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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO DE QUÍMICA RELATÓRIO DA PRÁTICA: SÍNTESE DA ACETANILIDA Aluno: Vítor Patrício da Silva Medeiros – 2017210275. Disciplina: Química Orgânica Experimental I. Professor: Marco Edilson. Seropédica/RJ 2018 1. INTRODUÇÃO A acetanilida foi descoberta em 1886 com o nome de antifebrina por Cahn e Hepp, por sua ação antipirética. Foi um dos primeiros analgésicos a substituir os derivados de morfina. Em 1948, Julius Axelrod e Bernard Brodie descobriram que acetanilida provoca metahemoglobulinemia (é uma forma de hemoglobina que não liga-se ao oxigênio e em altas concentrações nas hemácias pode ocorrer uma anemia funcional e hipoxia em tecido) e danos ao fígado e aos rins. Atualmente é usado como um precursor na síntese da penicilina e outros fármacos, incluindo analgésicos e intermediários (FOX, M.A.; WHITESELL, J.K., 2004). A reação essencial dos ácidos carboxílicos e derivados é caracterizada pelo mecanismo de adição-eliminação nucleofílica que ocorre em seus átomos de carbono acílico (carbonila). O processo global no caso da substituição acílica ocorre pelo mecanismo de adição-eliminação nucleofílica (SOLOMONS, 2002). A acilação de uma amina é uma reação ácido base de Lewis, em que o grupo amino básico efetua um ataque nucleofilico sobre o átomo do carbono carboxílico. As amidas podem ser preparadas de várias maneiras, partindo de cloretos de acila, anidridos de ácido, ésteres, ácidos carboxílicos e sais carboxílicos. Todos estes métodos envolvem reações de substituição nucleofílica por amônia ou uma amina em um carbono acílico (SOLOMONS, 2002). Os diferentes métodos para a síntese de acetanilida possuem suas especificidades que devem ter cautela em sua produção. Ressalta-se a acetanilida, uma amida secundária, pode ser sintetizada através de uma reação de acetilação da anilina, a partir do ataque nucleofílico do grupo amino sobre o carbono carbonílico do anidrido acético, seguido de eliminação de ácido acético, formado como um subproduto da reação. A maior parte das reações de síntese necessita de separação e purificação adequadas do produto sintetizado. A recristalização é o método de separação utilizado para compostos cristalinos (SKOOG, 1996). Após sua síntese, a acetanilida purifica-se através de uma recristalização por meio de filtração, usando carvão ativo se for necessário. O carvão ativo atua adsorvendo as impurezas coloridas e retendo a matéria resinosa e finamente dividida. Para purificar a acetanilida dissolve-se pequena quantidade da mesma em solvente adequado e filtra-se por gravidade à quente, para remover impurezas sólidas, deixando o filtrado esfriar, após esfriar irá formar cristais. Os cristais formados devem ser filtrados à vácuo e depois secos sob ventilação. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hemoglobina http://pt.wikipedia.org/wiki/Oxig%C3%AAnio http://pt.wikipedia.org/wiki/Hem%C3%A1cia http://pt.wikipedia.org/wiki/Anemia http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipoxia No teste de confirmação, a acetanilida é insolúvel à solução de HCl, já a anilina é solúvel a esta solução. Isto ocorre devido a polaridade das moléculas, sendo anilina polar e acetanilida apolar. 2. OBJETIVOS O objetivo deste relatório foi realizar a preparação e a síntese da acetanilida através da reação de acilação da anilina com anidrido acético, em presença de ácido acético sendo feita a recristalização do produto e a obtenção de seu rendimento. 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os reagentes utilizados para a obtenção da acetanilida foram: Anilina; Ácido acético glacial; Anidrido acético; Água destilada; Gelo; Ácido clorídrico; Os materiais utilizados no procedimento experimental foram: Erlenmeyer; Suporte universal; Funil de Büchner; Becher; Kitassato; Chapa de aquecimento, estufa; Proveta; Garra; Placa de petri; Espátula, papel de filtro; Bomba à vácuo e mangueiras. Para a síntese de acetanilida, realizou-se a preparação para a reação de acilação, em que num erlenmeyer de 150mL adicionou-se 4,0mL de ácido acético seguido de 3,5mL de anilina, sob constante agitação. Posteriormente, adicionou-se 5,0mL de anidrido acético em três porções de aproximadamente 1,5mL cada, mantendo-se uma agitação constante. A reação de acilação processou-se rapidamente. Em seguida, a mistura reacional manteve-se em repouso por 10 minutos. Após o repouso, adicionou-se 60mL de água destilada fria para a formação de um precipitado, e ainda resfriou-se a mistura reacional em banho de gelo, conforme verifica-se na Figura 1. No mesmo recipiente contendo o banho de gelo adicionou-se um becker com água destilada para a utilização em etapa posterior. Figura 1 – Erlenmeyer com a mistura reacional e becker com água destilada, em banho de gelo. Na próxima etapa do procedimento, realizou-se a filtração do precipitado formado, em um funil de büchner sob bomba à vácuo. Lavou-se os cristais com água destilada gelada para a remoção de reagentes residuais ou produtos secundários da reação que são solúveis em água e/ou que são possíveis de serem eliminados na filtração. Necessitou-se de três porções de 10mL de água gelada, conforme demonstrado nas Figuras 2 e 3. Figura 2 – Precipitado formado com a adição de água destilada gelada. Figura 3 – Equipamento montado para a filtração do precipitado. O processo de recristalização começa após a secagem do produto. Em um bécker de 250mL aqueceu-se 100mL de água destilada, e em outro bécker colocou- se a acetanilida a ser recristalizada. Em seguida adicionou-se aos poucos a água quente sobre a acetanilida até que fosse totalmente dissolvida, utilizando uma menor quantidade de água possível (solvente), conforme a demonstrado na Figura 4. Figura 4 – Chapa de aquecimento contendo o produto dissolvido em água quente. Consegue-se visualizar com mais detalhes o produto se dissolvendo em água pelo aquecimento do mesmo na chapa de aquecimento, conforme demonstrado na Figura 5. Figura 5 – Detalhamento do produto sendo dissolvido em água quente. Posteriormente, resfriou-se com água destilada gelada a solução para a formação de cristais de acetanilida. Filtrou-se novamente em um funil de Büchner, através de um papel de filtro, conforme demonstrado nas Figuras 6 e 7. Em seguida, secou-se em temperatura ambiente e depois levou-se os cristais formados em uma placa de petri para secagem em estufa, conforme verifica-se na Figura 8. Figura 6 – Precipitação da acetanilida seguida de filtração em funil de Büchner. Figura 7 – Filtração: cristais de acetanilida após a lavagem com água destilada gelada. Figura 8 – Cristais de acetanilida secos ao ar, para posterior secagem em estufa. Ao final, realizou-se o teste de confirmação usando dois tubos de ensaio. No primeiro tubo, colocou-se alguns cristais de acetanilida e no segundo algumas gotas de anilina. A cada tubo adicionou-se 1mL de solução aquosa de HCl a 20%(v/v). Verificou-se a precipitação da acetanilida (tubo 1) e a solubilidade da anilina (tubo 2). Figura 8 – Obtenção do resultado comparativo: tubo 1 (precipitado) e tubo 2 (sal: NH3Cl). Calculou-se o rendimento da acetanilida após o produto permanecer por um tempo em secagem na estufa. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para compreender como ocorre a síntese de acetanilida, baseada nas reações e mecanismos conhecidos em sequência, consultou-se a literatura (SOLOMONS, 2002) para explicitar de forma detalhada a obtenção deste produto. A acetanilida pode ser obtida através da reação que se encontra representada na Figura 9. Figura 9 – Reação global para a formação da acetanilida. Os reagentes utilizados são fundamentais para a obtenção do produto. Como já evidenciado ao longo da introdução dorelatório, a anilina é uma amina básica ligada ao anel aromático, que atua como nucleófilo na reação, e o anidrido acético é protonado pela adição de ácido acético, o que possibilita torná-lo um melhor eletrófilo para a reação acílica. Este tipo de reação é de substituição nucleofílica acílica, em que o par de elétrons do nitrogênio da amina básica fazem um ataque ao carbono carbonílico (acílico) do anidrido acético, obtendo-se 3 formas de ressonância do mesmo, possibilitando o ataque do nucleófilo ao carbono carbonílico preferencialmente ou pelos oxigênios ligados ao mesmo carbono carbonílico, ambos estariam com carga parcial positiva nas formas de ressonância. O mecanismo da reação de síntese da acetanilida encontra-se apresentado na Figura 10. Deve ressaltar que o mecanismo abaixo está simplificado, partindo da ideia em que o ataque nucleofílico pela amina aromática será diretamente ao carbono carbonílico, entendendo que as outras duas formas de ressonância discutidas dos oxigênios não foram utilizadas no caso. E ainda ao mesmo tempo em que ocorre o ataque nucleofílico, o anidrido é protonado pelo ácido acético. Figura 10 - Mecanismo da reação de formação da acetanilida. A acetanilida pode ser obtida através de outros mecanismos e reagentes, entretanto possuem especificidades. Como exemplo, a anilina com cloreto de ácido, sintetiza o produto rapidamente com bom rendimento, porém é uma reação violenta e o ácido clorídrico formado, resulta em sal de cloridrato. E ainda, a reação da anilina com ácido acético glacial, possuem menor custo, entretanto requer longo tempo de aquecimento e a temperatura pode favorecer reações indesejáveis, além de possuir baixo rendimento. Algumas observações experimentais devem ser ressaltadas, considerando as informações obtidas acima. Para a preparação da acetanilida foi utilizado: anilina, ácido acético e anidrido acético, observou-se que a reação é bastante exotérmica, ou seja, ocorre a liberação de calor ao manipular o erlenmeyer, verificado pelo aumento da temperatura da vidraria. A primeira filtração conseguiu-se remover da acetanilida, os reagentes residuais solúveis ou os que podem ser removidos durante a filtração. A acetanilida formada demonstrou-se insolúvel em água fria, entretanto, consegue ser solubilizada em água quente, utilizada no processo de recristalização. Este método consiste em filtrar o produto, sob bomba à vácuo, após ser solubilizado em água à quente em pequena quantidade seguida de um resfriamento para a formação dos cristais. As impurezas são removidas na filtração, tornando o produto puro após esse procedimento, deixou-se esfriar ao ar e depois na estufa para obtenção de cristais brancos. Ao final, o teste de confimação de acetanilida foi fundamental para verificar a presença do composto no sólido obtido. Utilizou-se dois tubos de ensaio (contendo o produto obtido e anilina) e uma solução aquosa de HCl, percebeu-se que o tubo contendo precipitado confirma a presença de acetanilida no sólido e no outro a solubilização da anilina. Para compreender tais resultados, a polaridade dos compostos foi comparada, em questões de solubilidade. A anilina é uma amina aromática básica que possui par de elétrons disponíveis para abstrair o próton do ácido clorídrico, gerando um sal solúvel em água, conforme demonstrado na Figura 11. Figura 11 - Reação de formação do cloreto de anilinium. Entende-se que as amidas são menos básicas que as aminas, e ainda, a acetanilida não possui par de elétrons disponíveis para realizar essa deprotonação. Os elétrons do nitrogênio da acetanilida estão comprometidos por ressonância com o carbono carbonílico, que impede a ocorrência da desprotonação do ácido clorídrico, tornando-a insolúvel em solução aquosa. A massa obtida de acetanilida foi 2,275g, a partir desse valor, pode-se encontrar o rendimento do produto formado. Para o cálculo do rendimento, verificou- se o reagente limitante da reação, conforme o cálculo a seguir: 1 mol de anilina ---------- 1 mol de anidrido acético 0,038 mols de anilina ---------- x mols de anidrido acético x= 0,038 mols de anidrido acético 1 mol de anilina ---------- 1 mol de anidrido acético y mols de anilina ---------- 0,042 mols de anidrido acético y= 0,042 mols de anilina Para descobrir o limitante, fez-se a anilina e o anidrido acético como limitantes em cada caso, ao comparar com os volumes adicionados na reação, convertidos em mol, a anilina é o reagente limitante, pois conforme o volume adicionado equivalente a 0,038mols (3,57g), mas são necessários 0,042mols de anilina. Os cálculos de rendimentos serão feitos a partir da anilina. Utilizando a massa molar dos respectivos compostos, calcula-se: 93,13g de anilina ---------- 135g de acetanilida 3,57g de anilina ---------- z de acetanilida z= 5,18g acetanilida Entende-se que a massa obtida de acetanilida é o rendimento teórico (100%), ou seja, se toda a anilina se transformasse completamente em acetanilida, entretanto, isso não ocorre devido a impurezas e reações que não ocorrem conforme discutido ao longo deste relatório. Então através da massa obtida, consegue-se obter o rendimento real de produto 5,18g de acetanilida ---------- 100% de rendimento (teórico) 2,275g de acetanilida ---------- R% de rendimento (real) R= 43,91% rendimento (real). Verifica-se através dos cálculos demonstrados anteriormente, que o rendimento real obtido de acetanilida foi cerca de 43,91%, um rendimento satisfatório para o experimento, entende-se que erros experimentais como manuseio inadequado e contaminações do produto podem comprometer a eficiência do processo e a redução do rendimento do produto. 5. CONCLUSÃO Conclui-se que, foi possível a sintetização da acetanilida utilizando o anilina e anidrido acético como reagentes de partida em meio ao ácido acético, permitido pela reação de substituição nucleofílica acílica. O processo inicial com a mistura de reagente, gera uma mistura reacional isotérmica, que é perceptível na manipulação do erlenmeyer. Percebe-se que acetanilida obtida é insolúvel em água fria, foi possível realizar o método de recristalização, na qual conseguiu-se purificar o produto em água quente, removendo impurezas indesejáveis e que pode ser separada do produto final obtido. Ao final do experimento obteve-se um sólido cristalino de cor branca, sendo evidenciado no teste de confirmação, garantindo a apolaridade do composto em meio a soluções aquosas, como visto na presença de HCl. O rendimento da acetanilida foi cerca de 43,91%. De modo geral, obteve-se um rendimento satisfatório ao experimento, tendo a considerar possíveis erros no procedimento em seu manuseio que podem levar a redução do rendimento do produto. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FOX, M. A., WHITESELL, J.K. - Organic Chemistry - 2004 - 3rd edt. - Jones and Bartlett Publishers. - p, 524-525 SKOOG, D.A.; WEST, D. M.; HOLLER, F.J.; CROUCH, S.R.; Fundamentos de química analítica. 8ª ed. São Paulo: Learning , 2008. 999p. SOLOMONS, T. W. Graham; Fryhle, Craig B.; Química Organica 1, volume 2, 7ª edição, 2002, cap. 18.
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