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Intubação Orotraqueal Introdução A Intubação Orotraqueal (IOT) é um procedimento invasivo que assegura a via aérea definitiva para o paciente, sendo a via aérea definitiva mais frequente e relevante. Assim, deve-se saber indicar o procedimento, predizer a via aérea difícil, realizar as sequências de intubação e alternativas na falha desse procedimento. Indicação Para considerar uma intubação orotraqueal, é importante avaliar principalmente quatro aspectos: Proteção das vias aéreas: a ausência de reflexos de proteção gera dificuldades ventilatórias e predispõe à aspiração. Indícios da ausência de proteção são ausência de fonação e deglutição espontâneas, acúmulo de secreções na orofaringe e escala de coma de Glasgow>8. Falha da ventilação e oxigenação: a falha na passagem do ar ou troca gasosa pode ocorrer em doenças como o angioedema (obstrui a via aérea), miastenia gravis, doenças do parênquima pulmonar como asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e doenças intersticiais do pulmão. Os indícios da falha são clínicos, como taquipnéia, dispnéia, respiração superficial e estridor, sendo que, caso o paciente não seja candidato a medidas de ventilação não-invasiva ou sejam refratários a esse tratamento, a intubação orotraqueal deve ser feita. Evolução clínica: algumas condições podem indicar intubação precoce pela provável deterioração clínica ou futuras alterações anatômicas da via aérea do paciente, como nos traumas cervicais, queimaduras faciais, anafilaxia e lesões expansivas do sistema nervoso. Também se destacam alguns componentes do paciente, como a idade e massa magra para o paciente. Manejo futuro: nos pacientes que irão realizar sedação ou analgesia profunda, é importante considerar a intubação e prevenir depressões respiratórias. Em pacientes que serão submetidos a intervenções cirúrgicas ou minimamente invasivas, avalia-se o benefício, já que esses podem ter piora durante o transporte para o setor. Preditores de Via Aérea Difícil É importante avaliar a via aérea do paciente para identificar preditores de dificuldade no manejo, sendo realizadas as avaliações para laringoscopia, para ventilação bolsa-válvula máscara, dispositivo supraglótico e cricotireoidostomia. Laringoscopia difícil: a avaliação da laringoscopia é feita pela classificação de Cormack Lehane, em que se gradua de I a IV os elementos visíveis a laringoscopia (se todas as pregas vocais, se apenas parte delas, se apenas a epiglote ou nem a epiglote). Os fatores preditores são vistos pelo mnemônico LEMON: ⇒ L (look externally): é a avaliação de alterações externas como obesidade, lesões, dismorfias anatômicas. ⇒ E (evaluate): é a avaliação 3-3-2, em que se verifica a abertura oral do paciente, a distância mento-hióidea e a distância hio-tireóidea (geralmente igual a 3-3-2 dedos). ⇒ M (mallampati): há a classificação de Mallampati, em que se vê a visibilidade do palato mole, úvula e amídalas, graduando de I a IV, sendo I os três visíveis e IV nenhum desses visíveis. ⇒ O (obstruction): avaliam-se sinais de obstrução como voz abafada, estridor, dispneia e salivação excessiva. ⇒ N (neck mobility): verifica-se a presença de imobilização extrínseca ou intrínseca do pescoço. Ventilação bolsa-válvula-máscara: essa condição pode ser dificultada por fatores do mnemônico ROMAN , em que R (restriction/radiation) ocorre em pacientes em radioterapia recente ou com redução da complacência pulmonar; O (obstruction/obesity) se dá nos pacientes com obstrução como angioedema e obesidade; M (Mask seal, Mallampati, Male) se dá na presença de barba, mallampati III ou IV ou sondas oro/nasogástricas que dificultem a vedação; A (age) na idade maior que 55 anos; e N (no teeth), pois a ausência de dentes dificulta o posicionamento dessa máscara. Dispositivo supraglótico: é representado pelo mnemônico RODS, em que R equivale à restrição; O à obesidade ou obstrução que dificultam posicionamento; D (distorted anatomy) a alterações anatômicas que dificultem o selo da máscara; e S (short thyromental) os pacientes com redução no tamanho tíreomentual. Cricotireoidostomia: é predita pelo mnemônico SMART, em que S (surgery) são cirurgias prévias; M (mass) são tumores ou abscessos; A (anatomy) se dá por alterações cervicais ,acúmulo de gordura subcutânea e enfisema; R equivale a radiação; e T (tumor) equivale a neoplasias, que geram distorções e aumentam as hemorragias. Intubação de Sequência Rápida É o método em que se utiliza a medicação hipnótica e bloqueador neuromuscular no paciente pré-oxigenado, sendo indicado na maioria dos pacientes. Ele possui alta taxa de sucesso e reduzida taxa de complicações (dentes quebrados, intubação pulmonar seletiva, vazamento de balonete, intubação esofágica, pneumotórax e parada cardiorrespiratória), sendo lembrado pelos 7 P’s. Preparação: deve-se deixar aspiradas as medicações do procedimento e pós-procedimento, assegurar que há monitoramento da pressão, capnografia, cardioscopia e Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Intubação Orotraqueal oximetria, além de acessos venosos. Também se escolhe o tubo (separando o tubo ideal, um 0,5 maior e menor) e preparam a lâmina do laringoscópio, o fio-guia e os equipamentos em caso de falha. Usa-se a lâmina curva (Macintosh) na maioria das situações, e a reta (Miller), inserida atrás da epiglote, costuma ser restrita a casos em que a glote é profunda, incisivos superiores são proeminentes ou quando a epiglote é longa e flexível (geralmente em crianças). Por fim, se o paciente possui fatores de descompensação como hipotensão, hemotórax ou pneumotórax, esses devem ser corrigidos. Pré-oxigenação: com exceção das emergências (em que o paciente só é ventilado se a saturação estiver abaixo de 93%), o paciente deve ser pré-oxigenado na maior concentração de O2 disponível, quer seja por ventilação bolsa-válvula-máscara ou por máscara não reinalante durante 3-5 minutos, estando inclinado de 30-45 graus. Esse passo é essencial para garantir tempo de apneia após a indução, evitando a hipoxemia e parada cardiorrespiratória durante o procedimento. Pré-tratamento: são medicações utilizadas 3 minutos antes da indução (simultâneo à pré-oxigenação) sendo elas fentanil (2-3 mcg/Kg) e lidocaína (1,5 mg/Kg). O fentanil é opióide e simpaticolítico que é usado quando a elevação rápida da pressão arterial após a intubação (pelo estímulo simpático) não é desejada (dissecção da aorta, síndrome coronariana, hemorragias e hipertensão intracraniana), mas não é indicado nos hipotensos, pois pode agravar a hipotensão. Já a lidocaína é utilizada para reduzir o tônus da via aérea, sendo indicada em broncoespasmo ou hipertensão intracraniana. Indução e Paralisia: a indução e paralisia do paciente são feitas inicialmente com um hipnótico/sedativo, seguida de bloqueador neuromuscular. Quando se realiza a sequência rápida de intubação é essencial escolher as drogas, conhecer as indicações e contraindicações. ⇒ Hipnóticos: a dose utilizada é calculada conforme o peso ideal, acrescida em 30% nos obesos mórbidos ou reduzida de 30-50% nos idosos. Os representantes da classe são etomidato, quetamina, midazolan e propofol. → Etomidato: usado na dose de 0,3 mg/kg (0,4 em crianças), tem ação em menos de 1 minuto e duração de ação de 3-5 minutos. É muito usado na emergência por ter meia-vida curta, manter a pressão de perfusão cerebral e pressão arterial. → Quetamina: é usada na dose de 1-2 mg/kg (até 3 em crianças) endovenosa e inicia a ação rapidamente, tendo ação por 5-10 minutos. Ela traz pouco efeito hemodinâmico e sobre a perfusão cerebral, sendo também broncodilatadora, sendo então sua principal indicação os broncoespasmos. → Propofol: é usado na dose de 1,5-2 mg/kg em adultos e 2,5 mg/kg em crianças, tendo início da ação em 50 segundos com duração de 3-10 minutos. Ele tem pouco efeito broncodilatador, mas efeito cardiodepressor e vasopressor muito significativos, não sendo indicado nos hipotensos. É a droga de escolha em gestantes. → Midazolam: é usado na dose de 0,3 mg/kg, não sendo indicado na emergência porseu tempo de latência longo (2-3 minutos) e duração da ação de até 20-30 minutos. Não é indicado em gestantes e possui efeito hipotensor moderado que, junto ao fentanil, pode ser intenso. ⇒ Bloqueadores neuromusculares: na sequência rápida de intubação, são realizados imediatamente posterior à sedação com objetivo de suprimir movimentos da via aérea. São calculados conforme o peso total do paciente. São representados pela succinilcolina e pelo rocurônio. → Succinilcolina: usado na dose de 1,5 mg/kg (2-3 em crianças), inicia a ação em menos de um minuto e duração de 4-6 minutos. A princípio, é a droga de Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Intubação Orotraqueal escolha para a emergência, sendo utilizada em praticamente todos os casos exceto se houver hipertermia maligna, miopatias, lesão muscular aguda, doenças neuromusculares progressivas e hipercalemia (se risco de instabilidade do cardiomiócito no ECG). → Rocurônio: usa-se na dose de 1 mg/kg (0,6 em crianças), com início em menos de 2 minutos e duração de até 67 minutos. É restrito ao centro cirúrgico, onde se pode utilizar o antagonista sugammadex. Posicionamento: o paciente deve ser posicionado de modo que o meato acústico externo se alinhe com o esterno, colocando-se coxim no occípito e, em pacientes obesos, um coxim menor no dorso. Essa posição alinha boca, laringe, e faringe, e é dita Sniffing position. Passagem do tubo: inicia-se quando o paciente apresenta as fasciculações (início da ação do bloqueador). Segura-se o laringoscópio com a mão esquerda e esse, entrando pela direita, rebate a língua para visualizar a epiglote. Com a lâmina de Macintosh, a ponta é posta na valécula, tracionando ligamento hioepiglótico (com ele a epiglote). O laringoscópio é tracionado para frente e para cima, permitindo visualizar a rima glótica. Pode-se utilizar manobras de visualização da via aérea, sendo a principal a laringoscopia bimanual, em que se ajusta a posição laringotraqueal. Então, o tubo é introduzido com a mão direita sob visualização direta, e, uma vez dentro, o cuff é insuflado. Deve-se confirmar a posição do tubo com a ausculta do tórax e verificação da expiração de O2. Se pré-ventilado, pode-se tentar até duas vezes a intubação antes que a saturação caia para >93%. Pós-intubação: em seguida, o tubo deve ser fixado, radiografado para garantir que não haja extubação ou intubação seletiva, bem como se deve conectá-lo ao ventilador mecânico e se utilizar um volume corrente entre 4 e 6 ml/kg, não passando a pressão de platô para acima de 30 cmH2O. Sedação contínua é recomendada e se deve observar sinais de instabilidade hemodinâmica. Obs.: Se disponível, há dispositivos adicionais como videolaringoscópio, laringoscopia indireta ou Bougie. Intubação de Sequência Prolongada Essa metodologia é menos utilizada e restrita quando há dificuldade na otimização do preparo do paciente, como saturação abaixo de 93% por agitação. Ela é feita com dissociação por quetamina a 1-1,5 mg/kg por 90 s, seguida de pré-oxigenação com cateter nasal e máscara não-reinalante, seguindo-se então com a paralisia e os demais passos da sequência rápida. Sedação Pós-Intubação A sedação é feita conforme o perfil do paciente. A principal diferença são as doses: fentanil é administrado em dose de 10-50μg/h na diluição de 10μg/ml, o propofol na dose de 5-50μg/kg/min (evitar passar de 4 mg/kg/h), quetamina em 0,5-4μg/kg/h na diluição de 1 mg/mL, e o midazolam entre 0,05-0,4 mg/kg/h na diluição de 1 mg/ml. Também se usa a dexmedetomidina na dose de 0,2-0,7 μg/kg/h na diluição de 4μg/ml. Bloqueio neuromuscular: nem sempre é indicado nos pacientes após a intubação. Quando é indicado, usa-se o Rocurônio a 0,6 mg/kg/h na diluição de 2 mg/ml ou o cisatracúrio em bolus de 0,18 mg/kg/h com manutenção de 0,06-0,12 mg/kg/h após evidência do início de sua ação, sendo usado na diluição de 1 mg/ml. Falhas na Intubação Essas falhas se dão quando a saturação cai para abaixo de 93% durante ou após a laringoscopia ou se tenta três ou mais vezes a intubação. Nelas, o paciente pode não conseguir ser intubado e nem ventilar (mais grave, exige via aérea avançada imediata) ou conseguir ventilar, apesar de não ser intubado (pode-se reconsiderar a técnica e tentar novamente). Nesse sentido, podem se lançar mão de outras formas de via aérea, sendo elas: Máscara laríngea: não protege a via aérea inferior e, a menos que seja do tipo intubadora, não fornece solução definitiva, mas fornece tempo para reavaliar a técnica. Cricotireoidostomia cirúrgica: é realizada com uma incisão látero-lateral na membrana cricotireóidea e ganchos para rebater a pele e a membrana para permitir a inserção do tubo. A traquéia deve ser imobilizada e, na ausência de familiaridade com a técnica, pode-se usar a técnica de seldinger (análoga ao acesso venoso central). Se disponível, usa-se a máscara laríngea antes de se obter a via aérea definitiva para melhorar a oxigenação. Cricotireoidostomia por punção: realizada com punção da membrana cricotireóidea, garantindo oxigenação por um período de cerca de 40 minutos. Tubo retroglótico: também chamado combitube, permite ventilar o paciente mas não protege a via aérea, sendo uma solução provisória como a máscara laríngea. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Intubação Orotraqueal
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