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Família e Sociedade Autor: Ana Carolina Bazzo Silva Tema 01 Sociedade, família e indivíduo seç ões Tema 01 Sociedade, família e indivíduo Como citar este material: SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e Sociedade: Sociedade, família e indivíduo. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017. Seções Seções FINALIZANDO REFERÊNCIAS GABARITO LEITURAOBRIGATÓRIA CONTEÚDOSEHABILIDADES AGORAÉASUAVEZ GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES 4 Tema 01 Sociedade, família e indivíduo 5 Prezado aluno, neste curso você será apresentado a conceitos das ciências sociais que o permitirão refletir sobre a relação entre família e sociedade sob diferentes perspectivas. O objetivo principal do curso é refletir a família enquanto um fenômeno social e cultural. Para tanto, apresentaremos autores, leituras, links, exemplos e situações que possam ajudá-lo a compreender a família como um reflexo da sociedade e da cultura em que seus membros estão inseridos, assim como refleti-la como parte do imaginário político, social e cultural da sociedade em que estamos inseridos. Consequentemente, objetivamos que desenvolva capacidade de refletir e compreender a partir de um olhar específico diferentes situações-problemas que envolvem os processos de socialização familiar; que desenvolva a capacidade de refletir a relação entre indivíduo, família e sociedade e que possa, ao final do curso, pensar na diversidade das formas como podemos definir os arranjos familiares em diferentes contextos sociais, políticos, econômicos e culturais. Nosso curso estará dividido em temas que, apesar de não esgotarem as possíveis abordagens sociológicas sobre família, complementam-se. Neste primeiro tema, trabalharemos as especificidades da leitura de conceitos próprios às ciências sociais e também falaremos um pouco sobre o lugar da família em obras de autores clássicos da sociologia. Boa leitura! CONTEÚDOSEHABILIDADES 6 LEITURAOBRIGATÓRIA Tema 1 - Sociedade, família e indivíduo Convite à leitura Trabalharemos, neste primeiro tema de nosso curso, a relação entre sociedade, família e indivíduo. Para introduzirmos uma leitura das ciências sociais sobre esta temática, começaremos apresentando algumas das principais perguntas que autores da área se fizeram sobre o que é a sociedade e o que, enfim, nos orienta a vivermos em grupo e a sermos seres eminentemente sociais. Para compreender o papel da família na sociedade e, ao mesmo tempo, para compreender qual o peso da sociedade na constituição daquilo que entendemos como família, será importantíssimo entender os sentidos específicos que esses termos assumem nas leituras a partir das quais estamos nos baseando neste curso. Por dentro do tema Antes de começarmos, façamos uma pausa necessária para falarmos sobre leitura e compreensão de textos acadêmicos. Quando nos dedicamos à leitura e à compreensão de textos acadêmicos na área das ciências humanas, devemos ter em mente alguns pontos muito importantes: 1) O momento histórico em que os autores estão escrevendo, porque as obras dialogam com a sociedade e a cultura em que os autores estão inseridos. Quando filósofos da Antiguidade estão falando sobre homens e sobre Deus, por exemplo, estão usando esses termos em sentidos diferentes dos sentidos dados por filósofos da Idade Média. São Tomás de Aquino e Santo Agostinho se inspiram em Platão e Aristóteles e os retomam, mas não podemos dizer que suas leituras são iguais à leitura dos filósofos da Antiguidade, porque o cristianismo ainda não existia, a sociedade em que viviam era outra. Podemos pensar o mesmo quando estamos falando da família para autores do começo do século XX e para autores do século XXI. 7 LEITURAOBRIGATÓRIA 2) A instituição em que os autores estão inseridos, porque existe um diálogo entre autores que pertencem a um círculo acadêmico específico. Assim como podemos estudar a história de instituições como o Estado moderno, podemos estudar a história de instituições como universidades. E é importante ter em mente que grande parte dos fundadores das ciências sociais está escrevendo no começo do século XX na Europa e nos Estados Unidos da América. Também é importante reconhecer que para cada meio universitário, temos uma rede de autores que acabam referindo-se uns aos outros em suas obras. Há um diálogo possível, por exemplo, entre Karl Marx e Friedrich Hegel. Há inclusive um diálogo possível entre Marx e Charles Darwin, mas não podemos dizer que a noção de trabalho presente na obra de Marx é a mesma noção que está presente na obra de Émile Durkheim. Durkheim escreve bem depois de Marx e tem outras influências teóricas. 3) Os termos que aparecem ao longo dos textos acadêmicos não possuem os mesmos sentidos que as palavras com as quais temos contato em nosso cotidiano ou no senso comum. Na maioria das vezes, esses termos que encontramos em textos técnicos ou obras acadêmicas possuem status de “conceito”, ou seja, são palavras que buscam representar uma situação, uma realidade, de forma generalizante. Palavras como trabalho, sociedade, cultura, possuem sentidos comuns distintos dos sentidos teóricos que assumem em textos acadêmicos. 4) O sentido que um autor utiliza para um conceito em determinada obra não é necessariamente o mesmo sentido que outro autor dá para o mesmo conceito e, em muitos casos, um mesmo autor pode definir de forma diferente o mesmo conceito ao longo de sua obra. O significado e as implicações do uso da palavra “Civilização” vão mudando ao longo da obra de Sigmund Freud, por exemplo. Para ler textos acadêmicos, é importante sempre ter isso em mente e, muitas vezes, buscar o sentido específico do termo dento da obra ou em dicionários da área. Essas dicas o ajudarão ao longo de seus estudos e, sobretudo, o ajudarão a compreender as possíveis leituras das ciências sociais para a relação entre sociedade, família e indivíduo que apresentaremos neste caderno. Trabalharemos, inicialmente, alguns questionamentos sobre a relação entre indivíduo e sociedade. 8 LEITURAOBRIGATÓRIA Relação entre indivíduo e sociedade Em algum momento de sua vida, você deve ter se deparado com a palavra sociedade como forma de se referir a um grupo de pessoas que habita algum país ou mesmo como forma de se referir ao meio social em que você próprio nasceu, cresceu e vive. Os noticiários constantemente citam “a sociedade brasileira” como sinônimo da nação brasileira ou dos indivíduos que nasceram, cresceram e vivem no Brasil. O sentido assumido pela palavra, neste contexto, é de uma espécie de entidade que representa um grupo coeso de pessoas vivendo segundo regras e costumes específicos. Em outros momentos, você também já deve ter entrado em contato com a ideia de que todas as regras a partir das quais vivemos em sociedade se sobrepõem aos indivíduos como uma espécie de força ordenadora e controladora. Nesse sentido, sociedade pode ser definida como uma instituição limitadora das ações individuais em prol da manutenção da coletividade. Podemos dizer que o segundo exemplo carrega consigo uma leitura de sociedade que depende de certa leitura do que é o indivíduo. Imagine-se vivendo livremente em um campo, sobrevivendo daquilo que a natureza lhe fornece. Você e seu grupo familiar primitivo, talvez formado de uma esposa e filhos, vivem utilizando ferramentas rudimentares que permitem que seu grupo familiar se proteja do frio, que se alimente. Mas você não é o único grupo familiar existente no mundo. Vez ou outra, depara-se com outra família ou com outro grupo maior de pessoas que podem não ser amistosas. Alguns de seus vizinhos propõem ajudá- lo a proteger sua família. Para tanto, vocês combinam um conjunto de regras entre os grupos de famílias e vizinhos. Regras rudimentares, por exemplo, dividir os horários em que buscarão comida e revezar a guarda noturna do acampamento. O grupo começa a crescer e vocês têm que organizar casamentos entre os filhos dos vizinhos, funerais. Novas regrassobre essas atividades coletivas vão surgindo. Para os filósofos conhecidos como “contratualistas”, como Thomas Hobbes (1578-1679) e John Locke (1632-1704), esse cenário ilustra o surgimento da sociedade. Para essa tradição de pensamento, a vida em sociedade sempre implica na abdicação da liberdade individual absoluta para que os grupos possam funcionar. E, como consequência da escolha pelo coletivo, nascem instituições pautadas em códigos jurídicos rudimentares: 1) o coletivo decide quem será responsável por punir aqueles que não servem ao propósito maior de proteção do grupo e como será aplicada essa punição; 9 LEITURAOBRIGATÓRIA 2) o coletivo define as regras de casamento com filhos dos vizinhos que fazem parte da comunidade, já que o sujeito não poderá desposar os membros da própria família, mas também não poderá desposar o inimigo; 3) o coletivo divide e distribui as tarefas necessárias à sobrevivência, que antes eram todas realizadas por esse único sujeito vivendo livre junto à natureza e agora ficam sob a responsabilidade de especialistas. Tal leitura sobre o surgimento da sociedade está presente em diversas obras ao longo do século XIX. Autores como Lewis Morgan (1818-1881) perguntavam-se sobre como a humanidade construiu, desde o começo de sua existência até o século XIX, as estruturas de poder, as estruturas de produção e os sistemas de crença que esses autores conheceram. E recorreram a uma imagem do ser humano vivendo em seu estado de natureza semelhante ao que os contratualistas utilizaram, porém, partindo de influências teóricas distintas. Esse era um momento em que o evolucionismo cultural proposto por Herbert Spencer (1820-1903) estava em alta conta entre os escritores que se dedicavam aos estudos da sociedade e do homem. Inspirado por uma das principais obras de Morgan, A Sociedade Antiga, Friedrich Engels (1820-1895) escreverá seu famoso livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado. É interessante para nós citar esses textos, porque a noção de sociedade, de família e de indivíduo em ambos os livros está presente em nosso imaginário até os dias atuais. Mas como? Que noção de família é essa? Notem: quando imaginamos o homem andando livre pelos campos e deparando-se com os perigos do encontro com outros homens livres, estamos pressupondo um tipo bastante específico de indivíduo. Guardemos essa informação por enquanto e continuemos a raciocinar como os evolucionistas culturais e como Engels, na referida obra. Volte mais um pouco em sua abstração sobre o cenário que estávamos desenhando até então. O ser humano, seguindo seus instintos de sobrevivência, tem de lidar com ameaças da natureza e de sua própria espécie e tem de lidar com aquilo que a natureza lhe dá para sobreviver. Ele, inicialmente, deveria ser um caçador e um coletor, porque atividades como agricultura requerem que ele se fixe em um território e que trabalhe a terra. Além da necessidade individual de sobrevivência, há a necessidade de manutenção da espécie, portanto, a necessidade de reprodução, correto? Trabalho e casamento são, para Morgan e Engels, a base da constituição desse protótipo de sociedade sobre o qual falamos anteriormente. As primeiras associações entre seres humanos se dão: 10 LEITURAOBRIGATÓRIA 1) pelo estabelecimento de sistemas e relações de parentesco; 2) pelo estabelecimento de formas de organização social da produção. A primeira forma de associação, para esses autores, são as famílias. Morgan recorrerá a dados sobre as origens das sociedades greco-romanas e às origens das fratrias e clãs para refletir o surgimento das famílias, dos assentamentos em territórios e para refletir sobre o início da produção agrícola. As relações de parentesco, para este autor, são a base do que podemos chamar de uma sociedade primitiva. As famílias vão se unindo em grupos maiores que trocarão coisas, trabalho e pessoas. Homens que chefiam as famílias trocam mulheres, o que para Morgan é parte fundamental da história das famílias e das relações de parentesco. O que isso significa? As famílias se formam a partir do casamento e as famílias se relacionam casando suas filhas, segundo o raciocínio do autor. Assim, os grupos de parentes vão instituindo regras de casamento e de posse da terra. A organização dos sistemas de trocas de pessoas pelo casamento acompanha a sedentarização, que possibilita a agricultura e, posteriormente, a troca de produtos entre aldeias. Logo esses grupos precisam também de códigos que organizem sua vida política e constroem sistemas de crenças e religiões, ligadas à figura desses sujeitos que gerenciam o poder. Fica mais fácil visualizar tudo isso quando retomamos os sistemas políticos europeus, com famílias reais trocando seus nobres e garantindo a hereditariedade do poder, que em muitos casos também é religioso. Temos, portanto: 1) As famílias como base da formação das sociedades primitivas. 2) A associação entre famílias fundando o direito à terra. 3) O direito à terra relacionado à sedentarização, à agricultura. 4) Os códigos que regem as relações entre famílias também regem a vida política e a vida religiosa. 11 LEITURAOBRIGATÓRIA Engels irá apoiar-se em A Sociedade Antiga para nos dizer que a origem da sociedade humana está ligada à origem da propriedade privada e da dominação das mulheres pelos homens. Como Karl Marx (1818-1883), Engels nos trará uma visão crítica sobre a forma violenta como a sociedade humana se constitui, apontando como as famílias se formam a partir da dominação do território e das mulheres. Ambos falarão também do papel da família burguesa na sustentação das ideologias que servem à propagação da exploração do trabalho no sistema de produção capitalista, que sucede as formas de acumulação primitivas. Até o momento, falamos de uma leitura sobre a relação entre indivíduo e sociedade que compartilha alguns pontos: 1) Partem da noção do homem primitivo para falarem na formação histórica da humanidade. 2) Consideram que este homem primitivo abdica de seus instintos e de sua liberdade a favor das relações sociais. 3) Discutem que famílias são parte fundamental das primeiras formas de organização social. 4) Discutem o papel da violência na formação da sociedade, seja considerando que os homens se associam para protegerem a si próprios e a suas famílias, seja considerando que a violência está presente nas formas de acumulação primitivas (guerras pela terra, dominação das mulheres). A imagem deste início da vida em sociedade lhe pareceu bastante plausível, não é mesmo? Só que ela não responde a todas as perguntas sobre a relação entre indivíduo, família e sociedade que estão presentes na obra de outros dos principais autores fundadores do pensamento sociológico, como Émile Durkheim. Afinal, que perguntas são essas? A sociedade como um imperativo moral Grande parte do potencial que as crianças possuem para aprender vem da habilidade que elas possuem de fazer perguntas que nós, adultos completamente socializados, não fazemos mais porque achamos que já temos resposta para tudo. Vamos exercitar essa habilidade retomando o cenário do homem primitivo que decide um belo dia assinar o contrato social 12 LEITURAOBRIGATÓRIA que funda a sociedade para seu próprio benefício. Não lhe parece estranho imaginar que este homem forma famílias, que encontram outras famílias vizinhas e vai decidindo, por tentativa e erro, como vão ser as regras que vão organizar o grupo maior? Se esse homem vive sozinho, no máximo com um grupo de mulheres, como surge uma família? Quando ele decide que algumas mulheres, como filhas e sua própria mãe, não estão disponíveis para casamento? E, mais importante, como essas pessoas se comunicam? Quando esse homem primitivo começa a falar? O que surge primeiro, a linguagem a partir da qual os homens organizam seus códigos de conduta em sociedade, ou a própria sociedade? É justamente essa última pergunta que alimenta as preocupações de Durkheimsobre o que é a sociedade e sobre sua relação com indivíduo e família. Para o autor, a sociedade não se resume a uma somatória de indivíduos associados. A sociedade, na obra durkheimiana, é um imperativo moral e não somente esse aglomerado de pessoas organizadas e, mais do que isso, na mesma perspectiva não podemos dizer que a vontade individual de proteção está por trás da formação da sociedade, porque ela existe antes da existência do próprio indivíduo. O que significa dizer que a sociedade é um imperativo moral? Podemos dizer que, para Durkheim, é a vida social que está por trás das decisões individuais e não o contrário. O autor não está preocupado em investigar as origens da sociedade, como autores evolucionistas culturais estavam. Suas preocupações são com as seguintes questões: 1) Qual o papel da sociedade em nossa formação enquanto seres humanos? 2) Qual o lugar do indivíduo na sociedade? Note que, quando paramos para avaliar com atenção o primeiro ponto, temos uma reviravolta na forma como estivemos pensando até então. Se, antes, vínhamos desenhando o cenário do homem livre na natureza que se une a outros homens e funda a sociedade para proteger- se, agora desenhamos o cenário do homem sendo formado no seio de um grupo social. Afinal, tudo aquilo que aprendemos, inclusive as formas de produzir e os códigos de conduta a partir dos quais vivemos, nos é apresentado pela sociedade. 13 LEITURAOBRIGATÓRIA Família como primeiro espaço de socialização Parte essencial da educação de um ser humano é o aprendizado de como viver em sociedade. A esse processo educacional a partir do qual aprendemos a nos comportar em atividades coletivas damos o nome de socialização. Quando nascemos, já fazemos parte de um grupo social e de uma família. E a preocupação de Durkheim será a de estudar os imperativos sociais presentes em nossos comportamentos individuais. É isso que significa dizer que a sociedade é um imperativo moral. Nem que quisesse, o ser humano poderia viver fora dela, pois ele assume sua humanidade só quando vive em sociedade. Somos seres gregários, somos seres sociais por definição, segundo Durkheim. Ao dizer que a vida em sociedade nos forma enquanto sujeitos, o autor também está nos dizendo que cada um de nós tem papel fundamental no funcionamento da sociedade enquanto um todo independente do indivíduo. Todos nós, de algum modo, agimos para a manutenção das formas de sociabilidade (que Durkheim chama de solidariedade) próprias ao momento histórico, às relações de produção e à cultura do grupo em que vivemos. Por mais que pensemos que temos liberdade de escolha e ação individual, acabamos agindo para manutenção dessa moral social a partir da qual fomos socializados desde o momento em que nascemos. E a família e a escola possuem papel fundamental nesse processo de socialização que nos faz humanos e que nos faz parte de um grupo. Nas palavras do autor: [...] cada sociedade considerada em momento determinado de seu desenvolvimento possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos de modo geralmente irresistível. É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. Há costumes com relação aos quais somos obrigados a nos conformar; se os desrespeitarmos, muito gravemente, eles se vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado de viver no meio de seus contemporâneos com os quais não encontrarão harmonia. Que eles tenham sido educados, segundo ideias passadistas ou futuristas, não importa; num caso como noutro, não são de seu tempo e, por consequência, não estarão em condições de vida normal. Há, pois, a cada momento, um tipo regulador de educação do qual não nos podemos separar sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes. (DURKHEIM, 1977, p. 30). 14 LEITURAOBRIGATÓRIA Outra contribuição fundamental que podemos citar é a forma como o autor analisa a sociedade de classes. Algo comum aos fundadores do pensamento sociológico clássico é o estudo das relações sociais na sociedade pós-industrial. Marx vai nos dizer que o indivíduo livre e dono de si é uma invenção necessária à sociedade do trabalho. Temos de acreditar que podemos escolher para que possamos fazer parte de um sistema que nos promete ascensão social pelo trabalho. Max Weber (1864-1920) vai nos dizer que a burocratização, a racionalização e a ciência são essenciais para a construção da estrutura da nova empresa capitalista, portanto, salienta também o papel da família e da educação na sociedade de classes. Para Durkheim, o que diferencia a sociedade capitalista, a sociedade organizada em classes e que se pauta na produção industrial, é a divisão social do trabalho. Com cada um de nós nos especializando por uma parte muito pequena da produção, tornamo-nos muito mais interdependentes, mas temos a sensação paradoxal de que não dependemos uns dos outros. Você se acha livre na sociedade de classes? Então imagine o seguinte cenário: um dia, todos os lixeiros ou todos os motoristas de trem param suas atividades. O sistema todo para. A sociedade de classes, para Durkheim, é como um organismo vivo. Se uma parte dele entra em falência, não demorará muito para que o corpo pare de funcionar. Se, para os contratualistas e para os evolucionistas culturais, a família é uma espécie de sociedade rudimentar, ou seja, uma primeira forma de associação e de relação social, para os fundadores da sociologia, a família é o primeiro lugar onde todos os princípios de sociabilidade necessários para a reprodução da sociedade nos serão ensinados. Para Marx, a família burguesa tem papel fundamental na reprodução da exploração do trabalho. Para Weber, famílias também estão por trás dos tipos de poder que são reproduzidos nas diferentes sociedades. Para Durkheim, também é no seio familiar que somos educados para viver em sociedade e, mais do que isso, para reproduzir os imperativos morais que sustentam a ordem social e seu funcionamento. Para a sociologia, família, religião e escola são as principais instituições responsáveis por nos educar para reproduzirmos a ordem social vigente na sociedade de classes. Tendo isso em mente, seguiremos neste curso analisando mais a fundo como isso acontece. 15 Indivíduo e Sociedade, por Ana Paula Poll, fala proferida em TED Brasil Em sua fala no TED em Volta Redonda, a cientista social Ana Paula Poll nos convida a fazer perguntas reflexivas sobre o Brasil e sobre a sociedade brasileira. Baseando-se em uma proposição clássica da sociologia sobre o ser humano ser por definição um ser social, um ser gregário, e sobre a necessidade dos processos de socialização para a formação dos sujeitos, a autora inicialmente discute a interdependência que constitui a sociedade do trabalho para, em seguida, refletir as especificidades das relações entre o eu e a coletividade no Brasil. Qual a rede de relações que constitui a sociedade brasileira? Essa é a pergunta essencial proposta pela autora. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=a8gyl6MPHsI>. Acesso em: 23 ago. 2017. Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, produzido pela UNIVESP TV O vídeo apresenta, de forma bastante didática, o conceito de sociedade utilizado por Émile Durkheim. Contém uma pequena biografia sobre Durkheim e o contexto teórico em que o autor está inserido, feita pelo sociólogo e professor da USP Gabriel Cohn. Discute e explica também os principais conceitos da obra durkheimiana, como o de Fato Social. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SMaxxNEqk7U>. Acesso em: 23 ago. 2017. Dicionário de Sociologia, de Raymond Boudon O site Ebah é uma rede social que se dedica ao compartilhamento de materiais para professores. O link indicado abaixo contém trechos do Dicionário de Sociologia de Raymond Boudon e pode ser bastante útil para aqueles que buscam compreender o sentido que a sociologia dá para termos com os quais estão tendo contato pela primeira vez ou para termos com os quais só tiveramcontato a partir do senso comum. Lembre-se, muitas vezes o mesmo termo ou conceito tem sentidos diferentes de acordo com o autor ou com o contexto histórico em que são usados. É sempre bom ter um dicionário da área em mãos para conferir os possíveis sentidos de um novo termo ou conceito. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAW-AAB/dicionario- sociologia?part=11>. Acesso em: 23 ago. 2017. LINKSIMPORTANTES 16 IBGE O site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística possui informações importantes e atualizadas sobre a configuração socioeconômica, geracional e demais informações fornecidas pelos dados mais recentes dos censos sobre família. No link específico aqui indicado, temos uma análise dos dados do Censo de 2010, que indicam mudanças na estrutura da família brasileira. É essencial, quando falamos sobre gerações ou sobre contextos históricos, termos dados que nos permitam observar diferenças regionais, diferenças econômicas, diferenças religiosas para que não tomemos nosso meio social como exemplo universal daquilo que estamos observando. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/familias-e- domicilios.html>. Acesso em: 23 ago. 2017. LINKSIMPORTANTES 17 Instruções: Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. AGORAÉASUAVEZ Questão 1: Imagine-se começando a estudar um novo conteúdo, sobre o qual você não tem conhe- cimentos prévios, mas já ouviu falar. Quais seriam seus primeiros passos para começar a leitura de um livro de sociologia indicado por seu professor? Descreva esses passos e explique por que são importantes. Questão 2: Assinale a alternativa que contém um pon- to em comum entre a obra dos três pais fundadores da sociologia, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim. a) Todos esses autores têm como problema principal de pesquisa o estudo das origens do contrato social. b) Todos esses autores dialogam com a obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Questão 3: Leia o texto abaixo: (...) cada sociedade considerada em momento determinado de seu desenvolvimento, possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos de modo geralmente irresistível. É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. Há costumes com relação c) Todos esses autores, de algum modo, estão estudando as relações sociais na sociedade de classes, na sociedade pós- industrial. d) Todos esses autores dialogam com a obra A sociedade antiga, de Lewis Morgan. e) Todos esses autores estudam a evolução das sociedades humanas no tempo, desde a cidade antiga até a sociedade pós-industrial. 18 AGORAÉASUAVEZ Questão 4: Discorra sobre o papel da família na obra de Émile Durkheim. Questão 5: O que significa dizer que a Sociedade não é um mero aglomerado de indivíduos, para Durkheim? aos quais somos obrigados a nos conformar; se os desrespeitarmos, muito gravemente, eles se vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado de viver no meio de seus contemporâneos com os quais não encontrarão harmonia. Que eles tenham sido educados, segundo ideias passadistas ou futuristas, não importa; num caso como noutro, não são de seu tempo e, por consequência, não estarão em condições de vida normal. Há, pois, a cada momento, um tipo regulador de educação do qual não nos podemos separar sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes. (DURKHEIM, 1977, p. 30). Após estudar o que apresentamos nesse primeiro tema, sobre a obra de Durkheim, assinale a alternativa que explica a senten- ça “É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos”, pre- sente no trecho acima: a) Não podemos educar os filhos independentemente da sociedade porque a própria família é uma instituição social responsável por reproduzir as regras sociais. b) Não podemos educar nossos filhos como queremos porque existem leis que nos obrigam a colocá-los na escola. c) Somente a escola é responsável pela educação dos filhos. d) Não podemos educar nossos filhos como queremos porque o Estado é responsável pela educação das crianças. e) Não podemos educar nossos filhos como queremos porque a vontade individual se sobressai à vontade coletiva na sociedade de classes. 19 FINALIZANDO Neste caderno, introduzimos algumas das questões que autores fundadores do pensamento sociológico fizeram para a família, para a sociedade e para o indivíduo. Discutimos a importância de atentarmos para o significado que cada autor dá para esses termos. Mostramos que, mesmo fazendo perguntas diferentes sobre o que é a sociedade, como ela funciona, porque vivemos em sociedade, todos esses autores, de algum modo, salientaram o papel da família. Enquanto os contratualistas e evolucionistas culturais se preocuparam em perguntar como a sociedade surge e nos disseram que a família é como uma primeira instituição social, os fundadores da sociologia se preocuparam em compreender o papel da família na reprodução das formas de sociabilidade próprias a cada momento histórico e a cada sociedade. Se, num primeiro momento, a família é vista como essa primeira organização social, num segundo ela é vista como uma instituição social que, ao mesmo tempo em que vive segundo costumes e códigos de conduta de determinado meio social, nos ensina esses costumes e códigos. Você já pode, a partir dessa aula, tirar algumas conclusões sobre a relação entre família, sociedade e indivíduo para a sociologia, não é mesmo? 1) A sociedade é algo que nos forma enquanto indivíduos e o que somos depende do momento histórico e social em que vivemos; 2) A família também se forma no seio de uma sociedade e de um momento histórico específicos, portanto, para definirmos família precisaremos compreender o contexto sobre o qual estamos falando; 3) A família é uma instituição social importante na sociedade de classes, pois é responsável por nos ensinar a viver em sociedade, a nos relacionarmos uns com os outros. Tendo isso em mente, partiremos para nossas próximas aulas, em que trabalharemos com um pouco mais de profundidade esses pontos. 20 GLOSSÁRIO Palavra-chave: Sociedade. Neste curso, trataremos o termo Sociedade com um pouco mais de rigor acadêmico, o que significa que sempre atentaremos para o sentido dado pelos autores que estamos citando ou que estamos lendo. Nos dicionários de sociologia você encontrará um verbete que já parte do princípio de que quando falamos em Sociedade a partir de autores da sociologia, estamos necessariamente pressupondo uma estrutura organizada de relações entre sujeitos que vivem a partir de uma ordem moral que é social, que vivem e se reconhecem como parte de um grupo organizado. Você encontrará classificações do uso do termo, como sociedade simples e sociedade complexa, sociedade rural e sociedade urbana, sociedade capitalista e sociedade feudal, por exemplo. O que há em comum a todas essas comparações tipológicas entre sociedade é a busca por algo que estruturalmente as define como tais. Em nenhum desses casos sociedade é tratada como sinônimo de nação ou como uma mera organização de pessoas que vivem em um espaço gerido por leis ou por figuras de poder. No caso da tipificação que diferencia sociedade capitalista de sociedade feudal, a estrutura comparativa, além da produção, envolve uma análise no tempo e no espaço do sistema de trocas (monetário, amonetário), do tipo de trabalho (servil, escravo, assalariado). Palavra-chave: Família. Assim como faremos com o conceito de Sociedade, pensando no sentido dado pelos autores citados para o termo, faremos com família. Em tese, podemos dizer que a família é um grupo de pessoas associado por relações de parentesco. O que é diferente de dizer, por exemplo, que para fins legais e de proteçãodo Estado, uma família se constitui a partir da união estável entre homem e mulher. Como conceito, o termo família abrange todo um âmbito de relações que não está descrito na definição apresentada em nosso Código Civil. Para autores da sociologia, como Durkheim, por exemplo, família é uma das principais instituições sociais, um dos primeiros espaços onde aprendemos as regras necessárias para a vida em sociedade, além da Escola. Para outros, como Weber, é imprescindível 21 estudar a genealogia para compreensão da forma como se estruturam relações de poder e como se configuram os tipos de poder. Já para a antropologia, que se dedica ao estudo de culturas e sociedades, a estrutura jurídica evocada pela família ocidental, sobre a qual os sociólogos estão falando ao pensarem na relação entre sociedade e família, não é universal. Antropólogos clássicos dedicaram-se ao estudo das relações de parentesco e não necessariamente ao estudo da estrutura familiar sobre a qual estão tratando os sociólogos. Isso não quer dizer que a definição jurídica ou mesmo uma definição religiosa precisem ser desconsideradas. Quer dizer, sim, que a definição conceitual nos permite analisar os diversos sentidos que a palavra assume para diversos grupos e instituições sociais. Uma dica quando estamos estudando a relação entre família e sociedade é analisar como os códigos jurídicos de uma nação a definem, como as religiões definem família, e como ela se estrutura socialmente, demograficamente e economicamente em diferentes regiões de um país. Todos esses dados serão importantes para que possamos pensar inclusive na forma como está estruturada a família enquanto instituição social ou enquanto relação de parentesco em nossa sociedade, nosso país, nossa cultura. Palavra-chave: Indivíduo. Indivíduo é um termo importantíssimo para a formação do pensamento sociológico. Todos os principais autores fundadores da antropologia partem de questionamentos sobre o que é o indivíduo para refletir sobre o que é a sociedade. De maneiras distintas, autores como Durkheim, Marx e Weber nos mostram como a ideia de indivíduo foi construída historicamente e como ela faz sentido para certa sociedade, ou seja, não é um termo que pode ser usado para qualquer momento histórico e para qualquer sociedade. A noção de indivíduo enquanto sujeito de direitos, enquanto sujeito que pode ter posses e que é dono de si e de seu trabalho nem sempre existiu na história da sociedade ocidental com esse sentido específico, assim como não se aplica a qualquer sociedade. Boudon (1990), em seu dicionário de Sociologia, salienta que o individualismo enquanto sinônimo de posse do corpo individual, da vontade individual, de terras e bens, portanto, como sinônimo de um sujeito que de modo algum é devedor da sociedade porque é proprietário exclusivo de si mesmo, está relacionada ao individualismo do século XVII. Filósofos gregos, como Aristóteles, já falavam sobre individualidade, ou seja, sobre o lugar de cada pessoa no Cosmo, o que é diferente de dizer que todos os homens têm direito à sua própria individualidade, que a possuem desde o momento em que nascem. Segundo Durkheim, essa segunda noção, que prevalece na sociedade em que vivemos, é própria à sociedade com um tipo de solidariedade chamada de orgânica, com maior interdependência entre as pessoas, mas, paradoxalmente, com a GLOSSÁRIO 22 sensação de que não devemos nada ao coletivo ou que nossa individualidade prevalece sobre a coletividade. Palavra-chave: Ciências Sociais. No Brasil, as ciências sociais correspondem à grande área que contém a antropologia, a sociologia e a ciência política. Em outras localidades, temos também as ciências sociais aplicadas, que correspondem a áreas como economia, ciência política, demografia. Neste curso, quando nos referirmos às ciências sociais, nas três áreas atuais que a compõem: antropologia, sociologia e ciência política, falaremos em ciências sociais e não somente em sociologia, porque retomaremos momentos do século XX em que essas áreas ainda estão se formando e em que não temos uma separação institucional entre elas. Também optaremos por falar em ciências sociais ao invés de falarmos em sociologia porque há um diálogo teórico estabelecido entre áreas como antropologia, sociologia, filosofia, história, ciência política, demografia, que não pode ser ignorado quando pensamos na relação entre família e sociedade. Palavra-chave: Relações Sociais. Por muito tempo, nas ciências sociais em geral, mais especificamente em algumas tradições clássicas do pensamento antropológico, como é o caso do estrutural-funcionalismo inglês, e para a escola sociológica francesa de Durkheim, o termo relações sociais complementou o próprio sentido de Sociedade. Sociedades são estruturadas por relações sociais. Digamos que a forma como os sujeitos se relacionam em uma cultura ou em um grupo é o aspecto observável que nos permite delinear a estrutura que constitui uma Sociedade e suas instituições. Por exemplo, para Durkheim, nas sociedades onde temos divisão social do trabalho, podemos abstrair um tipo de sociedade que funciona como um organismo, como uma célula: cada sujeito com seu trabalho específico, com sua função, torna-se parte da engrenagem necessária ao funcionamento da estrutura. A forma como estabelecemos nossas relações de troca, como construímos nossos códigos de conduta em sociedade, como ensinamos os membros de uma sociedade a cumpri-los, são parte do que podemos chamar de relações sociais – redes de pessoas que, regidas por princípios sociais e culturais, trocam informações e coisas entre si. GLOSSÁRIO 23 GABARITO Questão 1 Alguns passos importantes para começar a leitura de textos acadêmicos são: 1) Pesquise um pouco sobre a área de conhecimento que está começando a estudar. O que hoje está sendo feito ou pesquisado sobre o assunto? Onde são formados os profissionais que trabalham nessa área de estudo e de pesquisa? Quais os principais fundadores desse tipo de conhecimento? 2) Pesquise o momento em que o livro foi lançado. O meio social em que os autores estão inseridos e a época influenciam a escrita e o conteúdo. Autores dialogam com suas épocas. 3) Pesquise em dicionários da área os conceitos básicos presentes nesses livros, com quem o autor está dialogando ao escrevê-lo. Muitos livros são escritos em resposta a outros livros e autores. Questão 2 Resposta correta: C a) Podemos dizer que há uma influência de autores contratualistas na obra de Marx, que dialoga criticamente com esses filósofos, mas não podemos fazer tal afirmação para Weber e Durkheim, que dialogam com outros filósofos, como Kant. b) Na verdade, esse livro de Engels dialoga com o livro de Morgan e com parte da obra de Marx, mas os outros autores não mantêm um diálogo explícito com o livro. c) Resposta correta. De algum modo, todos eles estão estudando as relações sociais na sociedade de classes. d) Na verdade, é Engels quem dialoga com essa obra. 24 e) Na verdade, para Durkheim, a família é uma instituição social, mas ela própria é fruto de uma sociedade, é constituída de acordo com a moral social que predomina em determinado grupo e em determinado momento histórico. Questão 3 Resposta correta: A a) Resposta correta. A família acaba reproduzindo formas de educação que são definidas no seio da sociedade. b) Para Durkheim, a lei também é uma instituição social. A sociedade se sobrepõe à família e inclusive aos códigos legais. Os códigos legais podem mudar, mas inclusive eles são formados no seio da sociedade. c) A escola, a família, a religião, são instituições importantíssimas para a educação e não somente a família. d) O Estado também é uma instituição social, como o sistema jurídico. Ele faz parte da Sociedade, como a família e as leis. e) É justamente o contrário, para Durkheim. Achar que o indivíduo é livre para fazer o que quer é parte do paradoxo que forma a sociedade com divisão do trabalhosocial. Achamos que somos livres, mas estamos cada vez mais dependentes uns dos outros. Questão 4 A família é uma das instituições sociais responsáveis por educar os sujeitos para a vida em sociedade. É no seio da família que aprendemos as primeiras regras sobre como nos comportamos em espaços públicos, sobre o que podemos fazer e o que não podemos, por exemplo. Questão 5 Primeiramente, o indivíduo como conhecemos é parte da sociedade de classes e da sociedade com divisão social do trabalho. Por outro lado, a sociedade é uma entidade moral independente, para Durkheim. Ela se sobrepõe à vontade individual e à liberdade individual e, inclusive, nos forma enquanto indivíduos com o propósito de sermos parte especializada num tipo específico de sistema social, político e produtivo. GABARITO 25 REFERÊNCIAS BOUDON, Raymond e outros. Dicionário de Sociologia. Lisboa: Publicações D. Qui- xote, 1990. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAW-AAB/dicionario- -sociologia?part=1>. Acesso em: 30 ago. 2017. DURKHEIM, Émile. A educação como processo socializador: função homogeneizadora e função diferenciadora. Educação e sociedade: leituras de sociologia da educação. São Paulo: Nacional, 1977. FAMÍLIAS, uniões e nascimentos. IBGE. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos- -conhecer-o-brasil/nosso-povo/familias-e-domicilios.html>. Acesso em: 30 ago. 2017. GOIRIS, Fabio Anibal. O direito natural: dos contratualistas a Karl Marx. Tempo da Ciên- cia, v. 18, n. 35, p. 60-82, 2011. MAIOR, Heraldo Pessoa S. Durkheim e a família: da “introdução à sociologia da família” à “família conjugal”. Revista Anthropológicas, v. 16, n. 1, 2011. MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga. Rio de Janeiro: Expresso Zahar, 2014. POLL, Ana Paula. Indivíduo e Sociedade. TED Talks. Volta Redonda, 14 mar. 2017, 19:44, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=a8gyl6MPHsI>. Acesso em: 30 ago. 2017. SETTON, Maria da Graça Jacintho. As religiões como agentes da socialização. Cadernos Ceru, v. 19, n. 2, p. 15-25, 2008. TOZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim. UNIVESP TV, 2010, 17 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=SMaxxNEqk7U>. Acesso em: 30 ago. 2017. WEBER, Max. Comunidade e sociedade como estruturas de socialização. Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, p. 140-143, 1973. Família e Sociedade Autor: Ana Carolina Bazzo Silva Tema 02 Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias seç ões Tema 02 Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias Como citar este material: SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e Sociedade: Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017. mariana.agulhari Comentário do texto tirar negrito e colocar itálico Seções Seções FINALIZANDO REFERÊNCIAS GABARITO LEITURAOBRIGATÓRIA CONTEÚDOSEHABILIDADES AGORAÉASUAVEZ GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES 4 Tema 02 Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias 5 Prezado aluno, neste caderno você será apresentado a conceitos e autores que o permitirão refletir sobre um aspecto importante do estudo da relação entre família e sociedade: as noções jurídicas de família. Para tanto, discutiremos as origens sociais e culturais do direito e da lei. Você deve ter notado que nosso objetivo, com este conteúdo, será sempre abordar as temáticas propostas a partir de suas origens sociais e culturais. Esse também será nosso propósito aqui, neste caderno. Se, num momento anterior, acompanhamos questionamentos que nos permitem compreender a força da sociedade na definição e na constituição do que são as famílias e os indivíduos, neste vamos aprofundar essa leitura para que possamos compreender que as definições de família nos códigos normativos também acompanham contextos culturais, sociais, políticos, históricos e, inclusive, acadêmicos, já que a produção de conhecimento também não se aparta de seu tempo e do espaço quando e onde acontece. Para seguir o percurso nos estudos dessa temática, será importante ter compreendido esse ponto, já discutido no anterior: a sociedade e a cultura exercem força sobre a forma particular como famílias e indivíduos pensam, agem e se comportam no mundo e uns com os outros. Sigamos por este caminho! Professora Ana Carolina Bazzo da Silva CONTEÚDOSEHABILIDADES mariana.agulhari Comentário do texto excluir 6 LEITURAOBRIGATÓRIA Tema 1 - Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias Convite à leitura No segundo tema de nosso curso, vamos nos aprofundar sobre a leitura das ciências sociais sobre as famílias, abordando seu olhar para os sistemas jurídicos. Mostraremos como as definições sobre família estão intimamente ligadas ao direito, em nossa sociedade. Para tanto, como fizemos anteriormente, vamos partir dos contextos em que os autores estão se perguntando sobre o que é o universo do jurídico e como ele se relaciona com a sociedade. Quais os imperativos sociais para a normatização da nossa vida cotidiana e extracotidiana? Qual o papel da lei na organização da sociedade e da cultura? Como o direito se relaciona com outras instituições sociais e quais conceitos das ciências sociais nos ajudam a compreender a lei, bem como a família, como parte de uma sociedade? Acompanhemos a argumentação de diferentes autores para estes questionamentos, neste caderno. Por dentro do tema Para começar o estudo, é importante que você tenha compreendido alguns dos principais pontos discutidos no caderno anterior. Acompanhamos o cenário a partir do qual os filósofos contratualistas partem para pensar o homem em seu estado natural, mas, em seguida, mostramos que os pais da sociologia pintam um quadro um pouco diferente. Para alguns dos contratualistas e para os evolucionistas culturais, a sociedade surge, primeiramente, da busca pela proteção por parte de um homem sozinho em seu estado de natureza que se associa a um grupo familiar e, em seguida, grupos familiares formam um grupo social maior. Já para Durkheim e Weber, o homem só pode ser concebido enquanto tal porque vive em sociedade, porque é apresentado desde criança às normas sociais e à linguagem. Sugerimos que, caso ainda não tenha compreendido muito bem as mariana.agulhari Comentário do texto excluir 7 LEITURAOBRIGATÓRIA influências teóricas com as quais esses fundadores da sociologia e da antropologia estão dialogando, que faça uma pequena pesquisa biográfica. Durkheim, por exemplo, dialoga com Montesquieu (1689-1755) e com Kant (1724-1804) em diversos pontos de sua obra, enquanto Marx debate com Hegel (1770–1831), Demócrito (460 a.C.–370 a.C.) e Adam Smith (1723–1790). Lévi-Strauss com Rousseau (1712–1778), Kant e Freud (1856–1939). Pesquise sobre esses autores, conheça um pouco do momento histórico em que estão escrevendo e atualize-se sobre as questões que cada um deles faz para o humano e para a sociedade. Neste tema, trabalharemos com maior detalhamento os autores que se dedicam a estudar a relação entre família e lei, ou seja, a estudar essa parte bastante interessante da vida em sociedade que é a constituição de regras que organizam e direcionam a vida coletiva. Lembre-se de que para compreender o que autores estão dizendo é importantíssimo seguir o raciocínio deles e o diálogo que eles estabelecem com outros autores. Lembre-se também de que, neste curso, estamos assumindo que o homem é um ser social e cultural por natureza. Agora é o momento de nos perguntarmos sobre as raízes culturais e sociais da lei. E, portanto, sobre as raízes culturais e sociais das normas que regem a vida familiar e a relação da família com a sociedade. Relações sociais e leis: o jurídico e a sociedade Imagine-se como parte de uma sociedade que, por mais de mil anos, dedicou-se a estudar textos sagrados. Imagine-se comoparte de uma sociedade em que a grande maioria da população era analfabeta, trabalhava no campo e em que poucos membros de uma elite religiosa detinham meios de produção e reprodução do conhecimento. Essa imagem nos ajuda a visualizar o que era a Idade Média na Europa do ponto de vista do acesso ao conhecimento. Não é por acaso que os grandes filósofos deste período eram religiosos, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. Durante o período que data mais ou menos dos séculos V a XV, pensadores ligados à Igreja Católica dedicaram-se basicamente a compreender o lugar do homem na obra divina. Mas, como o conhecimento não nasce do nada e autores sempre dialogam com seus predecessores, mesmo quando o fazem criticamente, é importante citar que esses autores estão recuperando a filosofia em seu berço: as cidades antigas gregas e romanas. 8 LEITURAOBRIGATÓRIA O mesmo paralelo podemos fazer quando falamos nos autores iluministas e a filosofia, em autores iluministas e o direito. Grande parte das preocupações que encontramos nas obras de filósofos iluministas sobre a relação entre homem, lei e poder ou entre homem, lei e sociedade, tem como referência o direito romano ou o direito consuetudinário (baseado em costumes e na oralidade) de populações que ocuparam o território europeu ao longo da queda do Império Romano. A influência do sistema administrativo e normativo romano nas preocupações dos principais filósofos do XVI, XVII, XVIII e XIX é patente. Ora, se vamos pensar a sociedade possível com a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, precisamos partir de algum lugar. E os autores partiram daquilo que conheciam, porque conviviam com as estruturas administrativas e normativas herdadas desde o Império Romano e inclusive aproveitadas pela Igreja Católica durante a Idade Média. Até os dias atuais vemos uma grande presença do direito romano e do direito germânico na formação dos Estados nacionais modernos e em nossas próprias constituições. Direito germânico e direito romano? Do que se trata? As estruturas normativas herdadas pelos povos europeus se relacionam diretamente com as estruturas de poder e de hereditariedade da posse da terra e de bens que vinham desde o Império Romano, mas que também dialogam com os costumes dos povos que ocuparam as terras posteriormente, como as nações de origem teutônica. Para nós, por que retomar esse contexto é importante? Porque os autores do final do XIX e começo do XX que consideramos pais fundadores das ciências sociais estão se perguntando também sobre as origens sociais do direito. Mas não estão falando sobre qualquer direito, qualquer lei, qualquer sistema jurídico. Estão utilizando essa tradição germânica e romana para analisar a sociedade de classes e, mais do que isso, para pensar como se organizam as sociedades que não compartilham esses códigos ou essas estruturas administrativas. Lembre-se de que já em Roma tínhamos estruturas de divisão de poderes, de cidadãos que representavam grupos de poder distintos na sociedade. Lembre-se também de que no Império Romano já encontrávamos conflitos sobre reforma agrária e posse de terras. Por aqui, já podemos abstrair pontos importantíssimos do direito que encontraremos nas discussões de autores que o recuperam como parte essencial para o estudo da sociedade: 1) Há uma íntima relação entre os códigos normativos que regem a vida cotidiana de uma sociedade e as estruturas de poder dessa mesma sociedade; mariana.agulhari Comentário do texto : 9 LEITURAOBRIGATÓRIA 2) Há uma íntima relação entre o direito e a posse da terra no direito germânico e no direito romano, ou seja, além de versar sobre o que é permitido, o que é proibido e como os desviantes devem ser punidos, os códigos jurídicos versam sobre o direito à terra e aos bens. 3) A estrutura administrativa do poder se coaduna à lei, ou seja, tanto a lei serve para a manutenção dessa estrutura de poder, quanto ela é definida por essa estrutura administrativa. E quanto à sociedade específica em que esses pontos estão sendo retomados? Assim como o indivíduo e a família possuem sentidos próprios para a sociedade de classes, como discutimos em nossa aula anterior, podemos dizer que o universo jurídico possui um sentido próprio para a sociedade de classes. A divisão de poderes que estrutura as repúblicas e monarquias europeias no final do XIX e começo do XX; a relação entre Estados nacionais que passaram por guerras coloniais após o período das grandes navegações; as guerras que instituem novas relações de poder entre nações no XX, tudo isso tem grande influência na forma como sociólogos e antropólogos escrevem sobre lei, ordem e poder. Especificamente, há algo importantíssimo que é notado por autores franceses e ingleses do começo do século XX. Até o momento, pensadores reconhecidos e estudados por todos eles fizeram referência às cidades antigas, à administração política romana, ao direito consuetudinário dos clãs germânicos quando se perguntaram sobre os códigos que organizam a sociedade. Nesse modelo de código jurídico, a hereditariedade e as famílias possuíam grande importância. Podemos observar melhor a temática quando lemos as peças e textos clássicos. Tanto nas narrativas sobre a vida nas cidades antigas gregas quanto nos textos que falam sobre o Lar familiaris, espécie de divindade romana que protegia as casas, encontramos a família como unidade sobre a qual, de uma forma ou de outra, se debruçam a lei e toda a estrutura de relações sociais a que ela se refere. Peças inteiras são escritas em torno da temática relação entre cidadãos e servos tendo a dinâmica familiar como cenário. O trabalho servil, a posse hereditária de bens, o lugar da mulher, o lugar do homem, tudo se passa no universo doméstico. E era justamente esse o modelo de relação entre direito, propriedade e família para os autores do XIX, sobretudo os evolucionistas culturais. Sistemas jurídicos que versam sobre a hereditariedade da posse de bens, da terra e do poder político estão por trás da forma como se organizam as relações sociais, para autores como o historiador francês Numa Denis Fustel de Coulanges (1830-1889) e o jurista escocês John Ferguson McLennan (1827-1881). De Freud a Durkheim, visualizamos essa família enquanto unidade moral e jurídica quando tais autores falarão sobre sociedade e normas. 10 LEITURAOBRIGATÓRIA Mas, e quando os grupos sociais não possuem as mesmas unidades familiares com as quais estamos habituados a lidar, como podemos compreender a vida jurídica desses povos? E, quanto ao contrário, quando povos não possuem a mesma estrutura jurídica com a qual estamos habituados a lidar, qual o papel da família? Pensemos nessas questões, a partir da agora. As famílias, no plural Antropólogos do começo do XX começam a se deparar com novos dados sobre povos com os quais os europeus voltavam a ter contato no período que conhecemos como neocolonialismo. Esse contexto da história europeia acompanha a expansão econômica advinda com o impacto da industrialização. É um momento em que os dados coletados por viajantes sobre costumes de povos da Polinésia, África, Groenlândia, nativos norte- americanos e outras localidades, começam a trazer novas questões para o lugar da família e do direito na definição do que é a Sociedade e do que a organiza. Como se dão as relações econômicas e como se normatizam as relações entre sujeitos em sociedades sem Estado ou sem escrita? Se não há instituições especializadas na escrita, fiscalização e execução da lei, como essas sociedades se mantêm no tempo, organizam-se? Note que, quando falamos em direito e em sistemas jurídicos para autores que se questionam sobre relações sociais e sociedades, estamos nos perguntando sobre o que organiza e mantém as relações sociais em dado grupo. É justamente esse o fio condutor de uma das principais obras do sociólogo e antropólogo Marcel Mauss (1872-1950), O Ensaio sobre a dádiva, publicada em 1825. Esse tambémé o fio condutor de uma das principais obras do antropólogo Bronislaw Malinowski (1884-1942), Crime e costume na sociedade selvagem, publicada em 1926. O direito fala sobre como devemos agir em sociedade e sobre os princípios que regem tanto nossa vida cotidiana quanto a hereditariedade da propriedade e do poder, mas também fala sobre o que é o crime. Malinowski captou bem os princípios da regra nas sociedades das ilhas do Pacífico Sul já no começo do livro anteriormente referido. A discussão sobre o que o autor chama de estrutura e função da lei primitiva começa por Malinowski nos dizendo que os termos comunismo, capitalismo e socialismo não servem para descrever a estrutura social dos povos das Ilhas de Coral. Segundo ele, para compreender como se dá a relação com a propriedade e com a hereditariedade do poder nesta localidade, temos de entender 11 LEITURAOBRIGATÓRIA sobre canoas. O papel das canoas, do feitio delas e de toda uma relação de trocas que envolve sua produção é essencial na vida cotidiana dos nativos. E, em torno da produção da canoa, giram diferentes vértices da jurisprudência sobre a propriedade. Inicialmente, observadores que tenham a sociedade de classes como modelo para definição do que é o poder, do que é economia, do que é propriedade, cairiam no engodo de classificarem sociedades sem Estado como comunistas ou socialistas. Observando a estrutura das relações entre famílias, podemos compreender que não é bem assim. Há um sistema estabelecido de troca que se relaciona diretamente com um sistema de posse da terra advindo das relações entre famílias. E esse sistema é organizado, há sanções para a quebra da lei. Para compreendermos melhor a quebra da lei nas sociedades sem Estado, é interessante citar os trabalhos de Malinowski com povos das ilhas Trobriand e que foram brilhantemente citados na referida obra de Marcel Mauss. Novos estudantes de ciências sociais, direito e psicologia são apresentados à palavra Tabu, mas nem sempre são apresentados ao seu contraponto, a palavra Mana. De origem polinésia, as duas palavras se complementam. Tabu tem um significado amplo. Se refere ao sagrado, que não pode ser tocado, mas também se refere ao que é proibido, como o casamento entre mães e filhos, pais e filhas. Mana, por sua vez, refere-se à potência, ao poder, prestígio. Proibição e poder estão intimamente ligados, sobretudo porque quando a regra é quebrada, todo o sistema de poder também é afetado. Quando contraio casamento com alguém que é proibido para mim, estou quebrando com todo um sistema de hereditariedade da terra, das canoas, dos objetos sagrados. A contrapartida da quebra da lei é ser atingido pelo desequilíbrio nas relações de poder, de algum modo. A consequência de se enfrentar o Tabu é ter que enfrentar Mana. Tabu e Mana, portanto, revelam o jurídico presente no sistema de crenças dos nativos da Polinésia. E se relacionam diretamente com as famílias, porque casamentos proibidos sempre implicam em uma bagunça na hereditariedade do poder e na hereditariedade da terra, estando a quebra da lei relacionada a uma punição sobrenatural. Se, pelos sentidos de Tabu e Mana, podemos entender a relação entre crença, direito, poder e famílias, pela compreensão do Kula podemos compreender a relação entre economia, direito, poder e famílias. Mauss dedicou-se a compreender o direito por trás do ritual estudado por Malinowski nas Ilhas Trobriand e que se chama Kula. Trata-se de uma troca ritual de braceletes e colares de conchas que segue uma regularidade no calendário anual e que segue uma ordem preestabelecida. Sujeitos de uma ilha oferecem um tipo de adorno e recebem, em outro momento, outro tipo de adorno. Para Mauss, todo o sistema econômico 12 LEITURAOBRIGATÓRIA está representado nessa troca. O presente, a dádiva, não é dado aleatoriamente. A troca de presentes representa um sistema organizado de relações sociais que representa a vida econômica, as crenças, as relações entre parentes, a forma como o poder é herdado e como essas pessoas o administram. O jurídico é, para o autor, aspecto essencial para que entendamos esse ritual. Para Mauss, há alguns fatos sociais que podemos chamar de fatos sociais totais. Sobrinho de Durkheim e um de seus discípulos teóricos, Mauss refere-se ao conceito durkheimiano de fato social: 1) Fatos sociais são fatos que têm causa estritamente social e não individual, portanto, são exteriores ao indivíduo; 2) Exercem pressão sobre a vida individual, são coercitivos; 3) Não possuem sentido individual, somente coletivo, por isso têm um sentido generalizante. Fatos sociais totais são aqueles que agregam mais de um aspecto da vida social, que dialogam com mais de uma instituição social. A vida econômica, a política, a religião e a família são instituições sociais. Possuem uma lógica específica para cada grupo social, funcionam de acordo com regras que as definem como tais. E há fatos que agregam mais de uma instituição social, que as colocam em função uma das outras. É o exemplo do Kula. Mas, por que retomar esses estudos é interessante para nossos estudos sobre família e direito neste caderno? Primeiramente, porque a postura de sociólogos e antropólogos do começo do século XX em relação às sociedades sem Estado e sem classes sociais é uma postura essencial quando vamos pensar em famílias e direito. Malinowski recusou-se a classificar as sociedades do Pacífico como estando em estágios de desenvolvimento anteriores ou posteriores ao capitalismo ou como sociedades anárquicas. Havia, para o autor, uma forma de organização social ali estabelecida. E Mauss nos disse que era justamente o sistema normativo o responsável por ordenar, em tais grupos sociais, toda uma estrutura de relações sociais e de instituições sociais. O jurídico era o modo que colocava diferentes instituições sociais em relação no Kula. A produção de canoas evocava economia, direito e parentesco, para Malinowski. 13 LEITURAOBRIGATÓRIA Estas análises nos ensinam duas posturas importantíssimas quando falamos em família e em códigos jurídicos: 1) Nossa definição legal de família acompanha um contexto social, político e histórico específico; 2) Não necessariamente a definição legal de família de outras sociedades será igual à nossa, porque códigos legais também são fatos sociais, ou seja, acompanham a sociedade em que são produzidos. Por consequência, por ora podemos concluir que: 1) existem várias definições possíveis de família; 2) o direito é histórico e, sobretudo, social. Sabendo disso, partamos para uma reflexão sociológica e antropológica sobre a família em nosso código civil. Instituições e famílias Acompanhando os estudos antropológicos e sociológicos sobre sociedades sem Estado, podemos notar que existem normas para as transações econômicas, para a vida cotidiana, até mesmo para a vida religiosa. Essas normas, baseadas na oralidade, acabam versando sobre diferentes aspectos da vida cotidiana porque, nessas sociedades, as instituições de certo modo se misturam tanto no cotidiano, quanto em momentos rituais. Mas, e em nossa sociedade? Lembre-se, quando pensamos na sociedade organizada na forma de Estados nacionais e na forma de classes sociais, a divisão de poderes e de funções é o que marca as relações de trabalho e as relações entre os sujeitos. Quando Marx falava sobre classe, salientava-nos que a produção industrial fez uma reviravolta na forma como se estrutura o trabalho. Quando falava sobre divisão social do trabalho, Durkheim também afirmava que o modelo da produção industrial implica em uma maior dependência entre os sujeitos na sociedade de classes. Weber, por sua vez, salientava a importância da burocracia administrativa na forma de poder da sociedade capitalista. O mesmo podemos observar no direito. Temos leis voltadas para impostos, leis voltadas somente para transações internacionais, leis voltadas para aqueles que cometem crimes, leis trabalhistas, entre outras.14 LEITURAOBRIGATÓRIA No direito brasileiro, é no código civil que encontraremos as leis sobre família. É nesta parte do código brasileiro que encontraremos todas as leis que falam sobre o cotidiano e a vida privada. Nele, no que tange à família, encontraremos leis que versam sobre casamento, herança, maioridade penal, filiação. Para nós, é importante atentar para a forma como a sociedade brasileira pensa direitos e deveres que advêm do casamento, porque são as leis que versam sobre casamento que nos dão o caminho para pensarmos a definição de família e como ela muda ao longo do tempo na constituição e na execução da lei. Até o momento, podemos dizer que as ciências sociais nos ajudam a pensar situações particulares como parte de um contexto social, histórico, político e econômico. Situações particulares, vontade individual, definições religiosas sobre família, de modo algum, para a sociologia, podem ser a medida ou o modelo para uma definição generalista sobre parentesco ou sobre a relação entre sociedade e família. Aprendemos, em nossa aula anterior, que inclusive é papel da família nos ensinar a sermos seres sociais, portanto, ela é somente uma das instituições que compõem a sociedade no sentido sociológico que o termo assume. O direito muda, bem como muda a própria família. Instituições de assistência social ou de educação, como a escola, trabalharão com as raízes sociais das questões familiares. Conhecê-las é essencial para os propósitos de quem aprende e ensina sociologia. 15 “Nanook, o Esquimó” (Nanook of the North, 1922), dirigido e escrito por Robert Flaherty Considerado um dos precursores do documentário, Robert Flaherty mostra neste filme o cotidiano de um povo que habitava Port Huron, localidade próxima à Bahia de Hudson, no Canadá. Como toda mídia, o vídeo é datado e contém uma leitura específica de sua época sobre o que seriam os costumes e as práticas a se observar quando o objetivo é relatar o cotidiano de um povo considerado primitivo. Como sobrevivem em um clima inóspito com ferramentas rudimentares; qual a base da alimentação; como são as casas; como se dá a ocupação da terra; quais as crenças compartilhadas pelo grupo; como é a estrutura familiar e as regras de parentesco são exemplos dos temas aos quais os autores do final do XIX e começo do XX dedicavam-se. Todos esses pontos se unem quando falamos em fatos sociais totais ou em instituições que organizam a rede de relações sociais dentro de um grupo. Parte desses temas pode ser observada no documentário pioneiro de Flaherty. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uoUafjAH0cg>. Acesso em: 30 ago. 2017. Alimentação: os jejuns, os sacrifícios e tudo mais ligado ao ato de comer, produzido pela TV Brasil Tabu é uma palavra polinésia que se refere a algo perigoso e ao mesmo tempo proibido. Muitos autores estudaram os tabus relacionados ao casamento e às famílias, mas, talvez, uma das formas mais claras de observarmos e compreendermos a noção de Tabu é quando analisamos as proibições alimentares presentes em diversas religiões. Há uma íntima relação entre o sagrado e as proibições. Para os antropólogos estruturalistas franceses, a mesma lógica presente na proibição do incesto está presente nas proibições relativas ao sagrado, como as que estão presentes nas restrições alimentares. Quem eu devo alimentar? Com quais comidas? O parentesco, a alimentação e as regras sociais são partes fundamentais da vida cotidiana em diversas sociedades. No episódio abaixo, produzido pela TV Brasil, podemos entrar em contato com uma variedade dessas restrições alimentares presentes, por exemplo, no Judaísmo e nas religiões Afro-brasileiras. (Disponível em: <http://tvbrasil.ebc.com.br/entreoceueaterra/episodio/alimentacao>. Acesso em: 25 set. 2017). LINKSIMPORTANTES mariana.agulhari Comentário do texto excluir mariana.agulhari Comentário do texto excluir mariana.agulhari Comentário do texto tirar negrito e manter fonte na cor preta 16 Os três pilares do código civil de 1916: a família, a propriedade e o contrato, por Felipe Camilo Dall´Alba O artigo traz um panorama interessante para visualizarmos como o direito à terra, a hereditariedade e a noção de família estão intimamente imbricados no código civil brasileiro de 1916. É interessante citar essa relação sobretudo quando estudamos autores do final do XIX e do começo do XX e quando analisamos o papel que o direito à terra tem quando falamos em famílias no começo do XX. Notem que não é por acaso que documentaristas também estejam interessados em falar sobre a forma como os membros de um grupo como os Nanook produzem seu sustento e ocupam a terra ou em falar sobre a quebra da lei no filme de Murnau. Não somente a arte ou o universo acadêmico dialogam com as concepções de seu tempo e da sociedade em que estão inseridos, mas também os códigos legais, o universo jurídico, dialogam com o contexto social e histórico em que são produzidos. (Disponível em: <http://www.tex.pro.br/home/artigos/109-artigos-set-2004/5147-os-tres-pilares- do-codigo-civil-de-1916-a-familia-a-propriedade-e-o-contrato>. Acesso em: 30 ago. 2017). Direito de família: o que mudou de 1916 a 2002 Com este quadro comparativo, podemos observar como as mudanças na sociedade implicam em mudanças no código civil brasileiro. De espaço para reprodução a espaço para formação de um ser humano, a família percorre um longo caminho no espaço jurídico brasileiro. Note que a sociedade muda, o código muda e, consequentemente, a forma de abordagem prática de instituições de assistência ou de instituições responsáveis pela educação também muda. Se, no começo do século XX, a propriedade é o vértice para onde convergem as leis sobre família, no começo do XXI, o foco passa a ser a proteção da pessoa humana e da própria instituição familiar. Conheça, neste link, um pouco mais sobre a família no código civil de 2002. (Disponível em: <https://tcharlye.jusbrasil.com.br/artigos/305953203/direito-de-familia-o- que-mudou-de-1916-ate-2002>. Acesso em: 30 ago. 2017). LINKSIMPORTANTES mariana.agulhari Comentário do texto excluir mariana.agulhari Comentário do texto excluir mariana.agulhari Comentário do texto excluir mariana.agulhari Comentário do texto excluir 17 Instruções: Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. AGORAÉASUAVEZ Questão 1: Qual a importância do direito para os estu- dos sobre a sociedade? Questão 2: “Embora quem case queira casa, os vínculos com a rede familiar mais ampla não se desfazem com o casamento pelas obrigações que continuam existindo em relação aos familiares e que não se rompem necessariamente, mas são refeitas em outros termos, sobretudo diante da instabilidade dos casamentos entre os pobres, dificultando a realização do padrão conjugal.” (SARTI, 2013, p. 48) Para Malinowski, ao narrar um evento em que a quebra do tabu do incesto causa co- moção popular nas Ilhas de Coral, famílias e casamento são instituições sociais. Em que ponto a fala de Sarti sobre casamento e família em comunidades pobres concorda com Malinowski? Justifique sua resposta. Questão 3: “Quando se trabalha com famílias, tanto cientistas sociais, quanto psicólogos, médicos, educadores e outros profissionais enfrentam um primeiro problema: o de identificar a noção de família com suas referências pessoais. A família tende a ser identificada com a ‘nossa’ família, tão forte é a identificação da ideia de família com o que nós somos. Por isso, quando se lida com questões de família, é difícil estranhar-se em relação a si mesmo. Há uma tendência a projetar a família com a qual nos identificamos – como idealização ou como realidade vivida – no que é ou deve ser a família, o que impede de olhar e ver o que se passa a partir de outros pontos de vista.” (SARTI, 2004, p. 16)Por que, para a autora, identificar a noção de família com nossos referenciais pesso- ais é um problema? 18 AGORAÉASUAVEZ Questão 4: Assinale a alternativa que explica porque o Kula é um fato social total: a) O Kula é um ritual que tem como objetivo regular a vida econômica e política nativa. b) O Kula representa diferentes aspectos da vida social nativa, como relações de parentesco, relações econômicas e religião. c) O Kula representa a vida primitiva em sua forma mais simples. d) O Kula é um ritual eminentemente religioso e representa a relação entre Tabu e Mana. e) O Kula é um ritual eminentemente político e representa a relação entre os chefes e seus parentes. Questão 5: Relacione autor e obra 1 – Marcel Mauss 2 – Bronislaw Malinowski 3 – Friedrich Engels 4 – Émile Durkheim A – Da divisão do trabalho social B – A origem da família, da propriedade pri- vada e do Estado C – Ensaio sobre a Dádiva D – Crime e costume na sociedade selvagem 19 FINALIZANDO Neste caderno, acompanhamos o raciocínio de autores que se ocuparam com o estudo da relação entre sociedade e sistemas jurídicos. Mostramos como as preocupações dos fundadores da antropologia e da sociologia dialogam com seu próprio contexto social e histórico. Analisamos a importância da família nos textos que falam sobre lei e política na sociedade ocidental. Recuperamos a importância das origens gregas, romanas e germânicas para o direito. É com esse olhar específico para a história de sua própria sociedade que os autores iluministas pensarão o direito e que os antropólogos evolucionistas, bem como juristas, do XIX, olharão para outras sociedades. Mas é com um olhar diferenciado que os antropólogos e sociólogos do começo do XX olharão para sociedades sem Estado e sem língua escrita. Ao invés de classificarem sociedades em comparação com a sociedade de classes, pensando no que lhes falta, Malinowski e Mauss nos mostraram que as relações sociais em povos primitivos são tão ou mais organizadas que as relações sociais na sociedade de classes. Para nós, o essencial nesta aula é compreender que: 1) Há uma íntima relação entre normas jurídicas que regem a vida cotidiana e a definição de família, em diferentes sociedades; 2) Diferentes instituições sociais serão permeadas por essas normas, dentre elas, a própria família; 3) O código não é fixo, ele muda no tempo; 4) A própria família muda no tempo e isso reverbera no direito. 5) Se não temos somente uma forma de organização social nem somente uma forma de estrutura jurídica possíveis, também é essencial que falemos em famílias no plural, em diferentes definições de família possíveis, tanto em nossa sociedade quanto em outras. Para as ciências sociais, a diversidade é parte fundante da humanidade, bem como a sociedade é responsável pela nossa constituição enquanto sujeitos. Sigamos para as próximas discussões com isso em mente. 20 GLOSSÁRIO Palavra-chave: Jurídico. De origem latina, o termo jurídico deriva de justiça e de jus, direito. O sentido do termo jurídico nos remete ao código normativo que rege nossas ações individuais, institucionais e coletivas dentro de uma nação. Administrativamente, na contemporaneidade, os códigos do direito são construídos e aplicados nacionalmente. Cada país administra seu direito da maneira como lhe convém e a produção dos códigos, bem como sua aplicação e a fiscalização da lei, estão diretamente ligadas à estrutura política estabelecida. Nas ciências sociais, o direito tem papel fundamental quando pensamos no conceito de Sociedade. Grande parte dos fundadores das ciências políticas são filósofos políticos e, para eles, há uma íntima relação entre a política e o jurídico. Quando escreve sobre a divisão dos poderes, por exemplo, Montesquieu está também escrevendo sobre a forma como códigos normativos devem ser executados, escritos e fiscalizados. O peso do direito na obra dos fundadores da sociologia também é grande. Marx começou seus estudos na Universidade de Bonn em direito e posteriormente dedicou-se à filosofia. Durkheim também foi bastante influenciado pelas temáticas do direito e uma das principais preocupações de seu sobrinho, Marcel Mauss, era a pesquisa da influência dos sistemas jurídicos primitivos para a constituição das relações sociais. Palavra-chave: Lei. Em alguns momentos podemos ler a palavra lei nas obras acadêmicas de ciências sociais a partir do sentido que ela possui atualmente, ou seja, leis são as normas que regem a vida em um país ou em uma nação. Em outros momentos, podemos encontrar a palavra Lei assumindo um sentido mais amplo e ontológico (que se refere à natureza do ser, o que é fundamental e essencial ao homem). Para o estruturalismo de Lévi-Strauss, por exemplo, é possível encontrar o segundo sentido da palavra, que geralmente é grafada com letra mariana.agulhari Comentário do texto Diagramador, peço a gentileza que padronize o glossário conforme o template enviado. O correto seria somente Jurídico: mariana.agulhari Comentário do texto Lei: 21 maiúscula. Para o autor, a proibição do incesto é a primeira Lei fundamental da sociedade e, portanto, geralmente é referida como a Lei. A partir da interdição em relação ao incesto, o homem se constitui enquanto um ser social, para Lévi-Strauss. Palavra-chave: Estrutura. O termo pode ser encontrado na obra de diferentes autores das ciências sociais, tanto os que têm influência durkheimiana, como Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955), quanto os que tem influência kantiana, como Claude Lévi-Strauss (1908-2009), mas com sentidos distintos. No caso dos estrutural-funcionalistas ingleses, como Bronislaw Malinowski (1884- 1942) e o próprio Radcliffe-Brown e seus alunos, estrutura social é o nome dado para a rede de relações entre pessoas e instituições sociais, como economia, religião e política, que podemos abstrair, desenhar, quando estudamos um grupo social. Já aqueles que dialogam com o estruturalismo francês de Claude Lévi-Strauss, quando se referem ao termo estrutura, não estão falando dessa rede de relações e de instituições observável, mas sim das estruturas mentais a partir das quais pensamos e organizamos nosso conhecimento sobre o mundo. Para Lévi-Strauss, o fato de podermos abstrair essa ordenação possível das instituições e relações sociais nos remete à capacidade humana de criar estruturas de pensamento. Estrutura, nesse sentido, se refere à teoria do conhecimento presente na obra do autor, enquanto no sentido de estrutura social, remete-nos àquilo que podemos abstrair a partir da observação da realidade. Em termos metodológicos, para desenharmos a estrutura social de um grupo, precisamos observar atividades, comportamentos, práticas de um grupo social. No caso do estruturalismo, abstrai-se os elementos que se repetem no pensamento, na crença, nos rituais de um grupo social para que se compreenda sua cultura. Palavra-chave: Fato social total. Fatos sociais são as unidades que, para Durkheim, nos permitem compreender as raízes sociais para fenômenos observáveis. Para que um fato seja social, ele possui algumas características essenciais: generalidade, coercitividade, exterioridade. Ou seja, são coletivos e não individuais; correspondem a padrões culturais que são externos ao indivíduo e que não dependem de sua consciência ou vontade; são padrões culturais que exercem força coletiva sobre a vontade individual. Marcell Mauss utiliza o mesmo princípio teórico para GLOSSÁRIO mariana.agulhari Comentário do texto Estrutura: mariana.agulhari Comentário do texto Fato social total: 22 falar em fato social total. Há alguns tipos de fatos sociais que, além de corresponderem a essas características, perpassam as diferentes instituições sociais ou coadunam diferentes aspectos da vida social em si próprios, como a economia, política, religião e relações de parentesco. Um exemplo presente na obra de Mauss, de fato social total, é o Kula, ritual de troca de conchas nas
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