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Quincas Borba - análise

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Quincas Borba 
Machado de Assis 
1. VIDA 
 Joaquim Maria Machado de Assis nasceu 
em 21 de junho de 1839, no morro do 
Livramento, Rio de Janeiro. Conforme 
Facioli (1982), Machado de Assis, do lado 
paterno, era neto de homens libertos. Seu 
pai, Francisco José de Assis, era agregado 
de uma família de posses e trabalhava 
como pintor de paredes. Do lado materno, 
era neto de homens livres, provenientes de 
humilde família açoriana. Sua mãe, Maria 
Leopoldina, faleceu quando Machado de 
Assis contava dez anos, seu pai se casou de 
novo, com Maria Inês. Há muitas 
afirmações inconsistentes em relação ao 
papel que sua madrasta exerceu em sua 
vida, sobretudo, quando o pai de Machado 
também veio a falecer. O certo é que 
Machado de Assis teve que vencer muitos 
obstáculos para migrar de classe social, 
pois não teve educação formal regular e 
enfrentou muitas adversidades por ser 
mulato num período em que ainda havia 
escravidão no Brasil. Desde cedo, 
trabalhou e buscou desenvolver sua 
carreira literária. Tendo ingressado num 
ambiente jornalístico, um mundo novo de 
aprendizado literário se abriu para ele. 
Contribuiu muito para sua evolução 
artística o fato de ele ter sido leitor 
bastante assíduo. Já na juventude, 
Machado de Assis também se dedicou à 
prosa, escrevendo artigos sobre arte, 
poesia, literatura e crônicas e, aos poucos, 
passou a integrar os círculos literários da 
Corte, apresentando, desde sempre, bom 
domínio da língua portuguesa literária e do 
francês. Machado de Assis mostrou-se 
sempre uma pessoa atualizada com o que 
se escrevia e se publicava no Brasil, por 
conta de sua constante atividade crítica, 
jornalística e literária. Apesar dessa intensa 
contribuição, foi um emprego público que 
lhe garantiu uma situação econômica 
menos instável até o final de sua vida. Aos 
trinta anos, casou-se com Carolina Xavier 
de Novais, nascida no Porto, filha de um 
artesão e comerciante português. O casal, 
sem filhos, teve um convívio de 35 anos 
marcado por grandes afinidades 
intelectuais. De acordo com Pereira (1988), 
aos poucos, as condições de vida de 
Machado de Assis se alteraram 
significativamente. Seu trabalho como 
escritor foi sendo cada vez mais 
reconhecido e ele passou a levar uma vida 
mais confortável. De acordo com Facioli 
(1982), ao lado da ascensão social de 
Machado de Assis, ocorreu também uma 
mudança significativa de sua obra literária. 
Quando faleceu, em setembro de 1908, 
Machado de Assis, um dos fundadores e 
primeiro presidente da Academia Brasileira 
de Letras, recebeu muitas homenagens 
que atestaram sua consagração como o 
maior escritor brasileiro, na opinião quase 
unânime dos estudiosos de literatura 
brasileira. 
2. CARACTERÍSTICAS DA PROSA 
MACHADIANA 
Os críticos literários, ao mesmo tempo em 
que consideram Machado de Assis um 
original mestre da linguagem, evidenciam o 
diálogo intenso e produtivo que sua obra 
mantém com grandes escritores que o 
antecederam. 
 Segundo Achcar (2000), na prosa 
machadiana, tanto nos romances quanto 
nos contos, podem ser observados os 
seguintes aspectos: 
• uma escrita bastante criativa, que não 
segue um esquematismo determinista, ou 
seja, não busca causas muito explícitas 
para a explicação das personagens e 
situações; 
• frases simples, desprovidas de enfeites. 
Os períodos costumam ser curtos e as 
palavras bem escolhidas; 
• focalização das personagens de fora para 
dentro, havendo um trabalho de 
desmascaramento, daí ele ser considerado 
como um agudo “analista da alma 
humana”; 
• referências constantes a outros textos de 
grandes autores ocidentais 
(intertextualidade); 
• uso de ironia, a arma mais corrosiva com 
que Machado critica os comportamentos, 
os costumes e as estruturas sociais. 
Machado de Assis dedicou-se, ao longo de 
sua carreira literária, a vários gêneros 
literários: conto, romance, crônica, poesia, 
teatro, crítica, sendo considerado como 
contista e romancista genial. 
3. AMADURECIMENTO ESTILÍSTICO 
DE MACHADO DE ASSIS 
A produção literária da primeira fase da 
obra machadiana trata da problemática da 
ascensão social de uma perspectiva de 
quem ainda ocupa posição social não 
privilegiada. Conforme Schwarz (2000), a 
situação de dependência social é 
explorada, na primeira fase machadiana, 
como uma procura de um meio pelo qual 
tal dependência seja abrandada até a 
obtenção de alguma libertação. Contudo, 
não há um questionamento do sistema 
social propriamente dito, sendo assim, esse 
posicionamento estaria ainda em 
consonância com o romantismo. O 
romance Quincas Borba (1891) pertence à 
segunda fase da escrita machadiana. 
Segundo Facioli (1982), na segunda fase, 
ocorre uma alteração da posição do 
narrador, que se torna “uma voz de 
camada social diferente da que narrava até 
então”. Assim, o narrador da segunda fase 
é reconhecido pela classe dominante como 
um de seus membros. Nessa fase, segundo 
Schwarz (2000), há uma mudança de forma 
e de conteúdo, com o destaque do uso do 
humor e da ironia para desmascaramento 
da realidade. Machado de Assis, na 
segunda fase, inova também ao usar 
formas literárias de um passado remoto, 
como, por exemplo, a sátira menipeia1, 
cujo efeito literário é o de apresentar o 
ridículo de forma que o leitor se sinta livre 
para formar seu próprio ponto de vista 
crítico, em vez do oferecer conselhos 
moralizantes. 
4. ROMANCES MACHADIANOS 
Da primeira fase: Ressurreição (1872), A 
Mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá 
Garcia (1878), 
Da segunda fase: Memórias Póstumas de 
Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); 
Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); 
Memorial de Aires (1908) 
5. QUINCAS BORBA E MEMÓRIAS 
PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS 
Quincas Borba (1891) é visto, de certa 
forma, como uma continuação de 
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). 
Nos dois romances, Quincas Borba é 
personagem; há menção a sua filosofia, o 
Humanitismo; e, num procedimento 
bastante original, o narrador de Memórias, 
Brás Cubas, envia uma carta para um 
personagem de Quincas Borba, Rubião, 
participando-lhe da morte do filósofo. No 
romance Quincas Borba, Rubião, um ex-
professor da cidade de Barbacena, é o 
protagonista. Sua trajetória existencial 
serve para exemplificar a filosofia de 
Quincas Borba, o humanitismo. 
6. FOCO NARRATIVO 
 Quincas Borba apresenta um narrador em 
terceira pessoa, onisciente. É por 
intermédio dele que os leitores pouco a 
pouco são envolvidos na loucura do 
protagonista. O narrador é possuidor de 
cultura superior, livresca. “E como vive a 
ostentar erudição, o narrador reforça as 
dissonâncias com Rubião: indivíduo sem 
malícia, de ideias miúdas e palavras soltas” 
(Chauvin, 2016, p. 18). O uso de discurso 
indireto livre é um procedimento 
recorrente no romance. Em poucos 
momentos, o autor-narrador faz menção a 
si mesmo (“Este Quincas Borba, se acaso 
me fizeste o favor de ler as Memórias 
Póstumas de Brás Cubas (cap. IV, p. 90). 
Nesse caso, o escritor se identifica como 
autor e narrador de um romance 
inventado. 
METALINGUAGEM 
 Metalinguagem é a explicação do autor 
acerca da escrita do livro. Em Quincas 
Borba, o autor focaliza o seu próprio 
trabalho de escritor, explicando a seus 
leitores como está organizando seu 
romance. Exemplificando: 
Rubião estava arrependido, irritado, 
envergonhado. No capitulo X deste livro ficou 
escrito que os remorsos deste homem eram 
fáceis, mas de pouca dura; faltou explicar a 
natureza das ações que os podiam fazer curtos 
ou compridos (cap. LVI, p. 172) Aqui é que eu 
quisera ter dado a este livro o método de tantos 
outros – velhos todos – em que a matéria do 
capítulo era posta no sumário: “De como 
aconteceu isto assim, e mais assim (...) (cap. 
CXII, p. 260). Ao contrário, não sei se o capítulo 
que se segue poderia estar todo no título” (cap.CXIV, p. 261). 
7. CONVERSA COM O LEITOR 
Em Quincas Borba, o narrador dialoga com 
seu leitor, estimulando-o a prosseguir a 
leitura e a acompanhá-lo em suas ideias e 
suposições. Esse procedimento é 
recorrente no romance. Exemplo: 
Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à 
cabeceira do Quincas Borba (cap. III, p. 89); 
Queres o avesso disso, leitor curioso? (...) (Cap. 
XXXI, p. 125). 
8. A OBJETIVIDADE REALISTA 
Quincas Borba trata fundamentalmente do 
mundo objetivo, do mundo das relações 
sociais, do poder e do dinheiro. Quando o 
narrador retrata a interioridade das 
personagens, ele se ocupa em representar 
como a psicologia das personagens está 
articulada com os valores sociais. Trata-se 
de um romance exemplar de realismo 
psicológico. Em Quincas Borba, constata-se 
uma preocupação do escritor em 
representar de forma crítica e irônica a 
vida em sociedade em uma determinada 
época, denunciando os princípios e 
mecanismos que organizam as relações 
sociais. 
9. TEMPO E ESPAÇO 
Machado de Assis, em Quincas Borba, trata 
de uma questão de dimensão universal, a 
loucura, num ambiente nacional, dentro de 
determinado tempo histórico. Conforme 
Chauvin (2016): 
Atento às marchas e contramarchas da política 
nacional, Machado recuou a ação em vinte 
anos, de modo que a narrativa acontece no Rio 
de Janeiro entre 1867 e 1871: cenário de ampla 
disputa política relacionada à conciliação 
ministerial. Em seu conturbado reinado, Dom 
Pedro II enfrentava os interesses do partido 
liberal e conservador. No romance, o tema é 
mencionado mais de uma vez pelo advogado e 
jornalista Camacho, um dentre os muitos 
beneficiários de Rubião (p. 16). 
Barbacena, MG, também comparece como 
espaço do romance, no início e no 
desfecho dramático da história de Rubião. 
10. INTERTEXTUALIDADE 
Em Quincas Borba, há diálogos 
intertextuais com livros da alta literatura. O 
narrador alude a vários livros que podem 
ser lidos como intertextos. Conforme 
Chauvin (2016), podem ser reconhecidos, 
dentre outros, o diálogo intertextual desse 
romance com: 
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes 
Saavedra (publicado entre 1605 e 1615); 
Tom Jones, de Henry Fielding (editado em 
1749); A vida e as Opiniões do Cavaleiro 
Tristam Shandy, de Laurence Sterne 
(publicado em dez volumes, entre 1759 e 
1769); Viagem à Roda do Meu Quarto, de 
Xavier de Maistre (1794), Viagem na Minha 
Terra de Almeida Garret (1846) (p.16). 
11. PARÓDIA 
 O Humanitismo aparece pela primeira vez 
nas Memórias Póstumas de Brás Cubas 
(1881). Em Quincas Borba, Rubião é o 
ouvinte do filósofo. A filosofia de Quincas 
Borba é vista como uma paródia do 
positivismo, de Augusto Comte, e à teoria 
de Charles Darwin sobre a seleção natural. 
A frase “Ao vencedor, as batatas!” remete 
a dos evolucionismos sociais, baseados no 
de Darwin, uma maneira de desvelar de 
forma irônica o caráter cruel da “lei do 
mais forte”. 
12. DIGRESSÃO 
Quincas Borba é visto, de acordo com 
Chauvin (2016) como “legítimo sucessor da 
longa tradição de romances que fizeram do 
estilo digressivo um método peculiar de 
composição. A qualidade da obra 
machadiana confere ao autor posição de 
proeminência na literatura universal.” (p. 
16). Em Quincas Borba não há tanta 
divagação quanto em Memórias Póstumas 
de Brás Cubas, no entanto, ela também 
ocorre nesse romance, como se pode 
observar pela leitura do capítulo CXVII, 
quase que inteiramente digressivo. Nesse 
capítulo, o relato do casamento de Maria 
Benedita é suspenso e o narrador discorre 
predominantemente sobre a utilidade das 
catástrofes na vida das pessoas (como a 
epidemia de Alagoas que acabou unindo, 
indiretamente, o casal Maria Benedita e 
Carlos Maria). 
FUSÃO DE GÊNEROS 
De acordo com Sá Rego (1989), há fusão de 
elementos cômicos e trágicos na 
composição do protagonista do romance 
Quincas Borba: 
Rubião, o personagem central do romance, 
pertence à categoria do “bom provinciano” 
recém chegado ao grande centro urbano, 
onde sua ingenuidade e ignorância são 
exploradas por personagens mais 
mundanos e ambiciosos. Trata-se assim de 
um dos personagens típicos da comédia, já 
identificado desde Aristóteles sob o nome 
de agroikos, isto é, rústico, roceiro ou 
matuto. [...] No entanto, ao fazer de 
Rubião um personagem que enlouquece e 
morre em situação patética, Machado lhe 
atribui algumas características do herói 
trágico (p. 177). 
13. PESSIMISMO REALISTA 
A visão de mundo presente no livro 
Quincas Borba é cética e pessimista, de um 
pessimismo derivado de Schopenhauer, 
filósofo alemão para quem a vida do 
homem é marcada pela dor e pela 
infelicidade. A esse pessimismo é 
acrescentado o trabalho perverso do 
dinheiro e do poder. 
14. IRONIA 
De acordo com Massaud Moisés (1967), o 
tom irônico de Quincas Borba encontra-se 
no fato de o romance ser uma peça única 
de chacota à Humanidade 
desenfreadamente presa a certos dogmas 
de superfície e incapaz de olhar mais a 
fundo o íntimo dos problemas. A ironia 
atinge a todos, e só se salvam (caso o 
consigam) os loucos, os mansos e os 
animais irracionais (p.90). 
15. HERANÇA MALDITA 
De acordo com Antônio Cândido (1995), a 
herança recebida por Rubião não lhe traz 
benefício, antes faz de sua trajetória um 
caso exemplar da filosofia do 
Humanitismo: 
No romance Quincas Borba, um modesto 
professor primário, Rubião, herda do 
filósofo Quincas Borba uma fortuna, com a 
condição de cuidar de seu cachorro, ao 
qual dera o próprio nome. Mas com o 
dinheiro, que é uma espécie de ouro 
maldito, como na lenda dos Nibelungen, 
Rubião herda igualmente a loucura do 
amigo. A sua fortuna se dissolve em 
ostentação e no sustento de parasitas; mas 
serve sobretudo como capital para as 
especulações comerciais de um arrivista 
hábil, Cristiano Palha, por cuja mulher, “a 
bela Sofia”, Rubião se apaixona. O amor e a 
loucura surgem aqui romanticamente, de 
mãos dadas; mas o tertius gaudens é a 
ambição econômica, baixo-contínuo do 
romance, de que Rubião se torna um 
instrumento. No fim, pobre e louco, ele 
morre abandonado; mas em compensação, 
como queria a filosofia do Humanitismo, 
Palha e Sofia estão ricos e considerados 
dentro da mais perfeita normalidade social 
(p.35). 
16. RESUMO 
O protagonista Rubião conhece Quincas 
Borba e torna-se seu herdeiro universal de 
forma inesperada. De ex-professor, Rubião 
passa a capitalista. Fica surpreendido com 
o patrimônio que acabara de receber, 
embora já tivesse pensado sobre possíveis 
vantagens que essa amizade poderia lhe 
render se o amigo casasse com sua irmã 
Piedade, o que não ocorreu, pois ambos 
morreram. Ao final da vida de Quincas 
Borba, Rubião presta-lhe cuidados como 
enfermeiro. O enfermo transmite ao seu 
único ouvinte sua filosofia, por meio de 
uma alegoria: duas tribos famintas, diante 
de um único campo de batatas, lutam 
entre si pela sobrevivência. Na fórmula “Ao 
vencedor, batatas”, está contida a ideia da 
luta como meio de seleção dos mais fortes, 
mas Rubião não a compreende 
profundamente. Rubião faz planos sobre 
como aproveitar a herança recebida e 
receia que alguém desconfie da sanidade 
mental de Quincas Borba e que, por isso, o 
testamento seja anulado. No entanto, isso 
não acontece e, não havendo parentes 
próximos, todo o patrimônio do filósofo é 
destinado a ele. Quincas Borba só impôs 
uma condição: que Rubião cuidasse de seu 
estimado cachorro, cujo nome também é 
Quincas Borba, não deixando nada lhe 
faltar. Enfim, devia tratá-lo “como se cão 
não fosse, mas pessoa humana” (Assis, 
2016, capítulo XIV, pág. 107). Rubião, agora 
herdeiro, abandona sua vida pacata. Na 
primeira vez que sai de Barbacena e viaja 
para a corte, numa viagem de trem, 
conhece um casal, Cristiano e Sofia Palha. 
Rubião conta para eles que recebeu uma 
herança. Cristiano muito amáveldispõe-se 
a ajudar o rico herdeiro em tudo. Rubião já 
começa a se encantar por Sofia. Desde que 
Rubião chega ao Rio de Janeiro, torna-se 
alvo fácil de interesseiros. Não apenas o 
casal Palha busca levar vantagem, 
ludibriando-o, outras pessoas também 
competem pelos recursos financeiros de 
Rubião, que, de modo ingênuo, deixa-se 
enganar por todos. Dentre eles, há o 
Freitas, frequentador assíduo da casa de 
Rubião, onde faz refeições e se esmera em 
bajular o anfitrião. Rubião é generoso com 
ele, quando Freitas fica doente, arca com 
suas despesas e, depois, com os custos de 
seu velório. Há o Camacho, outro adulador, 
que obtém de Rubião ajuda financeira para 
livrar o jornal A Atalaia do fechamento. 
Camacho faz com que Rubião se sinta uma 
figura importante nesse jornal para 
garantir que suas contribuições não 
cessem. Os comensais, em pouco tempo, 
sentem-se à vontade na casa de Rubião, 
como se ela pertencesse a eles. Acabam 
por formar um grupo de pessoas com um 
objetivo em comum: obterem cada vez 
mais benefícios de Rubião. O protagonista, 
diante da eloquência dos seus supostos 
amigos, nunca tem o que dizer e, quando 
diz, sua linguagem é mal articulada. Não 
consegue interpretar o mundo que o cerca 
e sua fortuna vai sendo dissipada pelos 
oportunistas que o rodeiam. Rubião visita o 
casal Palha com frequência. Tem total 
confiança em Cristiano e Sofia. O Palha 
gosta de expor a esposa para que todos 
possam admirá-la. Para tanto, compra-lhe 
vestidos luxuosos, roupas que valorizam 
suas belas curvas. Sofia, que no começo 
cedia sem vontade aos desejos de 
Cristiano, acaba por apreciar ser vista “para 
recreio e estímulo dos outros” (Assis, 2016, 
pág.135). Sofia estabelece uma relação 
ambígua com Rubião, faz um jogo de 
sedução, em que nem o desilude, nem o 
anima muito. Rubião, a fim de conquistá-la, 
oferece-lhe joias muito valiosas e ela as 
aceita, como se fosse natural receber tais 
presentes. É evidente a má fé do casal. 
Numa ocasião, durante um almoço com 
Freitas e Carlos Maria, Rubião recebe de 
Sofia uma caixa de morangos e um bilhete, 
por meio do qual ela o convida para um 
jantar. Rubião aceita e, no jardim do lar dos 
Palha, sob a luz das estrelas, se declara 
para a esposa de Cristiano. Sofia recusa o 
galanteio. Mais tarde, conta o que ocorreu 
para seu esposo, porém, Cristiano, que 
deve dinheiro para Rubião, diz a ela que 
cortar relações com o rico amigo não 
convém no momento. Sofia, por sua vez, 
seduzida pelas atenções e presentes 
recebidos, também não deseja afastar o 
rico herdeiro de sua casa. Rubião se sente 
envergonhado por sua atitude, afasta-se 
do convívio do casal por muitos dias. No 
entanto, esse distanciamento leva Cristiano 
a procurá-lo em Botafogo. Rubião conta 
aos seus convidados sobre seu desejo de 
retornar a Minas. Os amigos não querem 
que ele retorne, pois antecipam a perda do 
dinheiro que dele obtém com facilidade. 
Rubião retorna ao convívio com o casal 
Palha. Ali conhece Maria Augusta e Maria 
Benedita, tia e prima de Sofia, moradoras 
do interior e encontra Carlos Maria. Rubião 
está cada vez mais apaixonado por Sofia, 
que se mostra sempre muito amável com 
ele e sedutora, embora esteja interessada 
em Carlos Maria, seu par predileto nas 
valsas. Rubião confia em Cristiano Palha, 
agora seu sócio, acredita que o marido de 
Sofia está fazendo seus negócios ficarem 
mais lucrativos, não enxerga que está 
sendo prejudicado. Aos poucos, 
evidenciam-se traços de loucura em 
Rubião. Ele acredita que se casar poderá se 
ver livre de sua paixão doentia por Sofia. 
Começa a divagar, imaginando o luxo e a 
riqueza da festa de casamento, da qual 
participaria a mais alta aristocracia. A 
escolha concreta de uma noiva é deixada 
de lado por ele. Depois da morte da tia 
Maria Augusta, Sofia e Cristiano hospedam 
a prima Maria Benedita. Pretendem casá-la 
com Rubião. Para Sofia esse casamento 
seria conveniente, inclusive por afastar a 
prima de Carlos Maria. Durante uma 
epidemia em Alagoas, Sofia e Maria 
Benedita buscam angariar fundos. D. 
Fernanda, esposa do deputado Teófilo e 
prima de Carlos Maria, participa desse ato 
filantrópico. D. Fernanda aproxima-se de 
Maria Benedita e acaba promovendo o 
casamento de Carlos Maria com Maria 
Benedita. A lua-de-mel do casal ocorre na 
Europa. Sofia, apesar de muito 
desapontada, não demonstra sua 
frustração amorosa. O casal Palha vai 
ascendendo socialmente, obtendo cada 
vez mais prestígio. Rubião é ingênuo, não 
entende os mecanismos que governam a 
sociedade. Quando o casal obtém o status 
social e o patrimônio pelo qual tiveram 
tanto empenho, Rubião torna-se 
desnecessário. Cristiano não quer dividir 
com Rubião grandes lucros futuros e 
planeja muda se para um palacete, cujo 
projeto já encomendara. A partir daí, os 
Palha passam a tratá-lo com indiferença, 
buscam romper o vínculo estabelecido. O 
enlouquecimento de Rubião progride. 
Numa ocasião, ele imagina ser Napoleão III 
e corta a barba para ficar parecido com a 
personagem histórica. Seus acessos de 
loucura tornam-se cada vez mais 
frequentes. Certo dia, imaginando Sofia 
como a imperatriz Eugênia, entra com ela 
num carro e delirante promete-lhe uma 
vida de luxo. Começa a distribuir títulos e 
patentes aos conhecidos, que passam a 
evitá-lo, sobretudo, porque o dinheiro vai 
rareando. “Nos acessos de loucura, Rubião 
constrói uma versão do mundo, não na 
condição de provinciano subjugado, mas 
intrometendo o papel de Imperador da 
França” (Chauvin, 2016, p.20). A única a ter 
pena de Rubião é D. Fernanda. Cristiano 
transfere-o do palacete de Botafogo, 
instalando-o em uma casa modesta, 
próxima do mar. Ali os delírios persistem. 
Rubião passa a ser zombado por todos, 
inclusive por crianças. Cristiano interna o 
ex-sócio, acompanhado pelo cão Quincas 
Borba, numa casa de saúde. Abandonado 
por todos, Rubião, com o cão, retorna a 
sua terra natal. Ambos sofrem a ação de 
uma tempestade e adormecem ao relento. 
Rubião, delirante, anda sem direção pelas 
ruas de Barbacena. É acolhido por sua 
comadre Angélica. Alguns dias depois, 
falece, acreditando ser Napoleão III. 
Repete sempre a máxima do filósofo 
Quincas Borba: "Ao vencedor, as batatas". 
Passados alguns dias morre também o 
cachorro Quincas, nas ruas de Barbacena, 
abandonado. No romance Quincas Borba, a 
loucura faz de Rubião uma personagem 
que “adquire máxima estatura perante o 
leitor” (Chauvin, 2016, p.21), apesar de ter 
sido escarnecido pelas personagens do 
romance. Para Ivan Teixeira, [...] a loucura 
de Rubião pode parecer um ato voluntário, 
uma astúcia de quem não teve sorte ou 
talento para presidir a própria vida. Mas no 
fim, mostrou-se pertinaz a solução da 
loucura. Em vez de admitir a exterioridade 
dos fatos, optou pela verdade do mundo 
interior. Afinal, ao Cruzeiro do Sul e a toda 
natureza, enfim, é indiferente se o homem 
ri ou chora cá na terra. E Rubião morreu 
mais feliz do que se tivesse mantido a 
lucidez (p.114) – 5 
17. PERSONAGENS 
Rubião: ex-professor interiorano, ingênuo, 
não acostumado ao jogo social, herdeiro da 
fortuna de Quincas Borba, novo-rico, sem 
malícia, suas ideias não têm grande alcance 
nem profundidade, não conhece o código 
da sociabilidade da corte, também não 
domina bem o código da palavra escrita, 
possui pouca cultura, falta-lhe eloquência, 
sua postura é tímida e envergonhada, 
simplório, influenciável, não desconfia da 
trama armada ao seu redor, morre louco e 
pobre. Discípulo do filósofo Quincas Borba, 
vive na pele o fundamento teórico do 
Humanitismo, filosofia fictícia do referido 
filósofo. 
Rubião suspirou, cruzou as pernas, e bateu com 
as borlas do chambre sobre os joelhos. Sentia 
que não era inteiramente feliz; mas sentia 
também que não estava longe a felicidade 
completa. Recompunha de cabeça uns modos,uns olhos, uns requebros sem explicação, a não 
ser esta, que ela o amava, e amava muito. Não 
era velho; ia fazer quarenta e um anos; e 
rigorosamente, parecia menos. Esta observação 
foi acompanhada de um gesto; passou a mão 
pelo queixo, barbeado todos os dias, coisa que 
não fazia dantes, por economia e 
desnecessidade. Um simples professor! Usava 
suíças (mais tarde deixou crescer a barba toda) 
– tão macias, que dava gosto passar os dedos 
por elas (cap. III, p.89). 
Cristiano Palha: vaidoso em relação à 
esposa (Sofia) e ao status conquistado, 
calculista, torna-se íntimo de Rubião e 
explora sua ingenuidade. Torna-se o 
administrador da herança de Rubião e 
pouco a pouco vai dilapidando-a. 
Na estação de Vassouras, entraram no trem 
Sofia e o marido, Cristiano de Almeida e Palha. 
Este era um rapagão de trinta e dois anos (...). 
Depois que o trem continuou a andar, foi que 
Palha reparou na pessoa de Rubião, cujo rosto, 
entre tanta gente carrancuda ou aborrecida, 
era o único plácido e satisfeito. (...) – Meu 
desejo é ficar, e fico mesmo – acudiu Rubião – ; 
estou cansado da Província; quero gozar a vida. 
Pode ser até que vá à Europa (...) Os olhos de 
Palha brilharam instantaneamente” (Cap. XXI, 
pp. 114-115). [...] zangão da praça, (...) gostava 
de ganhar dinheiro, era jeitoso, ativo, e tinha o 
faro dos negócios e das situações. Em 1864, 
apesar de recente no ofício, adivinhou – (...) as 
falências bancárias. (cap. XXXV, p. 133). 
Sofia: Casada com Cristiano Palha, 
sedutora, tem consciência do poder que 
exerce sobre Rubião, colabora com os 
planos de ascensão do marido, Cristiano 
Palha. Aprecia ser admirada e ostentar 
luxo. 
 As senhoras casadas eram bonitas; a mesma 
solteira não devia ter sido feia, aos vinte e cinco 
anos; mas Sofia primava entre todas elas. (...) 
Era daquela casta de mulheres que o tempo, 
como um escultor vagaroso, não acaba logo, e 
vai polindo ao passar dos longos dias. Essas 
esculturas lentas são miraculosas; Sofia 
rastejava os vinte e oito anos; estava mais bela 
que aos vinte e sete; era de supor que só aos 
trinta desse o escultor os últimos retoques, se 
não quisesse prolongar ainda o trabalho por 
dois ou três anos. Os olhos, por exemplo, não 
são os mesmos da estrada de ferro, quando o 
nosso Rubião falava com o Palha, e eles iam 
sublinhando a conversação... Agora, parecem 
mais negros, e já não sublinham nada; 
compõem logo as coisas, por si mesmos, em 
letra vistosa e gorda, e não é uma linha nem 
duas, são capítulos inteiros. A boca parece mais 
fresca. Ombros, mãos, braços, são melhores, e 
ela ainda os faz ótimos por meio de atitudes e 
gestos escolhidos. Uma feição que a dona 
nunca pôde suportar, — coisa que o próprio 
Rubião achou a princípio que destoava do resto 
da cara, — o excesso de sobrancelhas, — isso 
mesmo,sem ter diminuído, como que lhe dá ao 
todo um aspecto muito particular. Traja bem; 
comprime a cintura e o tronco no corpinho de lã 
fina cor de castanha, obra simples, e traz nas 
orelhas duas pérolas verdadeiras, — mimo que 
o nosso Rubião lhe deu pela Páscoa (Cap. XXXV 
- pp. 132-133). 
Quincas Borba: filósofo autor do 
Humanitismo, torna Rubião seu discípulo e 
herdeiro universal, este personagem que já 
aparecera em Memórias Póstumas de Brás 
Cubas. 
[...] Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba 
trazia aquele grãozinho de sandice, que um 
médico supôs achar-lhe? (Cap. IV, p. 90) 
Quincas Borba, que não deixara de andar, 
parou algunsinstantes. – Queres ser meu 
discípulo? – Quero. – Bem, irás entendendo aos 
pouco a minha filosofia; no dia em que a 
houverdes penetrado inteiramente, ah! nesse 
dia terás o maior prazer da vida, porque não há 
vinho que embriague como a verdade. Crê-me, 
o Humanitismo é o remate das coisas; e eu, que 
o formulei, sou o maior homem do mundo (...) 
(Cap. III, pp. 95-96). Quem sou eu, Rubião? Sou 
Santo Agostinho (...) (cap. X, p. 103). 
Quincas Borba (o cão): tem o mesmo 
nome do filósofo do Humanitismo,seu 
primeiro dono. Companheiro fiel, 
sobretudo nos momentos mais difíceis da 
trajetória tragicômica de Rubião. 
Rubião achou um rival no coração de Quincas 
Borba – um cão, um bonito cão, meio tamanho, 
pelo cor de chumbo, malhado de preto. [...] 
Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o 
seu próprio nome. (Cap. V, p. 91). Queria dizer 
aqui o fim do Quincas Borba, que, adoeceu 
também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado 
em busca do dono, e amanheceu morto na rua, 
três dias depois (Cap. CCI, p.380) 
Carlos Maria: amigo do casal Palha, torna-
se amigo também de Rubião. Tem boa 
aparência, é seguro de si, altivo, irônico, 
esnobe, galanteador, vaidoso, presunçoso, 
endeusado pelas mulheres (sobretudo por 
Maria Benedita, com que acaba por casar). 
 Maria Benedita: prima de Sofia, moça 
casadoura, endeusa Carlos Maria de quem 
se tornou esposa. 
Camacho: jornalista, envolvido na política, 
fala afetada, verborrágico, pede 
contribuições para Rubião para livrar o 
jornal A Atalaia do fechamento. 
D. Tonica: Filha do Major Siqueira, 
solteirona, frustrada. Sempre à espera de 
um noivo, que poderia ser Rubião, mas 
este está interessado em Sofia. Acaba 
arranjando um noivo, que morre dias antes 
do casamento. 
D. Fernanda: casamenteira, de boa índole, 
generosa, única a se compadecer do 
destino de Rubião. Promove o casamento 
de Carlos Maria com Maria Benedita. 
Freitas: extrovertido, bajulador, comensal 
na residência de Rubião. 
Teófilo: marido de D. Fernanda, ambicioso, 
ajusta-se às mudanças do jogo político 
ocorridas durante a crise ministerial. 
Major Siqueira: observador da sociedade 
que o cerca, pai de D. Tonica. 
EXERCÍCIOS 
Texto 1. 
“O mais significativo, agora, é a possibilidade de passagem de uma classe para outra; a 
principal escada utilizada com esse objetivo são os negócios, e Cristiano Palha, ex-seminarista, 
junto com sua esposa Sofia, filha de um funcionário público, são mostrados com cuidadosos 
detalhes, em sua suave e cínica ascensão através dos escalões sociais” 
1.Considerando esse fragmento crítico, o que motiva o casal Palha a se aproximar de Rubião? 
Texto 2 
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para 
alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra 
vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas 
do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é 
a destruição; a guerra é a conservação. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, 
recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.” 
2. Para explicar a filosofia do Humanitismo, Quincas Borba usa metáforas. O que elas 
evidenciam? 
3. No início do romance, Rubião pensa: “Deus escreve certo por linhas tortas”. A que 
acontecimento trágico (“linhas tortas”) que resultou em algo favorável (“escreve certo”) ele se 
refere? 
Texto 3 
“Rubião é o mais nítido exemplo do mecanismo de devoração do homem pelo homem, 
instrumento da ambição econômica da sociedade urbana de Palhas e Sofias, Camachos e 
Freitas. Tal qual os fracos e puros, é manipulado como uma coisa, exatamente por uma galeria 
de personagens terríveis, todos homens de corte burguês impecável, perfeitamente 
entrosados nos mores de sua classe e seu espaço experencial.” 
4. Nesse texto, Rubião é apresentado como alvo fácil a ser explorado por homens 
inescrupulosos. Em que consiste a fraqueza do protagonista? 
5. As personagens do romance Quincas Borba seguem quais motivações internas para seus 
atos? 
Texto para as questões 6, 7, 8 e 9: 
Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares 
metidos no cordão do chambre*, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele 
admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensavaem outra 
coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? 
Capitalista*. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, 
Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e 
tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. 
 -Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado 
com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e 
aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça... (Cap I) 
 
6. Considerando-se o primeiro capítulo do romance de Machado de Assis (Quincas Borba) sob 
o aspecto de sua construção (ou composição), verifica-se que ele se assinala por seu caráter 
 
a)digressivo, uma vez que muda de assunto inopinadamente e com frequência, variando 
também o tom, o foco e a perspectiva da narração. 
b) conciso, visto que concentra, com bastante economia de meios expressivos, numerosas 
formulações decisivas para o encaminhamento da narrativa. 
c) metalinguístico, dado que se desenvolve como uma reflexão sobre os recursos que emprega 
para configurar o espaço, o tempo e as personagens. 
d) diversionista, tendo em vista que evita cuidadosamente revelar seu tema principal, 
procurando desorientar o leitor e evitar que ele desvende precocemente os segredos da 
trama. 
e)pitoresco, uma vez que destaca os pormenores típicos, curiosos e sugestivos do espaço e da 
situação narrativa, com a finalidade de dar realce à cor local do ambiente. 
 
7.Explique o meio utilizado pelo narrador para mostrar que só ele sabe de fato o que está 
pensando a personagem 
 
8. Indique o que, no capítulo acima, vem a ser o contraste entre aparência e realidade. 
 
9. Transcreva do texto uma frase que explique “linhas tortas”, e outra que explique “escreve 
direito”. 
 
Texto para as questões 10, 11 e 12. 
 
Não se pense que tudo isso foi tão fácil como aí fica escrito. Na prática, vieram os óbices, 
amofinações, saudades, rebeliões de Maria Benedita. Dezoito dias depois da volta da mãe à 
fazenda, quis ir visitá-la, e a prima acompanhou-a; estiveram lá uma semana. A mãe, dois 
meses depois, veio passar uns dias aqui. Sofia acostumava habilmente a prima às distrações da 
cidade; teatros, visitas, passeios, reuniões em casa, vestidos novos, chapéus lindos, jóias. 
Maria Benedita era mulher, posto que mulher esquisita; gostou de tais coisas, mas tinha para 
si que, logo que quisesse, podia arrebentar todos esses liames, e andar para a roça. A roça 
vinha ter com ela, às vezes, em sonho ou simples devaneio. Depois dos primeiros saraus, 
quando voltava para casa, não eram as sensações da noite que lhe enchiam a alma, eram as 
saudades de Iguaçu. Cresciam-lhe mais a certas horas do dia, quando a quietação da casa e da 
rua era completa. Então batia as asas para a varanda da velha casa, onde bebia café, ao pé da 
mãe; pensava na escravaria, nos móveis antigos, nas botinas chinelas que lhe mandara o 
padrinho, um fazendeiro rico de São João del-Rei, — e que lá ficaram em casa. Sofia não 
consentiu que ela as trouxesse. (Cap. LXVIII) 
 
10. “Maria Benedita era mulher posto que mulher esquisita”. Justifique, por meio de sua 
compreensão do texto, a aplicação do adjetivo à personagem. 
 
11. “Sofia não consentiu que ele as trouxesse”. Qual seria a motivação principal da atitude de 
Sofia. 
 
12. Rubião também vinha de fora do Rio de Janeiro. Faça um paralelo entre a atitude de Maria 
Benedita e a dele. 
 
RESPOSTAS 
1. A busca por ascensão social é o que motiva o casal Palha a se aproximar de Rubião. O 
romance Quincas Borba retrata com realismo a verdadeira natureza das relações sociais. 
2. As metáforas usadas na alegoria acerca da filosofia do Humanitismo demonstram a 
supremacia do mais forte em relação ao mais fraco. Na luta pela sobrevivência, apenas os 
indivíduos fortes e aptos sobrevivem e vencem, a guerra serve para garantir a vitória e a 
permanência de um dado grupo, também para que o indivíduo obtenha reconhecimento 
perante os demais. 
3. Trata-se do casamento não ocorrido entre Quincas Borba e Piedade, irmã de Rubião. Caso o 
enlace matrimonial tivesse ocorrido, ele teria somente “uma esperança colateral”. Como eles 
não casaram, inclusive ambos morreram acometidos por doença, toda a fortuna de Quincas 
Borba foi destinada a Rubião. Embora com a consciência pesada, Rubião fica satisfeito com a 
morte dos dois, pois o casamento e posteriormente um possível filho acabaria com a 
possibilidade de enriquecimento do protagonista. 
4. A fraqueza de Rubião consiste na sua ingenuidade. Ele desconhece o código que rege a 
sociabilidade da corte. 
 5. As personagens de Quincas Borba predominantemente são movidas pela busca de status 
social elevado e da realização de seus interesses individuais materialistas 
6. Alternativa B. 
7. O meio utilizado pelo narrador, para chamar a atenção sobre seu privilégio de onisciência, 
consiste em lembrar que os eventuais observadores de Rubião julgariam que ele estava apenas 
admirando a enseada. 
8. A aparência é a de um homem que se detém na contemplação da paisagem presente; a 
realidade é de alguém que “cortejava o passado com o presente”, avaliava os caminhos 
imprevistos que o levaram à riqueza e rejubilava-se com sua situação atual, sentindo-se 
proprietário de tudo o que descortinava a sua frente. 
9. Linhas tortas: “Não casou; ambos morreram”; Escreve direito: “aqui está tudo comigo”. 
10. Marai Benedita não apresentava as reações que se esperavam numa moça que vinha do 
campo e começava a participar das festas noturnas da cidade, Estas não a comoviam tanto 
quanto as lembranças da roça. 
11. O que motiva Sofia é provavelmente o temor da impressão negativa que causariam as 
chineladas da roça em ambiente urbano. Ainda mais que estariam sendo usada por sua prima. 
12. Ao contrário de Maria Benedita, Rubião só se lembrava de Barbacena muito raramente. 
Sentia-se aclimatado no Rio de Janeiro e seu desejo se voltava todo para a vida Capital.