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Universidade Estadual da Paraíba Nome: Paula Thayse Ramos da Cruz Matrícula: 19213005-6 Componente Curricular: Sociologia Aplicada à Saúde Professora: Carolina Albuquerque LE BRETON, David. A Culinária da Repugnância. In: _______. Antropologia dos Sentidos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. p. 467 - 510. O autor inicia o nono capítulo da obra “Antropologia dos Sentidos”, trazendo considerações a respeito do conceito de repugnância, afirmando que tal sentimento de repulsa possui uma ordem muito mais moral, cultural e simbólica do que mesmo orgânica (paladar). Considerar algo repugnante é categorizado como impensável, a cultura e oralidade é que induzem à rejeição. Dessa forma, podemos afirmar que comer diz muito mais do sentido atribuído ao alimento do que mesmo ao seu sabor ou origem. Trazendo o exemplo dos amantes dos queijos, o autor nos mostra que a ingestão de determinados alimentos também desqualifica os comensais, provocando a repulsa direcionada ao grupo ou a situação onde tal alimento é consumido. Situando as fezes como o cumulo da repugnância, o texto chama atenção para o fato de que qualificar o outro associando a termos excrementícios, representa uma ameaça real e simbólica à construção da identidade de um indivíduo ou determinado grupo. Podemos então afirmar, diante de tais considerações, que essa repugnância do “outro”, é construída simbolicamente através das influencias da sociedade e da cultura, mas também possui raízes afetivas dentro do imaginário individual e coletivo. Mais à frente, permanecendo na mesma linha de pensamento, encontramos uma reflexão sobre a posição da sociedade ocidental diante do canibalismo. Trazendo exemplos onde tal prática pode ser justificável, o autor afirma que nós só não nos alimentamos de carne humana pelo de não vivermos situações de penúria e escassez de alimentos, onde o senso de sobrevivência justificaria a antropofagia. No entanto, ainda segundo Le Breton, a sociedade ocidental mesmo buscando formas de simbolizar e justificar a passagem ao ato, carrega uma culpa por saborear a carne desse outro. Por fim, utilizando-se de todas as afirmações acima e de diversos exemplos, o autor volta a considerar as questões relacionadas à moral intrínseca ao sentimento de repulsa, apontando para o fato de que este sentimento de culpa associado ao canibalismo refere-se à aproximação da bestialidade. Assim como o consumo dos alimentos proibidos trazem consigo toda a carga simbólica negativa, cultural e socialmente inaceitáveis. Compartilho da ideia do autor de que a construção do sentido da repugnância é majoritariamente de ordem moral, cultural e social, apesar de possuir também seu caráter afetivo. Acrescento apenas a importância da dimensão cognitiva individual em casos isolados, visto que, tal sentimento as vezes aplica-se a determinada ação ou experiência pessoal desagradável.