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Gabryell G. Machado de Rezende – MED UFR T4 Crise tireotóxica Introdução • A crise tireotóxica é uma exacerbação súbita das manifestações clínicas do hipertireoidismo, com descompensação de múltiplos sistemas e risco de morte • O aparecimento da crise tireotóxica é muito mais dependente da velocidade de aumento dos hormônios tireoidianos do que de seus níveis séricos. • doença de Graves é a principal causa de crise tireotóxica - mas ela pode ocorrer por outras causas de hipertireoidismo • Apresentação clínica: sinais e sintomas de hipertireoidismo + 4 características principais (febre, taquicardia, disfunção de SNC e sintomas gastrointestinais) • Diagnóstico é clinico • Tratamento buscar reduzir produção, secreção e ação periférica dos hormônios tireoidianos e a correção das disfunções orgânicas • Tratar fator precipitante Definições • Tireotoxicose – manifestações bioquímicas e físicas provocadas pelo excesso de hormônios tireoidianos (T3 e T4) • Hipertireoidismo – aumento da síntese e produção de hormônios da tireoide • Crise tireotóxica – exacerbação súbita das manifestações clínicas do hipertireoidismo, com descompensação de múltiplos sistemas e risco de morte • T4 é um pró-hormônio e está presente em concentrações mais elevadas que o T3, hormônio ativo • CT é rara devido ao diagnóstico precoce e tratamento pré e pós operatório • Antes estava relacionada ao pós-operatório • Atualmente, ocorre devido a complicação da tireotoxicose não tratada ou tratada adequadamente, mas associada a fator precipitante (geralmente infecções) • Mortalidade de 20 a 30% se não tratada Etiologia • Maioria dos pacientes possuem história de hipertireoidismo, tratado ou não • Doença de graves é o hipertireoidismo associado a maioria dos casos • Etiologias de hipertireoidismo relacionadas a CT: ▪ Doença de graves ▪ Nódulo tóxico ▪ Hipertireoidismo induzido por iodo ▪ Struma ovarii ▪ Bócio multinodular tóxico ▪ Tireoidite ▪ Tireotoxicose exógena (iatrogênica ou factícia) ▪ Mediada por TSH (tumor pituitário ou resistência pituitária ao TSH) • Antes, as crises eram precipitadas por procedimentos cirúrgicos em pacientes preparados com iodeto de potássio sem antitireoidianos • Principais causas de crises tireotóxicas: • Situações que interferem com a ligação entre hormônios tireoidianos e proteínas ligadoras, como infecções, acidose e procedimentos cirúrgicos, podem aumentar a fração livre, que apresenta atividade biológica Gabryell G. Machado de Rezende – MED UFR T4 • Acidose ou liberação de mediadores inflamatórios aumentam a ação hormonal • A resposta aos estímulos catecolaminérgicos é exagerada nesses pacientes, apresentando resposta ao uso de betabloqueadores Amiodarona – induz crise tireotóxica ▪ Tipo 1 – Pode ocorrer em pacientes com patologias na tireoide devido a sobrecarga de iodo oferecido à glândula (↑ produção) ▪ Tipo 2 – Pode ocorrer tireoidite destrutiva com liberação de hormônios na corrente sanguínea (↑liberação) • No tipo 1 pode ocorrer alterações secundárias à doença tireoidiana, como exoftalmia • A diferenciação é feita pela cintilografia, captação é aumentada ou normal no tipo 1 e diminuída no tipo 2 Achados clínicos • Sintomas abruptos • Alguns pacientes relatam sintomas leves a moderados dias-semanas de hipertireoidismo antes da precipitação da crise • Sintomas principalmente cardiovasculares e nervoso simpáticos • Síndrome de hipermetabolismo: ▪ Febre – temperatura média de 39,3°C, sudorese volumosa e pode ocorrer disfunção renal por desidratação ▪ Cardiovasculares- taquicardia sinusal e arritmias, congestão pulmonar com evolução para EAP ▪ Gastrointestinal – náusea, vômitos, dor abdominal e diarreia. Pode ocorrer icterícia (prognostico ruim) ▪ SNC – em casos mais graves, agitação labilidade emocional, confusão mental e delirium (encefalopatia tireotóxica), tremores e incapacidade de permanecer parado. Pode ocorrer coma • Prestar atenção se paciente apresentar febre desproporcional à infecção, FC inapropriadamente elevada, história de hipertireoidismo, bócio e exoftalmia • 4 manifestações principais: 1. Exacerbação dos sintomas de hipertireoidismo 2. Hiperpirexia 3. ↑FC (geralmente >140bpm) 4. Alt. do Estado mental • Idosos podem apresentar confusão, sem agitação e febre alta. Aprestando apatia, perda de peso, bócio pequeno e fibrilação atrial. Critérios de Bursch e Warkofskuy Gabryell G. Machado de Rezende – MED UFR T4 Critérios de Akazi • Os critérios de Bursch e Wartofski são mais sensíveis ao diagnostico, embora selecionem mais pacientes para receber terapia agressiva Exames complementares • Devem ser colhidas culturas, exames de imagem e bioquímica sérica • TSH indetectável com T3 e T4 livres aumentados (não é possível diferenciar CT do hipertireoidismo compensado) • FA aumentados (aumento de atividade osteoclástica) • Hiperglicemia • Leucocitose (mesmo sem infecção) • Crise addisoniana em pacientes com reserva adrenal inadequada (com achados laboratoriais) Diagnóstico diferencial • Situações de hiperatividade adrenérgica • Sepse • Hipertermia • Podem ocorrer casos sem os sintomas clássicos de hiperatividade (tireotoxicose apática) Gabryell G. Machado de Rezende – MED UFR T4 Tratamento Bloqueio da produção e da liberação de hormônios tireoidianos • Medicações antitireoidianas bloqueiam a organificação do iodo e a produção hormonal • Propiltiouracil é primeira escolha pois também inibe conversão periférica de T4 em T3 em doses maiores que 400 mg ao dia • Medicações usadas por VO, nasogástrica e retal. Não existe preparações EV ✓ Propiltiouracil (PTU): dose de ataque de 600 a 1.000 mg, posteriormente dose de 200-300 mg a cada 4 a 6 horas (1.200 a 1.500 mg ao dia). ✓ Metimazol: dose inicial de 20 mg a cada 4 a 8 horas (60 a 120 mg ao dia) • PTU e metimazol não inibem a liberação de hormônio pré-formado, por isso deve-se usar soluções de iodo estáveis • Soluções de iodo agem inibindo captura de T4 pelo fígado, inibe conversão de T4 e T3, bloqueia a liberação de hormônio e diminuem porcentagem livre de T4 e T3 e sua ligação com receptores celulares ✓ Lugol ou iodeto de potássio: dose de 4-8 gotas em período de 6-8 horas. ✓ Ácido iopanoico (Telepaque): é um agente de contraste e agente iodado de escolha. A dose usual para o tratamento é de 1 g a cada 8/8 horas no primeiro dia de tratamento, posteriormente usando dose de 500 mg a cada 12 horas. • Iodo deve ser oferecido pelo menos 1 hora e idealmente de 2 a 3 horas após drogas antitireoidianas, pois podem piorar a tireotoxicose • Uso de iodo pode impedir o uso de radioterapia como tratamento por meses • Carbonato de lítio pode ser uma alternativa para pacientes com alergia a iodo Bloqueio dos efeitos hormonais periféricos Betabloqueadores • Bloqueio beta-adrenérgico ajuda no controle de sudorese, ansiedade, taquicardia, arritmia, PA e tremor • Devido ao alto metabolismo de drogas na CT é necessário uso de altas doses • Propranolol inibe conversão periférica de T4 em T3, de forma lenta (1 semana geralmente) – primeira escolha ✓ Propranolol EV 0,5 a 1,0 mg a cada 15 minutos, usado até conseguir o controle da frequência ✓ Esmolol EV 0,05 a 1,0 mg/kg/min em bomba de infusão – ação mais rápida ✓ Metoprolol EV 0,5mg a cada 10 a 15 minutos ✓ Propanolol VO 40-80mg ou 20-40 mg de 6/6 h ✓ Pode usar metoprolol e atenolol VO • Objetivo de manter a FC entre 60 e 80 bpm • No caso de contraindicação de betabloqueadores, BCCA (como Verapamil e Diltiazem) podem ser considerados, exceto em insuficiência cardíaca sistólica Glicocorticoides • Em altas doses inibemconversão de T3 em T4 • Pode ser útil em se quadro de insuficiência adrenal associada ✓ Hidrocortisona 100 mg EV 8/8 h ou 50 mg de 6/6h ✓ Dexametasona 2-4 mg EV 6/6h Outras medidas terapêuticas • Plasmaférese – pacientes sem melhora após 24 a 48h de tratamento apropriado + reposição de albumina • Colestiramina 4g de 6/6h – liga-se ao hormônio tireoidiano que chega à luz intestina e é excretado como complexo resina-hormônio Gabryell G. Machado de Rezende – MED UFR T4 • Diálise peritoneal, hemoperfusão com carvão ativado ou com resina • Tratamento cirúrgico da tireotoxicose só pode ser realizado após 7 dias de controle da crise tireotóxica Medidas de suporte • Pacientes devem ser tratados em ambiente de terapia intensiva (UTI) e seguimento ambulatorial para tratamento definitivo do hipertireoidismo • reposição volêmica (exceto em pacientes com insuficiência cardíaca descompensada com congestão pulmonar) devido a possibilidade de desidratação • Correção de distúrbios hidroeletrolíticos • Correção de hipo e hiperglicemia • Hipertermia – dipirona 1 a 2g EV ou paracetamol e/ ou medidas externas para controle de temperatura • Disfunção cardíaca – betabloqueadores controla a FC, mas pode ser necessário outros inotrópicos devido evolução para insuficiência cardíaca. (cuidado com diuréticos pois volume plasmático pode estar diminuído) • Convulsões – BZP, sem melhora, Fenitoína, sem melhora, propofol ou barbitúricos Tratamento de fator precipitante • Devem ser solicitados os seguintes exames: ▪ Hemograma e hemocultura ▪ EAS e urinocultura ▪ Raio X de tórax ▪ ECG • Antibióticos empíricos não são necessários exceto: ▪ Evidencia clínica ou laboratorial de infecção ▪ Alteração do nível de consciência – usar ATB de amplo expecto
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