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FPM IV 1 Agressividade e Agitação Psicomotora O QUE É AGITAÇÃO PSICOMOTORA -Agitação pode ser definida como um estado de atividade psicomotora excessiva sem necessariamente ter um propósito, podendo ser acompanhado por inquietação, aumento da atividade cognitiva, irritabilidade e até agressividade -Trata-se de uma das complicações mais comuns das doenças mentais -A correta abordagem da agitação pode diminuir o tempo de crise do paciente, assim como sua permanência em um PS ou hospital CONCEITOS -Agitação psicomotora: é todo estado de aumento de atividade, com ou sem propósito, e de diversas gravidades -Agressividade: é o aumento da atividade motora com o intuito de causar dano a algo (objeto ou pessoa) -Manejo não medicamentoso: é qualquer medida que vise a acalmar o paciente sem o uso de medicações, como abordagem verbal e contenção física -Manejo medicamentoso: é a utilização de medicações psicotrópicas para reduzir seu estado de agitação ou agressividade -Tranquilização rápida: consiste no manejo medicamentoso cujo princípio é acalmar o paciente sem sedá-lo excessivamente, com menores doses possíveis e com poucos ou sem efeitos colaterais (contenção química) -Contenção física: é a medida não medicamentosa utilizada para proteger o paciente por meio de dispositivos colocados sobre seu corpo visando a limitar seus movimentos (por ex. faixa de contenção) EPIDEMIOLOGIA: -Responsável por 2,6 a 52% de todas as emergências psiquiátricas no mundo -23,6 a 23,9% das emergências psiquiátricas no Brasil PRINCIPAIS CAUSAS: -Condições físicas: trauma craniano, infecções, encefalopatias, exposição a toxinas, distúrbios metabólicos, hipóxia, doença tireoidiana, convulsão, níveis tóxicos de Medicações (por ex. os psicoestimulantes) -Intoxicação ou abstinência de drogas -Doenças mentais: transtornos psicóticos, mania, estado misto do humor, depressão agitada, transtorno da personalidade, agitação reativa à situação (paciente com retardo mental), autismo AVALIAÇÃO DO PACIENTE: -A avaliação do paciente deve ser realizada pela história colhida diretamente com ele, se possível, e com os seus acompanhantes. Visto que nem sempre há como prolongar a avaliação, sugere-se o uso de 4 perguntas básicas: 1. O que está acontecendo? 2. Por quanto tempo? 3. Por que hoje? 4. Quais são as hipóteses diagnósticas plausíveis ou os diagnósticos temporários? -É essencial realizar o exame físico e a coleta de exames vitais FPM IV 2 Agressividade e Agitação Psicomotora -Caso não seja viável inicialmente, essa medida precisa ser providenciada o quanto antes POSSIBILIDADE DE DOENÇA FÍSICA COMO CAUSA DA AGITAÇÃO: ✓ Sintomas novos em pacientes com idade superior a 45 anos. ✓ Alterações de sinais vitais. ✓ Sinais neurológicos. ✓ Evidência de trauma craniano. ✓ Intoxicação ou abstinência por substância. ✓ Doença física prévia. ✓ Rebaixamento da consciência e desatenção. ✓ Alucinações visuais. ✓ Tentativa de suicídio. ✓ Sudorese, tremor e palidez. ✓ Cefaleia intensa. ✓ Rigidez muscular ou fraqueza acentuada. ✓ Perda de peso involuntária. ✓ Crise convulsiva. ✓ Dispneia. ✓ Amnésia. ✓ Psicose de início recente. -É importante salientar que nada adiantará, se, no manejo da agitação, não forem abordados os fenômenos-gatilho que, em geral, desencadeiam direta ou indiretamente os episódios de agitação e/ou agressividade: 1) Doença mental: esquizofrenia, estado de mania ou estado misto no transtorno bipolar, depressão agitada, ansiedade, transtorno da personalidade, transtorno reativo ou adaptativo, autismo 2) Não concordância com o diagnóstico ou com a terapêutica: diagnóstico recente, baixa adesão, dificuldade em compreender o diagnóstico 3) Doenças físicas: traumatismo craniano, acidente vascular cerebral, infecções (encefalites), doenças renais, doenças hepáticas, doenças metabólicas, doenças cardíacas, hipóxia, crise convulsiva, doenças endócrinas 4) Dor: principalmente quando não valorizada ou não abordada de maneira adequada 5) Medicações: doses elevadas, abstinência 6) Intoxicação ou abstinência: álcool, cocaína e derivados, inalantes, drogas sintéticas, cetamina 7) Fatores psicológicos: sensação de estar sendo humilhado, de estar sendo ignorado, de estar sendo ameaçado ou de estar perdendo o controle pessoal 8) Estados fisiológicos: fome, sede, sono, sonolência MANEJO: FPM IV 3 Agressividade e Agitação Psicomotora I. Observar o que está acontecendo e garantir a segurança do paciente, da equipe e das pessoas que estão ao redor. II. Estabelecer uma via de comunicação: a escuta ativa e a negociação. III. Restrição de espaço. Essa medida pode ser executada retirando-se o paciente de um ambiente movimentado e levando-o para outro mais calmo e privado, a fim de evitar que outras pessoas se assustem, que o paciente modifique seu comportamento em prol de uma suposta plateia e que se possa conversar em um local silencioso IV. Manejo medicamentoso. Uma vez que as demais medidas falharam, opta-se pelo uso de medicações, antes ou depois de se tentar a contenção física. Esse procedimento deve seguir os princípios da tranquilização rápida: não medicar em excesso, monitorar o paciente após medicar, não manter contenção física por longos períodos (máximo 2h), não respeitar o início das medicações, não hidratar e evitar ao máximo medicações por via intravenosa. ANTIPSICÓTICOS TÍPICOS -Os antipsicóticos típicos têm como efeito principal bloquear os receptores D2 da dopamina e causam, em curto prazo, apatia, redução da iniciativa, diminuição das respostas emocionais e sedação, podendo esse efeito se acumular com o uso contínuo. Cada medicação pode apresentar ação em outros receptores, como M1 (muscarínicos), α1-adrenérgicos e H1 (histaminérgicos) -São classificados de acordo com sua estrutura molecular e também conforme sua potência comparada à clorpromazina Quanto maior a potência, maior o risco de efeito colateral extrapiramidal. São efeitos indesejados: -Extrapiramidais: acatisia, distonia aguda, parkinsonismo, tremores, discinesia tardia, síndrome neuroléptica maligna -Cardiovasculares: hipotensão (em especial postural), hipertensão, arritmias cardíacas, taquicardia, morte súbita -Hepáticos: hepatotoxicidade, icterícia -Outros: sedação, insônia, agitação, boca seca, cãibras, cefaleia, constipação, diminuição do limiar convulsivo (aumento do risco de convulsão), desatenção, diarreia, diminuição da libido, impotência, galactorreia, ginecomastia, hipo e hiperglicemia, retenção urinária, tonturas, vômitos, secreção inapropriada de hormônio antidiurético, retinopatia pigmentar, fotossensibilidade, rash cutâneo HALOPERIDOL: -Haloperidol: antipsicótico de alta potência do grupo das butirofenonas (2 mg de haloperidol equivalem a 100 mg de clorpromazina) -Apresenta menor risco de causar sedação ou hipotensão, podendo ser administrado por vias oral e intramuscular -Não é recomendado por via intravascular, pois intensifica seus efeitos colaterais e aumenta o risco de morte súbita FPM IV 4 Agressividade e Agitação Psicomotora -Tem meia-vida de cerca de 24 horas e atinge seu platô com o uso contínuo no período de 3 a 5 dias -Por via oral, seu pico de concentração plasmática ocorre 1 a 4 horas após a ingestão e 30 minutos após a administração intramuscular DROPERIDOL: -Droperidol: pertence ao grupo das butirofenonas -Está disponível para uso parenteral -Possui início de ação de 3 a 10 minutos após injeção intramuscular e pico de 30 minutos, com efeito de 2 a 4 horas -A dose habitual é de 2,5 a 5 mg por via intramuscular -Apresenta bloqueio dopaminérgico e α1- adrenérgico e colinérgico -É mais sedativo do que o haloperidol *idosos CLORPROMAZINA: -Clorpromazina: é um antipsicótico de média potência da classe das fenotiazinas -Apresenta antagonismo dos receptores de dopamina, além deefeitos muscarínicos, histamínicos, noradrenérgicos e serotoninérgicos -1º psicofármaco -Devido ao forte efeito antagonista α1- adrenérgico, causa hipotensão ortostática, taquicardia reflexa, sedação e sonolência -Seu efeito nos receptorescolinérgicos também é potente -Portanto, pode ter reações adversas e efeitos colaterais cardiovasculares, incluindo arritmias e morte súbita, convulsões, piora do glaucoma, íleo paralítico e delirium -As informações na literatura sobre sua segurança e eficácia na agitação psicomotora são escassas, de modo que a clorpromazina não é uma medicação recomendada de primeira linha LEVOMEPROMAZINA -Levomepromazina: antipsicótico de baixa potência da classe das fenotiazinas. Possui as mesmas características da clorpromazina -Está disponível por via oral em comprimidos ou solução, mas não há evidência científica para seu uso -Sua eficácia foi comprovada por via parenteral, mas não está disponível no Brasil ANTIPSICOTICOS ATÍPICOS: -O que caracteriza os antipsicóticos considerados atípicos é a capacidade de promover a ação antipsicótica em doses que não produzam, de modo significativo, sintomas extrapiramidais, devido a efeito nos receptores 5HT2A -Apresentam perfis diversos e também atuam em diversas modalidades de receptores dopaminérgicos, muscarínicos, adrenérgicos, histamínicos e serotoninérgicos -Proporcionam melhora dos sintomas cognitivos e negativos ARIPIPAZOL: -Aripiprazol: antipsicótico da classe diclorofenilpiperazina -Está disponível na forma de comprimidos de 10, 15, 20 e 30 mg FPM IV 5 Agressividade e Agitação Psicomotora -Tem pico plasmático de 3 a 5 horas, e a sua estabilidade é alcançada em 14 dias e metabólito ativo (desidroaripiprazol) com meia- vida de 75 a 94 horas -Possui eficácia para uso por via parenteral, mas não está disponível no Brasil ASENAPINA: -Asenapina: novo antipsicótico antagonista de vários receptores dopaminérgicos (D2, D3 e D4), serotoninérgicos (5HT2A, 5HT2B, 5HT2C, 5HT6 e 5HT7) e α-adrenérgicos (α1A e α2) -Tem afinidade apreciavelmente mais alta para os receptores 5HT2 do que para os receptores D2 -A relação da constante de inibição (Ki) para os receptores 5HT2A/D2 fica ao redor de 20 -Disponível na forma de comprimidos sublinguais de 5 e 10 mg. Tem efeito inicial que varia de 30 a 90 minutos OLAZAPINA: -Antipsicótico da classe dos tienobenzodiazepínicos -Atualmente, tem apresentações apenas em comprimidos de 2,5, 5 e 10 mg -Seu pico é atingido em 5 a 8 horas -É seguro em pacientes idosos -É um dos antipsicóticos com a maior taxa de ganho de peso -Tem eficácia por via oral e intramuscular -O maior problema de seu uso oral é o início de ação demorado na apresentação oral comum. Para tranquilização rápida, é mais válida a apresentação orodispersível -Tem na via IM, mas não está disponível no BR RISPERIDONA: -Antipsicóticontico da classe dos benzisoxazólicos -Tem apresentação em comprimidos, comprimidos, solução oral e de depósito -Por via oral, apresenta pico de 0,8 a 1,4 horas, meia-vida de até 24 horas e equilíbrio plasmático de 1 a 7 dias -Doses acima de 10 mg não aumentam a eficácia e acentuam os efeitos extrapiramidais *até 4 mg -Tem início de ação dentro de 1 hora, o que pode ser reduzido com o uso de solução oral -Entre os antipsicóticos, é a opção com melhor relação custo-benefício na tranquilização rápida por via oral QUETIAPINA: -Antipsicótico da classe dibenzotiazepina -Está disponível na forma de comprimidos de 25, 50, 100, 200 e 300 mg -Tem pico plasmático de 1,2 a 1,8 horas e meia-vida de 7 horas -Por esse motivo, é recomendado que seja administrado 2 vezes ao dia -Entre os antipsicóticos, é o de menor chance de causar hiperprolactinemia e de maior segurança cardíaca -A quetiapina não tem sua eficácia comprovada para tranquilização rápida, visto que os estudos abordam seus efeitos em semanas ZIPRASIDONA: -Antipsicótico do grupo dos benzisoxazólicos -Tem apresentações em cápsulas para uso oral e ampola para uso intramuscular FPM IV 6 Agressividade e Agitação Psicomotora -A administração oral tem pico de 6 a 8 horas e meia-vida de 6 a 7 horas, ou seja, deve ser administrada 2 vezes ao dia -Por via intramuscular, a dose é de 10 a 20 mg, sendo que devem ser prescritos 10 mg a cada 2 horas ou 20 mg a cada 4 horas até o máximo de 40 mg por dia -Seu uso na tranquilização rápida se restringe à apresentação intramuscular *ingerida com alimentação BENZODIAZEPÍNICOS: -Seu mecanismo de ação se deve à facilitação da transmissão GABAérgica, tendo, assim, efeitos sedativo, hipnótico, ansiolítico, anticonvulsivante e miorrelaxante -Causam, em geral, maior sedação do que os antipsicóticos típicos, com a vantagem de não provocarem sintomas extrapiramidais -Os efeitos colaterais mais comuns incluem ataxia, amnésia, depressão respiratória, sedação excessiva, desinibição paradoxal, sendo esta última mais comum em pacientes com retardo mental, lesão cerebral estrutural e demência -Podem causar dependência -Por causa da possível depressão respiratória, devem ser evitados em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica ou outra condição clínica em que a reserva pulmonar esteja diminuída -Em idosos, devem ser administrados com cautela devido à metabolização mais lenta -Devem ser evitados em pacientes intoxicados por álcool (age nos mesmos receptores), opioides ou barbitúricos, ou utilizados com cautela, pois podem potencializar a sedação causada por essas substâncias DIAZEPAM: -Diazepam: é considerado o modelo de benzodiazepínico -Tem apresentações em comprimidos de 5 e 10 mg e ampolas para injeção intravenosa de 10 mg/2 mL -Por via oral, seu pico de concentração plasmática é de 30 a 90 minutos. Devido à produção de metabólitos ativos, sua meia-vida varia de 20 a 90 horas – muito tempo de sedação *não é muito usado na emergência psiquiátrica CLONAZEPAM: -Clonazepam: disponível nas apresentações em comprimidos de 0,5 e 2 mg e solução oral de 2,5 mg/mL. Tem alta potência -Atinge o pico em 1 a 3 horas e tem meia-vida de 20 a 40 horas “ressaca” LORAZEPAM: -Disponível nas apresentações de comprimidos de 1 e 2 mg -No Brasil, não está disponível sua apresentação para uso parenteral -Tem pico de 2 horas e meia-vida de 8 a 16 horas *não dá ressaca comparado ao Clonazepam -É metabolizado pelo fígado exclusivamente por glicuronidação e não produz metabólitos ativos FPM IV 7 Agressividade e Agitação Psicomotora -Como seu metabolismo não diminui com a idade, é o benzodiazepínico de preferência em idosos -Também é o benzodiazepínico de escolha em casos de pacientes com comprometimento hepático, doenças clínicas graves e uso de múltiplas medicações MIDAZOLAM: -Benzodiazepínico com efeito hipnótico acentuado -Por via oral, induz o sono em 15 a 20 minutos -Sua meia-vida por via oral ou intramuscular é de 90 a 150 minutos -Nos casos de agitação severa, pode ser utilizado em monoterapia ou associado a antipsicóticos ANTICOLINÉRGICOS E ANTI-HISTMANICOS: -Medicações anticolinérgicas não são recomendadas nos casos de agitação, pois podem desencadeá-la e causar confusão mental -Entretanto, pacientes com sensibilidade aos efeitos extrapiramidais dos antipsicóticos podem demandar sua associação, sendo o mais recomendado o biperideno por via oral -O biperideno por via intramuscular deve ser reservado para casos de distonia aguda ou outros efeitos extrapiramidais agudos e acentuados após a administração de um neuroléptico PROMETAZINA: -É uma fenotiazina sem propriedade antipsicótica, com efeito anti-histamínico e Anticolinérgico -Está disponível nas apresentações de comprimidos de 25 mg, solução oral (5 mg/mL e 2,5 mg/mL) e para uso parenteral intramuscular em ampolas de 50 mg/2 mL -Tem como efeitos colaterais boca seca, dor epigástrica, retenção urinária, sedação, tonturas, visão borrada, confusão mental,excitação, hipotensão postural, taquicardia, tremores e vômitos -Seu emprego na agitação, apesar de polêmico e não ser aceito por alguns especialistas, foi comprovado como eficaz quando associado ao haloperidol, visto que amplia os efeitos sedativos e reduz os efeitos colaterais extrapiramidais ANTICONVULSIVANTES: -Não há evidência científica de que os anticonvulsivantes possam ser usados para pacientes em agitação psicomotora, salvo casos em que tal agitação está relacionada a crises convulsivas FPM IV 8 Agressividade e Agitação Psicomotora SITUAÇÕES ESPECIAIS: →Crianças: para crianças, são preferíveis as medidas não medicamentosas -Se for necessário medicar, deve-se fazê-lo por via oral →Pacientes com epilepsia: -os antipsicóticos podem reduzir o limiar convulsivo -Se forem utilizados, exigem ajuste do anticonvulsivante -Se possível, deve-se optar pelos benzodiazepínicos →Indivíduos intoxicados: -intoxicações por drogas depressoras, deve- se optar por haloperidol em monoterapia -Drogas excitatórias, considerar benzodiazepínicos -É necessário cuidado com sedação excessiva e risco de arritmias →Gestantes: -Para gestantes, a preferência é pelo haloperidol em monoterapia →Indivíduos com síndrome de abstinência de álcool: -Os antipsicóticos podem reduzir o limiar convulsivo -Se forem administrados, requerem ajuste do anticonvulsivante -Se possível, deve-se optar pelos benzodiazepínicos *Intoxicação diferente de abstinência
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