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Micoses superficiais e cutâneas

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Julia Barcelos Braglia
Medicina – FURG – ATM 2024
Micoses superficiais e cutâneas
Micoses superficiais
· Pouca ou nenhuma reação inflamatória (pois é muito superficial)
· Assintomáticas
· Prejuízo basicamente estético (mas existem casos mais graves, mais disseminados, que faz com que o prejuízo estético comece a afetar a qualidade de vida do paciente)
· Problemas dermatológicos sem complicações sistêmicas
Piedra branca
· Trichosporon spp.
· Raras
· Nódulos brancos, mais fáceis de serem destacados
· Causada por fungo leveduriforme
· Exame micológico direto: KOH (hidróxido de potássio), reagente que tem como função clarificar (porque degrada queratina, então veremos o nódulo com várias células fúngicas ali)
Piedra negra
· Piedrae hortae
· Raras
· Nódulos pretos, escuros (é demáceo, tem bastante melanina na parede), fortemente aderidos à haste do pelo
· Causada por fungo filamentoso, já tem hifas penetrando nesse interior do fio do cabelo
Tínea nigra
· Hortae werneckii, Exophiala werneckii, Phaeoanellomyces werneckii
· Levedura negra, com o tempo tende a filamentizar
· Pseudohifas e blastoconídeos demáceos
· Reprodução por divisão binária
· Habitar: ambiente com alta salinidade (praias, regiões litorâneas)
· Acomete estrato córneo
· Manchas escurecidas, enegrecidas, hiperpigmentadas (fungo demáceo, grande quantidade de melanina na parede do fungo), de bordos mais irregulares, principalmente na palma da mão e sola do pé
· Sem edema, sem eritema, sem reação inflamatória
· Diagnóstico diferencial de melanoma
Pitiríase versicolor
· Micose de praia, ou pano branco
· Lesões hipocrômicas ou hipercrômicas, levemente descamativas, pequenas, circunscritas, que as vezes confluem
· Dorso, membros superiores, costas
· Alta taxa de recorrência
· Agente etiológico: leveduras do gênero Malassezia (principais espécies: M. furfur, M. sympodialis, M. globosa...)
· Fungos leveduriformes, textura mais seca
· Microbiologia: blastoconídeos pequenos, que gemulam unipolar em base larga, que dão aspecto de pino de boliche
· Fungo que faz parte da nossa microbiota
· Características essenciais pra patogenicidade: lipofílicas e lipodependentes (grande quantidade de sebo: pele, couro cabeludo)
· Existe uma única espécie que é lipofílica, mas não é lipodependente: pachydermatis (é uma levedura zoofílica, que faz parte da microbiota de cães, que é transmitida para o ser humano)
· Desequilíbrio
· Liberam várias enzimas, que fazem peroxidação lipídica, que leva a produção de radicais livres, que causam dano tecidual tanto em queratinócito (descamação) quanto em melanócito
· Além disso, existe outro mecanismo associado a peroxidação lipídica, que é a produção de alguns ácidos dicarboxílicos (principalmente o ác. Zelaico), que inibem a enzima tirosinase, que faz síntese de melanina, levando então a um prejuízo na síntese de melanina
· A cura microbiológica precede a cura clínica (demora um pouco pra voltar a produção de melanina e repigmentar as lesões)
· Fatores predisponentes: predisposição genérica, idade (15 a 35 anos: maior produção de sebo pelas glândulas sebáceas), infecções crônicas, gestação, sudorese excessiva, temperatura elevada, estado nutricional, uso de óleos na pele, uso de antibacteriano tópico
· Diagnóstico muitas vezes é clínico
· Diagnóstico laboratorial: raspado de pele ou técnica da fita adesiva
· Blastoconídeos, geralmente agrupados, hifas curtas, curvas e irregulares (aspecto de espaguete com almôndegas)
· Pra saber a espécie precisa fazer cultivo
· Como precisa de lipídios, precisa de um meio específico com grande aporte de lipídio
· Além da pitiríase versicolor, a malassezia está envolvida em várias outras doenças: caspa, dermatite seborreica, foliculite, onicomicose, fungemia...
Micoses cutâneas
Dermatofitoses (sinônimo)
· Popularmente chamada de tinha ou impingem
· Doenças cutâneas: já tem acometimento de epiderme e de folículo piloso
· Doença fúngica infecto contagiosa, transmitida de pessoa pra pessoa (ou animal)
· Grupo de fungos filamentosos queratinofílicos e queratinolíticos (grandes produtores de queratinases, enzimas que degradam queratina)
· Importantes decompositores
· Composto por 3 gêneros fúngicos: Epidermophyton, Trichophyton, Microsporum
· Existem cerca de 40 espécies, mas a grande maioria das dermatofitoses são causadas por: M. canis, M. gypseum, T. mentagrophytes, T. rubrum, T. tonsurans e E. floccosum
· Antropofílicos: Epidermophyton floccosum, Trichophyton rubrum
· Transmissão: tanto por contato direto da pessoa infectada com a pessoa sadia, como por contato indireto (lixa de unha, alicate, meia, sapatos, escovas de cabelo, toalhas...)
· Geofílicos
· Habitat principal é no solo
· Microsporum gypseum 
· Caixa de areia de parquinho
· Zoofílicos
· Habitat principal: animais
· T. verrucosum (associado a ruminantes) e M. canis (principal, gatos)
· Patogenia: associado a produção de queratinases. Ele vem de uma fonte exógena, se adere ao estrato córneo, secreta proteases, queratinases, fosfolipases e outras moléculas que permitem essa adesão, e começa a germinar formando hifas que vão penetrando no tecido até chegar nas camadas mais internas.
· Tem reação inflamatória, que aumenta ainda mais a lesão em si
· Dependendo do sítio anatômico em que essa lesão aparece ela recebe diferentes denominações:
· Tinea capitis: couro cabeludo
· Maior incidência em crianças (4 a 12 anos)
· M. canis (principal agente etiológico): zoonótico
· T. tonsurans: antropofílico
· Não compartilhar toalha, pente, escova...
· Penetra o folículo piloso e degrada a queratina da base do pelo, fazendo com que ele cresça de forma muito frágil, quebradiço. Fazendo com que haja uma área de alopecia
· Lesão seca, descamativa, alopécica e circular
· Crescimento centrífugo do fungo
· Tinea barbae: barba
· Jovens de áreas rurais
· Foliculite
· T. mentagrophytes 
· T. verrucosum (zoofílico de ruminantes)
· Tinea pedis/manum: pé ou mão
· Pé de atleta
· Intertriginosa: na junção interdigital, em dobras
· Desidrótica ou vesiculobolhosa
· Escamosa
· Compartilhamento de meias, botas, objetos pessoais
· Tinea cruris: região inguinal
· Homens (18 a 30 anos): atrito constante pela questão anatômica, que leva a uma maceração desse tecido
· Essa maceração junto com umidade e temperatura ideal aumentam a pré disposição pra um fungo vindo de forma exógena consiguir se aderir
· Lesão circular, com borda bem inflamatória e evidente
· Agentes antropofílicos: Trichophyton rubrum, T. mentagrophytes
· Compartilhamento de itens de higiene pessoal
· Tinea corporis: tecido cutâneo em geral
· Lesão circular, com crescimento centrífugo e borda inflamatória
· Podem confluir
· As bordas inflamatórias podem ter pequenas vesículas, fazendo com que a doença seja chamada as vezes de herpes sincinada
· Quando a dermatofitose é por dermatófito não antropofílico, a tendência é que a lesão seja um pouco mais grave, com processo inflamatório mais evidente (já que os fungos são mais filogeneticamente distantes do seu habitat)
· Tinea ungueal: onicomicose
· Mais comum: lateral distal subungueal
· Proximal subungueal: relacionada ao HIV
· Branco superficial: menos comum
· Podem evoluir pra onicodistrodia
· Antropofílicos: T. rubrum, T. mentagrophytes
· Transmissão direto ou indireto, compartilhamento de itens de higiene pessão
· Mudança da coloração da unha, que tende a ficar mais esbranquiçada ou amarelada, descamação, fragilidade e descolamento do leito ungueal
· Diagnóstico laboratorial: bordas da lesão, raspado de pele/unha, avulsão de pelos
· Exame direto: KOH 20 a 40 por cento emaranhado de hifas
· Fungo filamentoso (hifas), e hialino
· Aqui fechamos o diagnóstico de dermatofitose, não sabemos quem é o dermatófito (só vê hifas)
· Cultivo: pra saber quem é o dermatófito, precisa do cultivo
· Deposita os fragmentos de escama ou o cabelo no meio de cultivo (ágar) e aí vai crescer
· Todos têm crescimento de moderado a lento (no mínimo 5 a 7 dias)
· Macro e micromorfologia
· Tem que retirar a fonte de infecção: tratar os animais de estimação, aumentar medidasde higiene, não compartilhar objetos pessoais
· Trichophyton rubrum: tem um pigmento solúvel rubro (bem vermelho). Principal agente da ornicomicose e de dermatofitoses em geral. Microscopia: microconídeos em formato de gota em ziguezague na hifa
· Trichophyton mentagrophytes: bem parecido com o rubrum, tem hifa espirada
· Microsporum gypseum: aspecto farináceo na macro, tem macroconídeos na micromorfologia
· Microsporum canis: tende a formar pigmento solúvel amarelo gema bem forte, macroconídeo bem típico, rugoso, com vários septos, fusiforme
· Epidermophyton floccosum: micélio aéreo mais escasso, macroconídeos em formato de dedo de luva
Candidoses: ou candidíase
· Etiologia: Leveduras do gênero Candida
· Unicelular, com blastoconídeos, pleomórfica (leveduriforme, com capacidade de formar estruturas tubulares, pseudohifas e hifas)
· Faz parte da nossa microbiota (doença endógena): TGI completo da boca ao ânus, pele
· Mais de 150 espécies de cândida (principal: C. albicans)
· O que leva à patogenia é o desequilíbrio
· Ativação do sistema imune e reação inflamatória que aumenta ainda mais a lesão
· Principal toxina produzida: candidalisina (causa dano celular), também tem lipases, fosfolipases, proteases e é alta produtora de biofilmes
· Pacientes imunossuprimidos
· Apresentações clínicas:
· Candidíase intertriginosa das dobras: 
· Diagnóstico diferencial com dermatofitoses
· Candidíase tende a ter muito prurido
· Lesões satélites na candidíase, área toda inflamatória e eritematosa (não só a borda)
· Dermatite das fraldas: umidade, temperatura, acidez da urina
· Raspado: blastoconídeos
· Candidíase oral:
· Sapinho: aguda (pseudomembranas esbranquiçadas e cremosas em toda a mucosa oral), acontece porque os bebês nascem com uma microbiota oral que ainda não está formada e em equilíbrio. Lesões leves, com pequena resposta inflamatória.
· Crônica: placas crostosas e opacas, associada a indivíduos adultos com leucopenia. Marcadora de imunossupressão (80% dos pacientes com AIDS)
· Vaginite, balanite
· Vulvovaginite: mulheres (25% dos casos de vaginite, extremamente comum)
· Balanopostite: homens (bem menor taxa de incidência)
· Doença endógena
· C. albicans
· Sintomatologia: muito prurido, leucorreia (corrimento), disúria (fissura e inflamação), ardência, fissuras
· Não tende a fazer infecção ascendente e fazer infecção urinária
· Predominância feminina por questão anatômica: proximidade genital anal
· Fatores de risco: aumento na disposição de glicogênio (aumento no substrato pra nutrição), diabetes, gestação, uso de estrógenos em altas doses, imunossupressão, corticosteroides ou uso de antibióticos, DIU, uso de roupas oclusivas (aumenta temperatura e umidade)
· Candidíase mucocutânea crônica
· Distúrbio imunológico congênito ou endócrino
· Infecções persistentes ou recorrentes por C. albicans
· Envolvimento de mucosa e intertriginosa 
· Pacientes com alteração endócrina
· Paroníquia: 
· Diagnóstico diferencial com dermatofitoses
· Onicomicose
· De proximal a distal
· Tende a causar grande reação inflamatória na cutícula: paroníquea
· C. albicans e C. parapsilosis
· Unhas das mãos: ocupacional (pessoas que passam muito tempo com as mãos submersas: lavadeiras, cozinheiras...)
· Esofagite
· Imunossuprimidos
· Sintomatologia: azia, sensação de queimação, dificuldade de deglutição
· Placas
· Colônias leveduriformes bem aderidas em todo o esôfago
· Quando a cândida está em alta carga fúngica no TGI, ela consegue translocar pra corrente sanguínea
· Candidíase invasiva/candidamia: quadros graves
· Diagnóstico laboratorial: 
· Esfregaço ou raspado: sabemos que é cândida, pra saber qual tem que fazer testes bioquímicos
· Cultivo identificação: C. albicans X C. não albicans
· Prova do tubo germinativo
· Meios cromogênicos
· Em formas graves é extremamente importante que a espécie seja identificada
· Microcultivo em ágar fubá ou arroz (meio pobre pra estimular a formação de estrutura de resistência): única forma que forma estrutura de resistência (clamidoconídeos)
· Não albicans: só por provas bioquímicas (principalmente métodos automatizados)

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