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Antibacterianos Antibióticos que inibem a síntese de parede celular Estrutura da parede celular bacteriana A maioria das bactérias é classificada como gram- positiva ou gram-negativa, dependendo se mudarem de coloração quando sujeitas à técnica de Gram. A parede celular dos microrganismos gram- positivos é uma estrutura relativamente simples, com cerca de 15 a 50 nm de espessura, englobando aproximadamente 50% de peptidoglicano, 40 a 45% de polímero acídico, bem como 5 a 10% de proteínas e polissacarídios. A superfície celular é altamente polarizada e tem carga elétrica negativa, e isso influencia a penetração de alguns antibióticos. A parede celular de microrganismos gram- negativos é muito mais complexa e consiste no seguinte (a partir da membrana plasmática): Um espaço periplásmico que contém enzimas e outros compostos; Uma camada de peptidoglicano com 2 nm de espessura, que representa 5% da massa da parede celular e que, com frequência, está ligada por lipoproteínas que se projetam para fora; Uma membrana externa constituída por uma camada dupla lipídica, em alguns aspectos semelhante à membrana plasmática, que contém proteínas e (no interior) lipoproteínas ligadas ao peptidoglicano. Outras proteínas formam canais aquosos transmembrana, denominados porinas, através dos quais alguns antibióticos hidrofílicos conseguem se movimentar livremente; Polissacarídios complexos que formam compostos importantes da membrana externa. Diferem entre espécies de bactérias e são os principais determinantes de seu potencial antigênico. Também são fonte de endotoxinas, um lipopolissacarídio que, quando aplicado in vivo, incita vários aspectos da resposta inflamatória ao ativar o complemento e as citocinas, causando febre e outros sintomas. A dificuldade em penetrar essa membrana exterior complexa explica o porquê de alguns antibióticos serem menos ativos contra bactérias gram- negativas do que em bactérias gram-positivas. Os lipopolissacarídios da membrana externa constituem uma barreira importante para alguns antibióticos, incluindo benzilpenicilina, meticilina, macrolídios, rifampicina, ácido fusídico e vancomicina. A parede celular das bactérias contém peptidoglicano, uma substância que não ocorre nos Farmacologia eucariontes e que contém D-aminoácidos e açúcares pouco usuais. Nas bactérias gram- negativas, este saco consiste em uma monocamada, mas nas bactérias gram-positivas pode haver até 40 camadas de peptidoglicano. Cada camada consiste em múltiplos esqueletos de aminoaçúcares – resíduos de N-acetilglicosamina alternados com ácido N-acetilmurâmico – tendo este último cadeias laterais peptídicas curtas que mantêm ligações cruzadas para formar uma rede polimérica. As ligações cruzadas diferem nas diversas espécies. Nos estafilococos, por exemplo, elas consistem em cinco resíduos de glicina. Para construir esta grande camada de peptidoglicano insolúvel no exterior da membrana celular, a célula bacteriana tem o problema de como transportar os “blocos de construção” citoplasmáticos hidrofílicos através da estrutura da membrana celular hidrofóbica. Isso é conseguido por meio de sua ligação a um grande transportador lipídico, contendo 55 átomos de carbono, que os “reboca” através da membrana. Primeiro, o ácido N-acetilmurâmico, ligado à uridina difosfato (UDP) e a um pentapeptídio. Esse peptídeo termina em d-alanil-d-alanina. Este complexo N- acetilmurâmico + pentapeptídeo é transferido para o transportador lipídico C55 na membrana, com a liberação de uridina monofosfato. Isso é seguido por uma reação com a UDP-N-acetilglicosamina, resultando na formação de um complexo dissacarídio pentapeptídio ligado ao transportador. Este complexo é um bloco de construção básico do peptidoglicano. No Staphylococcus aureus, os cinco resíduos de glicina são ligados à cadeia peptídica nesta fase. O bloco de construção é agora transportado para fora da célula e adicionado à extremidade terminal crescente do peptidoglicano, o “receptador”, com a liberação do lipídio C55, que ainda tem dois fosfatos ligados. O transportador lipídico perde, então, um grupo fosfato, tornando- se assim disponível para outro ciclo. A ligação cruzada entre as cadeias peptídicas laterais dos resíduos de açúcar na camada de peptidoglicano ocorre então, sendo a energia necessária fornecida pela remoção hidrolítica da terminal alanina. A proteína de ligação da penicilina (PBP, uma enzima) remove a alanina terminal no processo de formação de uma ligação cruzada com um peptídeo adjacente. As ligações cruzadas conferem à parede celular a sua rigidez estrutural. Esta síntese de peptidoglicano é um passo vulnerável que pode ser bloqueado em vários pontos pelos antibióticos. A ciclosserina, um análogo estrutural da D-alanina, previne a adição dos dois resíduos terminais de alanina à cadeia lateral tripeptídica inicial no ácido N-acetilmurâmico por inibição competitiva. A vancomicina inibe a liberação da unidade de bloco de construção do transportador, impedindo, assim, a sua adição à extremidade crescente do peptidoglicano. A bacitracina interfere na regeneração do transportador lipídico por meio do bloqueio da sua desfosforilação. Penicilinas, cefalosporinas e outros betalactâmicos inibem a transpeptidação final mediante formação de ligações covalentes com as proteínas de ligação à penicilina que têm atividade de transpeptidase e carboxipeptidase, impedindo, assim, a formação de ligações cruzadas. Os antibióticos que interferem na síntese da parede celular bacteriana (p. ex., penicilinas) ou inibem enzimas cruciais (como as quinolonas) geralmente matam as bactérias são chamados de bactericidas, enquanto aqueles que inibem a síntese proteica, como as tetraciclinas, tendem a ser bacteriostáticos, ou seja, previnem o crescimento e a replicação. Betalactâmicos Possuem um anel fechado, o anel betalactâmico. Todos os antibióticos betalactâmicos interferem na síntese do peptidoglicano. Depois de se fixarem às proteínas de ligação à penicilina nas bactérias (podem existir sete ou mais tipos em diferentes organismos), inibem as transpeptidases que cruzam as cadeias peptídicas ligadas à estrutura do peptidoglicano. A ação bactericida final é a inativação de um inibidor de enzimas autolíticas na parede celular, provocando a lise da bactéria. Todas as penicilinas apresentam um anel tiazolidínico (A) fixado a um anel β-lactâmico (B), que transporta um grupo amino secundário (RNH). A integridade estrutural do núcleo do ácido 6- aminopenicilânico (anéis A e B) é essencial para a atividade biológica desses compostos. Classificação 3 grupos: 1. Penicilinas (p. ex., penicilina G): exibem maior atividade contra microrganismos Gram- positivos, cocos Gram-negativos e anaeróbios não produtores de b-lactamase. Entretanto, apresentam pouca atividade contra bastonetes Gram-negativos e são sensíveis à hidrólise pelas b-lactamases. 2. Penicilinas antiestafilocócicas (p. ex., nafcilina): essas penicilinas mostram-se resistentes às b-lactamases estafilocócicas. Exibem atividade contra estafilococos e estreptococos, porém são inativas contra enterococos, bactérias anaeróbias e cocos e bastonetes Gram-negativos. 3. Penicilinas de espectro ampliado (aminopenicilinas e penicilinas antipseudomonas): esses fármacos conservam o espectro antibacteriano da penicilina e apresentam maior atividade contra microrganismos Gram-negativos. Entretanto, à semelhança da penicilina, mostram-se relativamente sensíveis à hidrólise pelas b- lactamases. As primeiras penicilinas foram a benzilpenicilina (penicilina G) e congêneres, incluindo a fenoximetilpenicilina (penicilina V). As principais desvantagens são a má absorção pelo sistema digestório(o que significa que tem de ser injetada) e sua suscetibilidade às betalactamases. As penicilinas semissintéticas, incluem penicilinas resistentes às betalactamases (p. ex., meticilina, flucloxacilina, temocilina) e penicilinas de amplo espectro (p. ex., ampicilina, amoxicilina). Pivmecilinam é um profármaco do mecilinam, que também apresenta amplo espectro de ação. Resistência A resistência às penicilinas e outros b-lactâmicos é produzida por um de quatro mecanismos gerais: (1) inativação do antibiótico pela b-lactamase; (2) modificação das PBP-alvo; (3) penetração reduzida do fármaco até as PBP- alvo; (4) efluxo do antibiótico. Algumas b-lactamases apresentam especificidade pelo substrato, enquanto outras possuem grande espectro de ação. A alteração das PBP-alvo constitui a base da resistência à meticilina nos estafilococos e à penicilina nos pneumococos e enterococos. Esses microrganismos resistentes produzem PBP, que exibem baixa afinidade de ligação aos antibióticos b-lactâmicos, de modo que não são inibidos, exceto na presença de altas concentrações do fármaco, as quais com frequência não podem ser alcançadas clinicamente. A resistência como resultado da penetração reduzida do antibiótico nas PBP-alvo só ocorre nas espécies Gram-negativas, devido à membrana externa impermeável de sua parede celular, que está ausente nas bactérias Gram-positivas. Os antibióticos b-lactâmicos atravessam a membrana externa e penetram nos microrganismos Gram- negativos por meio de canais de proteína da membrana externa, denominados porinas. A ausência do canal apropriado ou a infrarregulação de sua produção podem comprometer, de forma acentuada, a entrada do fármaco na célula. Os microrganismos Gram-negativos também produzem uma bomba de efluxo, que consiste em componentes proteicos citoplasmáticos e periplasmáticos que transportam de maneira eficiente alguns antibióticos b-lactâmicos do periplasma de volta à membrana externa. Farmacocinética A absorção oral das penicilinas varia, dependendo de sua estabilidade em meio ácido e de sua adsorção às partículas alimentares no intestino. A absorção gastrintestinal da nafcilina é errática, de modo que esse fármaco não é apropriado para administração oral. A dicloxacilina, a ampicilina e a amoxicilina são estáveis em ácido e relativamente bem absorvidas. As penicilinas também podem ser administradas por meio de injeção intravenosa. Também existem compostos para injeções intramusculares, incluindo compostos de ação prolongada como a benzilpenicilina benzatínica. A administração intravenosa de penicilina G é preferida à via intramuscular, devido à irritação e dor local produzidas pela injeção intramuscular de grandes doses. As penicilinas são amplamente distribuídas pelo corpo, penetrando nas articulações; nas cavidades pleural e pericárdica; na bile, saliva e leite; e através da placenta. Pelo fato de serem lipoinsolúveis, não penetram nas células dos mamíferos e apenas atravessam a barreira hematencefálica se as meninges estiverem inflamadas; nesse caso, podem atingir concentrações terapeuticamente efetivas no LCR. A meia-vida plasmática relativamente curta é um problema no uso clínico da benzilpenicilina, mas, como a penicilina funciona ao impedir a síntese da parede celular em microrganismos, a exposição intermitente e não contínua pode ser uma vantagem. As penicilinas benzatina e procaína são formuladas para retardar a absorção, resultando em concentrações prolongadas no sangue e nos tecidos. A penicilina é excretada pelos rins com rapidez, ao mesmo tempo em que pequenas quantidades são excretadas por outras vias. A secreção tubular responde por cerca de 90% da excreção renal. Efeitos adversos As penicilinas estão relativamente isentas de efeitos tóxicos diretos (exceto as convulsões quandoadministradas por via intratecal). Os efeitos adversos principais consistem em hipersensibilidade causada pelos compostos degradáveis da penicilina, que se combinam com as proteínas do hospedeiro e se tornam antigênicos. Erupções e febre são comuns; um tipo tardio de doença do soro ocorre raramente. Muito mais grave é o choque anafilático agudo, que pode, embora raro, ser fatal. Quando as penicilinas são administradas por via oral, em especial as de amplo espectro, alteram a flora bacteriana do intestino. Isso pode estar associado a distúrbios GI e, em alguns casos, a suprainfecções por outros microrganismos resistentes à penicilina, provocando problemas como a colite pseudomembranosa (causada por Clostridium difficile). Apresentam o mesmo mecanismo de ação das penicilinas. São mais estáveis em relação a muitas b-lactamases bacterianas e, portanto, exibem um espectro de atividade mais amplo. Todavia, cepas de E. coli e Klebsiella sp. que expressam b-lactamase de espectro ampliado capazes de hidrolisar a maioria das cefalosporinas representam um problema clínico crescente. Resistência A resistência a esse grupo de fármacos tem aumentado devido às betalactamases codificadas por plasmídios ou cromossomos (este último está presente em quase todas as bactérias gram- negativas). A resistência também ocorre quando há baixa penetração do fármaco como resultado de alterações nas proteínas da membrana exterior ou de mutações nas proteínas de ligação. As cefaloporinas são classificadas em quatro grandes grupos ou gerações, dependendo principalmente do espectro de atividade antimicrobiana. Cefalosporinas de 1ª geração As cefalosporinas de primeira geração consistem na cefazolina, cefadroxila, cefalexina, cefalotina, cefapirina e cefradina. Esses fármacos são muito ativos contra cocos Gram-positivos, como estreptococos e estafilococos. Farmacocinética A cefalexina, a cefradina e a cefadroxila são absorvidas em graus variáveis pelo intestino. Esses fármacos são excretados sobretudo por filtração glomerular e secreção tubular na urina. Os agentes que bloqueiam a secreção tubular, como a probenecida, podem aumentar consideravelmente os níveis séricos. Em pacientes com comprometimento da função renal, é necessário reduzir a dose. A cefazolina é a única cefalosporina parenteral de primeira geração ainda em uso geral. A cefazolina também pode ser administrada por via intramuscular. A excreção ocorre pelo rim, e é preciso efetuar um ajuste da dose em caso de comprometimento da função renal. Cefalosporinas de 2ª geração Os membros das cefalosporinas de segunda geração incluem o cefaclor, o cefamandol, a cefonicida, a cefuroxima, a cefprozila, o loracarbefe e a ceforamida, bem como as cefamicinas estruturalmente relacionadas, cefoxitina, cefmetazol e cefotetana, que possuem atividade contra anaeróbios. mostram-se ativas contra microrganismos inibidos por fármacos de primeira geração; todavia, além disso, proporcionam uma cobertura ampliada contra microrganismos Gram-negativos. Farmacocinética O cefaclor, a axetilcefuroxima, a cefprozila e o loracarbefe podem ser administrados por via oral. A administração intramuscular é dolorosa e deve ser evitada. Todas as cefalosporinas de segunda geração são depuradas pelos rins e exigem um ajuste nas doses na presença de insuficiência renal. Cefalosporinas de 3ª geração Os agentes de terceira geração incluem cefoperazona, cefotaxima, ceftazidima, ceftizoxima, ceftriaxona, cefixima, cefpodoxima proxetila, cefdinir, cefditoreno pivoxila, ceftibuteno e moxalactam. Em comparação com os agentes de segunda geração, esses fármacos proporcionam uma cobertura ampliada contra microrganismos Gram- negativos, e alguns deles têm a capacidade de atravessar a barreira hematencefálica. Essas cefalosporinas também são efetivas contra cepas de Haemophilus e Neisseria produtoras de b- lactamase. Farmacocinética As cefalosporinasde terceira geração penetram bem nos líquidos e tecidos corporais e, à exceção da cefoperazona e de todas as cefalosporinas orais, alcançam níveis no líquido cerebrospinal suficientes para inibir a maioria dos patógenos sensíveis. A ceftriaxona intramuscular, atualmente usada em associação com outro antibiótico, constitui o fármaco de escolha no tratamento das infecções gonocócicas. A excreção de cefoperazona e ceftriaxona ocorre principalmente pelo trato biliar, e não há necessidade de ajuste da dose na presença de insuficiência renal. Os outros fármacos são excretados pelo rim e, portanto, exigem um ajuste da dose em caso de insuficiência renal. Cefalosporinas de 4ª geração A cefepima é um exemplo de cefalosporina de quarta geração. É mais resistente à hidrólise por b- lactamases cromossômicas (p. ex., aquelas produzidas por Enterobacter). Entretanto, à semelhança dos compostos de terceira geração, é hidrolisada por b-lactamase de espectro ampliado. A cefepima apresenta boa atividade contra P. aeruginosa, Enterobacteriaceae, S. aureus e S. pneumoniae. Mostra-se altamente ativa contra Haemophilus sp. e Neisseria sp. Penetra bem no líquido cerebrospinal, é depurada pelos rins e apresenta meia-vida de 2 horas; suas propriedades farmacocinéticas assemelham-se bastante às da ceftazidima. Entretanto, ao contrário desta, a cefepima tem boa atividade contra a maioria das cepas de estreptococos não sensíveis à penicilina e mostra-se útil no tratamento das infecções causadas por Enterobacter. Reações adversas Podem ocorrer reações de hipersensibilidade muito semelhantes às que ocorrem com as penicilinas, e pode haver alguma sensibilidade cruzada; cerca de 10% dos indivíduos sensíveis à penicilina apresentarão reação alérgica às cefalosporinas. Foi relatada nefrotoxicidade (especialmente com cefadrina), uma vez que existe intolerância ao álcool induzida pelo fármaco. A diarreia também é comum e pode ser causada por C. difficile. Imipeném: Apresenta espectro muito amplo de atividade antimicrobiana e é ativo em muitos microrganismos gram-positivos e gram-negativos aeróbios e anaeróbios. Mostra-se resistente à maioria das b-lactamases, mas não às carbapenemases ou metalo-b-lactamases. O imipeném é inativado por desidropeptidases nos túbulos renais, resultando em baixas concentrações urinárias. Por conseguinte, é administrado em associação com um inibidor da desidropeptidase renal, a cilastatina, para uso clínico. Administrada via intravenosa Doripeném e o meropeném: assemelham-se ao imipeném, porém exibem atividade um pouco maior contra aeróbios Gram-negativos e um pouco menor contra microrganismos Gram-positivos. Não sofrem degradação significativa pela desidropeptidase renal e não necessitam de inibidor. A dose habitual de meropeném para adultos é de 0,5 a 1 g por via intravenosa, a cada 8 horas. A dose habitual de doripeném para adultos é de 0,5 g na forma de infusão que deve durar de 1 a 4 horas, a cada 8 horas. Ertapeném é menos ativo do que os outros carbapenêmicos contra P. aeruginosa e espécies de Acinetobacter. Não é degradado pela desidropeptidase renal. O ertapeném, que apresenta a meia-vida mais longa (4 horas), é administrado em dose única diária por via intravenosa ou intramuscular. O ertapeném intramuscular é irritante, e o fármaco é formulado com lidocaína a 1% para administração por essa via. O ertapeném não é ativo suficiente contra P. aeruginosa, razão pela qual não deve ser um usado no tratamento de infecções causadas por esse microrganismo. Os carbapenêmicos penetram adequadamente nos tecidos e líquidos corporais, inclusive no líquido cerebrospinal. Indica-se o uso de um carbapenêmico para o tratamento de infecções causadas por microrganismos sensíveis que são resistentes a outros fármacos disponíveis, como P. aeruginosa, e de infecções aeróbias e anaeróbias mistas. Os carbapenêmicos são ativos contra numerosas cepas de pneumococos não sensíveis à penicilina. Os carbapenêmicos são altamente ativos no tratamento de infecções por Enterobacter, visto que resistem à destruição pela b-lactamase produzida por esses microrganismos. A experiência clínica sugere que os carbapenêmicos constituem o tratamento de escolha para as infecções causadas por bactérias Gram-negativas produtoras de b-lactamase de espectro ampliado. Efeitos adversos Os efeitos adversos mais comuns dos carbapenêmicos – que tendem a ser mais frequentes com o imipeném – consistem em náuseas, vômitos, diarreia, exantemas cutâneos e reações no local de infusão. A ocorrência de níveis excessivos de imipeném em pacientes com insuficiência renal pode provocar crises convulsivas. O meropeném, o doripeném e o ertapeném têm menos tendência a causar convulsões do que o imipeném. Os pacientes alérgicos às penicilinas podem ser alérgicos aos carbapenêmicos, porém a incidência de reatividade cruzada é baixa. Seu espectro de atividade limita-se a bastonetes Gram-negativos aeróbios (inclusive P. aeruginosa). Diferentemente de outros antibióticos b- lactâmicos, não apresentam nenhuma atividade contra bactérias Gram-positivas ou contra anaeróbios. Aztreonam: é resistente à maioria das betalactamases. É administrado por injeção e tem meia-vida plasmática de 2 horas. O aztreonam tem um espectro de atividade incomum e é efetivo apenas contra bacilos gram-negativos aeróbios, como as espécies de Pseudomonas, Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae. Não tem ação contra microrganismos gram-positivos ou anaeróbios. seu espectro contra microrganismos. O fármaco tem boa penetração no líquido cerebrospinal. Efeitos adversos São, de forma geral, semelhantes aos de outros antibióticos betalactâmicos, porém esse agente não apresenta necessariamente reação imunológica cruzada com a penicilina e seus subprodutos e, assim, não provoca, habitualmente, reação alérgica em indivíduos sensíveis à penicilina. Glicopeptídeos A vancomicina é um antibiótico produzido pelo Streptococcus orientalis e Amycolatopsis orientalis. É ativa apenas contra bactérias Gram- positivas. Mecanismos de ação A vancomicina inibe a síntese da parede celular por meio de sua ligação firme à extremidade terminal d-Ala-d-Ala do pentapeptídeo peptoglicano nascente. Essa ligação inibe a transglicosilase, impedindo o alongamento do peptidoglicano e a ligação cruzada. Em consequência, o peptidoglicano fica enfraquecido, e a célula torna- se suscetível à lise. A membrana celular também é danificada, contribuindo para o efeito antibacteriano. Resistência A resistência à vancomicina nos enterococos deve- se a uma modificação d-Ala-d-Ala da unidade de formação do peptidoglicano, em que a d-Ala terminal é substituída por d-lactato. Essa alteração resulta na perda de uma ligação de hidrogênio crítica, que facilita a ligação de alta afinidade da vancomicina a seu alvo, com perda da atividade. Esse mecanismo também é observado em cepas de S. aureus resistentes à vancomicina. O mecanismo subjacente na redução da sensibilidade à vancomicina em cepas de S. aureus de resistência intermediária não está totalmente elucidado. Todavia, essas cepas apresentam uma alteração do metabolismo da parede celular, que resulta em espessamento dessa parede, com número aumentado de resíduos de d-Ala-d-Ala, que atuam como sítios de ligação de extremidade fechada para a vancomicina. A vancomicina é sequestrada dentro da parede celular pelos alvos falsos e talvez não alcance seu local de ação. Farmacocinética A vancomicina é pouco absorvida pelo trato intestinal e administrada apenas por via oral para o tratamento da colite causada por C. difficile. As doses parenterais devem ser administradas por via intravenosa. O fármaco distribui-se amplamente pelo corpo. Ocorre excreçãode 90% do fármaco por filtração glomerular. Na presença de insuficiência renal, pode ocorrer acúmulo acentuado de vancomicina. Usos clínicos As principais indicações da vancomicina parenteral consistem em infecções da corrente sanguínea e endocardite causada por estafilococos resistentes à meticilina. A vancomicina oral pode ser usada como tratamento de primeira linha para casos graves de colite causada por C. difficile ou que não respondem ao metronidazol. Efeitos adversos Incluem febre, eritemas e flebite no local de infusão. Podem ocorrer ototoxicidade e nefrotoxicidade, e as reações de hipersensibilidade são ocasionalmente observadas. A teicoplanina é um antibiótico glicopeptídico muito semelhante à vancomicina no seu mecanismo de ação e espectro antibacteriano. Ao contrário da vancomicina, pode ser administrada por via intramuscular, bem como por via intravenosa. A teicoplanina apresenta uma meia- vida longa (45 a 70 horas), possibilitando a sua administração em dose única por dia. Apresenta baixa penetração na barreira liquórica. Reações adversas em até 5% dos casos: reações cutâneas e disfunções hepáticas transitórias e possui menor risco de síndrome do pescoço vermelho, nefrotoxicidade e ototoxicidade, se comparada a vancomicina. Um lipoglicopeptídeo semissintético derivado da vancomicina. A telavancina mostra-se ativa contra bactérias Gram-positivas. A telavancina apresenta dois mecanismos de ação: inibe a síntese da parede celular por meio de sua ligação à extremidade terminal d-Ala-d-Ala do peptidoglicano na parede celular em crescimento; e altera o potencial de membrana da célula bacteriana e aumenta a permeabilidade da membrana. Sua administração é via intravenosa 1 vez por dia. O fármaco foi aprovado para o tratamento das infecções complicadas da pele e dos tecidos moles e da pneumonia hospitalar. A telavancina é potencialmente teratogênica, de modo que a sua administração a mulheres grávidas deve ser evitada. É um lipoglicopeptídeo semissintético derivado da teicoplanina. A dalbavancina compartilha o mesmo mecanismo de ação da vancomicina e da teicoplanina, porém apresenta melhor atividade contra inúmeras bactérias Gram-positivas, inclusive S. aureus resistente à meticilina e de resistência intermediária à vancomicina. A dalbavancina não é ativa contra a maioria das cepas de enterococos resistentes à vancomicina. A dalbavancina tem uma meia-vida extremamente longa, de 6 a 11 dias, possibilitando a sua administração intravenosa uma vez por semana. Foi estudada para o tratamento das infecções da pele e dos tecidos moles e infecções da corrente sanguínea associadas a cateter. A daptomicina é um novo produto de fermentação do lipopeptídeo cíclico do Streptomyces roseosporus. Seu espectro de atividade assemelha- se ao da vancomicina, exceto pela possibilidade de ser ativa contra cepas de enterococos e S. aureus resistentes à vancomicina. A daptomicina liga-se à membrana citoplasmática e, em seguida, forma complexos de maneira dependente de cálcio. A formação de complexos provoca uma rápida perda do potássio celular, possivelmente pela formação de poros, bem como despolarização da membrana. Esse processo é seguido de interrupção na síntese de DNA, RNA e proteína, levando à morte celular. Não ocorre lise celular. A daptomicina pode causar miopatia, e os níveis de creatina fosfocinase devem ser monitorados semanalmente. O surfactante pulmonar antagoniza a daptomicina, razão pela qual não deve ser usada no tratamento da pneumonia. A daptomicina também pode causar pneumonite alérgica em pacientes que recebem terapia prolongada (mais de duas semanas). É um sal estável da fosfomicina (fosfonomicina) e análogo do fosfoenolpiruvato. A fosfomicina inibe a enzima citoplasmática, a enolpiruvato transferase, por meio de sua ligação covalente ao resíduo de cisteína do sítio ativo e por meio do bloqueio da adição do fosfoenolpiruvato à UDP-N- acetilglicosamina. Essa reação constitui a primeira etapa na formação do ácido UDP-N- acetilmurâmico, o precursor do ácido N- acetilmurâmico, encontrado apenas nas paredes celulares bacterianas. O fármaco é transportado para dentro da célula bacteriana por sistemas de transporte de glicerofosfato ou de glicose 6-fosfato. A resistência deve-se ao transporte inadequado do fármaco para o interior da célula. Mostra-se ativa contra microrganismos tanto Gram-positivos como Gram-negativos. A fosfomicina está aprovada para uso em dose única de 3 g no tratamento das infecções não complicadas do trato urinário inferior em mulheres. Pode ser administrada VO ou parenteral. O fármaco parece seguro para uso durante a gravidez. A bacitracina é uma mistura peptídica cíclica obtida da cepa Tracy do Bacillus subtilis. Mostra- se ativa contra microrganismos Gram-positivos. A bacitracina inibe a formação da parede celular ao interferir na desfosforilação no ciclo do transportador lipídico, que transfere subunidades de peptidoglicano à parede celular em crescimento. Não há resistência cruzada entre a bacitracina e outros agentes antimicrobianos. A bacitracina é muito nefrotóxica quando administrada por via sistêmica, sendo utilizada apenas topicamente. A bacitracina é pouco absorvida. A aplicação tópica resulta em atividade antibacteriana local. A ciclosserina é um antibiótico produzido por Streptomyces orchidaceous. É hidrossolúvel e muito instável em pH ácido. Inibe vários microrganismos Gram-positivos e Gram- negativos, porém é usada quase exclusivamente na tuberculose causada por cepas de Mycobacterium tuberculosis resistentes aos agentes de primeira linha. A ciclosserina é um análogo estrutural da d-alanina e inibe a incorporação da d-alanina no pentapetídeo proteoglicano ao inibir a alanina racemase, que converte a l-alanina em d-alanina, e a d-alanil-d- alanina ligase. A ciclosserina provoca grave toxicidade do sistema nervoso central relacionada com a dose, com cefaleias, tremores, psicose aguda e convulsões.
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