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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO IMPLEMENTAÇÃO E VALIDAÇÃO DE SOFTWARE PARA GESTÃO DOS RISCOS ERGONÔMICOS NA JUSTIÇA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE THIAGO ALLAN MARQUES DE MACÊDO NATAL/RN 2020 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO IMPLEMENTAÇÃO E VALIDAÇÃO DE SOFTWARE PARA GESTÃO DOS RISCOS ERGONÔMICOS NA JUSTIÇA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE por THIAGO ALLAN MARQUES DE MACÊDO DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO AGOSTO, 2020 2020 THIAGO ALLAN MARQUES DE MACÊDO TODOS DIREITOS RESERVADOS. O autor aqui designado concede ao Programa de Engenharia de Pós-graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir, distribuir, comunicar ao público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte, nos termos da Lei. Assinatura do Autor: APROVADO POR: Prof. Dr. Ricardo Pires de Souza— l'residente Prof. Dr. José Alfredo Ferreira Costa — Examinador Interno ao programa Pro TT rancisco Soares Másculo — Examinador Externo á Instituição 4 Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. José Daniel Diniz Melo Diretor do Centro de Tecnologia Prof. Dr. Luiz Alessandro Pinheiro da Câmara Queiroz Coordenador de Pós-Graduação de Engenharia de Produção Prof. Dr. José Alfredo Ferreira Costa Orientação Prof. Dr. Ricardo Pires de Souza 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família, meus pais e amigos. AGRADECIMENTOS A Deus, por sempre ter concedido deliberadamente sabedoria e saúde para que eu pudesse trilhar meus primeiros passos no ensino universitário e na vida profissional de maneira ética, responsável e com boa vontade para o enfretamento dos percalços do dia a dia. A minha família que me deu todo apoio necessário, minha esposa Larissa Macêdo e nossa filha Alice Macêdo pela compreensão e paciência. Meus pais Melquiades Macêdo e Maria Lúcia Macêdo pela oportunidade da educação que me proporcionaram que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para me ajudar no que fosse necessário para que eu chegasse até esta etapa de minha vida profissional. Ao professor Dr. Ricardo Pires de Souza, pela paciência, confiança e dedicação apresentada na orientação desse aluno de mestrado durante dois anos na vida profissional e acadêmica. Agradeço pelo incentivo ao desenvolvimento de dissertação de excelência, zeloso às prescrições normativas. Esse zelo corrobora para o desenvolvimento de trabalhos técnicos qualificados. Tenho convicção que suas lições serão jamais esquecidas. Ao professor Dr. Veder Ralf F. de Medeiros, por todas as contribuições que me concedeu nesta fascinante área da Ergonomia e por proferir aconselhamentos sempre pertinentes e respeitosos a ética profissional. Suas lições e zelo para o desenvolvimento de um trabalho técnico de excelência jamais serão esquecidas. Ao ilustríssimo Professor PhD. Francisco Soares Másculo pelas contribuições acadêmicas que deram notoriedade as produções cientificas as quais participei. A empresa Riachuelo, principalmente, aos meus gestores por me permitirem a realização deste mestrado durante estes dois anos, permitindo assim, minha qualificação profissional e acadêmica. Aos servidores da Justiça Federal do Rio Grande do Norte pela colaboração efetiva com projeto implementado nas cinco unidades do órgão em nosso estado. Ao amigo Eric Cabral que me acompanhou nessa passagem que diz respeito a produção cientifica qualificada tornando-a instigante e valorosa. Aos estagiários do projeto de pesquisa Aleson Belo, Clodoaldo Júnior e Ana Jamile que contribuíram valiosamente para essa pesquisa conseguir a amplitude que alcançou. “De tudo ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando, A certeza de que é preciso continuar e A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminarmos. Fazer da interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro”. (Fernando Sabino) RESUMO O avanço das novas tecnologias inseridas nas atividades laborais nas últimas décadas, ocasionou mudanças nos motivos de afastamentos por doença. De acordo com Organização Mundial de Saúde - OMS, em 2020, o afastamento por depressão e doenças do sistema do músculo esquelético serão os principais motivos de afastamento de colaboradores em organizações, pois o uso dos novos sistemas, máquinas e softwares possibilitaram as mudanças nos riscos ergonômicos das atividades laborais. A presente dissertação de mestrado tem como objetivo implantar e validar um Software ERGO interativo para identificação e gerenciamento dos riscos ergonômicos na Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). Com isso, foi estruturado uma equipe multidisciplinar com o propósito de realizar a gestão dos riscos ergonômicos a partir do uso de software ERGO, possibilitando a interatividade entre os servidores e a equipe multidisciplinar do órgão judiciário. O Software ERGO permitiu um acompanhamento das atividades laborais a partir da captação de imagens por meio de uma câmera localizada no monitor do posto de trabalho, com intuito de captar as posturas assumidas durante a jornada laboral, gerando um Índice Ergonômico de Desempenho (IED) individualizado para o gerenciamento riscos ocupacionais de cada unidade. Para garantir a eficácia do Software ERGO, foram realizados testes situados com os servidores membros do Comitê de Ergonomia (COERGO) e membros da equipe multidisciplinar do Programa de Ergonomia (PROERGO), com intuito de garantir a melhor usabilidade do software de acordo com as características das atividades laborais. Após validação dos testes situados, o Software ERGO foi implantado para uso dos servidores com resultados satisfatórios de prevenção e mitigação dos riscos ergonômicos. Palavras chaves: Ergonomia; Análise Ergonômica do Trabalho; Teletrabalho; Software. 9 ABSTRACT The advancement of new technologies inserted in labor activities in the last decades, has caused changes in the reasons for sick leave. According to the World Health Organization - WHO, in 2020, the withdrawal due to depression and diseases of the skeletal muscle system will be the main reasons for the withdrawal of employees in organizations, since the use of new systems, machines and software enabled changes in the ergonomic risks of work activities. This master's dissertation aims to implement and validate an interactive ERGO Software for the identification and management of ergonomic risks in the Federal Court of Rio Grande do Norte (JFRN). With this, a multidisciplinary team was structured with the purpose of carrying out the management of ergonomic risks from the use of ERGO software, allowing interactivity between the servers and the multidisciplinary team of the judiciary. The ERGO Software will allow the monitoring of work activities from the capture of images through a camera located on the monitor of the workstation, in order to capture the postures assumed during the working day, generating an Ergonomic Performance Index (IED) for the occupational risk management of each unit. To guarantee the effectiveness of the ERGO Software, tests were carried out with the server’s members of the Ergonomics Committee (COERGO) and members of the multidisciplinaryteam of the Ergonomics Program (PROERGO), in order to guarantee the best usability of the software in accordance with characteristics of work activities. After validation of the located tests, the ERGO Software was deployed for use by the servers with satisfactory results of prevention and mitigation of ergonomic risks. Keywords: Ergonomics; Ergonomic Analysis of Work; Teleworking; Software LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Definição das dimensões do NASA-TLX...........................................................................32 Quadro 2 – Seções para o desenvolvimento de protocolo na pesquisa ação......................................52 Quadro 03 – Resultados das demandas ergonômicas.........................................................................66 Quadro 04 – Funcionalidades do software ERGO................................................................................69 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Descritores utilizados para pesquisa em base de dados....................................................54 LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 – Equação do Índice de Desempenho Ergonômico (IDE) .................................................84 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Número de Publicações por ano.........................................................................................16 Figura 2 – Número de Publicações por área........................................................................................17 Figura 3 – Autores que mais se destacam............................................................................................17 Figura 4 – Países que mais se destacam em publicação.....................................................................18 Figura 5 – Número de Publicações (ano) .............................................................................................19 Figura 6 – Número de Publicações por área..........................................................................................25 Figura 7 – Autores que publicam...........................................................................................................26 Figura 8 – Países que publicam.............................................................................................................34 Figura 9 - Discussão Esquemática……………………………………………………………………………34 Figura 10– Comparação mediana tempo de resposta..........................................................................35 Figura 11 – Comparação mediana tempo de resposta......................................................................... 35 Figura 12 – Framework de Seleção dos Artigos................................................................................... 35 Figura 13 – Representação esquemática da metodologia da pesquisa...............................................40 Figura 14 – Passos para o estudo de simulação..................................................................................41 Figura 15 – Posicionamento Atual (I) e proposito (II) ...............................................................42 Figura 16 – Comparativo entre os chamados reais e simulados..........................................................43 Figura 17 – representação esquemática da metodologia da pesquisa...............................................56 Figura 18 – Audiodosímetro SVANTEK SV 102+ .............................................................................. 58 Figura 19 – Luxímetro digital Extech LT 300 .......................................................................................60 Figura 20 – Termômetro de Globo Net Temp (marca: Chrompack) .....................................................62 11 Figura 21 – Posto de Trabalho da JFRN...............................................................................................64 Figura 22 – Ocorrências de Afastamentos por CID 10- 2017................................................................65 Figura 23 – Esquema básico de funcionamento do Software ERGO.....................................................68 Figura 24 – Ocorrências por CID 10 – 2019..........................................................................................71 Figura 25 – Ocorrências por CID 10 – 2019 (simplificado) ...................................................................72 Figura 26 – Dias de trabalho perdidos por ano (2017 -2019) ...............................................................73 Figura 27 – Tela Dashboard do Software ERGO...................................................................................75 Figura 28 – Tela Dashboard do Software ERGO....................................................................76 Figura 29 – Tela das insatisfações do Software ERGO.......................................................................77 Figura 30 – Tela das solicitações por categoria do Software ERGO....................................................78 Figura 31 – Tela da lista de usuários com acesso ao Módulo administrador.......................................79 Figura 32 – Tela das cidades cadastradas do módulo administrador..................................................80 Figura 33 – Tela do módulo administrador de gerencia dos chamados...............................................81 Figura 34 – Tela de gerencia dos questionários do módulo administrador..........................................82 Figura 35 – Tela Ergo Captura.............................................................................................................83 Figura 36 – Tela de calibração do Ergo Captura.................................................................................84 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte JFRN – Justiça Federal do Rio Grande do Norte OMS – Organização Mundial da Saúde FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais OIT – Organização Internacional do Trabalho AET – Análise Ergonômica do Trabalho COERGO – Comitê de Ergonomia PROERGO – Programa de Ergonomia ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia IEA – International Ergonomics Association IDE – Índice de Desempenho Ergonômico NR – Norma Regulamentadora RULA - Rapid Upper Limb Assessment NASA TLX - Task Load Index QVT – Qualidade de Vida no Trabalho 13 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................ 15 1.1 APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 15 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 17 1.2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 17 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 17 1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 18 1.4 ESTRUTURA DE APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ........................................................ 21 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................... 23 2.1 ERGONOMIA .......................................................................................................... 23 2.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO .................................................................... 26 2.3 CARGA DE TRABALHO ............................................................................................ 29 2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E MODELO WALTON ........................................ 32 2.5 NASA TLX ...........................................................................................................33 2.6 MÉTODO RULA ..................................................................................................... 35 2.7 CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ................................ 38 2.8 ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ........................................................... 38 2.9 E-SOCIAL NO BRASIL .............................................................................................. 41 2.10 SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO ......................................................................... 42 2.11 TECNOLOGIAS DIGITAIS ....................................................................................... 45 2.12 TELETRABALHO ................................................................................................... 49 METODOLOGIA DA PESQUISA ......................................................... 51 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA............................................................................. 51 3.2 DEFINIÇÃO DA POPULAÇÃO E AMOSTRA .................................................................. 55 3.3 METODOLOGIA DA REVISÃO BIBLIOMÉTRICA .......................................................... 55 3.4 ETAPAS DA PESQUISA .............................................................................................. 57 3.5 HIPÓTESES ............................................................................................................ 63 RESULTADOS ......................................................................................... 65 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 91 REFERENCIAS ..................................................................................................................... 97 APÊNDICES ......................................................................................................................... 102 APÊNDICE A – DIAGRAMA DE CORLLET. ................................................................ 102 ................................................................................................................................................ 102 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO NÓRDICO ADAPTADO. ....................................... 103 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO NASA E CORRELAÇÃO DE CARGA MENTAL. ................................................................................................................................................ 104 APÊNDICE D – ROTEIRO DINÂMICO DE CONVERSAÇÃO (ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA) ...................................................................................................... 106 14 APÊNDICE F – LUXÍMETRO (MARCA: EXTECH). ................................................... 109 APÊNDICE G – TERMÔMETRO DE GLOBO NET TEMP (MARCA: CHROMPAK). ................................................................................................................................................ 110 APÊNDICE H – ATAS DAS REUNIÕES DO COMITÊ DE ERGONOMIA (COERGO) ................................................................................................................................................ 111 APÊNDICE I – CERTIFICADO DE REGISTRO DO SOFTWARE ERGO INTERATIVO ...................................................................................................................... 127 15 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Ergonomia possui dois objetivos gerais: um deles é centrado nas organizações e no seu desempenho como eficiência, produtividade e qualidade, por exemplo. O outro objetivo estaria centrado nas pessoas em sua segurança, saúde e conforto. Além disto, a ergonomia também deve dar ênfase a compreensão fundamental das pessoas assim como das suas interações e aplicações com proposito de melhorar essas interações (JOHN, 2000; FALZON,2007). Nesse contexto é indissociável a ideia de que modificação positiva na produtividade das organizações está intrinsecamente ligada às condições de segurança e conforto que as organizações proporcionam. Esta concepção pode ser associada com o desenvolvimento de novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) que contribuíram para inovar as formas de organização do trabalho, e como resultados surgiram o teletrabalho, o teleatendimento e o trabalho em equipe com comunicação utilizando computadores e dispositivos moveis(CARAYON; SMITH, 2000). O teletrabalho também intitulado como trabalho remoto está ganhando popularidade e se tornando característica comum na vida profissional devido não só aos avanços na tecnologia digital, mas também a mudança de atitudes em relação ao local que o trabalho deve ser executado e quando o trabalho deve ser realizado. Para esclarecer a discussão acerca do tema, teletrabalho é definido como a organização e/ou execução de tarefas desempenhadas distantes dos escritórios centrais ou instalações de produção de organizações por determinado período em cronogramas de trabalho pré-estabelecidos. Para isso são utilizadas as tecnologias da informação e comunicação (TIC) para estabelecer a comunicação entre colaboradores e responder as demandas da organização de forma remota (MELO; DE ABREU E SILVA, 2017 GAJENDRAN; HARRISON, 2007; HUNTON; NORMAN, 2010; ARVOLA et al., 2017). As pesquisas em ergonomia ainda não têm focado com devida atenção para o fenômeno do teletrabalho, como por exemplo, o estudo da ergonomia de escritórios domésticos. De modo que surge o questionamento a respeito da 16 responsabilidade para assegurar condições ergonômicas ideais no escritório doméstico(CARAYON; SMITH, 2000). Deste modo, o teletrabalho é identificado como questão significativa para trabalhos futuros em ergonomia (BENTLEY et al., 2016). Devido à sua importância, organizações públicas e privadas têm estudado o teletrabalho como arranjo flexível de trabalho. Os resultados empíricos decorrentes desses estudos revelam que o teletrabalho possibilita não só benefícios a sociedade, mas também a organizações e indivíduos(CAILLIER, 2016). Os conceitos de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e equilíbrio trabalho- vida não são novos. Uma definição foi explicitada em termos de técnicas e abordagens usadas para melhorar o trabalho, como o enriquecimento do trabalho, equipes auto gerenciadas e comitês de gestão do trabalho (DAVID; CHERNS, 1975; DAVIS, 1977). A expansão da QVT além do desenvolvimento inicial inclui recursos do local de trabalho que podem afetar a produtividade e a satisfação dos funcionários, como sistemas de remuneração, fluxos de trabalho, estilos de gerenciamento e ambiente de trabalho físico (CUMMINGS; WORLEY, 2005). Com o avanço das novas tecnologias inseridas nas atividades laborais nas últimas décadas, houve uma mudança nos motivos de afastamentos por doença, de acordo com OMS (Organização Mundial de Saúde), há uma expectativa do afastamento por depressão e músculo esquelético como os principais motivos de afastamento até 2020, já que com a implementação de novos sistemas, máquinas e softwares, ocorreu uma mudança nos riscos ergonômicos das atividades. A presente dissertação de mestrado diz respeito a uma pesquisa com objetivo de desenvolver, aplicar e validar um software ergo interativo para identificação e gerenciamento dos riscos ergonômicos, visando a identificação das demandas ergonômicas, implantação de comitê de Ergonomia, estabelecendo um programa continuado de Ergonomia para garantir maior conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente nas atividades laborais dos servidores. Dessa forma, foi definido uma equipe multifuncional, formado por: ergonomistas, engenheiros, médico do trabalho, fisioterapeutas, equipe de TI, servidores e estagiários, com o propósito de realizar a gestão dos riscos ergonômicos a partir do software desenvolvido possibilitando a interatividade entre o servidor, a equipe do COERGO (Comitê de Ergonomia)e a equipe de saúde ocupacional da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). 17 Os diferentes modelos de organização e gestão do trabalho são apresentados aproximando o conceito de modelo ao de paradigma de Kuhn (1987), como proposto por Veltz e Zarifian (1993). A análise das situações de trabalho a partir da abordagem da ergonomia, com o reconhecimento do trabalho vivo (DEJOURS, 2012), das arbitragens realizadas pelo trabalhador (BLANDIN, 2013), a defesa da centralidade do homem no trabalho e a discussão da autonomia e da discricionariedade no trabalho (MAGGI, 2006; HUBAULT, 2011), são conduzidas para que a variabilidade das situações e dos indivíduos seja considerada pela organização e gestão na prescrição do trabalho, estabelecendo sua relação com o desempenho organizacional e no desempenho humano. Tendo como base as considerações descritas, como se dá o desenvolvimento de um software interativo para mitigação dos riscos ergonômicos em um órgão do judiciário federal? 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Implantar e validar o Software ERGO Interativo para identificação e gerenciamento dos riscos ergonômicos na Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). 1.2.2 Objetivos específicos Identificar demandas ergonômicas; Modelar o Software ERGO Interativo de acordo com estas demandas; Realizar Sessões de uso situado do Software ERGO Interativo com servidores da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN); Avaliar resultados a partir da implementação do Software ERGO Interativo; Elaborar relatório com indicadores de saúde ocupacional e qualidade de vida no trabalho; Estabelecer Programa de Ergonomia (PROERGO) continuado na JFRN. 18 1.3 Justificativa Segue de forma detalhada a discussão da justificativa deste trabalho para academia, para empresa (no caso, pública) e para sociedade, respectivamente. Os trabalhos apresentados em discussão no decurso dessa dissertação foram obtidos na base de dados Scopus e Science Direct. As Figuras 1 e 2 detalham o total de publicações por ano e por área na base de dados Scopus, já que esta base oferece excelente detalhamento sobre publicações qualificadas publicadas em todo o mundo. A partir dela é possível, por exemplo, fazer avaliação de tendências em relação a publicações a partir das palavras chave “Ergonomics” AND “Ergonmic Analysis” AND “Software”. Figura 1 - Número de Publicações por ano Fonte: Scopus, 2019 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1995 2000 2005 2010 2015 2020 19 Figura 2: Número de Publicações por área Fonte: Scopus, 2019 As Figuras 1 e 2 apresentam circunstância favorável ao desenvolvimento de trabalhos originais já que existe tendência de queda no número de publicações nos últimos anos em relação as palavras-chave supramencionadas. As que se mais destacam enquanto área para publicações são Engenharia, Medicina, Ciências da Computação e Ciências Sociais. As Figuras 3 e 4 representam os autores e os países que se destacam: Figura 3: Autores que mais se destacam 457 294 217195 78 65 52 43 37 22 21 20 16 15 12 11 9 7 4 4 4 4 2 2 1 1 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 E n g in e e ri n g M e d ic in e C o m p u te r S c ie n c e S o c ia l S c ie n c e s M a th e m a ti c s H e a lt h P ro fe s s io n s B u s in e s s ,… E n v ir o n m e n ta l… D e c is io n S c ie n c e s C h e m ic a l… P s y c h o lo g y M a te ri a ls S c ie n c e B io c h e m is tr y ,… A g ri c u lt u ra l a n d … N u rs in g P h y s ic s a n d … E n e rg y E a rt h a n d … A rt s a n d H u m a n it ie s C h e m is tr y N e u ro s c ie n c e P h a rm a c o lo g y ,… E c o n o m ic s ,… Im m u n o lo g y a n d … M u lt id is c ip lin a ry V e te ri n a ry 18 17 10 7 7 7 6 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Chaffin, D.B. Reed, M.P. Messing, K. Bures, M. Duffy, V.G. Friesdorf, W. Longo, F. Fonte: Scopus, 2019 20 Figura 4: Países que mais se destacam em publicação As Figuras 3 e 4 apresentam respectivamente, os autores e os países que mais se destacam em publicações periódicas qualificadas. Tendo por base essas representações gráficas é possível compreender que os Estados Unidos, Brasil e Itália são os que se mais destacam em publicações periódicas qualificadas. Os autores Chaffin e Reed apresentam quantidade significativa de trabalhos publicados disponíveis para acesso. A relevância desse trabalho para a empresa pública Justiça Federal do Rio Grande do Norte, por sua vez, consiste em realizar um diagnóstico ergonômico no ambiente laboral analisado, com intuito de melhorar o conforto, segurança, desempenho eficiente e redução de afastamentos por doença ocupacional. Como também, os indicadores das causas de afastamentos por demanda ergonômica. Onde em 2017 foram registrados 4.667 dias perdidos (dias não trabalhados por motivo de doença) e 466 afastamentos, representando um total de 200 servidores afastados. A relevância desse trabalho para a sociedade, por sua vez, consiste no gerenciamento dos riscos ergonômicos e diagnóstico preventivo no ambiente laboral em diversas áreas de atuação, sendo uma tecnologia essencial para redução ou mitigação dos riscos ergonômicos dos trabalhadores ou servidores de qualquer área de atuação. 191 130 77 72 67 49 42 35 25 24 0 50 100 150 200 250 U n it e d S ta te s B ra z il It a ly F ra n c e C h in a C a n a d a G e rm a n y U n it e d K in g d o m P o rt u g a l S w e d e n Fonte: Scopus, 2019 21 1.4 Estrutura de apresentação do trabalho Essa dissertação de mestrado por ora apresenta-se dividida em três capítulos, que permitem a sua leitura e compreensão de forma estruturada e condizente com o itinerário a que se propõe. São eles: Figura 5: Discussão Esquemática dessa dissertação Fonte: Autor, 2019 Capítulo 1 – nele é abordado o contexto da Ergonomia, e de como ela está inserida no contexto do gerenciamento dos riscos ergomômicos. Nele apresenta- se também a problemática, os objetivos gerais e específicos, as justificativas (para a academia, para a instituição e para a sociedade). Capítulo 2 – Discussão teórica da dissertação com apresentação dos principais autores da atualidade que discutem Ergonomia, Análise Ergonômica do Trabalho e Software. Capítulo 3 - são abordados os procedimentos metodológicos necessários para a realização teórica e prática deste estudo, sendo esses divididos em: Introdução Capítulo 1 Contextualização Problema de Pesquisa Objetivos Justificativa Estrutura do Trabalho Capítulo 2 Fundamentação Teórica Ergonomia e seus conceitos Análise Ergnômica do Trabalho e suas ferramentas Desenvolvimento do Software Ergo Interativo Capítulo 3 Metodologia- Caracterização da Pesquisa Estudos Bibliográficos População e Amostra Etapas da pesquisa Capítulo 4 Estudo de Caso Descrição do campo e apresentação dos dados Discussão da Solução proposta Capítulo 5- Considerações finais 22 Caracterização da pesquisa e método, este último utilizado para realização da parte experimental do mesmo; população e a amostra e etapas da pesquisa. Capítulo 4 – Neste capítulo será apresentado o Estudo de Caso desta pesquisa. Capítulo 5 – Aqui serão explicitadas as considerações finais do trabalho; a discussão neste capítulo está versada pela retomada do objetivo geral e específicos do trabalho. Além disso, serão explicitadas limitações concernentes ao estudo assim como propostas de trabalhos futuros. Em seguida as referências bibliográficas citadas para a construção teórica da ideia. 23 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Ergonomia Segundo Vidal (2007), a palavraErgonomia surgiu em 1857, definida pelo polonês Wojciech Jastrzebowski,e provém de uma associação de dois termos antigos oriundos da Grécia, Ergon e nomos. O primeiro termo significa trabalho, enquanto nomos expressa arranjo (leis). Com o termo utilizado, o rearranjo organizacional do trabalho contrapõe a ideia de que o trabalhador deve se adaptar as condições presentes no ambiente de trabalho, induzindo os projetos a se adequarem com as características individuais dos seres humanos (STYLOPOULOS; RATTNER, 2003). Existem diversas definições de ergonomia. Todas procuram ressaltar o caráter interdisciplinar e o objeto de seu estudo, que é a interação entre o ser humano e o trabalho, no sistema humano-máquina-ambiente. Ou, mais precisamente, as interfaces desse sistema, onde ocorrem trocas de informações e de energias entre o ser humano, máquina e ambiente, resultando na realização do trabalho. Diversas associações de ergonomia apresentam as suas próprias definições. A mais antiga foi formulada pela Ergonomics Research Society (1950) e sintetiza que esta ciência é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento, ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas que surgem desse relacionamento. A ergonomia juntamente com os fatores humanos e habilidades não técnicas são terminologias utilizadas que descrevem fatores que possam afetar a segurança do trabalhador (MONKS; MACLENNAN, 2016). Segundo a International Ergonomics Association (2000), Ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica relacionada com a compreensão das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho do sistema global. Desde a sua origem, na década de 1950, a ergonomia passou a realizar estudos cada vez mais abrangentes sobre o trabalho humano. Ela deixou de ser 24 apenas “operacional” em nível do “chão de fábrica” para abranger problemas mais amplos, em níveis gerenciais. Segundo Falzon (2007), a Ergonomia possui dois objetivos gerais: um deles seria centrado nas organizações e no seu desempenho como eficiência, produtividade e qualidade, por exemplo. O outro objetivo estaria centrado nas pessoas em sua segurança, saúde e conforto. Nesse contexto, dentro da perspectiva sistêmica dos sistemas produtivos é indissociável a ideia de que modificação positiva na produtividade das organizações está intrinsecamente ligada às condições de segurança e conforto que os empreendimentos proporcionam para seus operadores. Nesse aspecto, a Ergonomia possui ampla interdisciplinaridade e interage com várias disciplinas no campo das Ciências da Vida, Técnicas, Humanas e Sociais (MÁSCULO; VIDAL, 2011) e as questões inerentes a essa área do conhecimento descambam em discussões a respeito da execução da atividade laboral. Alguns pesquisadores entendem que Ergonomia e Fatores Humanos são termos complementares, porém devem ser entendidas como a mesma coisa, uma vez que não há Ergonomia sem se entender os fatores humanos implicados, pelo motivo de serem considerados na Análise Ergonômica do Trabalho. A ergonomia retrata a interação entre os seres humanos com os demais elementos do sistema o qual está incluído o aspecto tecnológico, organizacional e do ambiente interno e externo, enquanto que os fatores humanos correspondem a grupos informacionais que estão intrinsecamente relacionados com habilidades, limitações entre outros aspectos do subsistema humano (MÁSCULO; VIDAL, 2011). Dessa forma, o trabalho nessa ciência assume um sentido mais abrangente do que possa parecer e abarca “[...] também toda situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e sua atividade produtiva. Isso envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais” (IIDA, 2005, p.2). Assim, de acordo com a International Ergonomics Association (IEA), a Ergonomia pode ser analisada sob três domínios de especialização: Ergonomia Física, Ergonomia Cognitiva e Ergonomia Organizacional. A Ergonomia Física lida com as respostas do corpo humano à carga física e psicológica. “Interessa-se pelas características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica e sua relação com a atividade física” 25 (ABRAHÃO, 2009, p. 30). Analisa a manipulação de materiais, o arranjo físico e os fatores que se relacionam com os distúrbios no trabalho. É a parte mais comumente associada pelas pessoas à ergonomia. A Ergonomia Cognitiva, também, conhecida como engenharia psicológica, refere-se aos processos mentais, como percepção, cognição, memória, raciocínio, e sua relação nas interações entre os seres humanos e outros elementos do sistema, ou seja, a resposta dada durante a realização da atividade (MÁSCULO; VIDAL, 2011; ABRAHÃO, 2009). Estuda a carga mental de trabalho, o estresse, o desempenho, a capacidade, etc., enfim, o sistema perceptual, motor e cognitivo. Ergonomia Organizacional, de acordo com Iida (2005) ocupa-se da otimização dos sistemas socio-técnicos, abrangendo as estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, projeto de trabalho, programação do trabalho em grupo, projeto participativo, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho, e gestão da qualidade. (IIDA, 2005, p.3). A incompatibilidade psicofisiológica dos trabalhadores com as condições laborais, levando em consideração suas necessidades, habilidades e limitações ocasionam sofrimento por afetar a segurança e saúde dos trabalhadores (INTERNATIONAL ERGONOMICS ASSOCIATION, 2000). Na atualidade, os profissionais disseminadores dessa ciência (os ergonomistas) buscam desenvolver: O planejamento, projeto e avaliações de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas, tornando-os compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas. Os ergonomistas devem analisar o trabalho de forma global, incluindo os aspectos físicos, cognitivos, organizacionais, ambientais e outros (IIDA, 2005, p.3). 26 Assim, “[...] a ergonomia foi se desenvolvendo, adotando como referência a noção de variabilidade, a distinção entre tarefa e atividade e a regulação das ações associada ao reconhecimento da competência dos trabalhadores” (ABRAHÃO, 2009, p. 19). Segundo Theorell et. al (2015), as condições organizacionais impostas no trabalho podem resultar em complicações para os funcionários quanto para o empregador. Os trabalhadores são acometidos com transtornos psicossociais por não estarem em ambientes sadios e seguros, sendo considerado um ambiente de trabalho que apresenta falha de funcionamento, além de prejudicar os empregadores na questão financeira, por terem que compensar os danos causados aos seus trabalhadores, reduzindo o seu lucro por negligência as normas relativas à segurança e saúde do trabalho. 2.2 Análise Ergonômica do Trabalho A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é um importante instrumento de identificação dos riscos inerentes ao ambiente de trabalho. É uma metodologia previamente experimentada e testada. É por meio dela que se realiza um estudo global da relação entre o trabalhador e suas atividades realizados no ambiente de trabalho no exercício de suas funções, adaptando suas características psicofisiológicas às condições laborais (VERÔNICA; CRISTINA; BARBOSA, 2012). Fornece a percepção de como o operador constrói o problema, indica estorvos durante suas atividades e como esses problemas podem ser solucionados através da ação ergonômica de modo a facilitar a vida destes operadores (WISNER, 1995). A ação ergonômica do trabalho tem a finalidade de transformar o trabalho contribuindo para não alterara saúde do trabalhador, de modo que exerça suas competências e valorize suas capacidades produtivas e, ao mesmo tempo, alcançar a os objetivos econômicos da empresa (GUÉRIN et al., 2001). O método da AET, segundo Wisner (1987, p.145) e Vidal (2003, p.118), consiste de um conjunto de ações interacionais e observacionais que ajudam a compreender as situações de trabalho. Este método é definido por Vidal (2003, p.31), como sendo “um conjunto estruturado de análises Inter complementares dos 27 determinantes da atividade de trabalho dos indivíduos numa organização”. Figura 6 - Esquema geral da abordagem AET. Fonte: Guérin et al. (2001, p. 86) Nesse sentido, a esquematização proposta por Guérin et al (2001) e explicitada na Figura 6 esclarece que a abordagem AET necessita de protocolos para geração de dados globais, materiais estes que deverão ser aplicados a catalogação de dados in loco frutos da interação do ergonomista com as pessoas do setor escolhido para discussão. Segundo Másculo e Vidal (2011), a AET se molda em um conjunto estruturado e interligado em análises de situações laborais, globalmente e sistematicamente, sobre as atividades dos trabalhadores no meio organizacional formulando diagnósticos a partir dos problemas no ambiente de trabalho. As ações 28 ergonômicas são realizadas após demandas de uma AET e, podem ser casos simples, em que há apenas sínteses de recomendações na transformação laboral, ou casos complexos, em que há uma série de esquematizações refletidas na Qualidade de Vida no Trabalho, dependendo das demandas necessárias descritas na AET, conforme demonstrado na Figura 7. Figura 7- Fluxo da Análise Ergonômica do Trabalho Fonte: Másculo e Vidal (2011) Segundo Lima (2000), a AET é descrita minuciosamente no ponto de vista comportamental dos homens ao decorrer de suas atividades, antecipando a identificação dos riscos e posteriormente a eliminação. Segundo Prottes, Oliveira e Andrade (2012), é de fundamental interesse o uso desse instrumento uma vez que uma AET de forma preliminar é justificada pela prevenção dos riscos, desempenho eficiente, máximo conforto segurança (NR-17), bem como a redução das despesas públicas, em específico se tratando dos benefícios cedidos pela previdência social por acidentes de trabalhos e/ou doenças ocupacionais. A ergonomia se adapta ao nível de exigência do país. Aos poucos a ergonomia brasileira foi se desenvolvendo mesmo com as adversidades que são encontradas no país. Os ergonomistas brasileiros se preocupam com a saúde do trabalhador, uma vez que se considera um dos maiores problemas que manifesta na economia do Brasil é a baixa produtividade aliada aos baixos salários e limitadas vantagens sociais (WISNER, 1998). Neste sentido, para se realizar uma análise da atividade ergonômica do trabalho, o ergonomista questionará como as pessoas se sentem, se comunicam, cooperam, por exemplo, ao desempenhar suas atividades laborais. Um dos pilares 29 da atividade busca, através da subjetividade, a inserção de qualidade” na vida e no trabalho refletindo a busca incessante do homem ao longo das gerações por condições dignas laborais, como também em ser feliz. (MÁSCULO; VIDAL, 2011). No Brasil, a Análise Ergonômica do Trabalho é regulamentada pela Norma Regulamentadora n°17 (NR-17 - Ergonomia) e orientada quanto à aplicação pelo Manual de Aplicação da NR-17 do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2011). As etapas e fases para a implementação de uma intervenção ergonomizadora, são: Apreciação ergonômica; Diagnose ergonômica; Projetação ergonômica; Avaliação, validação e/ou testes ergonômicos e, por fim o Detalhamento ergonômico e otimização (MORAES; MONT’ALVÃO, 2015). A Apreciação ergonômica visa explorar, compreender e mapear os problemas ergonômicos da empresa in loco entrevistando supervisores e trabalhadores. A Diagnose ergonômica aprofunda esta etapa por meio de testes de predições e/ou hipóteses, caracterizando as observações sistemáticas das atividades e registrando o comportamento habitual da jornada laboral. Na projetação ergonômica, ajusta-se o ambiente de trabalho as características psicofisiográficas e cognitivas do trabalhador, terminando com o projeto ergonômico. A Avaliação, validação e/ou testes ergonômicos mostram as propostas e alternativas para a realização do trabalho. Por fim, o Detalhamento ergonômico objetiva-se em detalhar e revisar o escopo do projeto aliando as opções do decisor (MORAES; MONT’ALVÃO, 2015). 2.3 Carga de Trabalho Para compreender as relações entre o trabalho e o indivíduo, é conveniente entender a carga de trabalho exercida por cada atividade sobre o trabalhador. O termo carga de trabalho é construído com a necessidade de entender as exigências de cada atividade sobre as condições do trabalhador no sistema (FRUTUOSO; CRUZ, 2005). Dessa forma, existem várias interpretações que definem carga de trabalho. Podemos entender carga de trabalho como as exigências, físicas, cognitivas e psíquicas, do trabalho que superam as capacidades, habilidades e 30 competências de cada trabalhador para realizar determinada atividade (FRUTUOSO; CRUZ, 2005). Envolve a carga e as repercussões impostas sobre o comportamento e as funções do operador. No entanto, diversas outras definições são dadas por diferentes autores. Toda atividade, inclusive o trabalho, tem pelo menos três aspectos: físico, cognitivo e psíquico. Cada um deles pode determinar uma sobrecarga. Eles estão inter-relacionados e são bastante frequentes, embora não seja necessário que uma forte sobrecarga de um trabalho seja acompanhada de uma carga bastante alta nos dois outros domínios (WISNER, 1994 apud FRUTUOSO; CRUZ, p. 33, 2005) [...] carga de trabalho é composta de pelo menos dois aspectos: físico e mental. As físicas compõem as exigências de desempenho corporal necessárias à realização de uma tarefa. As mentais agregam um universo de condutas cognitivas e afetivas associadas à elaboração de uma tomada de decisão e seus respectivos processos motivacionais (CRUZ; CORRÊA, p. 142, 2000) As cargas de trabalho são definidas como exigências ou demandas psicobiológicas do processo de trabalho, gerando ao longo do tempo as particularidades do desgaste do trabalhador. Em outras palavras, as cargas são mediações entre o processo de trabalho e o desgaste psicobiológico (GRECO; OLIVEIRA; GOMES 1996, p.61 apud CORRÊA, p. 19, 2003) Segundo Vidal, et al (2011), em Ergonomia, a carga de trabalho é entendida como a consequência das exigências sobre o indivíduo no decorrer da realização da atividade que prejudica o seu desempenho. Para os autores (p. 249, 2011), “[...] a ideia de carga quer traduzir que a capacidade individual é um limitante sine qua non para qualquer [...] processos de trabalho”. Assim, uma atividade se bem dimensionada não implicaria em carga de trabalho. Em resumo, pode-se definir carga de trabalho como “[...] o custo da atividade de trabalho para um determinado indivíduo, num momento preciso e em condições específicas, sendo que estas se encontram em permanente mudança” (COTRIM, p. 8, 2004). Para investigar a carga de trabalho é preciso partir da premissa da análise das ações, das condições em que elas ocorrem e das consequências de tais ações para o trabalhador. “É preciso investigar quais características da carga a que o trabalhador está submetido podem facilitar na elaboração de diagnósticos e no planejamento de mudanças nas condições de trabalho, no sentido de promover a 31 saúde e o bem-estar” (FRUTUOSO, CRUZ, p. 31, 2005). Nesse contexto, a carga de trabalho tem relação direta com a saúde e satisfação do trabalhador, tendo por base que ela define as tensões e pressões provocadas no trabalho que se relacionam às modificações das condições físicas e da organização (FRUTUOSO;CRUZ, 2005). Quando as cargas de trabalho vão além das capacidades do trabalhador tem-se uma situação de sobrecarga. No caso em que as cargas de trabalho estão aquém das capacidades do trabalhador em desempenhar suas atividades, entende-se que ocorreu subcarga de trabalho. Paralelo à subcarga, “manifestações de sobrecarga refletem fadiga, absenteísmo no trabalho, incidência de distúrbios musculoesqueléticos, transtornos comportamentais e mentais, entre as mais recorrentes” (FRUTUOSO; CRUZ, p. 32, 2005). Por outra perspectiva, “entre as cargas ou fatores psicossociais destacam-se situações estressantes, posturas das chefias, disputas entre colegas, condições de insegurança no emprego, remuneração ou salário inadequado, desvalorização do trabalho dentre outros. ” (LEITE; CARVALHO, p. 8, 2012). De acordo com Vidal et al (2011), a mensuração da carga de forma mais objetiva é uma tarefa difícil, sendo mais eficaz uma abordagem mais subjetiva. É importante analisar os efeitos da atividade, de forma qualitativa e quantitativa, para compreender as adaptações necessárias impostas pelo sistema de trabalho (COTRIM, 2004). Desde que a atividade desempenhada pelo trabalhador seja efetivamente investigada, “a possibilidade de mensurar e avaliar a carga de trabalho por meio de medidas subjetivas permite aferir constrangimentos físicos e psicológicos que podem estar associados ao processo de adoecimento do trabalhador [...]” (FRUTUOSO; CRUZ, p. 34, 2005). Dentro desse contexto, a mensuração dos aspectos fisiológicos abrange alto potencial diagnóstico por possibilitar a avaliação de níveis da carga de trabalho por meio de manifestações psicomotoras. Assim, O interessante desse tipo de avaliação é que se torna um indicador de reações do avaliado sem que este precise se manifestar verbalmente. Tais medidas também servirão de complemento ou suporte para as medidas classificadas como subjetivas ou comportamentais. (CARDOSO; GONTIJO, p.876, 2012). 32 As medidas classificadas como subjetivas são as mais usadas na mensuração da carga mental de trabalho, uma vez que partem do pressuposto de que o nível de desgaste mental está associado as capacidades do trabalhador de desempenhar seu trabalho (CARDOSO; GONTIJO, 2012). Umas dessas medidas e de grande utilização é o NASA-TLX. 2.4 Qualidade de Vida no Trabalho e Modelo Walton De acordo com Kovaleski, Pedroso e Pilatti (2008) os conceitos de qualidade de vida no trabalho vêm se modificando ao longo dos tempos, o que acontece em função de diversas transformações pelo qual o trabalho vem passando no decorrer das décadas. Gramms e Lotz (2017) dizem que qualidade de vida no trabalho (QVT) é um termo que tem sido utilizado para expressar a ampla experiência que a pessoa vivencia no trabalho. Mas uma só definição não abrange toda a subjetividade de QVT, pois esse conceito não contempla aspectos somente organizacionais, como fatores de qualidade de vida como um todo. Segundo Chiavenato (2004), o conceito de qualidade de vida engloba vários fatores do tipo: ambiental, físicos e psicológicos dentro do local de trabalho. Essa preocupação existe há anos em relação à qualidade de vida, onde o maior objetivo é proporcionar satisfação ou facilitar a execução das tarefas do trabalhador. A partir disso, segundo Gramms e Lotz (2017), Richard Walton identificou que a geração e a manutenção da QVT perpassam pelo atendimento das necessidades e aspirações do ser humano e da responsabilidade social da empresa. Sendo então que a partir disso Walton criou oito categorias conceituais que mostram como avaliar e analisar a qualidade de vida no trabalho. As oito categorias conceituais segundo Walton (1973): 1. Remuneração justa e adequada: A remuneração como justa, são a demanda e disponibilidade de profissionais com a habilidade para o trabalho que se pretende realizar, e também padrões de remuneração já estabelecidos em uma comunidade; 2. Condições de trabalho: Envolve as dimensões jornada de trabalho e ambiente físico adequado à saúde e bem-estar do trabalhador; 33 3. Uso e desenvolvimento das capacidades: Deve fornecer autonomia, necessidade de uso de diversas habilidades, informações e perspectivas referentes ao trabalho executado, o planejamento do trabalho em sua totalidade; 4. Oportunidade de crescimento contínuo e segurança: Possibilidade de carreira na organização, crescimento e desenvolvimento pessoal e segurança no emprego de forma durável; 5. Integração social no Trabalho: Deve haver igualdade no trabalho, sem formação de classes diferenciadas ou de uma cadeia hierárquica, a possibilidade de alcançar cargos superiores, o senso de trabalho em equipe e uma comunicação aberta entre os funcionários; 6. Constitucionalismo: A união entre os trabalhadores, como grupos e sindicatos, tem buscado trazer mais constitucionalidade para o ambiente de trabalho, com finalidade de proteger os funcionários, além de informa-los sobre os seus direitos e deveres, bem como garantir que esses sejam respeitados; 7. Trabalho e espaço total de vida: Manter a carga horária, trabalho balanceado e disponibilizar tempo para os funcionários com a família e outros lazeres; 8. Relevância social: Além de o trabalho trazer orgulho para quem o executa, a organização deve ter uma imagem diante da sociedade, responsabilidade social, responsabilidade pelos produtos e serviços oferecidos e práticas de emprego. 2.5 NASA TLX Um relevante domínio dos modelos estocásticos é o campo da Teoria das Filas (queueing theory). Sistemas reais podem ser reduzidos a componentes que podem ser modelados pelo conceito de uma determinada fila. A teoria das filas tem sido aplicada, com sucesso, na resolução de uma grande variedade de problemas: projeto de redes telefônicas, gerenciamento de centros de serviço, alocação de mão de obra em centros de reparo e manutenção, por exemplo. A ideia básica do conceito é emprestada da experiência de balcões de pagamento de supermercado (ANTONIOL; CIMITILE, et al., 2004; BREUER; BAUM, 2005). De acordo com Moray (1986 apud CARDOSO; GONTIJO, 2012), as medidas subjetivas da carga de trabalho apresentam-se como as mais confiáveis e 34 com melhor desempenho para mensurar a carga mental. As medidas de carga de trabalho surgiram com os estudos de Cooper e Harper (1969), autores que desenvolveram trabalhos em duas vertentes que geraram: a escala de Sheridan- Simpson e o método NASA-Ames, desenvolvida no laboratório de pesquisas da NASA. Em 1987, esse método originou o NASA-TLX (Task Load Index), desenvolvido por Hart e Staveland. O NASA TLX: Task Load Index (1986) é um questionário multidimensional que busca avaliar a subjetividade da carga de trabalho. Ele foi projetado para reduzir entre os avaliadores a variabilidade usando as definições a priori de carga de trabalho, a média de pesos e avaliações em sub-escalas (NASA, 1986). É uma classificação que fornece uma pontuação de carga de trabalho com base em uma média ponderada de seis sub-escalas: Demanda (Exigência) Mental, Demanda (Exigência) Física, Demanda (Exigência) Temporal, Desempenho, Esforço e Frustração. As definições de cada sub-escala são apresentadas no Quadro 1. Quadro 1 – Definição das dimensões do NASA-TLX Fonte: Adaptado de Manual NASA-TLX apud Cardoso; Gontijo (2012, p. 878) Apesar do NASA-TLX ter sido construído para medir a carga de trabalho mental, ele mensura a carga de trabalho de uma forma geral, pois inclui o esforço e a carga física entre os fatores (MÁSCULO; VIDAL, 2011). “Assim, sua sensibilidade para manipulações experimentais foi a melhor encontrada entre outras técnicas Dimensões Definições Mental Quantidade da atividade mental e perceptiva que a tarefa necessita (pensar, decidir, calcular, lembrar, olhar, procurar, etc.) Física Quantidade de atividade física que a tarefa necessita(puxar, empurrar,girar, deslizar, etc.) Nível de pressão temporal sentida. Razão entre o tempo necessário disponível Até que ponto o indivíduo se sente satisfeito com o desempenho no trabalho Grau de esforço mental e físico que o sujeito tem que realizar para seu nível de rendimento. Frustação Até que ponto o sujeito se sente inseguro, estressado, irritado,descontente, etc., durante a realização da atividade Temporal Desempenho Esforço 35 populares e uma avaliação global da carga de trabalho unidimensional suficiente.” (CARDOSO; GONTIJO, 2012, p. 878). Ele pode ser utilizado para estimar a carga de trabalho em vários ambientes que envolvam homem e máquina. O método do NASA-TLX avalia a carga de trabalho a partir da perspectiva dos entrevistados, atribuindo o grau de contribuição de cada escala por meio de comparações binárias das dimensões e através da atribuição de pontos a cada dimensão para cada atividade realizada (NASA, 1987). 2.6 Método RULA O método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) é uma ferramenta para avaliação de postura, força e uso muscular. Desenvolveu-se a metodologia RULA com o objetivo de investigar a exposição individual de cada trabalhador a fatores de riscos correlacionados com os distúrbios de membros superiores relacionados ao trabalho. Utiliza-se de diagramas de posturas corporais, com tabelas que fornecem a avaliação de fatores de riscos (CORLETT; MCATAMNEY, 1993). São dois grupos, A e B respectivamente, em que se atribui os escores relacionados com a postura, conforme é demonstrado nas Figuras 8 e 9. O grupo A está associado aos braços, punhos e antebraços enquanto que no grupo B são relacionados ao pescoço, pernas, pés e tronco. As posturas são medidas a partir da avaliação dos ângulos formados entre os membros e o corpo, definindo o nível de ação a ser tomado. Na avaliação, o número 1 equivale ao movimento ou postura correspondente ao menor risco de lesão, e a medida que esse número aumenta, maior é a susceptibilidade ao risco de lesão, podendo atingir o máximo de 7 (CAPELETTI, 2013). 36 Figura 8- Grupo A Fonte: Adaptado de McAtmney et al. (1993) Figura 9 - Grupo B Fonte: Adaptado de McAtmney et al. (1993) 37 Segundo Capeletti (2013), após registro das pontuações dos grupos A e B, os valores são cruzados e consultam-se as Figuras 10 e 11 referentes à contração muscular e à aplicação de força e carga, respectivamente. Assim, gera-se a pontuação final a partir deste cruzamento de valores (Figura 12). Figura 10 – Contração Muscular Fonte: Capeletti (2013) Figura 11 -Força e Carga Fonte: Adaptado de McAtmney et al. (1993) Figura 12 - Pontuação Geral Fonte: Adaptado de McAtmney et al. (1993) 38 2.7 Constituição Federal, Segurança e Saúde no Trabalho A Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88) retrata em seu Artigo 7º preceitos constitucionais relacionados à Segurança e Saúde no Trabalho (SST): Direito Constitucional a trabalhar em ambiente de trabalho sadio e seguro: “Redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (Artigo 7º, inciso XXII, da CF/88); Direito Constitucional à compensação financeira pela exposição nociva à saúde ou à integridade física: “Adicional de Remuneração para as atividades Penosas, Insalubres ou Perigosas, na forma da Lei”. (Artigo 7º, inciso XXIII, da CF/88); Direito Constitucional à reparação pelo dano acidentário sofrido: “Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”. (Artigo 7º, inciso XXVIII, da CF/88); Direito Constitucional do menor não ser exposto a agentes nocivos à saúde ou à integridade física: “Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. (Artigo 7º, inciso XXXIII, da CF/88). 2.8 Engenharia de Segurança do Trabalho A segurança do trabalho, também denominada segurança ocupacional, é a ciência que objetiva identificar, analisar e estudar a relação multicausal dos acidentes de trabalho, preocupando-se com o desenvolvimento, promoção e manutenção do ambiente do trabalho. Deste modo, tem-se a finalidade de prevenção mediante políticas, programas, técnicas ou procedimentos que visam proporcionar ambientes sadios e seguros para os trabalhadores, minimizando os riscos potenciais de gerar acidentes, sempre observando os limites aceitáveis da capacidade e potencialidade 39 humana (GONÇALVES, 2013; NYIRENDAAVWIL; CHINNIAH; AGARD, 2015). No escopo da engenharia de segurança do trabalho, os trabalhadores se depararão com situações que não estão em conformidade com as regras previstas em Normas Regulamentadoras (NRs), Leis, Súmulas, por exemplo. Neste sentido, é interessante formular procedimentos que visem o bem-estar e saúde dos trabalhadores, orientando o comportamento seguro aos perigos assimilados, bem como demonstrar a conscientização da organização na prevenção dos acidentes de trabalho (REASON; PARKER; LAWTON, 1998). Segundo o Ministério da Fazenda (2016), e hoje, encontrado na Secretaria do Trabalho vinculado ao Ministério da Economia, contabilizou-se no ano de 2016, 474.736 (quatrocentos e setenta e quatro mil e setecentos e trinta e seis) Acidentes de Trabalho com registro da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) em que estão presentes os Acidentes Típicos, de Trajeto e as Doenças do Trabalho. Segundo a FUNDACENTRO (2004), a Higiene Ocupacional é o termo mais utilizado, uma vez que abrange a Higiene Industrial e Higiene do Trabalho, além de manter uma interface com outros campos de estudo, como a Segurança e a Ergonomia, por exemplo. É uma ciência de caráter preventivo, uma vez que seu objetivo é na prevenção das doenças ocupacionais, ao qual aborda a individualidade do trabalhador, interligando-a com o tipo de atividade e o ambiente de trabalho. Na essência do termo, o conceito de Higiene reflete à preservação da saúde enquanto o termo ocupacional está associado ao ambiente laboral. Segundo Rocha, Mollo e Daniellou (2015), um sistema de gerenciamento de segurança eficiente para a prevenção de situações que possam desencadear os acidentes de trabalho, permite a integração das experiências passadas com as situações atuais e sempre visando ações futuras que possam propiciar qualidade de vida dos trabalhadores, prevenindo as situações de riscos. Além da capacidade adaptativa no progresso da segurança, deve-se levar em consideração o envolvimento dos trabalhadores para uma melhor compreensão e percepção das situações que abrangem no meio ambiente de trabalho (HAIMS; CARAYON,1998). Segundo Mckinnon (2014), define-se um Sistema de Gerenciamento de Segurança como o conjunto de atividades e esforços de maneira contínua que está voltado para o controle de acidentes, monitorando os elementos julgados críticos para a segurança do trabalhador. Neste sentido, considera-se um sistema para prevenção 40 de perdas, reduzindo o potencial de acidentes, bem como melhorando nos processos gerais de uma organização. A falta de aptidão técnica pelo profissional ou mesmo negligência por parte do empregador ao não cumprimento das normas regulamentadores podem levar o trabalhador ao acidente de trabalho. O plano de benefícios da previdência social, por intermédio da Lei 8.213, datada em 24/07/1991, em seu Artigo 19, define que o acidente de trabalho pode ser entendido em qualquer situação que provoque lesão corporal ou que implique em perturbação funcional no trabalhador, que resulte em morte, limitações ou perdas para sua aptidão ao trabalho durante a jornada laboral. A percepção de meio ambiente de trabalho está além de um simples espaço físico fixadoem algum lugar, como em uma empresa. Entende-se que o ambiente de trabalho pode ser móvel, visto que, segundo o Artigo 21 da Lei 8.213 de 1991 (Benefícios da Previdência Social), há a possibilidade de ocorrência de acidentes de trabalho por prestação espontânea de serviço, viagem a serviço e acidente de trajeto. Neste contexto, máquinas e equipamentos estão intrinsicamente ligadas às pessoas no exercício da jornada de trabalho. Além do mais, é o ambiente em que o trabalhador se expõe aos agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, ou associação deles que podem prejudicar a qualidade de vida dos trabalhadores (GONÇALVES, 2019). Os agentes ergonômicos são frutos da incompatibilidade do homem ao ambiente de trabalho, e como consequências, têm-se: desgastes psicofisiológicas, redução na produtividade e segurança do trabalho, por exemplo. O risco é definido como a probabilidade de ocorrer o dano e a magnitude do evento indesejado. Os indivíduos estão submetidos a diferentes situações em que podem gerar os acidentes, afetando a sua qualidade de vida no trabalho. A avaliação de risco é um processo sistemático que descreve e quantifica os riscos definindo seu grau de tolerabilidade. Em contrapartida, o gerenciamento de riscos é um processo de implementação de medidas para minimizar os riscos existentes. Deste modo, a avaliação do risco se torna uma ferramenta essencial para tomada de decisão em gerenciamento de riscos (COVELLO E MERKHOFER, 1993; FUNDACENTRO, 2004). Exemplos de agentes ergonômicos são: levantamento e transporte manual de cargas incorreto, postura não adequada do próprio trabalhador, ritmos excessivos de trabalho e movimentos repetitivos devido às metas impostas durante a jornada 41 laboral, como outras situações que possa desgastar psíquico ou fisicamente. (GONÇALVES, 2019). 2.9 E-social no Brasil O Governo do Brasil (2019), o e-social é um moderno sistema de registro de dados relacionando os trabalhadores, empresas e escritórios de contabilidade desenvolvido pelo governo federal que foi criado com o objetivo de simplificar o gerenciamento de informações que estão correlacionadas com os trabalhadores que visa reduzir os custos gerais e o tempo do processamento de informações fiscais, previdenciárias e trabalhistas. A obrigatoriedade do uso do e-social começou a vigorar desde o dia 01 de junho de 2018 para todos os empregadores e contribuintes independentemente do valor faturado anual. Este sistema transforma as informações que até então eram registradas em documentos impressos para o mundo digital, armazenando os dados em um ambiente público, seguro e reduzindo os gastos para as empresas. É um sistema que dar uma maior garantia para o trabalhador em relação a efetivação de seus direitos trabalhistas e previdenciários, uma vez que há maior transparência dos dados informados e também minimiza a possibilidade nos erros de cálculos oriundos de empresas a respeito de emissão de guias pelos seus próprios sistemas. Além de contribuir para melhorias em tomadas de decisão em políticas públicas e benefícios previdenciários (GOVERNO DO BRASIL, 2019). No Anexo I dos leiautes do e-social, a tabela 23 descreve os Fatores de Riscos do Meio Ambiente de Trabalho, separando em fatores físicos, químicos, biológicos, os ergonômicos, subdivididos em organizacionais, mobiliário e equipamentos, psicossociais ou cognitivos, além dos fatores mecânicos ou de acidentes, periculosos, penosos e associação de fatores de riscos (GOVERNO DO BRASIL, 2019). 42 2.10 Sistema Judiciário Brasileiro Segundo o Supremo Tribunal Federal (2011), o sistema judiciário brasileiro é composto por vários órgãos, nos quais os principais objetivos destes são manter a ordem, o cumprimento da constituição e esclarecer as leis da legislação federal. Dentre os órgãos que compõe o sistema judiciário brasileiro, há aqueles que desempenham funções no âmbito da União, como por exemplo, o poder judiciário, que tem o apoio das unidades da justiça federal, incluindo os juizados especiais federais e a justiça especializada, na qual é composta por Justiça do Trabalho, Justiça eleitoral e Justiça Militar. Já no âmbito dos Estados, no qual se inclui a Justiça Estadual, fica sob a responsabilidade de cada estado brasileiro e do Distrito Federal, os juizados especiais cíveis e criminais. No Sistema Judiciário Brasileiro, o sistema da união e dos estados conta com juizados especiais competentes e qualificados para julgar causas de menor potencial ofensivo e econômico. O organograma geral do poder judiciário brasileiro está esquematizado como a Figura 13. (ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS, 2005). Figura 13 - Organograma do Poder Judiciário Fonte: Gonçalves (2019) 43 Cada Orgão do poder Judiciário possuem 1ª, 2ª e 3ª instância. Na primeira instância estão presente os Juízes de Direito, Federais, Eleitorais, do Trabalho e de Direito, que podem atuar em Foros, Varas Especializadas, Seções Judiciárias, Juntas Eleitorais, Varas do Trabalho como realizar Auditorias Militares, respectivamente. Na segunda instância, estão presentes os Desembargadores, Juízes Federais, Juízes Eleitorais, Juízes do Trabalho e Colegiado de Juízes Civis e Militares que atuam no Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais Federais, Tribunal Regional Eleitoral, Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal de Justiça Militar, respectivamente (GONÇALVES, 2019). Além disso, na terceira instância estão os Ministros que podem atuar no Superior Tribunal de Justiça (Justiça Comum e Federal), Tribunal Superior Eleitoral (Justiça Eleitoral), Tribunal Superior do Trabalho (Justiça do Trabalho) e Superior Tribunal Militar (Justiça Militar). Por fim, caso os processos sejam passados por recursos das demais instâncias, cabe aos Ministros que atuam Supremo Tribunal Federal julgar as ações que envolvam lesão ou ameaça a Constituição Federal Brasileira (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2011). O Tribunal Regional Federal da 5ª região (TRF5) com sede em Recife/PE é composto pelas unidades estaduais de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte conforme a Figura 14. Das decisões do TRF, cabe recurso ao Superior Tribunal da Justiça (STJ) ou ao Supremo Tribunal Federal (STF) (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 2007). Figura 14 - Unidades Estaduais do TRF5 Fonte: Tribunal Regional Federal (2007) 44 Segundo a Justiça Federal do Rio Grande do Norte (2019), cada Estado da Federação tem a disposição uma Seção Judiciária da Justiça Federal, com Varas espalhadas nas capitais e outras em cidades do interior que possuem relevância, e em cada Vara há um Juíz Federal. Em nosso caso, a Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN), além de possuir Jurisdição em Natal (Capital), também possue em outros municípios como: Açu, Caicó, Mossoró, Pau dos Ferros e Ceará-mirim como é demonstrado na Figura 15. O Fórum de Natal está situado na Rua Dr. Lauro Pinto, 245, Lagoa Nova. CEP:59064-250. Figura 15 - Competência Territorial da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte Fonte: Justiça Federal do Rio Grande do Norte (2019) A JFRN possue várias Varas, nomeadas de 1ª a 15ª, bem como a Turma Recursal. São distribuídas em Natal e demais municípios do RN. Um organograma geral da JFRN é esquematizado conforme a Figura 16. 45 Figura 16 - Organograma: Justiça Federal do Rio Grande do Norte Fonte: Justiça Federal do Rio Grande do Norte (2019) Segundo o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (2013), o Estado do Rio Grande do Norte, integrante do TRF5, conforme descrito na Figura 16, é composto pela Diretoria do Foro e nela são subordinadas a Assessoria Jurídica, a Seção de Controle Interno, a Comunicação Social e a Seção de Planejamento e Intregação regional. Além das Turmas Recursais, Varas Federais e JuizadosEspeciais Federais. Além disso, a Diretoria do Foro é auxiliado pela Secretaria Administrativa, em que estão inseridas várias unidades como de Núcleos de Administração, de Gestão de Pessoas, Judiciário e de Tecnologia da Informação. 2.11 Tecnologias Digitais As inovações tecnológicas induziram a transformações na vida do homem, a automação aliada às tecnologias digitais modificou a forma de se trabalhar uma vez que houve a substituição do trabalho manual pelo trabalho executado em uma máquina, visando aumentar a produtividade em termos de energia e matérias, melhoria da qualidade, exatidão e precisão transferindo o papel de operador de controle manual para a supervisão, possibilitando novas formas de trabalho e interação social (NICOLACI-DA-COSTA, 2002; ENEGEP, 2015; NICOLACI-DA- COSTA; PIMENTEL, 2012; SCAPIN, 2015). 46 Acompanhando o desenvolvimento das tecnologias digitais, um software que integre os fatores humanos se torna um desafio uma vez que é complicado estimar a posição humana em três dimensões pelo motivo que os seres humanos possuem diferentes tamanhos (MICHEL; QAMMAZ; ARGYROS, 2017). Segundo David (2005), há uma real necessidade da correta medição da exposição dos trabalhadores aos fatores que possam contribuir significativamente ao desenvolvimento de Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORTs) e desconfortos visuais para os ergonomistas, médicos do trabalho, empregadores, representantes de funcionários e autoridades reguladoras. Além dos fatores de risco como posturas de trabalho desconfortáveis, uso prolongado de tecnologias computacionais e estresse. (GRĪNBERGA, 2016). Para isso, é imprescindível a utilização de programas de prevenção e redução de riscos fundamentados na ergonomia, levando em consideração todos os elementos que permeiam a interface trabalhador-ambiente laboral. Assim sendo, as tecnologias digitais contribuíram significativamente para o fornecimento de serviços que permitam essa interface entre o trabalhador e o ambiente de trabalho permitindo o desenvolvimento de aplicações interativas em diversos setores como jogos, interação humano-computador, segurança, entre outros, uma vez que existe uma melhora no processamento de informação (SHOTTON et. Al, 2013). Para desenvolvimento do software, a atratividade é indispensável, como também conter todas as informações necessárias para que os usuários e trabalhadores possam ser ajudados ao utilizá-lo (GRĪNBERGA, 2016). Entretanto, é impossível desenvolver uma interface de usuário em que todos possam usufruir, uma vez que as pessoas executam atividades diferentes de maneiras diferentes com necessidades diferentes. Para isso, as interfaces adaptáveis surgem para atender as necessidades individuais prezando a variabilidade das características humanas (DEBEVC et al., 1996). Sendo assim, o avanço tecnológico dos hardwares em imagem e algoritmos de cunho computacional geram subsídios para tentar encontrar as posições exatas de todas as articulações do corpo humano e, é a partir dessa temática que os softwares baseados em ergonomia surgem para contribuir em meio a interação homem-máquina, estimando pontos de articulação e segmentos do corpo humano em 47 prol de uma análise ergonômica do trabalho eficaz (JAIN, 2011; MICHEL; QAMMAZ; ARGYROS, 2017). Ao passo que os sistemas de informação estão sendo cada vez mais utilizados, a capacidade de adaptá-los às características psicofisiológicas do trabalhador torna-se mais importante (NR-17). À medida que os sistemas de informação se tornam cada vez mais importantes em muitos domínios diferentes, o potencial para adaptá-los a usuários individuais e suas necessidades torna-se mais importante. Interfaces de usuário adaptáveis oferecem muitas maneiras possíveis para ajustar exibições e melhorar procedimentos para os padrões individuais de trabalho de um usuário (DEBEVC et al., 1996). Há uma transformação no mundo corporativo de uma economia industrial para a economia da informação. As empresas menores conseguem competir com as empresas de grande porte quando se trata no uso de informações de forma ágil. Isto é, gerenciar as informações se torna mais importante do que o trabalho e o capital, além de melhorar o desempenho dos processos organizacionais (MCGEE; PRUSAK, 1994). Segundo Rezende e Abreu (2003), para definição do conceito de Sistema de Gerenciamento da Informação (SIG), são necessários o entendimento de termos como dados, informação e conhecimento, uma vez que são gerados a partir da tomada de decisões por parte dos gestores, considerados como atos mentais e a execução das ações, considerados como atos físicos, auxiliando para a inteligência empresarial das organizações. Dados: Davenport (1998) trata a definição de dados como observações sobre o estado do mundo que podem ser traduzidas de maneira quantificável por pessoas, facilmente estruturado através de tecnologias com capacidade de captura, comunicação e armazenamento. Trata-se de uma sequência de fatos não analisados (LAUDON; LAUDON, 2010); Informação: é todo o dado que apresenta importância, utilidade ou que tenha valor significativo, isto é, tem um sentido lógico para quem usa a informação com a necessidade de uma análise prévia. Podem ser transformados em informações relevantes mediante pessoas e devem ordenar consenso em relação ao significado, uma vez que isoladamente não contém significado pertinente (DAVENPORT, 1998; REZENDE; ABREU, 2003); 48 Conhecimento: a informação mais valiosa da mente humana e mais difícil de gerenciar é definida como conhecimento, uma vez que é necessário refletir, sintetizar e interpretar as informações obtidas. Pode ser difícil de explicitar, por existir simbolicamente na mente humana e há a necessidade de uma metodologia estruturada para transmitir o raciocínio (DAVENPORT, 1998). O conhecimento pode ser tácito baseado na aptidão, experiência pessoal, valores ou emoções. É difícil de ser formalizado e compartilhado, pode ser fomentado por intuições e palpites. Como também pode ser explícito baseado em regras, procedimentos padrões, organizacionais, como também baseado em palavras, números ou sons de forma disseminando-os facilmente as pessoas (CHOO, 2003; NONAKA; TAKEUCHI, 2004). Segundo Laudon e Laudon (2010), um Sistema de Informação (SI) pode ser definido como um conjunto de componentes intrinsecamente relacionados capazes de coletar, processar, armazenar e distribuir informações, a partir de três atividades (Entrada, Processamento e Saída) com o objetivo de gerar conclusões para apoio à tomada de decisões, a coordenação, o controle de uma organização, além de analisar problemas, visualizar questões complexas e criar produtos ou serviços. Segundo Choo (2003), a gestão da informação é avaliada como uma sequência continuada de seis processos intrínsecos: identificação das necessidades de informação; aquisição de informação; organização e armazenamento de informações; desenvolvimento de produtos e serviços de informação; distribuição de informações; e uso de informação. A eficácia no uso de informações traduz no comportamento adaptativo mesclando o equilíbrio entre a execução de um padrão de ações com a adaptação as condições do ambiente. Desse modo, o gerenciamento da informação é definido como um conjunto planejado e sequenciado de atividades que tem como objetivo obter, distribuir e utilizar a informação e o conhecimento promovendo mudanças em sua estrutura organizacional, dando subsídios necessários para a competitividade empresarial (DAVENPORT, 1998; CHOO, 2003). De um ponto de vista amplo, abrangendo a compreensão da dimensão organizacional e humana dos sistemas, é conhecida como capacitação em Sistemas de Informações e envolve uma abordagem comportamental e técnica. Neste ponto,
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