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Glomerulopatias 1 Glomerulopatias Tags Conceitos Gerais As células mesangiais em azul servem para dar sustentação ao glomérulo. O endotélio (em vermelho) circunda o lúmen do capilar, esse endotélio é fenestrado, facilitando a passagem de substâncias que são absorvidas. Em verde vê- se a membrana basal glomerular, essa membrana tem função quanto de arquitetura, como tbm de barreira Glomerulopatias 2 De laranja, vê-se os podócitos que tbm atua como barreira, geralmente, a forma de de barreira dele é iônica. Entre o podócito e a cápsula de Bowman, tem-se o espaço de Bowman que é diretamente ligado nos túbulos renais. Quando se fala de glomerulopatia de deve-se ter em mente quantos glomérulos foram acometidos e quantidade de segmento do glomérulo que foi acometido. Deve-se ter em mente a o acometimento histológico e a localização desse acometimento. Glomerulopatias 3 Síndrome Nefrítica ou Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA) Definição A síndrome nefrítica pode ser entendida como sendo o conjunto de sinais e sintomas que surgem quando um indivíduo tem os seus glomérulos renais envolvidos por um processo inflamatório agudo, sendo obrigatória a ocorrência de hematúria glomerular. As outras manifestações são a proteinúria subnefrótica 3,5 g/dia), edema leve e hipertensão arterial. Síndrome nefrítica: Hematúria dismórfica (glomerular) - critério obrigatório Proteinúria subnefrótica Hipertensão arterial Edema leve Oligúria → A redução do débito urinário provoca retenção volêmica, justificando o edema generalizado e a hipertensão arterial. Graus variados de injúria renal aguda TFG normal ou reduzida) HEMATÚRIA A hematúria tem origem nos glomérulos comprometidos, sendo o sinal mais característico e mais comum da síndrome nefrítica, devendo ser esperada na imensa maioria das vezes, na forma macro ou microscópica. A hematúria é detectada pelo exame do sedimento urinário EAS. As hematúrias de origem glomerular possuem características microscópicas especiais, que as diferenciam das hematúrias que se originam em outros locais que não os glomérulos, como as que resultam de lesões nos túbulos, pelve renal, ureteres, bexiga, próstata e uretra... Quando as hemácias encontradas no sedimento urinário são de origem glomerular, elas estão quase sempre Glomerulopatias 4 deformadas, fragmentadas e hipocrômicas, num fenômeno conhecido como dismorfismo eritrocitário. Mas por que a hematúria da Glomerulonefrite Aguda acaba sendo composta por hemácias dismórficas? A hematúria de origem glomerular resulta da migração de hemácias através de “rupturas” ou “fendas” que surgem nas alças capilares dos glomérulos “inflamados”. As hemácias vão do interior dos glomérulos para o sistema tubular, e se deformam ao passarem por estes poros estreitos Além do dismorfismo eritrocitário e da presença de cilindros hemáticos, o sedimento urinário da síndrome nefrítica comumente revela piúria (leucocitúria) e cilindros leucocitários, deixando evidente a natureza inflamatória do processo.. A eliminação destes cilindros celulares na urina é um indício importante de que a lesão renal se localiza no parênquima renal (glomérulos ou túbulos). No caso dos cilindros hemáticos, a localização da injúria, até se prove o contrário, é glomerular. PROTEINÚRIA A proteinúria é outro achado comum da GNDA, aparecendo em função de alguns fenômenos, como alterações da permeabilidade e rupturas mecânicas na parede dos glomérulos comprometidos. Diz-se que há proteinúria quando os níveis de proteína na urina ultrapassam 150 mg/ dia. Na síndrome nefrítica pura, esta proteinúria não costuma atingir níveis acima de 3,5 g/dia (considerados “nefróticos”), e, tipicamente, é do tipo não seletiva. OLIGÚRIA Glomerulopatias 5 A oligúria deve ser entendida como resultante do prejuízo da superfície de filtração dos glomérulos, devido, principalmente, à invasão pelas células inflamatórias e à contração do espaço mesangial. Como os glomérulos filtram menos, sobrevêm retenção hidrossalina e, nos casos mais graves, azotemia. A retenção volêmica provoca hipertensão arterial e edema generalizado (anasarca). Uma prova de que o edema da síndrome nefrítica é decorrente da retenção renal primária é a presença de níveis plasmáticos de renina consistentemente baixos. Por ser nefrogênico, o edema também acomete a região periorbitária. Patogênese resumida Na síndrome nefrítica, anticorpos se ligam a antígenos localizados no glomérulo ou imunocomplexos (anticorpos já ligados ao antígeno) se depositam diretamente no glomérulo, iniciando um processo inflamatório, com recrutamento de leucócitos, liberação de citocinas e/ou ativação da cascata de complemento. O dano à barreira de filtração glomerular abre soluções de continuidade, permitindo a passagem de células (hemácias e leucócitos) e proteínas. Daí o surgimento de hematúria glomerular e proteinúria. Como a hemácia tem a capacidade de se deformar para poder passar por capilares com diâmetro muito reduzido, ela atravessa as fendas na barreira de filtração glomerular se deformando. Por isso a hematúria é dismórfica, ou seja, tem hemácias com formatos aberrantes. Eventualmente, o aglomerado de hemácias que passa através do túbulo pode se agregar devido à presença de uma proteína adesiva ( proteína de Tamm-Hosrfall), formando um cilindro hemático. A presença desse cilindro é patognomônico de uma glomerulonefrite. O processo inflamatório obstrui o endotélio fenestrado, reduzindo a capacidade filtração glomerular e de excreção de sódio. Como a ingesta de sódio do indivíduo continua igual, passa a existir um balanço positivo de sódio ( sódio da dieta > excreção renal de sódio), o que leva a um aumento da pressão hidrostática na circulação sanguínea. A consequência é a formação de edema e o surgimento de HAS. Se a queda da filtração glomerular for muito significativa, ocorrerá azotemia e retenção de escórias nitrogenadas (azotemia). Glomerulopatias 6 CAUSAS DE SÍNDROME NEFRÍTICA Em termos de patogenia, podemos afirmar que mais de 70% dos casos de GNDA são decorrentes da deposição glomerular de Imunocomplexos, contendo imunoglobulinas IgG, IgM ou IgA e fatores do complemento C3. Tais imunocomplexos aparecem na biópsia renal, quando se faz a imunofluorescência indireta. Possuem o aspecto granular . Menos de 30% dos casos de síndrome nefrítica aguda cursam sem imunocomplexos na biópsia, sendo, portanto, casos de glomerulonefrite pauci-imune, geralmente relacionados à positividade do autoanticorpo ANCA. Glomerulopatias 7 GLOMERULONEFRITE AGUDA PÓS ESTREPTOCÓCICA GNPE ''A GNPE é o protótipo das Glomerulonefrites Difusas Agudas GNDA'' Sabemos que, em crianças, a GNPE é a causa mais frequente de GNDA! Atualmente, a maioria dos casos (cerca de 97% acontece em países pobres. Definição A GNPE deve ser encarada como uma sequela renal tardia de uma infecção por cepas específicas do estreptococo beta-hemolítico do grupo A (ou Streptococcus pyogenes). Glomerulopatias 8 As chamadas cepas “nefritogênicas” podem estar presentes numa piodermite estreptocócica, como impetigo crostoso ou erisipela ou numa faringoamigdalite. O período de incubação (infecção-nefrite), quando a via é a orofaringe, costuma ficar entre 721 dias (média: 10 dias), enquanto para a via cutânea fica entre 15 28 dias (média: 21 dias). Epidemiologia Embora possa acometer indivíduos de qualquer idade, a GNPE é tipicamente uma doença de crianças e adolescentes, ocorrendo mais frequentemente entre 2 e 15 anos, acompanhando a epidemiologia da estreptococcia: faixa pré-escolar 2 6 anos) para a piodermite e faixa escolar e adolescência 615 anos) para a infecção orofaríngea. A incidência é maior em meninos do que meninas 21. Glomerulopatias 9 Glomerulopatias 10 Patogênese Ocorre deposição de imunocomplexos nos glomérulos, o que ativa a cascata do complemento resultando em inflamação local. Existem 4 modos pelos quaisos glomérulos podem ser ''atacados'' por imunocomplexos: Deposição de imunocomplexos circulantes, formados no sangue por anticorpos do paciente + antígenos estreptocócico. Formação de imunocomplexos in situ, isto é, antígenos estreptocócico circulantes são ''aprisionados'' pela membrana basal glomerular, com posterior ligação de anticorpos do paciente. Principal mecanismo na maioria dos casos de GNPE. Reação cruzada de anticorpos anti-estreptococo produzidos pelo paciente com constituintes normais do glomérulo (mimetismo molecular). Alterações moleculares em antígenos do glomérulo, tornando-os imunogênicos. Manifestações Clínicas Maioria dos pacientes são assintomáticos. Os pacientes sintomáticos em geral apresentam os sinais e sintomas clássicos de uma síndrome nefrítica: início abrupto de hematúria macroscópica, oligúria, edema Inicialmente é periorbitário e matutino, mas pode se tornar grave e evoluir para anasarca.) e hipertensão arterial, acompanhada de mal- estar e sintomas gastrointestinais vagos (como dor abdominal e náuseas), e dor lombar bilateral por intumescimento da cápsula renal. O paciente refere urina ''presa'' e ''escura''. Há tbm diminuição da função renal. OBS A hematúria macroscópica de origem glomerular possui tonalidade acastanhada, que pode ser confundida com colúria, além de não apresentar coágulos. Na análise de urina serão encontrados hematúria e, eventualmente cilindros hemáticos. O padrão de proteinúria é na faixa subnefrótica ( 3,5 g/dia ou 50mg/kg/dia). A ureia e a creatinina frequentemente apresentam alguma elevação decorrente da queda da TFG. Glomerulopatias 11 Uma característica laboratorial marcante, presente em cerca de 90% dos casos é a queda do complemento sérico, mais especificamente o C3 e o CH50. Com o tto de suporte, o indivíduo começa a apresentar melhora do quadro clínico em 1 semana, com aumento do volume urinário. A função renal pode demorar até 4 semanas para se recuperar completamente. As anormalidades urinárias demoram um tempo maior para desaparecer, a hematúria usualmente resolve-se em 6 meses, porém pode durar até 2 anos, enquanto a proteinúria costuma desaparecer antes da hematúria em até 3 meses, porém em alguns casos pode durar até 5 anos. O complemento C3 e CH50 permanece baixo por 4 a 8 semanas. Complicações: Encefalopatia hipertensiva - em pacientes com hipertensão grave. Edema agudo de pulmão - devido à congestão volêmica sintomática. Hipercalemia - pelo hipoaldosteronismo hiporreninêmico. OBS A queda na TFG resulta em hipervolemia HAS, edema), o que tende a reduzir a secreção de renina, causando um estado de hipoaldosteronismo (e consequentemente uma diminuição da capacidade de excretar potássio). Diagnóstico É quase sempre clínico-laboratorial, sendo rara a necessidade de biópsia, pois a GNPE costuma ser autolimitada. É necessário questionar sempre sobre infecções orofaríngeas e cutâneas recentes e fazer as contas para avaliar se são compatíveis com o período latente, pois outras glomerulonefrites podem ser desencadeadas por infecções virais ou bacterianas, como a nefropatia por IgA e as glomerulonefrites relacionadas a infecção. Uma vez diante do quadro de síndrome nefrítica com queda do complemento, é necessário documentar que houve uma infecção estreptocócica. Uma possibilidade é a identificação da própria bactéria através de cultura da orofaringe ou secreção das lesões cutâneas. Contudo, a cultura é positiva em apenas 25% dos casos devido ao período latente prolongado até o desenvolvimento da GNPE, ou seja raramente a infecção está ativa. É nesse momento que entra em cena um exame extremamente importante para o diagnóstico da doença, que é a dosagem Glomerulopatias 12 de anticorpos contra os antígenos do estreptococo. O mais conhecido na prática clínica é o anticorpo antiestreptolisina O ASLO - tb chamado de ASO, que comumente está elevado na infecção faríngea, porém é negativo em mais da metade dos indivíduos com impetigo. O ideal é dosar todos os tipos de anticorpos contra antígenos estreptocócicos através de um exame chamado teste da estreptozima. Ele testa 5 tipo de anticorpos e tem uma sensibilidade de 95% quando a infecção prévia é uma faringite e 80% quando é impetigo. Teste da estreptozima: ALSO Anti-hialuronidase Antiestreptoquinase Anti-DNase B Antinicotinamida-adenina dinucleotidase Diagnóstico de GNPE quadro clínico compatível + período latente compatível + documentação de infecção estreptocócica prévia (antígeno estreptocócico ou cultura positiva). A biópsia só está indicada quando o quadro clínico fugir do habitual. As indicações são: Anúria > 72hrs Oligúria por mais de uma semana C3 reduzido por mais de 8 semanas Proteinúria nefrótica por mais de 4 semanas. Proteinúria não nefrótica por mais de 6 meses. Hematúria macroscópica recorrente ou HAS > 6 semanas Hematúria microscópica por mais de 2 anos. Sinais clínicos de doença sistêmica Piora progressiva da função renal. Uma vez realizada a biópsia, o achado compatível com GNPE é: Glomerulopatias 13 Microscopia óptica: Infiltrado exsudativo endocapilar, sendo muitas vezes difuso. Por conta desse achado, a GNPE é muitas vezes chamada de glomerulonefrite difusa aguda GNDA. Padrão de glomerulonefrite proliferativa-difusa, isto é, a maioria dos glomérulos (> 50% apresenta infiltrado inflamatório, com neutrófilos e mononucleares invadindo o mesângio e as alças capilares (proliferação endocapilar). Em 5% dos casos observa-se a formação de crescentes no espaço de Bowman (ver adiante, em “glomerulonefrite rapidamente progressiva”), o que indica pior prognóstico. Este último padrão é mais comum em adultos. Imunofluorescência indireta: existem depósitos de C3 e IgG nos capilares e, no mesângio com padrão granular. Microscopia eletrônica: presença de depósitos subepiteliais formados por depósitos de imunocomplexos que levam o nome de corcovas ou humps (achado patognomônico de GNPE. TRATAMENTO Repouso durante a fase inflamatória Edema, congestão e HAS A chave para o controle da congestão volêmica é a restrição de água e sódio. Os diuréticos de alça (furosemida, ácido etacrínico) são as drogas de escolha para o tratamento do edema, da congestão volêmica e da hipertensão. Se a pressão arterial não for controlada com essas medidas, acrescentam-se outros anti-hipertensivos como bloqueadores dos canais de cálcio (ex.: nifedipina), vasodilatadores (ex.: hidralazina) ou inibidores da enzima conversora de angiotensina (ex.: captopril). O nitroprussiato de sódio é indicado nos casos de encefalopatia hipertensiva. A hemodiálise (com ultrafiltração) será indicada na vigência de síndrome urêmica, bem como para tratar a congestão volêmica grave refratária à terapia medicamentosa. Glomerulopatias 14 Antibioticoterapia: não trata e nem previne a GNPE, porém elimina a cepa nefritogênica, impedindo o contágio de outras pessoas e tbm para evitar uma possível recidiva futura. Antibiótico de escolha: Penicilinas. OBS Se não tratada de forma correta, ou seja, com suporte (repouso e restrição hidrossalina, diuréticos de alça, diálise – em vigência de síndrome urêmica) e antibióticos (para eliminação de cepas resistentes), a proteinúria pode progredir, o volume urinário pode não retornar ao normal (esperado: em até 7 dias), culminando em processo de insuficiência renal aguda, apesar de não ser muito frequente. Também há possibilidade de evolução com lesões glomerulares mais agressivas, resultando em glomeruloesclerose global irreversível. 2. GLOMERULONEFRITE AGUDA INFECCIOSA, NÃO PÓSESTREPTOCÓCICA Muitas doenças infecciosas, além da causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A, podem estar associadas à GNDA. Elas incluem os estados bacterêmicos, especialmente os prolongados, e várias patologias virais e parasitárias. Tais condições costumam ser facilmente diagnosticadas pela presença de manifestações extrarrenaistípicas, ou mesmo por achados microbiológicos e sorológicos. Causas Endocardite bacteriana subaguda Infecções supurativas crônicas (abscessos viscerais, empiemas cavitários, osteomielite) Shunt VP Ventriculoperitoneal) infectado P Hepatite viral Mononucleose infecciosa Pneumonia por micoplasma As evidências indicam que os imunocomplexos circulantes têm um papel importante na patogenia da GNDA dessas condições, que costumam estar associadas a: 1 depressão persistente dos componentes do complemento Glomerulopatias 15 (como C3 e C4, e 2 níveis elevados de fator reumatoide e crioglobulinas circulantes. Em alguns estudos, a nefrite relacionada às infecções supurativas crônicas não cursa com queda do complemento sérico. O controle adequado da infecção costuma resultar em melhora dos sinais de inflamação glomerular, embora eventualmente ocorra glomerulonefrite crônica ou mesmo rapidamente progressiva. 3. GLOMERULONEFRITE AGUDA NÃO INFECCIOSA Existem várias doenças multissistêmicas, e até mesmo doenças primárias dos rins, que podem determinar um quadro de glomerulonefrite aguda, sem nenhuma participação (direta ou indireta) de agentes infecciosos. Causas PÚRPURA DE HENOCH - SCHONLEIN A púrpura de Henoch-Schönlein PHS é a vasculite mais comum da infância, cursando com contagem de plaquetas normal, sendo que em curto prazo, as principais complicações da PHS são decorrentes do acometimento por vasculite Glomerulopatias 16 intestinal e em longo prazo as principais complicações decorrem de eventual acometimento renal. Idade de início inferior a 20 anos e dor abdominal, nesta vasculite, o comprometimento dos rins (nefrite) ocorre em 10 a 50% dos pacientes, geralmente nos primeiros três meses da doença sendo uma das principais complicações A púrpura de Henoch-Schönlein (anafilactoide) é uma vasculite associada a imunocomplexos que pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em crianças. Cerca de 2/3 dos pacientes apresentam história de IVAS prévia, e em geral o quadro clínico envolve febre aguda, púrpura palpável em MMII e nádegas, dor abdominal, atrite de grandes articulações e hematúria. Púrpura palpável associada a dor abdominal em crianças sugere fortemente o diagnóstico. O envolvimento escrotal em meninos pode ocorrer em até 40% dos casos, e pode incluir sintomas como dor, sensibilidade e edema escrotal, podendo inclusive mimetizar um quadro de torção testicular. Os achados laboratoriais são inespecíficos, mas a presença de trombocitopenia ou coagulopatia exclui o diagnóstico. O diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas apresentados e a conduta inicial inclui observação clínica, AINEs em caso de artralgias e corticoides especialmente para sintomas gastrintestinais, caso necessário. Vasculite LEUCOCITOCLÁSTICA na INFÂNCIA, associada à deposição de IgA, que pode causar manifestações articulares, gastrointestinais e RENAIS, associada a IVAS... é claro que estamos falando da Púrpura de Henoch-Schonlein, que quando cursa com acometimento renal, se assemelha à doença de Berger, com depósitos de IgA, e o acometimento renal na PHS está associado a pior prognóstico, com desenvolvimento de DRC, enquanto na doença de Berger, uma minoria dos pacientes evolui com DRC. PTI criança de 4 anos com quadro de IVAS precedendo plaquetopenia associada a petéquias e epistaxe, sem outras alterações clínicas ou de exames. Questão clássica, que deve sempre suscitar a hipótese diagnóstica de PTI, que na infância costuma ter apresentação aguda, auto-limitada e suceder infecções. CRIOGLOBULINEMIA MISTA Glomerulopatias 17 Na crioglobulinemia mista temos como quadro sugestivo o surgimento de uma púpura palpável com neuropatia periferica assoicada a glomerulonefrite membranoproliferativa e consumo de complemento, em especial,complemento C4 e estando geralmente assoicada a infecção por virus C, assim, dos exames apresentandos a realização de PCR para virus C seria o mais interessante no momento para diagnostico etiologico. NEFROPATIA POR IGA ou DOENÇA DE BERGER Fisiopatologia Os portadores de nefropatia por IgA NIgA, tb chamado de doença de Berger, possuem um defeito na glicosilação da imunoglobulina A. A IgA tem uma molécula a menos de galactose na região de dobradiça, ficando menos galactosilada e com isso passa a ser reconhecida como uma molécula estranha por nosso organismo, que então cria anticorpos contra essa IgA aberrante, sendo Taís anticorpos principalmente IgG e IgA normal. Ao se ligarem, formam um imunocomplexo circulante que se deposita no glomérulo, mais Glomerulopatias 18 especificamente no mesângio, que vai ativar o sistema complemento, iniciando a reação inflamatória. A alteração da IgA por si só não é capaz de causar a nefropatia. A doença é multifatorial e desta forma pode estar associada também a uma produção maior de IgA e diminuição da sua depuração, o que ocorre em algumas doenças, tais como cirrose, doença celíaca. Aspectos gerais A NIgA é a principal causa de glomerulonefrite no mundo. Como muitos casos são assintomáticos, acredita-se que seja subdiagnosticada. A manifestação clínica mais comum é a hematúria macroscópica recorrente, comumente precedida por um quadro infeccioso ou concomitante a ele. A segunda manifestação mais prevalente é a hematúria microscópica persistente, sendo incomum a ocorrência de síndrome nefrótica ou glomeruolonefrite rapidamente progressiva. Observe que existe alguma semelhança com a GNPE, pois pode causar síndrome nefrítica e ter como gatilho uma infecção. Segue duas dicas importantes para fazer a distinção de GNPE e NIgA GNPE consome complemento e NIgA, não. Ambas podem ser precedidas por um quadro infeccioso, porém, na NIgA não há período latente, sendo a ocorrência da glomerulonefrite imediatamente após ou até mesmo concomitante à infecção. Por conta dessa associação, NIgA por vezes é chamada de glomerulonefrite sinfaringítica. OBS Questão batida em prova. Homem jovem com hematúria glomerular assintomática após prática de exercício físicos, só pode se tratar de Doença de Berger, uma glomerulopatia nefrítica por depósitos de IgA mesangial. Tem evolução variável, desde remissão espontânea à evolução para insuficiência renal Associação com outras doenças Glomerulopatias 19 Grande maioria das NIgA é primária, porém, uma situação bem interessante é a púrpura de Henoch-Schonlein, uma vasculite por IgA com um quadro renal indistinguível da NIgA, porém com manifestações extrarrenais, principalmente na pele, onde surgem púrpuras palpáveis em nádegas e membros inferiores. Algumas outras doenças apresentam uma maior quantidade de imunoglobulina A circulante e, talvez por isso, apresentam uma maior prevalência de NIgA. As doenças associadas são: Cirrose Doença celíaca Dermatite herpetiforme HIV Diagnóstico A NIgA só pode ser confirmada por meio da biópsia renal, porém, mesmo com a suspeita dessa doença, não realiza-se biópsia renal em todos os casos. Quando está presente apenas o quadro de hematúria macroscópica recorrente ou microscópica persistente, ou seja, sem HAS, azotemia ou Glomerulopatias 20 proteinúria, o prognóstico é excelente, bastando manter acompanhamento clínico regular. A dosagem do nível sérico de IgA não tem valor clínico, pois é pouco sensível (elevada em 50% dos casos) e pouco específica. Outro exame sem valor clínico pelo mesmo motivo é o achado de depósitos de IgA em capilares da derme. Portanto nenhum desses exames deve ser solicitados. Biópsia Estará indicada quando o indivíduo apresentar marcadores de pior prognóstico, como elevação da creatinina, proteinúria 1g/dia ou HAS. Nessas condições clínicas, a progressão para DRC estágio terminal costuma ocorrer lentamente em 15 a 25% dos casos. O achado patognomônico na biópsia renal é visto na imunofluorescência indireta, a qual demonstra os depósitos mesangiais de IgA, que podem estar sozinhos ou com IgG e IgM. Glomerulopatias 21 TratamentoO tto da NIga depende da presença dos marcadores clínicos de pior prognóstico (proteinúria > 1g/dia, elevação da creatinina ou HAS e dos achados histológicos. Quando a NIgA apresentar maior gravidade, esstará indicado o uso de corticoide (prednisona 1mg/kg/dia). Hematúria isolada - acompanhamento a cada 6 meses ou anual sem nenhum tto. Proteinúria > 1g/dia + creatinina normal - indicado antiproteinúricos IECA ou BRA II e não usar corticoide. Elevação da creatinina, síndrome nefrótica ou achados histológicos de gravidade - indicando o uso de corticoide associado a antiproteinúricos. HEMATÚRIA ISOLADA A hematúria pode ser visível a olho nu, sendo denominada macroscópica, ou vista apenas através da análise do sedimento urinário, sendo chamada microscópica. Em indivíduos normais, é possível aparecerem hemácias na urina, por isso, hematúria é definida como mais que 3 hemácias/campo do Glomerulopatias 22 pequeno aumento do microscópico. A origem glomerular é confirmada se as hemácias tiverem aspectos dismórficos ou se o paciente apresentar cilindro hemático ou uma proteinúria > 500mg/dia. A hematúria de origem glomerular, quando transitória, pode ser induzida por exercício físico vigoroso ou por alguma glomerulonefrite pós-infecciosa assintomática (detectada por acaso ou em estudos epidemiológicos). Por isso, não havendo outras alterações urinárias, a análise do sedimento deve ser repetida após algumas semanas para afastar causas transitórias. Quando a hematúria glomerular é persistente, então estamos diante de praticamente 3 patologias renais: → Nefropatia por IgA → Doença da membrana basal fina → Síndrome de Alport DOENÇA DA MEMBRANA BASAL FINA A doença da membrana basal fina é uma patologia genética na qual ocorre uma produção defeituosa do colágeno tipo IV da MBG. A manifestação clínica é uma hematúria microscópica persistente, podendo s tornar transitoriamente macroscópica quando ocorre alguma infecção. Classicamente tem um curso benigno. O achado na biópsia renal é um espessamento difuso da membrana basal glomerular, visto apenas através da microscopia eletrônica. Não há tto específico para a doença e os familiares devem ser acompanhados, pois é uma patologia genética. Alguns casos incomuns que desenvolvem proteinúrias leves devem ser tratados com IECA ou BRA. SÍNDROME DE ALPORT A síndrome de Alport é uma doença hereditária cujo defeito genético envolve uma produção defeituosa de colágeno tipo IV, presente na membrana basal dos rins, cóclea e olhos. Apesar de se tratar da mesma estrutura da doença da membrana basal fina, aqui o dano a essa estrutura é mais grave. A transmissão genética pode ser ligada ao cromossomo X, autossômica dominante ou autossômica recessiva, dependendo do gene envolvido. Os indivíduos desenvolvem uma doença glomerular que tem hematúria Glomerulopatias 23 microscópica como manifestação inicial, evoluindo para proteinúria, HAS e perda progressiva da função renal, até o desenvolvimento de doença renal em estágio terminal com necessidade de diálise ou transplante renal entre a 1ª e a 3ª décadas de vida. As manifestações extrarrenais incluem redução progressiva da acuidade auditiva (surdez neurossensorial) e visual. O diagnóstico pode ser feito através do teste genético na presença de um quadro clínico típico (independente da HF ou de uma HF de hematúria persistente ou doença renal terminal de etiologia não conhecida. Contudo, o teste genético é pouco disponível na prática clínica e tem custo elevado. Dessa forma, em alguns indivíduos o diagnóstico pode ser feito através da biópsia renal, sendo visualizadas na microscopia eletrônica alterações da lâmina densa da MBG. Não existe tto específico. Quando surgir proteinúria, está indicado o uso de IECA ou BRA, devido ao seu efeito antiproteinúrico, além de controlar fatores de risco convencionais para DRC. O indivíduo deverá fazer acompanhamento regular com otorrino e oftalmo. Quando evoluir para a DRC está indicado transplante renal ou diálise. Quadro de perda auditiva bilateral para altas frequências, o que traz uma grande suspeita diagnóstica, a Síndrome de Alport. Essa doença tem causa genética de herança ligada ao X, e apresenta mutação dos genes que codificam o colágeno tipo IV, levando a alterações estruturais na membrana basal glomerular (afilamento da membrana). É uma hematúria de origem glomerular representada por hematúria dismórfica com cilindros hemáticos e início na infância. Está associada com surdez neurosensorial, anormalidades oftalmológicas e perda de função renal progressiva, tendo indicação de biópsia. O diagnóstico é realizado por meio da microscopia eletrônica e o tratamento é inespecífico, com mau prognóstico. Glomerulopatias 24 Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) Glomerulopatias 25 Diz-se que há Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva GNRP quando um paciente que desenvolve síndrome nefrítica, independente da causa, evolui para falência renal de curso acelerado e fulminante, (com necessidade de diálise), de forma que, sem tratamento precoce, acaba caminhando inexoravelmente para o estado de “rim terminal” em semanas ou meses. Ou seja, a GNRP não tratada evolui em muito pouco tempo para esclerose de quase todos os glomérulos, além de fibrose tubulointersticial generalizada, um estado de plena falência irreversível dos rins, tornando necessária a diálise ou o transplante renal para que o paciente sobreviva. Manifestações clínicas Pode ser de início abrupto Glomerulopatias 26 Mias comumente é de início subagudo, tomando em seguida um curso acelerado. Oligúria pode evoluir para anúria Muitos pacientes cursam com síndrome urêmica (encefalopatia, perdicardite, e o sangramento urêmico) HAS, edema progressivo, hematúria e disfunção renal num curto período de tempo. Causas A GNRP pode surgir em consequência a uma série de doenças sistêmicas, ou então aparecer como complicação ou evolução natural de uma glomerulopatia primária. Glomerulopatias 27 Biópsia É o exame padrão-ouro para diagnóstico e classificação da GNRP, em especial o padrão de imunofluorescência indireta IFI Se um paciente com GNRP for submetido à biópsia renal na fase precoce, provavelmente se encontrará a formação dos chamados Crescentes em mais de 50% dos seus glomérulos renais. Mas o que são os Crescentes? Os crescentes são formações expansivas que se estabelecem no interior da cápsula de Bowman e rapidamente Glomerulopatias 28 invadem o espaço das alças glomerulares, desestruturando toda a arquitetura do corpúsculo de Malpighi. Sabe-se hoje que eles são formados pela migração de monócitos (macrófagos) através de alças capilares intensamente lesadas para o interior da cápsula de Bowman – podemos considerar a lesão capilar glomerular o evento inicial deflagrador dos crescentes. A passagem concomitante de fibrinogênio para a cápsula de Bowman e sua conversão em fibrina propicia a sustentação e o crescimento de toda a estrutura. Posteriormente, ocorre a migração de fibroblastos do interstício periglomerular para o espaço capsular. No final, o crescente inflamatório ou celular se converte num crescente fibroso, com perda glomerular irreversível. Glomerulopatias 29 Classificação Padrão Linear: é mostrado pela IFI, quando há Glomerulonefrite Antimembrana Basal Glomerular. Padrão Granular: é mostrado pela IFI, quando há Glomerulonefrites por Imunocomplexos. POUCO ou NENHUM depósito imune: é mostrado pela IFI, quando há Glomerulonefrites Pauci-imunes. OBS Apenas a fibrina depositada nos crescentes é visualizada no exame. Três exames sorológicos também auxiliam na classificação da GNRP 1 Anticorpo anti-MBG elevado: Tipo I GN anti-MBG, síndrome de Goodpasture). Glomerulopatias 30 2 C3, CH50 (complemento sérico) reduzido: Tipo II GN por imunocomplexos). 3 ANCA positivo: Tipo III GN pauci-imune ou relacionada a vasculites sistêmicas). ANCA é o anticorpo anticitoplasmade neutrófilo. Glomerulopatias 31 Glomerulopatias 32 1 Deposição de Anticorpo Anti-membrana basal glomerular, ou Anti-MBG Sindrome de Goodpasture) ; 2 Deposição de imunocomplexos LES, GN pós estreptocócica, Nefropatia por IgA. 3 Pauci-imune (vasculites ANCA-relacionadas, como Granulomatose de Wegener, Poliarterite Nodosa Clássica ou Microscópica, Doença de Churg- Strauss) ; Glomerulonefrite Anti-MBG e a Síndrome de Goodpasture Glomerulopatias 33 Tipo mais raro de GNRP É associado aos anticorpos antimembrana basal glomerular. Estes autoanticorpos são específicos contra a cadeia alfa-3 do colágeno tipo IV, encontrada apenas na membrana basal dos glomérulos e dos alvéolos pulmonares. O ataque desses anticorpos à membrana basal desencadeia um processo inflamatório grave que pode se manifestar como uma GNRP com ou sem um quadro de pneumonite hemorrágica. De todos os pacientes com a doença do anticorpo anti-MBG, cerca de 50 70% (mais da metade) apresenta, além da síndrome glomerular, uma síndrome hemorrágica pulmonar. Estes pacientes, por definição, possuem a Síndrome de Goodpasture. Os 3050% restantes apresentam apenas a síndrome glomerular – dizemos que eles têm uma glomerulonefrite anti-MBG primária, correspondendo à GN Crescêntica Tipo I idiopática. A Síndrome de Goodpasture acomete basicamente homens jovens (especialmente entre 2030 anos), com uma relação masculino/feminino de 61. Está associada ao marcador genético HLADR2 e há nítida relação com história de tabagismo, infecção respiratória recente ou exposição a hidrocarbonetos voláteis (solventes). A hemorragia pulmonar geralmente precede a glomerulite por semanas a meses. A hemoptise é o sintoma predominante. A radiografia de tórax mostra infiltrado alveolar bilateral difuso, correspondendo à hemorragia alveolar generalizada. O teste de difusão do CO (monóxido de carbono) pode distinguir a hemorragia pulmonar de outras causas de infiltrado alveolar (pneumonia, edema). Na hemorragia, há um AUMENTO da difusão deste gás, ao contrário das outras causas de ocupação alveolar; a explicação é a presença de hemácias no interior dos alvéolos – a hemoglobina destas células capta avidamente o CO. Uma anemia microcítica hipocrômica pode se associar à síndrome, devido à perda de ferro para os alvéolos. O diagnóstico diferencial deve ser feito com as outras causas da chamada Síndrome Pulmão-Rim (hemoptise + glomerulite), como a leptospirose, algumas vasculites sistêmicas, Goodpasture, Wegener, Poliarterite Microscópica e LES. Glomerulopatias 34 Diagnóstico: O componente renal da síndrome se manifesta como uma GNRP clássica, na verdade, a de evolução mais fulminante e de pior prognóstico! A pesquisa do anti-MBG no soro é positiva em > 90% dos casos, sendo um importante método diagnóstico. Agora cuidado: cerca de 40% dos pacientes também apresentam o ANCA positivo, o que pode indicar a coexistência de uma vasculite sistêmica. O padrão-ouro para o diagnóstico é a biópsia renal, na qual observaremos o padrão linear na IFI e mais de 50% dos glomérulos apresentando crescentes. A Glomerulonefrite Anti-MBG primária apresenta-se numa faixa etária mais tardia 5070 anos) e, ao contrário da síndrome de Goodpasture, predomina no sexo feminino. O quadro renal é idêntico ao da síndrome de Goodpasture. Tratamento: O tratamento específico deve ser iniciado precocemente, caso contrário, 80% dos pacientes evolui com rins em estágio terminal dentro de um ano, necessitando de diálise ou transplante renal. A terapia deve ser feita com Plasmaférese (troca de plasma) diária ou em dias alternados, até a negativação do anti-MBG no soro. Este é o pilar do tratamento da síndrome de Goodpasture. Juntamente com a plasmaférese, devemos acrescentar Prednisona 1 mg/kg/dia) e um imunossupressor, que pode ser a Ciclofosfamida 2 mg/kg/dia) ou a Azatioprina 12 mg/kg/dia), sendo esta última usada principalmente após a remissão, na terapia de manutenção. Os títulos seriados dos anticorpos anti-MBG são monitorados para avaliar a resposta à terapia. Se o tratamento for iniciado antes da creatinina plasmática ultrapassar o valor de 5 mg/dl, o prognóstico passa a ser bom, com uma sobrevida renal de aproximadamente 90%. Porém, é inferior a 10% para os pacientes que necessitaram de diálise antes de iniciada a terapia. O transplante renal é viável, mas, devido à possibilidade de recorrência da doença no enxerto, recomenda-se realizá-lo somente após a negativação do anti-MBG por pelo menos 23 meses. Glomerulopatias 35 GNRP POR IMUNOCOMPLEXOS Quase a metade dos casos de GNRP tem como causa uma glomerulite por imunocomplexos, que pode ser idiopática (rara), infecciosa/pós-infecciosa (ex.: GNPE ou relacionada a doenças sistêmicas, como o Lúpus Eritematoso Sistêmico (nefrite lúpica proliferativa difusa ou Classe IV, além de causas mais raras. O quadro clínico é o de uma GNRP clássica, porém há caracteristicamente uma queda do complemento sérico C3 e CH50, com anti-MBG e ANCA negativos. A biópsia mostra um padrão granular na IFI, contendo depósitos de IgG e C3, principalmente. O tratamento deve ser feito (pelo menos no caso da nefrite lúpica) com corticoide em pulsoterapia e imunossupressores. GNRP PAUCIIMUNE ANCA POSITIVO Corresponde a quase metade dos casos de GNRP, competindo em frequência com a GNRP por imunocomplexos. Nos adultos velhos, é a forma mais comum de GNRP! Pode ser primária (idiopática), quando limitada ao rim, ou fazer parte de uma vasculite sistêmica Glomerulopatias 36 do tipo poliarterite microscópica ou granulomatose de Wegener. Clinicamente, não há diferença em relação às outras causas de GNRP, a não ser a presença eventual dos comemorativos de uma vasculite sistêmica. O dado mais importante do diagnóstico é a pesquisa do ANCA – Anticorpo Anticitoplasma de Neutrófilo, que está presente na maioria dos pacientes, geralmente em altos títulos. O ANCA na verdade não é um único anticorpo, mas representa qualquer anticorpo que se ligue ao citoplasma de neutrófilos humanos. No caso da GN pauci-imune idiopática, o antígeno principal é a mieloperoxidase, que se concentra na região perinuclear do neutrófilo – neste caso, o padrão do exame é o p-ANCA (p = perinuclear). No caso da Granulomatose de Wegener, o antígeno-alvo é a proteinase 3, que se distribui de forma homogênea pelo citoplasma do leucócito – neste caso, o padrão é o c-ANCA (c = citoplasmático). No caso da Poliangeíte microscópica, geralmente temos o padrão p-ANCA, mas o c-ANCA também pode ser encontrado em alguns casos. Glomerulopatias 37 A biópsia renal mostra uma glomerulonefrite proliferativa geralmente focal e segmentar, apresentando áreas de necrose fibrinoide (glomerulite necrosante) e crescentes em mais de 50% dos glomérulos. A IFI Imunofluorescência Indireta) NÃO revela imunodepósitos! O tratamento deve ser feito com corticoide e imunossupressores, semelhante à GN por imunocomplexos. Glomerulopatias 38 Síndrome Nefrótica É o conjunto de sinais, sintomas e achados laboratoriais que se desenvolvem quando, por alguma razão, ocorre aumento patologicamente exagerado da permeabilidade dos glomérulos às proteínas, levando à proteinúria maciça. Define-se a proteinúria na “faixa nefrótica” como aquela superior a 3,5 g/1,73 m2/24h, o que equivale a > 33,5 g/24h no adulto e > 4050 mg/kg/24h na criança. A proteinúria maciça é o estigma da síndrome, e resulta nos demais achados clinicolaboratoriais que a definem: (a) hipoalbuminemia; (b) edema; (c) hiperlipidemia; e (d) lipidúria. Glomerulopatias 39 PROTEINÚRIA É a anormalidade básica da síndrome nefrótica. considera-se como “faixa nefrótica” a taxa de excreção renal de proteínas superior a 3,5 g/1,73 m2/dia em adultos e 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m2/h em crianças. OBS É importante frisar que uma proteinúria superior a 2 g/dia fortalece o diagnóstico de glomerulopatia, já que nas doenças tubulointersticiais a proteinúrianão costuma ultrapassar esta cifra. A proteinúria da síndrome nefrótica pode ser do tipo seletiva ou não seletiva, na dependência da doença de base. Relembrando do mecanismo de permeabilidade glomerular: A parede dos glomérulos apresenta dois mecanismos básicos que determinam a seletividade: 1 as fendas de filtração e 2 a carga negativa da membrana basal. As fendas de filtração são responsáveis pela “barreira de tamanho”, que impede a filtração das macromoléculas, enquanto a carga negativa da membrana basal é responsável pela assim denominada “barreira de carga”, que dificulta a filtração de qualquer partícula com carga negativa, independente do tamanho. A “barreira de tamanho” permite a livre passagem de proteínas de pequeno peso molecular, inferior a 20.000 dáltons. Essas proteínas, como a beta2-microglobulina, são reabsorvidas no túbulo proximal... A albumina (principal proteína plasmática) tem peso molecular em torno de 65.000 dáltons, transpondo a “barreira de tamanho” com alguma dificuldade. Entretanto, o maior obstáculo à passagem da albumina é a “barreira de carga”, já que esta molécula se revela um poliânion (carga negativa). Por outro lado, o que impede a passagem das globulinas é exclusivamente a “barreira de tamanho”. Glomerulopatias 40 Quando o processo lesivo renal acarreta perda predominante da “barreira de carga” (como no caso da nefropatia por lesão mínima), ocorre o que se entende por proteinúria seletiva, ou seja, uma proteinúria basicamente à custa de albumina; quando a lesão glomerular determina perda da “barreira de tamanho” ocorre proteinúria não seletiva (como na GEFS, ver adiante), com perda proporcional de todas as macromoléculas do plasma (albumina, globulinas etc.). Um exame chamado eletroforese de proteínas urinárias é capaz de identificar os tipos de proteína que constituem a proteinúria do paciente, classificando-a em seletiva ou não seletiva. 2. HIPOPROTEINEMIA Hipoalbuminemia 2,5g/dL A perda de proteínas em grande quantidade na urina geralmente provoca a queda de seus níveis plasmáticos. A albumina é a principal proteína do plasma, sendo a grande responsável pela pressão oncótica (ou coloidosmótica), que ajuda a manter o líquido no compartimento intravascular. O aumento da ingesta de proteínas está associado a uma elevação dos níveis de proteinúria, com pouco ou nenhum reflexo nos níveis de albumina sérica, enquanto a redução da ingesta proteica está associada a uma redução dos níveis de proteinúria, sem interferir com os níveis de albumina sérica. Antitrombina III Antitrombina III – a perda deste cofator da heparina resulta em um estado de hipercoagulabilidade, que origina uma complicação importante da síndrome nefrótica: o evento tromboembólico. Globulina de ligação de tiroxina TBG – sua redução sérica pode determinar anormalidades nos exames da tireoide, falsamente sugerindo hipofunção tireoidiana (pelo T4 total baixo), mas com níveis de hormônio livre e TSH normais. Globulina de ligação de tiroxina TBG – sua redução sérica pode determinar anormalidades nos exames da tireoide, falsamente sugerindo Glomerulopatias 41 hipofunção tireoidiana (pelo T4 total baixo), mas com níveis de hormônio livre e TSH normais. Transferrina – a carência desta proteína transportadora de ferro pode provocar, em alguns casos, uma anemia hipocrômica e microcítica, resistente à reposição de sulfato ferroso. Imunoglobulinas e fatores do complemento – na síndrome nefrótica a perda urinária de IgG provoca hipogamaglobulinemia, que, aliada à perda de dois fatores da via alternativa do complemento (fator B e properdina), predispõe à infecção por bactérias encapsuladas, especialmente o Streptococcus pneumoniae. Apesar de uma queda expressiva da IgG, outras imunoglobulinas IgM, IgA podem estar até elevadas na síndrome nefrótica. OBS há aumento da fração alfa-2-globulina na eletroforese de proteínas. 3. EDEMA As trocas de líquido entre os capilares e o interstício funcionam de acordo com o equilíbrio de duas forças opostas: 1 a pressão hidrostática e 2 a pressão oncótica (coloidosmótica) – esta última determinada pela concentração de macromoléculas (proteínas) na luz do vaso. O edema se formará sempre que houver um aumento importante da pressão hidrostática (que “empurra” o líquido para fora do capilar) em relação à pressão oncótica (que “puxa” o líquido para dentro do capilar). Teoria do Underfilling Pela teoria clássica, na síndrome nefrótica, o edema generalizado (anasarca) é dependente da queda da pressão oncótica, por efeito da hipoalbuminemia. Pela teoria do Underfilling, a queda da pressão oncótica faz o líquido sair do intravascular para o interstício, determinando uma “tendência à hipovolemia” e, consequentemente, ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona. O resultado final é uma retenção hidrossalina secundária, na tentativa de compensar a hipovolemia. O líquido retido acaba servindo para manter e agravar o edema. Por esta teoria, o edema da síndrome nefrótica seria “osmótico”, e não “pressórico” como o da síndrome nefrítica. Glomerulopatias 42 OBS Para que o fenômeno do Underfilling ocorra é necessário que haja uma redução aguda ou acentuada da albuminemia (níveis inferiores a 2g/dl), quando então o gradiente oncótico realmente cai, permitindo a formação de edema. Teoria de Overfilling (retenção hidrossalina primária) Em alguns casos o edema parece ser formado por este mecanismo, no qual a tendência é para a hipervolemia e aumento da pressão hidrostática capilar. Pode haver tbm em certas formas de síndrome nefrótica a reabsorção exagerada de sódio no túbulo coletor. Assim, acredita-se que o mecanismo do edema nefrótico varie de acordo com a patologia glomerular de base e possa variar de paciente para paciente com a mesma glomerulopatia. Em crianças com nefropatia por lesão mínima e hipoalbuminemia grave, por exemplo, predomina o fenômeno do Underfilling, enquanto em adultos com outras glomerulopatias, como a Glomerulosclerose Focal e Segmentar GEFS, costuma sobressair a retenção hidrossalina primária. Os níveis plasmáticos de renina tendem a estar suprimidos ou normais nos pacientes com Overfilling, e aumentados nos pacientes com Underfilling. 4. HIPERLIPIDEMIA Glomerulopatias 43 Na maioria das vezes, o paciente com síndrome nefrótica desenvolve hipercolesterolemia, com aumento da lipoproteína LDL, a mais aterogênica de todas. A hipertrigliceridemia é encontrada em menor escala, predominando nos pacientes com falência renal crônica. O mecanismo da hipercolesterolemia é o aumento da síntese hepática de lipoproteínas, estimulada pela queda da pressão oncótica induzida pela hipoalbuminemia. Ou seja, o mesmo estímulo que faz o fígado produzir mais albumina também o leva a sintetizar mais lipoproteína, especialmente a LDL. A hipertrigliceridemia é causada muito mais pela redução do catabolismo do VLDL (perda urinária da enzima lipoproteína-lipase, que degrada o VLDL. É fácil perceber que a hiperlipidemia nefrótica resulta no aumento da filtração glomerular de lipídios, provocando lipidúria. O sedimento urinário passa a conter corpos graxos ovalados (células epiteliais com gotículas de gordura) e cilindros graxos (formados por tais células aderidas à proteína de Tamm- Horsefall). 5. COMPLICAÇÕES DA SÍDROME NEFRÓTICA Fenômenos Tromboembólicos Trombose de Veia Renal, TEP e Outros) O estado de hipercoagulabilidade da síndrome nefrótica frequentemente resulta em Trombose Venosa Profunda TVP, especialmente das veias renais. As veias profundas dos membros inferiores e as veias pélvicas também são comumente afetadas. Em muitos casos, a trombose venosa profunda se complica com embolia pulmonar. A perda de antitrombina III pela urina é o principal fator determinante da hipercoagulabilidade, mas existem outros: redução dos níveis e/ou atividade das proteínas C e S, hiperfibrinogenemia, comprometimento da fibrinólise e ainda maioragregação plaquetária. As veias renais são particularmente suscetíveis, sendo obrigatória a suspeita de Trombose de Veia Renal TVR em todo paciente com síndrome nefrótica que desenvolva subitamente as seguintes manifestações clínicas: (a) dor nos flancos ou na virilha; (b) varicocele do lado esquerdo – lembrar que a veia testicular esquerda drena Glomerulopatias 44 diretamente na veia renal; (c) hematúria macroscópica; (d) aumento significativo da proteinúria; (e) redução inexplicada do débito urinário; e (f) edema renal, com assimetria do tamanho e/ou função dos rins (urografia). O diagnóstico de trombose de veia renal é realizado por meio da ultrassonografia com doppler, angiotomografia computadorizada ou angiorressonância de veias renais. A anticoagulação plena está sempre indicada em pacientes nefróticos que tiveram alguma complicação tromboembólica documentada. Não há, até o momento, indicação de anticoagulação profilática. O anticoagulante oral cumarínico (warfarim) tem eficácia superior a da heparina, já que esta última precisa da antitrombina III (cujos níveis encontram-se reduzidos na síndrome nefrótica) para exercer seu efeito. Contudo, na vigência trombose o warfarim não deve ser iniciado sem anticoagulação prévia com outro medicamento, pois nos primeiros dias de uso ele apresenta um efeito “pró-trombótico paradoxal” Logo, a heparina deve preceder o warfarin nesses doentes, e sua dose deve ser maior do que a convencional, sendo ajustada de modo a manter o PTTa entre 2 e 2,5 (lembre-se: os níveis de antitrombina III, seu cofator, são patologicamente reduzidos na síndrome nefrótica). O cumarínico é iniciado somente quando a anticoagulação plena tiver sido atingida (“PTTa na faixa”), sendo mantido pelo tempo em que o paciente permanecer “nefrótico”. Alta Suscetibilidade a Infecções Os pacientes com síndrome nefrótica estão mais sujeitos a infecções por germes encapsulados, principalmente pela deficiência de imunoglobulina do tipo IgG e componentes da via alternativa do complemento, perdidos pelos glomérulos. O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é a bactéria mais envolvida. Uma infecção bastante comum em pacientes nefróticos é a peritonite bacteriana espontânea, que acomete os pacientes com ascite. O pneumococo ESTREPTOCOCO é o agente mais comum, responsável por metade dos casos, seguido pela Escherichia coli. Glomerulopatias 45 Desnutrição A perda elevada de proteína por tempo suficiente pode levar à redução acentuada da massa muscular do indivíduo. Além disso, o edema no trato gastrointestinal, pode contribuir para a ocorrência de inapetência, vômitos e redução da absorção de nutrientes. Não é comum a ocorrência de perda de peso, pois a anasarca provoca grande aumento do peso corpóreo. 6. DIAGNÓSTICO O melhor exame para avaliação da proteinúria é a própria proteinúria 24 horas, na qual toda a urina é coletada e enviada ao laboratório. Contudo, em alguns pacientes não é possível realizar essa coleta, como crianças muito pequenas e indivíduos acamados e portadores de incontinência urinária. Não é recomendado colocar uma sonda vesical por 24 horas para realizar essa coleta devido aos riscos de infecção e trauma uretral, além do próprio desconforto em usar uma sonda. Uma alternativa é coletar uma amostra isolada de urina, dosar a proteína e creatinina nessa mesma amostra e dividir uma pela outra → proteína/creatinina na amostra isolada de urina. O resultado dessa divisão costuma ser próximo à proteinúria 24 horas. O resultado de proteinúria > 3,5g/dia e uma hipoalbuminemia fecham o diagnóstico de síndrome nefrótica. BIÓPSIA RENAL: Está indicada em quase todos os adultos com síndrome nefrótica, pois, na grande maioria os indivíduos, não é possível distinguir a etiologia com a história clínica, o exame físico e o exame laboratorial. São exceções: Diabetes mellitus de longa data com aumento progressivo de proteinúria ao longo dos anos, principalmente se houver evidência de retinopatia ou neuropatia diabética, sem sinais de outras doenças sistêmicas. Suspeita de amiloidose com possibilidade de diagnóstico através de exames menos invasivos, como estudos genéticos ou biópsia de tecido Glomerulopatias 46 menos invasivo (ex.: gordura abdominal). Crianças com síndrome nefrótica entre 2 e 10 anos. Etapas da biópsia renal: Análise da amostra do tecido renal envolve 3 etapas: Microscopia óptica: o tecido renal é corado e analisado através de um microscópio comum. Imunofluorescência indireta: utilizado para identificar depósitos de imunocomplexos (imunoglobulinas ligadas a antígenos) nos rins. Microscopia eletrônica: identificar estruturas ultrapequenas que nãosão possíveis de visualizar na microscopia óptica. Técnicas da biópsia renal Biópsia renal percutânea: é o método preferido por ser menos invasivo. Com a ajuda da USG ou TC é colocada uma agulha através da pele em região lombar e são coletados fragmentos dos rins. Biópsia renal cirúrgica: pode ser utilizada técnica aberta ou por videolaparoscopia. Geralmente, é reservada para situações de falha da técnica percutânea ou variações anatômicas nos rins. Contraindicações Absoluta: Suspeita de doença renal crônica avançada com rins menores que 9cm e com aumento da ecogenicidade cortical. Distúrbio de coagulação Hipertensão arterial não controlada Hidronefrose Infecção renal ou perirrenal Infecção cutânea no sítio de punção Múltiplos cistos renais bilaterais Neoplasia renal Glomerulopatias 47 Paciente não colaborativo Relativas Rim único Anemia grave Complicações: Sangramentos: Hematúria macroscópica Hematoma subcapsular Sangramento retroperitoneal Dor intensa: Hematoma subcapsular Obstrução ureteral por coágulos Fístulas arteriovenosas Nefrectomia Morte TRATAMENTO DE SUPORTE DA SÍNDROME NEFRÓTICA: → Proteinúria: A redução da pressão intraglomerular é capaz de reduzir a proteinúria e reduzir a velocidade de perda da função renal. Os medicamentos de escolha são IECA ou BRA. A redução da ingesta de proteínas não é recomendada devido ao risco de desnutrição. → Hipoalbuminemia: Albumina a 20% - 0,5 – 1 g /kg A albumina é uma proteína responsável por 70% a 80% da pressão osmótica coloidal no plasma, sendo importante na regulação do volume do sangue Glomerulopatias 48 circulante. Em alguns casos específicos como no choque hemorrágico, queimaduras extensas, ressecções hepáticas extensas, é necessário realizar sua correção. Há algumas apresentações disponíveis: As soluções a 5% têm pressão coloidosmótica semelhante à do plasma; albumina a 20%; e solução a 25%, que são hipertônicas e necessita de diluição, preferencialmente com solução salina a 0,9%. A apresentação a 20% pode ser aplicada por via intravenosa sem diluição ou pode ser diluída com solução fisiológica normal ou glicose 5% antes da administração. A posologia deve ser de 0,5 a 1g/kg e varia conforme o caso. Nos demais procedimentos, pode-se calcular utilizando a fórmula: Albumina desejada - Albumina do paciente X 0,04 X peso (kg) X 2. Não deve exceder 2g/kg de peso. Em grandes queimados, utiliza-se a fórmula: 0,2 ml X superfície corpórea de área queimada X kg peso. Na peritonite bacteriana espontânea, a dose é de 1,5g/kg de peso. O tempo de administração deve ser de no máximo 4 horas. → Edema: O tratamento inicial é a restrição de sódio para um máximo de 2g/dia e uso de diurético de alça (furosemida). É comum um estado de resistência ao diurético de alça, principalmente naqueles indivíduos com hipoalbuminemia severa. A explicação é a necessidade do medicamento de se ligar à albumina na corrente sanguínea para poder ser excretada no lúmen tubular. Em seguida, é necessário estar livre no lúmen tubular para se conectar ao seu receptor na alça de Henle. O que acontece na síndrome nefrótica é a baixa ligação à albumina no sangue devido à hipoalbuminemia e a alta ligação à albumina na luz tubular e menos ainda para se conectarao receptor na alça de Henle. → Dislipidemia: A dislipidemia é reversível com uma resposta adequada ao tratamento da etiologia da síndrome nefrótica. Contudo, em alguns indivíduos é necessário o uso de estatinas, principalmente naqueles que não responderem ao tto imunossupressor. → Hipercoagulabilidade Em indivíduos internados ou com algum fator de risco adicional, como imobilização ou gestação, é necessário o uso de heparina de baixo peso molecular ou heparina não fracionada para prevenção de tromboembolismo Glomerulopatias 49 venoso. Já naqueles não internados e sem um fator de risco adicional, a profilaxia com heparina geralmente não é recomendada. ETIOLOGIA DA SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica pode ser simplesmente a expressão clínica de uma doença renal primária (idiopática) ou então ser secundária a fatores ou patologias extrarrenais, como infecções, medicamentos, neoplasias, doenças multissistêmicas e distúrbios hereditários. Glomerulopatias 50 As duas principais causas de síndrome nefrótica secundária a doenças sistêmicas são o diabetes mellitus (glomeruloesclerose diabética) e a amiloidose (glomerulopatia amiloide) DOENÇA POR LESÃO MÍNIMA DLM A Doença por Lesão Mínima DLM é responsável por 85% de todos os casos de síndrome nefrótica em crianças 2 a 8 anos) e 1015% em adultos. Patogenia e Histopatologia A nefropatia por lesão mínima resulta, em última análise, da perda da carga negativa da barreira glomerular (perda da “barreira de carga”), originando um tipo seletivo de proteinúria. A reincidência da síndrome em transplantes Glomerulopatias 51 renais sugere a presença de um fator circulante que “neutraliza” a carga negativa glomerular. Parece que a DLM é uma doença de linfócitos T (sensíveis a corticoide), os quais secretam uma citocina (ainda desconhecida) que age sobre os podócitos, inibindo a síntese dos poliânions (sulfato de heparan) responsáveis pela “barreira de carga”. A perda de interação entre o podócito e as proteínas da matriz extracelular provocaria a fusão podocitária. Do ponto de vista histopatológico, o que caracteriza a DLM é a pobreza (e até a ausência) de achados à microscopia óptica. Entretanto, como mostra a FIGURA 10, na microscopia eletrônica é característico o achado de fusão dos processos podocitários. Glomerulopatias 52 Manifestações clínicas e laboratoriais A doença por lesão mínima pode ocorrer em qualquer idade, mas predomina em crianças entre um a oito anos. Glomerulopatias 53 Os pacientes geralmente abrem um quadro de síndrome nefrótica clássica, com todos os seus sinais e sintomas. Em muitos casos, a proteinúria intensa se inicia logo após fatores desencadeantes, como episódios virais ou reações a picadas de inseto. Existe claramente uma associação a fenômenos atópicos, como asma e eczema, não sendo incomum que estas manifestações alérgicas também acompanhem as recidivas do quadro. A excreção urinária de proteínas pode chegar a 40 g/dia nos casos graves, e o nível sérico de albumina quase sempre está menor que 2 g/dl. Por motivos desconhecidos, existem períodos de remissão espontânea e recaídas. As recaídas são caracterizadas por proteinúria intensa. Paciente cursa com edema bipalpebral, anasarca, ascite, edema de bolsa escrotal. Hipertensão arterial não é um achado esperado na doença por lesão mínima e indica pior prognóstico. A instabilidade hemodinâmica com choque circulatório é a complicação mais séria, em especial em crianças, ocorrendo geralmente na fase de formação do edema. Pode ser precipitada pelo surgimento de diarreia, sepse, ou mesmo de forma iatrogênica, pelo uso de diuréticos ou drenagem excessiva de líquido ascítico. O quadro pode se associar a dor abdominal, febre e vômitos, tornando fundamental a investigação de peritonite espontânea, esta última frequentemente causada por Streptococcus pneumoniae. Como toda síndrome nefrótica, a DLM está relacionada a manifestações tromboembólicas, mas a trombose de veia renal é rara (bem menos frequente que na GN membranosa, membranoproliferativa e amiloidose). Redução da volemia e hemoconcentração aumentam as chances de trombose venosa profunda, que pode evoluir com isquemia e até gangrena de membro inferior. Apresentação secundária da DLM Deve-se ter em mente que a DLM pode estar relacionada a uma série de doenças sistêmicas, numa forma “secundária” de apresentação – o linfoma de Hodgkin é a principal doença associada à DLM. “Há uma forte associação entre doença de Hodgkin e doença por lesão mínima, de forma que a Glomerulopatias 54 síndrome nefrótica pode ser o primeiro sinal de um linfoma oculto”. Os anti- inflamatórios não esteroidais AINEs - principalmente os que têm terminação com eno - ibuprofeno, naproxeno etc) estão relacionados a uma síndrome que combina síndrome nefrótica por DLM e nefrite tubulointersticial aguda, manifestando-se com insuficiência renal aguda oligúrica e proteinúria nefrótica. Exames Laboratoriais Os exames complementares costumam revelar apenas as alterações pertinentes à própria síndrome nefrótica. O exame do sedimento urinário apresenta proteinúria, em torno de 3 a 4 na avaliação semiquantitativa. Pode até haver hematúria microscópica 20%, mas a forma macroscópica é rara. A bioquímica sérica pode revelar hipoalbuminemia, consequente às perdas urinárias, mas caracteristicamente os níveis de complemento estão normais. Existe quase sempre uma flagrante redução dos níveis de imunoglobulinas tipo IgG, embora as IgM possam estar até aumentadas. Diagnóstico É clínico, quando o paciente abre o quadro de síndrome nefrótica típica Curso clínico O curso da DLM é marcado essencialmente por duas características básicas: 1 períodos de “remissão” e “atividade”, e 2 a resposta dramática à corticoterapia. A evolução natural da DLM geralmente é boa, sendo que < 5% dos pacientes evolui para “rins em estado terminal” quando acompanhados por até 25 anos. Em crianças pode haver remissão espontânea do quadro. Na Síndrome Nefrótica por Lesões Mínimas ocorre proteinúria nefrótica, hipoalbuminemia e hiperlipidemia compensatória. A hipoalbuminemia gera uma menor ligação proteica com o cálcio, e assim, redução do valor do cálcio sérico total (hipocalcemia), apesar da manutenção dos níveis de cálcio ionizado. Por fim, na Doença por Lesões Mínimas a função renal costuma estar preservada. Tratamento → Prednisona: 1mg/kg/dia (máximo 80 mg/dia) durante 8 a 16 semanas. Glomerulopatias 55 Havendo resposta satisfatória (remissão da proteinúria), o corticoide deve ser gradualmente “desmamado” até completar seis meses de tratamento. Remissão em 90% dos pacientes em até 4 meses. Recidiva em 50% dos pacientes. Na primeira recidiva está indicado reiniciar o tto com prednisona. Contudo, quando ocorrem recidivas frequentes ou resistência ao corticoide, os portadores de síndrome nefrótica deverão utilizar medicamentos imunossupressores, como inibidores da calcineurina (ciclosporina ou tacrolimus), ciclofosfamida ou rituximabe. Biópsia Como a doença por lesão mínima é responsável pela imensa maioria dos casos de síndrome nefrótica em crianças, não é necessário solicitar biópsia inicialmente. Esta deve ser solicitada para pacientes corticodependentes, corticorresistentes com recidivas frequentes, função renal debilitada e/ou se idade 8 anos. Existem outras indicações de biopsia além dos pacientes corticorresistentes : 1 ano ou 10 anos, hematúria macro/microscopica persistente, hipertensão grave, disfunção renal, hipocomplementemia, sintomas extrarrenais , pleanejamento de de introdução de inibidores de calcineurin Glomerulopatias 56 2. GLOMERULOESCLEROSE FOCAL SEGMENTAR GESF Glomerulopatias 57 GESF é um termo que traduz apenas um padrão de lesão glomerular que se caracteriza pelo surgimento de esclerose com colapso capilar em menos de 50% dos glomérulos renais (lesão focal) e em parte das alças de cada glomérulo acometido (lesãosegmentar). A GESF primária, embora possa surgir em qualquer faixa etária (incluindo crianças) a maiora dos pacientes tem entre 2535 anos de idade. Hoje, no Brasil, ela representa a principal forma de síndrome nefrótica primária em adultos (independentemente da raça)! Etiologia Glomerulopatias 58 Glomerulopatias 59 A GESF é classificada em primária, secundária ou genética. GESF primária: tem-se a evidência de um fator circulante que agride os podócitos, provocando a fusão dos processos podocitários, semelhante à DLM, porém de uma forma mais agressiva, afetando a arquitetura das fendas de filtração (barreira de tamanho), o que determinaria proteinúria não seletiva, ocorrendo esclerose de parte de ao menos 1 glomérulo identificado na biópsia renal. O fator circulante ainda ñ foi identificado, porém acredita-se que o receptor solúvel do plasminogênio ativador da uroquinase (suPAR pode ser um dos responsáveis. GESF secundária, a lesão é decorrente de um processo adaptativo anormal em que ocorre hiperfiltração após uma perda significativa de néfrons e/ou aumento da pressão intraglomerular. A GESF secundária a medicamentos e vírus é provocada por lesão direta ao podócito. GESF genética é devida a produção de proteínas podocitárias defeituosas. Glomerulopatias 60 Os glomérulos que não contêm as alterações da GEFS apresentam as da DLM (fusão podocitária) e as áreas escleróticas e mesangiais frequentemente evidenciam depósitos de IgM e C3. Evolução da GESF primária O termo esclerose, nas doenças glomerulares, se refere ao acúmulo de material homogêneo não fibrilar, levando ao colapso de capilares glomerulares. Na GEFSi, este material é hialino, derivado de proteínas plasmáticas que extravasam pelo epitélio visceral lesado (hialinose glomerular). Quando o processo de esclerose glomerular que caracteriza a GEFSi começa a se desenvolver em um indivíduo, os primeiros glomérulos a serem acometidos são os mais próximos à região medular, chamados “justamedulares”. Ainda nesta fase inicial, a lesão costuma se estabelecer tipicamente nas “pontas” dos glomérulos, isto é, nas regiões adjacentes aos túbulos contorcidos proximais. Somente com a progressão da doença é que os glomérulos mais “corticais” vão sendo comprometidos, e que o processo de esclerose se estende para as alças capilares mais próximas ao hilo glomerular (onde estão as arteríolas aferente e eferente). Assim, o achado de GEFS, predominando na ponta de glomérulos justamedulares, pode ser sinal de que a doença primária ainda está em suas fases iniciais, anunciando uma expectativa de melhor resposta aos corticoides. Um outro achado comum é a hipertrofia glomerular (aumento do volume glomerular, neste caso à custa de expansão do mesângio). A natureza focal do processo determina um conceito importante, que deve ser sempre lembrado: o material colhido por biópsia percutânea nem sempre flagra as alterações patológicas típicas!!! Como na forma idiopática da GEFS os glomérulos que não apresentam a esclerose segmentar apresentam as alterações da DLM, não é rara a confusão diagnóstica, especialmente se tiverem sido extraídos menos de oito glomérulos exclusivamente corticais. Amostras de biópsia renal consideradas “representativas” contêm por volta de 1020 glomérulos, englobando glomérulos justamedulares. Glomerulopatias 61 Formas Histopatológicas variantes da GESFi Existe uma variante da GEFS, a “forma colapsante”, ou “glomerulosclerose focal colapsante”, que se caracteriza pela esclerose segmentar seguida de colapso de todo o tufo glomerular. Esta forma tem um curso clínico marcado por uma rápida deterioração da função renal. A forma colapsante pode ser idiopática ou relacionada à infecção pelo HIV. O HIV pode causar uma lesão podocitária mais grave chamada GESF colapsante. Está associada ao HIV não Glomerulopatias 62 tratado; na biópsia é característico o colpaso de alguma alça capilar do glomérulo, e tem um prognóstico muito ruim. Uma outra variante, chamada “forma celular”, definida pela presença de hipercelularidade endocapilar segmentar, associa-se a um grau maior de proteinúria Manifestações clínicas e laboratoriais A forma idiopática da GEFS GEFSi) tende a ter um início abrupto, e uma síndrome nefrótica clássica em geral está presente por ocasião do diagnóstico. A maior parte das formas secundárias, entretanto, tem início insidioso, muitas vezes com níveis subnefróticos de proteinúria. Em ambas as formas de GEFS, a proteinúria é do tipo não seletiva, refletindo as áreas focais de esclerose com desestruturação da arquitetura das fendas de filtração (perda da barreira de tamanho). Um grupo de pacientes também revela, já no momento da apresentação, graus variáveis de insuficiência renal. Com frequência são encontradas manifestações que não fazem parte de uma síndrome nefrótica clássica, como a hipertensão arterial (principalmente quando há comprometimento da taxa de filtração glomerular, mesmo que leve) Glomerulopatias 63 e a hematúria microscópica (principalmente quando há lesão mesangial associada). A GEFS é uma importante causa de hipertensão arterial secundária em adultos. Na GEFSi, os níveis de complemento sérico estão normais. Tratamento O uso da corticoterapia é o pilar incial do tratamento da GESF primária, sendo a droga de escolha prednisona 1mg/kg/dia. Já na GESF secundária ou genética não está indicado o uso de corticode e, sim o tratamento da doença de base. O prognóstico costuma ser pior do que na DLM, pois tem mais chance de desenvolver uma perda progressiva da função renal, principalmente naqueles com baixa resposta ao tto com corticoide. → Prednisona 1mg/kg/dia (máximo 80mg/dia) durante 8 a 16 semanas. → Desmame gradual de prednisona durante 6 a 9 meses. → Remissão completa em 20% dos pacientes. → Remissão parcia (queda em 50% da proteinúria para um valor < 3,5g/dia) ocorre em 40% dos pacientes. → Não é recomendado tratamento com corticoide em indivíduos com DRC avançada. OBS Nos pacientes com resistência ou dependência da corticoterapia, está indicado o uso dos inibidores de calcineurina - ciclosporina ou tacrolimus. Glomerulopatias 64 3. GLOMERULOPATIA MEMBRANOSA O termo “Glomerulopatia Membranosa” ou simplesmente “Nefropatia Membranosa” é genérico (à semelhança do que acontece com a GEFS, traduzindo apenas um padrão de lesão glomerular. Assim, pode aparecer de forma isolada (primária ou idiopática), ou ser secundária a diversas condições sistêmicas específicas, como lúpus, hepatite viral e neoplasia, ou mesmo após o uso de determinados medicamentos, como captopril, sais de ouro e penicilamina. Glomerulonefrite membranosa é mais comum entre 3050 anos. Glomerulonefrite membranosa está associada a neoplasias sólidas. Pode haver certo grau de hematúria glomerular em pacientes com glomerulonefrite membranosa. A apresentação inicial costuma ser um quadro de síndrome nefrótica pura. Causas associadas Glomerulopatias 65 Glomerulopatias 66 No Brasil, a Glomerulopatia Membranosa idiopática (GMi) atualmente é a segunda forma mais comum de síndrome nefrótica primária em adultos. A alteração histopatológica que caracteriza esta condição é o espessamento da Membrana Basal Glomerular MBG, na ausência de proliferação celular. Ao contrário da esclerose focal, a GM apresenta comprometimento uniforme dos glomérulos (padrão difuso e homogêneo). Pelos dados da imunofluorescência em conjunto com a microscopia eletrônica, existem imunodepósitos subepiteliais de IgG e C3 que interagem com a matriz da MBG, espessando-a e criando prolongamentos que se pronunciam entre os depósitos. Glomerulopatias 67 Patogênese A patogênese da nefropatia membranosa é o depósito de imunocomplexos entre a superfície externa da membrana basal glomerular e o epitélio visceral, que são os prolongamentos dos podócitos (espaço subepitelial). Esses depósitos provocam uma injúria imunomediada na própria MBG e no podócito,resultando em proteinúria, na maioria das vezes maciça a ponto de causar síndrome nefrótica. A explicação da proteinúria nefrótica não seletiva, típica da GM, foi elucidada recentemente... Tudo começa pela ativação local do sistema complemento, formando o complexo C59 (“complexo de ataque à membrana”). Este, por sua vez, estimula as células epiteliais e mesangiais a produzir proteases e oxidantes, responsáveis em última análise pela degradação da matriz da MBG, levando à perda da “barreira de tamanho”. Manifestações clínicas e diagnóstico Em 7080% dos casos, a apresentação clínica da GMi é a de uma síndrome nefrótica clássica, insidiosa, que ocorre na maioria das vezes numa faixa etária entre 3050 anos. Nos 2030% restantes, há proteinúria nefrótica sem sintomas (ausência de edema). Glomerulopatias 68 Duas complicações são esperadas e podem dominar o quadro clínico: 1 Complicações tromboembólicas, tal como a Trombose de Veia Renal 30% dos casos), a embolia pulmonar 20% dos casos) e a trombose venosa profunda 10% dos casos). 2 Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva GNRP, pela eventual superposição de nefrite por anti-MBG, com formação de crescentes. Esta última deve ser suspeitada no paciente estável que desenvolve rápida deterioração da função renal, com sedimento ''ativo'' sugerindo glomerulite. O laboratório da GM costuma mostrar proteinúria maciça, que na maioria das vezes é do tipo não seletiva, hematúria microscópica 30% e complemento sérico normal. O achado de hipocomplementemia sugere GM secundária ao LES. Glomerulopatias 69 Como regra geral, todo paciente que desenvolve síndrome nefrótica por nefropatia membranosa deve ser submetido aos exames de “triagem” expostos na Tabela 22. Se esta investigação se revelar negativa, o diagnóstico de GMi deve ser firmado e o tratamento prontamente iniciado. Glomerulopatias 70 Tratamento O manejo da NM secundária tem como principal pilar o tratamento da doença de base ou a suspensão do medicamento culpado. Já na NM primária, é necessário graduar o risco de perda crônica da função renal para decidir sobre a utilização do tratamento antiproteinúrico IECA ou BRA sem ou com imunossupressor. Nos indivíduos com creatinina 1,5mg/do, hipoalbuminemia severa 2,0, edema refratários ou complicações da síndrome nefrótica, como eventos trombóticos, está indicado o uso de imunossupressores. → NM de baixo risco IECA ou BRA durante 3 a 6 meses. → NM de alto risco com função renal normal Rituximabe → NM de alto risco com perda de função renal Corticoide em pulsoterapia com metilprenisolona 1g + ciclofosfamida. OBS Na ausência do Rituximabe, pode-se usar a combinação de pulsoterapia com metilprednisolona e ciclofosfamida ou inibidores da calcineurina (ciclosporina ou tacrolimus). Cerca de 40% dos portadores de NM apresentam remissão espontânea da síndrome nefrotica. Por isso é racional manter os indivíduos de baixo risco sem imunossupressão e monitorar sua função renal. 4. GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFEERATIVA Glomerulopatias 71 A GNMP é mais frequentemente associada a causas secundárias, especialmente a infecção pelo vírus da hepatite C VHC e doenças autoimunes, tais como lúpus eritematoso sistêmico LES e artrite reumatoide Glomerulopatias 72 Sinal do duplo contorno, pq vai haver imunocomplexos circundando tanto a parte subendotelial como subepitelial. Classificação atual é baseada na imunofluorescência Glomerulopatias 73 LES Lúpus Eritematoso Sistêmico LES e muito provavelmente uma nefrite lúpica devido presença de proteinúria importante e hematúria com cilindros hemáticos, o que nos faz pensar em acometimento glomerular, onde temos associado uma síndrome nefrótica por perda de proteína maior de 3,5g/dia e uma síndrome nefrítica pela presença de hematúria e cilindros hemáticos com hipertensão e perda de função renal que se for em curto período podemos chamar então de glomerulonefrite rapidamente progressiva. A nefrite lúpica é uma complicação frequente no LES, podendo chegar a se apresentar em mais de 70% dos pacientes em algum momento na evolução da doença. O espectro clínico da nefrite lúpica varia de discretas alterações na sedimentoscopia até síndrome nefrótica, glomerulonefrite rapidamente progressiva e rins terminais. Histologicamente ela é classificada de I a VI, e em cada classe espera-se alterações características. A nefrite lúpica mesangial pode ser mínima Classe I, quando o paciente é assintomático do ponto de vista renal, ou pode ser proliferativa (classe II quando os achados clínicos são geralmente brandos e incluem proteinúria < 1 g/24h e hematúria discreta com creatinina sérica e TFG normais. . A nefrite lúpica proliferativa focal ou classe III é caracterizada por alterações Glomerulopatias 74 proliferativas (hipercelularidade) focais (menos de 50% dos glomérulos). Os pacientes vão cursar com hipertensão, proteinúria > 1 g/24h e hematúria estão geralmente presentes. Cerca de 25% dos pacientes apresenta síndrome nefrótica e/ou elevação da creatinina sérica, em diversos graus de insuficiência renal. Tem gravidade intermediária entre as classes II e IV, e pode evoluir para classe IV a qualquer momento. Na nefropatia lúpica membranosa (classe IV, os pacientes costumam apresentar proteinúria nefrótica, porém, com discreta hematúria e insuficiência renal pouco expressiva e de evolução lenta. A nefrite lúpica proliferativa difusa ou classe IV, é a mais grave e também a mais comum dentre todas as lesões renais do LES, caracterizando- se pela presença de alterações proliferativas globais em mais de 50% dos glomérulos. Há um grande número de depósitos subendoteliais (tipo predominante), subepiteliais e mesangiais. Áreas de necrose fibrinoide e formação de crescentes são comuns. São encontrados anticorpos anti-DNA em títulos elevados, com complemento sérico baixo. Clinicamente, quase todos os pacientes apresentam hipertensão arterial, proteinúria nefrótica, hematúria e insuficiência renal. Alguns pacientes evoluem com a síndrome de GN rapidamente progressiva. O tto da nefrite lúpica classe IV, o tratamento de escolha nesse caso é pulsoterapia com metilprednisolona 1g via endovenosa por três dias consecutivos, pulso mensal de ciclofosfamida por 3 a 6 meses, além de prednisona, via oral, 1 mg/kg/dia (máx 80 mg/dia) na fase de indução, que dura de 3 a 6 meses. Em seguida, inicia-se a fase de manutenção, com prednisona, reduzindo gradualmente a dose. Amiloidose O quadro conjunto de Síndrome Nefrótica + Macroglossia + Distrofia de Unhas + Equimoses periorbitárias deve nos fazer pensar em AMILOIDOSE !!! A sindrome nefrótica está associada a doença glomerular por deposição de cadeias leves, bem como a macroglossia, além de unhas quebradiças e formação de equimoses por fragilidade capilar, associada também à deposição. Glomerulopatias 75 Glomerulopatias 76 Glomerulopatias 77 Glomerulopatias 78 Glomerulopatias 79 Glomerulopatias 80 Glomerulopatias 81 Glomerulopatias 82 Glomerulopatias 83 Glomerulopatias 84 Glomerulopatias 85 Glomerulopatias 86 Glomerulopatias 87 Glomerulopatias 88 Glomerulopatias 89 Glomerulopatias 90 Glomerulopatias 91 Glomerulopatias 92 Glomerulopatias 93 Glomerulopatias 94
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