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Refletir sobre o desenho da criança como uma das formas de manifestações das artes visuais é fundamental para o professor que deseja atuar com o ensino de arte nas escolas. Como educadores artísticos, precisamos compreender a gestualidade como formação de identidade e percepção de si, com ênfase na primeira infância; entender as representações simbólicas do desenho infantil e saber identificar etapas do desenvolvimento do desenho da figura humana, selecionando atividades que beneficiam a construção do esquema corporal. A gestualidade da criança em relação ao desenho transmite a sua vontade de riscar e apresentar ao público a sua percepção holística sobre o mundo que a cerca. Por meio do desenho, a criança se expressa e comunica seus sentimentos. Além disso, contribui na sua aprendizagem. Assim, é preciso que o educador pense sobre a sua prática na arte-educação, os desafios, as perspectivas ao atuar de forma profissional no ensino de arte e os saberes necessários para exercer essa prática social na educação da infância. Ao desenvolver o desenho, a criança expressa sua gestualidade por meio do movimento. Esse gesto está relacionado ao movimento do instrumento utilizado pela criança sobre o chão, a parede ou um papel, fato que proporciona alegria a mesma ao se movimentar. Esse instrumento pode ser um lápis, uma caneta, um pincel e a própria mão ou dedos da criança. A princípio, nos seus primeiros contatos, ao iniciar a fase das garatujas, a criança não tem controle do instrumento utilizado para desenhar, ou seja, não domina os movimentos. COMO PODEMOS CRIAR PROJETOS DE ARTE-EDUCAÇÃO PARA A ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA? 4.1 Artes visuais: o desenho da criança Assim, devemos perceber a importância de incentivar as artes no ambiente escolar — no caso o desenho — na formação das crianças, uma vez que elas transmitem conhecimentos. O desenho é uma arte que existe desde os tempos das cavernas, no período pré-histórico. Ao se referir às primeiras manifestações de arte, a autora Graça Aranha (2008) afirma que “[...] consistiam em traços feitos nas paredes das cavernas ou em traços em negativo” (ARANHA, 2008, p. 10). Para a autora, “[...] somente muito tempo depois de dominar a técnica das mãos em negativo é que o ser humano da pré-história começou a desenhar e a pintar animais” (ARANHA, 2008, p. 10). O desenho na educação de crianças ajuda no processo de ensino e aprendizagem expandindo o seu entendimento de mundo, daquilo que está escondido na “caixa preta” do cotidiano, em que a criança se encontra inserida. Além disso, o desenho contribui nas desenvolturas e no seu potencial criativo. Por meio do desenho, a criança é capaz de expressar suas emoções, sentimentos, pensamentos, transmitindo sua forma de comunicação por vários suportes que pode ser uma parede, um pedaço de papel e o próprio chão, seja de areia ou de outro material qualquer.O desenho, uma das manifestações das artes visuais na vida das pessoas, serve como um instrumento para a comunicação e a expressão de pensamentos e sentimentos, sendo a ser significativo de determinada cultura, simbolizando algo exclusivo de determinado povo. Nesse sentido, Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 14) afirma que “A comunicação entre as pessoas e as leituras de mundo não se dão apenas por meio da palavra”. Para os autores, “Muito do que sabemos sobre o pensamento e os sentimentos das mais diversas pessoas, povos, países, épocas são conhecimentos que obtivemos única e exclusivamente por meio de suas músicas, teatro, pintura, dança, cinema, etc.” (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 14). 4.1.1 O desenho na educação de crianças Diversos autores abordam as fases gráficas expressadas pelas crianças como Jean Piaget (1976), fundamentado nos estudos do francês George-Henri Luquet. Brasil (2006), na coleção Pró-Infantil - Livro de estudo: Módulo IV, apresenta as fases de desenvolvimento do desenho infantil de Luquet (1969 apud BRASIL, 2006, p. 30). Para Luquet, são realismo fortuito, realismo gorado, realismo intelectual, realismo visual. No realismo fortuito, de acordo com Luquet (1969 apud BRASIL, 2006, p. 30), “a criança risca o papel como uma forma de exercício motor, sem a preocupação de coordenar seus movimentos”. É a fase em que todo traço que a criança faz é imprevisível, não existe nada programado, sem apreensão ou ansiedade por parte da criança ao realizar seus movimentos. Já no realismo gorado, “a criança ainda não coloca os elementos que desenha na totalidade de um conjunto. A figura humana geralmente é representada por um círculo dotado de braços e pernas” (BRASIL, 2006, p. 30), ou seja, os desenhos ainda não são definidos. Brasil (2006, p. 30) explica que no realismo intelectual “a criança já organiza os elementos do desenho numa totalidade. A criança desenha o que sabe que existe, e não o que ela vê (exemplo: ao desenhar um cavalo de perfil, desenha suas quatro patas)”, ou seja, os desenhos já são definidos e é desenhado a realidade. Ela manipula objetos gráficos, sonoros e corporais para sua satisfação própria. Segundo Martins (1998, p. 97), nesse momento as “Garatujas gráficas, sonoras e corporais são exercitadas pelas crianças, provocando lhes um prazer intrinsecamente estético”. Nessa fase, a criança não cria signos, ela imita símbolos, ela pesquisa. No segundo movimento, de acordo com Martins (1998), surgem as primeiras tentativas de letras no desenho em que se diferencia escrita e desenho e as primeiras figuras humanas, não tendo uma preocupação com a organização das cenas no papel, os desenhos são feitos de forma que parecem soltas no espaço. Para Gardner (1990) é a fase do simbólico que Piaget (1976) denominou de pré-operatório e atinge crianças entre 2 e 7 anos. As cores também estão desconectadas da realidade, um homem pode ser pintado de roxo, verde, vermelho ou azul. Para Martins (1998), é a fase também em que a criança modifica a figura humana. No terceiro movimento, para Martins (1998), a “criança desenvolve o desejo de registrar tudo, buscando uma representação mais realista. Percebe-se um maior detalhamento, o aparecimento da linha de base no desenho e uma maior autocritica”. A busca pelo registro da realidade e o desenvolvimento do senso crítico é visível nesse movimento. O quarto movimento, de acordo com Martins (1998), é a “fase do pensamento formal e da construção da própria personalidade, com um refinamento do pensamento mais abstrato e metafórico”. É o momento em que a criança constrói suas características individuais. Enquanto Gardner (1990) denomina essa fase de conhecimento conceitual formal, Piaget (1976) chama de estágio das operações formais. Lowenfeld (1947 apud FERRAZ; FUSARI, 1999) apresenta a atividade criadora da criança e os estágios do seu desenvolvimento artístico. Na última fase de Luquet, no realismo visual, segundo Brasil (2006, p. 30), “a criança já não desenha as partes ocultas dos objetos quando vistos a partir de determinado ponto de vista”, ou seja, ela desenha o que vê no momento. Martins (1998) apresenta quatro movimentos referentes à metamorfose expressiva do aprendiz em arte. Para a autora, no primeiro movimento, é o momento que a criança está aberta às experiências e ao mundo, sem medo de riscos, numa atitude de pesquisa, de exploração, em que ela vive intensamente. No posicionamento humanístico, fundamentado na autoexpressão, a arte “enquanto processo criador. É o elo que faz o ser humano ligar-se à vida. E a criança vai fazer suas produções artísticas e descobrir a alegria da criação de arte quando o ambiente ou as pessoas souberem motivá-la” (FERRAZ; FUSARI, 1999, p. 67). A produção da criança precisa de espaços adequados e a mediação de pessoas para incentivá-las no processo de criação. Cabe à escola a função de ser incentivadora da criança na criação artística. Na teoria baseada na cognição artística da criança, “os seus desenhos são considerados resultantes da compreensão que tem do mundo e das expressões de seu desenvolvimento intelectual” (FERRAZ; FUSARI,1999, p. 67). Nesse sentido, a criança desenha o que ela entende que seja a partir do seu mundo, do seu intelecto e não o que ela está vendo no momento. A sua compreensão vai se desenvolvimento a partir da ampliação de seus conhecimentos e experiências vivenciadas. Nas ideias de Lowenfeld, segundo Ferraz e Fusari (1999, p. 67), “existe uma evolução gráfica na criança, que vai se afirmando em algumas etapas de seu crescimento, junto ao desenvolvimento intelectual, físico, emocional etc.”. O desenvolvimento gráfico da criança ocorre paralelo ao seu crescimento e atrelado a outras áreas da vida. Para Lowenfeld (1947 apud FERRAZ; FUSARI, 1999), essa evolução gráfica da criança em que envolve a fase da garatuja ou dos rabiscos, acontece entre os 4 a 7 anos de idade em que ele chama de estágio pré-esquemático. A partir dos 7 a 9 anos de idade, ocorre o período que ele denomina de esquemático. Esse período se refere ao momento em que a lógica funciona. As produções das crianças tornam-se mais próximas à realidade, construindo obras bem elaboradas. Segundo Ferraz e Fusari (1999), existem dois posicionamentos de autores em relação à função da arte na escola que se desdobram na produção da criança. Um baseado na fundamentação de posicionamentos humanísticos e o outro com base na cognição artística da criança. O desenvolvimento está relacionado às mudanças que acontecem ao longo da vida. Essas mudanças acontecem por meio do ambiente em que a criança vive. Os termos utilizados no ensino de arte na educação brasileira nas escolas nem sempre foram o que são hoje, se modificaram no decorrer do tempo. Mas o que mudou e por quais motivos? Conhecendo alguns aspectos da arte na educação percebemos que o ensino de artes teve seus momentos de fracasso e de sucesso na história da arte na educação brasileira. E você já parou para pensar o que seja arte- educação? Metodologia, proposta ou abordagem triangular? Por acaso você já se deparou com esses termos em algum momento da sua vida? Dessa forma, quando passarmos a compreender cada um, não teremos mais dúvidas ou interrogações em nossa cabeça. Antecipando o termo arte-educação, se faz necessário discorrer um pouco sobre arte. Ela é uma disciplina obrigatória na educação básica das escolas brasileiras conforme a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a qual fixa as diretrizes e bases da educação nacional referente ao ensino da arte. As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular dessa disciplina. Ana Mae Barbosa (1989, p. 170) considera a obrigatoriedade do ensino de arte nas escolas brasileiras não como uma conquista de arte educadores. Para a autora, a introdução da arte nas escolas surgiu da “criação ideológica de educadores norte-americanos que, sob um acordo oficial (Acordo MEC-USAID), reformulou a Educação Brasileira, estabelecendo em 1971 os objetivos e o currículo configurado na Lei Federal nº 5692 denominada 'Diretrizes e Bases da Educação'". 4.2 Abordagem triangular: aspectos da arte- educação Assim, para elas, as atividades educativas que não condizem com o fazer artístico, a polivalência que enfraquece o ensino de arte, a falta de preparação dos professores que passou a acontecer em tempo reduzido, são alguns dos problemas enfrentados nesse período e em meio a toda essa problemática que surgiu o termo arte- educação, no final da década de 1970. O movimento arte-educação nasce a princípio fora do ambiente escolar e posteriormente adentra a esse espaço. O movimento propõe “uma ação educativa criadora, ativa e centrada no aluno" (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 20). O educando passa a ser respeitado no processo de ensino valorizando o seu instinto criativo. O movimento arte-educação procura “novas metodologias de ensino e aprendizagem de arte nas escolas. Revaloriza o professor da área, discute e propõe um redimensionamento do seu trabalho, conscientizando-o da importância da sua ação profissional e política na sociedade" (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 21). No movimento arte-educação, o aluno e o professor passam a ter seus devidos valores. O inglês e filosofo Herbert Read (1982) foi quem propagou a ideia da "educação através da arte" no Brasil, apoiado por outros profissionais não somente das artes, mas também filósofos, psicólogos e outros. Para Ferraz e Fusari (2001, p. 19), a “base desse pensamento é ver a arte não apenas como uma das metas da educação, mas sim como o seu próprio processo, que é considerado também criador". Afirmam ainda que a “educação através da arte, quando difundida no Brasil, recuperou a valorização da arte infantil e a concepção de arte baseada na expressão e na liberdade criadora" (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 39). A educação através da arte e uma agitação que entrelaça a educação e a cultura para a formação total do ser humano, abrangendo todos os seus aspectos de intelecto, moral e estético. Responder o que seja arte é uma questão que diversos autores tentam responder há anos, mas sem encontrar uma resposta que abranja todas as pessoas, sem contar que esse conceito tem sofrido alterações ao longo dos anos, de acordo com determinada cultura. Ferraz e Fusari (2001, p. 22) afirmam que o “próprio conceito de arte tem sido objeto de diferentes interpretações de arte como técnica, materiais artísticos, lazer, processo intuitivo, liberação de impulsos reprimidos, expressão, linguagem e comunicação [...]". Desse modo, entendemos a arte como forma de expressão e comunicação que pode se manifestar por meio das artes visuais, a música, o teatro e a dança e que necessita de sujeitos para a interação. O termo arte-educação costuma ser muito confundido pelos educadores com o "educação através da arte", pois muitos acham que é a mesma coisa. Ferraz e Fusari (2001) explicam que esses termos se diferenciam quanto ao significado, tendo apenas o mesmo objetivo que é a arte no espaço escolar. A partir da introdução da educação artística no currículo como atividade educativa na LDB de 1971, pensando na melhoria do ensino de arte, os aspectos humanísticos e científicos são deixados de lado, nesse período, para Ferraz e Fusari (2001), passou a ser dado mais crédito à expressividade e criatividade do estudante e a melhora que se esperava não aconteceu, o que houve foi a presença visível de vários problemas. Para as autoras, “as aulas de Educação Artísticas mostram-se dicotomias, superficiais, enfatizando ora um saber 'construir' artístico, ora um saber 'exprimir-se', mas necessitando de aprofundamento teórico-metodológicos" (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 43). Em relação a arte-educação, Zagonel (2008, p. 58) aponta que se trata de “uma área estratégica, pois tem potencial para ser um dos principais instrumentos da transformação do sistema de educação como um todo". Essa proposta, difundida e orientada por Ana Mae Barbosa e que está sem dúvida interferindo qualitativamente no processo e melhoria do ensino de arte, tem por base um trabalho integrador em três facetas do conhecimento em arte: o fazer artístico, a análise de obras artísticas e a história da arte. Para Zagonel (2008, p. 81), esse momento “implica conhecer arte, por meio do estudo da sua história, o que leva o indivíduo ao entendimento da arte dentro de um contexto, de um tempo e de um espaço”. Além disso, o aluno é levado a interligar a história de arte com outras áreas de estudos. Barbosa (2005, p. 142), ao se referir ao processo de contextualização da obra de arte, aclara que essa fase abrange não somente a contextualização histórica, mas envolve outros aspectos que são o social, o biológico, o psicológico, o ecológico, o antropológico, entre outros. Para a autora, “contextualizar não é só contar a história da vida do artista que fez a obra, mas também estabelecer relações dessa ou dessas obras com o mundo ao redor, é pensar sobre a obra de arte de forma mais ampla”. O processo de contextualizar envolve diversos fatores além do histórico, fazendo relação das histórias com o mundo social, pensando a obra de artede maneira holística. Em se tratando da apreciação, envolve o juízo de valor sobre determinada obra, levando o ser humano a julgar, desenvolver o senso estético, identificar a qualidade do belo. Segundo Zagonel (2008, p. 81), “Significa apreciar arte por meio da análise, desenvolver a habilidade de ver com atenção e de descobrir as qualidades da obra de arte e do mundo visual”. A autora acredita ainda que a “apreciação igualmente educa o senso estético do indivíduo, preparando-o para poder julgar a qualidade das imagens com objetividade e critérios” (ZAGONEL, 2008, p. 81). Aqui, o aluno deve ler a obra de arte. A prática se refere ao ato de fazer, levando o sujeito a criar suas próprias obras artísticas e conhecer, por meio da experimentação, diversos materiais artísticos. Para Zagonel (2008, p. 81), “corresponde ao ato de fazer arte (fazer artístico), o que desenvolve o potencial criativo e a capacidade de elaboração de imagens, além de instigar o hábito de experimentação de recursos, técnicas e novas formas de trabalho expressivo”. É o momento de fazer arte. Essas três atividades básicas precisam se fazer presentes no ensino de arte. O educador precisa proporcionar aos alunos práticas educativas que abarquem esses três eixos. A autora faz uma comparação da arte-educação com a educação. Segundo ela, é essa mudança que o Brasil e o mundo precisa e atribui essa responsabilidade aos professores de arte, que precisam se engajar na luta para a mudança acontecer. O ensino de arte no Brasil durante todo o seu processo passou por diversas mudanças, seja de cunho filosófico, metodológico ou conceptivo, que acabaram influenciando na postura do professor em sala de aula e, dependendo do seu ambiente sociocultural, umas são desenvolvidas em maior quantidade que outras. Ana Mae Barbosa (1989) elaborou uma ideia pedagógica voltada para as artes visuais, a qual se expandiu no Brasil e ficou conhecida como metodologia triangular. Esse termo foi se modificando durante o tempo, sendo citada por alguns autores como proposta triangular e pela própria autora em seus últimos trabalhos como abordagem triangular (BARBOSA, 2005). Ainda as autoras explicam que essa proposta foi difundida pela Fundação Iochpe, educadores e outras repartições de ensino. Por outro lado, para Zagonel (2008), essa proposta está baseada em três atividades básicas: contextualização, apreciação e prática. A contextualização consiste em saber a história da arte dentro de determinado contexto histórico identificando locais e datas, levando o sujeito a obter um conhecimento sobre a sociedade que vive e de outros povos. Fundamentada nos ideais da pedagogia libertadora de Paulo Freire (1967), a abordagem triangular foi sistematizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) entre 1987 a 1993. A respeito dessa abordagem, Ferraz e Fusari (2001, p. 35) afirmam que: Uma outra questão abordada por Ferraz e Fusari (2001, p. 84) é que “a prática artística é vivenciada pelas crianças pequenas como uma atividade lúdica, onde 'o fazer' se identifica com 'o brincar', o imaginar com a experiência da linguagem ou da representação”. A atividade lúdica na cabeça da criança gira como se fosse uma brincadeira. Ainda para as autoras, “quanto mais intenso e variável for a brincadeira e o jogo, mais elementos oferecem para o desenvolvimento mental e emocional infantil” (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 85). Assim, para as autoras, na proporção que a criança vai se desenvolvendo, ela vai crescendo no ato de brincar e se transportando do mundo imaginativo dos brinquedos e jogos para o de regras. Ainda sobre o lúdico na sala de aula, Ferraz e Fusari (2001.p. 89) afirmam que consideram “importante a inclusão do brinquedo e da brincadeira como parte integrante dos métodos e procedimentos educativos de um programa de arte e em atividades infantis”. Ferraz e Fusari (2001, p. 84), ao apresentarem a importância das atividades lúdicas nas aulas de artes, afirmam que “são indispensáveis a criança para a apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilitam o exercício e o desenvolvimento da percepção, da imaginação, das fantasias e de sentimento”. Então, as atividades lúdicas nas aulas de arte desenvolvem vários aspectos na criança. As autoras continuam (2001, p. 84), ao se referirem ao brincar nas aulas de arte, dizendo que também pode ser “uma maneira prazerosa de a criança experienciar novas situações e ajudá-la a compreender e assimilar mais facilmente o mundo cultural e o estético”. Por meio do brincar, a criança pode se apropriar de forma mais intensa da cultura e da estética. Os projetos em artes são uma das modalidades de aprendizagem que podem ser inseridos no ambiente escolar. O Parâmetro Curricular Nacional – Arte- Ensino Fundamental – PCN, ao se referir a trabalhos por projetos, apresenta que cada “equipe de trabalho pode eleger projetos a serem desenvolvidos em caráter interdisciplinar, ou mesmo referentes a apenas uma das formas artísticas (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro)” (BRASIL, 1997, p. 76). Assim, os projetos podem ser desenvolvidos de forma interdisciplinar ou não. O objeto lúdico em projetos de arte envolve a inclusão de brinquedos, brincadeiras e jogos no processo de ensino e aprendizagem. Zagonel (2008) afirma que as crianças só passam a ter o controle de suas realidades por meio do jogo e das brincadeiras a partir do momento em que se tornam suas atividades primordiais, considerando que o que importa nessas atividades “não são os resultados, mas a ação propriamente dita” (ZAGONEL, 2008, p. 97). Por meio desses elementos, a criança pode desenvolver a imaginação, a expressão, a comunicação, o seu mundo de fantasias se valendo das diversas linguagens artísticas como a música, as artes visuais, o teatro e a dança, contribuindo no seu desenvolvimento. 4.3 Projetos em arte: objeto lúdico Segundo elas, "essa importância aumenta mais ainda quando as atividades envolvem a construção, a manifestação expressiva e lúdica de imagens, sons, falas, gestos e movimentos” (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 89). Dado as colocações das autoras, percebe-se a necessidade de inserção do lúdico, seja por meio de qual linguagem artística for nas atividades com criança. No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (1998, p. 27): Assim, o educador, ao desenvolver brincadeiras com as crianças, precisa considerar o que o aluno tem na sua bagagem cultural, sabendo que as impressões valem muito mais do que demonstram ser durante o ato de brincar. No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca. Nicole Jeadont, em sua obra "Explorando o Universo da Música", lançado em 1997 pela Scipione, apresenta uma proposta de jogo chamado cabra-cega sonora. Para a autora, o jogo consiste em vendar os olhos de uma criança e as demais se espalham pela sala. Posteriormente, cada uma produz um barulho e a cabra-cega precisa reconhecer o som e a sua origem. Segundo ela, essa atividade pode ser feita com a voz, em que os alunos precisam tentar descobrir quem realizou o som. O educador que deseja trabalhar com o lúdico em sala de aula por meio dos brinquedos, brincadeiras e jogos precisa estar disposto a conhecer sobre esses elementos na infância e de que forma poderá inseri-los no ambiente escolar. Ela ainda continua chamando a atenção do leitor sobre a importância de replanejar se for preciso e a conversa que precisa ter no final entre professor e aluno para refletirem sobre o aprendizado após os objetivos terem sidos alcançados. O PCN-Arte Ensino Fundamental (1997, p. 76) afirma que o “projeto tem um desenvolvimento muito particular, pois envolve o trabalho com muitos conteúdos e organiza-se em tornode uma produção determinada”. No documento, esse tipo de atividade beneficia uma aprendizagem significativa, considerando que a forma que é desenvolvida oferece motivação e desenvolve a autonomia no aluno. O documento (1997, p. 76) apresenta alguns critérios que os educadores precisam seguir ao desenvolverem projetos em grupo como: “eleição de projetos em conjunto com os alunos”. O professor precisa reunir a turma antecipadamente para definirem qual tipo de projeto irão realizar, bem como a “participação ativa dos alunos em pesquisas e produções de referenciais ao longo do projeto em formas de registro que todos possam compartilhar”, que é outro critério que precisa ser adotado na realização de projeto. Os alunos precisam participar da pesquisa dos materiais relacionados à temática do projeto. Assim, é preciso pensar o que precisa ser feito e de que forma os registros serão realizados. Também é apresentada no documento (1997, p. 76) algumas “práticas de simulação de ações em sala de aula que criam correspondência com situações sociais de aplicação dos temas abordados”. Para o autor, essas ações podem ser a realização de “seminário como se fosse um crítico de arte, opinar sobre uma peça apresentada como se estivesse falando para uma emissora de TV em programa de notícias culturais”, por exemplo. E, por fim, o último critério apresentado por Brasil (1997, p. 76) é a “eleição de projetos relacionados aos conteúdos trabalhados, com o objetivo de estruturar um produto concreto, como um livro de arte, um filme, a apresentação de um grupo de música”. Os projetos em arte podem ser desenvolvidos de forma individual ou em grupo, e podem ser artísticos ou educativos. Se pretendemos trabalhar com projetos em arte na educação de crianças, precisamos nos planejar. Isso não significa seguir à risca, mas abrir caminhos para pensarmos na melhor forma de realizá-los e, se preciso for, replanejar Martins (1998) caracteriza o projeto em três fases que ela denomina de avaliação iniciante, encaminhamento de ações e sistematização. Na avaliação iniciante, é o momento em que o educador consulta o aluno, procurando saber seus conhecimentos de mundo, o que ele traz das suas experiências. No momento do encaminhamento de ações, é realizada a investigação sobre as propostas que podem acontecer. Por fim, na fase de sistematização, é o momento que acontece o abarcamento dos conhecimentos arquitetados. Para a autora, durante a execução do projeto, é interessante ter objetivos claros, sabendo que, se for preciso, poderá haver mudanças e, para isso, precisa estar flexível a alterações. 4.4 Projetos em arte É o momento em que os participantes do grupo precisam escolher o projeto que tem relação com os assuntos trabalhados em sala de aula. Por meio do desenvolvimento de um projeto é possível trabalhar todas as linguagens artísticas. Não é aconselhável o educador passar o semestre inteiro desenvolvendo o projeto, pois, como essa prática engloba vários conteúdos, pode acontecer que algum assunto daquela série que exigiria um pouco mais de profundidade tenha ficado de escanteio por causa do projeto. Nos PCN (1997) é recomendado realizar projeto entre disciplinas ou se valer de algum dos tópicos dos temas transversais, como ética, pluralidade cultural, meio ambiente, trabalho e consumo, saúde e orientação sexual. Mas para que aconteça a integração entre áreas de conhecimento é preciso que os educadores estejam abertos aos relacionamentos. Considerando que a ética não é algo que o sujeito já nasce com, cabe à escola incluir em suas práticas educativas esse tema, que poderá ser trabalhado em conjunto com outras disciplinas, por meio do trabalho por projetos. Ao pensarmos em atividades por projetos, lembramos de visitas a museus ou a outros espaços artísticos, como uma casa de cultura da comunidade. Essas visitas precisam ter seus objetivos claros e o educador precisa planejá-las para que aconteçam uma só vez ou por meio de um projeto mais demorado. Os projetos mais demorados são importantes para desenvolver trabalhos que dialoguem com outras disciplinas, promovendo a interdisciplinaridade. Esse tipo de projeto pode ser adequado de acordo com a vontade dos professores envolvidos desde que participem de todo o processo. Um dos caminhos que pode ser seguido pelo educador, para desenvolver um projeto em sala de aula, envolve diversas tarefas, como: reunir material sobre o assunto escolhido pela turma e organizá-lo por temas e subtemas. Os temas podem estar relacionados de acordo com os temas transversais apresentados nos PCNs (1997) que envolvem ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual; levantar informações sobre diferentes linguagens artísticas relacionando com os temas e subtemas. Essas linguagens artísticas podem ser a dança, o teatro, as artes visuais e suas manifestações como o desenho, o cinema, a televisão, a arquitetura, a pintura, e, por fim, a música; compor um roteiro de acordo com o material levantado, exposição, análise, discussões e definição do roteiro; produção do texto: momento que o educador vai descrever os acontecimentos do projeto juntamente com os alunos. Envolve a descrição dos passos; seleção do pessoal, ou seja, a divisão das tarefas para a realização da atividade. Nessa fase, será determinado o que cada pessoa vai fazer para que o projeto se materialize; preparação, ou ensaios. Na fase de preparação, os alunos irão ensaiar textos, músicas e organizar o espaço que acontecerá a culminância. apresentação final do projeto é o momento que será apresentado todo o roteiro programado pelo grupo, que poderá envolver a apresentação de músicas que podem ser cantadas, leitura de poemas, exposições, etc., de acordo com o roteiro que foi programado pelo grupo. Poderá ser realizado também um levantamento de material fonográfico, o qual pode envolver: levantamento de músicas sobre o tema: compositores, intérpretes, gêneros e estilos; análise das letras: síntese das músicas pesquisadas; levantamento dos instrumentos necessários para execução das músicas; levantamento das letras, cifras e arranjos (digitar e copiar para os participantes); escolhas dos grupos musicais; preparação: ensaios das músicas para a culminância do projeto. O projeto em arte possibilita a ampliação da leitura de mundo do aluno. É preciso sempre ter um objetivo que pretenda alcançar pelo mesmo, que precisa ser definido durante a construção do projeto.