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Peste Suína Africana: situação atual, epidemiologia e apresentação clínica Cordeiro. T. T. C, Rossi. B. C, Silva. M. M Introdução: A Peste Suína Africana (PSA) é uma doença viral infecciosa exclusiva da espécie suidae que tem assolado o rebanho suíno da China desde 2018. No Brasil, o primeiro surto da PSA ocorreu em 1978 quando foram registrados 223 focos, contudo, em 1984 o país foi declarado livre da doença. Por não possuir potencial zoonótico, não se trata de uma infecção que ofereça riscos a espécie humana. Teve sua origem no continente africano no início do século XX com a alta produção de suínos, e a partir das primeiras décadas do século XXI tem sido confirmada em países Europeus e Asiáticos. EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA: Os suínos possuem muitas doenças virais graves para sua espécie, sendo críticas para a produção e consequentemente afetando a economia do local onde se dissemina. Uma das doenças virais com maior nível de disseminação é a Peste Suína Africana. Essa doença tem seu maior índice na África, onde há um alto número de suínos selvagens infectados, porém que não chegam a gerar sinais clínicos. O vírus responsável pela PSA é da família Asfarviridae e do gênero Asfivirus. Possui um alto nível de disseminação, apresentando um alto nível econômico e, no Brasil, sendo de notificação obrigatória pela Organização Mundial da Saúde Animal. A transmissão do vírus pode ocorrer através de secreções nasais ou orais entre os suínos, através de alimentos com origem suína contaminados ou pelo carrapato vetor do gênero Ornithodoros spp. Os animais podem também ser contaminados pela água em propriedades onde se enterram os suínos infectados e possuem muita água no solo. AGENTE ETIOLÓGICO: A família Asfarviridae do vírus causador da PSA é considerada uma família de vírus complexa e altamente resistente no meio ambiente. Possui um formato icosaédrico e é constituído por DNA linear. Por possuir um envelope glicolipoproteico, é sensível a solvente lipídicos (éter e clorofórmio), desinfetantes (cresol, hidróxido de sódio e formalina) e detergentes iônicos e não iônicos. Já foi confirmado que o vírus da PSA pode permanecer totalmente viável por até uma semana nos dejetos dos suínos e em alimentos crus e cozidos. Possui alta resistência às condições ambientais adversas, como temperatura entre 4°C a 20°C e pH de 3 a 10. Possuem comprimento de 170 a 190 pares de nucleotídeos, características que assumem traços semelhantes para duas famílias de vírus: os Iridoviridae e os Poxviridae, pois compartilham da mesma superfamília. As principais espécies a serem infectadas são: o suíno doméstico, javalis silvestres da Eurásia (Sus scrofa scrofa), javalis (Phacochoerus spp.), porcos do mato (Potamochoerus larvatus e Potamochoerus porcus) e porcos-gigantes da floresta (Hylochoerus spp.). Acredita-se que os javalis e porcos-do-mato são assintomáticos. A transmissão mediada por vetores se dá através da picada dos Ornithodoros spp., popularmente conhecidos como carrapatos moles. Em algumas regiões da África, acredita-se que o vírus PSA faz o ciclo entre javalis jovens comuns (Phacochoerus africanus) e carrapatos moles do complexo Ornithodoros mouba, que vive em suas tocas. A PSA pode ser transmitida com ou sem carrapatos como vetores intermediários. Através do contato direto (não transmitido por carrapatos) com o vírus, ele entra no organismo via trato respiratório superior. Pode haver diferenças na contaminação entre espécies de Suidae. Por exemplo, concentrações de vírus PSA parecem ser muito menores em javalis, comparado com suínos, e os javalis adultos podem não transmitir o vírus por contato direto. Não há evidências que carrapatos duros atuem como vetores biológicos para o vírus PSA, já outros insetos sugadores de sangue como os mosquitos e moscas sugadoras podem transmiti-lo mecanicamente. Nos suínos, os aerossóis com o vírus podem contribuir para a transmissão dentro de uma instalação ou fazenda, embora evidências atuais sugerem que isso apenas ocorre em distâncias relativamente curtas. Pode persistir em sangue e tecidos após a morte, fator que leva a ser facilmente disseminado por alimentos (lavagem) não cozidos que contém tecidos de animais infectados. Alguns estudos sugerem que o canibalismo de suínos mortos pode ser importante na transmissão. Ainda não se sabe ao certo quanto tempo os suínos podem ficar infectados. Vários estudos têm relatado a descoberta em tecidos de suínos domésticos durante 3 ou 6 meses e a disseminação do vírus e transmissão por no mínimo 70 dias após a inoculação experimental. Entretanto, também existem estudos onde os suínos não puderam transmitir o vírus por mais de um mês. Atualmente, não existem evidências de que o vírus persiste a longo prazo em estado latente. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: O período de incubação da doença em geral é de 4 a 19 dias e sua severidade está relacionada a diferentes fatores. São considerados fatores como a virulência da estirpe viral, a via e dose de infecção e o status imune do animal hospedeiro, sendo divididos em forma subaguda, aguda e crônica. Na forma subaguda a virulência é moderada a baixa, sendo assim, com sinais clínicos variáveis, mas tipicamente similares à forma aguda, entretanto muito menos severos. A mortalidade está relacionada a idade dos animais afetados, onde 80% dos animais afetados são jovens e 20% adultos. As manifestações clínicas dessa forma de infecção são semelhantes, porém mais brandas, que na forma aguda. Na forma aguda ocorrem hemorragias significativas em diversos órgãos e tecidos, principalmente na pele, baço e linfonodos que aumentam de tamanho. O animal apresenta fraqueza, anorexia, conjuntivite e febre alta e ainda pode apresentar um andar cambaleante progredindo para perda da motricidade nos membros posteriores, além de febre, leucopenia, eritema, sangue nas fezes e possivelmente uma diarreia e ainda podem ter sinais respiratórios e digestivos. Pode levar a óbito dentro de uma a três semanas. Na forma crônica os animais apresentam anorexia, depressão, altas temperaturas e constipação. Esses sinais geralmente regridem em algumas semanas e podem aumentar novamente, podendo ser fatais para esse animal. Os animais tornam-se imunossuprimidos. ACHADOS DE NECROPSIA: Foram verificadas áreas de hemorragia em diversos órgãos (linfonodos, rins e coração), além de lesões pulmonares (pleurite fibrinosa e hepatização do parênquima pulmonar), infartos esplênicos e tonsilite necrótica. Nos casos crônicos podem ser observadas úlceras no intestino grosso (próximo a junção íleo-cecal), recobertas por exsudato caseoso e amarelado, causadas por infecção secundária por Salmonella spp. DIAGNÓSTICO: O primeiro teste a ser feito é o superficial, onde são observadas as características como porcos com quadros de anorexia, ocorrência de casos de mortes, animais com movimentação descoordenada e aglomerado sem interesse de movimentar-se. Outros métodos de diagnósticos diretos (identificação do vírus, teste de hemadsorção, imunofluorescência direta e reação da cadeia de polimerase) ou indiretos (sorologia, imunofluorescência indireta, coloração pela imunoperoxidase e ELISA) podem ser indicados. Para realizar a diferenciação entre Peste Suína Africana e Peste Suína Clássica, envolve a inoculação de materiais suspeito em suínos vacinados contra a febre suína clássica e em suínos não vacinados e assim, também pode ser utilizada a PCR, para detectar DNA do VPSA em tecidos inadequados ao isolamento do vírus, ou à detecção de antígenos. TRATAMENTO: Até o presente momento, não há descrição da existência de tratamento para essa doença. Assim, quando animais se encontram infectados, devem ser sacrificados e sua carcaça incinerada. CONTROLE E PREVENÇÃO: Existe a necessidade de se reportar imediatamente os casos suspeitos ao ServiçoVeterinário Estadual, garantir um diagnóstico laboratorial rápido, treinamento e capacitação de veterinários e produtores para reconhecer a doença. Existem no mercado vacinas atenuadas, que foram utilizadas de forma a induzir a proteção contra essa doença. No entanto, uma das formas mais importantes de prevenção contra a doença, consiste no monitoramento sorológico, de forma a evitar que o suíno silvestre entre em contato com os suínos domésticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com base nas referências bibliográficas descritas abaixo, concluímos que a PSA no século XXI era considerada reemergente, havendo atualmente o risco de atingir outros países da Europa, América do Norte e América do Sul, podendo gerar um enorme prejuízo de ordem sanitária, econômica, social e ambiental. Até o momento não há nenhum tratamento que seja eficaz para os animais, porém algumas ações de vigilância sanitária e epidemiológica, principalmente em portos e aeroportos, além do treinamento e capacitação de veterinários e produtores para reconhecer a doença, são determinantes para que essa doença não venha ocorrer novamente no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Anna Rovid. 2019. Peste Suína Africana. Traduzido e adaptado a situação do Brasil por Mendes, Ricardo, 2019. 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