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DOENÇAS CEREBROVASCULARES São subdivididos em três categorias principais: 1 – Trombose 2 – Infarto 3 – Hemorragia. Processos fisiopatológicos responsáveis: - Redução do suprimento de sangue (isquemia) - Redução da oxigenação do tecido cerebral (hipóxia). Os locais de acometimento incluem o parênquima, o espaço subaracnoide e o espaço subdural devido à ruptura dos vasos cerebrais. Os dois sistemas vasculares, carotídeo e vertebral, são integrados pelo Polígono de Willis. Artéria Cerebral Anterior: Corre em sentido antero- posterior ao longo do corpo caloso, dando ramos para o córtex da face interna e margem superior do hemisfério cerebral. Seu território é basicamente a metade superior da face medial do hemisfério, chegando ao corpo caloso e ao sulco parieto-occipital. Artéria Cerebral Média: É continuação direta da A. carótida interna, localiza-se na fissura de Sylvius, de onde dá vários pequenos ramos para os núcleos da base, que saem em ângulo reto diretamente do tronco da artéria. Em seguida, divide-se em cerca de 10 ramos que divergem à maneira de um leque para suprir a quase totalidade da convexidade dos hemisférios cerebrais. Artéria Cerebral Posterior: Contorna o mesencéfalo e se distribui pela face inferior do hemisfério cerebral (lobos temporal e occipital). Seu território inclue o tálamo, hipocampo e a área primaria de recepção visual na fissura calcarina (área 17 de Brodmann). Artérias Vertebrais e Basilar: Suprem o tronco cerebral através de ramos curtos e o cerebelo por três pares de vasos maiores – Aa cerebelares superiores, cerebelares anteriores inferiores e cerebelares posteriores inferiores. As duas primeiras são ramos da A. basilar. As Aa. cerebelares posteriores inferiores são ramos da Aa. vertebrais e suprem território maior que as outras (toda a metade inferior do cerebelo e parte do bulbo). PROCESSO DE ISQUEMIA NEURONAL E INFARTO: - Redução do fluxo sanguíneo reduz o fornecimento de oxigênio e ATP. - O H+ é produzido pelo metabolismo anaeróbico pela glicose disponível. - As bombas iônicas de membrana dependente de energia falham, levando a edema citotóxico e despolarização da membrana, permitindo a entrada de cálcio e liberação de glutamato. - O cálcio entra nas células através dos canais ativados por glutamato (NMDA) e ativa enzimas intracelulares destrutivas. - Destruição de organelas intracelulares e membrana celular, com liberação de radicais livres. - A liberação de ácidos graxos livres ativa as vias pró- coagulantes que exacerbam a isquemia local. - As células gliais captam H+, não conseguem mais captar o glutamato extracelular e sofrem morte celular, levando à necrose liquefativa de todo o território arterial. LESÃO HIPÓXICA GLOBAL Causas principais: - Parada cardíaca. - Choque cardiogênico. - Choque hipovolêmico. - Choque séptico. - Envenenamento crônico por monóxido de carbono. Complicações: - Atrofia cerebral: Causada pela apoptose de neurônios nas camadas 3, 5 e 6 do córtex cerebral. Produz necrose laminar (necrose em banda). Os neurônios são os mais suscetíveis a lesões por hipóxia (neurônios > oligodendrócitos > astrócitos > micróglia > células endoteliais). Os neurônios sofrem apoptose (neurônios vermelhos). - Infartos de zonas de borda (áreas mais suscetíveis na hipóxia): Ocorre nas junções dos territórios arteriais (junção entre a artéria cerebral anterior e artéria cerebral média). Clinicamente presente com fraqueza proximal bilateral de braços e pernas. Necrose laminar cortical: O córtex é substituído por uma faixa de tecido gliotico amarelo, mais evidente na parte superior do cérebro em comparação com os lobos temporais. Alteração hipóxica nas células cerebrais de Purkinje: Imagem em alta resolução mostrando células de Purkinje eosinofílicas no cerebelo com núcleos manchados e picnóticos indicando apoptose. Infarto de zona de borda: Infartos assimétricos da zona divisória da artéria cerebral anterior-artéria cerebral média, com áreas em forma de cunha de necrose antiga estendendo-se do córtex para a substancia branca profunda. ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Perturbação focal do fluxo sanguíneo para dentro ou para fora do cérebro, seja isquêmico (87%) ou hemorrágico (13%). Não uma única doença, mas o resultado final de muitos processos patológicos diferentes que levam à oclusão vascular (trombo sobre placa aterosclerótica) ou ruptura (ruptura de vasos lenticulostriados ou aneurismas saculares). Aumento da incidência com a idade; mais comum em homens do que mulheres. Principais tipos: 1 – Ataque isquêmico transitório (AIT) 2 – AVC isquêmico: Aterosclerose de grandes vasos (aa carótica e aa vertebrobasilar). Cardioembolismo. Vasculopatia de pequenos vasos (derrame lacunar). 3 – AVC hemorrágico: Hemorragia intracerebral (trauma com contusão em massa e laceração da superfície do cérebro, HAS com doenças de pequenos vasos, hemorragia subcortical após ruptura das artérias lenticuloestriadas, microangiopatia amiloide cerebral. Hemorragia associada a tumor (melanoma, glioblastoma (GBM) e metástases de tumores altamente vasculares). Causas infecciosas (aneurismas micóticos, infecções fúngicas angioinvasivas. Reperfusão de um infarto cerebral isquêmico (embólico). Ruptura de uma malformação arteriovenosa (MAV). 4 – Hemorragia subaracnóide (SAH). Fatores de risco: - História de um AVC anterior. - O próximo mais importante é a idade. - O fator de risco modificável mais importante é a hipertensão. - Os fatores de risco para AVC isquêmico incluem tabagismo, DM, HDL baixo, níveis elevados de triglicérides, fibrilação atrial (AVE embólico) e hipertensão (AVE hemorrágico). O aumento da lipoproteína de baixa densidade está mais intimamente associado à doença cardíaca. - Fatores de risco menos comuns: aneurismas, drogas ilícitas, estados hipercoagulaveis. A aterosclerose das artérias cerebrais não difere da de outras artérias. Tem alto grau de correlação com a retiniana. Geralmente estão envolvidas as artérias mais calibrosas: carótidas internas, cerebrais médias, vertebrais, basilar, cerebrais posteriores. Locais preferenciais de acometimento: pontos de bifurcação, curvaturas, pontos de fixação a estruturas rígidas. Artérias menores estão mais envolvidas em episódios embólicos. ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO Déficit neurológico de início abrupto causado pela interrupção do fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro, seguido pela resolução completa dos sintomas. Se a interrupção continuar por tempo suficiente, ocorrerá um derrame isquêmico. Tem duração inferior a 1h, com a maioria resolvendo em 5 a 15min. Os sintomas neurológicos devem ser causados por isquemia cerebral e não outras etiologias. Servem como um alerta para um AVC completo, com o primeiro maior risco de um AVC completo ocorrendo nas primeiras 72h a 2 semanas após o AIT (O risco de AVC ao longo da vida após um AIT é de 33%). Sinais e sintomas: fraqueza local, dormência, assimetria facial ou dificuldades de fala. AVE Isquêmico Tipo isquêmico de derrame causado por uma trombose plaquetaria que se desenvolve sobre uma placa aterosclerótica rompida, levando à oclusão do vaso e infarto. Tipo mais comum de AVC (87% dos casos). Locais mais comuns: a cerebral média, carótida interna próximo a bifurcação, basilar. MACROSCOPIA: O infarto cerebral clássico é anêmico e em forma de cunha (parte mais larga voltada para o córtex). Achados precoces: primeira evidencia é edema borramento dos limites entre a substancia branca e cinzenta, diminuição da consistência em cérebros fixados (áreas normais endurecem e infartadas continuam moles). Achados tardios: após uma semana, o infarto assume consistência de papa (necrose liquefativa). O material necrótico é gradualmente eliminado,restando cavidade de paredes irregulares, amareladas e de consistência mais firme, devida à gliose. A cavidade não é vazia, e sim atravessada por traves de tecido gliótico e vasos. Se o infarto for pequeno pode não haver formação de cavidade. Infarto anêmico recente (cerca de 1 semana) no território da A. cerebral média, no hemisfério que aparece a direita na foto. O tecido nervoso tem aspecto amolecido. Infarto anêmico recente no território da A. cerebral media. Na área do infarto o tecido nervoso tem aspecto amolecido e volume aumentado devido ao edema. Há diminuição do contraste entre a substância branca e a cinzenta. MICROSCOPIA: - Seis horas iniciais: necrose neuronal (picnose e eosinofilia do citoplasma) e assim permanecem por cerca de quatro dias, desaparecendo após. - Após 24 a 48h: Há tumefação das células endoteliais dos capilares. Surge exsudato de neutrófilos, logo substituído por monócitos e células da micróglia ativadas, que fagocitam os restos necróticos (citoplasma espumoso ou vacuolado – células grânulo-adiposas), que se tornam o elemento mais abundante nos dias e semanas seguintes. - A partir do quinto dia: São notados astrócitos gemistocíticos na margem da área infartada. Estes aumentam em número e volume, sintetizando abundantes fibrilas gliais. - Com o passar dos meses: Os astrócitos gemistocíticos se transformam em astrócitos fibrosos. Estes e as fibrilas gliais formam a cicatriz glial ou gliose, que resta como sinal permanente do infarto. Infartos antigos maiores, a partir de um certo diâmetro, são císticos, com gliose na parede; os menores mostram só perda de neurônios e gliose, sem formar cavidade. Em imunohistoquímica para GFAP, o centro da lesão, que corresponde a necrose, aparece em claro, porque aí os astrócitos foram destruídos. A periferia é mais corada, notando-se já neste aumento astrócitos hipertróficos (gliose). Em imunohistoquímica para CD68, o aspecto é oposto ao visto com GFAP. CD68 marca macrófagos, derivados da micróglia ou de monócitos do sangue. Estes são numerosos no centro da lesão, onde fagocitam restos necróticos. Não são notados nas áreas periferias não necróticas. Células endoteliais dos capilares na área lesada estão aumentadas em número, com tumefação nuclear e afrouxamento da cromatina. Os capilares passam a ser mais visíveis que o habitual. São macrófagos, oriundos de transformação de células da micróglia pré-existentes ou de monócitos do sangue. Fagocitam restos necróticos. Destacam-se pelo citoplasma róseo, de contorno arredondado e bem delimitado. Astrócitos gemistocíticos são astrócitos hipertróficos reativos à lesão, que formarão a cicatriz glial ou gliose. ACHADOS CLÍNICOS Artéria Cerebral Média – Hemiparesia contralateral (braço > perna) e perda sensorial na face e extremidade superior. Afasia expressiva ocorre se a área de Broca estiver envolvida (HE). Hemianopsia contralateral está presente. A cabeça e os olhos desviam para o lado da lesão cerebral. Artéria Cerebral Anterior – Hemiparesia contralateral e perda sensorial na extremidade inferior (perna > braço). Sistema Arterial Vertebrobasilar – Perda sensorial ipsilateral na face. Hemiparesia contralateral e perda sensorial no tronco e membros. Vertigem. Ataxia. AVE Embólico Tipo de acidente vascular cerebral isquêmico causado por embolização de um local distante, podendo ser hemorrágico. A maioria dos êmbolos se origina do lado esquerdo do coração – Trombos murais no VE após IAM, vegetações da válvula aórtica ou mitral, Fibrilação Atrial (estase). Trombose de carótida é um local menos comum de embolização. Embolização por “chuveiro” refere-se a êmbolos bloqueando numerosos vasos pequenos (embolia gordurosa, embolia pela FA). MACROSCOPIA: Infarto hemorrágico em uma ou mais áreas do cérebro. Os êmbolos são lisados (sistema fibrinolítico), resultando na restauração do fluxo sanguíneo – Isto pode ocorrer se o trombo que ocluiu o tronco principal da artéria sofrer dissolução parcial e for empurrado para frente, permitindo reirrigação da área proximal do território. A maioria ocorre na distribuição da ACM. A reperfusão do vaso após a lise do material embólico resulta em hemorragia na área de infarto – Enquanto o isquêmico resulta em um infarto pálido (sem reperfusão), o embólico resulta em um infarto hemorrágico (reperfusão). Os infartos localizados as causados por uma oclusão da artéria interna ou basilar ou de seus ramos principais. Infartos difusos, causados por hipoperfusão do cérebro, ocorrem em áreas de bacias hidrográficas e na forma de necrose laminar nas regiões mais internas da camada do córtex. A oclusão pode ser causada por trombose ou êmbolos. Infarto recente no território da A. cerebral média. A maior parte do infarto tem aspecto anêmico, mas houve transformação hemorrágica na região correspondente aos núcleos da base. Infartos hemorrágicos podem originar-se por trombose venosa ou arterial, neste caso, se houver reperfusão do território necrótico. A área de transformação hemorrágica em geral restringe-se ao córtex, por ser este mais vascularizado. Infarto antigo de grande parte do território da A. cerebral posterior. Em corte, a área de infarto é atrófica e houve dilatação ex-vacuo do corno posterior do ventrículo lateral. Infarto embólico hemorrágico. Infarto hemorrágico recente envolvendo a parte superior do lobo temporal, a ínsula e parte inferior do lobo frontal resultante de um êmbolo que é visível na artéria cerebral média (seta). AVE Lacunar AVE isquêmico caracterizado por áreas císticas de microinfarto no cérebro que tem < 1cm de diâmetro. Causados por arteriolosclerose hialina – É secundária a HAS ou DM. Síndromes de derrame associadas a infartos lacunares: 1 – Motores puros com ou sem disartria (fala lenta ou arrastada) – Ocorre se o ramo posterior da capsula interna está envolvido. 2 – Sensoriais puros – Ocorrem se o tálamo estiver envolvido. As setas mostram vários pequenos espaços císticos (necrose liquefativa) que são mais proeminentes nos gânglios da base. Seções sob essas lesões mostraram arteriolosclerose hialina. Arteriolosclerose hialina de pequenos vasos no cérebro de um paciente com AVC lacunar. HEMORRAGIA INTRACEREBRAL Tipo de AVE caracterizado por estresse imposto aos ramos dos vasos lentículoestriados. Mais frequentemente causado por estresse imposto aos vasos pela HTN. Menos comumente por aneurismas saculares. Ramos dos vasos lenticulostriatos desenvolvem microaneurismas de Charcot-Bouchard no cérebro. A ruptura dos microaneurismas resulta em hemorragia intracerebral (hematoma). Os hematomas intracerebrais empurram o parênquima cerebral para o lado oposto. LOCAIS MAIS COMUNS: Gânglios da base (35-50% dos casos ocorrem no putâmen). Tálamo (10% dos casos). Ponte e hemisférios cerebelares (10% dos casos). As hemorragias em fenda estão associadas à hipertensão. ACHADOS CLÍNICOS: Alterações no nível de consciência. Náusea, vomito e dor de cabeça. Convulsões e déficits neurológicos focais, os últimos dependendo do local do sangramento intracerebral. Um grande heatoma apaga os gânglios da base, com compressão do cérebro adjacente. Sangue nos ventrículos. Isso ocorre mais comumente na hipertensão mal controlada. Hemorragia pontina hipertensiva. A hemorragia se estende até a borda do IV Ventrículo e mostra os primeiros sinais de organização. HEMORRAGIA SUBARACNÓIDE A presença de sangue no espaço subaracnóide causado por um aneurisma sacular rompido (mais comum) ou sangramento de uma malformação arteriovenosa (menos comum). A ruptura libera sangue no espaço subaracnoide e cobre a superfície do cérebro. Aneurisma de Berry (sacular) – Aneurisma que se desenvolve em áreas de fraqueza empontos de bifurcação no círculo de Willis, onde o fluxo sanguíneo é mais turbulento. A maioria se desenvolve nas junções dos ramos comunicantes com a a. cerebral principal – as junções não tem lamina elástica interna e m. liso. Alguns usam o termo aneurisma sacular congênito, co o entendimento de que esses aneurismas não estão presentes no nascimento. Fatores de risco: Estresse hemodinâmico, presença de hipertensão, coarctação da aorta (aumento da pressão proximal nos vasos ramificados fora da aorta), aterosclerose. Menos comumente, a artéria basilar também pode estar envolvida. ACHADOS CLÍNICOS: Cefaléia Occipital de início súbito descrita como a “pior dor de cabeça de todas”. A rigidez nucal está presente devido ao sangue que irrita as membranas meníngeas. Cerca de 50% dos pacientes morrem logo após a hemorragia. COMPLICAÇÕES: Mais hemorragia (ressangramento). Hidrocefalia causada pelo bloqueio das vilosidades aracnoides ou bloqueio da saída do LCR do forame de Luschka e Magendie. Vasospasmo causando infartos isquêmicos tardios. Hiponatremia causada pela liberação de Fator Natriurético Atrial. Déficits neurológicos permanentes. O sangue no LCR é convertido em pigmento de bilirrubina (cor amarela ao LCR – xantocromia). Locais mais comuns de Aneurismas Saculares. Hemorragia subaracnoide maciça. A seção coronal do cérebro mostra HSA extensa, mais proeminente cobrindo o hemisfério cerebral esquerdo (setas) do que o direito. Observe como o sangue se estende para os sulcos. MALFORMAÇÃO ARTERIOVENOSA (MAV) Canais vasculares aberrantes de paredes espessas com tecido cerebral gliótico interveniente (alguns dos grandes vasos são arteriais). A maioria surge durante o desenvolvimento fetal. Pode ocasionar hemorragia intracerebral. Em alguns casos, o sangue pode se estender parar o espaço subaracnoide. TROMBOSE VENOSA SAGITAR SUPERIOR Tipo mais comum de trombose do seio venoso dural. É potencialmente devastador. Os fatores de risco incluem gravidez, depleção de volume, estados hipercoaguláveis e pancreatite. Como ocorre com toda trombose venosa cerebral, a apresentação é altamente viável, variando de assintomática a um curso rápido fulminante com hemorragia cerebral e morte. A apresentação inclui cefaleia (53%); convulsões (48%); hemiparesia ou paraplegia (48%); distúrbios visuais (25%) e rigidez nucal (18%).
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