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Família e Sociedade: Sociedade, família e indivíduo

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Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 01
Sociedade, família e indivíduo
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ões
Tema 01
Sociedade, família e indivíduo
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Sociedade, família e indivíduo. 
Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera 
Educacional, 2017.
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
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Tema 01
Sociedade, família e indivíduo
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Prezado aluno, neste curso você será apresentado a conceitos das ciências sociais que o 
permitirão refletir sobre a relação entre família e sociedade sob diferentes perspectivas.
O objetivo principal do curso é refletir a família enquanto um fenômeno social e cultural. Para 
tanto, apresentaremos autores, leituras, links, exemplos e situações que possam ajudá-lo a 
compreender a família como um reflexo da sociedade e da cultura em que seus membros 
estão inseridos, assim como refleti-la como parte do imaginário político, social e cultural da 
sociedade em que estamos inseridos.
Consequentemente, objetivamos que desenvolva capacidade de refletir e compreender a 
partir de um olhar específico diferentes situações-problemas que envolvem os processos 
de socialização familiar; que desenvolva a capacidade de refletir a relação entre indivíduo, 
família e sociedade e que possa, ao final do curso, pensar na diversidade das formas como 
podemos definir os arranjos familiares em diferentes contextos sociais, políticos, econômicos 
e culturais. 
Nosso curso estará dividido em temas que, apesar de não esgotarem as possíveis 
abordagens sociológicas sobre família, complementam-se. 
Neste primeiro tema, trabalharemos as especificidades da leitura de conceitos próprios 
às ciências sociais e também falaremos um pouco sobre o lugar da família em obras de 
autores clássicos da sociologia. 
 Boa leitura!
CONTEÚDOSEHABILIDADES
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Tema 1 - Sociedade, família e indivíduo
Convite à leitura
Trabalharemos, neste primeiro tema de nosso curso, a relação entre sociedade, família 
e indivíduo. Para introduzirmos uma leitura das ciências sociais sobre esta temática, 
começaremos apresentando algumas das principais perguntas que autores da área se 
fizeram sobre o que é a sociedade e o que, enfim, nos orienta a vivermos em grupo e a 
sermos seres eminentemente sociais. Para compreender o papel da família na sociedade 
e, ao mesmo tempo, para compreender qual o peso da sociedade na constituição daquilo 
que entendemos como família, será importantíssimo entender os sentidos específicos que 
esses termos assumem nas leituras a partir das quais estamos nos baseando neste curso. 
Por dentro do tema
Antes de começarmos, façamos uma pausa necessária para falarmos sobre leitura e 
compreensão de textos acadêmicos. Quando nos dedicamos à leitura e à compreensão de 
textos acadêmicos na área das ciências humanas, devemos ter em mente alguns pontos 
muito importantes:
1) O momento histórico em que os autores estão escrevendo, porque as obras dialogam com 
a sociedade e a cultura em que os autores estão inseridos. Quando filósofos da Antiguidade 
estão falando sobre homens e sobre Deus, por exemplo, estão usando esses termos em 
sentidos diferentes dos sentidos dados por filósofos da Idade Média. São Tomás de Aquino e 
Santo Agostinho se inspiram em Platão e Aristóteles e os retomam, mas não podemos dizer 
que suas leituras são iguais à leitura dos filósofos da Antiguidade, porque o cristianismo ainda 
não existia, a sociedade em que viviam era outra. Podemos pensar o mesmo quando estamos 
falando da família para autores do começo do século XX e para autores do século XXI.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
2) A instituição em que os autores estão inseridos, porque existe um diálogo entre autores 
que pertencem a um círculo acadêmico específico. Assim como podemos estudar a história 
de instituições como o Estado moderno, podemos estudar a história de instituições como 
universidades. E é importante ter em mente que grande parte dos fundadores das ciências 
sociais está escrevendo no começo do século XX na Europa e nos Estados Unidos da 
América. Também é importante reconhecer que para cada meio universitário, temos uma 
rede de autores que acabam referindo-se uns aos outros em suas obras. Há um diálogo 
possível, por exemplo, entre Karl Marx e Friedrich Hegel. Há inclusive um diálogo possível 
entre Marx e Charles Darwin, mas não podemos dizer que a noção de trabalho presente na 
obra de Marx é a mesma noção que está presente na obra de Émile Durkheim. Durkheim 
escreve bem depois de Marx e tem outras influências teóricas.
3) Os termos que aparecem ao longo dos textos acadêmicos não possuem os mesmos 
sentidos que as palavras com as quais temos contato em nosso cotidiano ou no senso 
comum. Na maioria das vezes, esses termos que encontramos em textos técnicos ou obras 
acadêmicas possuem status de “conceito”, ou seja, são palavras que buscam representar 
uma situação, uma realidade, de forma generalizante. Palavras como trabalho, sociedade, 
cultura, possuem sentidos comuns distintos dos sentidos teóricos que assumem em textos 
acadêmicos.
4) O sentido que um autor utiliza para um conceito em determinada obra não é 
necessariamente o mesmo sentido que outro autor dá para o mesmo conceito e, em muitos 
casos, um mesmo autor pode definir de forma diferente o mesmo conceito ao longo de sua 
obra. O significado e as implicações do uso da palavra “Civilização” vão mudando ao longo 
da obra de Sigmund Freud, por exemplo. Para ler textos acadêmicos, é importante sempre 
ter isso em mente e, muitas vezes, buscar o sentido específico do termo dento da obra ou 
em dicionários da área.
Essas dicas o ajudarão ao longo de seus estudos e, sobretudo, o ajudarão a compreender 
as possíveis leituras das ciências sociais para a relação entre sociedade, família e indivíduo 
que apresentaremos neste caderno. Trabalharemos, inicialmente, alguns questionamentos 
sobre a relação entre indivíduo e sociedade. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Relação entre indivíduo e sociedade
Em algum momento de sua vida, você deve ter se deparado com a palavra sociedade como 
forma de se referir a um grupo de pessoas que habita algum país ou mesmo como forma de 
se referir ao meio social em que você próprio nasceu, cresceu e vive. 
Os noticiários constantemente citam “a sociedade brasileira” como sinônimo da nação 
brasileira ou dos indivíduos que nasceram, cresceram e vivem no Brasil. O sentido assumido 
pela palavra, neste contexto, é de uma espécie de entidade que representa um grupo coeso 
de pessoas vivendo segundo regras e costumes específicos. Em outros momentos, você 
também já deve ter entrado em contato com a ideia de que todas as regras a partir das quais 
vivemos em sociedade se sobrepõem aos indivíduos como uma espécie de força ordenadora 
e controladora. Nesse sentido, sociedade pode ser definida como uma instituição limitadora 
das ações individuais em prol da manutenção da coletividade. 
Podemos dizer que o segundo exemplo carrega consigo uma leitura de sociedade que 
depende de certa leitura do que é o indivíduo. Imagine-se vivendo livremente em um campo, 
sobrevivendo daquilo que a natureza lhe fornece. Você e seu grupo familiar primitivo, talvez 
formado de uma esposa e filhos, vivem utilizando ferramentas rudimentares que permitem 
que seu grupo familiar se proteja do frio, que se alimente. Mas você não é o único grupo 
familiar existente no mundo. Vez ou outra, depara-se com outra família ou com outro grupo 
maior de pessoas que podem não ser amistosas. Alguns de seus vizinhos propõem ajudá-
lo a proteger sua família. Para tanto, vocês combinam um conjunto de regras entre os 
grupos de famílias e vizinhos. Regras rudimentares, por exemplo, dividir os horários em que 
buscarão comida e revezar a guarda noturna do acampamento. O grupo começa a crescer 
e vocês têm que organizar casamentos entre os filhos dos vizinhos, funerais. Novas regrassobre essas atividades coletivas vão surgindo. 
Para os filósofos conhecidos como “contratualistas”, como Thomas Hobbes (1578-1679) e 
John Locke (1632-1704), esse cenário ilustra o surgimento da sociedade. Para essa tradição 
de pensamento, a vida em sociedade sempre implica na abdicação da liberdade individual 
absoluta para que os grupos possam funcionar. E, como consequência da escolha pelo 
coletivo, nascem instituições pautadas em códigos jurídicos rudimentares: 
1) o coletivo decide quem será responsável por punir aqueles que não servem ao propósito 
maior de proteção do grupo e como será aplicada essa punição; 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
2) o coletivo define as regras de casamento com filhos dos vizinhos que fazem parte da 
comunidade, já que o sujeito não poderá desposar os membros da própria família, mas 
também não poderá desposar o inimigo; 
3) o coletivo divide e distribui as tarefas necessárias à sobrevivência, que antes eram 
todas realizadas por esse único sujeito vivendo livre junto à natureza e agora ficam sob a 
responsabilidade de especialistas. 
Tal leitura sobre o surgimento da sociedade está presente em diversas obras ao longo do século 
XIX. Autores como Lewis Morgan (1818-1881) perguntavam-se sobre como a humanidade 
construiu, desde o começo de sua existência até o século XIX, as estruturas de poder, as 
estruturas de produção e os sistemas de crença que esses autores conheceram. E recorreram 
a uma imagem do ser humano vivendo em seu estado de natureza semelhante ao que os 
contratualistas utilizaram, porém, partindo de influências teóricas distintas. Esse era um momento 
em que o evolucionismo cultural proposto por Herbert Spencer (1820-1903) estava em alta 
conta entre os escritores que se dedicavam aos estudos da sociedade e do homem. 
Inspirado por uma das principais obras de Morgan, A Sociedade Antiga, Friedrich Engels 
(1820-1895) escreverá seu famoso livro A origem da família, da propriedade privada e 
do Estado. É interessante para nós citar esses textos, porque a noção de sociedade, de 
família e de indivíduo em ambos os livros está presente em nosso imaginário até os dias 
atuais. Mas como? Que noção de família é essa?
Notem: quando imaginamos o homem andando livre pelos campos e deparando-se com 
os perigos do encontro com outros homens livres, estamos pressupondo um tipo bastante 
específico de indivíduo. Guardemos essa informação por enquanto e continuemos a 
raciocinar como os evolucionistas culturais e como Engels, na referida obra. Volte mais 
um pouco em sua abstração sobre o cenário que estávamos desenhando até então. O ser 
humano, seguindo seus instintos de sobrevivência, tem de lidar com ameaças da natureza 
e de sua própria espécie e tem de lidar com aquilo que a natureza lhe dá para sobreviver. 
Ele, inicialmente, deveria ser um caçador e um coletor, porque atividades como agricultura 
requerem que ele se fixe em um território e que trabalhe a terra. Além da necessidade 
individual de sobrevivência, há a necessidade de manutenção da espécie, portanto, a 
necessidade de reprodução, correto? Trabalho e casamento são, para Morgan e Engels, a 
base da constituição desse protótipo de sociedade sobre o qual falamos anteriormente. As 
primeiras associações entre seres humanos se dão:
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LEITURAOBRIGATÓRIA
1) pelo estabelecimento de sistemas e relações de parentesco;
2) pelo estabelecimento de formas de organização social da produção.
A primeira forma de associação, para esses autores, são as famílias. Morgan recorrerá 
a dados sobre as origens das sociedades greco-romanas e às origens das fratrias e clãs 
para refletir o surgimento das famílias, dos assentamentos em territórios e para refletir 
sobre o início da produção agrícola. As relações de parentesco, para este autor, são a 
base do que podemos chamar de uma sociedade primitiva. As famílias vão se unindo em 
grupos maiores que trocarão coisas, trabalho e pessoas. Homens que chefiam as famílias 
trocam mulheres, o que para Morgan é parte fundamental da história das famílias e das 
relações de parentesco. O que isso significa? As famílias se formam a partir do casamento 
e as famílias se relacionam casando suas filhas, segundo o raciocínio do autor. Assim, os 
grupos de parentes vão instituindo regras de casamento e de posse da terra. A organização 
dos sistemas de trocas de pessoas pelo casamento acompanha a sedentarização, que 
possibilita a agricultura e, posteriormente, a troca de produtos entre aldeias. Logo esses 
grupos precisam também de códigos que organizem sua vida política e constroem sistemas 
de crenças e religiões, ligadas à figura desses sujeitos que gerenciam o poder. Fica mais 
fácil visualizar tudo isso quando retomamos os sistemas políticos europeus, com famílias 
reais trocando seus nobres e garantindo a hereditariedade do poder, que em muitos casos 
também é religioso. 
Temos, portanto:
1) As famílias como base da formação das sociedades primitivas.
2) A associação entre famílias fundando o direito à terra.
3) O direito à terra relacionado à sedentarização, à agricultura.
4) Os códigos que regem as relações entre famílias também regem a vida política e a vida 
religiosa.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Engels irá apoiar-se em A Sociedade Antiga para nos dizer que a origem da sociedade 
humana está ligada à origem da propriedade privada e da dominação das mulheres pelos 
homens. Como Karl Marx (1818-1883), Engels nos trará uma visão crítica sobre a forma 
violenta como a sociedade humana se constitui, apontando como as famílias se formam a 
partir da dominação do território e das mulheres. Ambos falarão também do papel da família 
burguesa na sustentação das ideologias que servem à propagação da exploração do trabalho 
no sistema de produção capitalista, que sucede as formas de acumulação primitivas. 
Até o momento, falamos de uma leitura sobre a relação entre indivíduo e sociedade que 
compartilha alguns pontos:
1) Partem da noção do homem primitivo para falarem na formação histórica da humanidade.
2) Consideram que este homem primitivo abdica de seus instintos e de sua liberdade a favor 
das relações sociais.
3) Discutem que famílias são parte fundamental das primeiras formas de organização social.
4) Discutem o papel da violência na formação da sociedade, seja considerando que os 
homens se associam para protegerem a si próprios e a suas famílias, seja considerando 
que a violência está presente nas formas de acumulação primitivas (guerras pela terra, 
dominação das mulheres).
A imagem deste início da vida em sociedade lhe pareceu bastante plausível, não é mesmo? 
Só que ela não responde a todas as perguntas sobre a relação entre indivíduo, família e 
sociedade que estão presentes na obra de outros dos principais autores fundadores do 
pensamento sociológico, como Émile Durkheim. Afinal, que perguntas são essas?
A sociedade como um imperativo moral 
Grande parte do potencial que as crianças possuem para aprender vem da habilidade que 
elas possuem de fazer perguntas que nós, adultos completamente socializados, não fazemos 
mais porque achamos que já temos resposta para tudo. Vamos exercitar essa habilidade 
retomando o cenário do homem primitivo que decide um belo dia assinar o contrato social 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
que funda a sociedade para seu próprio benefício. Não lhe parece estranho imaginar que 
este homem forma famílias, que encontram outras famílias vizinhas e vai decidindo, por 
tentativa e erro, como vão ser as regras que vão organizar o grupo maior? Se esse homem 
vive sozinho, no máximo com um grupo de mulheres, como surge uma família? Quando 
ele decide que algumas mulheres, como filhas e sua própria mãe, não estão disponíveis 
para casamento? E, mais importante, como essas pessoas se comunicam? Quando esse 
homem primitivo começa a falar? O que surge primeiro, a linguagem a partir da qual os 
homens organizam seus códigos de conduta em sociedade, ou a própria sociedade?
É justamente essa última pergunta que alimenta as preocupações de Durkheimsobre o que 
é a sociedade e sobre sua relação com indivíduo e família. Para o autor, a sociedade não 
se resume a uma somatória de indivíduos associados. A sociedade, na obra durkheimiana, 
é um imperativo moral e não somente esse aglomerado de pessoas organizadas e, mais do 
que isso, na mesma perspectiva não podemos dizer que a vontade individual de proteção 
está por trás da formação da sociedade, porque ela existe antes da existência do próprio 
indivíduo. 
O que significa dizer que a sociedade é um imperativo moral? Podemos dizer que, para 
Durkheim, é a vida social que está por trás das decisões individuais e não o contrário. O autor 
não está preocupado em investigar as origens da sociedade, como autores evolucionistas 
culturais estavam. Suas preocupações são com as seguintes questões:
1) Qual o papel da sociedade em nossa formação enquanto seres humanos?
2) Qual o lugar do indivíduo na sociedade?
Note que, quando paramos para avaliar com atenção o primeiro ponto, temos uma reviravolta 
na forma como estivemos pensando até então. Se, antes, vínhamos desenhando o cenário 
do homem livre na natureza que se une a outros homens e funda a sociedade para proteger-
se, agora desenhamos o cenário do homem sendo formado no seio de um grupo social. 
Afinal, tudo aquilo que aprendemos, inclusive as formas de produzir e os códigos de conduta 
a partir dos quais vivemos, nos é apresentado pela sociedade. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Família como primeiro espaço de socialização
Parte essencial da educação de um ser humano é o aprendizado de como viver em 
sociedade. A esse processo educacional a partir do qual aprendemos a nos comportar em 
atividades coletivas damos o nome de socialização. Quando nascemos, já fazemos parte 
de um grupo social e de uma família. E a preocupação de Durkheim será a de estudar os 
imperativos sociais presentes em nossos comportamentos individuais. É isso que significa 
dizer que a sociedade é um imperativo moral. Nem que quisesse, o ser humano poderia 
viver fora dela, pois ele assume sua humanidade só quando vive em sociedade. Somos 
seres gregários, somos seres sociais por definição, segundo Durkheim. 
Ao dizer que a vida em sociedade nos forma enquanto sujeitos, o autor também está nos 
dizendo que cada um de nós tem papel fundamental no funcionamento da sociedade 
enquanto um todo independente do indivíduo. Todos nós, de algum modo, agimos para a 
manutenção das formas de sociabilidade (que Durkheim chama de solidariedade) próprias 
ao momento histórico, às relações de produção e à cultura do grupo em que vivemos. 
Por mais que pensemos que temos liberdade de escolha e ação individual, acabamos 
agindo para manutenção dessa moral social a partir da qual fomos socializados desde o 
momento em que nascemos. E a família e a escola possuem papel fundamental nesse 
processo de socialização que nos faz humanos e que nos faz parte de um grupo. Nas 
palavras do autor:
[...] cada sociedade considerada em momento determinado de seu 
desenvolvimento possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos 
de modo geralmente irresistível. É uma ilusão acreditar que podemos educar 
nossos filhos como queremos. Há costumes com relação aos quais somos 
obrigados a nos conformar; se os desrespeitarmos, muito gravemente, eles 
se vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado 
de viver no meio de seus contemporâneos com os quais não encontrarão 
harmonia. Que eles tenham sido educados, segundo ideias passadistas ou 
futuristas, não importa; num caso como noutro, não são de seu tempo e, por 
consequência, não estarão em condições de vida normal. Há, pois, a cada 
momento, um tipo regulador de educação do qual não nos podemos separar 
sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes. 
(DURKHEIM, 1977, p. 30).
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Outra contribuição fundamental que podemos citar é a forma como o autor analisa a 
sociedade de classes. Algo comum aos fundadores do pensamento sociológico clássico é o 
estudo das relações sociais na sociedade pós-industrial. Marx vai nos dizer que o indivíduo 
livre e dono de si é uma invenção necessária à sociedade do trabalho. Temos de acreditar 
que podemos escolher para que possamos fazer parte de um sistema que nos promete 
ascensão social pelo trabalho. Max Weber (1864-1920) vai nos dizer que a burocratização, 
a racionalização e a ciência são essenciais para a construção da estrutura da nova empresa 
capitalista, portanto, salienta também o papel da família e da educação na sociedade de 
classes. Para Durkheim, o que diferencia a sociedade capitalista, a sociedade organizada 
em classes e que se pauta na produção industrial, é a divisão social do trabalho. Com cada 
um de nós nos especializando por uma parte muito pequena da produção, tornamo-nos 
muito mais interdependentes, mas temos a sensação paradoxal de que não dependemos 
uns dos outros. Você se acha livre na sociedade de classes? Então imagine o seguinte 
cenário: um dia, todos os lixeiros ou todos os motoristas de trem param suas atividades. O 
sistema todo para. A sociedade de classes, para Durkheim, é como um organismo vivo. Se 
uma parte dele entra em falência, não demorará muito para que o corpo pare de funcionar. 
Se, para os contratualistas e para os evolucionistas culturais, a família é uma espécie de 
sociedade rudimentar, ou seja, uma primeira forma de associação e de relação social, 
para os fundadores da sociologia, a família é o primeiro lugar onde todos os princípios 
de sociabilidade necessários para a reprodução da sociedade nos serão ensinados. Para 
Marx, a família burguesa tem papel fundamental na reprodução da exploração do trabalho. 
Para Weber, famílias também estão por trás dos tipos de poder que são reproduzidos nas 
diferentes sociedades. Para Durkheim, também é no seio familiar que somos educados 
para viver em sociedade e, mais do que isso, para reproduzir os imperativos morais que 
sustentam a ordem social e seu funcionamento. 
Para a sociologia, família, religião e escola são as principais instituições responsáveis por 
nos educar para reproduzirmos a ordem social vigente na sociedade de classes. Tendo isso 
em mente, seguiremos neste curso analisando mais a fundo como isso acontece.
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Indivíduo e Sociedade, por Ana Paula Poll, fala proferida em TED Brasil
Em sua fala no TED em Volta Redonda, a cientista social Ana Paula Poll nos convida a 
fazer perguntas reflexivas sobre o Brasil e sobre a sociedade brasileira. Baseando-se em 
uma proposição clássica da sociologia sobre o ser humano ser por definição um ser social, 
um ser gregário, e sobre a necessidade dos processos de socialização para a formação 
dos sujeitos, a autora inicialmente discute a interdependência que constitui a sociedade do 
trabalho para, em seguida, refletir as especificidades das relações entre o eu e a coletividade 
no Brasil. Qual a rede de relações que constitui a sociedade brasileira? Essa é a pergunta 
essencial proposta pela autora. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=a8gyl6MPHsI>. Acesso em: 23 ago. 2017.
Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, produzido pela UNIVESP TV
O vídeo apresenta, de forma bastante didática, o conceito de sociedade utilizado por Émile 
Durkheim. Contém uma pequena biografia sobre Durkheim e o contexto teórico em que o 
autor está inserido, feita pelo sociólogo e professor da USP Gabriel Cohn. Discute e explica 
também os principais conceitos da obra durkheimiana, como o de Fato Social. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SMaxxNEqk7U>. Acesso em: 23 ago. 2017.
Dicionário de Sociologia, de Raymond Boudon
O site Ebah é uma rede social que se dedica ao compartilhamento de materiais para 
professores. O link indicado abaixo contém trechos do Dicionário de Sociologia de Raymond 
Boudon e pode ser bastante útil para aqueles que buscam compreender o sentido que a 
sociologia dá para termos com os quais estão tendo contato pela primeira vez ou para 
termos com os quais só tiveramcontato a partir do senso comum. Lembre-se, muitas 
vezes o mesmo termo ou conceito tem sentidos diferentes de acordo com o autor ou com 
o contexto histórico em que são usados. É sempre bom ter um dicionário da área em mãos 
para conferir os possíveis sentidos de um novo termo ou conceito.
Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAW-AAB/dicionario-
sociologia?part=11>. Acesso em: 23 ago. 2017.
LINKSIMPORTANTES
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IBGE
O site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística possui informações importantes 
e atualizadas sobre a configuração socioeconômica, geracional e demais informações 
fornecidas pelos dados mais recentes dos censos sobre família. No link específico aqui 
indicado, temos uma análise dos dados do Censo de 2010, que indicam mudanças na 
estrutura da família brasileira. É essencial, quando falamos sobre gerações ou sobre 
contextos históricos, termos dados que nos permitam observar diferenças regionais, 
diferenças econômicas, diferenças religiosas para que não tomemos nosso meio social 
como exemplo universal daquilo que estamos observando. 
Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/familias-e-
domicilios.html>. Acesso em: 23 ago. 2017.
LINKSIMPORTANTES
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Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Imagine-se começando a estudar um novo 
conteúdo, sobre o qual você não tem conhe-
cimentos prévios, mas já ouviu falar. Quais 
seriam seus primeiros passos para começar 
a leitura de um livro de sociologia indicado 
por seu professor? Descreva esses passos 
e explique por que são importantes.
Questão 2:
Assinale a alternativa que contém um pon-
to em comum entre a obra dos três pais 
fundadores da sociologia, Karl Marx, Max 
Weber e Émile Durkheim.
a) Todos esses autores têm como 
problema principal de pesquisa o estudo 
das origens do contrato social.
b) Todos esses autores dialogam com a 
obra A origem da família, da propriedade 
privada e do Estado.
Questão 3:
Leia o texto abaixo:
(...) cada sociedade considerada 
em momento determinado de seu 
desenvolvimento, possui um sistema 
de educação que se impõe aos 
indivíduos de modo geralmente 
irresistível. É uma ilusão acreditar que 
podemos educar nossos filhos como 
queremos. Há costumes com relação 
c) Todos esses autores, de algum modo, 
estão estudando as relações sociais na 
sociedade de classes, na sociedade pós-
industrial.
d) Todos esses autores dialogam com 
a obra A sociedade antiga, de Lewis 
Morgan.
e) Todos esses autores estudam a 
evolução das sociedades humanas no 
tempo, desde a cidade antiga até a 
sociedade pós-industrial. 
18
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
Discorra sobre o papel da família na obra 
de Émile Durkheim.
Questão 5:
O que significa dizer que a Sociedade não 
é um mero aglomerado de indivíduos, para 
Durkheim?
aos quais somos obrigados a nos 
conformar; se os desrespeitarmos, 
muito gravemente, eles se vingarão em 
nossos filhos. Estes, uma vez adultos, 
não estarão em estado de viver no 
meio de seus contemporâneos com os 
quais não encontrarão harmonia. Que 
eles tenham sido educados, segundo 
ideias passadistas ou futuristas, não 
importa; num caso como noutro, não 
são de seu tempo e, por consequência, 
não estarão em condições de vida 
normal. Há, pois, a cada momento, 
um tipo regulador de educação do 
qual não nos podemos separar sem 
vivas resistências, e que restringem 
as veleidades dos dissidentes. 
(DURKHEIM, 1977, p. 30).
Após estudar o que apresentamos nesse 
primeiro tema, sobre a obra de Durkheim, 
assinale a alternativa que explica a senten-
ça “É uma ilusão acreditar que podemos 
educar nossos filhos como queremos”, pre-
sente no trecho acima:
a) Não podemos educar os filhos 
independentemente da sociedade 
porque a própria família é uma instituição 
social responsável por reproduzir as 
regras sociais. 
b) Não podemos educar nossos filhos 
como queremos porque existem leis que 
nos obrigam a colocá-los na escola. 
c) Somente a escola é responsável pela 
educação dos filhos.
d) Não podemos educar nossos filhos 
como queremos porque o Estado é 
responsável pela educação das crianças.
e) Não podemos educar nossos filhos 
como queremos porque a vontade 
individual se sobressai à vontade coletiva 
na sociedade de classes.
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FINALIZANDO
Neste caderno, introduzimos algumas das questões que autores fundadores do pensamento 
sociológico fizeram para a família, para a sociedade e para o indivíduo. Discutimos a 
importância de atentarmos para o significado que cada autor dá para esses termos. 
Mostramos que, mesmo fazendo perguntas diferentes sobre o que é a sociedade, como ela 
funciona, porque vivemos em sociedade, todos esses autores, de algum modo, salientaram 
o papel da família.
Enquanto os contratualistas e evolucionistas culturais se preocuparam em perguntar 
como a sociedade surge e nos disseram que a família é como uma primeira instituição 
social, os fundadores da sociologia se preocuparam em compreender o papel da família 
na reprodução das formas de sociabilidade próprias a cada momento histórico e a cada 
sociedade. Se, num primeiro momento, a família é vista como essa primeira organização 
social, num segundo ela é vista como uma instituição social que, ao mesmo tempo em 
que vive segundo costumes e códigos de conduta de determinado meio social, nos ensina 
esses costumes e códigos. 
Você já pode, a partir dessa aula, tirar algumas conclusões sobre a relação entre família, 
sociedade e indivíduo para a sociologia, não é mesmo?
1) A sociedade é algo que nos forma enquanto indivíduos e o que somos depende do 
momento histórico e social em que vivemos;
2) A família também se forma no seio de uma sociedade e de um momento histórico 
específicos, portanto, para definirmos família precisaremos compreender o contexto sobre 
o qual estamos falando;
3) A família é uma instituição social importante na sociedade de classes, pois é responsável 
por nos ensinar a viver em sociedade, a nos relacionarmos uns com os outros.
Tendo isso em mente, partiremos para nossas próximas aulas, em que trabalharemos com 
um pouco mais de profundidade esses pontos. 
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GLOSSÁRIO
Palavra-chave: Sociedade.
Neste curso, trataremos o termo Sociedade com um pouco mais de rigor acadêmico, o que 
significa que sempre atentaremos para o sentido dado pelos autores que estamos citando 
ou que estamos lendo. Nos dicionários de sociologia você encontrará um verbete que já 
parte do princípio de que quando falamos em Sociedade a partir de autores da sociologia, 
estamos necessariamente pressupondo uma estrutura organizada de relações entre sujeitos 
que vivem a partir de uma ordem moral que é social, que vivem e se reconhecem como 
parte de um grupo organizado. Você encontrará classificações do uso do termo, como 
sociedade simples e sociedade complexa, sociedade rural e sociedade urbana, sociedade 
capitalista e sociedade feudal, por exemplo. O que há em comum a todas essas comparações 
tipológicas entre sociedade é a busca por algo que estruturalmente as define como tais. Em 
nenhum desses casos sociedade é tratada como sinônimo de nação ou como uma mera 
organização de pessoas que vivem em um espaço gerido por leis ou por figuras de poder. 
No caso da tipificação que diferencia sociedade capitalista de sociedade feudal, a estrutura 
comparativa, além da produção, envolve uma análise no tempo e no espaço do sistema de 
trocas (monetário, amonetário), do tipo de trabalho (servil, escravo, assalariado).
Palavra-chave: Família.
Assim como faremos com o conceito de Sociedade, pensando no sentido dado pelos 
autores citados para o termo, faremos com família. Em tese, podemos dizer que a família 
é um grupo de pessoas associado por relações de parentesco. O que é diferente de dizer, 
por exemplo, que para fins legais e de proteçãodo Estado, uma família se constitui a partir 
da união estável entre homem e mulher. Como conceito, o termo família abrange todo um 
âmbito de relações que não está descrito na definição apresentada em nosso Código Civil. 
Para autores da sociologia, como Durkheim, por exemplo, família é uma das principais 
instituições sociais, um dos primeiros espaços onde aprendemos as regras necessárias 
para a vida em sociedade, além da Escola. Para outros, como Weber, é imprescindível 
21
estudar a genealogia para compreensão da forma como se estruturam relações de poder 
e como se configuram os tipos de poder. Já para a antropologia, que se dedica ao estudo 
de culturas e sociedades, a estrutura jurídica evocada pela família ocidental, sobre a qual 
os sociólogos estão falando ao pensarem na relação entre sociedade e família, não é 
universal. Antropólogos clássicos dedicaram-se ao estudo das relações de parentesco e não 
necessariamente ao estudo da estrutura familiar sobre a qual estão tratando os sociólogos. 
Isso não quer dizer que a definição jurídica ou mesmo uma definição religiosa precisem 
ser desconsideradas. Quer dizer, sim, que a definição conceitual nos permite analisar os 
diversos sentidos que a palavra assume para diversos grupos e instituições sociais. Uma 
dica quando estamos estudando a relação entre família e sociedade é analisar como os 
códigos jurídicos de uma nação a definem, como as religiões definem família, e como ela 
se estrutura socialmente, demograficamente e economicamente em diferentes regiões de 
um país. Todos esses dados serão importantes para que possamos pensar inclusive na 
forma como está estruturada a família enquanto instituição social ou enquanto relação de 
parentesco em nossa sociedade, nosso país, nossa cultura. 
Palavra-chave: Indivíduo.
Indivíduo é um termo importantíssimo para a formação do pensamento sociológico. Todos 
os principais autores fundadores da antropologia partem de questionamentos sobre o que 
é o indivíduo para refletir sobre o que é a sociedade. De maneiras distintas, autores como 
Durkheim, Marx e Weber nos mostram como a ideia de indivíduo foi construída historicamente 
e como ela faz sentido para certa sociedade, ou seja, não é um termo que pode ser usado 
para qualquer momento histórico e para qualquer sociedade. A noção de indivíduo enquanto 
sujeito de direitos, enquanto sujeito que pode ter posses e que é dono de si e de seu trabalho 
nem sempre existiu na história da sociedade ocidental com esse sentido específico, assim 
como não se aplica a qualquer sociedade. Boudon (1990), em seu dicionário de Sociologia, 
salienta que o individualismo enquanto sinônimo de posse do corpo individual, da vontade 
individual, de terras e bens, portanto, como sinônimo de um sujeito que de modo algum 
é devedor da sociedade porque é proprietário exclusivo de si mesmo, está relacionada 
ao individualismo do século XVII. Filósofos gregos, como Aristóteles, já falavam sobre 
individualidade, ou seja, sobre o lugar de cada pessoa no Cosmo, o que é diferente de 
dizer que todos os homens têm direito à sua própria individualidade, que a possuem desde 
o momento em que nascem. Segundo Durkheim, essa segunda noção, que prevalece na 
sociedade em que vivemos, é própria à sociedade com um tipo de solidariedade chamada 
de orgânica, com maior interdependência entre as pessoas, mas, paradoxalmente, com a 
GLOSSÁRIO
22
sensação de que não devemos nada ao coletivo ou que nossa individualidade prevalece 
sobre a coletividade. 
Palavra-chave: Ciências Sociais.
No Brasil, as ciências sociais correspondem à grande área que contém a antropologia, a 
sociologia e a ciência política. Em outras localidades, temos também as ciências sociais 
aplicadas, que correspondem a áreas como economia, ciência política, demografia. Neste 
curso, quando nos referirmos às ciências sociais, nas três áreas atuais que a compõem: 
antropologia, sociologia e ciência política, falaremos em ciências sociais e não somente 
em sociologia, porque retomaremos momentos do século XX em que essas áreas ainda 
estão se formando e em que não temos uma separação institucional entre elas. Também 
optaremos por falar em ciências sociais ao invés de falarmos em sociologia porque há um 
diálogo teórico estabelecido entre áreas como antropologia, sociologia, filosofia, história, 
ciência política, demografia, que não pode ser ignorado quando pensamos na relação entre 
família e sociedade. 
Palavra-chave: Relações Sociais.
Por muito tempo, nas ciências sociais em geral, mais especificamente em algumas tradições 
clássicas do pensamento antropológico, como é o caso do estrutural-funcionalismo inglês, e 
para a escola sociológica francesa de Durkheim, o termo relações sociais complementou o 
próprio sentido de Sociedade. Sociedades são estruturadas por relações sociais. Digamos 
que a forma como os sujeitos se relacionam em uma cultura ou em um grupo é o aspecto 
observável que nos permite delinear a estrutura que constitui uma Sociedade e suas 
instituições. Por exemplo, para Durkheim, nas sociedades onde temos divisão social do 
trabalho, podemos abstrair um tipo de sociedade que funciona como um organismo, como 
uma célula: cada sujeito com seu trabalho específico, com sua função, torna-se parte da 
engrenagem necessária ao funcionamento da estrutura. A forma como estabelecemos 
nossas relações de troca, como construímos nossos códigos de conduta em sociedade, 
como ensinamos os membros de uma sociedade a cumpri-los, são parte do que podemos 
chamar de relações sociais – redes de pessoas que, regidas por princípios sociais e culturais, 
trocam informações e coisas entre si. 
GLOSSÁRIO
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GABARITO
Questão 1
Alguns passos importantes para começar a leitura de textos acadêmicos são:
1) Pesquise um pouco sobre a área de conhecimento que está começando a estudar. 
O que hoje está sendo feito ou pesquisado sobre o assunto? Onde são formados os 
profissionais que trabalham nessa área de estudo e de pesquisa? Quais os principais 
fundadores desse tipo de conhecimento?
2) Pesquise o momento em que o livro foi lançado. O meio social em que os autores estão 
inseridos e a época influenciam a escrita e o conteúdo. Autores dialogam com suas 
épocas. 
3) Pesquise em dicionários da área os conceitos básicos presentes nesses livros, com 
quem o autor está dialogando ao escrevê-lo. Muitos livros são escritos em resposta a 
outros livros e autores.
Questão 2
Resposta correta: C
a) Podemos dizer que há uma influência de autores contratualistas na obra de Marx, que 
dialoga criticamente com esses filósofos, mas não podemos fazer tal afirmação para Weber 
e Durkheim, que dialogam com outros filósofos, como Kant.
b) Na verdade, esse livro de Engels dialoga com o livro de Morgan e com parte da obra de 
Marx, mas os outros autores não mantêm um diálogo explícito com o livro.
c) Resposta correta. De algum modo, todos eles estão estudando as relações sociais na 
sociedade de classes.
d) Na verdade, é Engels quem dialoga com essa obra.
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e) Na verdade, para Durkheim, a família é uma instituição social, mas ela própria é fruto de 
uma sociedade, é constituída de acordo com a moral social que predomina em determinado 
grupo e em determinado momento histórico.
Questão 3
Resposta correta: A
a) Resposta correta. A família acaba reproduzindo formas de educação que são definidas 
no seio da sociedade. 
b) Para Durkheim, a lei também é uma instituição social. A sociedade se sobrepõe à família 
e inclusive aos códigos legais. Os códigos legais podem mudar, mas inclusive eles são 
formados no seio da sociedade. 
c) A escola, a família, a religião, são instituições importantíssimas para a educação e não 
somente a família. 
d) O Estado também é uma instituição social, como o sistema jurídico. Ele faz parte da 
Sociedade, como a família e as leis. 
e) É justamente o contrário, para Durkheim. Achar que o indivíduo é livre para fazer o que 
quer é parte do paradoxo que forma a sociedade com divisão do trabalhosocial. Achamos 
que somos livres, mas estamos cada vez mais dependentes uns dos outros.
Questão 4
A família é uma das instituições sociais responsáveis por educar os sujeitos para a vida 
em sociedade. É no seio da família que aprendemos as primeiras regras sobre como nos 
comportamos em espaços públicos, sobre o que podemos fazer e o que não podemos, 
por exemplo.
Questão 5
Primeiramente, o indivíduo como conhecemos é parte da sociedade de classes e da 
sociedade com divisão social do trabalho. Por outro lado, a sociedade é uma entidade moral 
independente, para Durkheim. Ela se sobrepõe à vontade individual e à liberdade individual 
e, inclusive, nos forma enquanto indivíduos com o propósito de sermos parte especializada 
num tipo específico de sistema social, político e produtivo.
GABARITO
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REFERÊNCIAS
BOUDON, Raymond e outros. Dicionário de Sociologia. Lisboa: Publicações D. Qui-
xote, 1990. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAW-AAB/dicionario-
-sociologia?part=1>. Acesso em: 30 ago. 2017.
DURKHEIM, Émile. A educação como processo socializador: função homogeneizadora e 
função diferenciadora. Educação e sociedade: leituras de sociologia da educação. São 
Paulo: Nacional, 1977.
FAMÍLIAS, uniões e nascimentos. IBGE. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-
-conhecer-o-brasil/nosso-povo/familias-e-domicilios.html>. Acesso em: 30 ago. 2017.
GOIRIS, Fabio Anibal. O direito natural: dos contratualistas a Karl Marx. Tempo da Ciên-
cia, v. 18, n. 35, p. 60-82, 2011.
MAIOR, Heraldo Pessoa S. Durkheim e a família: da “introdução à sociologia da família” à 
“família conjugal”. Revista Anthropológicas, v. 16, n. 1, 2011.
MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga. Rio de Janeiro: Expresso Zahar, 2014.
POLL, Ana Paula. Indivíduo e Sociedade. TED Talks. Volta Redonda, 14 mar. 
2017, 19:44, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=a8gyl6MPHsI>. Acesso em: 30 ago. 2017.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. As religiões como agentes da socialização. Cadernos 
Ceru, v. 19, n. 2, p. 15-25, 2008.
TOZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim. 
UNIVESP TV, 2010, 17 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=SMaxxNEqk7U>. Acesso em: 30 ago. 2017.
WEBER, Max. Comunidade e sociedade como estruturas de socialização. Comunidade 
e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São 
Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, p. 140-143, 1973.
Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 02
Relações sociais, sistemas 
jurídicos e famílias
seç
ões
Tema 02
Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Relações sociais, sistemas 
jurídicos e famílias. Caderno de Atividades. 
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017.
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tirar negrito e colocar itálico 
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
4
Tema 02
Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias
5
Prezado aluno, neste caderno você será apresentado a conceitos e autores que o permitirão 
refletir sobre um aspecto importante do estudo da relação entre família e sociedade: as 
noções jurídicas de família. Para tanto, discutiremos as origens sociais e culturais do direito 
e da lei. Você deve ter notado que nosso objetivo, com este conteúdo, será sempre abordar 
as temáticas propostas a partir de suas origens sociais e culturais. Esse também será 
nosso propósito aqui, neste caderno. 
Se, num momento anterior, acompanhamos questionamentos que nos permitem 
compreender a força da sociedade na definição e na constituição do que são as famílias e 
os indivíduos, neste vamos aprofundar essa leitura para que possamos compreender que 
as definições de família nos códigos normativos também acompanham contextos culturais, 
sociais, políticos, históricos e, inclusive, acadêmicos, já que a produção de conhecimento 
também não se aparta de seu tempo e do espaço quando e onde acontece. 
Para seguir o percurso nos estudos dessa temática, será importante ter compreendido 
esse ponto, já discutido no anterior: a sociedade e a cultura exercem força sobre a forma 
particular como famílias e indivíduos pensam, agem e se comportam no mundo e uns com 
os outros. 
Sigamos por este caminho!
Professora Ana Carolina Bazzo da Silva 
CONTEÚDOSEHABILIDADES
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6
LEITURAOBRIGATÓRIA
Tema 1 - Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias 
Convite à leitura
No segundo tema de nosso curso, vamos nos aprofundar sobre a leitura das ciências sociais 
sobre as famílias, abordando seu olhar para os sistemas jurídicos. Mostraremos como as 
definições sobre família estão intimamente ligadas ao direito, em nossa sociedade. Para 
tanto, como fizemos anteriormente, vamos partir dos contextos em que os autores estão se 
perguntando sobre o que é o universo do jurídico e como ele se relaciona com a sociedade. 
Quais os imperativos sociais para a normatização da nossa vida cotidiana e extracotidiana? 
Qual o papel da lei na organização da sociedade e da cultura? Como o direito se relaciona com 
outras instituições sociais e quais conceitos das ciências sociais nos ajudam a compreender a 
lei, bem como a família, como parte de uma sociedade? Acompanhemos a argumentação de 
diferentes autores para estes questionamentos, neste caderno. 
Por dentro do tema
Para começar o estudo, é importante que você tenha compreendido alguns dos principais 
pontos discutidos no caderno anterior. Acompanhamos o cenário a partir do qual os filósofos 
contratualistas partem para pensar o homem em seu estado natural, mas, em seguida, 
mostramos que os pais da sociologia pintam um quadro um pouco diferente. 
Para alguns dos contratualistas e para os evolucionistas culturais, a sociedade surge, 
primeiramente, da busca pela proteção por parte de um homem sozinho em seu estado 
de natureza que se associa a um grupo familiar e, em seguida, grupos familiares formam 
um grupo social maior. Já para Durkheim e Weber, o homem só pode ser concebido 
enquanto tal porque vive em sociedade, porque é apresentado desde criança às normas 
sociais e à linguagem. Sugerimos que, caso ainda não tenha compreendido muito bem as 
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7
LEITURAOBRIGATÓRIA
influências teóricas com as quais esses fundadores da sociologia e da antropologia estão 
dialogando, que faça uma pequena pesquisa biográfica. Durkheim, por exemplo, dialoga 
com Montesquieu (1689-1755) e com Kant (1724-1804) em diversos pontos de sua obra, 
enquanto Marx debate com Hegel (1770–1831), Demócrito (460 a.C.–370 a.C.) e Adam 
Smith (1723–1790). Lévi-Strauss com Rousseau (1712–1778), Kant e Freud (1856–1939). 
Pesquise sobre esses autores, conheça um pouco do momento histórico em que estão 
escrevendo e atualize-se sobre as questões que cada um deles faz para o humano e para 
a sociedade. 
Neste tema, trabalharemos com maior detalhamento os autores que se dedicam a estudar 
a relação entre família e lei, ou seja, a estudar essa parte bastante interessante da vida 
em sociedade que é a constituição de regras que organizam e direcionam a vida coletiva. 
Lembre-se de que para compreender o que autores estão dizendo é importantíssimo 
seguir o raciocínio deles e o diálogo que eles estabelecem com outros autores. Lembre-se 
também de que, neste curso, estamos assumindo que o homem é um ser social e cultural 
por natureza. Agora é o momento de nos perguntarmos sobre as raízes culturais e sociais 
da lei. E, portanto, sobre as raízes culturais e sociais das normas que regem a vida familiar 
e a relação da família com a sociedade. 
Relações sociais e leis: o jurídico e a sociedade 
Imagine-se como parte de uma sociedade que, por mais de mil anos, dedicou-se a estudar 
textos sagrados. Imagine-se comoparte de uma sociedade em que a grande maioria da 
população era analfabeta, trabalhava no campo e em que poucos membros de uma elite 
religiosa detinham meios de produção e reprodução do conhecimento. Essa imagem nos 
ajuda a visualizar o que era a Idade Média na Europa do ponto de vista do acesso ao 
conhecimento. Não é por acaso que os grandes filósofos deste período eram religiosos, 
como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. 
Durante o período que data mais ou menos dos séculos V a XV, pensadores ligados à 
Igreja Católica dedicaram-se basicamente a compreender o lugar do homem na obra divina. 
Mas, como o conhecimento não nasce do nada e autores sempre dialogam com seus 
predecessores, mesmo quando o fazem criticamente, é importante citar que esses autores 
estão recuperando a filosofia em seu berço: as cidades antigas gregas e romanas. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
O mesmo paralelo podemos fazer quando falamos nos autores iluministas e a filosofia, 
em autores iluministas e o direito. Grande parte das preocupações que encontramos nas 
obras de filósofos iluministas sobre a relação entre homem, lei e poder ou entre homem, lei 
e sociedade, tem como referência o direito romano ou o direito consuetudinário (baseado 
em costumes e na oralidade) de populações que ocuparam o território europeu ao longo da 
queda do Império Romano. 
A influência do sistema administrativo e normativo romano nas preocupações dos principais 
filósofos do XVI, XVII, XVIII e XIX é patente. Ora, se vamos pensar a sociedade possível 
com a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, precisamos partir de algum 
lugar. E os autores partiram daquilo que conheciam, porque conviviam com as estruturas 
administrativas e normativas herdadas desde o Império Romano e inclusive aproveitadas 
pela Igreja Católica durante a Idade Média. Até os dias atuais vemos uma grande presença 
do direito romano e do direito germânico na formação dos Estados nacionais modernos e 
em nossas próprias constituições. 
Direito germânico e direito romano? Do que se trata? As estruturas normativas herdadas 
pelos povos europeus se relacionam diretamente com as estruturas de poder e de 
hereditariedade da posse da terra e de bens que vinham desde o Império Romano, mas 
que também dialogam com os costumes dos povos que ocuparam as terras posteriormente, 
como as nações de origem teutônica. Para nós, por que retomar esse contexto é importante? 
Porque os autores do final do XIX e começo do XX que consideramos pais fundadores 
das ciências sociais estão se perguntando também sobre as origens sociais do direito. 
Mas não estão falando sobre qualquer direito, qualquer lei, qualquer sistema jurídico. Estão 
utilizando essa tradição germânica e romana para analisar a sociedade de classes e, mais 
do que isso, para pensar como se organizam as sociedades que não compartilham esses 
códigos ou essas estruturas administrativas. 
Lembre-se de que já em Roma tínhamos estruturas de divisão de poderes, de cidadãos 
que representavam grupos de poder distintos na sociedade. Lembre-se também de que 
no Império Romano já encontrávamos conflitos sobre reforma agrária e posse de terras. 
Por aqui, já podemos abstrair pontos importantíssimos do direito que encontraremos nas 
discussões de autores que o recuperam como parte essencial para o estudo da sociedade:
1) Há uma íntima relação entre os códigos normativos que regem a vida cotidiana de uma 
sociedade e as estruturas de poder dessa mesma sociedade;
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LEITURAOBRIGATÓRIA
2) Há uma íntima relação entre o direito e a posse da terra no direito germânico e no direito 
romano, ou seja, além de versar sobre o que é permitido, o que é proibido e como os desviantes 
devem ser punidos, os códigos jurídicos versam sobre o direito à terra e aos bens.
3) A estrutura administrativa do poder se coaduna à lei, ou seja, tanto a lei serve para a 
manutenção dessa estrutura de poder, quanto ela é definida por essa estrutura administrativa. 
E quanto à sociedade específica em que esses pontos estão sendo retomados? Assim 
como o indivíduo e a família possuem sentidos próprios para a sociedade de classes, como 
discutimos em nossa aula anterior, podemos dizer que o universo jurídico possui um sentido 
próprio para a sociedade de classes. A divisão de poderes que estrutura as repúblicas e 
monarquias europeias no final do XIX e começo do XX; a relação entre Estados nacionais 
que passaram por guerras coloniais após o período das grandes navegações; as guerras 
que instituem novas relações de poder entre nações no XX, tudo isso tem grande influência 
na forma como sociólogos e antropólogos escrevem sobre lei, ordem e poder. 
Especificamente, há algo importantíssimo que é notado por autores franceses e ingleses 
do começo do século XX. Até o momento, pensadores reconhecidos e estudados por 
todos eles fizeram referência às cidades antigas, à administração política romana, ao 
direito consuetudinário dos clãs germânicos quando se perguntaram sobre os códigos que 
organizam a sociedade. 
Nesse modelo de código jurídico, a hereditariedade e as famílias possuíam grande 
importância. Podemos observar melhor a temática quando lemos as peças e textos clássicos. 
Tanto nas narrativas sobre a vida nas cidades antigas gregas quanto nos textos que falam 
sobre o Lar familiaris, espécie de divindade romana que protegia as casas, encontramos a 
família como unidade sobre a qual, de uma forma ou de outra, se debruçam a lei e toda a 
estrutura de relações sociais a que ela se refere. Peças inteiras são escritas em torno da 
temática relação entre cidadãos e servos tendo a dinâmica familiar como cenário. O trabalho 
servil, a posse hereditária de bens, o lugar da mulher, o lugar do homem, tudo se passa no 
universo doméstico. E era justamente esse o modelo de relação entre direito, propriedade 
e família para os autores do XIX, sobretudo os evolucionistas culturais. Sistemas jurídicos 
que versam sobre a hereditariedade da posse de bens, da terra e do poder político estão 
por trás da forma como se organizam as relações sociais, para autores como o historiador 
francês Numa Denis Fustel de Coulanges (1830-1889) e o jurista escocês John Ferguson 
McLennan (1827-1881). De Freud a Durkheim, visualizamos essa família enquanto unidade 
moral e jurídica quando tais autores falarão sobre sociedade e normas. 
10
LEITURAOBRIGATÓRIA
Mas, e quando os grupos sociais não possuem as mesmas unidades familiares com as quais 
estamos habituados a lidar, como podemos compreender a vida jurídica desses povos? E, 
quanto ao contrário, quando povos não possuem a mesma estrutura jurídica com a qual 
estamos habituados a lidar, qual o papel da família? Pensemos nessas questões, a partir 
da agora. 
As famílias, no plural
Antropólogos do começo do XX começam a se deparar com novos dados sobre povos 
com os quais os europeus voltavam a ter contato no período que conhecemos como 
neocolonialismo. Esse contexto da história europeia acompanha a expansão econômica 
advinda com o impacto da industrialização. É um momento em que os dados coletados 
por viajantes sobre costumes de povos da Polinésia, África, Groenlândia, nativos norte-
americanos e outras localidades, começam a trazer novas questões para o lugar da família 
e do direito na definição do que é a Sociedade e do que a organiza. Como se dão as relações 
econômicas e como se normatizam as relações entre sujeitos em sociedades sem Estado 
ou sem escrita? Se não há instituições especializadas na escrita, fiscalização e execução 
da lei, como essas sociedades se mantêm no tempo, organizam-se? 
Note que, quando falamos em direito e em sistemas jurídicos para autores que se questionam 
sobre relações sociais e sociedades, estamos nos perguntando sobre o que organiza e 
mantém as relações sociais em dado grupo. É justamente esse o fio condutor de uma das 
principais obras do sociólogo e antropólogo Marcel Mauss (1872-1950), O Ensaio sobre a 
dádiva, publicada em 1825. Esse tambémé o fio condutor de uma das principais obras do 
antropólogo Bronislaw Malinowski (1884-1942), Crime e costume na sociedade selvagem, 
publicada em 1926. 
O direito fala sobre como devemos agir em sociedade e sobre os princípios que regem tanto 
nossa vida cotidiana quanto a hereditariedade da propriedade e do poder, mas também fala 
sobre o que é o crime. Malinowski captou bem os princípios da regra nas sociedades das 
ilhas do Pacífico Sul já no começo do livro anteriormente referido. A discussão sobre o que 
o autor chama de estrutura e função da lei primitiva começa por Malinowski nos dizendo 
que os termos comunismo, capitalismo e socialismo não servem para descrever a estrutura 
social dos povos das Ilhas de Coral. Segundo ele, para compreender como se dá a relação 
com a propriedade e com a hereditariedade do poder nesta localidade, temos de entender 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
sobre canoas. O papel das canoas, do feitio delas e de toda uma relação de trocas que 
envolve sua produção é essencial na vida cotidiana dos nativos. E, em torno da produção 
da canoa, giram diferentes vértices da jurisprudência sobre a propriedade. 
Inicialmente, observadores que tenham a sociedade de classes como modelo para 
definição do que é o poder, do que é economia, do que é propriedade, cairiam no engodo 
de classificarem sociedades sem Estado como comunistas ou socialistas. Observando a 
estrutura das relações entre famílias, podemos compreender que não é bem assim. Há um 
sistema estabelecido de troca que se relaciona diretamente com um sistema de posse da 
terra advindo das relações entre famílias. E esse sistema é organizado, há sanções para a 
quebra da lei. Para compreendermos melhor a quebra da lei nas sociedades sem Estado, 
é interessante citar os trabalhos de Malinowski com povos das ilhas Trobriand e que foram 
brilhantemente citados na referida obra de Marcel Mauss.
Novos estudantes de ciências sociais, direito e psicologia são apresentados à palavra Tabu, 
mas nem sempre são apresentados ao seu contraponto, a palavra Mana. De origem polinésia, 
as duas palavras se complementam. Tabu tem um significado amplo. Se refere ao sagrado, 
que não pode ser tocado, mas também se refere ao que é proibido, como o casamento entre 
mães e filhos, pais e filhas. Mana, por sua vez, refere-se à potência, ao poder, prestígio. 
Proibição e poder estão intimamente ligados, sobretudo porque quando a regra é quebrada, 
todo o sistema de poder também é afetado. Quando contraio casamento com alguém que 
é proibido para mim, estou quebrando com todo um sistema de hereditariedade da terra, 
das canoas, dos objetos sagrados. A contrapartida da quebra da lei é ser atingido pelo 
desequilíbrio nas relações de poder, de algum modo. A consequência de se enfrentar o Tabu 
é ter que enfrentar Mana. Tabu e Mana, portanto, revelam o jurídico presente no sistema 
de crenças dos nativos da Polinésia. E se relacionam diretamente com as famílias, porque 
casamentos proibidos sempre implicam em uma bagunça na hereditariedade do poder e na 
hereditariedade da terra, estando a quebra da lei relacionada a uma punição sobrenatural. 
Se, pelos sentidos de Tabu e Mana, podemos entender a relação entre crença, direito, poder 
e famílias, pela compreensão do Kula podemos compreender a relação entre economia, 
direito, poder e famílias. Mauss dedicou-se a compreender o direito por trás do ritual 
estudado por Malinowski nas Ilhas Trobriand e que se chama Kula. Trata-se de uma troca 
ritual de braceletes e colares de conchas que segue uma regularidade no calendário anual e 
que segue uma ordem preestabelecida. Sujeitos de uma ilha oferecem um tipo de adorno e 
recebem, em outro momento, outro tipo de adorno. Para Mauss, todo o sistema econômico 
12
LEITURAOBRIGATÓRIA
está representado nessa troca. O presente, a dádiva, não é dado aleatoriamente. A troca 
de presentes representa um sistema organizado de relações sociais que representa a vida 
econômica, as crenças, as relações entre parentes, a forma como o poder é herdado e 
como essas pessoas o administram. O jurídico é, para o autor, aspecto essencial para que 
entendamos esse ritual.
Para Mauss, há alguns fatos sociais que podemos chamar de fatos sociais totais. Sobrinho 
de Durkheim e um de seus discípulos teóricos, Mauss refere-se ao conceito durkheimiano 
de fato social:
1) Fatos sociais são fatos que têm causa estritamente social e não individual, portanto, são 
exteriores ao indivíduo; 
2) Exercem pressão sobre a vida individual, são coercitivos;
3) Não possuem sentido individual, somente coletivo, por isso têm um sentido generalizante.
 
Fatos sociais totais são aqueles que agregam mais de um aspecto da vida social, que 
dialogam com mais de uma instituição social. A vida econômica, a política, a religião e a 
família são instituições sociais. Possuem uma lógica específica para cada grupo social, 
funcionam de acordo com regras que as definem como tais. E há fatos que agregam mais 
de uma instituição social, que as colocam em função uma das outras. É o exemplo do Kula. 
Mas, por que retomar esses estudos é interessante para nossos estudos sobre família e 
direito neste caderno?
Primeiramente, porque a postura de sociólogos e antropólogos do começo do século XX em 
relação às sociedades sem Estado e sem classes sociais é uma postura essencial quando 
vamos pensar em famílias e direito. Malinowski recusou-se a classificar as sociedades 
do Pacífico como estando em estágios de desenvolvimento anteriores ou posteriores ao 
capitalismo ou como sociedades anárquicas. Havia, para o autor, uma forma de organização 
social ali estabelecida. E Mauss nos disse que era justamente o sistema normativo o 
responsável por ordenar, em tais grupos sociais, toda uma estrutura de relações sociais e 
de instituições sociais. O jurídico era o modo que colocava diferentes instituições sociais 
em relação no Kula. A produção de canoas evocava economia, direito e parentesco, para 
Malinowski. 
13
LEITURAOBRIGATÓRIA
Estas análises nos ensinam duas posturas importantíssimas quando falamos em família e 
em códigos jurídicos:
1) Nossa definição legal de família acompanha um contexto social, político e histórico específico;
2) Não necessariamente a definição legal de família de outras sociedades será igual à 
nossa, porque códigos legais também são fatos sociais, ou seja, acompanham a sociedade 
em que são produzidos.
Por consequência, por ora podemos concluir que:
1) existem várias definições possíveis de família;
2) o direito é histórico e, sobretudo, social. 
Sabendo disso, partamos para uma reflexão sociológica e antropológica sobre a família em 
nosso código civil. 
Instituições e famílias
Acompanhando os estudos antropológicos e sociológicos sobre sociedades sem Estado, 
podemos notar que existem normas para as transações econômicas, para a vida cotidiana, 
até mesmo para a vida religiosa. Essas normas, baseadas na oralidade, acabam versando 
sobre diferentes aspectos da vida cotidiana porque, nessas sociedades, as instituições de 
certo modo se misturam tanto no cotidiano, quanto em momentos rituais. 
Mas, e em nossa sociedade? Lembre-se, quando pensamos na sociedade organizada 
na forma de Estados nacionais e na forma de classes sociais, a divisão de poderes e de 
funções é o que marca as relações de trabalho e as relações entre os sujeitos. Quando 
Marx falava sobre classe, salientava-nos que a produção industrial fez uma reviravolta 
na forma como se estrutura o trabalho. Quando falava sobre divisão social do trabalho, 
Durkheim também afirmava que o modelo da produção industrial implica em uma maior 
dependência entre os sujeitos na sociedade de classes. Weber, por sua vez, salientava 
a importância da burocracia administrativa na forma de poder da sociedade capitalista. 
O mesmo podemos observar no direito. Temos leis voltadas para impostos, leis voltadas 
somente para transações internacionais, leis voltadas para aqueles que cometem crimes, 
leis trabalhistas, entre outras.14
LEITURAOBRIGATÓRIA
No direito brasileiro, é no código civil que encontraremos as leis sobre família. É nesta parte 
do código brasileiro que encontraremos todas as leis que falam sobre o cotidiano e a vida 
privada. Nele, no que tange à família, encontraremos leis que versam sobre casamento, 
herança, maioridade penal, filiação. Para nós, é importante atentar para a forma como a 
sociedade brasileira pensa direitos e deveres que advêm do casamento, porque são as 
leis que versam sobre casamento que nos dão o caminho para pensarmos a definição de 
família e como ela muda ao longo do tempo na constituição e na execução da lei. 
Até o momento, podemos dizer que as ciências sociais nos ajudam a pensar situações 
particulares como parte de um contexto social, histórico, político e econômico. Situações 
particulares, vontade individual, definições religiosas sobre família, de modo algum, para 
a sociologia, podem ser a medida ou o modelo para uma definição generalista sobre 
parentesco ou sobre a relação entre sociedade e família. Aprendemos, em nossa aula 
anterior, que inclusive é papel da família nos ensinar a sermos seres sociais, portanto, ela é 
somente uma das instituições que compõem a sociedade no sentido sociológico que o termo 
assume. O direito muda, bem como muda a própria família. Instituições de assistência social 
ou de educação, como a escola, trabalharão com as raízes sociais das questões familiares. 
Conhecê-las é essencial para os propósitos de quem aprende e ensina sociologia. 
15
“Nanook, o Esquimó” (Nanook of the North, 1922), dirigido e escrito por Robert Flaherty
Considerado um dos precursores do documentário, Robert Flaherty mostra neste filme o 
cotidiano de um povo que habitava Port Huron, localidade próxima à Bahia de Hudson, no 
Canadá. Como toda mídia, o vídeo é datado e contém uma leitura específica de sua época 
sobre o que seriam os costumes e as práticas a se observar quando o objetivo é relatar o 
cotidiano de um povo considerado primitivo. Como sobrevivem em um clima inóspito com 
ferramentas rudimentares; qual a base da alimentação; como são as casas; como se dá a 
ocupação da terra; quais as crenças compartilhadas pelo grupo; como é a estrutura familiar 
e as regras de parentesco são exemplos dos temas aos quais os autores do final do XIX 
e começo do XX dedicavam-se. Todos esses pontos se unem quando falamos em fatos 
sociais totais ou em instituições que organizam a rede de relações sociais dentro de um 
grupo. Parte desses temas pode ser observada no documentário pioneiro de Flaherty. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uoUafjAH0cg>. Acesso em: 30 ago. 2017.
Alimentação: os jejuns, os sacrifícios e tudo mais ligado ao ato de comer, produzido 
pela TV Brasil
Tabu é uma palavra polinésia que se refere a algo perigoso e ao mesmo tempo proibido. 
Muitos autores estudaram os tabus relacionados ao casamento e às famílias, mas, talvez, 
uma das formas mais claras de observarmos e compreendermos a noção de Tabu é quando 
analisamos as proibições alimentares presentes em diversas religiões. Há uma íntima relação 
entre o sagrado e as proibições. Para os antropólogos estruturalistas franceses, a mesma 
lógica presente na proibição do incesto está presente nas proibições relativas ao sagrado, 
como as que estão presentes nas restrições alimentares. Quem eu devo alimentar? Com 
quais comidas? O parentesco, a alimentação e as regras sociais são partes fundamentais 
da vida cotidiana em diversas sociedades. No episódio abaixo, produzido pela TV Brasil, 
podemos entrar em contato com uma variedade dessas restrições alimentares presentes, 
por exemplo, no Judaísmo e nas religiões Afro-brasileiras. 
(Disponível em: <http://tvbrasil.ebc.com.br/entreoceueaterra/episodio/alimentacao>. 
Acesso em: 25 set. 2017).
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tirar negrito e manter fonte na cor preta 
16
Os três pilares do código civil de 1916: a família, a propriedade e o contrato, por 
Felipe Camilo Dall´Alba
O artigo traz um panorama interessante para visualizarmos como o direito à terra, a 
hereditariedade e a noção de família estão intimamente imbricados no código civil brasileiro 
de 1916. É interessante citar essa relação sobretudo quando estudamos autores do final 
do XIX e do começo do XX e quando analisamos o papel que o direito à terra tem quando 
falamos em famílias no começo do XX. Notem que não é por acaso que documentaristas 
também estejam interessados em falar sobre a forma como os membros de um grupo como 
os Nanook produzem seu sustento e ocupam a terra ou em falar sobre a quebra da lei no 
filme de Murnau. Não somente a arte ou o universo acadêmico dialogam com as concepções 
de seu tempo e da sociedade em que estão inseridos, mas também os códigos legais, o 
universo jurídico, dialogam com o contexto social e histórico em que são produzidos. 
(Disponível em: <http://www.tex.pro.br/home/artigos/109-artigos-set-2004/5147-os-tres-pilares-
do-codigo-civil-de-1916-a-familia-a-propriedade-e-o-contrato>. Acesso em: 30 ago. 2017).
Direito de família: o que mudou de 1916 a 2002
Com este quadro comparativo, podemos observar como as mudanças na sociedade 
implicam em mudanças no código civil brasileiro. De espaço para reprodução a espaço 
para formação de um ser humano, a família percorre um longo caminho no espaço jurídico 
brasileiro. Note que a sociedade muda, o código muda e, consequentemente, a forma 
de abordagem prática de instituições de assistência ou de instituições responsáveis pela 
educação também muda. Se, no começo do século XX, a propriedade é o vértice para 
onde convergem as leis sobre família, no começo do XXI, o foco passa a ser a proteção da 
pessoa humana e da própria instituição familiar. Conheça, neste link, um pouco mais sobre 
a família no código civil de 2002. 
(Disponível em: <https://tcharlye.jusbrasil.com.br/artigos/305953203/direito-de-familia-o-
que-mudou-de-1916-ate-2002>. Acesso em: 30 ago. 2017).
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17
Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Qual a importância do direito para os estu-
dos sobre a sociedade?
Questão 2:
“Embora quem case queira casa, 
os vínculos com a rede familiar 
mais ampla não se desfazem com 
o casamento pelas obrigações que 
continuam existindo em relação aos 
familiares e que não se rompem 
necessariamente, mas são refeitas 
em outros termos, sobretudo diante 
da instabilidade dos casamentos entre 
os pobres, dificultando a realização do 
padrão conjugal.” (SARTI, 2013, p. 48)
Para Malinowski, ao narrar um evento em 
que a quebra do tabu do incesto causa co-
moção popular nas Ilhas de Coral, famílias 
e casamento são instituições sociais. Em 
que ponto a fala de Sarti sobre casamento 
e família em comunidades pobres concorda 
com Malinowski? Justifique sua resposta.
Questão 3:
“Quando se trabalha com famílias, 
tanto cientistas sociais, quanto 
psicólogos, médicos, educadores e 
outros profissionais enfrentam um 
primeiro problema: o de identificar 
a noção de família com suas 
referências pessoais. A família tende 
a ser identificada com a ‘nossa’ 
família, tão forte é a identificação 
da ideia de família com o que nós 
somos. Por isso, quando se lida 
com questões de família, é difícil 
estranhar-se em relação a si mesmo. 
Há uma tendência a projetar a família 
com a qual nos identificamos – como 
idealização ou como realidade vivida 
– no que é ou deve ser a família, o 
que impede de olhar e ver o que se 
passa a partir de outros pontos de 
vista.” (SARTI, 2004, p. 16)Por que, para a autora, identificar a noção 
de família com nossos referenciais pesso-
ais é um problema?
18
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
Assinale a alternativa que explica porque o 
Kula é um fato social total:
a) O Kula é um ritual que tem como 
objetivo regular a vida econômica e 
política nativa.
b) O Kula representa diferentes aspectos 
da vida social nativa, como relações 
de parentesco, relações econômicas e 
religião.
c) O Kula representa a vida primitiva em 
sua forma mais simples.
d) O Kula é um ritual eminentemente 
religioso e representa a relação entre 
Tabu e Mana.
e) O Kula é um ritual eminentemente 
político e representa a relação entre os 
chefes e seus parentes.
Questão 5:
Relacione autor e obra
1 – Marcel Mauss
2 – Bronislaw Malinowski
3 – Friedrich Engels
4 – Émile Durkheim
A – Da divisão do trabalho social
B – A origem da família, da propriedade pri-
vada e do Estado
C – Ensaio sobre a Dádiva
D – Crime e costume na sociedade selvagem
19
FINALIZANDO
Neste caderno, acompanhamos o raciocínio de autores que se ocuparam com o estudo da 
relação entre sociedade e sistemas jurídicos. Mostramos como as preocupações dos fundadores 
da antropologia e da sociologia dialogam com seu próprio contexto social e histórico. Analisamos 
a importância da família nos textos que falam sobre lei e política na sociedade ocidental. 
Recuperamos a importância das origens gregas, romanas e germânicas para o direito. 
É com esse olhar específico para a história de sua própria sociedade que os autores iluministas 
pensarão o direito e que os antropólogos evolucionistas, bem como juristas, do XIX, olharão para 
outras sociedades. Mas é com um olhar diferenciado que os antropólogos e sociólogos do começo 
do XX olharão para sociedades sem Estado e sem língua escrita. Ao invés de classificarem 
sociedades em comparação com a sociedade de classes, pensando no que lhes falta, Malinowski 
e Mauss nos mostraram que as relações sociais em povos primitivos são tão ou mais organizadas 
que as relações sociais na sociedade de classes. 
Para nós, o essencial nesta aula é compreender que:
1) Há uma íntima relação entre normas jurídicas que regem a vida cotidiana e a definição de 
família, em diferentes sociedades;
2) Diferentes instituições sociais serão permeadas por essas normas, dentre elas, a própria família;
3) O código não é fixo, ele muda no tempo;
4) A própria família muda no tempo e isso reverbera no direito.
5) Se não temos somente uma forma de organização social nem somente uma forma de estrutura 
jurídica possíveis, também é essencial que falemos em famílias no plural, em diferentes definições 
de família possíveis, tanto em nossa sociedade quanto em outras. 
Para as ciências sociais, a diversidade é parte fundante da humanidade, bem como a sociedade 
é responsável pela nossa constituição enquanto sujeitos. Sigamos para as próximas discussões 
com isso em mente. 
20
GLOSSÁRIO
Palavra-chave: Jurídico.
De origem latina, o termo jurídico deriva de justiça e de jus, direito. O sentido do termo jurídico 
nos remete ao código normativo que rege nossas ações individuais, institucionais e coletivas 
dentro de uma nação. Administrativamente, na contemporaneidade, os códigos do direito 
são construídos e aplicados nacionalmente. Cada país administra seu direito da maneira 
como lhe convém e a produção dos códigos, bem como sua aplicação e a fiscalização 
da lei, estão diretamente ligadas à estrutura política estabelecida. Nas ciências sociais, o 
direito tem papel fundamental quando pensamos no conceito de Sociedade. Grande parte 
dos fundadores das ciências políticas são filósofos políticos e, para eles, há uma íntima 
relação entre a política e o jurídico. Quando escreve sobre a divisão dos poderes, por 
exemplo, Montesquieu está também escrevendo sobre a forma como códigos normativos 
devem ser executados, escritos e fiscalizados. O peso do direito na obra dos fundadores 
da sociologia também é grande. Marx começou seus estudos na Universidade de Bonn em 
direito e posteriormente dedicou-se à filosofia. Durkheim também foi bastante influenciado 
pelas temáticas do direito e uma das principais preocupações de seu sobrinho, Marcel 
Mauss, era a pesquisa da influência dos sistemas jurídicos primitivos para a constituição 
das relações sociais. 
Palavra-chave: Lei.
Em alguns momentos podemos ler a palavra lei nas obras acadêmicas de ciências sociais 
a partir do sentido que ela possui atualmente, ou seja, leis são as normas que regem a vida 
em um país ou em uma nação. Em outros momentos, podemos encontrar a palavra Lei 
assumindo um sentido mais amplo e ontológico (que se refere à natureza do ser, o que é 
fundamental e essencial ao homem). Para o estruturalismo de Lévi-Strauss, por exemplo, 
é possível encontrar o segundo sentido da palavra, que geralmente é grafada com letra 
mariana.agulhari
Comentário do texto
Diagramador, peço a gentileza que padronize o glossário conforme o template enviado. 
O correto seria somente Jurídico: 
mariana.agulhari
Comentário do texto
Lei:
21
maiúscula. Para o autor, a proibição do incesto é a primeira Lei fundamental da sociedade 
e, portanto, geralmente é referida como a Lei. A partir da interdição em relação ao incesto, 
o homem se constitui enquanto um ser social, para Lévi-Strauss. 
Palavra-chave: Estrutura.
O termo pode ser encontrado na obra de diferentes autores das ciências sociais, tanto 
os que têm influência durkheimiana, como Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955), quanto os 
que tem influência kantiana, como Claude Lévi-Strauss (1908-2009), mas com sentidos 
distintos. No caso dos estrutural-funcionalistas ingleses, como Bronislaw Malinowski (1884-
1942) e o próprio Radcliffe-Brown e seus alunos, estrutura social é o nome dado para a 
rede de relações entre pessoas e instituições sociais, como economia, religião e política, 
que podemos abstrair, desenhar, quando estudamos um grupo social. Já aqueles que 
dialogam com o estruturalismo francês de Claude Lévi-Strauss, quando se referem ao termo 
estrutura, não estão falando dessa rede de relações e de instituições observável, mas sim 
das estruturas mentais a partir das quais pensamos e organizamos nosso conhecimento 
sobre o mundo. Para Lévi-Strauss, o fato de podermos abstrair essa ordenação possível 
das instituições e relações sociais nos remete à capacidade humana de criar estruturas 
de pensamento. Estrutura, nesse sentido, se refere à teoria do conhecimento presente na 
obra do autor, enquanto no sentido de estrutura social, remete-nos àquilo que podemos 
abstrair a partir da observação da realidade. Em termos metodológicos, para desenharmos 
a estrutura social de um grupo, precisamos observar atividades, comportamentos, práticas 
de um grupo social. No caso do estruturalismo, abstrai-se os elementos que se repetem no 
pensamento, na crença, nos rituais de um grupo social para que se compreenda sua cultura. 
Palavra-chave: Fato social total.
Fatos sociais são as unidades que, para Durkheim, nos permitem compreender as raízes 
sociais para fenômenos observáveis. Para que um fato seja social, ele possui algumas 
características essenciais: generalidade, coercitividade, exterioridade. Ou seja, são coletivos 
e não individuais; correspondem a padrões culturais que são externos ao indivíduo e que 
não dependem de sua consciência ou vontade; são padrões culturais que exercem força 
coletiva sobre a vontade individual. Marcell Mauss utiliza o mesmo princípio teórico para 
GLOSSÁRIO
mariana.agulhari
Comentário do texto
Estrutura:
mariana.agulhari
Comentário do texto
Fato social total:
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falar em fato social total. Há alguns tipos de fatos sociais que, além de corresponderem a 
essas características, perpassam as diferentes instituições sociais ou coadunam diferentes 
aspectos da vida social em si próprios, como a economia, política, religião e relações de 
parentesco. Um exemplo presente na obra de Mauss, de fato social total, é o Kula, ritual 
de troca de conchas nas

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