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1039Capítulo 48 s Regulação endócrina do crescimento e da massa corporal principais hormônios responsáveis pelo crescimento somático, outros fatores de crescimento de tecidos desempenham um importante papel, embora definido incompletamente. A Tabela 48-3 lista alguns desses fatores de crescimento. Em geral, os fatores de crescimento de tecidos têm mais ações tecido-específicas sobre a organogênese e a atividade de promoção do crescimento do que os IGFs, e eles parecem agir em grande parte de forma parácrina ou autócrina. REGULAÇÃO DA MASSA CORPORAL Os múltiplos fatores hormonais que influenciam o crescimento lon- gitudinal discutidos nas duas seções anteriores são sensíveis à inges- tão de nutrientes por um indivíduo em crescimento. Por exemplo, os aminoácidos e carboidratos promovem a secreção de insulina, e os aminoácidos estimulam a secreção de GH. Adicionalmente, a disponibilidade de um fornecimento adequado e equilibrado de nutrientes provavelmente exerce influências diretas e indiretas na promoção do crescimento dos tecidos. Independentemente de quaisquer fatores hormonais, a glicose, os ácidos graxos e os aminoá- cidos podem, cada um, influenciar a transcrição de genes específicos. Do mesmo modo, os aminoácidos podem ativar diretamente as vias de sinalização envolvidas na regulação da tradução do RNAm. Além dos efeitos dos macronutrientes, os micronutrientes podem ser similarmente importantes na regulação do crescimento celular e, consequentemente, do crescimento do organismo. Um exemplo é o iodo, sendo que uma deficiência de iodo pode produzir o nanismo (Capítulo 49). De uma forma mais global, o efeito da limitação de nutrientes pode ser apreciado comparando-se as alturas médias de homens na Coreia do Norte (165 cm) e na Coreia do Sul (171 cm). Como mencionado no Capítulo 49, a privação nutricional no início da vida pode limitar significativamente o crescimento longitudinal. Talvez igualmente fascinante, e apenas recentemente analisada, seja a evidência de que a privação nutricional no início da vida também parece predispor à obesidade de indivíduos afetados quando estes atingem a meia-idade. Esse fenômeno foi observado pela primeira vez em estudos epidemiológicos de vários países europeus que revelaram uma correlação positiva entre obesidade e o nascimento dos indivíduos de meia-idade afetados em períodos de carência, durante e imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Tais achados sugerem que algum nível de programação genética ocorre precocemente na vida que tanto diminui o crescimento longitudinal quanto predispõe as pessoas ao acréscimo de massa corporal. O equilíbrio entre a ingestão e o gasto de energia determina a massa corporal Em qualquer idade ou fase da vida, os fatores que governam a acumulação de massa corporal se relacionam especificamente ao equilíbrio energético entre o consumo e o gasto. Se a ingestão de energia excede os gastos ao longo do tempo, o balanço energético positivo (Capítulo 58) vai aumentar a massa corporal, assumindo-se que a dieta não é deficiente em macronutrientes ou micronutrientes essenciais. Pequenos desvios positivos de um balanço energético perfeito, ao longo do tempo, contribuem para o grande aumento de peso corporal, a “epidemia de obesidade”, que aflige muitos adultos de meia-idade e um número crescente de adolescentes, nas sociedades desenvolvidas. Por exemplo, se o consumo de energia na alimentação excede os gastos de energia em apenas 20 kcal (1 colher de chá de açúcar) diariamente, durante um ano uma pessoa ganharia !1 kg de gordura e, em mais de duas décadas, !20 kg. De fato, é notável que muitos adultos mantenham um peso cor- poral consistente ao longo de décadas, essencialmente na ausência de esforço consciente. Assim, um sistema regulador fino deve, de alguma maneira, monitorar um ou mais aspectos da massa corporal, dirigindo o complexo processo de alimentação (a fome e a sacie- dade) para suprir deficiências percebidas e, ainda, evitar excessos. O gasto energético compreende a taxa metabólica de repouso, o gasto de energia relacionado com a atividade e a termogênese induzida pela dieta Pode-se agrupar o gasto de energia em três componentes: 1. Taxa metabólica basal ou de repouso (TMB ouTMR). O metabolismo de um indivíduo que não está fazendo essen- cialmente nada (por exemplo, dormindo) é conhecido como a TMR (Capítulo 58), o que equivale a !2.100 kcal/dia para um adulto de 70 kg. A TMR auxilia na manutenção da tem- peratura corporal, no funcionamento basal de múltiplos sis- temas do organismo (p. ex., batimentos cardíacos, motilidade gastrointestinal, ventilação) e nos processos celulares básicos (p. ex, síntese e degradação de proteínas, manutenção de gradientes de íons, metabolismo de nutrientes). 2. Gasto de energia relacionado com a atividade. Ao acordar pela manhã e começar a movimentar-se, faz-se mais do que durante o metabolismo de repouso. O exercício ou o trabalho físico podem ter um grande impacto sobre o gasto energético diário total, que varia amplamente entre os indivíduos e para um mesmo indivíduo dia a dia. Também se gasta energia em atividades não classicamente consideradas como exercício pesado ou trabalho, como bater o pé enquanto se permanece sentado em uma cadeira, olhar em torno da sala durante a aula de fisiologia, digitar em um teclado; essas atividades pro- movem termogênese não associada ao exercício ou NEAT (do inglês, non-exercise-associated thermogenesis). Tais gastos de energia podem variar de três a dez vezes entre os indivíduos e podem ser responsáveis por 500 kcal ou mais do gasto energé- tico diário. Diferenças de NEAT, ao longo do tempo, poderiam contribuir significativamente para diferenças no ganho de peso por parte de indivíduos que têm ingestão calórica idêntica. 3. Termogênese induzida pela dieta. Comer requer um com- ponente adicional do gasto de energia para a digestão, a absorção e o armazenamento de alimentos. Normalmente, a termogênese induzida pela dieta contribui para 10% do gasto energético. As proteínas têm um maior efeito térmico que os carboidratos ou as gorduras. Cada um desses três componentes do gasto energético pode variar consideravelmente de dia para dia, e é objeto de regulação. Por exemplo, o hormônio da tireoide é um regulador importante Tabela 48-3 Outros Fatores de Crescimento que Afetam o Crescimento Fator de crescimento neural (NGF) Fator de crescimento de fibroblastos (FGF) Fator de angiogênese Fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) Fator de crescimento epidérmico (EGF) Fator de crescimento de hepatócitos (HGF) 1040 Seção VIII s O Sistema Endócrino da termogênese (Capítulo 49). A superprodução do hormônio da tireoide aumenta a TMR e a NEAT, enquanto a deficiência de hormônio da tireoide tem o efeito oposto. Centros hipotalâmicos controlam as sensações de saciedade e fome Estudos clássicos em que os investigadores fizeram lesões ou esti- mularam eletricamente regiões específicas do sistema nervoso central permitiram a identificação de duas áreas no hipotálamo que são importantes para controlar a alimentação. O centro da saciedade está localizado no núcleo ventromedial (VMN; Fig. 47-3). A estimulação elétrica do centro da saciedade elicia sensações de saciedade, mesmo quando um animal está na presença de alimentos. Inversamente, uma lesão do centro da saciedade faz com que a ingestão de alimentos seja contínua (hiperfagia) mesmo na ausên- cia de necessidade. O centro da fome (ou centro da alimentação) está localizado na região lateral do hipotálamo (LHA; Fig. 47-3.). A estimulação elétrica do centro da fome provoca um apetite voraz, mesmo depois que o animal tenha ingerido quantidades adequadas de alimentos. Uma lesão do centro da fome faz com que ocorra a cessação completa e duradoura da ingestão de alimentos (afagia). A leptina diz ao cérebro quanta gordura está armazenada Somente na última década os mecanismos de regulação que man- têma massa corporal foram mais compreendidos, o que foi possível pelo estudo de modelos de obesidade em camundongos. Um mode- lo monogênico é a cepa Ob/Ob de camundongos hiperfágicos que desenvolvem obesidade mórbida; camundongos afetados normal- mente pesam ! 100% a mais que os animais não afetados da mesma linhagem. Em experiências de parabiose, em que um camundongo Ob/Ob foi cirurgicamente conectado a um camundongo do tipo selvagem (Fig. 48-8A), o camundongo Ob/Ob perdeu peso, uma descoberta que sugere que os animais afetados carecem de um fator presente no sangue. Outro modelo de obesidade monogênica é o camundongo (Db/Db), denominado Db porque desenvolve secun- dariamente diabetes do tipo 2. Esses camundongos são hiperfágicos, com pesos corporais de adultos ! 100% maiores do que aqueles de ninhadas magras. Em experiências de ligação parabiótica entre um Db/Db e um camundongo do tipo selvagem (Fig. 48-8B), o camundongo do tipo selvagem passou a demonstrar-se esfomeado. Finalmente, no experimento de parabiose em que se conectaram um Ob/Ob e um camundongo Db/Db (Fig. 48-8C), o camundongo Ob perdeu peso, mas o camundongo Db permaneceu obeso. Esses resultados indicam que (1) o camundongo Db produz um excesso do fator que cura a patogenia do camundongo Ob, (2) o camun- dongo Db carece do receptor para esse fator e (3) a ausência do receptor no camundongo Db remove o feedback negativo, levando a altos níveis do fator no sangue. Em 1994, Jeffrey Friedman et al. usaram clonagem posicional para identificar a leptina (do grego leptos [fina]), o fator ausente no sangue dos animais Ob. A leptina é uma proteína de 17 kDa produzida quase que exclusivamente em adipócitos. A reintrodução de leptina em ratos Ob/Ob leva à perda de peso rápida. Em 1995, Tepper e colaboradores clonaram o receptor de leptina (Ob-r). A deficiência desse receptor em camundongos Db os torna resis- tentes à leptina. Ob-r é um receptor associado à tirosina quinase (Fig. 3-11D) que sinaliza por meio de JAK-2 e STAT (Fig. 4-15). Embora a leptina aja em numerosos tecidos do corpo, mais importante é sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefá- lica de alguma forma (Capítulo 11) e modular neurônios específicos no núcleo arqueado do hipotálamo que controla o comportamento alimentar. Esses mesmos neurônios também têm receptores de insulina. Os níveis plasmáticos de leptina em humanos parecem aumentar proporcionalmente em relação à massa de tecido adiposo. Por outro lado, a ausência de leptina produz extrema hiperfagia, como ocorre em camundongos Ob/Ob. A leptina plasmática tem uma meia-vida de !75 minutos, e alterações agudas na ingestão de alimentos ou o jejum não afetam sensivelmente os níveis de leptina. Em contraste, as concentrações de insulina modificam-se dramati- camente ao longo do dia, em resposta à ingestão alimentar. Assim, parece que a leptina atua de alguma maneira como um regulador de longo prazo do comportamento alimentar do SNC, enquanto a insulina (além de outros vários fatores) é um regulador de curto prazo da atividade dos centros de alimentação hipotalâmicos. Além das suas ações no controle do apetite, a leptina pro- move a utilização de reservas energéticas. Entretanto, humanos com deficiência de leptina paradoxalmente apresentam algumas características da fome (p. ex., conservação de combustível). A leptina e a insulina são sinais anorexígenos (ou seja, promovem saciedade) para o hipotálamo Pelo menos duas classes de neurônios no interior do núcleo arquea- do contêm receptores para leptina e insulina. Esses neurônios, por sua vez, expressam neuropeptídeos. Uma classe de neurônios produz pró-opiomelanocortina (POMC), enquanto outra produz neuropeptídeo Y (NPY) e proteína relacionada com agouti (AgRP). Neurônios POMC Tanto a insulina quanto a leptina estimulam os neurônios secretores de POMC (Fig. 48-9), os quais produzem POMC (Fig. 50-4). Nas suas sinapses, os neurônios POMC libe- ram um produto da clivagem de POMC, o hormônio estimulador da melanocortina !-melanócito (!-MSH), que, por sua vez, se liga aos receptores de melanocortina MC3R e MC4R nos neurônios de segunda ordem. A estimulação desses receptores não somente produz saciedade e diminui a ingestão de alimentos, isto é, o !- MSH é anorexígeno (do grego a [não] + orexis [apetite]), mas Figura 48-8 Experimentos de parabiose. Em camundongos parabio- ticamente acoplados, !1% do débito cardíaco de um camundongo vai para o outro, e vice-versa, de modo que os animais trocam fatores presentes no sangue. 1041Capítulo 48 s Regulação endócrina do crescimento e da massa corporal também aumenta o gasto energético por meio da ativação de vias descendentes simpáticas. Uma indicação da importância dessa via é que !4% dos indivíduos com obesidade grave de início precoce têm mutações em MC3R ou MC4R. Os neurônios POMC tam- bém sintetizam outra proteína, CART, ou proteína relacionada com cocaína-anfetamina, que, como !-MSH, é anorexigênica. Neurônios NPY/AgRP Além de estimularem os neurônios POMC, a insulina e a leptina também suprimem a atividade dos neurônios do núcleo arqueado que liberam NPY e AgRP nas suas sinapses (Fig. 48-9). O NPY ativa neurônios secundários que expressam receptores de NPY, predominantemente Y1R e Y5R, que são GPCRs, estimulando, assim, o comportamento alimentar. Figura 48-9 Controle do apetite. ARC, núcleo arqueado. 1042 Seção VIII s O Sistema Endócrino AgRP se liga a receptores de melanocortina MC4R nos neurônios secundários na via de POMC e os inibe, desse modo inibindo o efeito anorexígeno de !-MSH. Em outras palavras, tanto o NPY quanto o AgRP são orexígenos. O camundongo obeso amarelo, ou camundongo agouti, expressa a proteína agouti em excesso, a qual inibe os receptores de melanocortina. A inibição acentua- da de MC1R nos melanócitos inibe a dispersão de grânulos de pigmento (o que leva à coloração amarela da pelagem, em vez de escura). A inibição acentuada de MC3R e MC4R em neurônios anorexígenos bloqueia a ação da !-MSH (o que leva à obesidade). Os neurônios secundários para os quais os neurônios POMC e NPY/AgRP se projetam estão em cinco locais principais (Fig. 48-9 e também Fig. 47-3): 1. LHA. Neste centro da fome, NPY/AgRP estimulam, mas os neurônios POMC inibem, neurônios secundários a produzir o peptídeo orexígeno hormônio concentrador de melanina (MCH) ou orexinas A e B. 2. VMN. Este núcleo é um centro de saciedade. 3. Núcleo dorsomedial hipotalâmico (DMN). 4. Núcleo paraventricular hipotalâmico (PVN). Este núcleo contém neurônios que, por sua vez, se projetam para o córtex cerebral e as áreas do tronco cerebral (Fig. 47-3). 5. Núcleo do trato solitário (NTS). Este núcleo integra infor- mações sensoriais das vísceras (Capítulo 2) e também recebe informações dos neurônios paraventriculares hipotalâmicos. A grelina é um sinal orexigênico para o hipotálamo Sinais originários da periferia podem ser não só anorexigênicos (i. e., que promovem saciedade), como no caso da leptina (origi- nária do tecido adiposo) e da insulina (originária do pâncreas), mas também orexigênicos (i. e., que promovem o apetite). Um deles é a grelina, produzida em resposta ao jejum por células endócrinas especializadas na mucosa gástrica. De fato, a grelina administrada agudamente por via sistêmica aumenta a ingestão de alimentos quando adicionada em doses fisiológicas, tanto em animais quanto em seres humanos. As concentrações circulantes de grelina, no entanto, parecem ser menores nos obesos do que Obesidade Humana Uma abordagem para medir em que extensão a massa do corpo humano é apropriada para a altura do corpo é calcular o índice de massa corporal (IMC): IMC peso em kg (altura em m)2 = Os IMCs se distribuem em quatro categorias principais: 1. Baixo peso: menor que 18,5 2. Peso normal: 18,5 a 24,9 3. Excesso de peso: 25 a 29,9 4. Obesidade: 30 ou maior Embora um IMC de 30 ou mais seja uma indicação de obesidade, não é uma medida diretada massa de gordura no tecido adiposo. A obesidade é uma área de intensa investigação impulsionada em parte pela “epidemia de obesidade” que está afetando negativamente a saúde de uma grande fração da população dos países desenvolvidos. A demonstração de que a reintrodução de leptina em camundongos Ob/Ob levou à rápida perda de peso levantou entusiasmo considerável para o potencial da leptina como um agente farmacológico para o tratamento da obesidade humana. De fato, vários indivíduos extremamente raros têm sido iden- tificados com obesidade monogênica autossômica recessiva secundária à deficiência de leptina, como o camundongo Ob/ Ob. Como esperado, esses indivíduos respondem à adminis- tração exógena de leptina com uma redução acentuada no peso corporal. No entanto, os investigadores logo perceberam que a maioria dos obesos não possui deficiência de leptina. Muito pelo contrário, as concentrações plasmáticas de leptina em humanos aumentam proporcionalmente ao IMC, o qual é uma estimativa grosseira de tecido adiposo em massa de gordura dos tecidos. Embora as pessoas obesas geralmente não tenham deficiên- cia de leptina, aproximadamente um terço de pessoas obesas perde peso em resposta à leptina exógena. Esses indivíduos são resistentes à leptina, mas, eventualmente, respondem a níveis suficientemente altos do hormônio. Nos outros dois terços das pessoas obesas, a resistência à leptina é tão grave que eles não respondem nem mesmo ao hormônio exógeno. Pessoas magras perdem peso em resposta à leptina. Adicionalmente às mutações no gene da leptina, duas outras mutações extremamente raras causam obesidade humana monogênica. Uma delas é a mutação do gene do receptor de leptina (análoga a do camundongo Db), e a outra é a mutação do gene POMC (levando à perda do anorexígeno !-MSH). A mais comum, embora rara, causa monogênica de obesidade humana é uma mutação no receptor MC4 de melanocortina, o alvo de !-MSH. Atualmente, não há abordagens farmacológicas satisfatórias disponíveis para tratar a obesidade. Dos dois agentes atualmente aprovados nos Estados Unidos pela Food and Drug Administra- tion (FDA), um é inibidor da recaptação de serotonina e o outro bloqueia a digestão de gordura e, por conseguinte, sua absorção no trato gastrointestinal. Nenhum agente intervém diretamente em alvos do sistema de controle neuroendócrino hipotalâmico (Fig. 48-9). Ainda mais importante, cada um é limitado por seus efeitos secundários, e eles são apenas minimamente eficazes em reduzir o peso. Talvez mais promissores, mas ainda sendo testados, são antagonistas dos receptores de canabinoides (CB-1 e CB-1), que são GPCRs. Essas drogas diminuem o peso corporal bloqueando o acesso de derivados do ácido araquidônico produzidos endogenamente, conhecidos como endocanabinoides, os quais se ligam a CB-1 e CB-2. Esses receptores estão localizados em diferentes áreas neurais, bem como nos tecidos periféricos. Eles são ricamente representados no hipotálamo basal, bem como dentro do núcleo accumbens no sistema límbico. Bloqueadores de receptores CB parecem ser eficazes em atingir redução de peso significativa (10 a 20 kg) e em mantê-la durante mais de um ano. Os mesmos agentes são também eficazes na diminuição do comportamento de fumar. Os investigadores ainda estão desvendando como o bloqueio do receptor canabinoide afeta a atividade de neurônios hipotalâmicos que regulam o apetite. IMC=peso em kg(altura em m)2 1043Capítulo 48 s Regulação endócrina do crescimento e da massa corporal nos seres humanos magros, um dado que sugere que a grelina não conduza à ingestão calórica em obesos. No entanto, os procedi- mentos de septação gástrica (cirurgia bariátrica) em pacientes com obesidade mórbida causam declínio dramático dos níveis de gre- lina e a diminuição do peso corporal e do consumo de alimentos. Como discutido anteriormente, a grelina se liga a GHSR, que está presente em neurônios do núcleo arqueado bem como em aferentes vagais. Alguns neurônios hipotalâmicos contêm grelina, e a injeção de grelina nos ventrículos cerebrais estimula a ali- mentação. Não está claro em que intensidade a grelina circulante promove o apetite por meio de aferentes vagais em comparação ao promovido por meio de receptores hipotalâmicos. Como notado anteriormente, a grelina também promove a secreção de GH e, portanto, parece ter um papel no crescimento longitudinal e no acréscimo de massa corporal. Níveis plasmáticos de nutrientes e hormônios entéricos são fatores que regulam a alimentação no curto prazo Investigadores têm proposto várias teorias para explicar a regulação de curto prazo do consumo de alimentos, incluindo-se modelos com foco na regulação dos níveis de glicose (glicostático), de ami- noácidos (aminostático) ou de lipídeos (lipostático) no sangue. Por exemplo, a hipoglicemia produz fome e também aumenta a taxa de metabolização da glicose em neurônios sensíveis à glicose no centro da fome, no LHA, mas diminui a taxa de metabolização da glicose em neurônios sensíveis à glicose no centro da saciedade, no VMN. A hipoglicemia também ativa neurônios que contêm orexina no LHA. O feedback do trato gastrointestinal também controla o desejo por alimento no curto prazo (Fig. 48-9). A distensão gastrointestinal provoca estimulação de aferentes vagais que, por meio do NTS, suprimem o centro da fome. A administração periférica de quais- quer dos vários hormônios peptídicos gastrointestinais normalmen- te produzidos em resposta a uma refeição " glucagon, peptídeo de liberação de gastrina (GRP), SS, peptídeo YY (PYY) (Capítulo 41), colecistocinina (CCK, Capítulo 43) e peptídeo semelhante ao gluca- gon 1 (GLP-1, Capítulo 51) " reduz o tamanho da refeição (isto é, essas substâncias são anorexígenas). A mais importante é a CCK, que é mais eficaz quando injetada diretamente na cavidade peritoneal; este efeito requer um nervo vago intacto. Portanto, a CCK, assim como a distensão gástrica, pode agir por meio de aferentes vagais. Adicionalmente, um reflexo orofaríngeo responde à mastigação e à deglutição, o que pode medir a ingestão de alimentos, inibindo assim a ingestão de mais alimento depois de um limite. Um aspecto importante da compreensão crescente acerca dos sistemas de controle neuroendócrinos que regulam o apetite, a saciedade e o gasto energético e, portanto, a massa corpórea é a afirmação de que esses processos têm uma base genética e bioquímica. Dois outros fatores que influenciam a massa corporal são o controle cortical (p. ex., “força da vontade”) e o ambiente (p. ex., a disponibilidade de alimentos altamente calóricos). A apreciação emergente das bases biológicas da obesidade pode per- mitir uma abordagem mais científica e clínica para intervenções terapêuticas, em vez de simplesmente culpar os pacientes afetados por sua obesidade. REFERÊNCIAS Livros e Resenhas Argetsinger LS, Carter-Su C: Mechanism of signaling by growth hormone receptor. Physiol Rev 1996; 76:1089-1107. Etherton TD, Bauman DE: Biology of somatotropin in growth and lactation of domestic animals. Physiol Rev 1998; 78:745-761. Flier JS: Obesity wars: Molecular progress confronts an expanding epidemic. 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