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1 Beatriz Machado de Almeida Bioquímica – Aula 10 Interação metabólica De uma maneira geral, no final da oxidação dessas moléculas, o que vamos ter é unidades de Acetil-coA que podem ser utilizadas como fonte de energia. Além das vias primárias (oxidação) que é o metabolismo lipídico, glicólise e nitrogenados, há uma integração hormonal junto com essa integração energética. Camundongos ingerem a mesma dieta, mas qual a diferença entre eles? A diferença é genética, são camundongos OBOB que é uma linhagem genética que tem uma tendência a ficar obesos, isso é devido ao nocaute de um gene (ausência do gene) da leptina. Deficiência e/ou defeito do receptor de leptina causando obesidade juntamente com hiperglicemia e hiperinsulinemia o que gera também: 1. Obesidade; 2. resistência insulínica; 3. DM; 4. Hiperfagia; 5. baixa oxidação de ácidos graxos; 6. aumento do tecido adiposo; 7. Lipotoxicidade. Leptina • Polipeptídio de 16kDa (baixo peso molecular) contendo 167 aminoácidos • Homologia estrutural com as citocinas. • Secreção pelo adipócito em produção direta à massa gorda: A leptina é produzida no tecido adiposo e está diretamente relacionado com a saciedade. Vai agir no hipotálamo determinando o controle sobre a saciedade. Como se fosse um mecanismo de feedback mostrando para o hipotálamo que o tecido adiposo já está desenvolvido. Quando se tem a leptina, o que pode interferir no gene da leptina? FATORES QUE AUMENTAM A SECREÇÃO DE LEPTINA 1. Ação da insulina: não basta o indivíduo só ter insulina. 2. Glicocorticoides. 3. TNF alfa. 4. Estrógenos. FATORES QUE REDUZEM A LEPTINA 1. atividade beta 3 adrenérgica. 2. andrógenos; AGL. 3. GH. 4. agonistas PPAR-Y. O tecido adiposo secreta a leptina para sinalizar o hipotálamo sobre a saciedade; onde há pré-adipócito e adipócito (diferenciação de amadurecimento). O aumento da expressão e secreção de leptina envolve a abstenção da leptina, defeito na regulação e resistência a leptina, explicando a patogênese da obesidade. Patogênese da obesidade A leptina tem uma relação direta com a obesidade, mas por mecanismos diferentes. Há vias que elucidam isso. É como se o tecido adiposo tivesse a capacidade de secretar leptina, mas essa capacidade é limitada! Hipóteses Perda da produção de leptina Conforme o adipócito cresce muito e não há informação para o hipotálamo. Pois a leptina está relacionada com a transformação de pré-adipócito em adipócito (leptina também sinaliza para o hipotálamo essa diferenciação do pré-adipócito em adipócito, amadurecimento do tecido adiposo e isso se relaciona à saciedade). Quando o adipócito começa a aumentar muito o triglicerídeo e a se desenvolver muito, perde a capacidade de expressar e secretar a leptina. Síndrome Metabólica 2 Beatriz Machado de Almeida Bioquímica – Aula 10 Perda da regulação da leptina Uma outra hipótese é o defeito regulatório. Indivíduo tem níveis normais de leptina, mas ele é obeso (mesmo o hipotálamo emitindo sinais de saciedade, isso não é entendido muito bem). Resistência a leptina A outra hipótese é a resistência a ação da leptina, em nível hipotalâmico, não haverá sinalização celular para sinais de saciedade. Pacientes com altas concentrações plasmáticas de leptina, mas são obesos. Informações da imagem: Ingesta → Aumento da síntese de TG e AG e diminuição da síntese de IL-6 → Leptina → Hipotálamo → Diminuição da ingesta alimentar. • Leptina serve como um sinal para a suficiência de energia (e não para o ¨excesso¨. • À medida que aumenta o peso corporal, aumenta o nível plasmático de leptina. • Como adipócito está 2-4x aumentado na obesidade, a secreção de leptina é 7x maior no obeso que no magro. • Obesidade → Resistência à leptina. Toda vez que aumenta a diferenciação do adipócito, a leptina age em nível hipotalâmico para servir como sinal de suficiência de energia. Tecido adiposo e a sua função endócrina Logo, descobriu-se que o tecido adiposo não é um tecido só de reserva! É um tecido com função endócrina, o que mudou todo o manejo do paciente com SM! Várias moléculas vão coordenar a atividade desse tecido e vão ter relação direta com o crescimento e desenvolvimento dele e com as comorbidades associadas a isso. Autócrina/parácrina PAI-1; TGF beta; TF; adipsinas/ASP; TNF alfa/IL6; Renina-angiotensina; leptina; hormônios esteroidais sistêmicos. Atenção as citocinas pró-inflamatórias! Destacou também o SRA (Sistema renina- angiotensina)! Endócrina Leptina; TNF alfa/IL6; esteroides sexuais; glicocorticoides; angiotensina; PAI-1; adiponectina; ApipoQ. Chamamos atenção aqui para a leptina e adiponectina. Mecanismos O que é que se chama atenção: Há um mecanismo hipotalâmico (relacionado a moléculas produzidas pelo tecido adiposo) e relação com os mecanismos pró- inflamatórios! Existe uma inflamação basal determinada por esse tecido e esse estado pró- inflamatório vai estar relacionados com as comorbidades associadas a SM. Atenção: Existe uma capacidade elevada de produzir angiotensina II no tecido adiposo! Obs.: o COVID-19 age via receptores de ECA (já se sabe isso) e por isso essa relação de comorbidade em indivíduos obesos que não tem nenhum quadro respiratório, mas que estão mais suscetíveis a capacidade de proliferação do vírus! Estoque de gordura É normal que no adipócito haja um acúmulo de gorduras, estoque de gordura na forma de triglicerídeos (3 ácidos graxos + colesterol lembrar que veio do LDL e quilomícron). Temos hormônios que vão sinalizar qual é o momento de degradar esses lipídeos ou não: • Hormônios que estimulam a lipase hormônio sensível (diferente da lipase endotelial) é uma enzima capaz de hidrolisar esses triglicerídeos para serem usados como fonte de energia) → epinefrina, norepinefrina, ACTH, prolactina, LH e glucagon; Todos estes hormônios são LIPOLÍTICOS! Impedem aqueles mecanismos de aumento e resistência da leptina (protetores)! • Hormônios que inibem a lipase hormônio sensível → insulina. Lembrar que a insulina estimula a 3 Beatriz Machado de Almeida Bioquímica – Aula 10 lipase endotelial e aqui ela inibe, logo ela é LIPOGÊNICA. Efeitos dos macrófagos de tecido adiposo A adiponectina faz uma contraregulação em relação a leptina. Quando tem um desequilíbrio da relação da adiponectina/leptina, pode haver uma resistência a leptina (ela estava meio perdida nessa fala, mas entendi assim). Essa relação serve para coordenar todo esse desenvolvimento de tecido adiposo. Depois de um certo grau de desenvolvimento desse adipócito, passa a secretar moléculas que são as que vão coordenar toda a síntese e secreção de proteínas inflamatórias, uma bem importante que é dosada é a MCP1, para fazer a avaliação do quanto a obesidade é um risco preditor para o envelhecimento vascular, é um recrutador de monócitos. Os monócitos recrutados terão que migrar para o tecido adiposo. Quando se torna secretório, estando no tecido, ele passa a secretar fatores de adesão que são esses da figura (acima) e citocinas pró-inflamatórias, que vão recrutar outros macrófagos. O MCP1 é quimiotático, sinaliza para que os monócitos saiam do endotélio e venham ao tecido adiposo. No tecido, o monócito se diferencia nos macrófagos e instalam o processo inflamatório. Esse processo se realimenta, e se transforma cada vez mais em pró- inflamatório, o que vai ser péssimo para o endotélio. Ainda vão ter as espécies oxidativas de oxigênio que farão a lipoperoxidação do LDL, e isso vai fazer todo o dano vascular. Conversa entre células O adipócito tem uma sobrecarga de triglicerídeos, que vai interferir na relação de equilíbrio entre os dois hormônios contra regulatórios que é a adiponectina e a leptina. Isso vai desencadeara ativação e o recrutamento de macrófagos. Os macrófagos ativados e o aumento das citocinas, vão gerar cada vez mais a diferenciação do pré-adipócito em adipócito. O adipócito hipertrofiado leva ao desequilíbrio na função da leptina (três vias) e aumenta a secreção de citocinas pró-inflamatórios recrutando macrófagos. Estes macrófagos estimulam a diferenciação dos pré- adipócitos em adipócitos e induzem um aumento da proliferação e secreção inflamatória dessas células. Então começa a haver uma falha, isso é na hipótese do paciente ter muita leptina e não ter sua atividade. Se tem resistência a atividade da leptina, não tem adiponectina, que seria o hormônio que faz a contra regulação. O adipócito hipertrofiado secreta muita leptina e fatores pró-inflamatórios (citocinas e quimiocinas)! E aí ocorre a migração de monócitos, que viram macrófagos, e os macrófagos produzem mais citocinas (mesma historinha... mecanismo de retroalimentação) MCP-1 tem fator quimiotático desencadeador do processo inflamatório. Obesidade Obesidade tem relações múltiplas com: fatores genéticos (gene da leptina), desequilíbrio hormonal (horm. Lipolíticos e lipogênicos), fatores epigenéticos, resistência à insulina, inflamação 4 Beatriz Machado de Almeida Bioquímica – Aula 10 (adipócitos com macrófagos), estresse oxidativo e componentes da dieta. A obesidade central, que é o que é mais observado nos indivíduos com SM e é um dos critérios de SM, é dada por um lado pela resistência a insulina que leva a hiperinsulinemia, e as duas vão interferir no metabolismo da glicose, vai levar a uma intolerância a glicose. A dislipidemia vai levar a um nível elevado de triglicérides, elevação do LDL, elevação dos ácidos graxos livres, baixa concentração de HDL e quadros de esteatose (excesso de triglicérides que não consegue desencadear o mecanismo de encapsular a gordura que está depositada lá no fígado, que é a formação da VLDL). A formação da VLDL tem que ser acompanhada de consumo, porque se os triglicerídeos ficam retornando, eles vão se acumular no fígado, esse é o mecanismo da esteatose. • Eventos hemodinâmicos: HAS, retenção de sódio, elevada atividade simpática. • Eventos trombogênicos e pró-inflamatórios: Elevação de CRP, elevação de PAI-1, fibrinogênio aumenta, elevação de TNF, menos adiponectina. • Todas essas alterações culminam com a doença arterial coronariana. • Esteatose e VLDL → O hepatócito normalmente sintetiza lipídios e os exporta para o tecido de armazenamento, que é o tecido adiposo. Em condições normais de boa alimentação e metabolismo não há acúmulo de triglicérides no hepatócito. A esteatose pode decorrer de duas alterações básicas e não mutuamente exclusivas: a) Excesso de oferta de ácidos graxos ao fígado. Há chegada de lipídios (na forma de ácidos graxos livres) em excesso ao hepatócito, provenientes do tecido adiposo, excedendo a capacidade do hepatócito de processá-los e reexportá-los. • Este mecanismo é observado tanto no jejum ou desnutrição como no diabetes descompensado. Ambos causam intensa mobilização de ácidos graxos no tecido adiposo. A ativação da lipase hormônio-sensível é excessiva devido principalmente à falta de insulina. Lembrar que o indivíduo que não come nada não produz insulina nenhuma e o mesmo ocorre no diabetes juvenil ou tipo 1. A quantidade de ácidos graxos que aportam ao fígado é muito maior que a capacidade de metabolização pelos hepatócitos, ou de síntese de VLDL. Em consequência, há esterificação e acúmulo no citoplasma dos hepatócitos na forma de triglicérides (esteatose). b) Deficiência na produção de lipoproteínas, basicamente do tipo VLDL. A deficiência de produção de VLDL pelos hepatócitos dificulta a exportação de triglicérides do fígado para outros tecidos. Isto pode ocorrer por: 1. Diminuição na síntese de proteínas. 2. Diminuição na síntese de fosfolípides. • Na inanição há falta tanto de aminoácidos como de colina na dieta. O amino álcool colina é indispensável para síntese de fosfolípides, porque participa da 'cabeça' polar da molécula. A colina pode ser sintetizada no organismo, mas isto exige uma reação de transmetilação envolvendo a metionina, que é um aminoácido essencial. Portanto, a falta de metionina se traduz em deficiência de colina. Como as triglicérides não podem ser empacotados em VLDL e não podem ser exportados, acumulam-se no hepatócito, levando à esteatose. 5 Beatriz Machado de Almeida Bioquímica – Aula 10 Aumento da adiposidade e Risco cardiometabólito Aumento de adipocinas: leptina; adipocina; TNF alfa; IL6; IL8; resistina; PAI-1; adipsina; ASP; visfatina. São todas essas moléculas que vão desencadear os mecanismos pró-inflamatórios. As adipocinas (citadas acima) vão ter relação com um mecanismo de agir como citocina, já a adiponectina não. O tecido adiposo está produzindo citocinas pró- inflamatórias e isso vai ter conexão com todos os outros tecidos. No musculo esquelético: vai diminuir a utilização de glicose. No fígado, os ácidos graxos livres fornecidos pelo tecido adiposo vão aumentar a produção de glicose por gliconeogênese e aí vem a hiperglicemia independente da ingesta de carboidratos. O tecido adiposo está liberando muita leptina, mas ela não está fazendo sua atividade. O sistema vascular também é afetado por citocinas pró inflamatória e também pro AG livres, oferecendo então peroxidação. O tecido adiposo também está produzindo leptina, o que aumenta a sinalização de saciedade hipotalâmica, que faz com que o tecido muscular deixe de usar a glicose como fonte de energia. Tecido adiposo e comorbidades • Prejuízos no perfil lipídico. • Danos no metabolismo glicêmico induzindo RI: e consequentemente vai prejudicar a função renal por dar uma osmolaridade aumentada para o plasma filtrado. • Prejuízos na secreção de adipocinas: leva a uma lipotoxicidade renal e esteatose hepática. Existe um dano significativo. • Aumento de SNS. • Aumento da PA. • Aumento da FC. • Tecido adiposo → risco cardiometabólico. • Lipotoxidade renal. • Esteatose hepática. Lipotoxicidade renal e esteatose Essa relação vai ser direta com esse metabolismo lipídico. A gente tem a insulina, e quando há uma resistência a ela, vai fazer o aumento da migração de AGLs (ácidos graxos livres). O fígado, enquanto estiver funcionando tudo bem, empacota esses ácidos graxos e os transforma em VLDL, e ele interage com HDL, e vai formar o LDL e aí o LDL tem a ação aterogênica. Os ácidos graxos vão sendo continuadamente transportados para o tecido hepático e o fígado vai perdendo a capacidade de interação do VLDL com o HDL, perdendo, portanto, a capacidade de empacotar em VLDL. A gente também tem um desequilíbrio na relação do HDL, porque a APO A1 (constitutiva do HDL) passa a se desintegrar do HDL, catabolizando o HDL, levando então a um aumento progressivo de triglicerídeos, pois não há HDL disponível para transformar VLDL em LDL. O sangue medeia a interação metabólica entre todos os tecidos. Nutrientes do intestino delgado, fígado, tecido adiposo, entre outros. Então teremos a interação de muitos órgãos e sistemas já que o sangue é quem vai mediar essa relação metabólica entre os tecidos. Temos uma relação, o tecido nervoso coordena toda essa atividade, o linfático carregando os lipídeos, o tecido adiposo aumentando cada vez mais, 6 Beatriz Machado de Almeida Bioquímica – Aula 10 interferindo no trabalho mecânico e na utilização de energia para o tecido muscular, pâncreas fica sobrecarregado. Um músculo que não está usando a glicose direito e um fígado que está sendo estimulado a produzir glicose pela gliconeogênese, levando a uma hiperglicemia e uma hiperinsulinemia.
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