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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 1 Com base nos conhecimentos de farmacocinética desenvolvidos em nossos encontros no componente curricular de Toxicologia, desenvolva as questões e os casos abaixo: 1) Descreva as formas farmacêuticas, vias de administração e processo de absorção dos xenobióticos descritos nos casos abaixo: XENOBIÓTICO FORMAS FARMACÊUTICAS VIA DE ADMINISTRAÇÃO PROCESSO DE ABSORÇÃO Marevan® Comprimido contendo 2,5 mg, 5 mg ou 7,5 mg de varfarina sódica • Via oral • Via sonda nasogástrica: os comprimidos podem ser triturados e dissolvidos em água Absorção rápida e quase completa pelo trato gastrointestinal, sofrendo redução na presença de alimentos. Os níveis séricos são atingidos 1 hora após a ingestão Mas em virtude de seu mecanismo de ação, esse pico não coincide com o efeito farmacológico máximo, que ocorre cerca de 48 horas mais tarde. Bactrim® Bactrim® F • Comprimido de 400 mg + 80 mg de sulfametoxazol + trimetoprima • Suspensão (5 mL) de 200 mg + 40 mg de sulfametoxazol + trimetoprima em frasco com 50 ou 100 mL • Comprimido de 800 mg + 160 mg de sulfametoxazol + trimetoprima • Suspensão (5 mL) de 400 mg + 80 mg de sulfametoxazol + trimetoprima em frasco com 100 mL • Via oral administrar com ou sem a presença de alimentos, com um copo de água • Via sonda: recomenda-se que a suspensão oral seja administrada via sonda; separadamente da dieta enteral Após administração oral, TM e SMZ são rápida e quase completamente absorvidas na porção superior do trato gastrintestinal. Após dose única de 160 mg de TM + 800 mg de SMZ, picos de concentração plasmática de 1,5-3 mg/ml para TM e 40-80 mg/ml para SMZ são obtidos dentro de 1 a 4 horas. Se a administração for repetida a cada 12 horas, a concentração estabiliza-se nesse nível. Yasmin® Comprimido revestido com 3 mg de drospirenona e 0,03 mg de etinilestradiol Via oral A drospirenona é rápida e quase que totalmente absorvida quando administrada por via oral. Os níveis séricos máximos do fármaco, de aproximadamente 37 ng/ml, são alcançados 1 a 2 horas após a ingestão de uma dose única. Sua biodisponibilidade está compreendida entre 76 e 85% e não sofre influência da ingestão concomitante de alimentos. Rifaldin® • Cápsula Gelatinosa Dura com 300 mg de rifampicina • Suspensão oral com 20 mg/mL: Rifampicina (Furps) • Via oral • Via sonda: administrar a suspensão oral ou a reparação extemporânea a partir da cápsula via sonda A absorção é reduzida quando ingerido com alimentos. Para assegurar rápida e completa absorção, aconselha-se a administração com estômago vazio, longe das refeições. Rifampicina é prontamente absorvida no trato gastrintestinal. Os picos plasmáticos em adultos e crianças sadios variam amplamente de indivíduo para indivíduo. Picos de concentrações plasmáticas da ordem de 10 μg/mL ocorrem aproximadamente 2 a 4 horas após uma dose de 10 mg/kg de peso corpóreo com estômago vazio. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 2 XENOBIÓTICO FORMAS FARMACÊUTICAS VIA DE ADMINISTRAÇÃO PROCESSO DE ABSORÇÃO Tylenol® • Comprimido de paracetamol (acetaminofeno) contendo 500 mg; comprimidos revestidos de 650 e 750 mg • Solução oral (gotas) com 100 ou 200 mg/mL em frascos de 15, 20 mL • Solução oral com 32 mg/mL em 60 mL • Sachês pó de 500 mg para chás com sabor • Via oral • Via sonda: de preferência, administrar solução oral via sonda. O comprimido pode ser triturado e misturado em volume adequado de água para administração (uso imediato) É rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal, mas sua absorção é diminuída com alimentos. Início de ação em 10 a 30 minutos, pico de 30 minutos a 2 horas; duração de ação de 3 a 4 horas; metabolizado no fígado e excretado pelos rins. Pacientes com insuficiência renal podem acumular metabólitos de paracetamol. Em quantidades tóxicas ou doença hepática, a meia-vida pode ser aumentada duas vezes ou mais. Hidantal® • Comprimido contendo 100 mg de fenitoína; • Solução injetável contendo 50 mg/5mL de fenitoína • Via oral • Via sonda: comprimido macerado e misturado em água • Via intravenosa • Via Intramuscular (não recomendada) A absorção é lenta e, usualmente, completa, ocorrendo principalmente em nível de duodeno. Esse fármaco liga-se, em cerca de 90%, às proteínas plasmáticas, sendo deslocado do seu sítio de ação quando associado a outros medicamentos. A maior parte dos metabólitos inativos são excretados na bile, podendo ser reabsorvidos no trato intestinal e eliminados na urina. Atlansil® • Comprimidos de 100 mg ou 200 mg de cloridrato de amiodarona • Solução oral (gotas) com 200 mg/mL de cloridrato de amiodarona em frasco 30 mL • Solução injetável: cada ampola de 3 mL contém com 150 mg de cloridrato de amiodarona • Via oral • Via sonda • Via intravenosa É absorvido de forma variável e lenta no trato gastrintestinal. Apresenta volume de distribuição amplo e variável em consequência de acúmulo no tecido adiposo e em órgãos como fígado, pulmão, baço; o que faz com que o estado de equilíbrio e concentração terapêutica plasmáticas sejam atingidos aos poucos e a eliminação seja prolongada. O metabolismo é, em maior parte, hepático. Ao iniciar o tratamento por via oral com doses de ataques altas, o efeito pode aparecer após poucas horas. Durante o tratamento prolongado por via oral o efeito aparece entre 2 e 21 dias. Aspirina® • Comprimidos revestidos de 100, 162, 200, 300 e 500 mg ácido acetilsalicílico • Comprimidos de 85, 100, 165, 300, 325 e 500 mg ácido acetilsalicílico • Via oral • Via sonda: comprimido normal pode ser macerado e misturado em água (uso imediato) É rápida e completamente absorvido no trato gastrintestinal. Durante e após a absorção, o ácido acetilsalicílico é convertido a ácido salicílico. Os níveis plasmáticos máximos do ácido acetilsalicílico são atingidos após 10 a 20 minutos e os do ácido salicílico após 0,3 a 2 horas. É eliminado predominantemente por metabolismo hepático. A cinética da eliminação do ácido salicílico é dose-dependente, uma vez que o metabolismo é limitado pela capacidade das enzimas hepáticas. A meia-vida de eliminação varia de 2 a 3 horas após doses baixas até cerca de 15 horas com doses altas. O ácido salicílico e seus metabólitos são excretados principalmente por via renal. OBS.: Dados da tabela obtidos nas bulas dos respectivos xenobióticos e em Medicamentos de A a Z: 2014/2015, de Elvino BARROS (org.), 2014. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 3 2) Sra. C. O. V, 48 anos, com histórico de trombose venosa faz uso crônico de varfarina (Marevan® - anticoagulante oral). A mesma procurou atendimento ambulatorial em decorrência a um processo infeccioso urinário. O residente que a atendeu como primeiro procedimento após os exames laboratoriais prescreveu um antimicrobiano a base de sulfametoxazol (Bactrim®). Na mesma sala encontrava-se outro colega que o alertou sobre o risco da prescrição de sulfametoxazol para esta paciente. Qual a justificativa para o alerta do segundo residente: Fonte: OLSON, Manual de toxicologia clínica, 2014. p. 436, 438. A Varfarina apresenta um taxa de ligação à Proteína Plasmática de 99% O Sulfametoxazol apresenta um taxa de ligação à Proteína Plasmática de 70% Ambos têm afinidade para se ligar a Albumina Como os dois medicamentos têm afinidade pela Albumina, pela mesma proteína plasmática,os dois competem pelo mesmo sítio de ligação. Se a Varfarina apresenta 99% de sua estrutura, daquilo que é administrado, ligada à PP, quer dizer que apenas 1% desse fármaco é suficiente para exercer sua ação farmacológica. Quando existe associação da Varfarina com a Sulfa, e como ambos possuem afinidade pelos mesmos sítios de ligação da Albumina, se apenas 1% da forma livre da Varfarina for deslocada, por exemplo, seu efeito irá dobrar – e isso pode ser suficiente para causar sintomas como equimoses, sangramento gengival, hemorragias. Isso porque a Varfarina é um anticoagulante que atua na Cascata de Coagulação, que vai trabalhar na redução de formação de trombo; de agregação plaquetária. E a Sulfa é um antibiótico. Então, esses 2% já seriam suficientes para dobrar o efeito da Varfarina. E pode ser que essa Varfarina atinja um nível máximo tolerado. Se atingir esse nível máximo tolerado, a Varfarina pode exercer seus efeitos tóxicos. Essa alteração da taxa de ligação leva a um aumento da fração livre da Varfarina, que assim pode exercer seu efeito farmacológico e causar reações de intoxicação. A Sulfa tem 70% da sua formação ligada à PP. E 30% está na forma livre. Se eu alterar para 28, 29%, ainda vou estar dentro da janela terapêutica. Então a Sulfa não vai exercer efeito tóxico ou nocivo. Diferente da Varfarina, que apresenta uma alta taxa de ligação às PP e apenas 1% na sua forma livre. Então qualquer deslocamento da Varfarina pode levar ao surgimento dos sintomas associados. Assim, o Sulfametoxazol desloca a Varfarina dos sítios de ligação à proteína e poderá transitoriamente potencializar seus efeitos anticoagulantes. As interações mais graves com a varfarina são as que aumentam o efeito anticoagulante e o risco de sangramento. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 4 3) S.M.P., 23 anos, estudante do curso de arquitetura faz uso crônico do contraceptivo combinado Yasmin® (estrogênio e progesterona). Após um período de entretenimento universitário foi acometida por uma forte dor de garganta, seguido por um quadro febril. A sua colega com a intenção de ajudá-la, encontrou um antibiótico (rifampicina; Rifaldin®) e erroneamente sugeriu a automedicação. Após alguns dias, com a melhora dos sintomas para sua surpresa percebeu que sua menstruação estava atrasada e após realizar um teste de gravidez constatou que estava grávida. Explique farmacologicamente o que pode ter falhado na terapia contraceptiva. A coadministração de rifampicina com medicamentos ou classes de medicamentos como contraceptivos hormonais sistêmicos, incluindo estrogênios e progestinas diminui a exposição do contraceptivo. Os anticoncepcionais orais podem não ser eficazes durante o tratamento com rifampicina. De acordo com Barros & Barros (2010, p. 106-107), nas interações farmacocinéticas a velocidade e a extensão da absorção de uma droga após sua administração oral podem ser inteiramente alteradas por outros fármacos (ver Tab. 8.3, em que destaco apenas a rifampicina). Uma distinção deve ser feita entre as interações que diminuem a velocidade da absorção e as que diminuem a sua magnitude. Alguns dos mecanismos envolvidos nesse tipo de interação estão detalhados a seguir. Alterações da motilidade gastrintestinal: visto que a maioria das drogas é absorvida em grande parte na porção superior do intestino delgado, drogas que alteram a taxa de esvaziamento gástrico podem afetar a absorção de outros fármacos administrados concomitantemente. Alterações do pH gastrintestinal: podem afetar a difusão e a dissolução da droga, a qual depende da extensão em que ela se apresenta em sua forma não ionizada e lipossolúvel; portanto, entre outros fatores, a absorção de uma droga é determinada pelo seu pKa, sua lipossolubilidade e pelo pH dos conteúdos da mucosa. O ácido acetilsalicílico tem sua absorção pelo estômago maior em um pH baixo do que em um alto. Quanto à alteração na dissolução, podemos citar, como exemplo, os antiácidos ou os bloqueadores H2 (p. ex., ranitidina), que reduzem a dissolução do comprimido de cetoconazol e, consequentemente, sua absorção. Assim, como a rifampicina é prontamente absorvida no trato gastrintestinal, a alteração da flora intestinal diminui a absorção de medicamentos como Yasmin®. De acordo com Claudino (USF, 14 set. 2020), Yasmin® é a junção do estrogênio com a progesterona e sofre ação do complexo enzimático do CYP450, que acaba dando características hidrossolúveis para que ele seja mais facilmente excretado. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 5 Nesse caso, a rifampicina (Rifaldin®) estimula; é um indutor enzimático. Consequentemente esse complexo enzimático começa a ter uma atividade enzimática muito exacerbada, começa a degradar muito o Yasmin®; assim, as concentrações, ou os níveis plasmáticos efetivos, caem. Quando eles caem, nesse período pode ter o processo de ovulação e a liberação do óvulo. Assim, em uma relação sexual desprovida outros métodos anticonceptivos, pode ocorrer a gravidez. Em outras palavras: O Yasmin® tem características lipossolúveis; ele é muito bem absorvido e vai evitar que o organismo libere ou tenha processo de ovulação. Esse medicamento é metabolizado pelo complexo enzimático do CYP450, que vai conferir ou dar características mais hidrossolúveis para o Yasmin® para ele ser mais facilmente excretado. Esse é o modelo clássico, mas ainda mantendo os níveis plasmáticos efetivos: ele ainda está dentro de uma concentração terapêutica – esse é o tratamento clássico. Nesse caso, a pessoa fez uso de um antibiótico, o Rifaldin®, que é a rifampicina; e a rifampicina tem a característica de estimular o CYP450, que degrada o Yasmin®: quando ele estimula a atividade do CYP450 acontece uma aceleração do processo, de degradação, de biotransformação do Yasmin®; ele sendo mais excretado. Assim a concentração do Yasmin® vai reduzindo e pode entrar em níveis subterapêuticos; não tem mais aquele nível plasmático eficiente. Nível subterapêutico não é terapêutico; consequentemente nesse processo o organismo pode ter níveis descontrolados hormonais – você ter o processo de ovulação e, mediante o ato sexual sem qualquer outro método contraceptivo, engravidar. Assim podemos dizer que existem esses dois mecanismos: a rifampicina estimulando o processo enzimático e reduzindo a concentração circulante do Yasmin; e a rifampicina atuando na flora intestinal evitando que o Yasmin® seja bem absorvido; que tenha uma biodisponibilidade. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 6 4) J. A. N., masculino com 52 anos é praticante de fisiculturismo a 10 anos, devido ao desgaste dos exercícios e a idade vem sofrendo com dores nas costas e joelhos. Nessas situações, sempre fez uso do paracetamol (750 mg) até o alívio dos sintomas. Entretanto, ao procurar um clínico para um “check-up”, descreveu sua rotina de treinamento e conduta de automedicação com o analgésico paracetamol (2 comprimidos de 1g; Tylenol ®). Imediatamente o clínico alertou o paciente sobre o uso inadequado desse medicamento classificado como “seguro”. Por quê? Explique utilizando os conceitos farmacocinéticos. Conforme afirma Barros & Barros (2010, p. 80) os fármacos induzem a síntese de proteínas do citocromo P450 e aumentam a velocidade de biotransformação. "A indução pode acarretar perda de atividadedo fármaco ou aumento da toxicidade de fármacos cujos metabólitos sejam ativos, por aumento da concentração de metabólito, no caso, por exemplo, paracetamol.” O paracetamol é um fármaco antipirético analgésico, bastante seguro em doses terapêuticas (1,2 g/dia para um adulto). Normalmente sofre glicuronidação e sulfatação aos conjugados correspondentes, que juntos compõem 95% do total de metabolitos excretados. A via de conjugação alternativa GSH [GSH, ácido glicurônico, sulfato]dependente de P450 da conta dos 5% restantes. Quando a ingestão de paracetamol excede as doses terapêuticas, as vias de glicuronidação e sulfatação ficam saturadas, e a via dependente de P450 se torna muito importante. Pouca ou nenhuma hepatotoxicidade resulta, contanto que a GSH hepática esteja disponível para conjugação. Contudo, com o tempo, a GSH hepática e gasta mais rápido do que pode ser regenerada, e um metabólito toxico, reativo, se acumula. Na ausência de nucleófilos intracelulares como GSH, esse metabolito reativo (N-acetilbenzoiminoquinona) não só reage com grupos nucleofílicos de proteínas celulares, resultando em lesão hepatocelular direta, mas também participa na ciclagem redox, gerando assim espécies de O2 reativas (ROS) e consequente estresse oxidativo, que aumenta muito a hepatotoxicidade induzida por paracetamol. (KATZUNG & TREVOR, 2017, p. 63.) A capacidade de biotransformação dos fármacos pode ser alterada por diversos fatores, entre eles, a idade. O paracetamol é um fármaco relativamente seguro, desde que seja tomado nas doses terapêuticas recomendadas; já em doses excessivas, a segurança do paracetamol pode ser muito comprometida. Assim, o paciente, que já tem idade avançada e faz uso prolongado de doses acima das recomendadas, pode ter comprometimento de complexos enzimáticos; pois com o tempo esses complexos podem não ser suficientes para degradar tanto o paracetamol ou o metabólito formado por ele. E consequentemente o acúmulo desse metabólito formado vai levar a esses efeitos de hepatotoxicidade e nefrotoxicidade. Fonte da imagem: CLAUDINO, USF, 14 set. 2020. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 7 5) Paciente, masculino, 38 anos com histórico de crises epiléticas faz uso crônico de fenitoína (Hidantal®) a mais de 5 anos. Atualmente vem apresentando desconforto cardíaco seguido de pressão no peito, buscou atendimento médico, e este após anamnese e outros exames diagnosticou o paciente com arritmias. Desconhecendo suas crises epiléticas, o profissional de saúde indicou o uso de amiodarona (Atlansil®), no entanto, após poucos dias de uso o paciente começou a apresentar náusea, tontura, sonolência, distúrbios visuais e fadiga). Procurando novamente o médico, ao ser relatados os sintomas e o mesmo tendo a informação do uso de fenitoína, o profissional de saúde interrompeu imediatamente a terapêutica para ajuste de tratamento. Desta forma, explique utilizando seus conhecimentos de farmacocinética a razão para os sinais e sintomas apresentados pelo paciente. A amiodarona (Atlansil®), aumenta o nível plasmático de fenitoína (Hidantal®). O uso concomitante de fenitoína pode levar à hipotensão e bradicardia. A fenitoína pode reduzir os níveis plasmáticos de amiodarona por ser indutor das enzimas que metabolizam a amiodarona. De acordo com Barros & Barros (2010, p. 240), a amiodarona apresenta muitas interações medicamentosas importantes, e todos os medicamentos utilizados devem ser revistos quando se inicia o tratamento e quando a dose é ajustada. “A amiodarona é um substrato do citocromo CYP3A4 hepático, e seus níveis aumentam com o uso de medicamentos que inibam essa enzima […] A amiodarona inibe várias enzimas do citocromo P450 e pode resultar em aumento nos níveis de muitos medicamentos […]. A amiodarona aumenta as concentrações de substratos da CYP 2C9 tais como varfarina ou fenitoína através da inibição do citocromo P450 2C9. Conforme Claudino (USF, 14 set. 2020), a amiodarona é degradada pelo complexo enzimático do CYP450 que vai dar características mais hidrossolúveis e ela vai ser melhor excretada: Consequentemente esse complexo enzimático não vai trabalhar na velocidade que seria necessária. Ele vai ter uma redução de velocidade, redução do processo de biotransformação e redução no processo de excreção. Logo, os níveis plasmáticos efetivos, os níveis circulantes de amiodarona podem aumentar. A amiodarona em altas concentrações leva ao surgimento dos sinais relatados pelo paciente – náusea, tontura, sonolência, distúrbios visuais e fadiga – relacionados aos efeitos tóxicos da amiodarona. A amiodarona trabalha nas ondas QRS; consequentemente você tem uma redução na condução de sinal e redução da frequência cardíaca: nesse caso específico, o efeito tóxico da amiodarona está relacionado a isso. A amiodarona não é metabolizada. Nesse caso não tem complexo enzimático atuante; a atividade dela está reduzida e então não elimina esse fármaco. Causa tontura, delírios, náusea, vômito – os efeitos tóxicos relacionados a ela. Tem que tirar logo a fenitoína? Depende. O paciente está mais propenso a ter uma arritmia e uma parada cardíaca ou está mais propenso a ter uma crise epilética? No caso específico, existem drogas que não atuam como inibidores enzimáticos, não são todas as drogas para tratamento da epilepsia que causam essa inibição enzimática. Então será necessário fazer uma relação e ver as drogas que não tenham interação medicamentosa que vão causar efeitos nocivos e tóxicos para esse paciente. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 8 [Só pra eu entender melhor e fixar o conteúdo:] A indução das enzimas P450 pode acelerar acentuadamente o metabolismo hepático de fármacos. Em consequência, pode haver aumento da toxicidade de fármacos que possuem metabólitos tóxicos, e é uma causa importante da interação fármaco-fármaco como na inibição enzimática. Interações causadas por indução enzimática A indução enzimática é uma causa importante da interação medicamentosa. O início lento da indução e a recuperação lenta depois da retirada do agente indutor, em conjunto com o potencial de indução seletiva de uma ou mais isoenzimas CYP, contribuem para a natureza traiçoeira dos problemas clínicos que a indução representa. […] Mais de 200 fármacos provocam indução enzimática e, consequentemente, diminuem a atividade farmacológica de uma série de outros fármacos. […] Uma vez que o agente indutor é muitas vezes também um substrato para as enzimas induzidas, o processo pode resultar em uma tolerância lentamente desenvolvida. (RANG, H. P. et al., 2016, p. 308.) Interações causadas por inibição enzimática A inibição enzimática, especialmente das enzimas CYP, reduz o metabolismo e, consequentemente, aumenta a ação de outros fármacos inativados pelas enzimas. […] Também existem exemplos de fármacos que inibem o metabolismo de outros fármacos, embora a inibição enzimática não seja o mecanismo principal de ação dos agentes agressores. […] Quando um fármaco atua através de um metabólito ativo, a inibição do seu metabolismo pode resultar em perda de atividade. […] Tal como na indução, as interações causadas pela inibição enzimática são difíceis de antecipar inicialmente. (RANG, H. P. et al., 2016, p. 310.) UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 9 6) O ácido acetilsalicílico (AAS), conhecido popularmentecomo Aspirina®, é um fármaco da família dos salicilatos empregado par o tratamento de diversas enfermidades como dor, febre, inflamação e prevenção da formação de trombos. A varfarina (Marevan®), como todos os anticoagulantes orais, é eficaz na prevenção primária e secundária do tromboembolismo venoso, na prevenção do embolismo sistêmico em pacientes com prótese de válvulas cardíacas ou fibrilação atrial, e na prevenção do acidente vascular cerebral, infarto recorrente e de morte em pacientes com infarto agudo do miocárdio. No entanto na clínica a associação de ambos não é recomendável, explique farmacologicamente: Segundo Katzung & Trevor (2017, p. 591), os mecanismos farmacocinéticos que atuam na interação medicamentosa com a varfarina envolvem principalmente a indução da enzima P450 CYP2C9, a inibição enzimática e a redução da ligação as proteínas plasmáticas. De acordo com esse autor, Os mecanismos da interação hipoprotrombinêmica consistem em inibição estereosseletiva da transformação metabólica oxidativa da varfarina S (o isômero mais potente) e deslocamento da varfarina ligada a albumina, com consequente aumento da fração livre. […] O ácido acetilsalicílico aumenta os efeitos da varfarina, em virtude de seu efeito na função plaquetária, por elevar a taxa de renovação dos fatores de coagulação. A prostaglandina tromboxano A2 é um produto do araquidonato que induz a mudança de forma das plaquetas, a liberação de seus grânulos e a sua agregação […]. Os fármacos que antagonizam essa via interferem na agregação plaquetária in vitro e prolongam o tempo de sangramento in vivo. O ácido acetilsalicílico é o protótipo dessa classe de fármacos. […] o ácido acetilsalicílico inibe a síntese de tromboxano A2 por meio da acetilação irreversível da enzima cicloxigenase. (Katzung & Trevor, 2017.) Assim, conforme explica Claudino (USF, 14 set. 2020), o AAS tem capacidade de acetilar o resíduo de lisina da Albumina: Ele se liga na Albumina e quando se dissocia da Albumina ele acetila o sítio e ninguém mais liga. Se ninguém mais liga, se eu tenho varfarina circulante ela não vai conseguir ligar na albumina. Se a varfarina não liga na Albumina, ela está na sua forma livre. Se ela está na sua forma livre, ela pode exercer sua ação farmacológica. E aí pode aumentar a forma livre da varfarina, aumentar seu efeito farmacológico, aumentar as concentrações circulantes de varfarina transpondo os níveis máximos tolerados e levando a processos hemorrágicos. Sendo assim, podemos dizer que a varfarina – um anticoagulante – tem seu efeito farmacológico potencializado, aumentado o risco de hemorragia. É preciso considerar também que ambos atuam na cascata de coagulação, e que tanto o AAS como a varfarina, têm mecanismos de ação distintos em farmacodinâmica. UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Princípios de Farmacologia – Curso de Biomedicina Casos clínicos - Atividade Pós-Aula Prof. Dr. Mário Angelo Claudino 31/08/2020 NOME: Denise Costa Felipe RA: 001201801429 10 Referências BARROS, Elvino (org.). Medicamentos de A a Z: 2014/2015. Porto Alegre : Artmed, 2014. BARROS, Elvino; BARROS Helena M. T. Medicamentos na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2010. BAYER BRASIL. Aspirina. Bula. Disponível em: <https://pharma.bayer.com.br>. Acesso em: 14 set. 2020. BAYER BRASIL. Yasmin. Bula. Disponível em: <https://pharma.bayer.com.br>. Acesso em: 13 set. 2020. CLAUDINO, Mário Angelo. Toxicocinética. Distribuição, biotransformação e excreção de xenobióticos. USF, 31 ago. 2020. [Anotações de aula transmitida remotamente e disponível na Sala Virtual.] CLAUDINO, Mário Angelo. Toxicocinética. Distribuição, biotransformação e excreção de xenobióticos. USF, 14 set. 2020. [Anotações de aula transmitida remotamente e disponível na Sala Virtual.] FQM Farmoquímica. Marevan. Bula. Disponível em: <https://www.fqmgrupo.com.br>. Acesso em: 9 set. 2020. JOHNSON & JOHNSON DO BRASIL. Tylenol. Bula. <https://www.tylenol.com.br/produtos/tylenol-750-mg>. Acesso em: 14 set. 2020. KATZUNG, Bertram G.; TREVOR, Anthony J. Farmacologia básica e clínica. Porto Alegre: AMGH, 2017. OLSON, Kent R. Manual de toxicologia clínica. 6 ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. PRODUTOS ROCHE QUÍMICOS E FARMACÊUTICOS. Bactrin. Bula. Disponível em: < https://www.roche.com.br>. Acesso em: 9 set. 2020. RANG, H. P. et al. Rang & Dale: Farmacologia. 8 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. SANOFI MEDLEY FARMACÊUTICA. Atlansil. Bula. Disponível em: <https://www.sanofi.com.br/pt/sua- saude/bulas>. Acesso em: 14 set. 2020. SANOFI MEDLEY FARMACÊUTICA. Hidantal. Bula. Disponível em: <https://www.sanofi.com.br/pt/sua- saude/bulas>. Acesso em: 13 set. 2020. SANOFI MEDLEY FARMACÊUTICA. Rifaldin. Bula. Disponível em: <https://www.sanofi.com.br/pt/sua- saude/bulas>. Acesso em: 13 set. 2020.
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