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Disciplina Alfabetização e LAlfabetização e LAlfabetização e LAlfabetização e Letramentoetramentoetramentoetramento Coordenador da Disciplina Prof.ª Maria José BarbosaProf.ª Maria José BarbosaProf.ª Maria José BarbosaProf.ª Maria José Barbosa 2ª Edição Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Créditos desta disciplina Realização Autor Prof.ª Rosimeire Costa de Andrade Cruz SumárioSumárioSumárioSumário Aula 01: Conceitos Iniciais ....................................................................................................................... 01 Tópico 01: Conceitos de letramento e de alfabetização ......................................................................... 01 Tópico 02: Relações entre letramento e alfabetização ........................................................................... 05 Aula 02: Aprendizagem da língua escrita ............................................................................................... 10 Tópico 01: Apropriação do sistema de escrita alfabética ....................................................................... 10 Tópico 02: Métodos de Alfabetização ................................................................................................... 17 Aula 03: Práticas Pedagógicas ................................................................................................................. 23 Tópico 01: Princípios didáticos - metodológicos para a alfabetização e para o letramento .................. 23 Tópico 02: Importância da leitura e da escrita de gêneros textuais diversos e do uso de portadores sociais de texto ...... 30 Aula 04: Alfabetização e Letramento nas instituições educativas ........................................................ 35 Tópico 01: Alfabetização e letramento no contexto da Educação Infantil............................................. 35 Tópico 02: Alfabetização e letramento no contexto dos anos iniciais do Ensino Fundamental ............ 43 Tópico 03: Alfabetização e letramento no contexto da Educação de Jovens e Adultos ........................ 49 TÓPICO 01: CONCEITOS DE LETRAMENTO E DE ALFABETIZAÇÃO Prezados Estudantes, o principal objetivo dessa disciplina é oferecer subsídios teórico-metodológicos para que ao final, vocês possam: - compreender os conceitos de alfabetização e letramento e a relação existente entre esses dois processos; - entender como se dá a apropriação do sistema de escrita alfabética pelas crianças e adultos ainda não alfabetizados; - planejar práticas de alfabetização e letramento efetivas; - conhecer variados métodos de alfabetização e as concepções de aprendizagem, ensino e língua escrita a eles subjacentes. Para atingir esse objetivo, o conteúdo da disciplina foi organizado em 04 aulas: AULA 01: CONCEITOS INICIAIS Tópico 01: Conceitos de letramento e de alfabetização; Tópico 02: Relações entre letramento e alfabetização. AULA 02: APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESCRITA Tópico 01: Apropriação do sistema de escrita alfabética; Tópico 02: Métodos de Alfabetização. AULA 03: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Tópico 01: Princípios didáticos - metodológicos para a alfabetização e para o letramento; Tópico 02: Importância da leitura e da escrita de gêneros textuais diversos e do uso de portadores sociais de texto. AULA 04: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS Tópico 01: Alfabetização e letramento no contexto da Educação Infantil; Tópico 02: Alfabetização e letramento no contexto dos anos iniciais do Ensino Fundamental; Tópico 03: Alfabetização e letramento no contexto da Educação de Jovens e Adultos. Vocês devem estar ansiosos por essa disciplina, afinal de contas, em uma sociedade letrada como a nossa, a aprendizagem da língua escrita é condição essencial para o pleno desenvolvimento da cidadania. Cabe ao professor da Educação Infantil, dos anos iniciais do Ensino Fundamental e das turmas de Educação de Jovens e Adultos a tarefa de mediar os processos de alfabetização e letramento a fim de que nenhuma ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 01: CONCEITOS INICIAIS 1 ALFABETIZAÇÃO É a aquisição do sistema convencional de escrita. Diz respeito ao processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita. (VAL, 2006, p.19) criança, jovem ou adulto conclua sua escolaridade básica sem entender e usar adequadamente e, a favor da vida e da promoção humana, o código escrito. Para cumprir bem essa missão, precisamos de uma formação profissional sólida que nos permita realizar um trabalho pedagógico consciente, fundamentado em estudos e pesquisas e que leve em conta as necessidades e os interesses dos principais destinatários da educação. Neste sentido, a leitura dos textos a seguir e o desenvolvimento das atividades propostas são imprescindíveis. Boa leitura e boa reflexão! Para dar inicio a nossa aula, observe o diálogo a seguir, estabelecido a partir da leitura de uma notícia de jornal: O que a imagem revela? A manchete da notícia foi lida? Foi compreendida? Bom, as respostas a essas indagações nos remetem aos conceitos centrais da nossa disciplina: o que é alfabetização? O que é letramento? CONCEITOS DE LETRAMENTO E DE ALFABETIZAÇÃO 2 LETRAMENTO É o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. (VAL, 2006, p.19) Embora distintos, Alfabetização e Letramento são processos interdependentes e indissociáveis. Por quê? VERSÃO TEXTUAL Alfabetização – só tem sentido quando desenvolvida no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja, em um contexto de letramento. Letramento – só pode desenvolver-se na dependência da escrita e por meio de sua aprendizagem. É preciso que tenhamos bastante clareza que: (...)Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. (PAULO FREIRE) Assim, letrar significa inserir a criança e o adulto no mundo letrado, trabalhando com os diferentes usos da escrita na sociedade. A melhor maneira de começar a ampliar seus conhecimentos sobre os conceitos iniciais e principais da disciplina é fazer logo uma atividade. Então... REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de. Conceituando alfabetização e letramento. In: SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, 3 Márcia (org.). Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. Disponível em: http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/Formacao/Alfabetizacao_letramento_Livro.pdf [1] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) VAL, Maria G. C. O que é ser alfabetizado e letrado? In: Carvalho, Maria A. F. & Mendonça, Rosa H. (org.). Práticas de leitura e escrita. Brasília:Ministério da Educação, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/grades/salto_ple.pdf [2] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) FONTES DAS IMAGENS 1. http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/Formacao/Alfabetizacao_letramen to_Livro.pdf 2. http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/grades/salto_ple. pdf 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 4 TÓPICO 02: RELAÇÕES ENTRE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO ALFABETIZAÇÃO A Alfabetização diz respeito ao processo de aquisição da “tecnologia da escrita”; isto é, do conjunto de técnicas – procedimentos, habilidades – necessárias para a prática da leitura e da escrita: as habilidades de codificação de fonemas em grafemas e de decodificação de grafemas em fonemas. LETRAMENTO O Letramento se refere “ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita, o que implica na aprendizagem de habilidades como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos; interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos; saber utilizar a escrita para encontrar ou fornecer informações”. Olá, caros estudantes. Neste tópico, além de aprofundar os conhecimentos sobre os conceitos de Letramento e Alfabetização, iremos entender melhor as relações que existem entre esses dois processos. Esse conhecimento lhe possibilitará compreender um pouco mais os usos e funções sociais da escrita hoje. Magda Soares, uma das estudiosas que conhecemos no Tópico 01 desta primeira aula, nos ajuda a entender melhor esse assunto. É inspirada nela que algumas características que envolvem os conceitos de Alfabetização e Letramento são listadas a seguir: LEITURA COMPLEMENTAR Livros de Magda Soares para leitura: • Letramento: Um tema em três gêneros • Alfabetização e letramento • Linguagem e escola: Uma perspectiva social ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 01: CONCEITOS INICIAIS 5 Com base nas leituras e reflexões que foram realizadas no Tópico 01, podemos afirmar sem medo de errar que: - o letramento não é uma espécie de preparação para a alfabetização; - a alfabetização não é condição indispensável para o início do processo de letramento; - quando a ação pedagógica do professor é orientada para o letramento, não é necessário e nem recomendável, descuidar-se do trabalho específico com o sistema de escrita; - cuidar da dimensão linguística, visando à alfabetização, não implica exclusão do trabalho voltado para o letramento; - não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar, trata-se de alfabetizar letrando. À medida que vamos compreendendo melhor os conceitos de Alfabetização e Letramento, vai ficando cada vez mais óbvio que o grande desafio que se coloca hoje para as escolas é o de conciliar alfabetização e letramento, de forma a assegurar aos alunos a apropriação do sistema alfabético/ortográfico (ALFABETIZAÇÃO) e a plena condição de uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita (LETRAMENTO). (...) Por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa. (Emília Ferreiro) VERSÃO TEXTUAL Será que a escola está conseguindo fazer isso? Como foi a sua história de apropriação da língua escrita, ou seja, no processo inicial de aprender a ler e a escrever, as experiências com a leitura e a escrita 6 possibilitadas pela escola que vocês frequentaram tinham sentido para vocês? Ajudavam a compreender o que a escrita representa, como ela representa e qual a sua finalidade na vida das pessoas? Essas reflexões nos ajudam também a pensar sobre a qualidade das experiências com a língua escrita que você, futuro pedagogo, oferecerá aos seus alunos? Que marcas deixarão? REFLEXÃO 1 As imagens apresentadas a seguir apresentam alguma semelhança com as práticas de leitura e escritas a que você teve acesso na infância? Será que o seu conteúdo contribui realmente coma aprendizagem da língua escrita? Por quê? Alfabeto Letra A 7 REFLEXÃO 2 Você concorda com a opinião do educador brasileiro Paulo Freire, transcrita logo a seguir? Por quê? FÓRUM Neste fórum suas participações dividem-se em duas etapas. Na primeira você deve: Registrar aquilo que você já sabe sobre a temática alfabetização e letramento acrescido do que você estudou nos dois tópicos 1. Responda de acordo com sua experiência e com as leituras realizadas nos tópicos 1 e 2 da aula 01. a) O que é alfabetização? b) O que é letramento? c) A pessoa pode ser alfabetizada sem ser letrada? Como? d) A pessoa pode ser letrada sem ser alfabetizada? Como? Etapa 2 Acrescente a suas falas duas ideias que você considera como sendo as mais importantes sobre a relação entre alfabetização e letramento, retiradas do texto O que é ser alfabetizado e letrado? de autoria de Maria da Graça Costa Val. Use exemplos da escrita do seu cotidiano nos momentos fora e dentro de seu local de trabalho. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Leia o texto “Conceituando alfabetização e letramento” (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) de autoria de Eliana Borges Correia de Albuquerque, destacando as ideias principais. Organize seu texto nos moldes de fichamento: Letras enfeitadas 8 Como fazer: Título: Fichamento Após o título, escrever o Registro bibliográfico do texto. Em seguida colocar o seu nome e transcrever as ideias da autora, cada uma seguida de seu comentário. (Registre quantas ideias achar necessário). REFERÊNCIAS CARVALHO, Maria Angélica Freire de; MENDONÇA, Rosa Helena (orgs.). PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA. Brasília: Ministério da Educação, 2006. SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Márcia (orgs.). ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 9 TÓPICO 01: APROPRIAÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA VERSÃO TEXTUAL Olá! Hoje, iremos entender um pouco melhor os processos de construção e apropriação da língua escrita e de seu sistema de representação pelas crianças no contexto de uma cultura letrada. Você já parou para pensar como isso acontece? Aliás, você já parou para pensar como surgiu a escrita na História da humanidade e como ela passou a assumir a importância que tem hoje? Importância, sim! Porque as pessoas que vivem em uma sociedade letrada como a nossa e não sabem ler e escrever, levam desvantagens em vários aspectos da vida social! Há muitos estudiosos que afirmam que A LEITURA É UMA EXCELENTE ALIADA PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA E SOCIAL. A imagem, a seguir, é um exemplo dos usos e abusos que determinados grupos “fazem” de pessoas que não dominam o código escrito e a sua função social. Pensemos um pouco sobre isso! Fonte [1] Como a imagem sugere, o fato de não saber ler e escrever restringe em muito os direitos das pessoas e dos grupos. Como destaca a estudiosa Magda Soares, em seu livro Letramento: um tema em três gêneros (2004, p. 17-18): A escrita traz conseqüências culturais, políticas, econômicas, cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social em que esta introduzida, quer para o indivíduo que aprende a usá-la. [...] do ponto de vista individual, o aprender a ler e escrever – alfabetizar-se, deixar de ser analfabeto, torna-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas praticas de leitura e de escrita – tem conseqüências sobre o individuo, e altera seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 02: APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESCRITA 10 políticos, cognitivos, lingüísticos e até mesmo econômicos. Neste sentido, a pessoa que foi privada dessa aprendizagem... Digo PRIVADA, PORQUE TODAS AS PESSOAS, SEJAM CRIANÇAS, JOVENS OU ADULTOS, SÃO CAPAZESDE APRENDER, desde que lhe sejam oferecidas as condições adequadas para isso! Então, quem não teve a oportunidade de frequentar uma boa instituição escolar que lhe possibilitasse alfabetizar-se e letrar-se, leva desvantagens em vários sentidos, pois ficam impossibilitadas de: • transitar com autonomia pela sociedade letrada, ficando sempre na dependência de outra pessoa, como no seguinte depoimento: • utilizar a escrita e a leitura para se informar, se expressar, documentar, planejar, registrar, auxiliar a memória, aprender; • sentir-se motivada a se dedicar à leitura como forma de fruição e de lazer; • exercer plenamente a sua cidadania. Antes de continuar nossa reflexão sobre a língua escrita e suas contribuições para a emancipação humana e para a apropriação de outros conhecimentos, vamos dar uma olhada no vídeo a seguir. MULTIMÍDIA O vídeo trata da origem da escrita e de como o sistema escrito alfabético se organizou. Pode parecer estranho, mas a escrita nem sempre existiu. Sua origem está relacionada às necessidades humanas e é a isso que ele deve fazer jus desde então. 11 De acordo com a estudiosa Ana Teberosky (2003), é de especial importância apresentar às crianças os suportes de linguagem escrita, ou seja, os objetos elaborados, especialmente, para a escrita, sobretudo, livros e revistas e também aqueles que são pouco frequentes em suas casas. Neste caso, o professor precisa conhecer bem o grupo com o qual trabalha para poder saber que suportes de texto ele tem acesso e quais os que não conhece ainda e seria interessante conhecer. Como você acha que o professor pode fazer isso? Lembre-se! É participando, cotidianamente, de situações de leitura e escrita que as crianças vão atribuindo significado a esse objeto cultural e pensando sobre a sua função e estrutura. Afinal, a aprendizagem da língua escrita não se dá de forma passiva. Para construir conhecimentos sobre a escrita, a criança precisa interagir com ela, ou seja, participar de variados eventos em que a escrita esteja presente e seja necessária. Para Emília Ferreiro, uma boa estratégia para possibilitar o contato ativo das crianças com a língua escrita e, assim, despertar a sua curiosidade e vontade de aprender, é transformar a sala de aula num AMBIENTE ALFABETIZADOR. Mas, o que é um ambiente alfabetizador? Para Ana Teberosky, ambiente alfabetizador “é aquele em que há uma cultura letrada, com livros, textos digitais ou em papel, um mundo de escritos que circulam socialmente” A consulta a um importante documento publicado pelo Ministério da Educação, em 1998, intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), nos ajuda a entender melhor as características de um ambiente alfabetizador: Diz-se que um ambiente é alfabetizador quando promove um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita nas quais as crianças têm a oportunidade de participar. Se os adultos com quem as crianças convivem utilizam a escrita no seu cotidiano e oferecem a elas a oportunidade de 12 presenciar e participar de diversos atos de leitura e de escrita, elas podem, desde cedo, pensar sobre a língua e seus usos, construindo idéias sobre como se lê e como se escreve (BRASIL, 1998, p. 151). OBSERVAÇÃO Você já conhecia esse documento? Ele constitui uma fonte de pesquisa importante para os professores que trabalham ou pretendem trabalhar com a Educação Infantil e encontra-se disponível para download no sitio do Ministério da Educação: www.mec.gov.br [2]. O RCNEI também oferece outras dicas importantes para ajudar a refletir sobre alguns equívocos a cerca do que seja um ambiente alfabetizador e de como ele pode ser útil para a aprendizagem da língua escrita: - a expressão “ambiente alfabetizador” não deve ser confundida com a imagem de uma sala com paredes cobertas de textos expostos e, às vezes, até com etiquetas nomeando móveis e objetos; - a participação ativa das crianças em eventos de letramento configura um ambiente alfabetizador na instituição; - um bom ambiente alfabetizador é construído por meio da comunicação interativa e de mão dupla com a criança; - expor as crianças a práticas de leitura e escrita está relacionado com a oferta de oportunidades de participação em situações nas quais a escrita e a leitura se faça necessária, ou seja, nas quais a escrita tenha de fato uma função real de expressão e comunicação. No contexto da Educação Infantil, várias situações de comunicação necessitam da mediação da escrita e, portanto, devem envolver a participação das crianças. Assim, quando o professor lê, em voz alta, uma instrução escrita de uma regra de jogo, quando lê uma notícia de jornal de interesse das crianças, quando informa sobre o dia e o horário de uma festa em um convite de aniversário, quando anota uma idéia para não esquecê-la ou quando envia um bilhete para os pais e tem a preocupação de lê-lo para as crianças, permitindo que elas se informem sobre o seu conteúdo e intenção (BRASIL, 1998) está empenhado na função de alfabetizar e letrar as crianças. Emília Ferreiro e seus colaboradores, por meio de estudos e observações, concluíram que as crianças, mesmo bem pequenas, que vivenciam práticas sociais de leitura e escrita no seu contexto, constroem muitas hipóteses sobre o que a escrita representa e como ela é representada, buscando compreender o nosso sistema alfabético de escrita. Em um ambiente alfabetizador e com a mediação do professor e/ou de outras crianças que já tem o domínio do sistema de escrita alfabética, a criança aprende, por exemplo, que “desenha-se com figuras” e “escreve-se com letras”. Essa não é uma aprendizagem natural, espontânea, como se pensou durante muito tempo. A construção desse conhecimento “desenha-se 13 com figuras” e “escreve-se com letras” não seria possível sem a intervenção intencional de um leitor. Os princípios listados por Fernanda Leal e Artur Morais (2010, p. 30) nos ajudam a entender melhor o que é e como funciona o sistema de escrita alfabético: a) Escreve-se com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito e que são diferentes de números e outros símbolos; b) As letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças na identidade das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p); c) A ordem das letras é definidora da palavra que, juntas, elas configuram e uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras; d) Nem todas as letras podem vir juntas de outras e nem todas podem ocupar certas posições no interior das palavras; e) As letras notam a pauta sonora e não as características físicas ou funcionais dos referentes que substituem; f) Todas as sílabas do Português contêm uma vogal; g) As sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes, vogais e semivogais (CV, CCV, CVSv, CSvV, V,CCVCC...), mas a estrutura predominante é a CV (consoantevogal); h) As letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos; i) As letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra. FÓRUM 14 Diversas pesquisas sobre a alfabetização, tanto de crianças como de adultos, tem mostrado que para se apropriar do nosso sistema de representação da escrita, ou seja, para aprender a ler e escrever convencionalmente, compreendendo os usos e funções da língua escrita, a pessoa precisa construir respostas para duas questões muito importantes: 1 . O que a escrita representa? 2 . Qual a estrutura do modo de representação da escrita? Que respostas você daria para essas questões? Escreva um pouco sobre isso e compartilhe, em seguida, com os seus colegas de turma. MULTIMIDIA Agora, convido-lhe a assistir ao vídeo "O menino que perdeu sua Geografia" e, por analogia, pensarse também podemos afirmar que na escola “o menino perdeu a sua língua”. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO A fim de melhor compreender os princípios e os caminhos ou etapas que as crianças percorrem para compreender o sistema de escrita alfabético, leia o texto “Como as crianças aprendem a escrita alfabética? O que a capacidade de refletir sobre “os pedaços sonoros” das palavras tem a ver com isso? (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)”, de autoria de Artur Gomes de Morais. Depois de ler o texto do Artur Gomes de Morais, faça uma síntese sobre as principais ideias do autor sobre o sistema de escrita alfabética. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v. LEAL, Telma F.; MORAIS, Artur. O aprendizado do Sistema de Escrita Alfabética: uma tarefa complexa, cujo funcionamento precisamos compreender. In: LEAL, T.F.; ALBUQUERQUE, E.B.C.; MORAIS, A.G. 15 ALFABETIZAR LETRANDO NA EJA: fundamentos teóricos e propostas didáticas. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. SOARES, Magda. LETRAMENTO: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. TEBEROSKY, Ana. COLOMER,Teresa. APRENDER A LER E A ESCREVER: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003. FONTES DAS IMAGENS 1. http://megaarquivo.wordpress.com/tag/problemas-sociais/ 2. http://www.mec.gov.br 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 16 TÓPICO 02: MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO VERSÃO TEXTUAL Prezados estudantes, Neste tópico iremos abordar diferentes formas de alfabetizar. Estas formas foram se modificando ao longo do tempo à medida que novas descobertas e pesquisas foram sendo feitas acerca do sistema de escrita alfabética e também sobre a forma como as pessoas constroem conhecimentos. Iniciaremos os estudos sobre esse assunto com um exercício de memória do tempo em que vocês eram crianças e foram se apropriando dos conhecimentos acerca da língua escrita. Mais uma vez destaco que as atividades e leituras indicadas nessa aula são fundamentais para que você possa ampliar os seus conhecimentos sobre alfabetização e letramento, o que será vital para o exercício da sua profissão docente. Depois de ter compreendido um pouco melhor os processos de construção e apropriação da língua escrita e de seu sistema de representação pelas crianças e adultos que ainda não consolidaram essa aprendizagem, hoje, iremos conhecer e refletir sobre alguns métodos de alfabetização. O uso dessa expressão “métodos de alfabetização” no plural já sinaliza que a alfabetização, ao longo do tempo, tem sido organizada e orientada por metodologias diversas. Se cada um de nós fizer um exercício de memória para lembrar o tempo de criança, quando estava no processo inicial de aprendizagem da língua escrita, certamente, verá que a forma de trabalhar com a escrita tem mudado. Em parte, essa mudança é decorrente também de outras mudanças mais amplas como, por exemplo, na forma de compreender o que é ensinar, o que é aprender, o papel do professor, o papel do estudante. REFLITA Procure lembrar o tempo em que você foi alfabetizado. - o tipo de escola que frequentou: rural ou urbana, pública ou privada, com turmas seriadas ou multisseriadas; - materiais escolares utilizados por você e por seu professor; - método utilizado pelo professor; - tipos de atividades; - formas de avaliação; - principais dificuldades enfrentadas para aprender a ler e escrever. Escreva sobre isto para comentar com seus colegas. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 02: APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESCRITA 17 Ao descrever a escola em que se alfabetizou, os materiais utilizados, a metodologia empregada pelos professores, as atividades que os alunos tinham de realizar e as formas como eram avaliados, você, certamente, está caracterizando um método de alfabetização. Se pensar sobre esse método, não será difícil identificar o que a escola que frequentou na infância compreendia por alfabetização, que papel assumia o professor e o aluno nesse processo e a função atribuída à língua escrita. Compartilhando essas memórias com seus colegas, facilmente perceberá coincidências de uso de um mesmo material, numa mesma região ou Estado, e também o uso simultâneo de métodos diferentes, numa mesma época. Além disso, comparando suas memórias com as experiências das crianças com as quais tem contato hoje, rapidamente identificará marcas ou posturas que ainda se repetem na atualidade. Como você já aprendeu em outras disciplinas, durante muito tempo se pensou que a criança chegasse à creche ou à escola como se fosse uma folha de papel em branco, sem saber nada. Cabia ao professor “preencher” essa folha “transmitindo” todos os conhecimentos que possuía. No que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita, a compreensão não era diferente. Inclusive, acreditava-se que, sobretudo, as crianças filhas das famílias de classes trabalhadoras (como domésticas, serventes, vigilantes, camelôs, operários, agricultores etc.) não “tinham cultura”, não “sabiam nada de leitura”. Como vimos nos textos indicados na Aula 01 (tópicos 01 e 02) e Aula 02 (tópico 01), É IMPROVÁVEL QUE EM UMA SOCIEDADE LETRADA COMO A NOSSA, AS CRIANÇAS DE QUALQUER GRUPO SOCIAL NÃO TENHAM CONSTRUÍDO CONHECIMENTOS SOBRE A LÍNGUA ESCRITA ANTES DE INGRESSAR NA ESCOLA OBRIGATÓRIA. Desta forma, nenhuma criança ou adulto que ainda não aprendeu a ler convencionalmente, ingressa na escola partindo de um “ponto zero” de aprendizagem sobre os usos e funções da língua escrita e tampouco não possui alguma hipótese sobre a estrutura do sistema alfabético de escrita. Todas as crianças que chegam às escolas públicas e privadas são crianças reais, capazes de aprender a ler e a escrever. Resta que a escola identifique o seu percurso no processo de aquisição da língua escrita, organizando suas atividades de modo que a vivência do ler e do escrever, na instituição educacional, seja rica, útil, podendo informar, transmitir conhecimentos, entreter e, enfim, tenha a gama de usos e funções socioculturais que a caracterizam na sociedade. (BRITO, 2007) 18 Outra ideia equivocada que permeou o pensamento e a prática de muitos professores e que, algumas vezes, ainda interfere muito na escola, é a de que as crianças aprendem sozinhas desde que lhe sejam disponibilizados portadores textuais. Também isso nós já aprendemos que não acontece, não é mesmo? PARA QUE A CRIANÇA APRENDA A LER E A ESCREVER, COMPREENDENDO A FUNÇÃO SOCIAL DA LÍNGUA, É NECESSÁRIO QUE PARTICIPE, COTIDIANAMENTE, DE SITUAÇÕES DE LEITURA E ESCRITA. Assim, irá atribuindo significado a esse objeto cultural e pensando sobre a sua função e estrutura. Afinal, a aprendizagem da língua escrita não se dá de forma passiva. Para construir conhecimentos sobre a escrita, a criança precisa interagir com ela, ou seja, participar de variados eventos em que a escrita esteja presente e seja necessária. Sem dúvida, muitas práticas e compreensões inadequadas ajudam a entender as manchetes de matérias estampadas nos jornais impressos e eletrônicos de grande circulação no país, desde o último dia 17 de setembro de 2015, quando o Ministério da Educação divulgou os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização: Fonte [1] Fonte [2] Fonte [3] 19 OBSERVAÇÃO A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é uma avaliação externa instituída pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que objetiva aferir os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental das escolas públicas. Além dos testes de desempenho, que medem a proficiência dos estudantes nessas áreas, a ANA apresenta em suaprimeira edição as seguintes informações contextuais: o Indicador de Nível Socioeconômico e o Indicador de Formação Docente da escola. Para maiores informações, consultar o seguinte endereço eletrônico: http://portal.inep.gov.br/web/saeb/ana/resultados [4]. Como vimos, em decorrência de transformações ocorridas tanto na forma de compreender a educação, o papel do professor e do aluno, bem como das contribuições de pesquisadoras como Emília Ferreiro, Ana Teberosky e Magda Soares, a compreensão do que seja alfabetizar e dos modos de alfabetizar tem sido ampliada e transformada. Se antes, a expressão “método de alfabetização” referia-se ao modo de ensinar apenas alguns conteúdos específicos e próprios da fase inicial da aprendizagem, através de um livro, de princípios ou da prática particular de um professor, hoje, a mesma expressão inclui uma didática da alfabetização, o que implica afirmar que o professor precisa se organizar para melhor ensinar. Sendo assim, não deve prescindir de uma direção, o que não significa buscar o controle da aprendizagem, sem embasamento teórico, optando rigidamente por um só caminho e um só material didático. Afinal de contas, para a aprendizagem não há controle. Essa é uma ideia muito importante defendida pela professora Isabel Cristina Alves da Silva Frade, em seu livro “Métodos e didáticas de alfabetização: história, características e modos de fazer de professores”. De acordo com Frade (2005, p. 16), A didática da alfabetização incorpora uma série de procedimentos que são complexos e implicam em escolhas de diversos caminhos. Neste sentido, o professor alfabetizador precisa dominar os métodos clássicos de alfabetização, mas também uma série de outros procedimentos relacionados à organização do tempo e espaço na sala de aula, à escolha dos melhores materiais e situações de ensino, à definição de conteúdos e do ambiente de uso da cultura escrita na sala de aula. Ele precisa também pesquisar o desenvolvimento dos alunos e o conhecimento que estes e suas famílias têm sobre as práticas de escrita. Além disso, precisa observar como os alunos estão compreendendo os conteúdos ensinados, para avaliar 20 as alterações que deve fazer em seu trabalho e no trabalho de alfabetização da escola. REFLEXÃO Antes de passar para a leitura do texto complementar que apresenta e explica vários métodos e práticas de alfabetização, convido-os a refletir sobre um trecho de uma entrevista concedida à Revista Nova Escola, por Ana Teberosky. Revista Nova Escola: De quem é a culpa quando uma criança não é alfabetizada? Ana Teberosky - A responsabilidade é de todo o sistema, não apenas do professor. Quando a escola acredita que a alfabetização se dá em etapas e primeiro ensina as letras e os sons e mais tarde induz à compreensão do texto, faz o processo errado. Se há separação entre ler e dar sentido, fica difícil depois para juntar os dois. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2015) Fonte [5] Você concorda com a opinião dessa estudiosa? PARA SABER MAIS Visando a aprofundar o assunto e entender melhor os diferentes métodos de alfabetização e as concepções que os fundamentam, leia o texto "Organizando as classes de alfabetização: processos e métodos" [6], de autoria de Maria das Graças de Castro Bregunci. Depois de ler o texto, faça uma lista dos métodos de alfabetização listados pela autora e comente cada um deles. REFERÊNCIAS BREGUNCI, Maria das Graças de Castro. ORGANIZANDO AS CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO: PROCESSOS E MÉTODOS. Disponível em: http://www.alemdasletras.org.br/biblioteca/material_formadoras/Salto_para_o_futuro_Praticas_de_leitura_e_escrita.pdf [7] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). Acesso em:01 Set de 2015. BRITO, ANTONIA EDNA. Prática pedagógica alfabetizadora: a aquisição da língua escrita como processo sociocultural. REVISTA IBEROAMERICANA DE EDUCACIÓN. n.º 44/4, EDITA: Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI). 10 de noviembre de 2007. FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. MÉTODOS E DIDÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO: história, características e modos de fazer de professores: caderno do professor. Belo Horizonte: CEALE/FAE/UFMG, 2005. 21 MORAIS, Artur Gomes de. COMO AS CRIANÇAS APRENDEM A ESCRITA ALFABÉTICA? O QUE A CAPACIDADE DE REFLETIR SOBRE “OS PEDAÇOS SONOROS” DAS PALAVRAS TEM A VER COM ISSO?. Disponível em: http://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/contents/docum [8]. Acesso em: 01 Set de 2015. FONTES DAS IMAGENS 1. http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/09/17/pnaic-1-a-cada-5- alunos-de-8-anos-nao-esta-alfabetizado.htm 2. http://www.opovo.com.br/app/maisnoticias/brasil/2015/09/18/noticia sbrasil,3506077/um-em-cada-cinco-estudantes-sao-analfabetos-aponta- pesquisa.shtml 3. http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/brasil/2015/09/1 7/interna_brasil,598649/norte-e-nordeste-registram-piores-resultados-na- avaliacao-de-alfabetizacao.shtml 4. http://portal.inep.gov.br/web/saeb/ana/resultados 5. http://novaescola.org.br/conteudo/251/ana-teberosky-debater-e- opinar-estimulam-a-leitura-e-a-escrita 6. http://www.solar.virtual.ufc.br/users/sign_in 7. http://www.alemdasletras.org.br/biblioteca/material_formadoras/Salto _para_o_futuro_Praticas_de_leitura_e_escrita.pdf 8. http://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/contents/docum 9. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 22 TÓPICO 01: PRINCÍPIOS DIDÁTICOS - METODOLÓGICOS PARA A ALFABETIZAÇÃO E PARA O LETRAMENTO VERSÃO TEXTUAL Caros estudantes, Agora, que já entendemos melhor os conceitos de alfabetização e letramento e de como acontecem os processos de construção e apropriação da linguagem escrita e de seu sistema de representação pelas crianças no contexto de uma cultura letrada, nesta aula iremos nos deter nos princípios didáticos e metodológicos que precisam ser observados pelo professor para que possa contribuir com a alfabetização e o letramento de crianças, jovens e adultos. Os textos e atividades propostas nesta aula ajudarão a refletir sobre alguns princípios teórico-metodológicos para o trabalho com a alfabetização e o letramento, partindo do uso social da linguagem até chegar ao domínio do código alfabético. A partir das reflexões propiciadas pela disciplina até aqui, certamente, você já entendeu que concepções equivocadas tanto com relação aos conceitos de alfabetização e letramento quanto à forma como o sujeito aprende e ao papel do professor nesse processo, deram origem a muitas práticas e continuam ainda a fundamentar práticas pedagógicas escolares que não possibilitam ao estudante tornar-se, de fato, um sujeito alfabetizado e letrado. Para começo de conversa, relembremos os conceitos fundamentais dessa disciplina: LETRAMENTO: “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita” (SOARES, 2003, p. 47). ALFABETIZAÇÃO: “aprendizagem da técnica, domínio do código convencional da leitura e da escrita e das relações fonema/grafema, do uso dos instrumentos com os quais se escreve” (SOARES, 2003, p. 40). As manchetes de jornais que divulgaram os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização, no dia 17 de setembro de 2015, conforme vimos na Aula 02, comprovam o quão ineficazes tem sido as práticas pedagógicas que visam ao ensino e à aprendizagem da língua escrita. Uma coisa é certa: os baixos índices de aprendizagem da leitura e escrita, evidenciados pelos resultados de avaliação nacionais e locais são motivo de preocupação para todos os profissionais, envolvidos direta e indiretamente, com a educação escolar. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 03: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 23 Desse contexto de dificuldades da escola para alfabetizar e letrar todas as crianças nos anos iniciais doEnsino Fundamental, certo sentimento de saudosismo do passado emerge em alguns profissionais que afirmam, categoricamente, que: O professor Frank Smith, que já escreveu vários livros que foram traduzidos para o português e atualmente, realiza pesquisas sobre alfabetização, computadores e educação, faz sérias críticas às práticas pedagógicas que focam apenas a metodologia, impondo ao estudante uma postura passiva e abordando a língua escrita de forma descontextualizada: VERSÃO TEXTUAL “A leitura é conquistada com a experiência e não com o ensino” (SMITH, 1997, p. 13). “Esperar que a criança aprenda a ler através de materiais sem sentido é o método mais fácil de tornar o aprendizado da leitura impossível” (SMITH, 2003, p. 07). “As metodologias tradicionais dão certo com algumas crianças, mas nenhuma delas é eficaz com todas as crianças” (SMITH, 1997, p. 70). Outro autor que nos ajuda a refletir sobre alguns equívocos cometidos por professores com relação ao uso de metodologias diversas que nem sempre são coerentes com a concepção de alfabetizar letrando, é Sérgio Antonio da Silva Leite. Ele chama a atenção, especialmente, para o reducionismo de propostas de trabalho focadas exclusivamente no letramento. Baseado em apropriações inadequadas de princípios construtivistas, muitos professores apostam no espontaneísmo, “deixando às crianças ‘interagir’ com materiais escritos” sem a devida intervenção pedagógica, o que tem resultado em consequências nefastas para o processo de alfabetização escolar. 24 REFLEXÃO Pensando sobre a aprendizagem da língua escrita e considerando o que já estudamos com o auxílio de textos complementares, assistência a vídeos, participação nos fóruns, você concorda com a afirmação abaixo? Por quê? Sobre a perspectiva de alfabetizar letrando, a professora Silvia Colello destaca a necessidade de o professor utilizar-se de estratégias que possibilitem a necessária articulação entre: “DESCOBRIR A ESCRITA” (conhecimento de suas funções e formas de manifestação), “APRENDER A ESCRITA” (compreensão das regras e modos de funcionamento, aspectos notacionais) e “USAR A ESCRITA” (cultivo de suas práticas a partir de um referencial culturalmente significativo para o sujeito). Desta forma, romperia com a ilusória divisão entre o “momento de aprender” e o “momento de fazer uso da aprendizagem” (COLELLO, 2010). REFLEXÃO Você acha possível romper com a divisão entre o “momento de aprender” e o “momento de fazer uso da aprendizagem” ou você acha que realmente é necessário primeiro “aprender a escrever” e só depois “aprender a usar a escrita”? Por quê? Como a escola pode contribuir para mudar a dura realidade apontada por resultados de avaliações de desempenho na leitura e escrita, em diferentes momentos da educação básica, de grandes contingentes de estudantes do ensino fundamental que saem do sistema escolar depois de quatro, seis, nove anos de escolaridade, ainda sem saber ler e escrever? Como ter êxito na tarefa de alfabetizar letrando? Veja alguns pressupostos fundamentais que o professor alfabetizador precisa considerar ao organizar o seu trabalho de alfabetizar letrando: 25 1ª PRESSUPOSTO - Embora alfabetização e letramento sejam ações distintas, “o ideal seria alfabetizar letrando. Ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado” (SOARES, 1998, p. 47). 2ª PRESSUPOSTO - “As crianças que vivem numa cultura letrada, na qual podem presenciar ou vivenciar situações significativas de uso da leitura ou escrita, aprendem sobre a linguagem escrita mesmo antes de aprenderem a ler e a escrever convencionalmente” (BRASIL, 2006, p.87). 3ª PRESSUPOSTO - “É fundamental conhecermos as condições de letramento em que vivem as crianças e suas famílias, utilizando esse conhecimento como ponto de partida para ampliarmos, na Educação Infantil, as possibilidades de as crianças cultivarem práticas sociais de leitura e escrita” (BRASIL, 2006, p.87). 4ª PRESSUPOSTO - Para alfabetizar letrando, o professor precisa saber: “(1) o que é alfabetização, articulando tal conceito ao de letramento, para garantir, de fato, a formação de alunos leitores e produtores de diferentes espécies de textos; (2) o que é a escrita alfabética, além de compreender o que é texto, gênero textual e ter concepção clara sobre os princípios gerais a serem adotados nos processos de ensino e de aprendizagem; (3) quais são as hipóteses que os alunos elaboram e, conseqüentemente, o que sabem e não sabem ainda sobre a escrita alfabética, sabendo diagnosticar com clareza o grau de conhecimento que possuem sobre o sistema, além de conhecer o grau de letramento desses alunos e os tipos de evento de letramento de que fazem parte; (4) os percursos que fazem na apropriação desse sistema e as estratégias de aprendizagem que utilizam, articulando a aprendizagem do sistema às aprendizagens gerais sobre o funcionamento da língua e sobre os textos; (5) os tipos de intervenção didática que são utilizados para ajudá-los a percorrer esses caminhos, assim como as conseqüências dessas diferentes intervenções pedagógicas” (LEAL, 2005, p.90). Antonio Sérgio Leite também enumera alguns princípios que considera básicos para que o professor tenha êxito na sua função de alfabetizar letrando: • a definição dos objetivos da alfabetização, que devem ser pensados na perspectiva da formação da consciência crítica; • a consideração da afetividade como dimensão básica no processo de alfabetização; • a organização coletiva na escola como condição para o sucesso na alfabetização; 26 • a sistematização do trabalho pedagógico do professor em sala de aula (LEITE, 2010). Em síntese, para este estudioso: Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (...dos professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a utilização da escrita verdadeira nas diversas atividades pedagógicas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece numa determinada situação discursiva. (LEITE, 2010, p. 25). Para a professora alfabetizadora, Luciana Maria Giovanni, motivação, ação e conhecimento devem ser os principais eixos metodológicos da organização de “situações significativas de leitura e escrita”: A MOTIVAÇÃO deve ser o ponto de partida da prática alfabetizadora, e ela se dá por meio de atividades que possibilitam a expressão, discussão e compreensão do que os alunos já sabem ou fazem. A apresentação de novos desafios, através de atividades e situações práticas, deve permitir aos alunos novas vivências e AÇÕES que, então, devem ser analisadas (com perguntas, busca de respostas, estudos) e, assim, possam favorecer a interiorização dessa ação, transformando-a em CONHECIMENTO, que amplia ou modifica o referencial inicial do aluno (CERDAS, 2012, p. 36). Ana Teberosky, por sua vez, recomenda que as práticas de alfabetização devem considerar atividades distintas para diferentes aspectos da linguagem. Assim, o professor precisa considerar que algumas atividades têm como objetivo criar condições para que as crianças avancem na compreensão das regras do sistema alfabético; outras se destinam à aprendizagem das convenções sobre o uso do sistema; e outras para que interpretem e usem a linguagem escrita. Todas elas, entretanto, precisam se basear em textos, tendo como ponto de partida a compreensão e a expressão da linguagem 27 MULTIMÍDIA E você, o que acha ser necessário para que de fato as crianças, jovens e adultos, se apropriem da língua escrita e compreendamos seus usos e funções? Convido você, agora, a assistir à entrevista com a professora Magda Soares sobre Métodos de alfabetização a fim de ampliar ainda mais o seu repertório de conhecimentos sobre o assunto e, assim, poder pensar em práticas pedagógicas que possam favorecer a aprendizagem da leitura e da escrita por crianças, jovens e adultos. REFERÊNCIAS BRASIL/MEC/ SEB. LIVRO DE ESTUDO: Módulo IV. Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a Distância, 2006. (Coleção PROINFANTIL; Unidade 6). CERDAS, Luciene. PRÁTICAS E SABERES DOCENTES NA ALFABETIZAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: contribuições de pesquisas contemporâneas em educação. 2012. Tese (Doutorado). Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, São Paulo, 2012. COLELLO, S. M. G. Alfabetização e letramento: o que será que será? . In: ARANTES, V. A. (org.) ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2010. GIOVANNI, L. M. O trabalho do professor alfabetizador: organização do ensino e consequências para a aprendizagem. In: MICOTTI, M. C. de O. (org.) ALFABETIZAÇÃO ESTUDOS E PESQUISAS. Rio Claro: UNESP, 1996 (Curso de especialização “Alfabetização” do Departamento de Educação Instituto de Biociências de Rio Claro). LEAL, Telma Ferraz. Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola. In: MORAIS, Artur Gomes; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de; LEAL, Telma Ferraz (Orgs.). ALFABETIZAÇÃO: apropriação do sistema de escrita alfabética. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 28 LEITE, Sérgio Antonio da Silva, COLELLO, Silvia M. Gasparian; ARANTES, Valéria Amorim (org.) ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: PONTOS E CONTRAPONTOS. São Paulo: Summus, 2010. LEITE, E. C. M.; TASSONI, S.A. da S. Afetividade e ensino. In: In: SILVA, E. T. da (org.) ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: questões e provocações da atualidade. Campinas/SP: Autores Associados, 2007. SMITH, Frank. LEITURA SIGNIFICATIVA. Porto Alegre: Artmed, 1997. ______. COMPREENDENDO A LEITURA: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. Porto Alegre: Artmed, 2003. SOARES, Magda Becker. LETRAMENTO: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 29 TÓPICO 02: IMPORTÂNCIA DA LEITURA E DA ESCRITA DE GÊNEROS TEXTUAIS DIVERSOS E DO USO DE PORTADORES SOCIAIS DE TEXTO VERSÃO TEXTUAL Caros estudantes, O trabalho com diferentes gêneros textuais e portadores sociais de texto é uma importante estratégia para que o professor possa tornar mais significativa a aprendizagem da língua escrita. Neste tópico, iremos entender melhor a distinção entre gêneros textuais e portadores de textos, bem como a sua potencialidade na função de alfabetizar letrando as crianças. Para começo de conversa, é importante não confundir... GÊNEROS TEXTUAIS “São textos definidos por uma (ou mais de uma) razão determinada em uma situação comunicativa (um contexto) para promover uma interação específica” (BAKHTIN, 2003, p. 25). São unidades textuais construídas em razão de seus conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição tendo em vista o objetivo que cumprem no contexto comunicativo. Como ressalta Bakhtin (2003), os gêneros textuais são definidos, principalmente, por sua função social. Em março de 2013, Rita Jover-Faleiros, consultora da Fundação Victor Civita na área de Língua Portuguesa, ao tratar sobre o conceito de gênero textual e seu uso em aula, em artigo publicado pela Revista Nova Escola, destacou: “cada vez que produzo um texto, seleciono um gênero em função daquilo que desejo comunicar; em função do efeito que desejo produzir em meu interlocutor; em função da ação que desejo produzir no meio em que me inscrevo”. Neste sentido, é impossível definir o número exato de gêneros textuais existentes em qualquer sociedade letrada como a nossa! São exemplos de gêneros textuais: Resumo, Resenha, Biografia, Diário, Relato de viagem, Fábula, Conto de fadas, Editorial, Relatório, Ofício e Receitas. Que outros exemplos você acrescentaria a essa lista? Atenção: Consulte artigo de Rita Jover-Faleiros, na íntegra, clicando Aqui. [1] PORTADORES DE TEXTOS “São objetos que, contendo diversos produtos, possuem marcas escritas” (TEBEROSKY e COLOMER, 2003, P.38). Na verdade, são todos os objetos que apresentam algo que possa ser lido ou quaisquer objetos impressos que levem um texto impresso ou manuscrito. Neste sentido, no ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 03: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 30 cotidiano, as pessoas entram constantemente em contato com portadores que veiculam diferentes gêneros textuais, mesmo antes de frequentar uma instituição formal de educação como a escola. São exemplos de portadores de texto: dicionário, livro didático de Matemática, livro didático, livro de receita culinária, jornal de notícia, cartão de Natal, convite de aniversário, manual de instruções de eletrodoméstico, manual de instruções de jogo, jornal com propaganda comercial, encarte com propaganda eleitoral, Bíblia etc. Que outros exemplos você acrescentaria a essa lista? Você conhece o documento PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN): LÍNGUA PORTUGUESA, referente às quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, publicado pelo Ministério da Educação em 1997? Como seu nome indica, trata-se de um documento cujo objetivo é servir de referência, fonte de consulta e objeto para reflexão e debate por professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, neste caso, sobre o trabalho na área de língua portuguesa. O trabalho com gêneros textuais figura nessa publicação como um dos fortes aliados para o trabalho de alfabetização e letramento. Neste sentido, esclarece que: Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero. (...) A noção de gêneros refere-se a “famílias” de textos que compartilham algumas características comuns, embora heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado (BRASIL, 1997, p. 23). Bom, se todo texto pertence a um determinado gênero, você deve estar se perguntando: VERSÃO TEXTUAL • Que gêneros trabalhar com as crianças para contribuir adequadamente com a sua alfabetização e letramento? • Como oferecer textos de diferentes gêneros a crianças que ainda não sabem ler? A pesquisadora Maria Elisa de Araújo Grossi também fez essas mesmas indagações a uma professora que trabalhava com crianças de 6 anos de idade em uma escola da rede pública municipal de Belo Horizonte. Além de entrevistar a professora, ela realizou várias observações das aulas dadas por essa professora. As informações coletadas por meio da entrevista e das observações foram sistematizadas em forma de uma tabela que aponta não 31 apenas o gênero utilizado, mas também o suporte, o domínio, o contexto de circulação e a função. A seguir, você poderá conferir os gêneros trabalhados em sala de aula pela professora investigada durante um dia: QUADRO 1 - GÊNEROS TEXTUAIS TRABALHADOS EM SALA DE AULA DATA (Quando foi realizada a observação?) GÊNERO TEXTUAL (Que tipo de texto?) SUPORTE (Onde está o texto?) DOMÍNIO (Que esferas particulares da atividade humana congregam esse texto?) CONTEXTOS POSSÍVEIS DE CIRCULAÇÃO (Em que espaço social circula o texto?) FUNÇÃO (Com que finalidade o texto é usado?) 02/02/17 Lista de chamada Folha de papel Escolar Aulas/seminários/ cursos/ simpósios etc. Registro da frequencia Crachá Cartolina Vida cotidiana Escolar/ empresarial/ comercial Identificação/ reconhecimento do próprio nome Peça de teatro Livro Literário Vida cotidiana Diversão/ discussão de temas/ apreciação estética Lista de combinados da turma Cartolina EscolarEscolar Estabelecimento das regras do grupo para organizar o espaço de aprendizagem Conto: Menina bonita do laço de fita Livro/voz Literário Escolar/ bibliotecário/ vida cotidiana Experiência estética/ estimulação do imaginário/ desenvolvimento do letramento literário/ estudo das relações étnico-raciais Fonte: Grossi (2009, p. 130) De acordo com Grossi (2009, p. 137), a pesquisa realizada com a professora em Belo Horizonte “evidenciou que, para alfabetizar, a escola não precisa criar gêneros que circulam apenas nos limites da instituição, como se fazia nas cartilhas e em outros métodos de alfabetização, suportes de textos artificiais para ensinar a ler”. Por outro lado, a autora faz algumas considerações importantes para o trabalho com gêneros textuais: • a criança não deve ser exposta a uma grande variedade de gêneros, sem propostas de trabalho definidas para cada um; • a simples exposição a um gênero textual não permite que a criança entenda o funcionamento do sistema de escrita e se alfabetize; • o trabalho com qualquer gênero textual requer intervenções planejadas pelo professor para esse fim; • é preciso ter cuidado com as práticas de ensino voltadas para a mera definição dos diferentes gêneros textuais e o abandono da estratégia pedagógica essencial ilustrada pela pesquisa: a leitura e a escrita de textos autênticos (GROSSI, 2009). Ainda de acordo com Maria Elisa de Araújo Grossi, a utilização dos gêneros textuais na sala de aula possibilita uma aprendizagem mais significativa, abrindo a porta da escola para a vida que acontece fora dela. Alfabetizar com textos autênticos significa reconhecer a leitura e a escrita como práticas sociais; significa, ainda, dar continuidade ao desenvolvimento linguístico da criança, que se inicia antes da prática escolar (2009, p. 137). 32 Você concorda com essa opinião? Por quê? EXERCITANDO Inspirando-se no quadro construído por Maria Elisa de Araújo Grossi, realize um turno de observação em uma turma de crianças de 07 anos de idade (em escola pública ou privada) e complete as informações encontradas neste arquivo. (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) MULTIMÍDIA Para entender melhor a potencialidade do trabalho com gêneros textuais, convido você a assistir ao vídeo “Literatura e outros gêneros textuais no ciclo de alfabetização”. Para acessar o vídeo Clique aqui [2]. PARA SABER MAIS 1. Com base nos conhecimentos construídos até aqui, responda as seguintes questões: a) O que precisa ser considerado no planejamento do trabalho de alfabetização e letramento com crianças de seis anos de idade? Por quê? b) Compare a sua resposta com a opinião da estudiosa Isabel Cristina Alves da Silva Frade, lendo o texto “Formas de organização do trabalho de alfabetização e letramento (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)”. FÓRUM Para entender melhor o conjunto de saberes que o professor precisa ter para facilitar a alfabetização e o letramento de seus alunos, leia o texto, de autoria de Telma Ferraz Leal, intitulado “Fazendo acontecer: o ensino da escrita alfabética na escola (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)” e, em seguida, faça uma síntese das suas ideias centrais, destacando, sobretudo, aquelas que você não entendeu para esclarecê-las com o seu tutor e colegas de turma. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Responda a seguir as questões propostas: 1) Saber que alfabetização e letramento precisam ser inseparáveis nos remete ao seguinte questionamento: “Ótimo, mas como o professor pode dar conta disso?”. Esse tipo de questão indica preocupação com o planejamento e o uso do tempo nas rotinas escolares. Afinal, a instituição educativa tem outras funções além do ensino da língua escrita, não é mesmo? Há outras linguagens igualmente importantes que também 33 precisam ser incluídas nas rotinas. A propósito, que outras linguagens a instituição escolar também precisa focar o seu trabalho pedagógico? Por quê? 2) Para dar prosseguimento à nossa reflexão sobre os procedimentos que envolvem o planejamento do processo de alfabetização e letramento, considere a seguinte situação: você foi designado (a) para trabalhar com uma turma de Ensino Fundamental de crianças com idades entre 6 e 7 anos. Como a Educação Infantil não é pré-requisito para o ingresso no Ensino Fundamental, a maioria das crianças dessa turma está frequentando a escola pela primeira vez. Como você organizaria seu trabalho com essa turma? Que conteúdos da alfabetização elegeria para ensinar? Por que escolheria esses conteúdos? 3) Com base na leitura do texto “A abordagem metodológica no ensino da língua escrita (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)”, extraído da Coleção Instrumentos da Alfabetização (BRASIL, 2006), avalie a pertinência das respostas que você deu para a questão 2. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. M. O problema dos gêneros discursivos. In: ESTÉTICA DA CRIAÇÃO VERBAL. Tradução Paulo Bezerra . São Paulo: Martins Fontes. 2003. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Língua Portuguesa. Brasília: 1997. GROSSI, M. E. de A. A mediação alfabetizadora na produção de leitura e de escrita de gêneros e suportes textuais: o desafio de alfabetizar na perspectiva do letramento. REVISTA PAIDEIA. Univ. Fumec, Belo Horizonte, Ano 6, p.125-140, jan./jun.2009. TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. APRENDER A LER E A ESCREVER: uma proposta construtivista. Porto alegre: Artmed, 2003. FONTES DAS IMAGENS 1. http://novaescola.org.br/conteudo/194/o-que-e-um-genero-textual 2. http://tvescola.mec.gov.br/tve/video/salto-debate-2013--literatura-e- outros-generos-textuais-no-ciclo-de-alfabetizacao 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 34 TÓPICO 01: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL VERSÃO TEXTUAL Prezados estudantes, Finalizando a disciplina Alfabetização e Letramento, iremos conversar um pouco sobre algumas especificidades relacionadas às características dos sujeitos com quem o professor irá trabalhar: serão crianças bem pequenas que frequentam a Educação Infantil? Serão crianças maiores que já estão cursando os anos iniciais do Ensino Fundamental? Serão Jovens e Adultos que, por razões diversas (históricas, sociais, econômicas e políticas), tiveram de deixar a escola sem que aprendessem a ler e a escrever? Para cada grupo, o trabalho com a língua escrita assume características e objetivos distintos. Neste sentido, em cada um dos tópicos que compõem essa aula, iremos recorrer a um instrumento legal e normativo que orienta a organização curricular direcionada À Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e à Educação de Jovens e Adultos. As atividades, os vídeos e os textos sugeridos para subsidiar a reflexão sobre a alfabetização e o letramento nesses diferentes contextos constituem boas estratégias para que professores e futuros professores possam entender cada vez melhor o papel social que são chamados a desempenhar no tocante ao domínio do código escrito. PARA COMEÇO DE CONVERSA... Acredito que vocês já tenham lido vários textos de Paulo Freire. Nesse momento, gostaria de destacar o seguinte trecho: “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” (1984, p. 11). Tal afirmação nos remete a uma idéia já discutida nessa disciplina: as crianças começam a aprender antes de ingressar na creche, ainda nos primeiros dias de nascida. Nas interações que estabelecem com as pessoas que lhe são próximas, fazem leituras do mundo que a cercam mesmo antes de conhecerem o código alfabético de escrita. Desta forma, quando ingressam em uma instituição de Educação Infantil (creche ou pré-escola), já trazem consigo diversos conhecimentos, várias experiências, com diversas linguagens, inclusive a verbal.Vale ressaltar que essa compreensão também é válida para os bebês! A fim de conhecer o que as crianças já sabem e possibilitar que ampliem o repertório de aprendizagens que já possuem, as professoras (historicamente, as mulheres têm sido maioria na docência na primeira etapa da Educação Básica!), precisam ser boas observadoras e boas ouvintes. REFLEXÃO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO AULA 04: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS 35 Como já estudado, as pesquisas de Emília Ferreiro revelam, desde o início dos anos de 1980, com a publicação da obra “A psicogênese da língua escrita”, que as crianças constroem hipóteses sobre a escrita mesmo sem saber ler e escrever. Mas como isso é possível? De onde surgem essas hipóteses? Bom, primeiramente é importante destacar que: - todas as crianças são capazes de aprender desde que lhe sejam dadas as condições necessárias; - Educação Infantil refere-se às ações de cuidado e educação às crianças de zero a cinco anos de idade, em creches e pré-escolas; - há uma estreita relação entre a expressão motora, a oralidade, a leitura e a escrita; - brincando, um bebê explora as coisas ao seu redor e, com isso, constrói conhecimentos; - “desde bebês, as crianças investigam os objetos, o que eles fazem e o que se pode fazer com eles. Um bebê, por exemplo, põe na boca, bate, chacoalha ou joga um objeto para ver o que acontece. Tais atos revelam suas hipóteses, que vão emergindo na ação com os objetos. Com as palavras é a mesma coisa” (KISHIMOTO, 2010, p. 22); - compreender as crianças como sujeito ativo na construção de conhecimentos e não como receptoras passivas de informações implica em uma transformação substancial na forma do professor entender como elas aprendem a ler e a escrever. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), documento já referido na aula 02 desta disciplina, pensar a criança como sujeito ativo do processo de aprendizagem da língua escrita tem sérias implicações nas práticas pedagógicas desenvolvidas em creches e pré-escolas: A constatação de que as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se supunha e de que elaboram hipóteses originais na tentativa de compreendê-la amplia as possibilidades de a instituição de educação infantil enriquecer e dar continuidade a esse processo. Essa concepção supera a idéia de que é necessário, em determinada idade, instituir classes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. Aprender a ler e a escrever fazem parte de um longo processo ligado à participação em práticas sociais de leitura e escrita (BRASIL, 1998, p. 123). Considerando, ainda, o objetivo da primeira etapa da Educação Básica, recorreremos, agora, ao que determina a Resolução Nº 5, de 17 de dezembro de 2009, do Conselho Nacional de Educação, que fixa as Diretrizes 36 Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, no tocante às especificidades das práticas pedagógicas com crianças tão pequenas: ART. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que: I - PROMOVAM O CONHECIMENTO DE SI E DO MUNDO POR MEIO DA AMPLIAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS, EXPRESSIVAS, CORPORAIS QUE POSSIBILITEM MOVIMENTAÇÃO AMPLA, EXPRESSÃO DA INDIVIDUALIDADE E RESPEITO PELOS RITMOS E DESEJOS DA CRIANÇA; II - FAVOREÇAM A IMERSÃO DAS CRIANÇAS NAS DIFERENTES LINGUAGENS E O PROGRESSIVO DOMÍNIO POR ELAS DE VÁRIOS GÊNEROS E FORMAS DE EXPRESSÃO: GESTUAL, VERBAL, PLÁSTICA, DRAMÁTICA E MUSICAL; III - POSSIBILITEM ÀS CRIANÇAS EXPERIÊNCIAS DE NARRATIVAS, DE APRECIAÇÃO E INTERAÇÃO COM A LINGUAGEM ORAL E ESCRITA, E CONVÍVIO COM DIFERENTES SUPORTES E GÊNEROS TEXTUAIS ORAIS E ESCRITOS; IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaçotemporais; V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade; VIII - INCENTIVEM A CURIOSIDADE, A EXPLORAÇÃO, O ENCANTAMENTO, O QUESTIONAMENTO, A INDAGAÇÃO E O CONHECIMENTO DAS CRIANÇAS EM RELAÇÃO AO MUNDO FÍSICO E SOCIAL, AO TEMPO E À NATUREZA; IX - PROMOVAM O RELACIONAMENTO E A INTERAÇÃO DAS CRIANÇAS COM DIVERSIFICADAS MANIFESTAÇÕES DE MÚSICA, ARTES PLÁSTICAS E GRÁFICAS, CINEMA, FOTOGRAFIA, DANÇA, TEATRO, POESIA E LITERATURA; X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; XI - PROPICIEM A INTERAÇÃO E O CONHECIMENTO PELAS CRIANÇAS DAS MANIFESTAÇÕES E TRADIÇÕES CULTURAIS BRASILEIRAS; XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, 37 Visando superar o viés assistencialista que a Educação Infantil assumiu durante muito tempo, sobretudo, quando destinada às crianças pobres, e o viés escolarizante, predominantemente, na pré-escola, o Art. 9º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009) apontam o papel central que as brincadeiras e as interações precisam ocupar nas práticas pedagógicas cotidianas e, especialmente, nos incisos destacados (I, II, III, VIII, IX e XI), as experiências que precisam ser propiciadas às crianças para que possam se desenvolver plenamente e construir conhecimentos, com destaque aqui, para a linguagem verbal (oral e escrita). Desta forma, mesmo não sendo objetivo da Educação Infantil alfabetizar as crianças e tampouco prepará-las para o ingresso no Ensino Fundamental, assim como as demais formas de expressão, a linguagem oral e escrita também precisa fazer parte da rotina diária das creches e pré-escolas. Neste caso, a sua presença no contexto da Educação Infantil está vinculada a qual finalidade? A estudiosa Mônica Correia Baptista nos ajuda a refletir sobre essa questão estabelecendo relações entre a linguagem escrita e o direito da criança à educação. Vejamos, então, que argumentos a autora apresenta para justificar a inclusão da linguagem escrita no universo de crianças na faixa etária de zero a cinco anos. LEITURA COMPLEMENTAR Leia o texto "A linguagem escrita e o direito à educação na primeira infância (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)" de Mônica Correia Batista É importante lembrar: Não se espera que as crianças dominem o sistema alfabético da escrita na Educação Infantil, quando frequentam creches e pré-escolas, mas que aprendam a pensar sobre ele, criem o gosto de escrever e encontrem recursos para fazê-lo, considerando as práticas da cultura que envolvem a escrita. Daí a importância do professor organizar atividades prazerosas de contato com diferentes gêneros escritos, como a leitura diária de livros pelo professor, e o incentivo à criança, desde cedo, para manusear livros e revistas e produzir “textos”, mesmo sem saber ler e escrever. Neste sentido, o Conselho Nacional de Educação, ao revisar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, em seu Parecer Nº.20/2009, adverte: As propostas curriculares da Educação Infantil devem garantir que as crianças tenham experiências variadas com as diversas linguagens, reconhecendo que o mundo no qual as crianças estão inseridas, por força da própria cultura, é amplamente marcado por imagens, sons, falas e ESCRITAS. Nesse processo, é computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos (BRASIL, 2009, grifos meus). 38 preciso valorizar o lúdico, as brincadeiras e as culturasinfantis (BRASIL, 2009, p. 22). Com certeza, você já deve ter entendido bem que é direito de todas as crianças, desde a creche, o contato com a língua escrita. No entanto, conhecendo a finalidade da Educação Infantil e as características das crianças de zero a cinco anos idade, você também já aprendeu que: As ações pedagógicas relacionadas à linguagem escrita deveriam ser consideradas apenas como mais uma das múltiplas dimensões a serem levadas em conta na organização das rotinas diárias e dos planejamentos mensais e anuais das creches, pré- escolas e escolas que têm turmas de Educação Infantil (BRASIL, 2006, p. 36). MULTIMÍDIA Para entender um pouco sobre o trabalho com a língua escrita na primeira etapa da educação básica, assista ao vídeo “EMILIA FERREIRO: O QUE AS CRIANÇAS PODEM APRENDER NA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE LEITURA E ESCRITA” e faça uma síntese sobre os conhecimentos que as crianças podem construir sobre a leitura e a escrita na primeira etapa da Educação Básica e como o professor pode facilitar esse processo. Você sabia que: - A roda de histórias é uma atividade que propicia um encontro agradável da criança pequena com a linguagem escrita, por meio da leitura diária de histórias pelo professor? - A experiência contínua, organizada e intencional de ouvir a leitura de histórias possibilita às crianças aprender procedimentos e comportamentos de leitores, ou seja, ações típicas das pessoas que já sabem ler convencionalmente? - Nos momentos dedicados às histórias, os professores tanto atuam como leitores, quanto como escribas, apoiando as crianças na produção de textos e isso contribui para a organização de suas primeiras ideias sobre o sistema de escrita? - Conforme o professor organiza situações que estimulem às crianças a se “arriscarem” a ler e a escrever, por conta própria, está ajudando-as na organização das primeiras ideias sobre o sistema de escrita? Convido você a ler o depoimento, abaixo, de Magda Soares, sobre a relação prazerosa que as crianças precisam construir com os livros e o papel do professor nesse processo: Uma das facetas importantes do processo de letramento, sobretudo no plano atual, é 39 CONSEGUIRMOS CONTAMINAR AS CRIANÇAS COM O PRAZER DE LER O LIVRO, COM O GOSTO DA LEITURA, COM A PAIXÃO DA LEITURA, que a gente tem perdido muito. E há razões para isso, que não interessa dizer aqui. Nós temos trabalhado muito o livro como um objeto cultural, e não só o livro como portador de texto, mas o livro como objeto cultural. A GENTE FAZ AS CRIANÇAS CHEIRAREM O LIVRO, PEGAREM O LIVRO, VER QUE O LIVRO É UM OBJETO QUE TEM SUAS PARTES, COMO NÓS TEMOS O ROSTO, AS COSTAS, AS PERNAS, OS BRAÇOS. O livro tem a lombada, a capa, a quarta capa, e as crianças gostam muito disso. A ponto de vermos, frequentemente, crianças chegarem à biblioteca da escola e pedirem assim: "Essa semana eu quero levar para casa um livro, mas eu quero um livro que tenha lombada". E eu perguntei a uma criança: "Por que você quer um livro que tenha lombada?"; "Porque ele fica em pé." Esses livros infantis são muito fininhos, tanto que, na nossa biblioteca, eles ficam expostos; mas o livro mais grosso, de capa dura, ele fica em pé. E a criança queria um livro que tivesse lombada, e vemos como é importante isso: a criança tem uma relação com o livro, que é uma relação com o objeto cultural (SOARES, 2009). Para que o professor consiga contaminar as crianças com o prazer pela leitura, ele precisa estar contaminado também. FÓRUM A Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Cecília Goulart, também aborda esse tema em suas pesquisas. Em entrevista concedida a TV Escola, do Ministério da Educação, em 06 de fevereiro de 2004, fez uma advertência importante ao professor que trabalha na Educação Infantil e que tem, portanto, dentre as suas tarefas, a responsabilidade de incentivar as crianças a se tornarem leitoras: É muito difícil a gente dar o que a gente não tem. Cada um de nós só dá o que tem. Um professor que não lê e não escreve, é muito difícil que ele passe o prazer pela leitura e pela escrita. E não é só prazer, é também o desejo e a necessidade, porque a gente precisa saber que um conhecimento é necessário para querer se apropriar dele. Então, o professor que lê e que escreve, ele vibra com aquele conhecimento que ele tem, ele sabe para que aquilo serve, sabe qual é o papel da leitura e da escrita na vida dele. Esse professor, ele vai trabalhar com 40 essas crianças, passando isso na corrente pedagógica, essa "corrente sanguínea" que alimenta e umidifica a escola. Ele vai estar passando para as crianças a alegria de ler e escrever, a necessidade o desejo de ler e escrever (CECÍLIA GOULART). Você concorda com a opinião de Cecília Goulart: “Um professor que não lê e não escreve, é muito difícil que ele passe o prazer pela leitura e pela escrita”? Por quê? Divulgue sua opinião no fórum, comente a opinião dos seus colegas, reflita junto ao seu tutor esta realidade. Para conferir a entrevista completa com a professora Cecília Goulart, clique aqui [1]. REFERÊNCIAS BRASIL, MEC/Secretaria de Educação Fundamental/Coordenação Geral de Educação Infantil. REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasília, 1998. BRASIL, MEC. Secretaria de Educação Básica/ Secretaria de Educação a Distância. LIVRO DE ESTUDO: Módulo IV. Brasília, 2006(Coleção PROINFANTIL; Unidade 6). BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Conselho Nacional de Educação, PARECER Nº. 20/2009. Brasília: MEC/CNE, 2009. _____. RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 5. Brasília: MEC/CNE, 2009. FREIRE, Paulo. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER EM TRÊS ARTIGOS QUE SE COMPLETAM.São Paulo: Editora Autores Associados, 6ª edição, 1984. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Alfabetização e letramento/literacia no contexto da educação infantil: desafios para o ensino, para a pesquisa e para a formação. REVISTA MÚLTIPLAS LEITURAS, v. 3, n. 1, p. 18-36, jan. jun. 2010. NUNES, Lygia Bojunga. LIVRO, UM ENCONTRO COM LYGIA BOJUNGA NUNES. Rio de Janeiro: Agir, 1988. SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. In: BRASIL/MEC/TV ESCOLA. ENTREVISTAS. Brasília: MEC, 21/09/2009. Disponível em: http://tvescola.mec.gov.br/tve/salto/interview;jsessionid=C66C4B33F8CEC7AEC987785B479CE894? idInterview=8281 [2]. Acesso em: 28/09/2015. FONTES DAS IMAGENS 41 1. http://tvescola.org.br/tve/salto- acervo/interview;jsessionid=F1878C1853375644A984C63B6B245522? idInterview=8262 2. http://tvescola.mec.gov.br/tve/salto/interview;jsessionid=C66C4B33F8 CEC7AEC987785B479CE894?idInterview=8281 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Maria José Barbosa Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 42 TÓPICO 02: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO CONTEXTO DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Se há na Educação Infantil alguns mitos, mal entendidos e dissensos sobre o trabalho com a linguagem escrita e sobre o uso dos termos alfabetização e letramento no trabalho com bebês e crianças bem pequenas, o mesmo não se aplica ao Ensino Fundamental. Para conhecer e entender melhor alguns desses mitos, mal entendidos e dissensos, leia o artigo “A linguagem Escrita e as crianças - Superando Mitos na Educação Infantil [1] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)”, de Silvana de Oliveira Augusto. A Resolução Nº 7, de 14 de dezembro de 2010, do Conselho Nacional de Educação, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos (BRASIL, 2010), é bastante enfática: As propostas curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores, mediante os objetivos previstos para esta etapa da escolarização, a saber: I - o desenvolvimento da capacidade