida-
mente; de fato, quando se compara a pelve mas-
culina (fig. 2-1) com a feminina (fig. 2-2), se po-
de constatar cOmo a feminina é muito mais lar-
ga e muito mais extensa: o triângulo em cujo
interior se inscreve possui uma base mais ampla
que o da pelve masculina.
Por outra parte, ela também tem menos al-
tura que a pelve masculina: a altura do trapézio
inscrito é menor.
Por último, proporcionalmente, a abertura
superior (linha espessa contínua) é mais larga e
mais aberta na mulher que no homem.
Esta diferença na morfologia da cintura
pélvica se relaciona com a função da gestação e,
principalmente, com a do parto, visto que o feto
e especialmente a sua cabeça que é a parte mais
volumosa, num primeiro momento se situa por
cima da abertura superior da pelve através da
qual ele deve passar no momento oportuno para
encaixar-se numa escavação e a seguir abrir-se
caminho pela abertura inferior da pelve. Portan-
to, as articulações da cintura pélvica desem-
penham uma função na estática do tronco em
posição ortostática e também um papel impor-
tante no mecanismo do parto, como veremos
mais adiante ao falar da fisiologia da articulação
sacroilíaca.
Fig.2-2
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 57
Fig.2-1
58 FISIOLOGIA ARTICULAR
ARQUITETURA DA CINTURA PÉLVICA
A cintura pélvica, considerada em conjunto,
transmite forças entre a coluna vertebral e os
membros inferiores (fig. 2-3): o peso (P) que a
quinta vértebra lombar suporta se reparte em
duas partes iguais em direção às asas do sacro pa-
ra depois, através das espinhas ciáticas, dirigir-se
até a cavidade cotilóide. Neste ponto, a resistên-
cia do chão é recebida ao peso do corpo (R)
transmitido pelo colo do fêmur e pela cabeça fe-
moral; uma parte desta resistência fica anulada
pela resistência oposta, no nível da sínfise púbica
após ter atravessado o ramo horizontal do púbis.
° conjunto destas linhas de força constitui
um anel completo representado pela abertura
superior da pelve. Existe um sistema trabecular
para dirigir estas forças através do anel pélvico
(ver volume li, pág. 28).
Devido à sua largura, mais ampla em cima
que embaixo na sua parte articular, se pode con-
siderar o sacro como uma cunha (triângulo tra-
cejado em escuro) que se incrusta verticalmente
entre as duasasas ilíacas. Unido a elas por liga-
mentos, o sacro está mais apertado entre as asas
quanto maior for o peso exercido sobre ele: tra-
ta-se de um sistema de autobloqueio.
Além disso,. o sacro se encontra encaixa-
do entre as duas asas ilíacas no plano transver-
sal (figs. 2-4 e 2-5). De fato, cada asa ilíaca
pode ser considerada como um braço de ala-
\"anca (fig. 2-4) cujo ponto de apoio (O) e 02)
estaria localizado nas articulações sacroilíacas
e cuja resistência e potência estariam situadas
nas extremidades superiores e inferiores. Por
trás, os potentes ligamentos sacroilíacos (LI e
L) representariam a resistência e, pela frente,
a potência de cada um dos braços de alavanca
estaria representada pela sínfise pÚbica desen-
volvendo uma força de aproximação SI e S2'
Quando se produz um deslocamento da
sínfise púbica (fig. 2-5), a diástase dos dois pú-
bis (S) permite a separação das superfícies ilía-
cas das articulações sacroilíacas e, como neste
caso o sacro não está fixo, pode deslocar-se pa-
ra a frente (d) e dJ
Desse modo, se entende a total interdepen-
dência dos diferentes elementos do anel pélvico:
qualquer ruptura de continuidade num ponto re-
percute em todo o anel, comprometendo a sua
resistência mecânica.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 59
R Fig.2-3 R
s
Fig.2-5
60 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS SUPERFÍCIES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO SACROILÍACA
Se vemos uma articulação sacroilíaca (fig.
2-6) aberta, como se fosse um livro, de modo
que as duas peças ósseas pivotem em tomo de
um eixo vertical (a, b, c), podemos comprovar
nitidamente a correspondência das duas super-
fícies articulares:
- a face auricular do osso coxal (A), situa-
da na parte póstero-superior da face inter-
na do osso ilíaco, logo atrás da linha ino-
minada, que constitui uma parte da aber-
tura superior da pelve. Esta superfície tem
a forma de meia-lua de concavidade pós-
tero-superior; está recoberta com cartila-
gem e é, em conjunto, bastante irregular,
porém Farabeuf afirmou que parecia um
trilho ocupado: de fato, no eixo maior
desta superfície discorre uma crista alon-
gada que separa duas depressões; esta
crista se incurva sobre si mesma seguindo
um arco de círculo, cujo centro se situa
aproximadamente na tuberosidade ilíaca
ou pirâmide (marcada com uma cruz)
que, como se poderá comprovar mais
adiante, constitui a inserção dos potentes
ligamentos da articulação sacroilíaca;
- a superfície auricular da asa sacra
(B), cujas margens se superpõem aos da
face auricular do osso coxal e cuja su-
perfície tem uma conformação inversa:
Na linha axial'desta superfície existe uma
depressão limitada por duas cristas alon-
gadas, o conjunto se incUI\"aseguindo um
arco de círculo cujo centro se localiza no
nível do primeiro tubérculo sacro (marca-
do com uma cruz) no qual se inserem po-
tentes ligamentos da articulação. Fara-
beuf afirmou que a superfície auricular do
sacro estava conformada como um trilho
oco, que corresponde exatamente à super-
fície do trilho oCllpado do osso ilíaco.
Contudo, estas duas superfícies estão longe
de ter a regularidade descrita e se realizamos
três cortes horizontais (fig. 2-7) corresponden-
tes aos níveis a, b e c da figura 2-6, se pode
constatar que, apenas na parte média (b) e na
parte superior (a) da face auricular do sacro
existe uma depressão central. Ao contrário, na
sua parte inferior (c), a face auricular do sacro é
convexa na sua parte central. De tudo isso se po-
de deduzir a dificuldade que existe para realizar
uma projeção radiológica da interlinha sacro-
ilíaca, dependendo da parte que se deseje explo-
rar, a projeção deverá ser oblíqua de fora para
dentro, ou de dentro para fora.
a
Fig.2-6
Fig.2-7
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 61
B
c
b
62 FISIOLOGIA ARTICULAR
A FACETA AURICULAR DO SACRO
A faceta auricular do sacro pode apresentar
grandes variações morfológicas dependendo
de cada indivíduo. A. Delmas demonstrou a
existência de uma correspondência entre o tipo
de coluna vertebral e a morfologia do sacro e da
sua faceta auricular (fig. 2-8).
Quando as curvaturas da coluna vertebral
são muito acentuadas (A), o que corresponde a
um tipo dinâmico, o sacro está muito horizontal
e a faceta auricular está muito incurvada sobre
si mesma e ao mesmo tempo muito côncava. As-
sim sendo, a articulação sacroilíaca está dotada
de uma grande mobilidade que lembra à de uma
diartrose; se trata de um tipo especialmente evo-
luído, "sobreadaptado", que corresponde a um
grau extremo de adaptação à marcha bípede.
Quando as curvaturas da coluna vertebral
são pouco acentuadas (B), o que corresponde a
um tipo estático, o sacro está quase vertical e a
faceta auricular está muito alongada vertical-
mente e muito pouco angulada sobre si mesma;
por outro lado a sua superfície é quase plana.
Esta morfologia da faceta auricular, muito dife-
rente da que foi descrita por Farabeuf, corres-
ponde a uma articulação de pouca mobilidade
que lembra à de uma anfiartrose; este aspecto
que se observa amiúde nas crianças aproxima-se
ao encontrado nos primatas.
Seja como for, A. Delmas demonstrou que
a evolução dos primatas até o homem se acom-
panha de um alongamento e um alargamento do
segmento caudal da faceta auricular cuja impor-
tância é superior, no homem, à do segmento cra-
niano. A angulação de ambos os segmentos po-
de alcançar no homem o ângulo reto, enquanto
nos primatas esta face está muito pouco incurva-
da sobre si mesma:
Weisel analisou, através de traçados carto-
gráficos, o relevo da fáceta auricular do sacro, de-
monstrando (fig. 2-9) que a aurícula é geralmen-
te mais longa e estreita no sacro que no osso ilía-
co e que se observa constantemente uma depres-
são central na união dos dois segmentos (marca-
dos com o sinal-) e duas elevações perto das ex-
tremidades de cada segmento (marcadas com o
sinal +). No osso ilíaco, a disposição é recíproca,
mas não exatamente simétrica. Desse modo, exis-
te uma elevação na união dos dois segmentos que
corresponde ao tubérculo de Bonnaire.
Weisel também desenvolveu uma teoria
pessoal sobre a disposição dos ligamentos desta
articulação sacroilíaca com relação às forças que
recebe. Classifica estes ligamentos em dois gru-
pos (fig. 2-10):
- um grupo cranial (Cr), de direção lateral
e dorsal, que se oporia ao componente FI
do peso do corpo (P) exercido sobre a fa-
ce superior da primeira vértebra sacral.
Estes ligamentos agiriam durante o des-
locamento do promontório para a frente;
- um grupo caudal (Ca), de direção cra-
nial, que se oporia ao componente F2
perpendicular ao plano da face supe-
rior da primeira vértebra sacral.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 63
Dinâmico
A
Fig.2-9
c
Fig.2-8
B
Fig.2-10
Estático
64 FISIOLOGIA ARTICULAR
OS LIGAMENTOS DA ARTICULAÇÃO SACROILÍACA
(Os números de referência são comuns às três figuras)
Numa vista posterior da pelve (fig. 2-11), se
podem observar, por uma parte, os ligamentos
ílio-Iombares:
- o fascículo superior do ligamento ílio-
lombar (1);
- o fascículo inferior do ligamento ílio-
lombar (2).
Do lado direito da figura se distingue o pla-
no médio dos ligamentos ílio-sacrais. De cima
para baixo:
- o ligamento ílio-transverso sacro (3);
- os ligamentos ílio-transversos conjuga-
dos (4) descritos por Farabeuf, divergem
da extremidade posterior da crista ilíaca e
terminam nos tubérculos conjugados.
O primeiro ligamento ílio-transverso conju-
gado se estende da tuberosidade ilíaca, situada por
trás do vértice da pirâmide, até o primeiro tubér-
culo conjugado.
O segundo ligamento ílio-transverso conju-
gado, de Zaglas, se fixa no segundo tubérculo
conjugado.
O terceiro e o quarto ligamentos ílio-trans-
versos conjugados se estendem da espinha ilíaca
póstero-superior até o terceiro e o quarto tubércu-
los conjugados.
No lado esquerdo está representado o plano
ligamentar superficial (5), leque fibroso que se
estende da margem superior do osso ilíaco até os
tubérculos póstero-internos.
Entre a parte inferior da margem externa do
sacro e a grande incisura ciática se estendem dois
importantesligamentos: os ligamentos sacrociá-
ticos maior e menor:
- o ligamento sacrociático menor (6) oblíquo
para cima, para dentro e para trás, se esten-
de da espinha ciática até a margem lateral
do sacro e do cóccix;
- o ligamento sacrociático maior (7) atravessa
obliquamente a face posterior do menor. Inse-
re-se em cima, ao longo de uma linha que vai
da margem posterior do osso iliaco às duas pri-
meiras vértebras do cóccix. As suas vértebras
oblíquas para baixo, para a frente e para fora
estão torcidas sobre si mesmas e se inserem
abaixo na tuberosidade isquiática e no lábio in-
terno do ramo ascendente do ísquio. Assim, a
grande incisura ciática fica dividida por estes
dois ligamentos sacrociáticos em dois orifícios:
um orifício superior, pelo qual o músculo pira-
midal sai da pelve, e um orifício inferior, orifí-
cio de saída do obturatório interno.
Em vista ant~rior (fig. 2-12), se encontram de
novo os ligamentos ílio-lombares (1 e 2), os liga-
mentos sacrociáticos ~aior (7) e menor (6), porém
também se encontra o ligamento sacroilíaco ante-
rior, constituído por dois fascículos denominados
freios de nutação superior e inferior:
- umfascículo ântero-superior (8);
- umfascículo ântero-inferior (9).
A figura 2-13 mostra a articulação sacroilíaca
direita, com seus ligamentos, aberta pela rotação em
tomo a um eixo vertical; deste modo, se pode obser-
var o osso ilíaco (A) por sua face interna e o sacro
(B) por sua face extema. Assim se pode entender:
- o enrolamento dos ligamentos ao redor da
articulação sacroilíaca e as condições nas
quais entram em tensão durante a nutação e
a contranutação;
- a direção oblíqua para baixo, para a frente e
para dentro dos freios da nutação (8 e 9) a
partir do osso ilíaco (A). A partir do sacro
(B) são oblíquos para cima, para a frente e
para fora;
- do mesmo modo se encontram de novo os
ligamentos mo-transversos conjugados (5);
- os ligamentos sacrociáticos menor (6) e
maior (7);
- o ligamento axial (representado por uma
zona branca nas duas metades do desen-
ho) constitui o plano profundo dos liga-
mentos sacroilíacos e se fixa por fora na
tuberosidade ilíaca, principalmente na pi-
râmide, e por dentro nas duas primeiras
fossas crivadas do sacro. Também se de-
nomina interósseo ou ligamento vago, e
para os autores clássicos representa o eixo
em tomo do qual se realizam os movi-
mentos do sacro; daí o seu nome.
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 65
5
7
Fig.2-11
A
Fig.2-13
B
8
7
6
2
3
4
6
Fig.2-12
66 FISIOLOGIA ARTICULAR
A NUTAÇÃO E A CONTRANUTAÇÃO
Antes de se analisarem os movimentos da
articulação sacroilíaca convém lembrar que a
sua amplitude não é muito grande e, além disso,
é variável segundo circunstâncias e indivíduos,
o que explica as contradições existentes entre os
diferentes autores quanto às teorias da função
desta articulação e à importância que estes mo-
vimentos podem ter na fisiologia do parto. Estes
movimentos foram descritos pela primeira vez
por Zaglas em 1851 e por Duncan em 1854.
Definiçãoe mecanismossegundo a teoria clássica
Durante o movimento de nutação (fig.
2-15), o sacro gira em tomo do eixo representa-
do pela cruz preta e constituído pelo ligamento
axiaI. de tal modo que o promontório se desloca
para baixo e para a frente (S) e o vértice do sa-
cro e a extremidade do cóccix se deslocam para
trás (d2). Assim, o diâmetro ântero-posterior da
abertura superior da pelve diminui uma distân-
cia S:, enquanto o diâmetro ântero-posterior da
abertura inferior da pelve aumenta uma distân-
cia d2• Simultaneamente (fig. 2-16), as asas ilía-
cas se aproximam enquanto as tuberosidades is-
quiáticas se separam. O movimento de nutação
é limitado (fig. 2-13) pela tensão dos ligamentos
sacrociáticos maior (7) e menor (6) e dos freios
de nutação, a saber: os fascículos ântero-supe-
rior (8) e ântero-inferior (9) do ligamento sacro-
ilíaco anterior.
O movimento' de contranutação (fig.
2-14) realiza deslocamentos inversos: o sacro,
ao pivotar em tomo do ligamento axial se endi-
reita, de modo que o promontório se desloca pa-
ra cima e para trás (S) e a extremidade inferior
do sacro e o vértice inferior do cóccix se deslo-
cam para baixo e para a frente (dJ O diâmetro
ântero-posterior da abertura superior da pelve
aumenta uma distância SI' enquanto o diâmetro
ântero-posterior da abertura inferior da pelve di-
minui uma distância di' Por outro lado, as asas
ilíacas se separam e as tuberosidades isquiáticas
se aproximam. O movimento de contranutação é
limitado (fig. 2-13) pela tensão dos ligamentos
sacroilíacos, distribuídos no plano superficial
(5) e no plano profundo (4).
A título informativo, a variação do diâme-
tro ântero-posterior da abertura superior da pel-
ve pode variar de 3 mm para Bonnaire, Pinard e
Pinzani, até 8 a 13 mm para Walcher. A amplitu-
de de variação do diâmetro ântero-posterior da
abertura inferior da pe1ve pode variar de 15 mm
para Borcel e Femstrom a 17,5 mm para Thoms.
Weisel confirmou recentemente o deslocamento
transversal das asas ilíacas e das tuberosidades
isquiáticas.
Fig.2-14
Fig.2-16
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 67
68 FISIOLOGIA ARTICULAR
AS DIFERENTES TEORIAS DA NUTAÇÃO
Na teoria clássica de Farabeuf (fig. 2-17)
que se acaba de descrever, o movimento de bás-
cula do sacro se realiza ao redor do eixo consti-
tuído pelo ligamento axial (O), o deslocamento
é angular e o promontório se desloca para baixo
e para a frente ao redor de um arco de círculo de
centro O retroauricular.
Na teoria de Bonnaire (fig. 2-18), o movi-
mento de báscula do sacro se realiza ao redor de
um eixo O', que passa pelo tubérculo de Bon-
naire, na união dos dois segmentos da aurícula
sacra. O centro deste movimento angular bascu-
lante do sacro é, então, auricular.
Contudo, os estudos de Weisel permitem
propor outras duas teorias:
- uma teoria de translação pura (fig. 2-
19), onde o sacro se deslizaria ao longo
do eixo da porção inferior da aurícula.
Trata-se então de uma translação se-
guindo uma distância d que afetaria do
mesmo modo ao promontório sacro e ao
vértice do sacro;
- uma outra hipótese retoma a idéia da ro-
tação (fig. 2-20), porém desta vez ao re-
dor de um eixo pré-auricular O" situa-
do abaixo e pela frente do sacro. A loca-
lização deste centro de rotação variaria
de um indivíduo a outro, e, inclusive no
mesmo indivíduo dependendo do tipo
de movimento realizado.
A variedade destas teorias faz supor a difi-
culdade para se analisarem os movimentos de
pouca amplitude, assim como a possibilidade de
diferentes tipos de movimentos variando segun-
do os indivíduos.
Contudo, estas noções não têm o caráter abs-
trato que poderia ser-lhes atribuídas, visto que es-
tes movimentos intervêm na fisiologia do parto.
Fig.2-19
3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 69
Fig.2-20
70 FISIOLOGIA ARTICULAR
A SÍNFISE PÚBICA E A ARTICULAÇÃO SACROCOCCÍGEA
A sÍnfise púbica é uma anfiartrose, de pou-
ca mobilidade, quase nula. Contudo, no final da
gestação e durante o parto, a embebição aquosa
das partes moles permite pequenos movimentos
de deslizamento e a separação de um púbis com
relação ao outro. Nos roedores, estes movimen-
tos são de grande amplitude.
Em corte horizontal (fig. 2-21), se distin-
guem as extremidades ósseas dos púbis a cada
lado da linha média, cujas superfícies axiais es-
tão cobertas por uma cartilagem e unidas por
uma fibrocartilagem denominada ligamento in-
terósseo.
Em vista interna (fig. 2-22), a superfície
articular do púbis aparece ovalada com um eixo
maior oblíquo para cima e para a frente, coberta
pelo tendão de inserção do músculo reto do ab-
dome (1); a articulação é bloqueada pela frente
por um ligamento anterior (3), muito espesso,
formado por fibras transversais e reforçado por
fibras oblíquas, perfeitamente visíveis em vista
anterior (fig. 2-25): expansão das aponeuroses
de inserção do músculo oblíquo (8), expansão
dos músculos reto anterior (7) e piramidal (2),
expansão dos tendões de inserção do reto inter-
no e do adutor médio (9); todas estas fibras en-
trelaçadas

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