Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE GESTANTES Disciplina: Avaliação Nutricional Profa. Lilian Uchoa Carneiro Nutricionista Mestre em Ciências Fisiológicas lilian.carneiro@estacio.br Gestação • Período marcado por intensas adaptações: • Psicológicas; • Endócrinas; • Metabólicas; • Sistema cardiorrespiratório; • Sistema urinário. Transformações do organismo na gestação • Pequenos e contínuos ajustes fisiológicos; • Afetam vários aparelhos e sistemas: • Aumento do débito cardíaco; • Hiperventilação. • Ajustes no metabolismo de todos os nutrientes; • Construção de novos tecidos; • Deposição e acréscimo de tecido já existente; • Aumento da taxa metabólica: • No final da gestação, maior demanda de O2 e produção hormonal → metabolismo basal está 15 a 20% maior. Transformações do organismo na gestação • ↑ 50% na expansão do volume plasmático com ↑ 20% no conteúdo de hemoglobina: • Diluição fisiológica → ↓ 20% na concentração de hemoglobina e 15% no hematócrito; • VCM e HCM permanecem inalteradas em mulheres não-anêmicas. • ↑ dos níveis de estrogênio e progesterona: • Hiperventilação para suprir o aumento de 20% das necessidades de O2. Assistência pré-natal Toda mulher deve receber assistência pré-natal adequada, de qualidade e humanizada: • Preparação para o parto, nascimento e puerpério; • Prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças; • Vigilância do crescimento e vitalidade fetal; • Vigilância nutricional da gestante; • Orientações para hábitos saudáveis e de higiene; • Incentivo ao aleitamento materno; • Assistência psicológica. Importância da assistência pré-natal • Acompanhamento dos fatores que podem modificar ou interferir na gestação; • O estado nutricional materno, antes e durante a gestação, é fator fundamental para a saúde da mãe e bebê; • Segundo o Ministério da Saúde (MS): • Toda gestante deve ter seu estado nutricional avaliado durante a gestação como rotina do pré-natal. Calendário de consultas no pré-natal • Iniciar o pré-natal o mais precocemente possível: • Ainda no 1º trimestre de gestação. • No mínimo 6 consultas, com acompanhamento intercalado entre médico e enfermeiro: • Até a 28ª semana → mensalmente; • Da 28ª semana até a 34ª → quinzenalmente; • Da 36ª até a 41ª semana → semanalmente. • O ideal seria consulta com nutricionista em todos os momentos. Caderneta da Gestante Importância do acompanhamento nutricional durante a gestação • Identificar as gestantes em risco nutricional no início da gestação: • Baixo peso, sobrepeso ou obesidade. • Detectar o ganho de peso insuficiente ou excessivo para a idade gestacional; • Realizar orientação individualizada e adequada: • Melhorar o estado nutricional materno, suas condições para o parto e do nascimento. Acompanhamento nutricional da gestante • Realizar avaliação nutricional ao longo do acompanhamento pré-natal: • Controlar o ganho ponderal durante a gestação. • Alimentação adequada e ganho de peso suficiente durante a gestação → eutrofia ou normalidade nutricional → ↓ morbimortalidade infantil; • Desnutrição/sobrepeso e obesidade → ↑ risco de resultados obstétricos desfavoráveis ou de complicações gestacionais. Problemas nutricionais mais prevalentes • Atenção especial do MS → programas de suplementação alimentar; • Aborto • Baixo peso ao nascer (BPN); • ↑ risco de nascimentos pré-termo; • Restrição de crescimento intrauterino; • Maior suscetibilidade a infecções → anemia, anorexia, perda de peso; • Mortalidade neonatal/pós-neonatal/infantil. Baixo peso/desnutrição Problemas nutricionais mais prevalentes • ↑ risco de resultados obstétricos desfavoráveis ou de complicações gestacionais: • Diabetes gestacional; • Hipertensão arterial → pré-eclâmpsia e eclâmpsia; • Macrossomia fetal; • Complicações no parto; • Necessidade de parto cirúrgico; • Maior risco de infecção urinária; • ↑ chances de mortalidade materna e neonatal. Sobrepeso/obesidade N = 5908 Maior ganho de peso materno no início da gestação (1º trimestre) está associado a maior IMC, massa total de gordura, gordura abdominal e subcutânea e pressão arterial sistólica da prole aos 6 anos de idade. Conclusão: Maior IMC materno pré-gestacional e taxa de ganho de peso no início da gestação estão associados a maior IMC, circunferência da cintura, razão cintura-quadril, pressão arterial sistólica, glicose, insulina e HOMA-IR em adolescentes, e portanto, a um perfil cardiometabólico de risco nesta faixa etária. Avaliação nutricional da gestante Avaliação clínica • Sinais e sintomas de deficiências nutricionais Avaliação dietética • Avaliação do consumo alimentar; • Investigação de sinais e sintomas digestivos (hiperêmese gravídica, picamalácia, náuseas, azias, entre outros). Avaliação bioquímica • Deficiências nutricionais (ex.: anemia); • Avaliação da glicemia. Avaliação antropométrica • Estado nutricional prévio; • Ganho de peso gestacional; • Perímetro braquial; • Altura uterina. Limitações e desafios na avaliação nutricional de gestantes • Crescimento intrauterino restrito e prematuridade podem ocorrer devido à má transferência placentária de nutrientes, mesmo em mulheres bem nutridas; • Medidas pré-gestacionais acuradas pouco disponíveis; • Dificuldade de medida; • Cuidados com edemas; • Procura tardia da mulher pelo pré-natal; • Ausência de curvas brasileiras de ganho de peso gestacional. Avaliação clínica • Dados socioeconômicos: • Idade (< 17 e > 35 anos); • Grau de instrução; • Profissão/ocupação; • Renda familiar per capita; • Situação conjugal; • Condições de moradia (tipo, nº cômodos); condições de saneamento (água tratada, esgoto e coleta de lixo). • Antecedentes familiares e pessoais da gestante: • História de hipertensão arterial; • Diabetes, doença coronariana, doença renal. • Hábitos e estilo de vida: tabagismo, alcoolismo, uso de drogas, atividade física; • Investigação de sinais e sintomas de deficiências nutricionais. Avaliação dietética • Métodos de avaliação do consumo alimentar: • Registro alimentar; • Recordatório de 24h; • Questionário de frequência do consumo alimentar. • Investigar tabus, hábitos, intolerâncias e alergias alimentares; • Modificações alimentares na gestação; • Investigação de sinais e sintomas digestivos: • Hiperêmese gravídica, picamalácia, náuseas, vômitos, azia, etc. Avaliação dietética • Nº e frequência das refeições; • Composição das refeições; • Grupos e quantidades alimentares presentes; • Consumo de: • Refrigerantes; • Bebidas alcoólicas; • Infusões em geral; • Alimentos ricos em carboidratos simples e gorduras saturadas e trans; • Consumo de produtos light/diet e uso de edulcorantes. Avaliação bioquímica • Tipo sanguíneo; • Sorologia para sífilis, HIV e hepatites B e C; • Hemograma: • CUIDADO: diluição fisiológica!! • Toxoplasmose; • Glicemia jejum; • Teste oral de tolerância à glicose (TOTG); • Urina; • Protoparasitológico. Avaliação antropométrica • Parâmetros antropométricos mais utilizados: • IMC pré-gestacional; • Ganho de peso gestacional; • Estatura materna; • Perímetro braquial; • Altura uterina. Estatura materna • Gestante adulta: • Medir apenas 1 vez no início da gestação ou na 1ª consulta. • Gestante adolescente (<20 anos): • Aferir pelo menos 1 vez por trimestre. • Baixa estatura → complicações obstétricas, trabalho de parto prolongado, parto cirúrgico, restrição de crescimento intrauterino. Estatura materna Postura alterada (lordose gestacional) → Alteração da estatura Perímetro braquial • Utilizado na ausência de recursos para aferir o peso; • Reflete o estado nutricional prévio à gestação (principalmente) e o atual; • Medida tende a ser estável durante a gestação, se o ganho de peso for adequado; • Valores entre 21 e 23,5 cm → resultados desfavoráveis (↑ risco de BPN) Como avaliar o estado nutricional e o ganho ponderal da gestante? Primeira consulta: 1º passo– Calcular o IMC pré-gestacional: • Permite avaliar o estado nutricional prévio e calcular a necessidade de ganho de peso total recomendado até o final da gestação; • Relação com peso da criança ao nascer e desfecho gestacional; • O peso pré-gestacional (PPG) pode ser obtido de várias formas: • Peso aferido antes da concepção (no máximo 2 meses antes) é ideal; • Peso aferido até a 13ª semana gestacional (atenção); • Peso referido (viés de memória); • Registro médico (sujeito a erro). Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG • IG é o tempo de gestação → número de semanas gestacionais; • Como estimar a IG? • Quando a data da última menstruação (DUM) é conhecida e certa: • DUM corresponde ao primeiro dia de sangramento do último ciclo menstrual referido pela mulher; • É o método de escolha para se calcular a idade gestacional em mulheres com ciclos menstruais regulares e sem uso de métodos anticoncepcionais hormonais; • Calendário → some o número de dias do intervalo entre a DUM e a data da consulta, dividindo o total por sete (resultado em semanas); Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG DUM: 05/07/2019 Data da consulta: 03/09/2019 IG atual = 8 semanas e 5 dias = 9 semanas Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG • Regra de arrendondamento: • 1, 2 e 3 dias → considerar o nº de semanas completas; • 4, 5 e 6 dias → considerar a semana seguinte. • Ex.: Gestante com 12 semanas e 2 dias → 12 semanas; Gestante com 12 semanas e 5 dias → 13 semanas. Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG • Como estimar a IG? • Quando a data da última menstruação (DUM) é conhecida e certa: • Gestograma → coloque sobre o dia e o mês correspondentes ao primeiro dia e mês da DUM. Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG • IG < 14 semanas → 1º trimestre; • IG > 14 e < 28 semanas → 2º trimestre; • IG ≥ 28 semanas → 3º trimestre. Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG • Como estimar a IG? • Quando a data da última menstruação é desconhecida, mas se conhece o período do mês em que ela ocorreu: • Início, meio ou fim do mês, considere como DUM os dias 5, 15 e 25, respectivamente; Cálculo da idade gestacional (IG) 2º passo – Calcular a IG • Como estimar a IG? • Quando a mulher desconhece a data e o período da última menstruação, a idade gestacional e a data provável do parto serão, inicialmente, determinadas pelo obstetra ou enfermeiro obstetra pela: • Medida da altura do fundo do útero e pelo toque vaginal. Altura uterina • Reflete o tamanho global do útero; • Acompanhamento do crescimento fetal e a detecção precoce de alterações: • Pequeno para idade gestacional (PIG); • Grande para idade gestacional (GIG). • Estimativa de semana gestacional; • Ausência de curva de referência nacional. Curva de altura uterina • Curvas com o traçado acima da curva superior (P90) e com inclinação ascendente: • IG maior que a estimada; • Possibilidade de gestação múltipla; • Polidrâmnio (excesso de líquido amniótico); • Macrossomia (peso ao nascer > 4000 g) • Curvas abaixo do limite inferior com traçado descendente (P10): • IG abaixo da estimada; • Restrição de crescimento intrauterino. Ganho de peso materno durante a gestação Recomendação de ganho de peso gestacional Gestante adolescente Não existe classificação específica para a gestante adolescente; Estão em fase de crescimento e são consideradas biologicamente imaturas → a interpretação do gráfico deverá ser mais flexível; Considerar as idades cronológica e ginecológica: • Idade ginecológica > 2 anos de menarca → interpretação dos achados equivalentes às gestantes adultas; • Idade ginecológica < 2 anos de menarca: • Medir altura em todas as consultas; • Acompanhar o traçado da curva de crescimento que deverá ser ascendente; • Tratar como risco nutricional; • Enfatizar a abordagem nutricional. Recomendação de ganho de peso gestante adolescente Gestação Gemelar • Recomendação de ganho de peso provisório (IOM, 2009): • Peso adequado pré-gestacional → 17-25 kg • Sobrepeso pré-gestacional → 14-23 kg • Obesidade pré-gestacional → 11-19 kg Ganho de peso gestacional segundo IMC pré- gestacional • Simplicidade no uso; • Ganho de peso considera estatura e peso pré-gestacional; • Permite monitorar o ganho de peso nas consultas subsequentes; • Utilizada em diversos países; • Passou por revisão metodológica recente (2009). Vantagens • Depende da informação precisa do peso pré-gestacional; • Dados de origem de populações muito diferentes da brasileira.Desvantagens Curva de Atalah Estado nutricional na 1ª avaliação: BP – Baixo Peso A – Adequado S – Sobrepeso O - Obesidade Curva de Atalah Estado nutricional na 1ª avaliação: Baixo peso (BP): Inclinação da curva no gráfico: Ascendente maior que a curva que delimita a parte superior da faixa de BP Curva de Atalah Estado nutricional na 1ª avaliação: Adequado (A): Inclinação da curva no gráfico: Ascendente paralelas às curvas que delimitam a área “Adequado” no gráfico Curva de Atalah Estado nutricional na 1ª avaliação: Sobrepeso (S): Inclinação da curva no gráfico: Deve apresentar inclinação ascendente semelhante à curva que delimita a parte inferior desta faixa de sobrepeso ou à da curva que delimita a parte superior desta faixa, a depender do seu estado nutricional inicial. Ex.: se uma gestante de sobrepeso inicia a gestação com IMC próximo ao limite inferior dessa faixa, sua curva de ganho de peso deve ter inclinação ascendente semelhante à curva que delimita a parte inferior desta faixa no gráfico. Curva de Atalah Estado nutricional na 1ª avaliação: Obesidade (O): Inclinação da curva no gráfico: Ascendente, com inclinação semelhante ou inferior à curva que delimita a parte inferior da faixa de obesidade. Curva de Atalah (1997) – Proposta no Manual do Pré-Natal do MS, 2004 • Permite acompanhar o ganho de peso/semana gestacional = traçado da curva do IMC → intervenção • Permite avaliar a gestante em qualquer período gestacional; • Limite amplo de altura da gestante (70 cm a 2m); • Não precisa de informação de peso pré-gestacional. Vantagens • Não avalia o estado nutricional pré-gestacional; • Superestima baixo peso brasileiro.Desvantagens Recomendação de ganho de peso gestacional Observações: • Gestante que já atingiu o ganho de peso total recomendado, mas encontra- se ainda no 2º trimestre, recomendar ganho de peso mínimo saudável: • Baixo peso ou eutrofia pré-gestacional → 1 kg/mês; • Sobrepeso ou obesidade pré-gestacional → 0,5 kg/mês. Recomendação de ganho de peso gestacional Observações: • Gestantes com estatura < 1,57 m: • Programar ganho de peso no limite inferior. • Gestantes com estatura < 1,40: • Devem chegar ao final da gestação com 10-11 kg acima. Recomendação de ganho de peso gestacional Observações: • Gestantes adolescentes: • Verificar a estatura a cada 3 meses. • Considera-se como ganho súbito de peso um aumento > 500 g/semana. Resumindo... 1º passo – avaliação antropométrica: • Aferir peso e altura; • Calcular o IMC pré-gestacional; • Calcular a idade gestacional em semanas; • Calcular o ganho de peso total e semanal de acordo com a classificação do IMC e informar à gestante; • Classificar o estado nutricional por semana gestacional; • Traçar a curva de ganho peso no gráfico da curva de Atalah Resumindo... 2º passo – Avaliação completa do estado nutricional: • Avaliação clínica; • Avaliação dietética; e • Avaliação bioquímica. 3º passo – Conduta: • Prescrição dietética e orientação nutricional individualizada; • Solicitação de exames, caso seja necessário; • Encaminhamento para outros quando houver necessidade. Exercitando... Gestante M. A. S. procurou atendimento nutricional por conta própria a fim de ter uma gestação saudável. Faça a avaliação nutricional, segundo os dados e as medidas antropométricasfornecidos abaixo: DUM: 16/09/2020 Data da consulta: 08/11/2020 Idade gestacional = 7 semanas e 5 dias = 8 semanas Idade: 26 anos Escolaridade: ensino fundamental completo Peso atual: 61 kg Altura aferida na consulta: 160 cm IMC pré-gestacional = 23,83 kg/m²; eutrofia; ganho de peso total recomendado: 11,5-16 kg; Referências bibliográficas • CUPPARI, L. Nutrição clínica no adulto. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM-UNIFESP. 3ª ed. São Paulo: Manole, 2014. • SAMPAIO, L. R. Avaliação nutricional. 1ª ed. Salvador: EDUFBA, 2012 • DAVIS, A. B. V. Avaliação nutricional. 1ª ed. Rio de Janeiro: SESES, 2016.
Compartilhar