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1 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Dermatoses Vésicobolhosas • Incluídos nas Doenças Imunobolhosas • Grande incômodo físico • Risco inerente de complicações • Elevado custo econômico A histologia da pele normal e as alterações nos pênfigos e penfigóides: Os ceratinócitos são as células da pele, os quais apresentam desmossomas e hemidesmossomas que irão garantir a adesão entre eles; As papilas dérmicas (derme invadindo epiderme) apresentam entre elas os cones interpapilares; Entre a epiderme e a derme há a zona de membrana basal (junção dermoepidérmica), que tem como função sustentar a epiderme sobre a derme; Principalmente nos pênfigos, via haver um ataque de autoanticorpos contra os acantos, que irão rompas as junções (acantólise) fazendo com que a pele fique aberta, sendo clinicamente expressa por vesículas e bolhas. Junção dermoepidérmica – composta por: polo inferior da membrana das células basais e seus hemidesmossomas, lâmina lúcida, lâmina densa, sublâmina densa. Desmossomo – composto por: membrana das células adjacentes, filamentos intermediários, placa de adesão intracelular, desmogleína e desmocolina (fazem as células se mover). Hemidesmossomo – composto por: membrana da célula basal, filamentos intermediários, placa de adesão intracelular, integrinas, colágeno XVII, fibrilas de ancoragem, colágeno III, IV e VII, laminina 5. Clivagem é abertura. Ocorre as custas da acantólise; A clivagem vai levar à formação da vesico-bolha; Pênfigo foliáceo: nível de ataque é mais superficial; Pênfigo vulgar: nível de ataque mais profundo; Penfigoides são os mais profundos de todos – na junção dermoepidérmica. 2 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Pênfigos • Grupo de doenças bolhosas autoimunes da pele e mucosas; • Característica comum: presença de bolhas intraepidérmicas; • Formação das bolhas: perda da coesão dos queratinócitos da camada de Malpighi - espinhosa (acantólise); • Mecanismo autoimune: presença de anticorpos IgG intercelulares. Pênfigo Vulgar • Doença autoimune, onde autoanticorpos IgG estão direcionados contra a caderina desmossômica chamada desmogleína 3 (dsg 3), podendo ocorrer na desmogleína 1 também; • Forma de pênfigo mais frequente; • Ocorre, em geral, em adultos (4ª e 6ª década); • Prevalência em ambos os sexos; • Prevalência de HLA-DR4 e DQw8 – susceptibilidade genética; • Mais comum em pessoas de origem mediterrânea; • Bolhas flácidas, frágeis e fugazes (lesão primária), ocorrendo em qualquer área do tegumento; • Lesão mais comum: placas erosadas e dolorosas com cicatrização lenta, levando a escamo-crostas e vegetações; • Compromete as mucosas, pois a desmogleína 3 é muito frequente em mucosas. Se a lesão é na pele, pode ocorrer também por comprometimento da desmogleína 1; • Em 50% dos casos, inicia-se com lesões exulceradas na mucosa oral, podendo ser confundidas com afta. Paciente queixa-se de surtos de afta. Sinal de Nikolsky • Deslizamento da pele aparentemente normal, ao redor da área comprometida, pela leve fricção com a ponta do dedo; • Indica existência de acantólise; • Recurso diagnóstico dos pênfigos, embora não patognomônico. O rompimento dessas bolhas deixa uma área erosada/exulcerada, sangrante, dolorosa; Essas lesões podem ter um odor característico: “cheiro de rato”. 3 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Imagem 2: não confundir essas placas esbranquiçadas com candidíase. Esses esbranquiçado é o teto da bolha. Lembrar que a Desmogleína 3 é ESPECÍFICA de mucosas. Imagem 2: é uma variante do pênfigo vulgar – pênfigo vegetante: forma vegetações. Placas erosadas, sangrantes e dolorosas; São bolhas fugazes que se rompem e formam essas placas erosadas; Acometimento de mucosas; 4 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Diagnóstico: Citologia pelo método de Tzanck Só consegue diagnosticar que é pênfigo, mas não consegue especificar se é vulgar ou foliáceo. Biópsia Cutânea • Possibilita o exame histopatológico: confirmação diagnóstica; • Escolha da lesão adequada: bolhas recentes e área perilesional; • Técnica apropriada para a coleta do espécime – utiliza bisturi; • Solução adequada para conservação (formol - histologia; salina - imuno-histoquímica). Exame Histopatológico • Depende da coleta do espécime adequado; • Baseia-se no reconhecimento de padrões arquiteturais ou de microrganismos; • Pode fornecer um diagnóstico conclusivo; • Descarta hipóteses ou ainda acrescenta outras. Histopatologia do pênfigo vulgar: bolha intraepidérmica baixa com células acantolíticas, logo acima da camada basal (suprabasal), acomete um pouco da camada de Malpighi. Imunofluorescência direta e indireta • Imunofluorescência direta: depósitos de IgG em toda a epiderme; • Imunofluorescência indireta: depósitos de IgG - desmogleína 3 em todo o epitélio. Detalhe da base da bolha, com células da camada basal (fileira de lápides). Pênfigo vegetante – presença de vegetações e placas erosadas (vai estar em algum local). É uma variação do pênfigo vulgar. 5 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Tratamento: • Paciente deve ser internado, pois ele vai fazer uso de corticoides em altas doses; • Antes do uso dos corticoides, o pênfigo vulgar era fatal; • A infecção é a principal causa de morte; • Tratamento: o Corticoides (prednisona) associado a imunossupressores (para minimizar os efeitos colaterais) a longo prazo e em altas doses (deve ser feito dose de manutenção); o Associações terapêuticas; o Plasmaférese. Pênfigo Foliáceo • Doença autoimune, em que autoanticorpos IgG estão direcionados contra a caderina Desmossômica chamada de desmogleína-1 (dsg-1); • São divididos em 2 subtipos: Pênfigo foliáceo de Cazenave: Ocorre, em geral, em adultos (5ª a 6ª décadas); Ambos os sexos, sem predomínio racial ou étnico; Fogo Selvagem (Pênfigo foliáceo endêmico/brasileiro): Adultos jovens e crianças, com ocorrência familiar – geneticamente determinado; Maior prevalência em áreas rurais do Brasil (SP, PR, MG); Ao longo das margens de rios, devido a picadura constante do mosquito Simulium nigrimanum. Essa picadura constante deflagra a IgG em um paciente geneticamente predisposto (deflagrador da autoimunidade); A incidência diminui com a urbanização; • Bolhas frágeis, pequenas e discretas (lesão primária); • Lesão mais comum: erosões, crostas e descamação sobre base eritematosa; • Inicia-se pelo couro cabeludo, rosto e tronco superior – acomete as áreas ditas como seborreicas; • Inicia-se com um quadro localizado >> generaliza ao longo dos anos, pois o indivíduo vai tendo surtos >> transforma-se em eritrodérmico (mais grave); • Sensação de ardência; • Piora com a exposição solar; • Não compromete mucosas. 6 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Diagnóstico: • Histopatologia: bolha intraepidérmica alta com células acantolíticas, logo abaixo da camada córnea, no início da granulosa; • Imunofluorescência direta: depósitos de IgG em toda a epiderme; • Imunofluorescência indireta: depósitos de IgG - desmogleína 1 em todo o epitélio. Tratamento: • Antes do uso dos corticoides o pênfigo foliáceo era fatal em 60% dos casos; • A infecção é a principal causa de morte; • Tratamento: o Corticoides (prednisona) associado a imunossupressores (para minimizar os efeitos colaterais) a longo prazo e em altas doses (deve ser feito dose de manutenção); o Associações terapêuticas; 7 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. o Plasmaférese. Tratamento dos Pênfigos em geral O que mais podemos ver é um médico não conseguindo tratar o pênfigo, pois inicia-se uma dose BAIXA de corticoide e vai alterando essa dose. Isso não é o certo. Deve começar com doses ALTAS e ir diminuindo. É agressivo. Não raro, inicialmenteé necessário internação. Nas fases graves da doença, iniciamos com Prednisona (1- 2mg/kg/dia, sobretudo para Penfigo vulgar), por no mínimo 6 semanas – dose de ataque. A dose deve ser aumentada em 40-60mg se não houver resposta clínica após 14 dias. Depois de 6 semanas as doses devem baixar gradualmente (exemplo:10mg) a cada (7-21 dias) até uma dose de manutenção – vida toda. Geralmente o paciente acaba suspendendo o uso crônico da Prednisona, sendo muito prejudicial no curso da doença do pênfigo foliáceo, pois ele pode evoluir para a fase eritrodérmica, sendo muito mais difícil o tratamento. Penfigoides • Penfigóide Bolhoso; • Penfigóide Cicatricial; • Dermatite Herpetiforme – não tem nada a ver com herpes. Apresenta apenas um arranjo parecido; • Penfigóide Gestacional. Penfigóide Bolhoso • Doença autoimune, em que os autoanticorpos IgG estão direcionados contra componentes hemidesmossômicos dos queratinócitos basais – BP 230 (BP Ag 1) e BP 180 (BP Ag 2); • Afeta quase sempre idosos (+ de 60 anos); • Não há predileção sexual, racial ou étnica; • Lesão mais comum: bolha grande e tensa na pele normal ou sobre base eritematosa – NÃO TEM SINAL DE NIKOLSKY; • Bolhas com conteúdo claro ou hemorrágico; • Mais comuns: abdome inferior, coxas e antebraços. Ocorre muito nas pregas – entre as pernas, axila;z • Erosões tem tendência a reepitelização; • Placas eritematosas e urticariformes; • Lesões mucosas (oral) são raras. 8 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Diagnóstico: • Histopatologia: bolha subepidérmica com infiltrado eosinofílico na derme; • Imunofluorescência direta: marcação linear da zona da membrana basal com IgG e C3; • Imunofluorescência indireta: depósito linear de C3 ao longo da zona de membrana basal em 100% dos casos e IgG em 90% dos casos; • Doença autolimitada, com evolução habitual de meses a anos; • Potencialmente fatal em idosos debilitados; Tratamento: • Corticoides sistêmicos (Prednisona 40-80mg/dia, com retirada mais rápida que nos Pênfigos); • Imunossupressores; • Quadros localizados: corticoides locais (tópico); • Resposta eventual: dapsona, tetraciclina e niacinamida, etc. Penfigóide Cicatricial • Doença autoimune, em que autoanticorpos IgG estão direcionados contra um componente hemidesmossômico dos queratinócitos basais – BP 180 (BP Ag 2); • Doença bolhosa rara e crônica; • Afeta quase sempre idosos (+ de 60 anos); • Mulheres são mais afetadas (2:1); • Não há predileção racial ou étnica; 9 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. • Lesões orais: prevalência de HLA-DR4 e DQw7; • Forma ocular e oral: HLA-DQB1; • Lesões erosivas das mucosas e pele que resultam em cicatrizes, predominando na mucosa oral e conjuntiva; • A pele é afetada em 1/3 dos pacientes, em geral no segmento cefálico e tronco superior; • Mucosa: bolhas tensas que se rompem facilmente e erosões; • Pele: vesículas e bolhas sobre base eritematosa e evoluem para pequenas pápulas crostosas. Diagnóstico: • Histopatologia: bolha subepidérmica com infiltrado inflamatório com predomínio de mononucleares, histiócitos e plasmócitos; • Imunofluorescência direta: depósito linear da zona da membrana basal com IgG e C3; • Imunofluorescência indireta: presença eventual de IgG ao longo da zona de membrana basal; 10 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Tratamento: • Evolução crônica e progressiva com formação de cicatrizes; • Mucosa oral: perda tecidual e complicações dentárias; • Conjuntiva: risco de cegueira; • Outras mucosas: dificuldades digestivas, respiratórias, etc. • Tratamento: o Corticoides tópicos; o Corticoides orais; o Imunossupressores; o Dapsona – sulfa (pode ser que funcione). Dermatite Herpetiforme • Doença de Duhring-Brocq; • Doença autoimune, em que autoanticorpos IgA estão direcionados contra fibrilas de ancoragem da derme papilar, abaixo da lâmina basal; • Doença bolhosa associada a enteropatia sensível ao glúten (cevada, trigo, centeio); • Prevalência de HLA-B8, DR3 e DQw2; • Caucasianos: 10 a 39 / 100.000 pessoas; • Maior incidência entre 2ª e 4ª década; • Ambos os sexos; • Vesículas e pápulas eritematosas confluentes (arranjo herpetiforme). Evoluem com crostas, hipo e hiperpigmentação. Em geral, há prurido intenso; • Distribuição simétrica nos cotovelos, joelhos, nádegas, ombros e região sacra; • Lesões orais são raras. Diagnóstico: • Histopatologia: Clivagem subepidérmica com infiltrado inflamatório predominantemente neutrofílico na derme – nas papilas dérmicas; • Imunofluorescência direta: depósito granuloso de IgA na derme papilar. • Imunofluorescência indireta: achado irregular de IgA. 11 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Tratamento: • O acometimento intestinal tem correspondência ao cutâneo, oscilando de cólicas recorrentes inespecíficas e até síndrome de má-absorção; • Tratamento o Dapsona 100-200mg/dia com manutenção 25 mg/dia; o Dieta isenta de glúten importantíssima. Protetora contra Linfomas; o Corticoides exacerbam a doença. Penfigóide Gestacional • Herpes gestacional; • Doença autoimune, em que autoanticorpos IgG estão direcionados contra um componente hemidesmossômico dos queratinócitos basais – BP 180 (BP Ag 2); • Doença bolhosa rara e polimórfica; • Ocorre na gravidez e pós-parto; • Não é correlacionada com infecção viral; • Mucosas não costumam ser afetadas; • Prevalência de HLA-B8, DR3, DR4 e DRB1; • Polimorfismo lesional; • Prurido moderado a intenso; • Máculas eritematosas, placas urticadas, vesículas e bolhas grandes e tensas que evoluem com áreas erosadas e crostas; • Lesões confluentes (arranjo herpetiforme); • Início em torno do umbigo, espalhando-se para o abdome, tórax, face, nádegas, palmas e plantas. 12 HELOÁ SANTOS – MED99 DERMATOLOGIA – P2. Diagnóstico: • Histopatologia: Clivagem subepidérmica e presença de infiltrado inflamatório com predomínio de eosinófilos • Imunofluorescência direta: Fluorescência de C3 contínuo, com ou sem IgG na ZMB; • Imunofluorescência indireta: presença do fator HG (fator de fixação do complemento) – fator de penfigoide gestacional. Penfigoide gestacional: A doença pode exacerbar ou recidivar na 1ª menstruação ou pelo uso de contraceptivos orais; O acometimento cutâneo do recém-nato é raro, mas deve ser avaliado para baixo peso e insuficiência adrenal. Tratamento: • Anti-histamínicos; • Corticoides tópicos e orais; • Imunossupressores (pós-parto); • Resolução espontânea no puerpério em geral.
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