Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria Fisiologia pulmonar e bronquiolites Anatomia e fisiologia Traqueia A traqueia é uma via tubular para o ar com aproximadamente 12 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. Está localizada anteriormente ao esôfago e se estende desde a laringe até a margem superior da vértebra T V, onde se divide em brônquios primários direito e esquerdo. As camadas da parede da traqueia, da profunda à superficial, são a Túnica mucosa (1) Tela submucosa (2) Cartilagem hialina (3) Túnica adventícia (composta de tecido conjuntivo areolar). (4) A túnica mucosa da traqueia consiste em uma camada de epitélio colunar pseudoestratificado ciliado e uma camada subjacente de lâmina própria que contém fibras elásticas e reticulares. Ela oferece a mesma proteção contra poeira que a túnica que reveste a cavidade nasal e a laringe. A tela submucosa consiste em tecido conjuntivo areolar que contém glândulas seromucosas e seus ductos. Brônquios Na margem superior da vértebra T V, a traqueia se divide em um brônquio principal direito, que vai para o pulmão direito, e um brônquio principal esquerdo, que vai para o pulmão esquerdo. O brônquio principal direito é mais vertical, mais curto e mais largo do que o esquerdo. Como resultado, um objeto aspirado tem maior probabilidade de entrar e se alojar no brônquio principal direito do que no esquerdo. Tal como a traqueia, os brônquios principais contêm anéis incompletos de cartilagem e são revestidos por epitélio colunar pseudoestratificado ciliado. No ponto em que a traqueia se divide em brônquios principais direito e esquerdo, uma crista interna chamada de carina é formada por uma projeção posterior e um pouco inferior da última cartilagem traqueal. A túnica mucosa da carina é uma das áreas mais sensíveis de toda a laringe e traqueia para desencadear um reflexo da tosse. O alargamento e distorção da carina é um sinal grave, pois geralmente indica um carcinoma dos linfonodos ao redor da região onde a traqueia se divide. Ao entrar nos pulmões, o brônquio principal se divide formando brônquios menores – os brônquios lobares, uma para cada lobo do pulmão. (O pulmão direito tem três lobos, o pulmão esquerdo tem dois.) Os brônquios lobares continuam ramificando-se, formando brônquios ainda menores, chamados brônquios segmentares, que irrigam segmentos broncopulmonares específicos dentro dos lobos. Os brônquios segmentares então se dividem em bronquíolos. Os bronquíolos também se ramificam repetidamente e o menor dos ramos ramifica-se em tubos ainda menores chamados bronquíolos terminais. Estes bronquíolos contêm células exócrinas bronquiolares, células colunares não ciliadas intercaladas entre as células epiteliais. As células exócrinas bronquiolares podem proteger contra os efeitos nocivos de toxinas inaladas e substâncias cancerígenas, produzem surfactante (discutido em breve) e funcionam como célulastronco (células estaminais), que dão origem a várias células do epitélio. Os bronquíolos terminais representam o fim da zona de condução do sistema respiratório. Esta extensa ramificação da traqueia até os bronquíolos terminais se assemelha a uma árvore invertida e é comumente chamada árvore bronquial. À medida que a ramificação se torna mais extensa na árvore bronquial, várias mudanças estruturais podem ser observadas. A túnica mucosa na árvore bronquial muda de epitélio colunar pseudoestratificado ciliado nos brônquios principais, brônquios lobares e brônquios segmentares para epitélio colunar simples ciliado com algumas células caliciformes nos bronquíolos maiores, para principalmente epitélio cúbico simples ciliado sem células caliciformes nos bronquíolos menores, para principalmente epitélio cúbico simples não ciliado nos bronquíolos terminais. Recorde-se que o epitélio ciliado da membrana respiratória remove as partículas inaladas de duas maneiras. O muco produzido pelas células caliciformes retém as partículas, e os cílios movem o muco e as partículas retidas para a faringe para serem removidos. Em regiões com epitélio cúbico simples não ciliado, as partículas inaladas são removidas por macrófagos. As lâminas de cartilagem gradualmente substituem os anéis incompletos de cartilagem nos brônquios principais e por fim desaparecem nos bronquíolos distais. Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria À medida que a quantidade de cartilagem diminui, a quantidade de músculo liso aumenta. O músculo liso circunda o lúmen em faixas espiraladas e ajuda a manter a permeabilidade. No entanto, como não há cartilagem de suporte, espasmos musculares podem fechar as vias respiratórias. Isto é o que acontece durante uma crise de asma brônquica, uma situação potencialmente fatal. Durante o exercício, a atividade na parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA) aumenta e a medula da glândula suprarrenal libera os hormônios epinefrina e norepinefrina; estes dois eventos causam o relaxamento do músculo liso nos bronquíolos, que dilata as vias respiratórias. Como o ar chega aos alvéolos mais rapidamente, a ventilação pulmonar melhora. A parte parassimpática do SNA e os mediadores de reações alérgicas, como a histamina, têm efeito oposto, causando contração do músculo liso brônquico, o que resulta em constrição dos brônquios distais. Pulmões Os pulmões são órgãos cônicos pareados na cavidade torácica. Eles são separados um do outro pelo coração e por outras estruturas do mediastino, que dividem a cavidade torácica em duas câmaras anatomicamente distintas. Como resultado, se um traumatismo provocar o colapso de um pulmão, o outro pode permanecer expandido. Cada pulmão é fechado e protegido por uma túnica serosa de camada dupla chamada pleura. A camada superficial, chamada de pleura parietal, reveste a parede da cavidade torácica; a camada profunda, a pleura visceral, recobre os pulmões propriamente ditos. Entre a pleura visceral e a pleura parietal há um pequeno espaço, a cavidade pleural, que contém um pequeno volume de líquido lubrificante que é secretado pelas membranas. Este líquido pleural reduz o atrito entre as membranas, o que lhes possibilita deslizar facilmente uma sobre a outra durante a respiração. O líquido pleural também faz com que as duas membranas adiram uma à outra, assim como uma película de água faz com que duas lâminas microscópicas de vidro fiquem juntas, um fenômeno chamado de tensão superficial. Cavidades pleurais separadas circundam os pulmões esquerdo e direito. A inflamação da membrana pleural, chamada de pleurisia ou pleurite, pode em seus estágios iniciais causar dor decorrente do atrito entre as camadas parietal e visceral da pleura. Se a inflamação persistir, o líquido em excesso se acumula no espaço pleural, em uma condição conhecida como derrame pleural. Os pulmões se estendem desde o diafragma até a região discretamente superior às clavículas e encontra-se contra as costelas anterior e posteriormente. A larga parte inferior do pulmão, a base, é côncava e se encaixa sobre a zona convexa do diafragma. A parte superior estreita do pulmão é o ápice. A superfície do pulmão apoiada sobre as costelas, a face costal, coincide com a curvatura arredondada das costelas. A face mediastinal (medial) de cada pulmão contém uma região, o hilo do pulmão, por meio da qual os brônquios, os vasos sanguíneos pulmonares, os vasos linfáticos e os nervos entram e saem. Estas estruturas são mantidas unidas pela pleura e tecido conjuntivo e constituem a raiz do pulmão. Medialmente, o pulmão esquerdo também contém uma concavidade, a incisura cardíaca,em que o vértice do coração se encontra. Em razão do espaço ocupado pelo coração, o pulmão esquerdo é aproximadamente 10% menor do que o pulmão direito. Embora o pulmão direito seja mais espesso e mais largo, é também um pouco mais curto do Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria que o pulmão esquerdo, porque o diafragma é maior no lado direito, acomodando o fígado que se encontra inferiormente a ele. Os pulmões preenchem quase todo o tórax. O ápice dos pulmões encontra-se superiormente ao terço médio das clavículas, e esta é a única área em que ele pode ser palpado. As faces anterior, lateral e posterior dos pulmões se apoiam sobre as costelas. A base dos pulmões se estende da 6a cartilagem costal anteriormente ao processo espinhoso da vértebra T X posteriormente. A pleura se estende de aproximadamente 5 cm abaixo da base, da 6a cartilagem costal anteriormente à costela XII posteriormente. Assim, os pulmões não preenchem completamente a cavidade pleural nesta área. A remoção do excesso de líquido na cavidade pleural pode ser feita sem lesionar o tecido pulmonar por meio da inserção de uma agulha anteriormente através do 7o espaço intercostal, em um procedimento chamado de toracocentese. A agulha é passada ao longo da margem superior da costela inferior para evitar danos aos nervos intercostais e vasos sanguíneos. Inferiormente ao 7o espaço intercostal há o perigo de penetrar o diafragma. Lobos, fissuras e lóbulos Uma ou duas fissuras dividem cada pulmão em lobos. Ambos os pulmões têm uma fissura oblíqua, que se estende inferior e anteriormente; o pulmão direito tem também uma fissura, a fissura horizontal do pulmão direito. A fissura oblíqua no pulmão esquerdo separa o lobo superior do lobo inferior. No pulmão direito, a parte superior da fissura oblíqua separa o lobo superior do lobo inferior; a parte inferior da fissura oblíqua separa o lobo inferior do lobo médio, que é limitado superiormente pela fissura horizontal. Cada lobo recebe seu próprio brônquio lobar. Assim, o brônquio principal direito dá origem a três brônquios lobares chamados brônquios lobares superior, médio e inferior; o brônquio principal esquerdo dá origem aos brônquios lobares superior e inferior. No pulmão, os brônquios lobares dão origem aos brônquios segmentares, que são constantes tanto em origem quanto em distribuição – existem 10 brônquios segmentares em cada pulmão. O segmento de tecido pulmonar que cada brônquio segmentar supre é chamado segmento broncopulmonar. As doenças brônquicas e pulmonares (como os tumores ou abscessos) que estão localizados em um segmento broncopulmonar podem ser removidas cirurgicamente sem perturbar gravemente o tecido pulmonar circundante. Cada segmento broncopulmonar dos pulmões tem muitos pequenos compartimentos, chamados lóbulos; cada lóbulo é envolvido por tecido conjuntivo elástico e contém um vaso linfático, uma arteríola, uma vênula e uma ramificação de um bronquíolo terminal. Os bronquíolos terminais subdividem-se em ramos microscópicos chamados bronquíolos respiratórios. Eles também têm alvéolos (descritos adiante) ramificando-se de suas paredes. Os alvéolos participam das trocas gasosas; portanto, os bronquíolos respiratórios iniciam a zona respiratória do sistema respiratório. Conforme os bronquíolos respiratórios penetram mais profundamente nos pulmões, o revestimento epitelial passa de cúbico simples para escamoso simples. Os bronquíolos respiratórios por sua vez se subdividem em vários (2 a 11) ductos alveolares, que consistem em epitélio escamoso simples. As vias respiratórias da traqueia aos ductos alveolares contêm aproximadamente 25 ordens de ramificação; a ramificação da traqueia em brônquios primários é chamada de ramificação de primeira ordem; aquela dos brônquios principais em brônquios lobares é chamada ramificação de segunda ordem, e assim por diante até os ductos alveolares. Alvéolos Em torno da circunferência dos ductos alveolares estão diversos alvéolos e sacos alveolares. Um alvéolo é uma evaginação em formato de taça revestida por epitélio escamoso simples e apoiada por uma membrana basal fina e elástica; um saco alveolar é constituído por dois ou mais alvéolos que compartilham uma abertura comum. As paredes dos alvéolos são formadas por dois tipos de células epiteliais alveolares. As células alveolares do tipo I (epiteliais escamosas pulmonares), mais numerosas, são células epiteliais escamosas simples que formam um revestimento quase contínuo da parede alveolar. Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria As células alveolares do tipo II, também chamadas células septais, existem em menor número e são encontradas entre as células alveolares do tipo I. As finas células alveolares do tipo I são os principais locais de trocas gasosas. As células alveolares do tipo II, células epiteliais arredondadas ou cúbicas com superfícies livres contendo microvilosidades, secretam líquido alveolar, o que mantém úmida a superfície entre as células e o ar. Incluído no líquido alveolar está o surfactante, uma complexa mistura de fosfolipídios e lipoproteínas. O surfactante reduz a tensão superficial do líquido alveolar, o que diminui a tendência de colabamento dos alvéolos e, assim, mantém a sua perviedade a (descrita mais adiante). Associados à parede alveolar estão os macrófagos alveolares, que removem partículas finas de poeira e outros detritos dos espaços alveolares. Também são encontrados fibroblastos, que produzem fibras reticulares e elásticas. Subjacente à camada de células alveolares do tipo I está uma membrana basal elástica. Na face externa dos alvéolos, as arteríolas e vênulas do lóbulo se dispersam em uma rede de capilares sanguíneos que consistem em uma camada única de células endoteliais e membrana basal. A troca de O2 e CO2 entre os alvéolos nos pulmões e o sangue se dá por difusão através das paredes alveolares e capilares, que juntos formam a membrana respiratória. Estendendo-se do alvéolo ao plasma sanguíneo, a membrana respiratória é composta por quatro camadas Ventilação pulmonar Músculos que produzem a expansão e a contração pulmonares Os pulmões podem ser expandidos e contraídos por duas maneiras: Por movimentos de subida e descida do diafragma para aumentar ou diminuir a cavidade torácica; e Por elevação e depressão das costelas para elevar e reduzir o diâmetro anteroposterior da cavidade torácica. A respiração tranquila e normal é realizada quase inteiramente pelo primeiro método, isto é, pelos movimentos do diafragma. Durante a inspiração, a contração diafragmática puxa as superfícies inferiores dos pulmões para baixo. Depois, na expiração, o diafragma simplesmente relaxa, e a retração elástica dos pulmões, da parede torácica e das estruturas abdominais comprime os pulmões e expele o ar. Durante a respiração vigorosa, no entanto, as forças elásticas não são poderosas o suficiente para produzir a rápida expiração necessária; assim, força extra é obtida, principalmente, pela contração da musculatura abdominal, que empurra o conteúdo abdominal para cima, contra a parte inferior do diafragma, comprimindo, dessa maneira, os pulmões. O segundo método para expansão dos pulmões é elevar a caixa torácica. Ao ser elevada expandem-se os pulmões porque, na posição de repouso natural, as costelas se inclinam para baixo, como mostrado no lado esquerdo da Figura 38-1, possibilitando, dessa forma, que o esterno recue em direção à coluna vertebral. Quando a caixa torácica é elevada, no entanto, as costelas se projetamquase diretamente para frente, fazendo com que o esterno também se mova Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria anteriormente para longe da coluna, aumentando o diâmetro anteroposterior do tórax por cerca de 20% durante a inspiração máxima, em comparação à expiração. Portanto, todos os músculos que elevam a caixa torácica são classificados como músculos da inspiração, e os que deprimem a caixa torácica são classificados como músculos da expiração. Os músculos mais importantes que elevam a caixa torácica são os intercostais externos, mas outros que auxiliam são Músculos esternocleidomastóideos, que elevam o esterno; serráteis anteriores, que elevam muitas costelas; e escalenos, que elevam as duas primeiras costelas. Os músculos que puxam a caixa torácica para baixo, durante a expiração, são principalmente o Reto abdominal, que exerce o efeito poderoso de puxar para baixo as costelas inferiores, ao mesmo tempo em que, em conjunto com outros músculos abdominais, também comprime o conteúdo abdominal para cima contra o diafragma; intercostais internos. Do lado esquerdo, as costelas durante a expiração estão anguladas para baixo, e os intercostais externos estão alongados anterior e inferiormente. Conforme eles se contraem, puxam as costelas superiores para frente com relação às inferiores, o que causa mecanismo de alavanca nas costelas, para levantá-las, produzindo inspiração. Os intercostais internos funcionam exatamente de modo oposto, atuando como músculos expiratórios, porque se angulam entre as costelas, na direção contrária, e produzem a alavanca oposta. Pressões que causam o movimento do ar para dentro e para fora dos pulmões Os pulmões são estruturas elásticas que colapsam, como um balão, e expelem todo o ar pela traqueia, toda vez que não existe força para mantê-lo inflado. Também não existem conexões entre os pulmões e as paredes da caixa torácica, exceto onde ele está suspenso no hilo a partir do mediastino, região situada no meio da caixa torácica. Em vez disso, o pulmão “flutua” na cavidade torácica, cercado por fina camada de líquido pleural que lubrifica o movimento dos pulmões dentro da cavidade. Além disso, a sucção contínua do excesso de líquido para os canais linfáticos mantém leve tração entre a superfície visceral da pleura pulmonar e a superfície parietal da pleura da cavidade torácica. Portanto, os pulmões são presos à parede torácica, como se estivessem colados; no entanto, eles estão bem lubrificados e podem deslizar livremente quando o tórax se expande e contrai. Pressão Pleural e suas Variações durante a Respiração: Pressão pleural é a pressão do líquido no estreito espaço entre a pleura visceral e a pleura parietal. Como observado antes, essa pressão é normalmente uma sucção ligeira, o que significa discreta pressão negativa. A pressão pleural normal no início da inspiração é cerca de −5 centímetros de água, que é a quantidade de sucção necessária para manter os pulmões abertos no seu nível de repouso. Durante a inspiração normal, a expansão da caixa torácica traciona os pulmões para diante com força maior e cria mais pressão negativa, que chega a cerca de −7,5 centímetros de água. Pressão Alveolar: Pressão do Ar no Interior dos Alvéolos Pulmonares: Quando a glote está aberta e não existe fluxo de ar para dentro ou para fora dos pulmões, as pressões em todas as partes da árvore respiratória, até os alvéolos, são iguais à pressão atmosférica, que é considerada a pressão de referência zero nas vias aéreas — isto é, 0 cm de pressão de água. Para causar o influxo de ar para os alvéolos, durante a inspiração a pressão nos alvéolos deve cair para valor ligeiramente abaixo da pressão atmosférica (abaixo de 0). Durante a expiração, a pressão alveolar sobe para cerca de +1 centímetro de água e força o 0,5 litro de ar inspirado para fora dos pulmões, durante os 2 a 3 segundos de expiração. Pressão Transpulmonar: Diferença entre as Pressões Alveolar e Pleural: observa-se que a pressão transpulmonar é a diferença de pressão entre os alvéolos e as superfícies externas dos pulmões (pressão pleural), sendo medida das forças elásticas nos pulmões que tendem a colapsá-los a cada instante da respiração, a chamada pressão de retração. Complacência Pulmonar O grau de extensão dos pulmões por cada unidade de aumento da pressão transpulmonar (se tempo suficiente for permitido para atingir o equilíbrio) é chamado complacência pulmonar. A complacência total de ambos os pulmões no adulto normal é, em média, de 200 mililitros de ar por centímetro de pressão de água transpulmonar. Isto é, sempre que a pressão Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria transpulmonar aumentar 1 centímetro de água, o volume pulmonar, após 10 a 20 segundos, se expandirá 200 mililitros. Diagrama de Complacência dos Pulmões: diagrama que relaciona as alterações do volume pulmonar com as mudanças da pressão pleural que, por sua vez, modifica a pressão transpulmonar. Observe que a relação é diferente para a inspiração e para a expiração. Cada curva é registrada pelas mudanças da pressão pleural em pequenos passos, permitindo-se que o volume pulmonar atinja nível estável entre passos sucessivos. As duas curvas são denominadas, respectivamente, curva de complacência inspiratória e curva de complacência expiratória, e todo o diagrama é chamado diagrama da complacência pulmonar. As características do diagrama de complacência são determinadas pelas forças elásticas dos pulmões, que podem ser divididas em duas partes: Força elástica do tecido pulmonar propriamente dito; e Forças elásticas causadas pela tensão superficial do líquido que reveste as paredes internas dos alvéolos e outros espaços aéreos pulmonares. As forças elásticas do tecido pulmonar são determinadas, em grande parte, pelas fibras de elastina e de colágeno, entrelaçadas no parênquima pulmonar. Nos pulmões vazios, essas fibras estão no estado elasticamente contraído e dobrado; então, quando os pulmões se expandem, as fibras são estiradas e desdobradas e, assim, se alongam e exercem até mesmo força elástica maior. As forças elásticas causadas pela tensão superficial são muito mais complexas. Quando os pulmões são cheios com ar, existe uma interface entre o líquido alveolar e o ar no interior do alvéolo. Nos pulmões cheios por solução salina, não existe interface ar-líquido; portanto, o efeito da tensão superficial não está presente — apenas as forças elásticas dos tecidos estão operando neste caso. Note que as pressões transpleurais, necessárias para expandir os pulmões cheios de ar, são cerca de três vezes maiores que as necessárias para expandir os pulmões cheios de solução salina. Assim, pode-se concluir que as forças elásticas teciduais, que tendem a provocar o colapso do pulmão cheio de ar representam, apenas cerca de um terço da elasticidade total pulmonar, enquanto as forças de tensão superficial líquido-ar nos alvéolos representam cerca de dois terços. As forças elásticas pulmonares de tensão superficial líquido-ar também aumentam, tremendamente, quando a substância chamada surfactante não está no líquido al- veolar. Surfactante, Tensão Superficial e Colapso Alveolar Princípios da Tensão Superficial. Quando a água forma uma superfície de contato com o ar, as moléculas da água na superfície têm atração especialmente forte umas pelas outras. Como resultado, a superfície da água está sempre tentando se contrair. Isto é o que mantém as gotas de chuva unidas — isto é, existe firme membrana contrátil, constituída por moléculas de água, portoda a superfície da gota. Agora, vamos reverter esses princípios e ver o que acontece nas superfícies internas do alvéolo. Aí, a superfície da água também está tentando se contrair, o que tende a forçar o ar para fora do alvéolo, pelo brônquio, e, ao fazer isso, induz o colapso do alvéolo. O efeito global é o de causar força contrátil elástica de todo o pulmão que é referida como força elástica da tensão superficial. Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria O Surfactante e seus Efeitos na Tensão Superficial: O surfactante é um agente ativo da superfície da água, significando que ele reduz bastante a tensão superficial da água. É secretado por células epiteliais especiais secretoras de surfactante chamadas células epiteliais alveolares tipo II, que constituem cerca de 10% da área de superfície alveolar. Essas células são granulares, contêm inclusões lipídicas que são secretadas no surfactante dentro dos alvéolos. O surfactante é mistura complexa de vários fosfolipídeos, proteínas e íons. Os componentes mais importantes são o fosfolipídeo dipalmitoilfosfatidilcolina, as apoproteínas surfactantes e os íons cálcio. A dipalmitoilfosfatidilcolina e vários fosfolipídeos menos importantes são responsáveis pela redução da tensão superficial. Eles desempenham essa função porque não se dissolvem, uniformemente, no líquido que recobre a superfície alveolar. Parte das moléculas se dissolve, enquanto o restante se espalha sobre a superfície da água no alvéolo. Essa superfície tem entre 1/12 e 1/2 da tensão superficial da superfície de água pura. Em termos quantitativos, a tensão superficial dos diferentes líquidos aquosos é aproximadamente a seguinte: água pura, 72 dinas/cm; líquidos normais que revestem os alvéolos, mas sem surfactante, 50 dinas/cm; líquidos normais que revestem os alvéolos e com quantidades normais de surfactante incluídas, entre 5 e 30 dinas/cm. Complacências Torácica e Pulmonar Combinadas A complacência de todo o sistema pulmonar (dos pulmões e da caixa torácica juntos) é medida durante a expansão dos pulmões de pessoa totalmente relaxada ou paralisada. Para medir a complacência, o ar é forçado para o interior dos pulmões durante curto intervalo de tempo, enquanto se registram as pressões e volumes pulmonares. Para insuflar esse sistema pulmonar total, é requerida quase duas vezes a mesma quantidade de pressão necessária para insuflar os mesmos pulmões após sua remoção da caixa torácica. Portanto, a complacência do sistema combinado pulmão-tórax é quase a metade da do pulmão isolado — 110 mililitros de volume por centímetro de pressão de água para o sistema combinado comparados a 200 mL/cm para os pulmões isolados. Além disso, quando os pulmões estão expandidos até grandes volumes ou comprimidos até pequenos volumes, as limitações do tórax se tornam extremas. Quando próxima desses limites, a complacência do sistema pulmão-tórax pode ser menos de um quinto que a dos pulmões isolados. Ventilação alveolar A importância fundamental da ventilação pulmonar é a de renovar continuamente o ar nas áreas de trocas gasosas dos pulmões, onde o ar está próximo à circulação sanguínea pulmonar. Essas áreas incluem os alvéolos, sacos alveolares, ductos alveolares e bronquíolos respiratórios. A velocidade/intensidade com que o ar novo alcança essas áreas é chamada ventilação alveolar. “Espaço morto” e seu efeito na ventilação alveolar Parte do ar que a pessoa respira nunca alcança as áreas de trocas gasosas, por simplesmente preencher as vias respiratórias onde essas trocas nunca ocorrem, tais como o nariz, a faringe e a traqueia. Esse ar é chamado ar do espaço morto, por não ser útil para as trocas gasosas. Na expiração, o ar do espaço morto é expirado primeiro, antes de qualquer ar dos alvéolos alcançar a atmosfera. Portanto, o espaço morto é muito desvantajoso para remover os gases expiratórios dos pulmões. Medida do Volume do Espaço Morto. Ao se fazer essa medida, a pessoa, de modo abrupto, inspira profundamente o O2 a 100%, que enche, de modo total, o espaço morto com O2 puro. Parte do oxigênio também se mistura com o ar alveolar, mas não repõe completamente esse ar. Em seguida, a pessoa expira por medidor de nitrogênio de registro rápido. Esse medidor é responsável pelo registro mostrado na figura. A primeira porção do ar expirado vem das regiões do espaço morto das vias aéreas, onde o ar foi completamente substituído pelo O2. Portanto, na parte inicial do registro, apenas aparece O2, e a concentração de nitrogênio é zero. Então, quando o ar alveolar começa a chegar ao medidor de nitrogênio, a concentração desse gás aumenta rapidamente porque o ar alveolar, contendo grandes quantidades de nitrogênio, começa a se misturar com o ar do espaço morto. Após mais ar ter sido expirado, todo o ar do espaço morto é lavado das vias aéreas, e apenas o ar alveolar permanece. Portanto, a concentração de nitrogênio registrada atinge seu nível máximo, igual à sua concentração nos alvéolos Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria Espaço Morto Anatômico Versus Fisiológico: O método descrito para medida do espaço morto mede o volume de todos os espaços, excetuando-se os alvéolos e outras áreas de trocas gasosas intimamente relacionadas; esse espaço é chamado espaço morto anatômico. Ocasionalmente, alguns dos alvéolos podem ser não funcionantes ou parcialmente funcionantes por causa da ausência ou redução do fluxo sanguíneo pelos capilares pulmonares adjacentes. Assim, do ponto de vista funcional, esses alvéolos também devem ser considerados como parte do espaço morto. Quando o espaço morto alveolar é incluído na medida total do espaço morto, ele é chamado espaço morto fisiológico, em contraposição ao espaço morto anatômico. Na pessoa normal, os espaços mortos anatômico e fisiológico são quase iguais porque todos os alvéolos são funcionantes no pulmão normal, mas, em pessoa com alvéolos não funcionantes ou parcialmente funcionantes, em algumas partes dos pulmões, o espaço morto fisiológico pode ser até 10 vezes o volume do espaço morto anatômico, ou 1 a 2 litros. Funções das vias respiratórias Traqueia, brônquios e bronquíolos Um dos mais importantes desafios em todas as vias aéreas é mantê-las abertas e permitir o livre fluxo de ar para os alvéo-los e a partir deles. Para evitar o colapso da traqueia, múltiplos anéis cartilaginosos existem por cinco sextos do diâmetro traqueal. Nas paredes brônquicas, placas cartilaginosas encurvadas menos extensas mantêm a rigidez de forma razoável, embora permitam mobilidade suficiente para a expansão e contração dos pulmões. Essas placas ficam progressivamente menos extensas nas últimas gerações de brônquios, e não estão presentes nos bronquíolos que, geralmente, têm diâmetros menores que 1,5 milímetro. Os bronquíolos não estão livres de colapso pela rigidez de suas paredes. Em vez disso, eles são mantidos expandidos pelas mesmas pressões transpulmonares que expandem os alvéolos. Isto é, conforme os alvéolos aumentam, os bronquíolos também aumentam, mas não na mesma intensidade. Parede Muscular dos Brônquios e Bronquíolos e seus Controles: Em todas as áreas da traqueia e brônquios não ocupadas por placas cartilaginosas as paredes são compostas, principalmente, por músculo liso. As paredes dos bronquíolos também são quase de modo completo formadas por músculo liso, com a exceção do bronquíolo mais terminal, denominado bronquíolo respiratório, que é constituído, em sua maior parte, de epitélio pulmonar e tecido fibroso subjacente, mais algumas fibras musculares lisas. Muitas doenças pulmonares obstrutivas do pulmão resultam do estreitamento dos brônquios menores e dos maiores bronquíolos,frequentemente por causa da contração excessiva da musculatura lisa. Resistência ao Fluxo Aéreo na Árvore Brônquica: Sob condições respiratórias normais, o ar transita pelas vias aéreas tão facilmente que um gradiente de menos de 1 centímetro de pressão da água dos alvéolos, com relação à atmosfera, é suficiente para causar fluxo de ar para respiração tranquila. A maior quantidade de resistência ao fluxo aéreo ocorre não nas pequenas passagens de ar dos bronquíolos terminais, mas em alguns bronquíolos maiores e brônquios adjacentes à traqueia. A razão para essa alta resistência é que existem, relativamente, poucos desses brônquios maiores em comparação a cerca de 65.000 bronquíolos terminais paralelos, por onde uma quantidade mínima de ar deve passar. Em algumas condições patológicas, os bronquíolos menores têm papel muito maior na determinação da resistência ao fluxo aéreo, por causa de seu pequeno diâmetro e por serem facilmente ocluídos por (1) contração muscular de suas paredes; (2) edema que ocorre em suas paredes; ou (3) acúmulo de muco no lúmen dos bronquíolos. Controle Neural e Local da Musculatura Bronquiolar — Dilatação “Simpática” dos Bronquíolos: O controle direto dos bronquíolos pelas fibras nervosas simpáticas é relativamente fraco porque poucas dessas fibras penetram nas porções centrais do pulmão. Entretanto, a árvore brônquica é muito mais exposta à norepinefrina e à epinefrina, liberadas na corrente sanguínea pela estimulação simpática da medula da glândula adrenal. Ambos os hormônios, especialmente a epinefrina, por causa de sua maior estimulação dos receptores betadrenérgicos, causam dilatação da árvore brônquica. Constrição Parassimpática dos Bronquíolos: Poucas fibras parassimpáticas, derivadas do nervo vago, penetram no parênquima pulmonar. Esses nervos secretam acetilcolina e, quando ativados, provocam constrição leve a moderada dos bronquíolos. Quando uma doença, como a asma, já causou alguma constrição bronquiolar, a Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria estimulação nervosa parassimpática sobreposta, com frequência, piora essa condição. Quando ocorre essa situação, a administração de fármacos que bloqueiam os efeitos da acetilcolina, como a atropina, pode, algumas vezes, relaxar as vias aéreas o suficiente para melhorar a obstrução. Algumas vezes, os nervos parassimpáticos também são ativados por reflexos que se originam nos pulmões. A maioria desses reflexos começa com a irritação da membrana epitelial das próprias vias aéreas, iniciada por gases nocivos, poeira, fumaça de cigarro ou infecção brônquica. Reflexo constritor bronquiolar também ocorre muitas vezes quando microêmbolos ocluem algumas artérias pulmonares. Fatores Secretores Locais Podem Causar Constrição Bronquiolar: Diversas substâncias, formadas nos próprios pulmões, são geralmente muito ativas em produzir a constrição bronquiolar. Duas das mais importantes dessas são a histamina e a substância de reação lenta da anafilaxia. Ambas são liberadas pelos mastócitos dos tecidos pulmonares, durante reações alérgicas, especialmente as causadas pelo pólen no ar. Portanto, elas têm papel fundamental na origem da obstrução das vias aéreas que ocorre na asma alérgica; isto é especialmente verdadeiro para a substância de reação lenta da anafilaxia. As mesmas substâncias irritantes que causam reflexos constritores parassimpáticos das vias aéreas — cigarro, poeira, dióxido de enxofre e alguns elementos ácidos na poluição — podem atuar diretamente nos tecidos pulmonares, iniciando reações locais não neurais que ocasionam constrição das vias aéreas. Bronquiolite A bronquiolite viral aguda (BVA) e ́ a infecção do trato respiratório inferior mais comum em crianças pequenas. A doença resulta da obstrução inflamatória das pequenas vias aéreas, possui gravidade variável, manifestando‐se mais frequente‐ mente por formas leves, que podem evoluir para apresentações graves, em casos mais incomuns. Ocorre mais durante os primeiros 2 anos de idade, com uma incidência maior em lactentes menores de 6 meses. O VSR e ́ um paramixovi ́rus de RNA, envelopado sem as glicoproteínas de superfície, hemaglutinina e neuraminidase. Existem dois grandes subtipos (A e B), que muitas vezes circulam concomitantemente. A fonte de infecção e ́ geralmente um membro da família ou colega da creche ou escola, com enfermidade respiratória aparentemente benigna. O homem e ́ a única fonte de infecção na natureza. As crianças maiores e os adultos podem tolerar melhor situações de edema bronquiolar quando comparados aos lactentes e, assim, são capazes de expressar manifestações clínicas menos exuberantes, mesmo quando infectados pelos vírus. A transmissão ocorre normalmente por contato direto ou próximo a secreções contaminadas, que podem envolver goti ́culas ou fo ̂mites. O período de incubação e ́ de 2 a 8 dias, com uma média de 4 a 6 dias. O período de disseminação viral é normalmente de 3 a 8 dias, mas pode prolongar‐ se, especial‐ mente em lactentes mais novos, nos quais a disseminação pode continuar até́ por 3 ou 4 semanas. As infecções pelo VSR não conferem imunidade completa, sendo comuns as reinfecções durante a vida. Por volta dos 2 anos de idade, quase todas as crianças já ́ terão sido infectadas por um dos agentes etiológicos da BVA, desenvolvendo ou não a enfermidade, sendo que as apresentações severas ocorrem em bebes de baixa idade, entre 1 e 3 meses de vida Baixo peso ao nascimento, desnutrição, idade materna, amamentação e aglomeração também são fatores de risco para infecções das vias aéreas inferiores e associadas com BVA. A incidência da BVA no 1o ano de vida e ́ de 11%, caindo para cerca de 6% durante o 2o ano de vida. O pico de incidência ocorre entre 2 e 5 meses de idade. Nas crianças menores de 1 ano, o risco de hospitalização pela doença e ́ de aproximadamente 2%. Patogênese O tipo de lesão e as manifestações clínicas induzidas pelas enfermidades virais nas vias respiratórias são provavelmente uma combinação da afinidade dos vírus por células especificas em segmentos específicos das vias respiratórias (tropismo), o efeito destruidor ao nível celular (virulência), o calibre das vias aéreas do hospedeiro e a resposta imunológica que ocorre. O VSR in vitro e ́ um dos menos agressivos entre os vírus respiratórios, porém sua grande afinidade pelo epitélio bronquíolo explica sua tendência a produzir problemas respiratórios importantes. Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria A inoculação do VSR ocorre provavelmente através da superfície da mucosa nasal. Depois de um período de incubação assintomático de 4 a 5 dias, a criança infectada desenvolve sintomas característicos da infecção respiratória superior. A disseminação para as vias respiratórias baixas causam mecanismos pouco compreendidos, mas, supostamente, mediante inspiração de secreções infectadas que produzem pneumonia ou bronquiolite. Do ponto de vista anatômico, os mecanismos responsáveis pela lesão das vias aéreas são o efeito citoplástico viral direto pela interação celular entre o vírus e o hospedeiro e o efeito in‐ direto mediado por mecanismos imunológicos. A resposta imunológica primária consiste de infiltração tecidual produzida pela migração de leucócitos polimorfo nucleares e macrófagos depois da liberação de mediadores químicos procedentes das células epiteliais agredidas. Essas células liberam mais mediadores, que alteram a permeabilidade endotelial, a camada epitelial e o transporte de íons, gerando inflamação com migração celular adicional e edema. O conteúdo luminal aumentado por secreções e detritos e ́ responsável, em parte, pela obstrução das vias aéreas,produzindo limitações no fluxo de ar, assim como atelectasias e consequente desequilíbrio da ventilaça ̃o‐perfusa ̃o. A contração do músculo liso e ́ outro mecanismo potencial da obstrução das vias aéreas. Além disso, as anormalidades dos sistemas adrenérgico e colinérgico comuns nas viroses respiratórias e o sistema não adrenérgico/não colinérgico (NANC) também podem induzir broncoconstric ̧a ̃o em virtude do dano epitelial. Os neuropeptídios são os mediadores químicos mais estudados nesse processo.3 Os mecanismos patogênicos na bronquiolite permanecem, todavia, indefinidos. A capacidade de recuperação depois da infecção com VSR relaciona‐se com os níveis secretórios das imunoglobulinas IgA, IgG e IgM e de anticorpo dependentes da citotoxicidade mediada por ce ́lulas.2 Esses mecanismos poderiam ser os responsáveis pelos sintomas leves observados nas reinfecções. A variação dos achados clínicos em crianças pequenas poderia ocorrer como consequência da falta de desenvolvimento das defesas individuais do hospedeiro. Quadro clinico Os sinais e sintomas iniciais da bronquiolite são de infecção de via aérea superior como rinorréia copiosa, obstrução nasal e tosse. Em 2/3 dos casos ocorre febre que pode ser mais alta (> 39°C), mais comum na vigência de adenovírus. A criança apresenta anorexia e irritabilidade, porém seu estado geral é bom, diferenciando das infecções bacterianas. Após 3 a 7 dias do início do quadro, são observados sintomas como taquipnéia, sibilância, expiração prolongada e estertoração pulmonar, indicando um quadro obstrutivo de via aérea inferior. Pode ocorrer apnéia em algumas crianças, particularmente os prematuros e os menores de 2 meses de idade11,12. Em um estudo de revisão retrospectivo, 21% das 185 crianças menores de 12 meses que foram hospitalizadas com infecção por VSR apresentou apnéia13. Ao exame físico, observa-se taquipnéia, retração subcostal e intercostal, supraclavicular, até batimento de asa de nariz e gemido expiratório. À inspeção, o tórax apresenta-se hiperexpandido e com aumento do diâmetro ântero-posterior. O hipertimpanismo aparece à percussão pulmonar Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria e, à ausculta, roncos, sibilos e estertoração pulmonar podem estar presentes. Nos casos mais graves, os sibilos podem não ser auscultados se a passagem de ar pela via aérea estiver muito diminuída. Conjuntivite, rinite e otite média aguda podem frequentemente acompanhar os quadros de bronquiolite. Idade: Bronquiolite afeta crianças com menos de 2 anos de idade. Entretanto, 90% dos casos que necessitam de hospitalização são crianças com menos de 12 meses de idade. O pico de incidência das hospitalizações está centrado entre 3 e 6 meses de idade. Além disso, nos últimos anos, muitos estudos voltados para o tema tem incluído exclusivamente pacientes com até́ 12 meses de idade, justificando que, entre os 12 e 24 meses de idade, o risco de asma poderia ser mais elevado, o que dificultaria a avaliação de intervenções em função de fisiopatologias diferentes Febre: Lactentes com bronquiolite podem ter febre ou história de febre. Essa manifestação e ́ mais marcada na fase prodro ̂mica da doença. A ausência de febre não exclui o diagnóstico de bronquiolite, entretanto, a presença de temperaturas elevadas ou manifestações de temia requerem avaliação cuidadosa para outras causas, antes que o diagnóstico de BVA seja firmado de maneira definitiva Tosse: Manifestação comum nos quadros de BVA. Geralmente seca, associada a ̀ sibila ̂ncia, e ́ uma das primeiras manifestações de comprometimento pulmonar na bronquiolite Taquipneia: O aumento da frequência respiratória e ́ um sinal importante nas infecções do trato respiratório inferior (bronquiolite e pneumonia). Traduz a resposta do organismo ao acometimento pulmonar pelo agente infeccioso, em uma tentativa de compensar os mecanismos geradores de prejuízo na mecânica pulmonar e na troca gasosa. Tiragem: Tiragem subcostal, intercostal e supraclaviculares são comumente vistas em lactentes com BVA. Em algumas situações, esse esforço respiratório pode estar associado a presença de tórax hiperinsuflado, o que pode facilitar um diagnóstico clínico diferencial entre BVA e pneumonia Crepitações: Crepitações inspiratórias disseminadas por todos os campos pulmonares são manifestações comuns, mas não universais, nos portadores de BVA. No Reino Unido, diferentemente dos EUA, crepitações são consideradas quase que obrigatórias para o diagnóstico de bronquiolite. Nesses locais, a presença de sibila ̂ncia, sem crepitações, sugere um diagnóstico definido por sibila ̂ncia induzida por vírus. Diagnóstico Avaliação da gravidade da doença: com base nas manifestações clínicas e ́ outro desafio frente ao diagnóstico. Alguns instrumentos de avaliação procuram compilar o efeito de variáveis clínicas, constituindo escores frequentemente utilizados em estudos clínicos para avaliação da gravidade da doença. O respiratory distress assessment instrument (RDAI) (Tabela 1) e o respiratory assessment abstract change score (RACS), apesar de englobarem os principais desfechos cli ́nicos avaliados na BVA (frequência respiratória, tiragem e sibilância) e de possui ́‐ rem boas propriedades discriminativas, não abrangem todos os determinantes de gravidade da doença. Outras tentativas de expressar com maior simplicidade os dados compilados, sem a necessidade de cálculos, também tem sido publicadas, e a gravidade pode ser determinada pela caracterização do paciente em qualquer estrato de avaliação, o que simplifica a aferição Evolutivamente, o quadro clínico inicia com piorreia, tosse e febre baixa, que evolui para dificuldade respiratória associada a sinais de obstrução brônquica e sibilância. A doença e ́ autolimitada na maioria dos casos. A presença de cianose indica hipóxia e caracteriza gravida‐ de, que pode vir associada a episódios de apneia, principal‐ mente em prematuros. Alguns fatores de base que podem acometer um hospedeiro portador de BVA tem sido avaliados sob um contexto de risco atrelado a apresentações mais graves da doença. Em uma análise conjunta, Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria vários achados clínicos e laboratoriais podem caracterizar apresentações da doença atreladas a maior gravidade Achados radiológicos A radiografia de tórax pode ser útil nos casos graves, quando ocorre piora súbita do quadro respiratório ou quando existem doenças cardíacas ou pulmonares previas. Os principais acha‐ dos são: hiperinsuflac ̧a ̃o torácica difusa, hipertransparência, retificação do diafragma e até́ broncograma aéreo com um infiltrado de padrão intersticial. Frequentemente, podem‐se observar áreas de atelectasias secundárias a tampões mucosos e infiltrados de baixa densidade com discreto espessamento pleural. Entretanto, a avaliação radiológica não deve ser considerada uma medida de avaliação universal para todos os pacientes portadores de BVA. Em um enfoque mais objetivo, deve ser considerada uma medida de exceção, restrita aos quadros mais graves, como já ́ referidos, ou quando outro diagnóstico for considerado. Como instrumento de caracterização de gravidade, também possui limitações, já ́ que pacientes podem ter formas graves de apresentação da doença com uma radiografia de tórax normal. Achados laboratoriais Exames laboratoriais não devem ser solicitados considerando a obtenção de informações úteis para consolidação diagnostica. A própria identificação do agente (cultura, sorologia, imunofluoresce ̂nciaou biologia molecular) não tem indicação para ser realizada de rotina. Podem ser úteis para consolidação de informações de vigilância epidemiológica e, em alguns serviços, para a alocação de pacientes em leitos hospitalares em uma estratégia de isolamento de coorte.1‐4 Por questões operacionais (facilidade, rapidez e custo), a técnica de imunofluoresce ̂ncia e ́ a mais frequentemente utilizada. O material deve preferencialmente ser obtido por técnica de aspiração nasofaringe. As técnicas de biologia molecular (PCR real time) podem ser úteis, embora possuam limitações intrínsecas a ̀ técnica (custo, laboratório especializado), nem sempre disponíveis em todos os serviços assistenciais. A própria sensibilidade do método tem gerado algumas discussões acerca da sua validade em um contexto isolado de diagnóstico. Nessas situações, a identificação de material genético de mais de um agente viral traz questionamentos quanto a diferenças de interpretação do achado em um contexto clínico, salientando dúvidas quanto a ̀ possibilidade de codetecc ̧a ̃o frente a diagnósticos de coinfecc ̧a ̃o Tratamento Na grande maioria dos pacientes, a evolução é benigna e o processo evolui para a cura sem a necessidade de nenhuma intervenção. Os pacientes são assistidos em casa e o princípio do tratamento está fundamentado em uma terapêutica eminentemente sintomática (controle da temperatura, do status hídrico e nutricional, bem como acompanhamento da evolução do comprometimento respiratório). A necessidade de internação hospitalar é infrequente, ocorrendo em cerca de 1 a 2% dos pacientes com faixa etária inferior a 1 ano de idade. Nestes, os critérios para indicação da hospitalização estão basicamente focados no grau de comprometimento do sofrimento respiratório e na presença de fatores de risco associados. Cuidados intensivos podem ser necessários para os pacientes hospitalizados, em taxas variáveis de 10 a 15%. Tratamento não farmacológicos O atendimento deve ser organizado, procurando manter o lactente calmo com mínimo manuseio. Muitas vezes, a presença da mãe e ́ fundamental para esse objetivo. A hipertermia, quando presente, deve ser tratada. Importante referir que a presença de febre elevada não e ́ um achado comum na fase pulmonar da doença e, sempre que estiver presente, e ́ preciso atentar para complicações associadas. A cabeceira do leito deve ser mantida preferencialmente elevada. Obstrução nasal e piorreia, quando presentes, de‐ vem ser aliviadas com higiene e aspiração. Trata‐ se de uma medida importante, não só́ por questões de conforto, mas também para evitar comprometimento da mecânica respiratória nos lactentes muito pequenos, quando ainda são respira‐ dores nasais exclusivos. A aspiração nasal deve ser prescrita a partir da observação de sinais de desconforto. Sua recomendação de aplicação, de maneira fixa e regular, não parece trazer benefícios. A prevenção da infecção cruzada deve sempre ser considerada como etapa de extrema importância, principalmente para portadores de infecção pelo VSR. Existem dois modos primários de transmissão da infecção pelo VSR: contato direto com grandes partículas de secreção e autoinoculac ̧a ̃o pelas mãos (após contato com material conta‐ minado). A transmissão por pequenas partículas de aerossol não e ́ tão importante. Portanto, as mãos devem ser cuidadosamente lavadas, antes e após o contato com o doente. Atenção especial deve ser dada para a deposição de secreções e materiais contaminados, visto que podem permanecer infectantes (por viabilidade do agente viral) por várias horas em roupas, luvas, estetoscópios e Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria mãos. Medidas de isolamento de contato são obrigatoriamente requeridas. Caso não haja disponibilidade de um quarto privativo ou de um quarto de isolamento comum aos porta‐ Dores da doença, uma distância mínima de 2 metros entre cada leito da unidade deve ser obedecida Aporte hídrico: Uma vez que o paciente desenvolva quadro de sofrimento respiratório progressivo, com risco de falência respiratória, a suspensão da administração de líquidos e/ou alimentos pela via oral e ́ mandatória. Frequências respiratórias > 60 a 70 mrpm, principalmente na vigência de obstrução nasal, veem a aumentar o risco de aspiração para o trato respiratório. Nesses pacientes, a ração hídrica diária deve ser ofertada por via parenteral. Dessa maneira, deve estar ajustada a ̀ taxa de manutenção, determinada por peso, idade ou superfície corpórea. Ajustes podem ser necessários em função de potenciais complicações associadas. Na presença de desidratação (diminuição da ingesta e/ou aumento das perdas insensíveis), o aporte hídrico deve ser aumentado em taxas superiores as de manutenção. Por outro lado, algumas situações especiais podem necessitar de restrição no aporte hídrico ofertado (aumento da secreção de ADH, edema pulmonar).3 Portanto, nesses pacientes, e ́ fundamental uma adequada monitoração (clínica e laboratorial), já ́ que eles apresentam extrema labilidade no seu equilíbrio hídrico. Uma vez estabelecido o plano inicial de reposição hídrica, deve‐se sempre considerar possibilidade de ajustes ao longo da evolução da doença Tratamento farmacológico Oxigênio: Uma vez indicada a suplementação de oxigênio, e ́ necessário monitorar (de maneira continua ou intermitente frequente) a saturação de oxigênio por dosimetria de pulso, visando a mantê‐lá em níveis superiores a 90%. A saturação de oxigênio nunca deve ser analisada de maneira isolada, devendo ser interpretada em associação com as manifestações clínicas presentes. Não se pode desconsiderar que quedas temporárias nos níveis de saturação ocorrem em uma série de outros eventos cli ́nicos (p.ex., asma), sendo que isso não vem a caracterizar prejuízo ou dano futuro, desde que o paciente esteja estável clinicamente. Além disso, alguns estudos tem relacionado a rotina de monitoração continua por dosimetria a um aumento nas taxas de permanência hospitalar. Também e ́ preciso referir que a indicação da oxigeno terapia pode ser necessária, ainda que o paciente não apresente níveis baixos de saturação de O2 ou hipoxemia Broncodilatadores (alfa e beta-adrene ́rgicos): Embora ainda sejam as drogas mais frequentemente prescritas para pacientes portadores de BVA, seus reais benefícios carecem de fundamentação e evidências científicas. Vários broncodilatadores tem sido avaliados como opção terapêutica no tratamento desses pacientes, entretanto, apenas as drogas beta‐2‐ agonistas (principalmente o salbutamol) e as drogas com propriedades alfa‐adrene ́gicas (adrenalina) tem merecido maiores considerações dentro de atuais protocolos terapêuticos. A adrenalina inalatória e ́ outra medicação frequentemente administrada para pacientes portadores de BVA. Considerando que hiperemia e edema de mucosa são responsáveis por alguns dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na gênese do processo obstrutivo da BVA, a estimulação dos receptores alfa‐adrene ́rgicos poderia agregar benefícios a ̀ estimulação dos betarreceptores por parte dos broncodilatadores. A adrenalina possui essas propriedades (beta e alfa‐adrene ́rgicas), com potencial ação farmacológica para reduzir o extravasamento microvascular (capilar e po ́s‐capilar), reduzir o edema sobre a mucosa bro ̂nquica e promover broncodilataça ̃o por relaxamento da musculatura brônquica. Solução salina hipertônica: Estudos advindos de pacientes portadores de fibrose cística vieram a sugerir que a utilização de soluções salinas hipertônicas (3%, 5% e 7%) administradas por via inalatória melhoraria o clearance mucociliar de lactentes portadores de BVA.Dados de literatura chegaram a sugerir que pudesse ser utilizada de maneira universal nos portadores de BVA, visto reduzir tempo de internação e demonstrar melhora na redução de escores clínicos. Julia Paris Malaco – ambulatório de pediatria Ribavirina: Esse antiviral sintético desenvolvido em 1972, análogo aos nucleosídeos, não é recomendado rotineiramente no tratamento de crianças com bronquiolite. Seu benefício é restrito a crianças imunocomprometidas e com bronquiolite grave por VSR. Antibióticos: A terapia antibacteriana está restrita a crianças com bronquiolite com evidências de infecção bacteriana coexistente, por exemplo cultura de urina positiva, consolidação alveolar na radiografia de tórax e otite média aguda. Heliox: Heliox é uma mistura de hélio (70 a 80%) e oxigênio (20 a 30%) que pode atravessar a via aérea com menor turbulência e resistência, aumentando a ventilação e diminuindo o trabalho respiratório. Um estudo pediátrico randomizado, duplo-cego, controlado e transversal foi realizado por Hollman et al.23. Esses autores concluíram que o hélio diminui o desconforto respiratório das crianças com bronquiolite aguda, porém são ainda necessários outros estudos para determinar a eficácia desse tratamento. Suporte ventilatório: Dependendo da população amostrada, a necessidade de ventilação mecânica pode oscilar entre 5 e 15% dos pacientes internados. Os maiores candidatos são lactentes menores de 3 meses, pacientes com displasia broncopulmonar, portadores de desnutrição proteicocalo ́rica, síndrome de Down, cardiopatias congênitas e pacientes que adquiriram bronquiolite intra‐hospitalar. O tempo de ventilação mecânica oscila entre 5 e 15 dias, período no qual o processo obstrutivo deve começar a resolver‐se. Prevenção Imunização passiva: A imunoglobulina endovenosa especifica (IGEV‐VSR) e o anticorpo monoclonal humanizado para VSR (palivizumabe) tem se mostrado efetivos na prevenção da infecção pelo VSR em populações de risco. Complicações As complicações da bronquiolite podem ser divididas em agudas e crônicas (sequelas). As complicações agudas estão relacionadas as complicações habituais das pneumopatias decorrentes de hiperinsuflac ̧ão pulmonar e ocorrem em até́ 79% das crianças; em 24%, são mais sérias. As complicações respiratórias são mais frequentes (60%), seguidas das infecções (41%), complicações cardiovasculares (9%), alterações eletrolíticas (19%) e outras (9%). As complicações também são mais frequentes em pacientes prematuros (87%), crianças com alterações cardíacas congênitas (93%) e crianças com outras anomalias congênitas (90%). Crianças com 33 a 35 semanas gestacionais tem o mais alto nível de complicações (93%), com longas hospitalizações e alto custo de internação comparado com outros prematuros (p < 0,004).
Compartilhar