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1 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII DISFUNÇÃO DA ADRENAL: HIPER A HIPOFUNÇÃO Quando queremos estudar a adrenal, o exame de imagem adequado é tomografia ou ressonância de abdome com foque em adrenal. Chamamos de incidentaloma toda massa adrenal que foi descoberta ao acaso por exames de imagem na investigação de sintomas não relacionados a patologias adrenais. Uma vez identificado o incidentaloma, deve-se investigar. A grande maioria de todos os achados incidentais são de adenomas adrenais, ou seja, tumores benignos. Esses tumores podem ser funcionantes ou não, assim como acontece na hipófise. Outros achados acidentais podem ser: metástases, carcinoma adrenal, cisto, hiperplasia adrenal, lipoma ou mielolipoma. As causas são inúmeras, mas na maioria das vezes é um adenoma adrenal. O que seria um adenoma adrenal de achado acidental funcionante? Seria aquele paciente com hiperprodução de glicocorticoide, ele teria uma síndrome de Cushing ACTH independente, mas que ainda não apresentou a clínica de Cushing (ganho de peso, diabetes, hipertensão). O paciente provavelmente está com uma pré-hipertensão, uma glicemia de jejum alterada, mas o paciente não se deu conta disso e nem o médico dele. Todas as vezes que achamos um adenoma incidental na adrenal, a investigação é obrigatória para descobrir se o adenoma é funcionante ou não. Isso porque se ele for funcionante, o paciente vai ter que fazer uma cirurgia. Exemplo: Se ele é funcionante e está produzindo glicocorticoide, mesmo em uma fase pré-clínica, temos que operar, não tem como deixar o paciente ficar clinicamente Cushingoide para operar depois. Se for um incidentaloma, um achado por acaso e ainda não estiver clínica e for funcionante = cirurgia Lembrando que um adenoma funcionante é um tumor adrenal produtor de glicocorticoide, ou seja, síndrome de Cushing ACTH independente. Não tem como ser dependente porque é um clone de células tumorais na adrenal que produz glicocorticoides em excesso, o que, por feedback, bloqueia a produção de ACTH pela adeno-hipófise. Então o ACTH em todas as causas de síndrome de Cushing de origem adrenal estará suprimido. ➔ O clone de células tumorais é autônomo, vai produzir glicocorticoides independentemente dos níveis de ACTH. Esse adenoma adrenal pode ser funcionante que vai produz androgênios em excesso, ocasionando um hiperandrogenismo. Um exemplo é a hiperplasia congênita suprarrenal. Uma diferença é que nesse caso, não operamos, é feito um tratamento clínico. CONDUTAS NA INVESTIGAÇÃO DE UM INCIDENTALOMA Se encontramos o incidentaloma adrenal, é preciso investigar. Primeiro investigamos o tamanho, quanto maior, maior o risco de ser um tumor suspeito. Geralmente os carcinomas são maiores do que 6 cm. Mas se tem menos do que 6 cm, eu preciso saber se ele é funcionante ou não, porque se não for funcionante, não é necessária a cirurgia, apenas um acompanhamento clínico. Procuramos saber se o paciente tem Cushing → um dos exames para avaliar o hipercostisolismo é dar 1 mg de dexametasona às 23h e dosar o cortisol às 8h do dia seguinte. Se abaixo de 1.8 mg/dl, eu excluo a síndrome de Cushing e se maior do que 1.8 mg/dl eu confirmo e prossigo a investigação do Cushing. Também é feita a dosagem do sulfato de dehidroepiandrosterona (SDHEA), que nos carcinomas adrenais costuma ser alto. Então se o incidentaloma adrenal for maior do que 4/6 cm, geralmente esse hormônio SDHEA estará alto e a cirurgia é indicada. 2 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII E se eu penso em feocromocitoma pois meu paciente está hipertenso e tem os paroxismos, eu vou dosar as catecolaminas. Eu posso pedir a dosagem de dopamina e noradrenalina plasmática. Também posso pedir as metanefrinas e catecolaminas na urina de 24h. Se ambas, tanto as catecolaminas séricas quanto as catecolaminas e metanefrinas (principalmente as metanefrinas) na urina de 24h estiverem elevadas, em princípio o rastreio é positivo e a investigação continua. Quando pensamos em hiperaldosteronismo, dosamos aldosterona. Vamos dosar também a renina porque a renina é quem controla a produção de aldosterona → lembrando que a zona glomerulosa está sob função de dois estímulos principais: o ACTH e o sistema renina- angiotensina-aldosterona. Se eu tenho um tumor produtor de aldosterona em excesso, a renina diminui para tentar manter a homeostase. Se eu doso ambas, tanto a aldosterona quanto a renina, se o tumor é produtor de aldosterona, a aldosterona estará alta e a renina baixa. Quando suspeitamos de hiperplasia congênita de suprarrenal, dosamos a 17-hidroxiprogesterona, que é um androgênio da cascata da esteroidogênese adrenal. Dosamos o androgênio basal, se estiver elevado → pensamos em hiperplasia congênita de suprarrenal por deficiência de 21, que é a causa mais comum. Nesse caso, a clínica do paciente é de hirsutismo se for um paciente adulto, puberdade precoce no caso de crianças, e podemos pensar nessa doença quando o paciente abre um caso de um incidentaloma adrenal. CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO CIRÚRGICA NOS INCIDENTALOMAS ADRENAIS Quando tenho uma lesão encontrada ao acaso maior do que 4 cm. Mas geralmente maiores do que 6 cm já são suspeitos de carcinoma e a cirurgia é feita. ▪ Se tem menos de 4 cm e vem crescendo ao longo do acompanhamento. ▪ Se tem sinais de malignidade na tomografia e na ressonância. ▪ SDHEA elevado ▪ Incidentaloma funcionante: feocromocitoma, aldo, secretores de cortisol ▪ Não operei = acompanhamos com ressonância e tomografia por 6 meses HIPERALDOSTERONISMO OU SÍNDROME DE CONN É quando eu tenho um adenoma na suprarrenal que produz aldosterona em excesso. Também posso encontrar isso no formato de um incidentaloma. É importante saber que é uma causa de hipertensão (uma hipertensão secundária a uma doença). A aldosterona retém sódio, o que faz com que a pressão arterial aumente. FEOCROMOCITOMA 90% das vezes é causado por um tumor benigno, muito raro, originado na medula da adrenal a partir das células cromafins que têm origem histológica na medula da adrenal. A manifestação clínica mais comum é o aumento da pressão arterial, então todo o paciente hipertenso especialmente de difícil controle, um paciente jovem, deve ser obrigatoriamente investigado para feocromocitoma. É importante procurar saber se o paciente tem paroxismos (picos de hipertensão super descontrolados, palpitação, taquicardia, sudorese, pletora facial, o que evolui em paroxismos). ➔ flashes de crises de liberação de catecolaminas no sangue o que faz com que o paciente apresente essa clínica. Os sinais e sintomas dos tumores produtores das catecolaminas: Tem uma tríade clássica: ▪ Cefaleia de difícil controle ▪ Sudorese ▪ Palpitação 3 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII Outros sintomas: ▪ Ansiedade ▪ Pânico ▪ Cansaço ▪ Dispneia ▪ Hiperglicemia (as catecolaminas são hormônios contrarreguladores) ▪ Hipertensão ▪ Perda de peso ▪ Tremores ▪ Pode evoluir para insuficiência cardíaca HCSR (HIPERPLASIA CONGÊNITA DA SUPRARRENAL) Também é uma doença adrenal de etiologia genética autossômica recessiva. Na grande maioria das vezes, mais de 90% dos casos, é causada por uma deficiência, uma mutação (deleção, translocação) da enzima 21-hidroxilase (21-OH). Ela tem a forma clássica e a forma não clássica. A forma clássica é diagnosticada ao nascimento, são aquelas crianças que nasceram com insuficiência adrenal. Se essa enzima está mutada, eu não produzo glicocorticoide e nem mineralocorticoides às vezes. Isso leva a um aumento dos precursores, que no caso seriam os androgênios. Imagine uma criança que nasce com excesso de androgênio, ela vai nascer com características masculinas,com genitália ambígua, clitoriomegalia, pseudo-hermafroditismo. A forma não clássica é uma mutação parcial, de mais ou menos 20% do gene, mas na puberdade a criança vai ter uma pubarca precoce, também pode ser uma mulher que vai ter infertilidade aos 20 anos de idade. INSUFICIÊNCIA ADRENAL CRÔNICA – NÍVEL AMBULATORIAL Tanto a primária quando a secundária podem ser crônicas ou agudas. A insuficiência adrenal crônica é uma situação clínica grave decorrente da secreção insuficiente dos hormônios do córtex adrenal para suprir os seus glicomineralocorticoides, em suprir as necessidades metabólicas do indivíduo. A insuficiência adrenal é pode ser primária, secundária ou terciária. Quando é primária, o problema está na adrenal, quando é secundária, o problema é no hipotálamo ou na hipófise. PATOGÊNESE DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL PRIMÁRIA Também chamada de doença de Addison. Algo está atrapalhando a adrenal a produzir hormônios, seja por defeito ou inibição da esteroidogênese (causa genética), seja por destruição da adrenal (medicamentos, cirurgia, trauma, infiltração infecciosa, infecção autoimune), insensibilidade dos córtices adrenais à ação do ACTH. Dentre as causas genéticas: Hiperplasia congênita adrenal ou Hipoplasia adrenal congênita Adrenoleucodistrofia - muito rara, causa déficit neurológico por acúmulo de substâncias ligadas a precursores de formação dos hormônios, causa infiltração neurológica. Essa doença não leva à formação dos hormônios glicocorticoides e tem um acúmulo de substâncias tóxicas no sistema neurológico. Causas adquiridas são as principais causas: ▪ Autoimune ▪ Metástase ▪ Hemorragia ▪ Infecciosa ▪ Drogas DIFERENCIAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA A clínica é basicamente a mesma coisa, mas é importante saber que a hiperpigmentação só está presente na insuficiência adrenal primária porque eu tenho um aumento de ACTH e ele é produzido 4 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII junto com as moléculas de pró- opiomelanocortina, por isso tem a hiperpigmentação. Também tem a presença de associação com doenças autoimunes da primária que eu não tenho na secundária → presença dos anticorpos anticórtex adrenal que eu não tenho na secundária. Os níveis de ACTH na primária estão altos e na secundária estarão normais ou baixos. TEMPO DE APRESENTAÇÃO/INSTALAÇÃO DA DOENÇA Aguda - Paciente não consegue andar, nem comer, mal consegue ficar em pé Crônica - paciente tem uma instalação a longo prazo e acaba se adaptando a aquilo Crônica agudizada - crise adrenal - o paciente já tem o diagnóstico e parou de usar a medicação HISTÓRIA NATURAL DA IA PRIMÁRIA Quando o paciente chega na forma clínica, ele tem mais de 90% do córtex da adrenal totalmente destruído e os níveis de cortisol estão baixos e os de ACTH totalmente elevados. Se o paciente estiver em uma fase pré-clínica, onde os níveis de cortisol não estão tão baixos e for submetido a um stress, como uma cirurgia ou uma infecção urinária e não tiver o diagnóstico → ele entra em uma crise adrenal e se eu não suspeitar, o paciente vai a óbito. A crise adrenal é descompensada por um stress cirúrgico onde o paciente faz um choque hipovolêmico em que não adianta operar, dar soro, medicamentos, antibióticos, mas não dar glicocorticoides. O paciente só melhora se der glicocorticoides. QUADRO CLÍNICO CRÔNICO Deficiência de glicocorticoides 1. Astenia 2. Mal estar 3. Anorexia 4. Perda de peso 6. Hipotensão 7. Hipoglicemia Deficiência de mineralocorticoides 1. Avidez por sal 2. Hipovolemia 3. Hipotensão 4. Hiponatremia 5. Hiperpotassemia 6. Acidose metabólica leve Deficiência de androgênios adrenais 1. Redução da libido e da pilificação axilar e pubiana (somente em mulheres). Os homens não apresentam esse quadro em razão dos androgênios nas gônadas. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA IA Cortisol baixo ACTH sempre elevado na primária Insuficiência adrenal crônica agudizada ALTERAÇÕES LABORATORIAIS Eosinofilia, linfocitose, uremia, hipoglicemia, hipercalemia, hiponatremia 5 Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII SÍNDROME DE WATER-FRIDERICHSEN É uma hemorragia aguda da adrenal causada pela meningite meningocócica do tipo B, o meningococo causa uma inflamação, uma destruição, uma hemorragia tóxica na adrenal e o paciente evolui com insuficiência adrenal. É primária, aguda, pela destruição da adrenal. Lembrete importante: Insuficiência adrenal aguda é uma urgência e eu preciso pensar que o paciente com esse quadro clínico, com inexplicáveis dores abdominais ou de flanco, instabilidade hemodinâmica refratária à reposição de fluidos, vômitos, hipoglicemia ou coma, possa ter insuficiência adrenal e eu preciso dar glicocorticoides para ele.
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