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Samara Pires- MED25 Bioquímica Médica Fontes: LEHNINGER. “Princípios de Bioquímica”, 7ª ed; HARPER. “Bioquímica Ilustrada”, 30ª ed. Aminoácidos 1. Introdução, importância médica e conceito • Todos os 20 tipos de aminoácidos comuns são α-aminoácidos; • São formados por um grupo carboxila e um grupo amino ligado ao mesmo átomo de carbono, denominado carbono α; • Os aminoácidos diferem uns dos outros pela cadeia lateral, denominada grupo R, que varia em estrutura, tamanho e carga elétrica e afeta a solubilidade dos aminoácidos em água; • Quando alguma proteína muda algumas de suas características após a sua formação (modificações pós-traducionais), ela pode receber aminoácidos adicionais ou cadeias orgânicas, por meio, por exemplo, da acetilação, metilação, fosforilação etc. Isso pode tornar suas propriedades distintas, por exemplo, no que tange à solubilidade, à atividade catalítica, entre outros. A transformação da peptidil-lisina em 5-hidroxilisina ocorre por meio desse processo; • Em todos os aminoácidos comuns, exceto na glicina, o carbono α está ligado a quatro grupos diferentes: um grupo carboxila, um grupo amino, um grupo R e um átomo de hidrogênio (na glicina, o grupo R é outro átomo de hidrogênio); • A partir dessa configuração, com exceção da glicina, pode-se observar que o carbono α é um centro quiral, o que evidencia o fato de os aminoácidos serem enantiômeros, uma vez que representam imagens espelhadas, mas não sobreponíveis entre si. Todas as moléculas com um centro quiral são também opticamente ativas, já que são capazes de mover o plano da luz polarizada para a esquerda ou para a direita; • Vale lembrar que os L-aminoácidos não necessariamente são levorrotatórios. A convenção L e D refere-se apenas à configuração absoluta dos quatro substituintes em torno do carbono quiral, e não às propriedades ópticas da molécula; Obs.: na escrita de uma molécula L ou D, as linhas sólidas em forma de cunha são representativas de uma ligação que sai para fora do plano do papel, enquanto as tracejadas, de uma ligação que está atrás do plano. Entretanto, supõe-se que as ligações horizontais se projetam para a frente do plano do papel, e as ligações verticais, para trás. Samara Pires- MED25 • As células são capazes de sintetizar especificamente os isômeros L de aminoácidos, porque os sítios ativos de enzimas são assimétricos, tornando estereoespecíficas as reações por elas catalisadas; • Todas as proteínas contêm carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio e quase todas apresentam ferro, zinco, fósforo e enxofre; • Os resíduos de aminoácidos presentes nas moléculas de proteínas são exclusivamente isômeros L. As proteínas da natureza são quase que totalmente formadas por isômeros L (exceto alguns pequenos peptídios de paredes da célula de bactérias gram-positivas, por exemplo), os quais correspondem a códons do código genético. Esse código, por sua vez, é degenerado ou redundante, pois um aminoácido frequentemente corresponde a mais de uma trinca. Todas as proteínas existentes são produzidas a partir dos 20 aminoácidos diferentes que há na natureza. A partir desses blocos de construção, os diferentes organismos podem gerar produtos tão diversos, como enzimas, hormônios, anticorpos, transportadores, fibras musculares, proteínas do cristalino dos olhos, penas, teias de aranha, chifres de rinocerontes, proteínas do leite, antibióticos, venenos de cogumelos e uma ampla variedade de outras substâncias com atividades biológicas as mais diversas. No momento da formação de uma proteína, ocorre uma reação de condensação entre dois aminoácidos, por isso que, ao tratar das características de um peptídeo, afirmamos que ele é formado por cada um dos resíduos de aminoácidos, o que indica que houve a perda de elementos de água na formação da ligação covalente. 2. Classificação dos aminoácidos Classificação de acordo com o grupo R, principalmente a partir da polaridade ou tendência de interagir com a água em pH biológico (próximo ao pH 7). Dentro dessa divisão, pode-se agrupar os aminoácidos observando as características da cadeia de seus grupos R. Samara Pires- MED25 3. Propriedades dos grupos funcionais dos aminoácidos Os aminoácidos apresentam carga devido à presença de seus grupamentos amino e carboxila, sendo que ambos frequentemente estão na forma protonada em pH baixo (NH3+ e COOH) e na forma desprotonada em altos valores de pH, como (NH2 e COO-). No pH fisiológico (7,4), o grupamento carboxila existe quase que totalmente na forma R-COO- e o amino, na forma R- NH3+. Por conseguinte, a carga líquida total do aminoácido é zero, pois ambas se anulam e, nesse valor de pH, a molécula assume um estado denominado zwitterion. Esse é um exemplo de espécie isoelétrica, pois a molécula resultante é neutra do ponto de vista elétrico. Substâncias capazes de formarem ácidos/bases, como os aminoácidos, são chamadas de anfotéricas ou anfólitos. O pKa é outra propriedade dos ácidos que expressa a força de dissociação dos prótons. Assim, a carga líquida de um aminoácido, que é a resultante da soma de todas as cargas, depende desse valor nos grupamentos funcionais e do pH do meio adjacente. → pI ou pH isoelétrico É o pH a meio caminho entre os valores de pK para a ionização em ambos os lados das espécies isoelétricas. No caso da alanina, por exemplo, que apresenta apenas dois grupos dissociáveis, o COOH e o NH3+, o pI é definido como a média aritmética entre os dois pKas das espécies. Para ácidos polipróticos, a regra é a mesma. Abaixo, está representado o cálculo do pI da alanina e, em vermelho, a fórmula para chegar ao resultado. • O pI define o pH em que o aminoácido apresenta carga líquida nula, uma vez que as cargas positivas e negativas dos grupos ionizáveis somadas resultam em um valor de zero. → pKa O pKa depende de diversos fatores. O ambiente em que se encontra a molécula do aminoácido influencia seu pH, pois é capaz de aumentar ou diminuir o valor do pKa. Em um meio apolar, o pKa do grupo carboxila aumenta, tornando-o um ácido mais fraco (lembre-se de que, quanto maior for o valor do pKa, mais fácil será dissociar o próton de uma molécula, isto é, mais Samara Pires- MED25 fraca ela será). Consequentemente, nesse mesmo meio, o pKa do grupo amino diminuirá, tornando- o mais forte. A própria localização dos aminoácidos na molécula peptídica influencia o pKa de sua cadeia lateral, porque surge uma grande diferença em relação ao aminoácido na solução aquosa e no sítio ativo de uma enzima, por exemplo. → Outras propriedades • Solubilidade: solúveis em solventes polares e insolúveis em solventes apolares; • São sólidos, cristalinos e incolores. Exceção: a tirosina, a fenilalanina e o triptofano absorvem luz ultravioleta com elevado comprimento de onda; • Apresentam poder tamponante. 4. Curva de titulação dos aminoácidos e a relação com pI, tampão e pKa Para explicar essa parte, usaremos como exemplo o aminoácido glicina. Ela apresenta dois grupos ionizáveis: o -COOH e o NH3+, os quais, na titulação, são desprotonados, porque, com a adição de uma base forte (NaOH, por exemplo), ocorre a “perda” do H+ de ambas as espécies, pois o OH- atrai esse grupo. Nesse processo, surgem algumas fases: i. pH muito baixo: ambos os grupos estão protonados, afinal, há grande concentração de H+; ii. Primeiro estágio: o grupo -COOH da glicina perde o próton. No ponto médio desse estágio, as concentrações do doador de prótons, +H3N-CH2-COOH, e do aceptor de próton, +H3N-CH2-COO-, estão iguais. Nesse ponto médio, o pH é igual ao pKa do COOH; iii. Ponto de inflexão: estágio em que o pH é igual ao pI e, consequentemente, a maior parte da molécula está no estado de zwitterion. Nesse ponto, a remoção do primeiro próton está completa e a do segundo apenas começou; iv. Segundo estágio:o grupo -NH3+ da glicina perde o próton, tornando-se NH2. No ponto médio, o pH é igual ao pKa do -NH3+. v. A titulação se completa e a forma predominante da glicina passa a ser H2N-CH2-COO-. Isso ocorre em um pH aproximado de 12. As regiões em azul são as de poder tamponante. Samara Pires- MED25 A curva de titulação nos permite: • Saber o pKa dos grupos ionizáveis de um aminoácido; • Saber o ponto de tamponamento do aminoácido, o qual ocorre nos pontos em que o pH é igual ao pKa dos grupos ionizáveis. Neles, pode-se usar a equação de Henderson- Hasselbach; • Saber o ponto isoelétrico ou pH isoelétrico, em que a carga elétrica líquida da molécula é zero. 5. Aminoácidos essenciais e não essenciais Os aminoácidos não essenciais são aqueles produzidos pelo nosso organismo, já os essenciais, os que não podem ser sintetizados pelo organismo: histidina, arginina, leucina, lisina, isoleucina, metionina, fenilalanina, triptofano, treonina e valina. Podem ser obtidos por meio da alimentação, seja de origem animal, como carnes magras, ovos, leite e seus derivados, seja de origem vegetal, como o grão-de-bico, a soja, alguns feijões, trigo-sarraceno, quinoa, amaranto, sementes de cânhamo, pistache, lentilha e arroz integral. Peptídios 1. Introdução e conceito Duas moléculas de aminoácidos podem ser ligadas por ligação covalente por meio de uma ligação amida substituída, denominada ligação peptídica. Nesse caso, ocorre desidratação do grupo α- carboxila de um aminoácido e de um grupo α-amino de outro, o que caracteriza uma reação de condensação. Os grupos amino e carboxil são polares e formam pontes de hidrogênio. • A cadeia peptídica é linear e não ramificada; • A extremidade N- terminal (aminoterminal) é colocada à esquerda e a C-terminal (carboxiterminal), à direita; Samara Pires- MED25 • As reações de hidrólise de uma ligação peptídica são exergônicas, mas apresentam elevada energia de ativação. 2. Classificação a) Oligopeptídio: formado por um número pequeno de aminoácidos que se unem para formar um peptídio (até 10 unidades, por exemplo); b) Polipeptídio: número maior de aminoácidos que se unem para formar um polipeptídio. Ambos os grupos são classificados como peptídios, pois sua massa molecular é abaixo de 10.000, mas, para massas moleculares mais elevadas, as moléculas são denominadas proteínas. Assim como os aminoácidos livres, os peptídeos têm curvas de titulação características e um pH isoelétrico característico (pI), valor de pH no qual ele não se desloca quando submetido a um campo elétrico. a) Proteínas de multissubunidade: apresentam mais de um polipeptídeo agrupado por meio de ligações não covalentes. Exemplo: enzima lactato-desidrogenase, que é um tetrâmero. Proteína oligomérica: nome dado às proteínas que possuem mais de uma unidade de cadeia polipeptídica. Duas dessas cadeias polipeptídicas podem ser idênticas. Essas unidades iguais são chamadas de protômeros. Exemplo: a hemoglobina possui 4 subunidades, sendo duas duplas com polipeptídios iguais. Portanto, ela é um dímero de protômeros αβ. Classificação quanto à constituição: a) Proteínas simples: apresentam apenas resíduos de aminoácidos. Ex.: quimotripsina; b) Proteínas conjugadas: contêm componentes químicos permanentemente associados. Elas apresentam, nesse caso, um grupo prostético. Ex.: lipoproteínas, metaloproteínas, glicoproteínas. Proteínas • Geralmente, o efeito hidrofóbico predomina nas interações fracas das proteínas; • As cadeias laterais da sequência de aminoácidos apresentam um número significativo de grupos hidrofóbicos, principalmente triptofano, valina, leucina, isoleucina; • O interior da proteína geralmente apresenta um núcleo compacto de cadeias hidrofóbicas, enquanto o exterior é predominantemente formado por cadeias hidrofílicas; • Interações das proteínas: pontes de hidrogênio, interações dipolo induzido, forças de van der Waals (fracas, pouco contribuem para a estabilidade geral da proteína, mas são importantes na interação com outras moléculas). 1. Estrutura • Primária: sequência de aminoácidos em uma cadeia polipeptídica. O número, a ordem e a natureza dos aminoácidos são específicos para cada proteína. Essa estrutura é formada por meio de ligações covalentes; Samara Pires- MED25 • Secundária: o dobramento em segmentos curtos; • α- hélice: é estabilizada por meio de ligações de hidrogênio entre o oxigênio da carbonila e o átomo de hidrogênio ligado ao nitrogênio da ligação peptídica. Os grupos R de cada resíduo aminoacil da α- hélice ficam voltados para fora. • α- hélice anfipáticas: apresentam grupos R hidrofílicos e hidrofóbicos que se projetam para lados opostos da cadeia; • Folha β: os resíduos de aminoácidos de uma folha β, quando visualizados na borda, formam um padrão de zigue-zague ou pregueado, no qual os grupamentos R dos resíduos adjacentes apontam em direções opostas. A estabilidade da folha β resulta de ligações de hidrogênio entre os segmentos adjacentes da folha. • A folha β pode ser paralela ou antiparalela. No primeiro caso, os segmentos adjacentes das cadeias polipeptídicas prosseguem na mesma direção (de N- terminal para C-terminal). No segundo caso, eles são organizados em direções opostas. • A conformação β é mais estável quando está torcida para a direita em cada um dos segmentos. Essa torção determina uma estrutura distinta, como o barril β e a folha torcida. • Motivos, enovelamento ou estrutura supersecundária: são estruturas de hélice-alça-hélice que estão em apenas uma parte da proteína e que caracterizam intermediários da estrutura secundária e da terciária. Constituem sítios acessíveis para as diversas funções proteicas. A maior parte das alças são estabilizadas por ligações de hidrogênio, pontes salinas e interações hidrofóbicas com outras porções da proteína. Além disso, sobre as alças especificamente, pode-se afirmar que contêm resíduos além da quantidade mínima necessária para conectar regiões adjacentes. • Um motivo também pode ter uma estrutura bem elaborada, formando grande número de segmentos proteicos juntos (é o caso do barril β). • Terciária: reunião das unidades estruturais secundárias em unidades funcionais maiores, como o polipeptídio maduro e seus domínios componentes. Ela determina como as características estruturais secundárias, como hélices, folhas, dobras, curvaturas e alças, são organizadas tridimensionalmente. Assim, ocorre a formação de domínios, os quais são definidos como uma seção da estrutura proteica capaz de realizar determinada tarefa física ou química. Há proteínas menores que apresentam apenas um domínio, enquanto outras podem possuir mais de um. • Os domínios não necessariamente se ligam a substratos, pois podem ancorar proteínas nas membranas ou possibilitar a travessia delas nas membranas. Nesse caso, esses são os domínios de membrana hidrofóbicos. • Proteínas fibrosas: cadeias polipeptídicas arranjadas em longos filamentos ou folhas. Geralmente, são formadas por um único tipo de estrutura secundária e a estrutura terciária é relativamente simples. Elas são adaptadas às funções estruturais e são hidrofóbicas. Exemplos: α-queratinas (pelos, cabelos, unhas, garras, penas, chifres), colágeno (tendões, Samara Pires- MED25 cartilagens, matriz orgânica dos ossos, córnea dos olhos) e elastina (encontrada nos pulmões nas paredes das grandes artérias e nos ligamentos elásticos). • Proteínas globulares: cadeias polipeptídicas enoveladas em forma esférica ou globular. Geralmente, apresentam vários tipos de estruturas secundárias, têm uma forma mais compacta e estão presentes em enzimas, em proteínas transportadoras, em proteínas motoras, em imunoglobulinas e em proteínas reguladoras. Elas são ricas em motivos, em estruturas supersecundárias e em domínios distintos. Ex.: actina. • Quaternária: número e tipos de unidades polipeptídicase seus arranjos espaciais. Ela define a composição polipeptídica de uma proteína e, caso ela seja formada por mais de uma subunidade (proteína oligomérica), organiza as relações espaciais entre cada monômero. Os homodímeros são formados por duas cópias da mesma cadeia polipeptídica, já os heterodímeros, compostos por unidades diferentes. • Interações que estabilizam as estruturas terciária e quaternária: geralmente, essa estabilização ocorre por meio de interações não covalentes. Como exemplo, as interações hidrofóbicas (que organizam as cadeias para o interior da proteína, longe do contato com a água, por exemplo), as ligações de hidrogênio, as pontes salinas e as ligações dissulfeto covalentes, que ligam os grupamentos sulfidrila aos resíduos cistenil e necessitam de oxigênio (podem estabilizar a conformação externa de uma proteína ou a conformação interpolipeptídica, no caso de proteínas oligoméricas). • Dobramento proteico • Sob condições laboratoriais apropriadas, muitas proteínas se dobrarão novamente depois de serem desnaturadas; • Chaperonas: participam do dobramento da maioria das proteínas dos mamíferos. Uma das famílias das chaperonas é donominada chaperoninas. Essas proteínas atuam criando um ambiente adequado e protegido do solvente para a conformação da proteína, a fim de que todas as regiões se dobrem e haja a organização adequada dos grupos hidrofóbicos no interior da cadeia. 2. Desnaturação e enovelamento das proteínas Uma perda na estrutura tridimensional que possa ocasionar perda da função é chamada de desnaturação. Os agentes da desnaturação incluem o calor, que afeta as ligações de hidrogênio que estão na cadeia proteica, as mudanças de pH, alguns solventes orgânicos miscíveis, como o álcool ou a acetona, alguns solutos, como ureia, e detergentes. Nesse caso, não há rompimento das ligações covalentes que formam a estrutura primária, mas sim das interações que constituem as outras estruturas. Outro sinal observado é a precipitação da proteína. a) Desnaturação reversível: algumas proteínas desnaturadas por certos agentes são capazes de restituir sua conformação nativa, por meio de um processo denominado renaturação. Ex.: a ribonuclease volta à sua conformação original quando os agentes redutores são removidos, mesmo que, quando desnaturada, haja perda de sua atividade catalítica. b) Desnaturação irreversível: depois de desfeita a estrutura tridimensional da proteína, ela não retorna ao estado original, ainda que sejam retirados os agentes de desnaturação.
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