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TERAPIA NUTRICIONAL NA O pâncreas é um órgão situado atrás do estômago e produz as enzimas digestivas e o hormônio insulina. O fluxo de enzimas digestivas para o intestino delgado ajuda a digerir a comida e auxilia assim a absorção dos nutrientes. A insulina é liberada para o sangue, para controlar o nível de açúcar (glicose) no sangue. As doenças pancreáticas podem afetar significativamente o estado nutricional, em razão da dupla função desempenhada pelo órgão (exócrino e endócrino). A função exócrina afeta a digestão e a absorção dos nutrientes (destruição das células acinares, responsáveis por secretar as enzimas digestivas – má absorção – esteatorreia), enquanto a endócrina causa diabetes mellitus (destruição das células beta produtoras de insulina). Estes dois problemas exigem avaliação e intervenção nutricionais. A pancreatite é a inflamação do pâncreas e esta pode ser aguda ou crônica. Os fatores causais são: alcoolismo, cálculos biliares, predisposição genética, obstrução dos ductos pancreáticos (por: câncer, hipertrigliceridemia, estreitamento do ducto). O tratamento depende da gravidade da condição, e a dieta deve ser progredida da dieta zero até a oral com pouca gordura. Se a inflamação for extensa, as necessidades calóricas e proteicas são maiores por conta do catabolismo. Pancreatite Aguda A pancreatite aguda ocorre como um episódio súbito que gera inflamação e até sangramento do órgão. Nos casos graves esta inflamação pode se tornar generalizada causando danos a todo o organismo levando a pressão baixa (choque) e lesões de outros órgãos. É caracterizada por um processo inflamatório desencadeado pela ativação intrapancreática das enzimas digestivas, a pancreatite aguda apresenta graus variados de severidade, incluindo doença autolimitada leve, com edema intersticial do pâncreas, até uma doença grave, com necrose extensa e falência de múltiplos órgãos. O principal sintoma é a dor no meio do abdome, que acontece 12/24h após uma refeição. A dor é constante e acentuada. Outros sintomas são: febre, inchaço, vômitos. Em casos graves, o paciente pode ter sinais de choque (desidratação intensa), como: PA baixa, taquicardia, confusão mental, suor frio, redução da diurese. O objetivo primário da TN na pancreatite aguda é minimizar o catabolismo, evitando assim a instalação da desnutrição proteica energética ou o seu agravo. Dentre os objetivos da TN incluem-se também a Imunomodulação: minimizar a resposta pró-inflamatória. Na pancreatite leve, onde está indicada a alimentação oral, a dieta deve ser rica em carboidratos e proteínas e baixa em gorduras (menos de 30% da ingestão energética). RECOMENDAÇÕES: o Dieta zero por 48h (pois a alimentação vai causar dor); o Nos casos leves, pode ser refeições orais leves (líquidos e pouca gordura); o Nos casos graves, deve ser alimentação jejunal (após ângulo de Treitz) com fórmulas elementares (oligoméricas); o Se houver íleo paralitico é preferível a nutrição parenteral. A ESPEN recomenda de 1 a 1,5g/kg de peso de proteínas, 50% de carboidratos e 30% de lipídios do valor calórico total. Quando a sonda enteral for posicionada no jejuno, a recomendação é que a fórmula enteral seja normolipídica e com alto teor de TCM e também indica a inclusão dos ácidos graxos ômega-3. A dieta por via oral, recomendada para a pancreatite aguda leve, é baseada na tolerância digestiva sem grandes alterações. A terapia nutricional enteral, quando indicada, deve considerar o início precoce, infusão contínua, posicionamento da sonda enteral, tipo de fórmula, uso de fórmula hiperproteíca, normoglicídica e normolipídica, uso de triglicerídeos de cadeia média e de ácidos graxos ômega-3. Na pancreatite aguda grave, as diretrizes orientam a terapia nutricional enteral tendo como propósito melhorar a tolerância digestiva e modular a resposta inflamatória, além de reduzir o catabolismo proteico. A indicação da via parenteral só deve ocorrer na impossibilidade do uso do trato digestivo para a oferta de nutrientes de forma total ou parcial. As diretrizes brasileiras e a ESPEN referem que a dieta por via oral, quando indicada, deve ser rica em proteínas e carboidratos e com teor de lipídios menor que 30% das calorias ofertadas, pois na maioria dos casos esses pacientes têm a forma leve da pancreatite aguda e não apresentam alterações significativas do estado nutricional podendo receber dieta por via oral nutricionalmente equilibrada com adaptações conforme a tolerância digestiva. O oposto acontece na pancreatite aguda grave, na qual os pacientes apresentam hipermetabolismo catabólico podendo levar a desnutrição, nestes casos uma intervenção nutricional mais criteriosa mostra-se necessária. O uso de fórmulas enterais com imunomoduladores, prebióticos, probióticos, simbióticos não é recomendado, pois não existem estudos com força de evidência suficiente para recomendar com segurança, porém a diretriz brasileira recomenda o uso de ácidos graxos ômega 3 na nutrição enteral. Pancreatite Cronica A pancreatite crônica (PC) é caracterizada por lesões anatômicas de caráter irreversível e, muitas vezes, de forma progressiva, com substituição do parênquima funcional por tecido fibroso e calcificação do pâncreas. O paciente com pancreatite crônica apresenta riscos ao estado nutricional devido ao processo inflamatório crônico (leva a hipermetabolismo e hipercatabolismo). A dor (na região superior do abdome, sendo constante e piorada na ingestão alimentar) é o sintoma mais comum nesses pacientes, além de disfunção endócrina e exócrina. Além disso, podem apresentar náuseas, vômitos, perda de peso, esteatorreia. À medida que o pâncreas fica mais danificado, produz menos enzimas digestivas para o intestino. Como resultado, o corpo tem dificuldade de digerir alimentos e absorver os nutrientes podendo levar a desnutrição. A gordura não digerida no intestino leva a evacuações mais frequentes e com cheiro ruim (esteatorréia). Se o pâncreas é incapaz de produzir o hormônio insulina, pode ocasionar diabetes. Durante o curso da doença as células acinares vão morrendo, reduzindo gradualmente a secreção de enzimas digestivas, levando a má digestão e absorção. Em decorrência disso o paciente pode apresentar esteatorreia, diarreias volumosas, má absorção de vitaminas lipossolúveis. Além disso, pode ocorrer a má absorção proteica, resultando em azotorreia (aumento da quantidade de matéria nitrogenada na urina ou nas fezes). A destruição progressiva do pâncreas compromete a parte endócrina, dando origem ao diabetes. Com isso os pacientes costumam apresentar: poliúria, polidipsia, polifagia, que levam ao agravo do estado nutricional. Com a evolução persistente da pancreatite crônica, as funções endócrinas e exócrinas estão mais comprometidas, o estado geral do paciente se agrava, a dor exacerba, a ingestão de alimentos diminui, a perda de peso aumenta e a instalação da desnutrição proteico-energética é inevitável. Uma grave consequência da PC é a subnutrição, sendo os principais fatores que a provocam: a diminuição da ingestão alimentar, aumento da atividade metabólica (30 a 50%), disfunção na absorção dos nutrientes, dores abdominais, diabetes e o abuso contínuo do álcool. Na fase mais a avançada da PC, pode ocorrer a azotorreia (perda de proteína nas fezes). É bem documentado que a azotorreia só acontece quando a atividade secretora é de apenas 5 a 10% do normal. A perda excessiva de proteína pode ocorrer devido à inflamação da superfície peritoneal e retroperitoneal, diarreia ou formação de fístulas, que são bastante frequentes nesses pacientes. O objetivo da TN é controlara dor, corrigir a má absorção, controlar as complicações, propiciando melhor ingestão energética, evitando a perda de peso e o surgimento da desnutrição proteico-energética. RECOMENDAÇÕES: o Dieta hipercalórica (35kcal/kg); o Hiperproteíca (1 a 1,5g/kg – até 2g/kg para reposição); o Rica em CHO; o Pobre em LIP; o Preferir as gorduras vegetais (pois são melhor toleradas); o Ingestão de suplemento oral rico em proteína hidrolisada, TCM, vitaminas lipossolúveis (A D E K), e outros micros, associada a enzimas pancreáticas (se VO for insuficiente); o TCM indicado para esteatorreia persistente; o Suplementação de vitaminas caso deficiências; o Pouca fibra; o Refeições leves e mais fracionadas; o Reposição de enzimas pancreáticas; o Atenção a: cálcio, magnésio, vitaminas lipossolúveis, vitaminas do complexo B, vitamina C, zinco; o Evitar cafeína e estimulantes gástricos; o Abstinência de álcool. Recomenda-se dieta: normo a hiperproteíca (1 a 1.5g/kg/dia), normoglicídica, (havendo restrições nos casos de hiperglicemia ou diabetes) e normolipídica (30% de lipídeos). A principal fonte de lípides é de origem vegetal, sendo indicado o uso de Triglicérides de Cadeia Média (TCM) em casos de esteatorreia. Deve-se atentar à suplementação de vitaminas (especialmente as lipossolúveis) e de minerais, especialmente cálcio, magnésio e zinco. Concluiu-se que não há consenso literário quanto: às quantidades estabelecidas de fibras; a quantidade recomendada quando do uso de TCM e conduta dietética nos casos de azotorreia. A dieta é considerada um paradoxo na patogênese da PC: a alta ingestão de proteína e/ou gordura favorece o desenvolvimento da lesão na pancreatite alcoólica e a deficiência na ingestão de proteínas favorece o desenvolvimento da PC nutricional. A nutrição enteral está indicada para os pacientes que estão em uma fase mais grave e tardia da lesão pancreática, cuja TN oral não está sendo satisfatória. A TN pode ser implementada com a ingestão de enzimas pancreáticas (amilase, lipase e proteases) junto com a suplementação oral ou com a terapia enteral. A NP está indicada em pacientes com obstrução gástrica secundária à estenose duodenal e em casos de fístulas pancreáticas. Autores sugerem o uso de uma dieta pobre em fibras, pois afirmam que elas interferem negativamente na função das enzimas pancreáticas e levam a um esvaziamento gástrico lento, o que acarretaria diminuição da ingestão alimentar, sendo que, uma dieta restrita em fibras deve ser composta de 10 a 15g de fibras por dia. A recomendação da ingestão proteica é de 1,0 a 1,5g/kg de peso/dia. Em casos de ingestão calórica abaixo da proposta, recomenda-se a suplementação oral de proteína, com melhor aceitação na forma de peptídeos.
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