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METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA O SABER HISTÓRICO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: POSSIBILIDADES DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Prof. Dr. Eduardo Araripe UNIDADE I - ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: PROPOSTAS CURRICULARES E DIDÁTICO-METODOLÓGICAS. ASSUNTOS: O SABER HISTÓRICO E O SABER HISTÓRICO ESCOLAR: LIMITES E POSSIBILIDADES NA PRÁTICA PEDAGÓGICA; O ENSINO DE HISTÓRIA EM DISCUSSÃO: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA;CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA; Ao debater esses temas usamos dois textos de apoio: O ensino de História no Brasil Suas funções e implicações políticas e sociais – Séc. XIX até a atualidade . O que é etnocentrismo? TÓPICOS DESTACADOS NO TEXTO SOBRE OS ASSUNTOS O ensino de história, bem como a disciplina sempre tiveram funções políticas e de criar mentalidades convenientes aos sistemas políticos de determinadas épocas; Neste propósito foram criados e utilizados manuais e livros didáticos para estas funções; A análise da lógica que determinou os modelos educacionais do Brasil desde períodos imperiais, nos ajuda a entender algumas questões quedesde períodos imperiais, nos ajuda a entender algumas questões que são de cunho social, político e econômico, até os dias atuais; A educação no Brasil e o ensino de História sempre teve nas suas principais pautas a permanência de modelos que privilegiassem uma minoria detentora do capital econômico em detrimento de uma maioria que deveria estar à margem dos processos educacionais. A educação era pensada para as elites do país que “nascia”, para que se formasse aqui os “grandes homens” que pensariam o futuro da nação; Qual o reflexo disso tudo? As universidades públicas e os incentivos à pesquisa são na sua maioria usufruídos pelas mesmas elites ainda hoje, com pequenas mudanças, mas não significativas a ponto de modificarem as estruturas da pirâmide social do Brasil. Visto que mais de 50% dos jovens que saem das escolas públicas podem ser considerados como analfabetos funcionais, isso demonstra que nosso ensino é segregador, pois não leva em conta as diferenças estruturais existentes em nossa sociedade; Quando se fala em ensino de História a situação ainda é pior, pois a função da História é utilizar-se das aulas para desenvolver criticidade e capacidade de interpretação a partir do presente, utilizando-se do conhecimento do passado. • Por que há limites na prática pedagógica? • O que se observa muitas vezes é uma inversão: aulas mornas, maneiras de ensinar ineficazes, metodologias ultrapassadas, fazendo com que os alunos tenham aversão à História; • Nos primeiros tempos do ensino de história aqui no Brasil, fazia-se uma cópia e uma reprodução do que se tratava na Europa, principalmente na França. •Era um modelo que apenas reproduzia os heróis europeus e suas conquistas, apresentava a sociedade européia como uma sociedade a ser copiada, valorizando sua cultura, sua História, seus rituais, sua “civilidade”. Falar em eurocentrismo nos traz uma redundância, já que o único objeto de estudo da disciplina eram os feitos dos nossos conquistadores. O regime militar interferiu diretamente nas questões voltadas para a educação e mais especificamente para o ensino de História que foi dissolvida e transformada numa “mistura” denominada Estudos Sociais; Tinha claramente a intenção de abolir o papel esclarecedor da disciplina de História, já que mais do que nunca, naquele momento, era preciso mascarar muitas verdades e maquiar a realidade que se apresentava; Ainda nos dias de hoje este tipo de situação está presente nas salas de Ainda nos dias de hoje este tipo de situação está presente nas salas de aula do nosso país, aulas sem reflexão, conteúdos ministrados apenas com base em determinado autor e determinado livro didático. Quais as possibilidades na prática pedagógica? Que a História ensinadas instrumentalize os alunos para exercerem sua cidadania de forma plena, com acesso aos seus direitos e buscando mudanças e rompimentos com a estrutura que privilegia minoria; Nos dias de hoje, lamentavelmente muitos professores estão ainda reproduzindo este modelo, bem mais por uma questão de praticidade e falta de tempo (número elevado de carga-horária, várias escolas efalta de tempo (número elevado de carga-horária, várias escolas e turmas para planejar e executar aulas); A maioria dos professores procura um livro didático com “informações” bem concisas, com “exercícios” bem elaborados e com textos adequados ao nível de leitura dos seus alunos. Em momento algum a grande maioria dos professores de História analisa o conteúdo dos livros e as questões ideológicas intrínsecas nestes. Refletimos com isso que: Se o livro for mal produzido, o ensino será também mal executado; Um ensino estruturado de forma linear e factual, desenvolvido numa pedagogia de aulas expositivas, valorizando a memorização pelos alunos, obrigados a repetir o que era transmitido como verdade absoluta e irrefutável. ASSUNTOS: AS CATEGORIAS HISTÓRICAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR. O ENSINO DE HISTÓRIA EM DISCUSSÃO: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA. AS CATEGORIAS HISTÓRICAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR. TEXTO DE NEUSA GUSMÃO, “Antropologia e Educação: origens de um diálogo” O TEXTO COMEÇA FALANDO QUE “ALTERIDADE” É A TERRA PROMETIDA EM ANTROPOLOGIA: “A aventura de se colocar no lugar do outro, de ver como o outro vê, de compreender um conhecimento queoutro, de ver como o outro vê, de compreender um conhecimento que não é o nosso”. O QUE A AUTORA ESTÁ DIZENDO É QUE, DESDE SEMPRE, ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO SE PREOCUPAM COM AS MESMAS COISAS, E ISSO SOMENTE SERÁ POSSÍVEL PERCEBER QUANDO OLHAMOS PARA OS OBJETOS QUE INTERESSAM A ESSES DOIS SABERES. Desde sempre, a antropologia e a educação têm se defrontado com universos raciais, étnicos, econômicos, sociais e de gênero, entre tantos outros, como desafios que limitam ou impedem que se atinjam metas; A ANTROPOLOGIA SE OCUPA DESDE SEUS PRIMÓRDIOS EM OBSERVAR E COMPREENDER AS CULTURAS DE TODOS OS POVOS. COMO ENTENDER E CONTRIBUIR COM A EDUCAÇÃO DE UM POVO SEM COMPREENDER O QUE FAZ AQUELE POVO?COMPREENDER O QUE FAZ AQUELE POVO? COMO QUERER INTERFERIR NA EDUCAÇÃO DE UM POVO INDÍGENA SEM SABER O QUE FAZ PARTE DAS CRENÇAS, DOS RITUAIS, DAS BRINCADEIRAS, DAS LENDAS INFANTIS, DAQUELE POVO? POR EXEMPLO. AO CITAR BOAS, UM DOS PAIS DA ANTROPOLOGIA CULTURAL, “Hoje, quando vemos as dificuldades das escolas, em particular, das escolas públicas de periferia, o fato de a escola como valor não fazer eco entre os estudantes, a indisciplina violenta, a evasão escolar e sua face mais cruel, “a exclusão social”, só para citar alguns problemas de nosso tempo, cabe perguntar qual a natureza dos riscos de que falava Boas. Qual a natureza dos riscos de hoje?” Para ele, a realidade de seu tempo apontava um risco para os povos do futuro e para o futuro da própria civilização. A razão era que, historicamente, a nossa sociedade e a escola que lhe é própria não desenvolviam - e não desenvolvem - mecanismos democráticos, perante as diversidades social e cultural. OLHEM AÍ PALAVRAS CHAVE DO NOSSO PENSAMENTO NA EDUCAÇÃO: DIVERSIDADE SOCIAL E CULTURAL. Na relação entre antropologia e educação abre-se um espaço para debate, reflexão e intervenção, que acolhe desde o contexto cultural da aprendizagem, os efeitos sobre a diferença cultural, racial, étnica e de gênero, até os sucessos e insucessos do sistema escolar em face de uma ordem social em mudança; Em jogo, as singularidades, as particularidades das sociedades humanas, de seus diferentes grupos em face da universalidade do social humano e sua complexidade através dos tempos e, em particular, num mundo que se globaliza; A antropologia como ciência desenvolve-se preocupadaem superar o mundo intersubjetivo, de modo a superar o etnocentrismo que, resultando do encontro entre a civilização ocidental e outros povos, implicou em violência, distorções sobre estes povos e suas culturas; A experiência de contato entre povos diferentes e culturas diversas coloca em questão um espaço de encontro, de confronto e de conflito, marcado pelo diverso, pelo diferente. Esta tensão é essencial à constituição e ao desenvolvimento da antropologia como ciência e como prática. O objetivo da Educação é assimilar o indivíduo à ordem social propiciadora do nós coletivo e que, ao mesmo tempo em que integra buscando homogeneizar diferencia cada um por suas características pessoais, por gênero, por idade, garantindo o equilíbrio da vida em sociedade; O ENSINO DE HISTÓRIA EM DISCUSSÃO: OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA. A partir de 1985, como resultado da restauração das liberdades A partir de 1985, como resultado da restauração das liberdades individuais, as discussões sobre reformas democráticas na Educação, repercutiram nas novas propostas para o ensino de História, levando a uma produção diferenciada de materiais didáticos e à elaboração de novas propostas curriculares; O currículo então proposto afinava-se com o momento histórico de redemocratização, vivido pelo país, valorizando as ações dos sujeitos em relação às estruturas em mudança que demarcam o processo histórico das sociedades. Na década de 1990, o Ministério da Educação divulgou os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Fundamental e Médio, por áreas do conhecimento; Para o Ensino Fundamental, os PCN apresentam as disciplinas como áreas do conhecimento. A História foi mantida em sua especificidade, e integra-se às demais disciplinas através dos “temas transversais”; São inegáveis as inovações apresentadas pelos PCN para o ensino de História. A historiografia sugerida é atualizada e tenta superar o ensino tradicional. Novos objetos de estudo e novas metodologias estão alitradicional. Novos objetos de estudo e novas metodologias estão ali incorporadas, sua organização com base em conteúdos atitudinais, (procedimentais e cognitivos) privilegia, no Ensino Fundamental, uma abordagem psicológica e sociológica dos conteúdos; Hoje, após mais algumas mudanças na legislação que regulamenta o ensino de História no Brasil, como os PCN, ainda não se conseguiu romper com velhos padrões e metodologias ultrapassadas, referidas por uma historiografia descomprometida com a formação de consciências críticas. Base Nacional Comum Curricular A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica; Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas depropostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil; A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Em 20 de dezembro de 2017 a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homologada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. Em 02 de agosto de 2018, escolas de todo o Brasil se mobilizaram para discutir e contribuir com a Base Nacional Comum Curricular da etapa do Ensino Médio. Professores, gestores e técnicos da educação criaram comitês de debate e preencheram um formulário online, sugerindo melhorias para o documento; A Base deverá nortear a formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares de todo o Brasil, indicando as competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. Ao lado dos PCNs outros materiais são importantes como referências e orientações. Vejamos os principais: No próximo encontro, a partir dos materiais apresentados no slide anterior discutiremos: ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS DE HISTÓRIA: OS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS E SUA INFLUÊNCIA NA PRÁTICA DOCENTE; NOVAS LINGUAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: NOVAS LINGUAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: RESSIGNIFICANDO OS SABERES ESCOLARES; A AVALIAÇÃO COMO PROCESSO RECONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO: ABORDAGENS E PERSPECTIVAS; OS EDUCANDOS E A APRENDIZAGEM DE CONTEÚDOS HISTÓRICOS: A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA. DIVERSIDADE CULTURAL E CURRÍCULOS ESCOLARES CONTEXTO SOCIAL DO BRASIL CONTEMPORÂNEO – SÉC XIX/XX Prof. Dr. Eduardo Araripe 09/03 ENTENDENDO O CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL DO BRASIL OBJETIVOS DA ATIVIDADE: Identificar os principais aspectos históricos, entre o século XIX e início do XX, e suas repercussões na formação social brasileira; Compreender as repercussões da política vigente sobre a formação do povo brasileiro; Processos de Independência, Abolição e República; e suas Processos de Independência, Abolição e República; e suas consequências sociais; Formação da desigualdade social e regional no Brasil; Política educacional na “República Velha”. Ao final da atividade espera-se que o aluno consiga interpretar a importância de trabalhar a diversidade cultural nos currículos escolares. O BRASIL ANTES DA “INDEPENDÊNCIA” O período que antecedeu a ruptura política com Portugal (“independência”) foi marcado pela chegada da família real portuguesa, em 1808, quando D. João elevou o Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves, em 1815, objetivando participar do Congresso de Viena e reconhecimento da dinastia de Bragança. Em termos sociais, a população de todo país era basicamente rural, pois as atividades realizadas nas cidades não eram tão importantes quanto àsas atividades realizadas nas cidades não eram tão importantes quanto às praticadas no campo. O Brasil era tipicamente um país agrário. A população era constituída por dois grupos: de um lado, os grandes proprietários de terra e de escravos; fazendeiros e mineradores. Do outro lado estavam os escravos (maioria) e trabalhadores livres que viviam de trabalhos humildes e sem representatividade social. A cultura canavieira estava em seu período de maior decadência, assim, como a produção de algodão e tabaco. As jazidas estavam saturadas e a indústria não se desenvolvia. em 1808 D. João abriu os portos do Brasil ao comércio internacional – “nações amigas” – que se restringia à Inglaterra. A Inglaterra teve nesse ato uma espécie de “válvula de escape” para o bloqueio continental imposto por Napoleão. Com a transferência da sede da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, novas demandas surgiram, incluindo a instalação de estruturas públicas como secretarias, tribunais, etc. Foram criadas duas faculdades de Medicina (Salvador e Rio de Janeiro), a Escola de Belas Artes, o Jardim Botânico, a Imprensa Régia, a Academia Militar e da Marinha, e o Banco doBotânico, a Imprensa Régia, a Academia Militar e da Marinha, e o Banco do Brasil. Em 1810 vários tratados comerciais foram assinados com a Inglaterra, sendo o mais importante deles o Tratado de comércio e navegação, que estabelecia uma taxa de 15% sobre produtos ingleses, enquanto os portugueses eram taxados em 16% e de outras nações em 24%. Isso também implicou na forte concorrência que as indústrias brasileiras passaram a sofrer dos produtos ingleses, prejudicando ainda mais a instalação industrial no Brasil. Não havia espaço para as manufaturas nacionais. •Apesar de o EUA ser aprimeira nação a reconhecer a independência do Brasil, coube a Inglaterra mediar a aceitação e reconhecimento português. Com isso o Brasil permaneceu sob a influência inglesa, principalmente no setor econômico. A Inglaterra pagou a indenização devida à Portugal e obteve diversas vantagens, em troca, nas relações comerciais com o Brasil. •O avanço industrial já caracterizava o quadro econômico europeu no século XIX, enquanto o Brasil permanecia em grande estado de atraso econômico, revelando-se essencialmente agrário e ainda utilizando a mão de obra escrava.escrava. •Apesar da instalação de uma incipiente indústria brasileira que consistia na substituição parcial das importações, a industrialização era barrada pela própria política escravocrata então vigente, regida pelas elites agrárias; •No período compreendido entre as décadas de 1830 e 1840, o tráfico de escravos ainda aumentava no Brasil. A redução do influxo de escravos no país só entrou em declínio após a Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Os movimentos abolicionistas e republicanos caminharam lado a lado, configurando também uma crise política no interior do Império, pois a partir da abolição da escravatura o regime perde as classes dominantes escravistas como sua base de sustentação. O capital outrora utilizado no tráfico portanto passa a ser empregado em outras atividades, gerando um período de surto no desenvolvimento econômico do país. A partir daí, um novo produto se configura nas atividades econômicas A partir daí, um novo produto se configura nas atividades econômicas do país: as lavouras cafeeiras passam a ganhar destaque entre as demais atividades agrárias, ao passo que desde o início de sua expansão já enfrentava problemas de mão de obra decorrentes da redução do tráfico de escravos. O chamado sistema de parceria foi uma tentativa de redução dos problemas de mão de obra enfrentados, consistindo num envolvimento misto de trabalhadores livres e escravos. Porém o sistema de parceria se revelou um fracasso: os trabalhadores livres eram recrutados na Europa mediante grandes promessas. Visando atrair imigrantes europeus para o trabalho nas lavouras e no comércio das cidades do país, sobretudo, para solucionar o problema da escassez da mão-de-obra, o Império levava uma imagem das capitais das províncias que difundiam impressões progressistas e que se assemelhavam as grandes cidades européias. A historiografia da imigração européia no Brasil não calou apenas o caráter discriminatório, a nível regional, da política de imigração. Ela escamoteou também a outra face da moeda, a discriminação, em escala nacional, do trabalhador brasileiro, fosse livre ou liberto. Se por um lado, a imigração amplia a área do trabalho livre no conjunto da economia, ao mesmo tempo, segrega o livre e o liberto, perturbando seriamente o seu acesso ao mercado de trabalho precisamente nos setores mais dinâmicos da economia de exportação. Ao trabalhador livre ou liberto, restou apenas a marginalidade nas áreas dinâmicas da grande lavoura (café paulista); e, nas áreas estagnadas (norte açucareiro), uma condição que já não era a de escravo mas que ainda não era a de homem livre. A questão cultural no Brasil tem relação direta com a questão racial; Considerando que, durante o final do XIX e início do século XX, a miscigenação era vista como danosa, já que retirava as “qualidades individuais das raças, criando um povo híbrido, deficiente de energia física e mental, o branqueamento passou a ser defendido como necessário para resolver a questão racial e, conseqüentemente, cultural do brasileiro”. A idéia de “Nação inviável”, tão defendida entre intelectuais do século XIX, configura-se, no entendimento dos cientistas sociais que se detiveram em analisar as teorias raciais vigentes no Brasil, como o resultado do processo europeu em tentar justificar o imperialismo e a dominação sobre os demais povos. Desta forma, o extermínio dos povos indígenas e a escravidão tinham uma justificativa “plausível” no contexto da dominação do branco europeu. Em Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre é tido como o marco inicial das análises sobre a cultura brasileira. Esta obra, escrita em 1933, marcada pelo contexto patriarcalista e aristocrático em que foi escrita, nos lega uma inegável inovação na documentação utilizada e na metodologia de abordagem de temáticas como sexo, culinária, crença religiosa, tradições orais, infância, velhice, entre outras, além do legado das raças que constituíram o povo brasileiro. Também Freyre diferencia os conceitos e compreensões sobre raça e Também Freyre diferencia os conceitos e compreensões sobre raça e cultura, sendo a mestiçagem, ao contrário das abordagens anteriores, benéfica à formação da nação, segundo o autor; Uma das grandes críticas feitas a Freyre, à época, deve-se ao fato de que o teórico justificou o imperialismo português, apoiado numa pseudo- harmonia entre as raças, que teria legado ao país uma mestiçagem favorável e enriquecida pelos dois componentes, indígenas e negros africanos, que, somados ao elemento central – portugueses- deu margem a construção de um povo híbrido e viável. República Velha - período republicano no Brasil, iniciado a partir da Proclamação da República em 1889 e que se estendeu até a Revolução de 1930. Os governos da República Velha foram caracterizado pela proteção às velhas oligarquias agrárias, sobretudo os detentores das lavouras cafeeiras, que se desenvolveram sobretudo nas regiões dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Com a proclamação da República (1889) o Estado Unitário foi substituído pelo Estado Federativo. As Províncias foram transformadas em Estados com autonomia.com autonomia. As expectativas com o advento da república Segundo José Murilo de Carvalho, “a proclamação da República trouxe grandes expectativas de renovação política, de maior participação no poder por parte não só de contra-elites mas também de camadas antes excluídas do jogo político. No entanto, o que se verificou foi um “desencantamento”, uma desilusão com o regime que não conseguia atender os anseios da classe operária. Do ponto de vista econômico-financeiro, o país encontrava-se em depressão econômica, com uma inflação galopante, elevada dívida externa e queda nos preços do café. Socialmente, havia uma crescente agitação popular urbana (crescente aumento das atividades industriais), pobreza entre as classes trabalhadoras, e uso de repressão por parte do Estado para coibir as “ameaças” essas classes “perigosas”. Os coronéis são os grandes proprietários de terras que assumem a chefia da política municipal. Para Victor Nunes Leal, o corolenismo só pode ser entendido a partir da marca do antigo poder privado; da estrutura latifundiária que fornece a base de sustentação para as diferentes formas de manifestação de poder privado. O coronel exerce uma ampla jurisdição sobre seus dependentes: ele arbitra rixas e desavenças; reúne nas mãos funções policiais, impondo-se muitas vezes pela pura ascendência social, ou com auxílio de empregados ou capangas e jagunços e manipula a polícia e a justiça. Passam a integrar a oligarquia estadual quando alcançam a hegemonia nos seus estados. Nos municípios, havia muitas lutas entre facções rivais, visando o controle do poder da política local, além de que o poder dos coronéis sobre os votos permitia uma eleição de candidatos com prestígio local, eleições estas marcadas pelas fraudes e pelo “voto de cabresto”, ou mesmo as eleições “bico-de-pena”, onde um livro de ata é aberto, sob a ordem de um coronel, e vivos e mortos votam para eleger o interesse desse coronel. O “arranjo político” denominado “política dos Estados” ou “dos governadores”, significou a tentativa de Campos Sales de harmonizar o poder executivo com o legislativo, independentemente das formaçõespoder executivo com o legislativo, independentemente das formações partidárias, visando obter apoio e sustentação às políticas implementadasem seu governo, ou seja, agir livremente. Encontra apoio, sobretudo, nos três principais colégios eleitorais do país, Minas Gerais, São Paulo e Bahia. BALANÇO FINAL DA POLÍTICA OLIGÁRQUICA. Consolida de imediato o domínio das oligarquias estaduais e a força dos coronéis nos municípios; Impossibilita o surgimento de partidos nacionais, bem como oposição; Fortalecimento do poder do Estado Nacional; Ganhos com a interação entre poder público e poder privado, viabilizando o Estado Nacional com território e poder central;viabilizando o Estado Nacional com território e poder central; Inviabilidade da construção da cidadania no período entre 1889 a 1930; REPERCUSSÕES NA EDUCAÇÃO DO BRASIL O contexto da Primeira República era alimentado por anseios democráticos, progresso econômico e independência cultural, contudo a prática foi bem diferente, e o país mergulhou em crises diversas, com o povo inerte e sem forças para mudar o contexto, mesmo porque estava à margem do poder decisório, o que levou José Murilo de Carvalho a escrever notável e valorosa obra sobre o período, OS BESTIALIZADOS. A centralização do poder nas mãos dos “coronéis”, a política dos governadores, as restrições eleitorais (só votavam os homens maiores de 21 anos), entre outras medidas visando à manutenção do poder criaram o clima necessário a deflagração da Revolução de 30, que foi responsável por grandes transformações no sistema educacional brasileiro. Após estas considerações, elencamos algumas características importantes do quadro educacional brasileiro no período em estudo: Como herança do Império, existiam poucas escolas do ensino primário, e algumas do ensino secundário e superior (isoladas umas das outras); Inexistência de um sistema nacional de educação articulado; Constituição de 1891 omissa em relação a gratuidade e garantia da educação, deixando nas mãos dos Estados a obrigação com o ensino primário; Observamos que alguns dispositivos sobre a educação somente aparecerão na constituição de 1934, a saber: Gratuidade e obrigatoriedade do ensino; Obrigação dos poderes públicos a um investimento mínimo na educação, sendo União e Municípios nunca menos de 10%, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos que 20%; Ensino religioso de caráter interconfessional, ou seja, respeitando-se as crenças dos alunos, sendo facultativo a estes; Manteve-se a dualidade de competências em matéria educacional, tendo o sistema federal à responsabilidade sobre a formação das elites (secundário e superior), e os Estados sobre o ensino primário e profissional; Mediante delegação do Legislativo, o poder executivo federal promoveu reformas sobre o ensino secundário e superior, repercutindo inclusive sobre os estabelecimentos mantidos pelos Estados e pelos particulares. Dentre as reformas empreendidas destacamos: O curso secundário tinha por objetivo servir de preparação para o O curso secundário tinha por objetivo servir de preparação para o ingresso no ensino superior, sendo regulado, a partir de 1930 por legislação independente daquela do ensino superior; Redução da carga horária dedicada às Humanidades e aos estudos sociais, em benefício da Matemática e Ciências; Manutenção do padrão obtido no Império, em relação ao ensino superior, existindo poucas escolas superiores e isoladas; Curso técnico-profissional continuou marginalizado; De fundamental importância para o desenvolvimento da educação brasileira, a década de 20 marcou um importante momento de discussão sobre o modelo educacional empregado, até então. Questionava-se, sobretudo, a ênfase na formação das elites, contida no modelo praticado, propondo-se a criação de um sistema nacional de educação, com ênfase na educação básica, ensino primário, que possibilitasse a articulação com o ensino superior. Entre os fatores que contribuíram para os debates sobre a educação, destaca Nelson Piletti a fundação da Associação Brasileira dedestaca Nelson Piletti a fundação da Associação Brasileira de Educação, em 1924, o inquérito sobre a educação promovido pelo jornal O Estado de São Paulo, e as reformas educacionais realizadas por vários Estados durante a década de 20. Dentre os resultados dos debates, destacamos algumas ações e reformas propostas e realizadas: Os Estados reformaram seus sistemas de ensino, renovando e tornando mais eficientes o ensino primário e técnico-profissional; A partir de Fernando de Azevedo (DF), a escola deveria estar baseada nos princípios da extensão do ensino, articulação dos níveis e modalidades do ensino e adaptação ao meio social e às modernas idéias de educação; Para Fernando de Azevedo, a escola deve ser única, isto é, constituída por todos os elementos da sociedade, como base de uma democracia social; Educação inicial única e obrigatória para todos; Educação inicial única e obrigatória para todos; Escola como meio de aprendizagem e cooperação entre a sociedade; Outrossim, as transformações propostas e realizadas não poderiam ocorrer sem uma plena capacitação dos docentes, e assim, o Distrito Federal reformulou o ensino normal, específico na formação de professores primários, melhorando as condições de trabalho e de capacitação cultural. Como conclusão, expomos um quadro demonstrativo que sintetiza as diferenças entre o chamado ensino da escola clássica e o ensino da escola nova, como forma de comparação entre as características e possibilidades de avanços: Unidade II UNIDADE II - O SABER HISTÓRICO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: POSSIBILIDADES DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA QUEM CONTA A HISTÓRIA? Prof. Dr. Eduardo Araripe 16/03 Texto base: O ensino de História no Brasil: Suas funções e implicações políticas e sociais – Séc. XIX até a atualidade Marilen Fagundes Peres Janete Schirmer Tatiane Souza Ritter OBJETIVOS DA ATIVIDADE: – A partir do texto de base, refletir que o ensino de história, bem como a– A partir do texto de base, refletir que o ensino de história, bem como a disciplina sempre tiveram funções políticas e de criar mentalidades convenientes aos sistemas políticos de determinadas épocas. – Demonstrar as utilizações e utilidades do ensino de História, inclusive através do uso de manuais e livros didáticos para estas funções. • É preciso que se entenda que a educação no Brasil- e o ensino de História- sempre teve nas suas principais pautas a permanência de modelos que privilegiassem uma minoria detentora do capital econômico em detrimento de uma maioria que deveria estar à margem dos processos educacionais ou tão somente receber a educação necessária para realização de trabalhos mais elaborados; • Prioritariamente, a educação era pensada para as elites do país que “nascia”, para que se formasse aqui os grandes homens que“nascia”, para que se formasse aqui os grandes homens que conduziriam o futuro da nação; • Falar em permanências é entender que: • Mais de 50% dos jovens que saem das escolas públicas podem ser considerados como analfabetos funcionais. Isso demonstra que nosso ensino é segregador, pois não leva em conta as diferenças estruturais existentes em nossa sociedade; • Segundo Saviane (1997) existem dois grupos de teorias para explicar a educação no Brasil que ele nominou de Teorias não críticas e Teorias críticas reprodutivistas; • Teorias não críticas existe um esforço para demonstrar que a educação sozinha seria capaz de superar a marginalidade. Teorias críticas reprodutivistas os estudos apontam que a educação para ter eficácia e mudar os modelos já estabelecidos necessita de outros fatores principalmente de ordem social. • E é desta sociedade e desta educação que estamos partindo para• E é desta sociedade e desta educação que estamos partindo para uma análise mais detalhada, principalmente no que tange o ensino mais específico de História, como fator de permanência da nossa sociedade, desde o início nos tempos do Colégio Pedro II. • Existe um grupo de pesquisadores que entende a escola comoaparelho ideológico do estado, visando reproduzir determinadas mentalidades na população. Essas ideologias se materializam através de ações praticadas na escola, já que essa seria um aparelho para materializar essa ideologia. •Segundo essa teoria a escola apenas reproduziria as relações do capitalismo, de exploração e exclusão. Sabemos que muito disso reflete o que observamos em nossa sociedade, principalmente no momento em que os menos favorecidos são os que acumulam insucessos escolares sucessivos e muitas vezes acabam por abandonar os estudos sem concluir nenhum nível de escolaridade. •Quando se fala em ensino de História, a situação ainda é pior pois a função da História seria de utilizar-se das aulas para desenvolver criticidade e capacidade de interpretação do mundo a partir do presente utilizando-se do conhecimento do passado; “Mas o que se observa muitas vezes é uma inversão: aulas mornas, maneiras de ensinar ineficazes, metodologias ultrapassadas, fazendo com que os alunos tenham aversão à História, pois não conseguem entender-se como sujeitos da História, pois esta é linear, valorizando datas, fatos, reis e rainhas, criando um abismo entre o aluno e o que lhe é ensinado pois ele não vê nenhuma possibilidade e nenhuma utilidade do que está sendo ensinado, pouco se faz para que a História instrumentalize os alunos para exercerem sua cidadania de forma plena, com acesso aos seus direitos e buscando mudanças e rompimentos com a estrutura que privilegia a burguesia”. • Contextualização do ensino de História no Brasil • Nos primeiros tempos do ensino de história aqui no Brasil fazia-se uma cópia e uma reprodução do que se tratava na Europa, principalmente na França. Era um modelo que apenas reproduzia os heróis europeus e suas conquistas, apresentava a sociedade européia como uma sociedade a ser copiada , valorizando sua cultura, sua História, seus rituais, sua “civilidade”. • Enquanto isso, alguns pesquisadores aqui lançavam-se a pesquisar• Enquanto isso, alguns pesquisadores aqui lançavam-se a pesquisar dados, principalmente geográficos do Brasil, já que antes da chegada dos portugueses era como se não existisse uma história passível de ser contada. • Coube ao IHGB, que tinha intuito de contar uma História do Brasil na qual enaltecesse num primeiro momento os monarcas bragantinos, seus feitos, sua família, sua nobreza, desprezando os povos nativos, relegando-os ao exotismo de um país de natureza rica da qual faziam parte, mas nunca como elementos centrais das narrativas. • Entretanto, a criação do Colégio D. Pedro II, em 1838, durante o período regencial, é um marco na educação brasileira que merece destaque. Criado com o objetivo de tornar- se escola-modelo de ensino secundário, os trabalhos pedagógicos com os alunos inicialmente atendiam ao ideário positivista que dominava a época. • Segundo Circe Bittencourt, o nascimento da• Segundo Circe Bittencourt, o nascimento da disciplina de História, com “pleno direito” de ser inserida nos currículos educacionais ocorre segundo os moldes positivistas que a marcam como “genealogia da nação”, estando diretamente ligada com o ideal de construir e apresentar uma história da civilização, e construção de uma identidade comum da nação. • Poucos anos após a independência do Brasil, em 1838, em meio ao período regencial e sob forte influência do pensamento liberal francês, foi criado no Rio de Janeiro o Colégio Pedro II, primeiro estabelecimento de ensino público de nível secundário no país. • No mesmo ano desse acontecimento, houve a regulamentação da disciplina de História, a ser ensinada a partir da 6ª série. • Ainda em 1838, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro –• Ainda em 1838, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, que passaria a orientar a história escolar desenvolvida pelo Colégio Pedro II. • Se ao primeiro atribuía-se a função de formar os filhos da nobreza da corte do Rio de Janeiro, oferecendo-lhes uma preparação inicial para assumir os cargos burocráticos do Império, ao segundo cabia a responsabilidade, entre outras, de definir programas e métodos de ensino para a recém-nascida disciplina.(CAIMI, 2001, p.27-28) • Vale destacar que o corpo docente do Pedro II também compunha o quadro de intelectuais do IHGB e foram eles que elaboraram os programas escolares, os manuais didáticos e as orientações dos conteúdos a serem ensinados, com influência francesa como destaca Nadai. • A tese de doutoramento de Ciro Flávio de Castro Bandeira de Melo se reporta principalmente a analisar as obras didáticas, os manuais de João Ribeiro e Joaquim Manuel Macedo ambas utilizaram-se das produções de Von Martius e Varnhagen para escrever seus manuais, que foram em seuVon Martius e Varnhagen para escrever seus manuais, que foram em seu tempo o que melhor se produziu e o que mais se consumiu sobre História do Brasil naquela época. • Devemos analisar o papel que estas obras tiveram na questão da formação de consciências históricas voltadas a fortalecer modelos políticos então presentes. Os autores analisados por Ciro retratam o que já se tratava: a história como instrumento de doutrinação política e exaltação de uma História necessária para a sustentação de um determinado modelo. • No caso de Joaquim Manuel Macedo, sua obra tinha forte ascendência imperial, exaltava a corte, os Bragança e aquele modelo que governava o Brasil na época de sua obra. • Era membro do IHGB, que tinha, como já foi citado, a função de construir uma História para a Pátria recém “parida” na qual julgavam ser os salvadores daquele povo mestiço que não possuía o requinte das grandes nações européias. • Toda a exaltação à coroa, à família imperial, enfim toda pompa utilizada, a invenção do herói nacional, do hino que exaltava as belezas do Brasil, de uminvenção do herói nacional, do hino que exaltava as belezas do Brasil, de um espírito de patriotismo, que começou nas altas classes e foi passando para todos os habitantes, tudo isso colaborou para a sustentação daquele modelo e a construção de uma história a serviço da monarquia, que cumpriu com seus objetivos. • Na mesma linha verificamos o manual de João Ribeiro, porém já referindo outro momento político: a invenção da república no qual o autor também utiliza-se do seu manual para vender a ideia de que a república naquele modelo, então seria a melhor opção de modelo político para o Brasil. • Chamou atenção a longevidade e permanência nestas obras, produzidas pelos então professores do Colégio Pedro II, mas que referenciaram várias gerações e influenciaram também. Como já foi dito, este colégio era formador da elite brasileira e as ideias e ideais produzidos ali seria o que embasaria os futuros senhores do Brasil • É importante nos atentarmos para as produções com fins didáticos no Brasil, sempre com cunho ideológico impregnado e com uma função política bem clara, expressa através de suas ideias que segundo Circepolítica bem clara, expressa através de suas ideias que segundo Circe Bittencourt, mascaravam a realidade e procuravam ser veículos portadores de ideologia burguesa. • Circe denuncia claramente as intenções de dissimular a realidade e as contradições sociais existentes no Brasil. • O regime militar interferiu diretamente nas questões voltadas para a educação e mais especificamente para o ensino de História que foi dissolvida e transformada numa “mistura” denominada Estudos Sociais, que tinha claramente a intenção de abolir o papel esclarecedor da disciplina de História; • Por isso é preciso que se atente para a as obras escritas neste período, pois os autores estavam de certa forma engessados pois a repressão e a censura eram constantes. • É elemento também passível de análise, segundo Bittencourt a maneira como os manuais didáticos funcionam como depositários do “saber”, da “cultura”, dos conteúdos escolares, privilegiado sistematizador de conhecimentos e conteúdos. • Dentro desta perspectiva desenvolvia-se o ensino de história, com textos,exercícios e questionários para serem decorados e “tomados”, sem a menor possibilidade de reflexões maiores, tendo no manual didático a tábua de salvação dos professores, pois eles facilitavam seu trabalho, sistematizando o conhecimento, trazendo os “exercícios” e doutrinando seus alunos.conhecimento, trazendo os “exercícios” e doutrinando seus alunos. • Ainda nos dias de hoje este tipo de situação está presente nas salas de aula do nosso país, aulas sem reflexão, conteúdos ministrados apenas com base em determinado autor e determinado livro didático. • Assim continua-se reproduzindo uma forma de se fazer e pensar História muito semelhante ao que já se fazia lá nos tempos do Dr. Macedinho, conhecido pela postura reta, pelas cobranças e exigências da decoreba por parte dos seus alunos, mas sempre utilizando-se da história para legitimar um modelo político. • Podemos então verificar o quanto a forma de se ensinar História no Brasil teve pouca evolução, dessa forma é possível compreender quando autores renomados e pesquisadores afirmam que na escola não se produz conhecimento histórico, apenas se reproduz. • Analisando a evolução do ensino de História no Brasil observamos que é difícil dissociar o ensino de História do livro didático de História, e vemos que todas as evoluções e transformações da disciplina perpassam pelas produções didáticas.disciplina perpassam pelas produções didáticas. • Neste sentido,Elza Nadai também contribui através de sua obra “O ensino de História no Brasil, trajetória e perspectiva”, a autora nos dá pista da crítica contundente a este modelo de ensinar história que estamos analisando. • Nadai ressalta que a escola brasileira não dá respostas às demandas sociais, destaca que as instituições escolares não cumprem com seu papel e que a História vive uma constante crise criativa e que as produções e pesquisas passam por modificações sem contribuir efetivamente para a melhoria do aproveitamento da disciplina e seu papel social. • Neste sentido, Bittencourt em sua obra “Pátria, civilização e trabalho” nos mostra sua preocupação com um ensino de história que não busca formar cidadãos conscientes, mas que tem uma preocupação muito mais em ensinar civismo, hino, datas, e outros elementos que doutrinam e não ampliam a visão dos alunos em geral; • Ela ressalta a grande crise vivida pela História e sua quase dissolução com a criação dos Estudos Sociais, a introdução de disciplinas como Moral e Cívica, OSPB, chamando a atenção para que estas não são apenas mudanças curriculares, mas mudanças introduzidas por um estado centralizador que vê no ensino de História institucionalizado um perigo eminente a ser combatido, controlado, suprimido. • Bittencourt, refaz a trajetória do ensino no Brasil e sua ampliação aos diferentes grupos sociais. • No início a educação era privilégio de uma minoria rica, de famílias tradicionais, com objetivo de formar os futuros mandatários da nação, aproveitando-se da educação para perpetuar as diferenças sociais. • Ela demonstra de que forma o ensino foi ampliando seu foco principalmente com as exigências de suprir demandas de mercado, já que para ocupar algumas profissões existia a necessidade de quejá que para ocupar algumas profissões existia a necessidade de que a pessoa tivesse no mínimo os primeiros anos de escolaridade, para profissões como serviços, comércio, as pessoas deveriam estar pelo menos alfabetizadas , com noções de matemática, cálculos, principalmente. • Este foi um grande impulso para a popularização e ampliação da escolarização no Brasil, mas continuaram existindo muitas distorções: negros não podiam até os anos 1920 frequentar a escola. • Exceto alguns negros como Machado de Assis, que tinha um padrinho muito abastado, e que através de sua influência pode ter acesso aos bancos escolares e a uma formação superior. • Estas distorções foram aos poucos sendo superadas, obviamente para produzir mais força de trabalho “qualificada”, com a expansão da industrialização e comércio no Brasil. • Mas tratando-se do ensino de História este ainda era muito vinculado a questão do civismo, ainda era uma forma de exaltação à pátria, muito ligado ao projeto nacionalista.pátria, muito ligado ao projeto nacionalista. • As mudanças no ensino de História ao longo do Brasil Republicano • Durante os anos 70, em plena ditadura militar, o ensino de História era estritamente tradicional, com a valorização de personagens e de fatos políticos sobre os quais esses personagens atuaram. Um ensino estruturado de forma linear e factual, desenvolvido numa pedagogia de aulas expositivas, valorizando a memorização pelos alunos, obrigados a repetir o que era transmitido como verdade absoluta e irrefutável. • Essa pedagogia ainda reproduzia as práticas iniciais do ensino de História, ainda do período do Brasil Império, fundadas sobre os princípios da Escola Metódica e do Positivismo. • Esses princípios consistiam em ver a História de um ponto de vista da linearidade dos fatos, não utilização de documentos oficiais como fonte histórica e valorização exacerbada de personagens consideradas heróicas, além de identificar o Brasil como uma extensão da Europa, expressando nossa identidade nacional como uma síntese de raças (o branco, o índio e o negro). • É notável que esse currículo tinha objetivos, ainda que implícitos, de legitimar valores da elite, excluindo as “pessoas comuns” de se identificarem como sujeitos históricos, com a intenção de manutenção de uma memória única, a oficial. (CAIMI, 2001) • No período do Estado Novo, do governo de Getúlio Vargas o acesso ao Ensino Secundário era restrito às elites econômicas que se preparava para, no futuro, assumir o governo e conduzir o povo e contribuía para legitimar o sistema político, reforçando a moral e o civismo nas pedagogias escolares. • De acordo com Flávia Caimi (2001), com a lei federal 5.692, em 1971, foi criado o Primeiro Grau de oito anos e o Segundo Grau profissionalizante, tornando o ensino tecnicista, voltado para a preparação de mão-de-obra para o mercado de trabalho. • Consequentemente, as disciplinas das ciências humanas – História e Geografia - passaram a ser tratadas de modo pragmático, já que assumiram a função exclusiva de legitimadoras do modelo político para a próxima geração, sendo ambas, no Primeiro Grau condensadas napróxima geração, sendo ambas, no Primeiro Grau condensadas na disciplina de Estudos Sociais, dividindo a carga horária com a disciplina Educação Moral e Cívica. • No Segundo Grau, as cargas horárias dessas disciplinas foram reduzidas e a disciplina de Organização Social e Política Brasileira é inserida no currículo. • Nesse período era corrente a ideia de que a busca da identidade nacional seria uma das soluções para os problemas do país. Daí a importância de contextualizar o que ocorria no interior da escola com a política educacional mais ampla. • A partir de 1985, como resultado da restauração das liberdades individuais, as discussões sobre reformas democráticas na Educação, repercutiram nas novas propostas para o ensino de História, levando a uma produção diferenciada de materiais didáticos e à elaboração de novas propostas curriculares.novas propostas curriculares. • Assim, toda a década de 1980 seria marcado por um intenso debate em torno do ensino de história, o qual se expressou na realização de congressos, seminários, reformas curriculares, publicação de coletâneas, etc. Tais atividades revelam uma forte disposição para o redimensionamento das teorias, métodos, conteúdos e linguagens de ensino da disciplina. (CAIMI, 2001, p.43) • Pela primeira vez contrariavam-se os pressupostos teóricos da História tradicional: eurocêntrica, factual, heróica e política, pautada na memorização, na realização de exercícios de fixação e no direcionamento dos livros didáticos. • Na década de 1990, o Ministério da Educação divulgou os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Fundamental e Médio. • De acordo com as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio,neles o currículo se organiza em áreas do conhecimento e, as ciências humanas e suas tecnologias abrangem Geografia, Sociologia, Filosofia e História. • Para o Ensino Fundamental, os PCN apresentam as disciplinas como áreas do conhecimento. A História foi mantida em sua especificidade, mas integra- se às demais disciplinas através dos “temas transversais”. • São inegáveis as inovações apresentadas pelos PCN para o ensino de História. • A historiografia sugerida é atualizada e tenta superar o ensino tradicional. Novos objetos de estudo e novas metodologias estão ali incorporadas, sua organização com base em conteúdos atitudinais, procedimentais e cognitivos, privilegia, no Ensino Fundamental, uma abordagem psicológica e sociológica dos conteúdos. • DÚVIDAS????? • BITTENCOURT, Maria Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. BITTENCOURT, Maria Circe. Livro didático e saber escolar (1810 – 1910). Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. • BITTENCOURT, Maria Circe. Pátria, Civilização e Trabalho – O ensino de história nas escolas paulistas – 1917-1939. São Paulo: Loyola, 1990. • BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB / Lei nº 9.394/96). Brasília: MEC, 1996. BRASIL. Parâmetros Curriculares de História. Brasília: MEC-SEF, 1998. • CAIMI, Flávia Eloisa. Conversas e controvérsias: o ensino de história no Brasil (1980 – 1998). Passo Fundo:UPF, 2001. • GUSMÃO, Emery Marques. Memórias de quem ensina História:cultura e identidade docente.• GUSMÃO, Emery Marques. Memórias de quem ensina História:cultura e identidade docente. São Paulo:Editora UNESP, 2004. • HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence (orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. • MELO, CiroFlávio de Castro Bandeira de. Senhores da história e do esquecimento: a construção do Brasil em dois manuais didáticos de história na segunda metade do século XIX. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2008. • NADAI, Elza. O ensino de história no Brasil: trajetória e perspectiva. Revista Brasileira de História. São Paulo. 1993. • SAVIANE, Demerval. Escola e Democracia. Ed. Autores Associados,São Paulo.1997
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