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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE BACHARELADO EM FILOSOFIA RODRIGO ANTONIO GINO VENCESLAU A NATUREZA DOS UNIVERSAIS NA LÓGICA PARA PRINCIPIANTES DE PEDRO ABELARDO CUIABÁ 2019 RODRIGO ANTONIO GINO VENCESLAU A NATUREZA DOS UNIVERSAIS NA LÓGICA PARA PRINCIPIANTES DE PEDRO ABELARDO Trabalho de conclusão de curso de graduação, apresentado à disciplina de Prática de Pesquisa em Filosofia III, do Curso de Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel. Orientadora: Profª. Dra. Maria Cristina Theobaldo CUIABÁ 2019 RODRIGO ANTONIO GINO VENCESLAU A NATUREZA DOS UNIVERSAIS NA LÓGICA PARA PRINCIPIANTES DE PEDRO ABELARDO Trabalho de conclusão de curso de graduação, apresentado à disciplina de Prática de Pesquisa em Filosofia III, do Curso de Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel. ___________________________________________________ Rodrigo Antonio Gino Venceslau Data de aprovação: Cuiabá/MT, ________/________/________. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Maria Cristina Theobaldo, Dra. (Orientadora – Universidade Federal de Mato Grosso) ___________________________________________________ Angelo Aparecido Zanoni Ramos. Avaliador, Dr. (Membro da Banca – Universidade Federal de mato Grosso) Média: ________ A Deus, simplicidade pura, a minha família, a minha esposa, pela paciência, compreensão e apoio e todos que direta ou indiretamente contribuíram para esse momento importante. AGRADECIMENTOS Gratidão é o melhor sentimento para expressar a aqueles que viram nas minhas pesquisas, ou seja, na potência a possibilidade do ato. Principalmente a minha orientadora, a Professora Maria Cristina Theobaldo, que foi muito importante nas correções primordiais e sem as quais este trabalho não seria possível. RESUMO Este trabalho baseia-se no tema da natureza dos universais na Lógica para principiantes de Pedro Abelardo. A pesquisa trata de uma discussão já presente no século V a.C. e que com Abelardo ganha notoriedade e corpo estrutural, trata-se da famosa “Querela dos Universais”. Que tipo de ser devemos atribuir aos gêneros e espécies (universais)? São subsistentes ou estão colocados apenas no pensamento isolado? Caso subsistam, são corporais ou incorporais? Sendo incorporais, estão separados do sensível ou estão nele implicado? Essas questões foram transmitidas por Boécio (480-524) na tradução e comentário ao Isagoge de Porfirio. Dividiremos a pesquisa em três partes. A primeira será uma atitude propedêutica onde trataremos a respeito da lógica e sua característica, relacionando-a ao gênero a qual pertence – a Filosofia. Analisaremos as espécies da Filosofia e de que maneira a lógica a ela está ligada e de que se ocupa. Em seguida, faremos um comentário conciso da tradução da Isagoge e suas implicações. A versão de Boécio passou a ser o mais conhecido manual de introdução ao estudo da lógica aristotélica, exercendo uma profunda influência sobre o pensamento medieval europeu e alcançando o seu apogeu por volta do século XII, período em que avulta Abelardo, o nosso peripatético palatino. E finalmente, tendo como principal objetivo compreender a natureza dos universais na Lógica para principiantes de Pedro Abelardo. Palavras-chave: Abelardo. Universais. Lógica. Gênero. Espécie. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 8 1. NOÇÕES GERAIS DA LÓGICA E DA FILOSOFIA .......................................................................... 11 1.1. FILOSOFIA RACIONAL ..................................................................................................................... 12 2. EDIFÍCIO MEDIEVAL ............................................................................................................... 15 2.1. A DIALÉTICA .................................................................................................................................... 17 3. UNIVERSAIS SEGUNDO OS MESTRES DE ABELARDO ................................................................ 19 3.1. O UNIVERSAL COMO SERMONES .................................................................................................. 21 3.2. A DIFERENÇA ENTRE A GRAMÁTICA E A DIALÉTICA ....................................................................... 22 4. A NATUREZA DAS PALAVRAS UNIVERSAIS EM ABELARDO ....................................................... 24 4.1. CAUSA COMUM .............................................................................................................................. 26 4.2. INTELECÇÕES VERSUS SENSAÇÕES ................................................................................................. 27 4.3. INTELECÇÃO DOS UNIVERSAIS VERSUS INTELECÇÃO DOS PARTICULARES .................................... 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 30 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 31 8 INTRODUÇÃO Pedro Abelardo1 o nosso mestre palatino, dá início as suas glosas com intencionalidade propedêutica, ele comenta o que é a lógica vetus2 e suas características. Para Abelardo, a lógica pertence ao gênero filosofia, ele recorre a Boécio3 para ministrar essa relação e classifica a filosofia não como qualquer ciência, mas dá a ela um peso qualitativo, propondo-a como a ciência que se ocupa das coisas mais elevadas. Não obstante haver, já no século XII, consideráveis pontos a favor ou contra a autonomia da lógica em relação a filosofia, Abelardo segue os passos de Boécio e demonstra que esses argumentos não mudam o peso e a importância que cada uma tem em si, o que consiste em dizer que, de maneira nenhuma, a lógica “é menos lógica por ser instrumento da lógica, ou seja, a lógica como instrumento de si própria. Assim, também não é menos filosofia por ser instrumento da filosofia”4. A filosofia, por sua vez, tem sua distinção elaborada por Boécio e aceita por Abelardo, está proposta na seguinte ordem: especulativa; moral e racional, sendo esta última denominada lógica pelos gregos, que tem a finalidade de trazer alguma ordem aos argumentos para que o filósofo não seja levado pelos erros dos falsos raciocínios. Esse primeiro e importante argumento abelardiano não tem outra intenção senão alcançar clareza, sutileza e compreensão da natureza dos argumentos e chegar à verdade que é, entre outras coisas, uma das finalidades tanto da lógica quanto da filosofia. 1 Abelardo nasceu na Bretanha, perto de Nantes, na aldeia de Le Pallet (1079-1142). “Essa celebre figura apaixonado amara mais a dialética do que sua doce Heloísa. Dele escreveu Pedro, o venerável: Sócrates da França, sumo Platão do Ocidente, moderno Aristóteles, êmulo ou maior dos dialéticos de todos os tempos; príncipe dos estudos, famoso no mundo; gênio multiforme, penetrante e agudo; tudo superava com o poder da razão e a arte da palavra – esse era Abelardo.” (REALE, 2003, p.162.). 2 Na história da lógica, houve uma lógica vetus (velha lógica) e alógica nova. A divisão foi como segue: Lógica vetus (às vezes Ars veto), As Categorias, O De Interpretatione, A Isagoge de Porfírio, O Liber sex principiorum, um anônimo comentário sobre a última parte das Categorias que tem sido muitas vezes atribuída a Gilberto de La Porrée. Às vezes estão incluídas obras de Boécio O De topicis differentiis, O De divisione, O De syllogismis categoricis, O De syllogismis hypotheticis. Estas obras já eram canônicas no tempo de Abelardo. Ele escreveu o seu chamado Logica Ingredientibus sobre o esquema de um conjunto de sete comentários. A lógica nova refere-se a uma subdivisão da lógica tradicional da Europa Ocidental. São textos Aristotélicos recuperados no Ocidente somente na segunda metade do século XII, os Tópicos, Sofística, Refutações, e o Primeiro e o Segundo Analíticos de Aristóteles (ABBAGNANO, 2007, p. 624). 3 Anísio Mânlio Severino Boécio nasceu em Roma por volta de 480. É considerado o último dos romanos e o primeiro dos escolásticos, e, portanto, uma figura chave no surgimento da ldade Média. Seu esforço era o de tornar conhecida aos latinos a cultura grega, por meio de um projeto vastíssimo (mas apenas em parte realizado) de traduções e comentários, entre os quais os comentários às obras de lógica de Aristóteles (REALE, 2003, p. 129). 4 ABELARDO, Logica Ingredientibus, 2005, p. 40. 9 O filósofo, para Boécio, e consequentemente, para Abelardo, não é um estudioso diletante, mas sim aquele cuja agudeza da inteligência é de uma sabedoria incomparável, é aquele que toca as sutilezas. Hoje, de certa forma, é possível dizer que Abelardo apontava para Boécio como o principal ponto de contato entre a cultura do mundo clássico e a do mundo medieval, adquirindo importância decisiva na configuração do principal tema em voga na escolástica e na intersecção das duas tradições - platonismo e aristotelismo quando introduz aos latinos o Isagoge5 (traduções e comentários às obras de lógica de Aristóteles). É provável que o Isagoge de Porfírio seja o então responsável pelo emaranhado de conceitos e de objetos teóricos e de problemas dos quais o pensamento medieval extraiu a “Querela dos Universais”? Há quem pensa diferente, e de certa forma, não está de um todo errado. Segundo Carlo Huber, foi a historiografia medieval que instituiu o problema dos “universais” como um problema filosófico que está fora do domínio do tempo, um problema que vai para além “das rupturas epistemológicas”, das revoluções cientificas e não seria ousado dizer que para além do nosso tempo. Ele conclui dizendo: “É certamente um problema ínsito na própria existência humana (...) Por essa razão, é um problema eterno, que talvez não será resolvido e que se coloca sempre de novo”6, logo poderíamos presumir que este problema não é antigo e nem tão pouco moderno, mas sim atemporal, provavelmente não encontraremos meios de resolvê-lo, ele sempre se porá atualizado na pauta das discussões. Uma vez parecer razoável a insolubilidade do problema, característica que se encontra bem longe das crenças de Abelardo, ele no seu tempo não se deu por vencido. Herdou de Porfírio7 indiretamente o problema e agora precisava resolvê-lo - Que tipo de ser devemos atribuir aos gêneros e espécies (universais)? São subsistentes ou estão colocados apenas no 5 Isagoge (Introdução) de Porfírio às Categorias de Aristóteles e pelos comentários de Boécio a ela relativos. Essa disputa foi motivada por um trecho às Categorias de Aristóteles. O trecho de Porfírio é o seguinte: "Dos gêneros e das espécies não direi aqui se subsistem ou se são apenas postos no intelecto, nem — caso subsistam — se são corpóreos ou incorpóreos, se separados das coisas sensíveis ou situados nas coisas, expressando seus caracteres comuns". 1) Das alternativas indicadas por Porfírio nesse trecho, apenas uma não se encontra na história da disputa: aquela segundo a qual seriam realidades corpóreas. Em compensação, uma alternativa que Porfírio não previra verificou-se historicamente, pelo menos segundo dizem: o II. não existe nem no intelecto e é apenas um nome, um flatus vocis. Essa é a solução atribuída a Roscelin por S. Anselmo - De fide Trinitatis. 2) e por João de Salisbury (Metal. II 13; Policrat., VII, 12). As soluções dadas a esses problemas na Escolástica e depois dela foram muito numerosas, e muitas vezes diferem por ninharias. (ABBAGNANO, 2007, p. 981). 6 HUBER, 1998, p. 341. 7 Porfírio de Tiro — Roma (304/309 AD) foi o primeiro a enumerar os cinco universais simples ou primitivos, que são gênero, espécie, diferença, próprio e acidente. (ABBAGNANO, 2007, p. 787). 10 pensamento isolado? Caso subsistam, são corporais ou incorporais? Sendo incorporais, estão separados do sensível ou estão nele implicado? Abelardo só se sentirá apto a responder as questões ora em apreço (respostas que não será nosso objetivo nessa pesquisa) depois de ter perpassado as noções gerais sobre lógica e filosofia; conhecer as espécies de filosofias e suas implicações e anuir a ordem da lógica, onde faremos uma breve comparação com a lógica tradicional e contemporânea, o que nos permitirá ter maior clareza da lógica abelardiana e a sua relação com a dialética. Após considerar as questões acima acreditamos ser possível compreender “a natureza dos universais” na lógica de Abelardo, objetivo maior de nosso estudo. Antes de nos atermos a essas “querelas”, vale a pena frisar alguns pontos bem característicos do período em questão: a) Apesar das exceções é possível afirmar com certo grau de segurança que o assunto discutido nesse período é único: a questão dos universais, ou seja, a luz da razão e da fé, a natureza ontológica dos universais. Copleston8 afirma que os medievais, ao se ocuparem com o problema dos universais, não estão lidando com algo inútil ou se entregando a jogos dialéticos, antes, basta uma pequena reflexão para mostrar a importância do problema e suas consequências; b) É possível ver a universalização na Religião: o politeísmo pagão perde a hegemonia, abrindo espaço para o monoteísmo cristão, os escolásticos podiam divergir em muitas coisas, mas na concepção da unidade do Deus trino eles se mantinham fundamentados. Na ética: Deus seria a fonte definitiva das leis eternas e universais a todos os homens, ao homem cabe obedecer a suas leis; c) Por fim, o próprio conceito de “universidade” nos séculos XII e XIII é resultado dessas influências. A abertura das universidades a mestres e estudantes provenientes de qualquer camada social, entre os quais encontramos Abelardo, não importando mais a composição aristocrática do conhecimento. Tudo isso nos leva a refletir que os conceitos mais elementares e gerais dos “universais” não estão apenas nas teorias dos escolásticos. Estão também na sua religião, na sua ética, na sua própria existência. 8 COPLESTON, 1983, p.145. 11 1. NOÇÕES GERAIS DA LÓGICA E DA FILOSOFIA Considerar as noções gerais sobre a lógica e a filosofia é de fundamental importância segundo Abelardo. Aos que se introduzem nessas ciências é necessário compreender com admirável respeito que elas e os que as estudam se ocupam de coisas para além daquilo que podemos chamar de communi sensu9 Para aqueles dentre nós que se introduzem na Lógica, falemos previamente um pouco a respeito de sua característica própria, começando pelo gênero a que pertence, isto é, a Filosofia. Ora, Boécio não chama de Filosofia qualquer ciência, mas apenas a que se detém nas coisas mais elevadas; de fato não chamamos de filósofos a quaisquer pessoas dotadas de conhecimento, mas apenas àquelas cuja inteligência penetra as sutilezas. Boécio distingui três espécies de Filosofia, a saber: a especulativa, que se ocupa da natureza das coisas a ser investigada; a moral, que se ocupa da dignidadeda vida a ser considerada; a racional, denominada Lógica pelos gregos, que se ocupa da ordem dos argumentos a serem compostos.10 Obviamente, essas noções acerca da lógica e da filosofia estão um tanto quanto defasadas em nossos dias, principalmente as da lógica, uma vez que contemporaneamente, ela se distanciou consideravelmente da logica vetus. Segundo Mortari11, Kant, por exemplo, fez uma previsão errada quando afirmou na sua obra Crítica da razão pura, que a lógica tinha sido inventada por Aristóteles e nada mais havia de se considerar. Os séculos seguintes mostrariam que essa afirmação estava equivocada. É sabido que os estoicos12 desenvolveram uma lógica certamente tão interessante quanto a de Aristóteles, denominada lógica proposicional, usada hoje com bastante frequência. Em 1854 George Boole deu início a simbolização, ou matematização da lógica, constituindo-a numa linguagem simbólica e artificial, o que Aristóteles havia começado em grego. Gottlob Frege, em 1948-1925, leva a lógica contemporânea a um importante avanço com a publicação da Conceitografia. Diferente de Aristóteles, dos estoicos e Boole, que se detinham em identificar formas válidas de argumento, Frege propõe a uma sistematização do raciocínio matemático, isto é, “encontrar uma caracterização precisa do que é uma demonstração 9 Senso comum ou conhecimento vulgar é a compreensão do mundo resultante da herança fecunda baseada nas experiências acumuladas por um grupo social. O senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como "normais", sem depender de uma investigação detalhada para se alcançar verdades mais profundas, como as científicas. (ABBAGNANO, 2007, p. 161). 10 ABELARDO, 2005, p.39. 11 MORTARI, 2001, p. 28, apud Kant, no prefácio de sua Crítica da Razão Pura (1724-1804). 12 Ibid., p. 28, apud Crísipo (cerca de 280-205 a.C.). 12 matemática”13, o que resultou no que nós conhecemos hoje como cálculos de predicados. Em suma, a lógica de Aristóteles vence a lógica dos estoicos no século XII e detém a hegemonia até a metade do século XIX quando surgem Boole, Frege e a lógica dos estoicos novamente. Sobre essa última parte, faremos um breve comentário no próximo capítulo. Feita tais considerações, o importante para nós é compreender o valor qualitativo que tanto a lógica quanto a filosofia têm; a intenção de alguns autores, segundo Abelardo (cujos nomes não são citados na obra), de dicotomizar as duas, ou seja, separar a lógica da filosofia e vice-versa, provou-se infrutífera e ele usa de uma metáfora boeciana para provar essa insuficiência: “nada impede que a lógica seja tanto instrumento como parte de algo, assim como a mão o é em relação ao corpo humano”14. Basta essa explicação para chegarmos à conclusão que uma depende da outra, assim como, o corpo depende da mão para se servir e a mão depende do corpo para se sustentar. Entretanto, apesar da lógica pertencer ao gênero filosofia ela acaba se distinguindo das duas outras espécies de filosofias já citadas, a saber, a filosofia especulativa e filosofia moral, Abelardo concorda com Boécio sobre essa distinção, e ela se dá por razões do seu fim próprio, ou seja, é finalidade da lógica compor argumentos, ele acrescenta, “embora o estudioso da natureza componha argumentos, não é o estudo da natureza que o institui para tal, mas apenas a lógica”15. 1.1. FILOSOFIA RACIONAL Para definição e caracterização da lógica, Abelardo apresenta a acepção feita por Boécio, ou seja, filosofia racional; denominada lógica pelos gregos, ela é a principal responsável em compor e impor ordem aos argumentos. Abelardo apresenta as teorias de Boécio a respeito da lógica, que por sua vez foi organizada e reduzida a certas regras de argumentação com o seguinte objetivo: “para que não leve ao erro, pelos falsos raciocínios”16. É possível que indivíduos cambaleiem quando pareça edificado com os seus argumentos o que não se acha na natureza das coisas, e 13 MORTARI, 2001, p. 29. 14 ABELARDO, 2005, p. 40. 15 Ibid., p. 40. 16 ABELARDO, 2005, p. 40. 13 quando, às vezes, se coligem coisas em que há contradições, por exemplo: “Sócrates é corpo; ora, o corpo é branco; logo, Sócrates é branco. E por outro lado - Sócrates é corpo; ora, o corpo é preto; logo, Sócrates é preto”17. É notável para Abelardo a importância da lógica para a compreensão da natureza das coisas. No requisito argumentativo, para ele a lógica pertencente à própria filosofia e doravante tornar-se- á uma poderosa fonte de entendimento e preciosa avaliadora de argumentos, ela tem grande importância, pois os que a estudam procuram a verdade, a lucidez dos entendimentos. Ela desempenha dois papéis importantíssimo: clarifica o pensamento e ajuda a evitar erros de raciocínio. Ela também permite criticar os argumentos, problemas e teorias. Para encontrar a verdade, a lógica se utiliza de argumentos formados por premissas e conclusões. Abelardo acede que ao escrever um tratado de lógica impõe-se necessariamente certa ordem no tratamento dos assuntos, pois, uma vez que as argumentações se compõem de proposições, e já que estas são formadas por termos, quem escreve uma obra completa de lógica precisa primeiramente tratar dos termos simples, depois das proposições e, por fim, coroar o seu estudo com o exame das argumentações. Ele traz à luz que quem fez isso com notável maestria foi Aristóteles: “ao redigir a lógica, é necessária a seguinte ordem [...] como o fez o nosso príncipe Aristóteles, que escreveu as Categorias sobre a doutrina dos termos, o Peri Hermeneias sobre as proposições, e os Tópicos e os Analíticos sobre as argumentações.”18. A lógica, partindo de princípios racionais, serve para compor, validar e impor ordem aos argumentos. Já foi dito com outras palavras que a filosofia pode até compor argumentações, mas todas elas têm que ser provadas racionalmente e ordenadas, para isso se faz uso da lógica. Ao expor essas sucintas explicações nos parece que Abelardo tem a intencionalidade de proporcionar maior clareza e objetividade à tarefa de explicar a lógica boeciana. Ao nominar “lógica boeciana” estamos referindo a lógica aristotélica e porfiriana e não ao contrário, não há grandes dessemelhanças entre uma e as outras, e se caso houver não existem a ponto de abalar o principal pilar que sustenta toda a arquitetura dessa ciência. Boécio, além de tradutor e comentador dos escritos lógicos de Porfirio e do peripatético Alexandre de Afrodísia, foi também autor de vários tratados lógicos. Segundo Reale, “a lógica de Boécio não é muito original, mas 17 Ibid., p. 41. 18 Ibid., p. 41. 14 bastante refinada. Aristóteles permanece a sua matriz de base, mesmo que possam localizar algumas influências da lógica estóica”19. Nesse sentido, Boécio, o último dos gregos e o primeiro dos escolásticos, se tornou uma figura importante não apenas por ter sido tradutor e comentador das obras de lógica de Aristóteles, mas também por fazer conhecida aos latinos a cultura grega e filosofia racional aristotélica – a lógica. 19 REALE, 2003, p. 131. 15 2. O EDIFÍCIO MEDIEVAL Já foi dito anteriormente ser necessária e fundamental a ordem da lógica. É como a construção de um edifício cuja as partes não poderão ser ignoradas correndo sérios riscos de se perder todo investimento. Ao apresentar a lógica, Abelardo se põe aristotélico com um residual de platonismo ao relacioná-la com a Dialética20, para melhor explicar esse pensamento fazemos a seguinte pergunta: que significava ser um lógico nos tempos de Abelardo? Ora, como resposta encontramos na maioriados comentadores que ser um lógico na escolástica era na verdade ser um dialético. Fumagalli21 informa-nos que, na escolástica, a educação lógica era denominada Dialética. Vale a pena salientar que fazia parte da formação intelectual à época medieval, o estudo das artes liberais, ou seja: a. Artes reais (quadrivium), constituídas pela Música, Aritmética, Geometria e Astronomia; b. Artes do discurso (trivium), compostas pela Gramática, Retórica e Dialética (ou Lógica). Não é preciso dizer que, para os peripatéticos do palatium e para o sistema educacional medieval, o estudo da dialética alcançou maior destaque frente as demais áreas de ensino. Logo, é possível concluir com certo grau de certeza que há poucas ou quase nenhuma diferença entre a dialética platônica e dialética/lógica aristotélica, por isso o uso do termo “residual”. Em Platão, os homens comuns se detêm nos primeiros degraus da primeira forma de conhecimento, isto é, na doxa, mas o filósofo, ascendendo de ideia a ideia até a captação da Ideia suprema, se torna um Dialético ou Lógico para os medievais. Aristóteles por sua vez impõe o rigor do silogismo, e ao ligar três proposições das quais as duas primeiras são chamadas de premissas, e a terceira de conclusão, impõe um julgamento aos argumentos para chegar à conclusão 20 Dialética. “Esse termo, que deriva de diálogo, não foi empregado, na história da filosofia, com significado unívoco, que possa ser determinado e esclarecido uma vez por todas; recebeu significados diferentes, com diversas inter-relações, não sendo redutíveis uns aos outros ou a um significado comum. Todavia, é possível distinguir quatro significados fundamentais: 1º como método da divisão; 2º como lógica do provável; 3º como lógica; 4º como síntese dos opostos. Esses quatro conceitos têm origem nas quatro doutrinas que mais influenciaram a história desse termo, mais precisamente a doutrina platônica, a aristotélica, a estóica e a hegeliana.” (ABBAGNANO, 2007, p. 269). 21 FUMAGALLI, PARODI, 1998, p.168. 16 verdadeira ou falsa. Em Abelardo não é diferente, sobre ele escreve Berengário de Tours22 “é próprio de um grande coração recorrer à dialética para cada coisa, pois recorrer a ela é recorrer a razão, de modo que aquele que a ela não recorre, sendo feito à imagem de Deus segundo a razão, despreza a própria dignidade e não pode renovar-se dia a dia à imagem de Deus”. O edifício medieval de Abelardo é alicerçado sobre as rochas do Perípato, ou seja, ele herda toda herança tradicional da dialética/lógica aristotélica, nesse sentido a argamassa usada entre outras são as traduções e comentários de Boécio e assim o Palatium tão logo estará pronto para recepcionar um assunto tão concorrido: a “Querela dos Universais”. Na lógica clássica, a definição encontra-se formalizada em “fórmulas atômicas, fórmulas moleculares, e fórmulas gerais (ou complexas)”23. O que de certo modo é, na verdade, uma contextualização da definição aristotélica dos termos simples, proposições e argumentações. Abelardo procede com a ordenação da lógica aos moldes boeciano para instruir o leitor para a compreensão do que nela está sendo tratada. Ao assim fazer, ele traz as claras os predicáveis aristotélicos: gênero, espécie, diferença e o próprio. Nesse sentido, com grande perceptibilidade Abelardo atribui os universais ao domínio da palavra, do modo como ficou clássico: “aquele que, por sua descoberta, é apto para ser predicado de muitos tomado um a um”24. Dito de outra forma, a espécie homem é predicável porque do homem se predica o animal; o gênero animal é predicável porque se predica ente vivo; o homem é capaz de aprender aritmética porque é próprio do homem pensar; o homem é um animal, mas não é um cachorro, essa é a diferença que ele tem em relação ao outro do mesmo gênero; e o acidente indica sobre tudo a contingência. 22 Berengário de Tours, 1088, apud REALE, 2003, v. II, p. 167. 23 MORTARI, 2001. p. 73 – 96. 24 ABELARDO, 2005, p. 67. 17 2.1. A DIALÉTICA Ao atribuir o “universal” ao domínio da palavra, Abelardo o relaciona às artes do trivium (gramática, dialética e retórica), com especial ênfase para a dialética. Ele concorda com Cícero e Boécio que esta arte é basicamente duas coisas, a saber: “a ciência de descobrir os argumentos e a de julgá-los, isto é, de confirmar e comprovar os argumentos descobertos”25. É perfeitamente possível dizer que em Abelardo, ao falarmos de dialética, estamos concomitantemente tratando de lógica e, “por sua vez, defende a dialética com as mesmas palavras de Agostinho, e Hugo de São Vítor considera-as segundo o modelo estóico, parte da lógica racional ao lado da retórica.”26. Ele reflete criticamente a possibilidade de alguns considerarem esta ciência totalmente separadas da lógica e conclui afirmando que tanto a razão quanto a autoridade discordam dessa teoria. Nessa perspectiva a dialética é um instrumento para discussões e debates com finalidade de discernir a veracidade ou falsidade dos argumentos, é uma poderosa arma para vencer as guerras, não as físicas, mas aquelas que se travam nas ágoras do discurso. (...) renunciei completamente a corte de Marte para ser educado no regaço de Minerva. E, visto que preferi as armas dos argumentos dialéticos a todos os ensinamentos da filosofia, troquei as outras armas por essas e antepus os choques das discussões aos troféus das guerras27 A dialética foi uma ferramenta muito útil no sistema de ensino medieval, pois assegurava ao indivíduo, de modo racional, a possibilidade de discernir o discurso verdadeiro do falso. Foi utilizada para a análise racional na própria esfera da teologia e quando esse racionalismo alcançou púlpitos das igrejas houve muitas polêmicas em torno do assunto. Dialéticos e antidialéticos travaram uma disputa que ficou conhecida posteriormente na famosa luta entre a fé e razão. Ao que parece, Anselmo de Aosta28 25 Ibd., p.42. 26 ABBAGNANO, 2007, p. 272. 27 ABELARDO, 1983, p. 250. 28 Normandia, norte da França, ano 1076. Os monges da abadia de Bec não estavam inteiramente satisfeitos com as Escrituras Sagradas. Eram homens de piedosa fé cristã e acreditavam nas palavras divinas de sua religião. Contudo, sentiam necessidade de um alimento intelectual superior, que lhes desse as mesmas certezas da revelação bíblica, mas de um ponto de vista exclusivamente racional. Em longas conversas com o prior da abadia, ficaram convencidos de que ele poderia auxiliá-los. [...] O prior que desenvolvera essas argumentações estava apenas iniciando uma obra que iria colocá-lo como um dos criadores da chamada filosofia escolástica. Chamava-se Anselmo e tinha nascido na cidade de Aosta, na região do Piemonte, Itália, no ano de 1033. (MATTOS, 1988, p. 7). 18 interveio como um mediador diplomático nessa disputa, ele assumiu a posição de equilíbrio entre os dois grupos. Para os dialéticos ele afirmava a primazia da fé; e para os antidialéticos ele sustentava que a razão era importante para a compreensão da fé. Não dar prioridade à fé como fazem os dialéticos, diria ele, é soberba; não apelar posteriormente para a razão como os antidialéticos, é negligência. Não é possível afirmar que ele tenha tido êxito em suas tentativas de conciliar esses dois grupos e ainda hoje a percepção que temos é que essa divisão perdura, mas uma coisa não podemos deixar de considerar: a dialética foi, e mesmo hoje, ao cair em desuso, ainda tem sido de extrema importância na busca pelo conhecimento, pelo seu rigor prático na investigação, e com isso Abelardo está de acordo. A íntima ligação entre os estudos gramaticais e a dialética foi evidenciada sobretudo por Abelardo. Identificada com a lógicae, portanto, com a ratio in exercitio, a dialética impõe o rigor na investigação, que se concretiza na análise dos termos do discurso, através de um exame crítico do processo de “imposição” das voces ou termos às res designadas e pela identificação do papel que tais voces desempenham na estrutura e no contexto do discurso.29 Uma vez compreendida a correlação entre a dialética e a lógica, estamos aptos a compreender a natureza dos universais. É o que trataremos a seguir. 29 REALE, 2003, V. II, p.167. 19 3. UNIVERSAIS SEGUNDO OS MESTRES DE ABELARDO Não foi muito fácil a lenta passagem da auctoritas30 para a ratio31, que conduzia os estudos gramaticais. Historicamente a reação foi bem intolerante, pois para as autoridades, as palavras dos Padres e da Bíblia deviam ser meditadas e assumidas como uma norma de vida ascética contemplativa e não profanada pela avalanche de silogismos e distinções gramaticais. São Pedro Damião, ferrenho antidialético, no seu tratado Sobre a perfeição monástica32 chegou a considerar que o diabo foi iniciador desses estudos dialéticos e com ele nossos progenitores aprenderam a declinar Deus e a falar dele no plural. Não é possível afirmar que Damião tenha tido algum tipo de contato com Roscelino de Compiègne (1050 – 1120), defensor do nominalismo33, mas é possível entender o porquê da ferrenha crítica: A Igreja teria indubitavelmente deixado de dar atenção a Roscelino não tivesse ele aplicado tal “nominalismo” à Trindade. Deus, segundo asserção sua, é uma palavra que se aplica a três Pessoas da Trindade, assim como homem aplica-se a muitos homens, porém tudo que realmente existe são as três pessoas – com efeito, três deuses. Isso era admitir o politeísmo de que o Islã implicitamente acusava o cristianismo cinco vezes ao dia do alto de centenas de minaretes. A Igreja não podia admitir tal doutrina de alguém que era cônego da catedral de Compiègne. Roscelino foi intimado a comparecer diante de um sínodo episcopal em Soissons (1092), onde foi lhe dada a alternativa de poder retratar-se ou então sofrer a excomunhão. Ele se retratou. Fugiu depois para a Inglaterra e atacou ali o concubinato do clero. Regressou à França e começou a lecionar em Tours e Loches. 30 No período medieval esse termo genérico se referia a Autoridade da Igreja. A auctoritas é o primeiro recurso do método escolástico. Tais autoridades eram citações da Bíblia, dos Padres da Igreja, dos Concílios, mesmo na filosofia: mas, sobretudo, citações de Aristóteles, o "Filósofo", por excelência. (ABBAGNANO, 2007, p. 98). 31 O conceito da rátio como discurso permite a, consideração formal do procedimento racional: possibilita uma lógica, que é na realidade a lógica tradicional na forma elaborada pelos filósofos desde Aristóteles até o fim do séc. XIX. Entendida neste sentido, a lógica é ao mesmo tempo descritiva e normativa: descritiva em relação aos procedimentos próprios da razão. Normativa no sentido de que essa mesma descrição vale como regra para o uso correto da razão. Nesse sentido, a lógica tradicional era definida com exatidão como "arte de raciocinar". O pensamento racional, que se esforçava por desentranhar, mediante análises conceptuais, o sentido das doutrinas recebidas, precisar-lhes mais exatamente o valor e, sendo possível, conciliá-las. (Ibid., p. 843). 32 REALE. 2003, Vol. II, p. 167. 33 Os universais são apenas nomes, mero flatus vocis, meros nomes que indica uma multiplicidade de indivíduos e nada mais, não tem status ontológico, não tem um status lógico fundativo da palavra é na verdade simples emissão de vocábulos. Trata-se de uma teoria cética que nega qualquer valor aos universais, anula alguns conhecimentos humanos tornando-as simples atividades analíticas de fatos concretos. A razão está tão envolvida “nas imaginações corpóreas” que é incapaz de ascender a níveis de caráter geral, é incapaz de se libertar e se elevar acima das realidades individuais e materiais. (REALE, 2003, Vol. II, p. 169). 20 Foi provavelmente em Loches que Abelardo se tornou o seu discípulo.34 Talvez seja por essa razão que devemos olhar para Abelardo com admirável respeito. O nosso filósofo palatino trata ousadamente e com tamanha maestria do assunto, que Alain Libera35 refere ao século XII como sendo o século de Abelardo e da Dialética. Quando Abelardo se depara com o problema dos universais a formulação clássica continuava sendo a questão proposta por Porfírio, continuada por Boécio. O contato de Abelardo com essa ratio aconteceu por meio dos seus mestres. O primeiro a iniciar a discussão foi Roscelino, ele teorizava que os universais não passavam de meras emissões de voz. Ele reduzia os universais à uma materialidade física de palavras, ou seja, a uma representação gráfica do fonema, em suma como bem expressa Gilson: Para ele (Roscelino), o termo ´homem´ não designa nenhuma realidade, ou seja, em qualquer grau, a da espécie humana. Como todos os outros universais, este corresponde apenas as duas realidades concretas, nenhuma das quais é da espécie (universais). Por um lado, há a realidade física do próprio termo, isto é, da palavra ´homem´ tomada como flatus vocis, ou emissão de voz; por outro lado, há indivíduos humanos que essas palavras têm por função significar. E não há nada mais que se encontre por trás dos termos que utilizamos.36 Guilherme de Champeaux (1070 – 1121), também mestre de Abelardo, propôs o que ficou conhecido como realismo exagerado, ou realismo extremo. Segundo Durant37, Abelardo divertiu-se com o realismo exagerado do mestre e desafiou-o em plena aula, obrigando-o a mudar sua teoria por três vezes. Guilherme acreditava que a espécie humana era a mesma em cada homem. Abelardo discordava dizendo que se assim fosse Sócrates e Platão seriam o mesmo homem, já que participam da mesma espécie38. 34 DURANT, 1995, p. 833. 35 LEITE JUNIOR, 2001. p. 41 apud LIBERA, 1998. p. 307. 36 Ibid., apud GILSON, Etiene,1995. p. 289. 37 “Toda humanidade encontra-se integrada em Sócrates? Nesse caso, achando-se toda humanidade integrada em Alexandre, Sócrates (nela também integrado) devia achar-se presente em Alexandre. Presumivelmente Guilherme quisera dizer que todos os elementos essenciais da humanidade acham- se presentes em cada ser humano. Não dispomos dos argumentos tecidos então por Guilherme. Seja como for, o fato é que Abelardo não os aceitou. Ao realismo de Guilherme e ao Nominalismo de Roscelino opôs ele o que veio a ser chamado conceptualismo.” (DURANT, 1995, p. 835). 38 ABELARDO, 2005, p. 59. Ibid., p. 60. 21 Podemos concluir esta parte atentando para o seguinte pensamento de Abelardo: os universais não são meros nomes, são conceitos formados pela abstração do nosso pensamento (o ato de inteligir da alma). Com efeito, essa abstração ora atenta só para matéria, ora só para forma separadamente, e ora concebem ambas misturadas39. Em outras palavras, os universais são formados de elementos ou coisas que notamos serem comuns a um grupo de indivíduos, objetos, ações ou ideias. Tais elementos comuns são reais embora apareçam em formas particulares. Os conceitos pelos quais pensamos nesse elemento comuns, as ideias universais pelas quais pensamos nas classes de coisas semelhantes não são meros flatus vocis, porém os instrumentos mais úteis e indispensáveis ao pensamento. Sem eles a ciência e a filosofia não teriam razão de ser. a. O UNIVERSAL COMO SERMONES Depois de abordamos de forma concisa a pars destruens, ou seja, as críticas de Abelardo às teorias de seus mestres, após examinar e rejeitar o realismo de Guilherme e o nominalismo de Roscelino, Abelardo inicia então a pars construens, ou seja, a solução,o momento construtivo onde se desenvolverá a noção de universal. O ponto de partida assumido por Abelardo para essa construção é o que se pôde extrair da disputa com seus mestres, ou seja, tomadas ontologicamente nega-se que exista coisas universais, não há coisas universais, nem tomadas como res nem apenas voces ou flatus vocis. Ora, se o universal não é nenhuma dessas coisas então o que é? Abelardo, com excelente desempenho nesse debate, atribui o universal ao domínio da palavra, mas não qualquer palavra, o que logo ficará claro na distinção entre a gramática (sintática) e a dialética (semântica). Temos a impressão que o universal é retirado do mundo da natureza (res) e é colocado no domínio de uma construção humana da razão (discurso ou sermo). Para Abelardo, essa teoria é a que mais se alinha com a razão; é a que não atribui a universalidade nem à res nem à voces, sustentando que os singulares ou universais são os sermones40. Na verdade, para Abelardo tudo é unidade compacta ou singular, uma conjunção de matéria e 39 Ibid., p. 82. 40 REALE, 2003, p.169. 22 forma. Mas a ratio humana, pelo pensamento, tem o poder de inteligir e separar os diversos elementos que subsistem unidos na realidade. Entretanto, agora que já foram apresentadas as razões pelas quais as coisas, nem tomadas isolada nem coletivamente, podem ser chamadas de universais no que diz respeito ao serem predicadas de vários, resta que confiramos essa universalidade apenas as palavras.41 O conceito abelardiano de universal é post rem, ou seja, na mente como conceito abstratos – o universal é palavra, ou discurso. Vale salientar que Abelardo usou os termos palavra / discurso / sermones não se referindo a mero sentido físico como quis Roscelino, mas sim para designar a função significativa das palavras. Nesse sentido, podemos afirmar que estamos no campo semântico e da significação, ou seja, uma palavra que significativamente tem a capacidade de gerar uma intelecção. b. A DIFERENÇA ENTRE A GRAMÁTICA E A DIALÉTICA Antes de abordarmos a teoria da intelecção propriamente dita, vamos resumidamente especular a diferença que há entre a gramática42 e a dialética. A gramática, grosso modo, tem a função de examinar se uma frase está corretamente ordenada. Uma frase está corretamente construída quando liga favoravelmente um predicado a um sujeito pela cópula “é”, assim sendo, a frase “o homem é pedra”43 está correta do ponto de vista gramatical. A gramática, em suma, se preocupa com a sintaxe, ou seja, parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no discurso para que os indivíduos não caiam nas aporias do solecismo. A dialética, por sua ordem, segundo Abelardo, tem a finalidade de se ocupar com as correções semânticas de uma frase. Na mesma frase “o homem é pedra” a 41 ABELARDO, 2005, p. 66. 42 Gramática é propriamente o estudo de uma língua no estado em que se encontra, e, portanto, nos princípios, leis ou regras clássicas que a regem. A gramática pode abranger também muitas línguas, e então se chamará comparativa; e neste caso, aproxima-se muito da linguística. – Entre gramático e gramaticógrafo há uma grande distinção. – Gramático é o letrado que conhece bem a sua língua, que a professa, que a fala e escreve com perfeição. Gramaticógrafo é o que escreveu algum tratado, ou algum compêndio de gramática. (POMBO, Rocha. 2011. p. 434). 43 ABELARDO, 2005, p. 68. 23 dialética deve ter em conta, além da correção gramatical, a correção semântica, ou seja, “a natureza das coisas”44, “a manifestação da verdade do seu estado”45, isto é, aquilo que é (status rei = condição ou modo de ser)46. O dialético se utiliza de dois critérios para avaliar se uma frase está semanticamente correta: I) A natureza das coisas; II) A manifestação da verdade do seu estado. Exemplos: 1. (Pedra homem é o). Flatus vocis - sem sentido, expressão incorreta e sem valor semântico; 2. (Homem é pedra). Gramaticalmente a frase está correta, pois manifesta um sentido que é possível entender, mas dialeticamente, está incorreta, pois “ser pedra” não é da natureza do homem, logo essa frase não expressa a verdade do seu estado; 3. (Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal). Esse famoso silogismo sim está correto do ponto de vista da gramática quanto do ponto de vista da dialética. Pois, nele está compreendida a natureza das coisas bem como a manifestação da verdade do seu estado. 44 ABELARDO, 2005, p. 68. 45 Ibid., p. 68. 46 ABBAGNANO, 2007, p. 921. 24 4. A NATUREZA DAS PALAVRAS UNIVERSAIS EM ABELARDO Já foi dito anteriormente que Abelardo atribui o universal ao domínio da palavra. Agora cabe a nós explicar onde Abelardo vai localizá-lo na palavra, qual seja, na natureza da palavra. Em suma, na sua significação: “Agora, porém, já tendo sido estabelecida nas palavras a definição tanto do universal, como do singular, investiguemos com cuidado a propriedade das palavras universais”47. Evidentemente, ao atribuir o universal ao domínio da palavra, ele nega que o universal seja uma res tanto particular quanto universal e, assim, a especialidade própria das palavras, de forma genérica, está no campo semântico, ou seja, na competência da significação. Após essa elementar explicação, Abelardo reflete sobre as possibilidades de a palavra universal não ter qualquer coisa subordinada, nem mesmo fixar alguma intelecção válida de algo, e mais uma vez ele recorre a Boécio para tal reflexão. Segundo Boécio, para que exista uma intelecção na mente, é preciso que exista algum objeto subordinado (ligado, dependente), ou seja, uma (res), um referente na realidade, um estado de coisa. A mente só concebe algo, seja por conjunção, divisão e abstração, a partir de uma coisa existente na realidade, vejamos: Por isso, Boécio afirma nas Divisões que esta palavra “homem” provoca dúvida da intelecção, pois, uma vez ouvida, a inteligência é arrebatada por muitas flutuações e é levada a erros, diz ele. Com efeito, a não ser que alguém defina, dizendo “todo homem anda” ou, pelo menos, “algum”, e designe esse homem, se assim for de fato, a intelecção do ouvinte não tem o que inteligir racionalmente.48 O que está sendo dito aqui, entre outras coisas, é que as palavras universais, fora de uma de uma estrutura fático real (res), podem conduzir o indivíduo ao erro, uma vez que, na investigação da propriedade das palavras universais, elas carecem de significação. Logo, é possível presumir uma impotência de significação e cognição, pois que as palavras universais não parecem gerar uma intelecção na mente por não se referir a alguma coisa na realidade, com exceção, a palavra singular “Sócrates”49. Aparentemente, essa sim parece trazer uma intelecção de algo “a própria pessoa de um homem é inteligida; daí ser denominada singular”50. Por sua vez, o nome universal 47 ABELARDO, 2005, p. 69. Ibid., p. 70. 48 ABELARDO, 2005, p. 70. 49 Ibid., p. 70. 50 Ibid., p. 70. 25 “homem”, afirma Abelardo, referindo-se as posições de Boécio, “nem o próprio Sócrates nem outro, nem a coleção inteira dos homens”51 pode, por força da palavra universal ser inteligida. Abelardo conclui: “desse modo parece que tanto “homem” como qualquer outro vocábulo universal não significa coisa nenhuma, uma vez que não fixa a intelecção de coisa alguma”52. Em suma, os universais parecem completamente desprovidos de significação. “Mas não é assim”53. O tradutor recorre muito bem ao uso da conjunção adversativa (mas) para mostrar que Abelardo se opõe as teorias boeciana da impotência semântica e cognitiva da palavrauniversal uma vez que elas não estão ligadas a nada na realidade. Abelardo nega a existência de uma res universal que corresponda à intelecção suscitada pelo nome universal. Ora, se é impossível como queria Boécio, que haja uma intelecção na mente por falta de um objeto subordinado na realidade, consequentemente, o nome universal é desprovido de significação. E se uma realidade universal é inexistente por não corresponder ao um nome universal, como queria Abelardo, como é possível o conhecimento? Mas não é assim. De fato, eles (universais) significam, de certo modo coisas diversas por meio da denominação, não porém fixando uma intelecção procedente delas, mas pertinente a cada uma. Como está palavra “homem” tanto nomeia cada um deles por motivo de uma causa comum, isto é, que são homens, pelo que é denominada universal, como constitui uma certa intelecção comum, não própria, isto é, pertinente a cada um deles, dos quais concebe a semelhança comum.54 Está claro para Abelardo que as palavras universais podem sim nomear coisas diversas, e não deveríamos esperar que sua significação e intelecção partam das coisas nomeadas propriamente ditas como sugere Boécio, mas sim uma intelecção daquilo que é pertinente a cada uma delas. A partir desse momento Abelardo constrói seu edifício teórico mostrando a verdadeira natureza dos universais em sua lógica Ingredientibus. 51 Ibid., p. 71. 52 Ibid., p. 71. 53 ABELARDO, 2005, p. 71. 54 Ibid., p. 71, 72, grifo nosso. 26 4.1. CAUSA COMUM A primeira referência teórica abelardiana da natureza dos universais é a causa comum. Embora os homens são distintos uns dos outros pelas essências (substância) quanto pelas formas (acidentes), segundo a física da coisa se reúnem nisto “que são homens”55. Abelardo sugere tomarmos certo cuidado para não atribuirmos a esse “ser homem” a teoria de “uma substância essencialmente a mesma”56 como queria seu mestre Guilherme, ou seja, dizer que uma coisa universal é essência una e assim negar o princípio de contradição, a distinção e a multiplicidade dos seres. O “ser homem” é o que Abelardo denomina “estado de homem”57. Chamamos de estado de homem o próprio ser homem, que não é uma coisa e que também denominamos causa comum da imposição do nome a cada um, conforme eles próprios se reúnem uns com os outros. Às vezes, porém, designamos com o nome de causa também aquilo que não é alguma coisa, quando se diz: “ele foi espancado porque não quis ir ao foro”. “não quis ir ao foro”, que é apresentado como causa, não é essência alguma. Assim, também podemos chamar de estado de homem as próprias coisas estabelecidas na natureza do homem, das quais aquele que lhes impôs a denominação concebeu a semelhança comum.58 Na medida em que Abelardo usa o termo “estado”, a construção lógica ocorre de modo que “ser um homem” constitua uma realidade concreta e favorável à predicação, ou seja, homem é predicável porque do homem se predica o animal. Em seguida, em virtude da semelhança comum desses indivíduos, obtida através da abstração, lhes serão denominados os nomes; e a partir dessa designação que gerará o sentido é que surgem os universais. O universal é, então, a palavra que designa o nome dado a imagem confusa abstraída pelo pensamento de uma multiplicidade de indivíduos de natureza semelhante, ou seja, que se encontram no mesmo “estado”. 55 Ibid., p. 72. 56 Ibid. p. 72. 57 ABELARDO, 2005, p. 73. 58 Ibid., p. 73. 27 4.2. INTELECÇÕES VERSUS SENSAÇÕES Abelardo distingui as sensações da intelecção, e essa distinção será de extrema importância no ato de dar continuidade para a explicação da natureza dos universais. Apesar de ambas serem próprias da alma, elas têm algo que as distingue, a distinção está como se segue: a) Sensações: “(...) são exercidas apenas por meio de instrumentos corpóreos e só percebem os corpos ou o que neles está”59. As sensações estão no campo anatômico, ou seja, são exercidas pelos órgãos corporais e percebem os corpos e suas qualidades. Entretanto, apesar das sensações serem exercidas por instrumentos corpóreos, elas são próprias da alma, momento em que temos uma sensação qualquer e dessa se origina uma intelecção uma vez que qualquer um dos cinco sentidos ao atrair uma coisa qualquer logo impõe a nós a inteligência dela. As deliberações, motivada pelas sensações, se dão na alma, mas na ausência do objeto que as motivava, elas desaparecem. Para exemplificar isso Abelardo usa a visão de uma torre e suas qualidades visíveis. No campo da sensação se a torre for destruída, a sensação que atuava sobre ela também desaparece. Logo podemos concluir essa parte com a seguinte hipótese. A sensação por atuar no campo físico depende da presença daquilo que é físico para sua existência. Não existindo mais o objeto, ela também deixa de existir; b) Intelecção: está claro em Abelardo que a intelecção “não precisa de um instrumento corpóreo”60, ou seja, ela é totalmente oposta a sensação. Para a intelecção basta a semelhança do objeto que a própria alma elabora para si mesma quando quer e como quer. No exemplo da visão de uma torre, usado por Abelardo, mesmo a torre sendo destruída a intelecção da mesma permanece, “se a semelhança da coisa for retida pelo espírito”61. Por meio da intelecção pode-se construir seres fantásticos, não reais, como, por exemplo, um unicórnio, dragões, duendes e fadas, Essa intelecção é, na 59 Ibid., p. 74. 60 ABELARDO, 2005, p. 74. 61 Ibid., p. 74. 28 verdade, uma certa ação da alma chamada de o ato de inteligir, não é semelhante às coisas nem se dirige a elas, mas à imagem produzida pela alma/espírito “(...) aquelas cidades imaginárias vistas durante o sono ou como aquela forma de um edifício a ser construído que o artesão concebe como semelhança e modelo da coisa a ser produzida e que não podemos chamar nem de substância nem de acidente”.62 4.3. INTELECÇÃO DOS UNIVERSAIS VERSUS INTELECÇÃO DOS PARTICULARES Um nome universal, nas concepções de Abelardo, concebe uma imagem comum e confusa de muitos. A palavra universal embora nomeie cada uma das coisas que é comum, por exemplo, a palavra “homem”, que concebe uma forma comum a todos os homens, não pode certificar ou determinar a coisa homem. Ela vaga flutuante e confusa sem a nada se fixar. Por outro lado, o nome singular “Sócrates”, como foi dito anteriormente, esse sim gera na mente uma determinação e a certificação de um indivíduo. Essa palavra nomeia e determina um só objeto subordinado, a saber, o indivíduo Sócrates. Já vimos, entre outras coisas, os três pontos de significação dos nomes universais. a) uma significação real, a partir do estado da coisa; b) a partir da intelecção do universal, a significação intelectual; c) significação imaginária produzida pela intelecção promovida pela alma. Na parte “intelecção promovida pela alma” surge pelo menos uma pergunta a ser respondida. Ora, se as intelecções dos nomes universais não determinam um objeto subordinado, seriam então elas falsas e vazia? Abelardo acredita que não, para ele não podemos chamar as intelecções de falsas e vazias, uma vez que a intelecção dos universais se dá por abstração. A abstração é o processo pelo qual é possível a intelecção dicotomizar aquilo que se encontra unido; dito de outra forma, é quando a intelecção dirige a atenção de forma separada para aquilo que se encontra unido. A intelecção concebe as coisas assim unidas entre si, como divididas de um modo e unidas de outro. Por isso, Boécio atribui ao espírito esta capacidade de poder, pela razão compor os separados e desunir os compostos, sem se afastar contudo, em ambos os casos, da natureza62 Ibid., p. 74. 29 da coisa, mas percebendo apenas aquilo que está na natureza da coisa. Se assim não fora, não se trataria de razão mas de opinião, isto é, se a inteligência se desviasse do estado da coisa.63 Sobre aquilo que não tocamos pelas inteleções dos universais temos mais doxa (opinião) que episteme (ciência). É exatamente por essa razão que, “[...] toda questão a respeito da intelecção em relação a Deus é supérflua”64. A intelecção em relação aos homens ora é possível só a matéria, ora só a forma, ora matéria e forma juntas, mas toda intelecção em relação a Deus é apenas doxa. No livro poético de Jó, por exemplo, depois de uma tentativa frustrada de Jó e seus amigos falarem de Deus, há uma resposta de Deus a eles, “Depois disto, o Senhor (Deus) respondeu a Jó de um redemoinho e disse: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem entendimento?”65 Todos termos teóricos e teológicos a respeito de Deus são meros termos humanos capazes de nos trazer um vislumbre humano de uma compreensão teológica, mas incapazes de entender a natureza e Deus. É por isso que a doutrina bíblica da revelação de dá no campo da fé e não da razão. Quando temos intelecção dos particulares por abstração, e dirigimos a nossa atenção para o estado da coisa “ser homem”, atentamos para a natureza do homem que está relacionada a um indivíduo determinado e subordinado. De outra forma, o nome universal “homem” atentamos para aquela mesma natureza, mas somente em si mesma e que não está relacionada e nem determinada a um indivíduo. Concluímos, então, que a intelecção dos nomes universais não é vazia, mas sim, isolada, nua e pura. Portanto, a intelecção dos universais é, com razão, denominada isolada, nua e pura: isolada, sem dúvida, das sensações, porque não percebe a coisa como sensível; nua, quanto à abstração de todas ou de algumas formas, e completamente pura, quanto à distinção porque nenhuma coisa, quer seja matéria, quer seja forma, é certificada nela, razão pela qual chamamos antes uma concepção desse tipo confusa.66 63 ABELARDO, 2005, p. 84. 64 Ibid., p. 86. 65 Bíblia de Estudo Plenitude, 2001, p. 530. 66 ABELARDO, 2005, p. 87. 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao ponto em que podemos concluir o quão importante foi o que podemos chamar de o século dos universais, sobretudo a acunhada perspectiva de Abelardo sobre eles. Abelardo é metódico, ele vai construindo seu edifício teórico a cada explicação. Após elucidar suas concepções acerca da filosofia e de ter decorrido as noções gerais sobre a lógica e filosofia, as espécies de filosofias e suas implicações, ele se concentra na dialética, o ponto onde explicita “a natureza dos universais”. Na medida em que explica a dialética, sua arma afiada, corta as teorias de seus mestres e remonta apoditicamente o seu conceitualismo. Para Abelardo, essa teoria está mais de acordo com a razão do que as outras, uma vez que os universais não são nem res nem voces e sim palavras. Apesar de estar claro para o nosso filósofo as coisas se constituírem de uma unidade compacta, ou seja, tudo é particular e individual. Mas, conclui Abelardo, a intelecção tem a capacidade de distinguir e separar os diversos elementos que subsistem unidos na realidade. Podemos chamar essa teoria de uma espécie de aristotelismo reelaborado. O universal é um conceito significativo obtido por intelecção. Intelecção como ele mesmo conclui: isolada, “sem dúvida, das sensações, porque não percebe a coisa como sensível”67; nua; “quanto à abstração de todas ou de algumas formas”68, e pura, “quanto à distinção porque nenhuma coisa, quer seja matéria, quer seja forma, é certificada nela, razão pela qual chamamos antes uma concepção desse tipo confusa”69. 67 Ibid., p. 87. 68 Ibid., p. 87. 69 Ibid., p. 87. 31 REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ABELARDO, Pedro. Lógica para principiantes. São Paulo: Unesp, 2005._ _____. História das minhas calamidades. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2001. COPLESTON, Frederick. História de la Filosofia. Barcelona: Ariel, 1983. DURANT, Will. A Idade da Fé. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 2002. FUMAGALLI, Maria Teresa, PARODI, Massimo. Storia della Filosofia Medievale. Bari: Editori Laterza, 1998. GILSON, Etiene. A filosofia da Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1995. HUBER, Carlo. Critica del sapere. Roma: U.P.U.G., 2001. LEITE JUNIOR, Pedro, O problema dos universais. Rio Grande do Sul: EDIPUCRS, 2001. LIBERA, Alain de. A Filosofia Medieval. São Paulo: Loyola, 1998. MATTOS, C. L. de. Introdução. In ANSELMO, Santo. Monológio. Proslógio. A verdade. O gramático. Tradução: Ângelo Ricci, Ruy Afonso da Costa Nunes. São Paulo: Nova Cultural, 1988. MORTARI, Cesar A. Introdução à lógica. 9ª Edição. São Paulo: Unesp, 2001. POMBO, Rocha. Dicionário de sinônimos da língua portuguesa. [Apresentação, Evanildo Bechara], 2. Ed. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2011. REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. História da filosofia. v. I, II. São Paulo: Paulus, 2003.
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