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1 Complicações Pós-operatórias Complicações podem ocorrer após um procedimento cirúrgico, e os cirurgiões devem ser capazes de prevê-las, reconhecê-las e tratá-las. O espectro dessas complicações varia desde relativamente pequenas, como um pequeno seroma pós-operatório, a catastróficas, como infarto do miocárdio pós-operatório ou fístula anastomótica. O tratamento dessas complicações também abrange desde estratégias não cirúrgicas até aquelas que exigem retorno imediato para a sala de cirurgia. Podem ser divididas em: ↪ COMPLICAÇÕES DE FERIDAS; ↪ FEBRE; ↪ COMPLICAÇÕES GASTROINTESTINAIS. COMPLICAÇÕES DE FERIDAS OPERATÓRIAS: SEROMA: • Acúmulo de soro e linfa no subcutâneo. • Ocorre em cirurgias com grande dissecação ou descolamento de tecidos – quando é necessário liberar a região do subcutâneo que está aderido na aponeurose, acaba favorecendo o acúmulo de secreções nesse espaço morto. • Os seromas retardam a cicatrização e aumentam o risco de infecção da ferida operatória. • QUADRO CLÍNICO: ▪ Abaulamento indolor e sem flogose (sinais inflamatórios). ▪ Pode haver drenagem de líquido claro (citrino) pela ferida não cicatrizada. OBS: nem todo abaulamento é seroma, então deve-se ficar atento e examinar muito bem esse abaulamento para não tentar fazer a drenagem de outro tipo de conteúdo e acabar perfurando uma alça intestinal, no caso de uma hérnia, por exemplo. • TRATAMENTO: ▪ Punção e compressão – é feita a punção e aspiração do conteúdo, seguida pela colocação de um curativo compressivo para reduzir o espaço morto e evitar que acumule novamente soro e linfa no local e forme novamente um seroma. ▪ Nos casos de recorrência do seroma ou uso de prótese: drenagem aberta – um seroma que reacumula após pelo menos duas aspirações é evacuado pela abertura da incisão e limpeza da ferida com gaze umedecida com solução salina para permitir a cicatrização por segunda intenção. FONTE: Current Cirurgia – Diagnóstico e Tratamento FONTE: Current Cirurgia – Diagnóstico e Tratamento FONTE: Current Cirurgia – Diagnóstico e Tratamento 2 • PROFILAXIA: é feita a hemostasia da ferida, aproximação do subcutâneo e colocado um dreno de sucção que faz um vácuo, gerando uma pressão negativa e aspirando o conteúdo para não deixar acumular o conteúdo no subcutâneo. Com isso, haverá uma melhor cicatrização, evitando a ocorrência do seroma. HEMATOMA: • Acúmulo de sangue e coágulos no subcutâneo; • Decorrente, muitas vezes, de uma hemostasia inadequada (sangramento em babação de um pequeno vaso após cirurgia que vai acumulando sangue no subcutâneo) ou coagulopatia (hemofilia, cirrose, deficiência de vit K, uso de AAS, varfarina, etc). • QUADRO CLÍNICO: ▪ Abaulamento da ferida; ▪ Coloração vinhosa ou azulada (mais evidentes em paciente de pele mais clara); ▪ Secreção avermelhada na ferida operatória. • RISCOS: ▪ Risco de infecção secundária: o sangue é um meio de cultura para as bactéria se proliferarem. ▪ Interferência na cicatrização da aponeurose: se a aponeurose, que faz a sustentação das vísceras na cavidade abdominal, possuir alguma interferência na sua cicatrização e se abrir, pode formar uma hérnia incisional. OBS: Os hematomas são mais preocupantes do que os seromas, em virtude do seu potencial para infecções secundárias. • TRATAMENTO: ▪ Hematoma volumoso até 48 horas da cirurgia: ➢ Evacuação + hemostasia em centro cirúrgico – o paciente é novamente anestesiado, a ferida é novamente aberta, são retirados os coágulos, procura-se o ponto de sangramento e feita a hemostasia adequada. Se houver uma área grande de descolamento é necessário colocar um dreno para fazer uma pressão negativa e evitar que acumule secreções e sangue no local novamente. ▪ Hematoma pequeno: ➢ Calor local e/ou compressão local. FONTE: Sabiston – Tratado de Cirurgia 3 DEISCÊNCIA DA APONEUROSE: A deiscência da ferida operatória é a interrupção parcial ou total de uma ou todas as camadas da ferida operatória. O quadro vai variar se houver abertura da pele ou não. ↪ EVENTRAÇÃO – Hérnia incisional: • Separação da aponeurose: a aponeurose se distancia, mas a pele se mantém fechada e íntegra. As vísceras ficam no subcutâneo, sem ultrapassar a pele, ou seja, não têm contanto com o meio externo. → Eventração: quando o paciente foi operado há poucos dias, ainda está com os pontos cirúrgicos, e no local da ferida cirúrgica observa-se um abaulamento sugestivo de uma separação da aponeurose (os pontos continuam segurando a pele). → Hérnia incisional: quando já passou um tempo da cirurgia, a pele cicatrizou e fechou, e observa-se um abaulamento devido a separação da aponeurose. É a continuação da eventração. Então, a eventração é o primeiro momento, a aponeurose abre, mas a pele continua íntegra. Se essa eventração persistir, a pele continuar íntegra e cicatrizar, é chamada de hérnia incisional. OBS: tanto na eventração, quanto na hérnia incisional, NÃO HÁ ABERTURA DA PELE. As vísceras não saem para fora do corpo. • Pode ser decorrente de um mal fechamento da aponeurose na hora da cirurgia. Além disso, no caso de uma laparotomia exploratória de um paciente com DPOC, por exemplo, que no pós-operatório tosse com frequência, o aumento constante da pressão abdominal pode fazer com que a aponeurose se rompa, levando a hérnia incisional. Também pode ocorrer no caso de uma cirurgia que foi utilizado um fio absorvível para fechar a aponeurose, esse fio vai perdendo sua força tênsil com o tempo, se houver um processo infeccioso, que dificulte a cicatrização, pode ser que a aponeurose se abra. • QUADRO CLÍNICO: ▪ Abaulamento na área de cicatriz cirúrgica prévia – o tamanho do abaulamento é variável, pode ser uma hérnia pequena de poucos centímetros até uma hérnia bem grande. ▪ Dor no local; ▪ Pode ou não, ser redutível. • TRATAMENTO: ▪ Hernioplastia incisional: colocação de uma tela de polipropileno que propicia uma fibrose mais resistente, já que a aponeurose desse indivíduo provavelmente está mais fraca. 4 ↪ EVISCERAÇÃO: • Ruptura de todas as camadas da parede abdominal, inclusive da pele, e exteriorização das vísceras abdominais. • QUADRO CLÍNICO: ▪ Exteriorização do omento ou do intestino delgado. • TRATAMENTO: ▪ Cobertura das alças com compressas úmidas com soro fisiológico e estéreis. ▪ Cirurgia imediata. A evisceração é uma condição grave, com alta morbimortalidade, e o paciente deve ser prontamente atendido, com cobertura das alças com compressas úmidas e mornas, iniciando-se cobertura antibiótica imediata, seguida de transferência para o centro cirúrgico e, sob anestesia geral, inventário de toda a cavidade abdominal, lavagem exaustiva com fluidos aquecidos, debridamento de tecidos desvitalizados, drenagem de eventuais abcessos e preparação de nova sutura com fios inabsorvíveis e de espessura maior. COMPLEMENTO: A deiscência após laparotomia é mais comum em pacientes com diabetes melito, uremia, imunossupressão, icterícia, sepse, hipoalbuminemia, câncer, obesidade e nos pacientes em uso de corticosteroides. Os três fatores predisponentes locais mais importantes para deiscência da ferida operatória são o fechamento inadequado, o aumento da pressão intra-abdominal e a cicatrização deficiente das feridas. Muitas vezes, a deiscência resulta de uma combinação desses fatores, em vez de um único fator isolado. INFECÇÃO DO SÍTIO CIRÚRGICO: • Acometimento de alguma porção do trajeto cirúrgico. • A ferida cirúrgica inclui as áreas interna e externa do corpo que envolvem todo o local cirúrgico. As feridas são categorizadas em três grupos gerais: 1. Incisional superficial: pele e subcutâneo. 2. Incisional profunda: fáscia (aponeurose) e músculo. 3. Espaço orgânico:órgãos internos do corpo, se a operação incluir esta área - abscessos intra- abdominais, empiema. • CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: ▪ Ocorrência em até 30 dias após a cirurgia. ▪ Ocorrência até 1 ano da cirurgia após implante de prótese, tela. FONTE: Current Cirurgia – Diagnóstico e Tratamento FONTE: Current Cirurgia – Diagnóstico e Tratamento 5 • AGENTES ETIOLÓGICOS: ▪ Cirurgia limpa: ➢ Staphylococcus aureus (gram positivo)- principalmente; ➢ Staphylococcus coagulase negativo. ▪ Cirurgia limpo-contaminada e contaminada: ➢ E. coli; ➢ Enterococos. • FATORES DE RISCO: ▪ Ferida: ➢ Seromas, hematomas (o sangue é um meio de cultura para bactérias) e/ou necrose (tecidos desvitalizados favorecem a infecção). ➢ Fios de sutura (as bactérias se aderem mais fácil em fios multifilamentares), dreno e corpo estranho (gossipiboma). ▪ Paciente: ➢ Imunossupressão - uso de corticoides, transplantados, etc; ➢ Obesidades e diabetes; ➢ Desnutrição; ➢ Idade (extremos – prematuros e idosos). OBS: no caso de uma ferida com necrose pós-operatória, ou até mesmo fora do contexto cirúrgico, pode acontecer de uma mosca colocar ovos no local da ferida e levar a uma miíase secundária. ▪ Bacteriano: ➢ Raspagem de pelos no pré-operatório - a tricotomia deve ser feita na hora da cirurgia, se feita antes pode ser que o paciente se machuque e haja proliferação de bactérias no local da cirurgia. ➢ Tempo cirúrgico - quanto mais longa a cirurgia, maior a chance de infecção. ➢ Internação recente ou que ficou em UTI - o uso de antibióticos modifica a microbiota normal do indivíduo e pode selecionar bactérias resistentes. ➢ Infecção concomitante – a presença de infecções em outros locais podem interferir e acometer o centro cirúrgico. Se o paciente tem uma infecção no pé, por exemplo, e está com uma hérnia inguinal, será tratada primeiro a infecção e depois será feita a cirurgia da hérnia (exceto no caso de uma urgência/ emergência). ➢ Uso indiscriminado de antibiótico - selecionando bactérias resistentes. ➢ Quantidade e virulência bacteriana. ➢ Tipo de cirurgia - se é limpa ou contaminada. 6 • QUADRO CLÍNICO: ▪ Infecção superficial: ➢ Ocorrência entre 5º e 6º dia pós-operatório; ➢ Drenagem de secreção purulenta; ➢ Eritema, dor e edema (flogose). ▪ Infecção intracavitária: ➢ Febre. ➢ Massa abdominal. ➢ Secreção purulenta em dreno cavitário. ➢ Dor intensa. ➢ Exames laboratoriais: leucocitose, desvio a esquerda, PCR elevado. Na tomografia da esquerda observa-se uma grande coleção (subdiafragmática ou no tórax), composta por líquido (pus) e gás (nível hidroaéreo). Então, provavelmente, é uma infecção causada por bactérias produtoras de gás. Na tomografia da direita observa-se líquido (pus) e gás caracterizando uma coleção sugestiva de infecção. • TRATAMENTO: ▪ Infecção superficial: ➢ Soltura dos pontos (para drenar o pus), limpeza, debridamento e antibiótico (amplo espectro para abranger organismos gram- negativos, gram-positivos e anaeróbios) ▪ Infecção intra-abdominal: ➢ Drenagem por punção – quando há uma coleção de pus fácil de ser drenada, sem que haja risco de perfurar algum órgão. ➢ Reoperação. ➢ Antibioticoterapia. FEBRE: ↪ Ocorrência de 1/3 em cirurgia de médio/grande porte. ↪ A febre é uma das complicações relacionadas a termorregulação, sendo importante a avaliação de algumas situações: quando a febre surge (intraoperatório, primeiras 48h do pós-cirúrgico ou após 72h), como está a ferida operatória, presença de cateteres e outras queixas do paciente. 7 ↪ ETIOLOGIA CONFORME O TEMPO: • FEBRE INTRAOPERATÓRIA: pode ser decorrente de: ▪ Reações transfusionais: ➢ Febre, hipotensão e hemoglobinúria (no caso de destruição de hemácias). ▪ Própria infecção que ocasionou a cirurgia: ➢ Febre e hipotensão → SEPSE. Exemplo: apendicite supurada, isquemia mesentérica, diverticulite perfurada, úlcera perfurada, etc. • PRIMEIRAS 48 HORAS: A febre é um dos achados mais preocupantes no paciente em pós-operatório. Pode ser produzida em resposta tanto a processos infecciosos quanto a não infecciosos. ▪ Atelectasia: principal causa de febre pós-operatória nas primeiras 48 horas e está relacionada a cirurgia de abdômen superior e anestesia geral - a atelectasia é o colapso dos espaços alveolares, geralmente de magnitude grave. ▪ Fasciíte necrosante: infecção bacteriana destrutiva com rápida progressão no tecido subcutâneo e fáscia superficial. ➢ Polimicrobiana: envolvendo gram-positivos, gram-negativos, anaeróbios e até fungos. • Clostridium; • Bacteroides; • Peptostreotococcus; • Enterobacteriaceae. ➢ Pouco comum e alta morbimortalidade e letalidade. ➢ Na imagem acima observa-se uma Fasciíte necrosante caracterizada por hiperemia intensa em flanco esquerdo indo para a região do hipogástrio e áreas de necrose com saída de secreção. ➢ Na imagem ao lado observa-se uma Fasciíte necrosante não decorrente de pós-operatório, localizada no períneo, chamada de Síndrome de Fournier. ➢ Geralmente progridem 2 cm por hora, podendo gerar translocação bacteriana e sepse se muito prolongado. ➢ As Fasciítes necrosantes geralmente são muito graves e necessitam de tratamento imediato com debridamento, antibioticoterapia e suporte clínico. FONTE: Sabiston – Tratado de Cirurgia FONTE: Portal Pebmed Síndrome de Fournier 8 ▪ Lesão inadvertida de alça intestinal: distensão abdominal, vômito e peritonite. Ex: um paciente faz uma colecistectomia laparoscópica, por vídeo, e inadvertidamente, durante a introdução de algum trocater, há perfuração de uma alça intestinal, o cirurgião não percebe, encerra a cirurgia e fecha o paciente. No pós-operatório o paciente começa a apresentar febre, distensão abdominal, vômitos e sinais de peritonite. Além disso, pode ocorrer quando é feita uma anastomose após ressecamento do intestino e porventura solta algum ponto e começa a vazar conteúdo intestinal na cavidade peritoneal. • APÓS 72 HORAS: ▪ Dispositivos invasivos - sonda vesical de demora, cateter de duplo lúmen – sempre que possível, se o paciente não necessitar mais, preconizar a retirada desses dispositivos para evitar a colonização de bactérias. ▪ Pancreatite aguda – algumas cirurgias podem acabar gerando uma pancreatite e levando a febre. ▪ Colecistite alitiásica – geralmente pacientes graves, em UTI, em que a circulação da vesícula fica prejudicada podendo gerar uma inflamação na vesícula e, consequentemente, a febre. ▪ Sinusite – pode ser decorrente do uso de sonda nasoenteral ou nasogástrica. FÍSTULAS: ↪ Comunicação entre duas superfícies epiteliais. ↪ TIPOS: • Internas – comunicação entre vísceras (ex: intestino e bexiga, intestino delgado e estômago, e etc.) • Externas – comunicação, por exemplo do intestino delgado, do cólon, etc., com a pele. ↪ DÉBITO: • Alto débito (> 500 mL/ 24h) – quando em 24h drena-se, pela fístula, um líquido maior que 500 ml. • Médio débito (200 a 500 mL/ 24h) - quando em 24h drena-se, pela fístula, um líquido de 200 a 500 ml. • Baixo débito (< 200 mL/ 24h) - quando em 24h drena-se, pela fístula, um líquido menor que 200 ml. ↪ ETIOLOGIA: • Espontânea: ▪ Radioterapia – a pessoa que teve um câncer de próstata, por exemplo, e foi submetido a radioterapia pode ser que os tecidos adjacentes fiquem mais friáveis. Então pode ocorrer do cólon encostar na bexiga e formar uma fístula, por exemplo. ▪ Doença inflamatória intestinal - doença de Crohn, diverticulite, retocolite ulcerativa. ▪ Neoplasias – o tumor pode invadir o órgão adjacente e formar uma fístula. Peritonite fecal 9 • Adquirida: ▪ Deiscência de anastomose – quando é feita uma cirurgia de ressecamento de um segmento do intestino, por exemplo, é feita a anastomosedo restante do segmento e, por uma falha técnica, pode ser que abra essa anastomose. ▪ Drenagem de coleções – no caso de uma coleção subdiafragmática ou torácica, por exemplo, após uma punção para drenagem pode acontecer uma perpetuação da drenagem de secreção na cavidade pela formação de uma fístula entre essa cavidade e o meio externo. ▪ Lesão iatrogênica ▪ Inflamação tecidual ↪ FÍSTULA ENTEROCUTÂNEA – externa: • Quadro clínico: ▪ Secreção entérica saindo pela ferida ou dreno. ▪ Distúrbio hidroeletrolítico – principalmente no caso das fístulas que possuem um alto débito, há a saída de muita secreção para o meio externo, então esse líquido não está passando pelo intestino e o organismo não está reabsorvendo eletrólitos e água. ▪ Desnutrição – no intestino delgado ocorre a absorção de nutrientes, se há uma fístula externa na região proximal do intestino, perto do estômago, haverá um trajeto muito pequeno para ocorrer a absorção de nutrientes e o paciente ficará desnutrido. • Trajeto fistuloso: exames a depender do sítio. ▪ Fistulografia: injeta-se o contraste na pele e em seguida realiza-se o raio-x, sendo possível observar o trajeto da fístula até o intestino. ▪ Cistografia: na imagem da esquerda observa-se uma cistografia normal. Na imagem da direita observa-se que o contraste está indo da bexiga para o intestino grosso, evidenciando uma fístula vesico-colônica. Nesse caso, espera-se que o paciente apresente fecalúria (fezes na urina) e pneumatúria (ar/gás na urina). ↪ TRATAMENTO: • Fechamento espontâneo – no caso de fístulas de baixo débito e pequenas; • Correção hidroeletrolítica; • Antibioticoterapia; • Jejum – se a pessoa se alimenta, a passagem do alimento pela fístula pode contribuir para a persistência do quadro; • Suporte nutricional: parenteral ou enteral (depois da área da fístula); • Octreotide – análogo da somatostatina que diminui a quantidade de líquido no lúmen do trato digestivo, fazendo com que passe menos líquido pela fístula e ela se feche. • Cirurgia para correção – caso seja uma fístula de alto débito, longa data, com trajeto fistuloso bem definido, não sendo possível fechá-la com tratamento clínico é feita a correção cirúrgica. 10 COMPLICAÇÕES GASTROINTESTINAIS: OBSTRUÇÃO: a obstrução intestinal precoce (primeiros 30 dias), que ocorre no pós-operatório, pode ser de caráter funcional (íleo pós-opera ou mecânico. Os casos funcionais são classificados em íleo pós- operatório e íleo adinâmico. ↪ PERISTALTISMO PÓS-OPERATÓRIO: espera-se que o peristaltismo retorne gradualmente após a cirurgia. Cada porção do sistema gastrointestinal possui um tempo normal para o retorno pleno dessa peristalse: • Intestino delgado: horas - a motilidade do intestino delgado é afetada em menor grau, exceto nos pacientes que foram submetidos à ressecção de alças do delgado ou que foram operados para alívio de obstrução intestinal. • Estômago: 24 a 48 horas. • Cólon: 48 a 72 horas - iniciando no ceco e progredindo em direção caudal. ↪ ÍLEO PÓS-OPERATÓRIO: ocorre imediatamente após a cirurgia na ausência de fatores precipitantes e desaparece dentro de 2 a 4 dias. É denominado primário ou íleo pós-operatório. • Condição prevista. • O retorno da atividade intestinal é prenunciado pela presença de sons intestinais, flatos e movimentos intestinais. • Causas: ▪ Estímulo nociceptivo → estimulação simpática - a incisão da pele e a abertura da parede abdominal desencadeiam um estímulo nociceptivo que, pela ativação do sistema simpático, leva à liberação de noradrenalina e subsequente à inibição da motilidade intestinal. ▪ Manipulação → edema de alça → dismotilidade – com o decorrer da cirurgia, a manipulação do intestino vai ativar mais nociceptores e mecanorreceptores que acentuam essa inibição adrenérgica intestinal. Isso ocorre principalmente em cirurgias abertas, laparotomias, em que há grande manipulação do intestino podendo causar edema nas alças promovendo uma maior dismotilidade. ▪ Opiáceos – induzem a inibição da atividade nervosa entérica, inibição da atividade motora propulsiva, inibição da atividade secretora e alteração da função imune das células. O resultado final é a diminuição da motilidade gastrointestinal. Muitas vezes, as cirurgias minimamente invasivas, laparoscopias, podem atenuar essa agressão, diminuindo a dor pós-operatória, e consequentemente diminuindo o uso de opiáceo levando a uma menor dismotilidade. Resumindo: o SN simpático, que geralmente é inibitório para o TGI, torna-se hiperativo no período pós- operatório. Em contrapartida, o efeito estimulante do parassimpático, que promove a liberação da acetilcolina no plexo mioentérico, está inibido. Além disso, há liberação de neurotransmissores e hormônios, bem como a ativação de uma resposta inflamatória molecular local que resulta na supressão neuromuscular e, consequentemente, há diminuição da motilidade intestinal. ↪ ÍLEO ADINÂMICO: ocorre como resultado de um fator precipitante e está associado a um atraso, maior do que o normal, no retorno da função intestinal. É denominado íleo secundário, adinâmico ou paralítico. • Duração prolongada. FONTE: Current Cirurgia – Diagnóstico e Tratamento FONTE: Sabiston – Tratado de Cirurgia FONTE: Sabiston – Tratado de Cirurgia FONTE: Artigo de revisão - Íleo Paralítico Pós-Operatório FONTE: Artigo de revisão - Íleo Paralítico Pós-Operatório FONTE: Artigo de revisão - Íleo Paralítico Pós-Operatório FONTE: Sabiston – Tratado de Cirurgia 11 • Pode causar distensão abdominal, vômitos, ausência ruídos intestinais e ausência de eliminação de flatos e fezes por um período maior do que o normal após a cirurgia. • Causas: ▪ Tempo cirúrgico extenso – procedimento cirúrgico longo e exposição prolongada do conteúdo abdominal. ▪ Opiáceos. ▪ Hipocalemia – distúrbios hidroeletrolíticos. ▪ Infecção peritoneal – paciente com apendicite supurada, ou diverticulite perfurada, por exemplo, em que vaza pus, fezes e outros conteúdos intestinais na cavidade abdominal. ↪ OBSTRUÇÃO MECÂNICA: quando uma barreira física impede a progressão do conteúdo intestinal causando uma obstrução precoce no pós-operatório. • Causas: ▪ Aderências ou bridas - membranas ou cordões de tecido cicatricial que, geralmente, se formam após uma cirurgia. São capazes de unir diferentes órgãos ou partes do intestino entre si, provocando, assim, obstrução intestinal. ▪ Hérnia interna – o intestino grosso, assim como todas as alças intestinais são ligadas a parede abdominal no dorso do paciente por tecidos gordurosos chamados de “meso”, que é pelo qual chegam nos intestinos os vasos linfáticos e sanguíneos que nutrem esses órgãos. O contato do meso do intestino grosso com o meso da alça intestinal gerado na cirurgia provoca o surgimento de um espaço, chamado de brecha (espaço de Petersen), que não existia antes da cirurgia. Como o intestino delgado (alças intestinais), apesar de conectado a parede abdominal, tem uma movimentação relativamente livre e normal dentro do abdome, pode ocorrer a passagem de alguns segmentos do intestino através desta brecha, causando uma hérnia interna, podendo gerar uma obstrução. • Quadro clínico: A obstrução mecânica pode ser completa ou parcial, podendo ocorrer na parte proximal ou distal do delgado. A extensão das manifestações clínicas varia com a causa, grau e nível de obstrução: ▪ Vômitos: • Obstrução alta (delgado proximal): vômitos precoces e biliosos, podem apresentar distensão mínima ou não apresentar distensão. • Obstrução baixa (delgado distal): vômitos tardios e fecaloides, além de distensão abdominal mais pronunciada. 12 ▪ Distensão abdominal: há estase, acúmulo progressivo de secreções gástricas, intestinais e gás, e o intestino pode perder seu tônus e dilatar, resultandoassim em distensão abdominal, dor, náusea, vômito e obstipação. ▪ Ruídos hidroaéreos. • Exames laboratoriais: ▪ Leucograma – pode, ou não, haver a presença de leucocitose com desvio a esquerda. ▪ Distúrbio hidroeletrolítico – dependendo do nível da obstrução pode haver vários episódios de vômitos, levando a perda de eletrólitos. ↪ Na radiografia de abdome sem alterações ao lado, observa- se o cólon ascendente, sendo possível ver suas haustrações, e o cólon descendente. Não é possível ver o intestino delgado. Apesar da imagem não estar muito evidente, sempre deve-se observar se há presença de ar na ampola retal indicando que o gás está chegando no reto e que não há obstrução. ↪ Na radiografia simples de abdome abaixo a esquerda, em decúbito, é vista uma grande distensão do intestino delgado, evidenciada pela presença de gás delineando as válvulas coniventes – Sinal do empilhamento de moedas. Além disso, observa-se que não há gás na ampola retal. A radiografia da direita em ortostase, do mesmo paciente, demonstra níveis hidroaéreos, em diferentes alturas, nas alças intestinais de delgado e grande distensão dessas alças. Os achados dessas radiografias evidenciam uma OBSTRUÇÃO DE INTESTINO DELGADO. 13 ↪ Na tomografia computadorizada em corte axial ao lado, é possível ver a distensão das alças intestinais do delgado e a presença de níveis hidroaéreos, caracterizando uma OBSTRUÇÃO DE INTESTINO DELGADO. ↪ Na tomografia ao lado observa-se um ponto de obstrução no intestino delgado (íleo distal), acima desse ponto o intestino delgado está dilatado e abaixo do ponto ele se encontra em seu tamanho normal. Esses achados sugerem uma OBSTRUÇÃO MECÂNICA NO DELGADO. ↪ As tomografias em corte axial e coronal abaixo demonstram um enovelado de alças intestinais sugestivo de HÉRNIA. ATENÇÃO O diagnóstico de obstrução intestinal em geral baseia-se nos achados clínicos e radiografias do abdome. Entretanto, no período pós-operatório, a diferenciação entre íleo adinâmico e obstrução mecânica é imperativa, porque o tratamento é completamente diferente. No íleo adinâmico, as radiografias abdominais revelam um intestino difusamente dilatado por todo o trato intestinal, com ar no cólon e reto. Níveis hidroaéreos podem estar presentes, e a quantidade de dilatação da alça intestinal varia enormemente. Com obstrução mecânica, existe uma pequena dilatação do intestino delgado com níveis hidroaéreos e válvulas coniventes espessadas no intestino proximal ao ponto de obstrução e pouco gás, ou nenhum, no intestino distal à obstrução. TC é mais acurada na diferenciação funcional de obstrução mecânica ao identificar o denominado ponto de transição ou corte no local da obstrução em casos de obstrução mecânica. Ela também determina o nível (alto ou baixo) e grau de obstrução (parcial versus alto grau ou completo), diferencia entre obstrução complicada e não complicada (intestino comprometido, perfuração) e identifica tipos específicos de obstrução (obstrução em alça fechada, intussuscepção). FONTE: Sabiston – Tratado de Cirurgia 14 • Tratamento: ▪ Sondagem nasogástrica – drenar os líquidos em grande quantidade no lúmen gástrico. ▪ Correção do distúrbio hidroeletrolítico - hidratação ▪ Pró-cinéticos: • Ondansetrona. • Plasil • Dramin ▪ Revisão de medicações em uso: • Opiáceos – suspender assim que possível. ▪ Correção cirúrgica da obstrução mecânica – se a obstrução for mecânica o paciente precisa ser submetido a uma nova cirurgia para correção desse quadro. OBSTRUÇÃO DE DELGADO
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