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Natália Furlaneto INTRODUÇÃO As anomalias congênitas são distúrbios de desenvolvimento de origem embrionária, presentes no nascimento. Elas podem ser classificadas com: Estruturais (deformidades físicas); Funcionais (alterações neuromotoras); Metabólicas (erros inatos do metabolismo). Podem ser de origem genética, ambiental, infecciosa, multifatorial, teratogênica, porém a maioria é de origem desconhecida (60%). Estão presentes entre 2 a 3% dos nascidos vivos. Possuem um alto índice de morbidade, sendo uma das principais causas de mortalidade infantil. CABEÇA E PESCOÇO APÊNDICES PRÉ-AURICULARES: formações cutâneas salientes, variáveis em números e tamanhos, uni ou bilaterais. A maioria dos casos não são necessárias intervenções, a não ser por estética. LÁBIO LEPORINO E FISSURA PALATINA: lesões complexas que trazem problemas de ordem alimentar, dentição, fonação e infecciosa. – Abertura do palato e da região labial, ocasionado pelo não fechamento dessas estruturas que deve ocorrer em torno da 4 a 12 semana de gestação. – Pode ser uni ou bilateral e ocorre em torno de 1 a cada 100 RN. – Mais frequente em população negra, japonesa e no sexo feminino. – Tratamento: sempre cirúrgico (aos 3 meses de vida), mas não é uma urgência resolvida ao nascimento. Para a amamentação, existe posição adequada para a diminuição do risco de broncoaspiração. ATRESIAS DE COANAS: falta no desenvolvimento da comunicação entre a cavidade nasal posterior e nasofaringe. Não possui causa específica, pode ser uni ou bilateral (mais comum a unilateral). Pode ser assintomática, mas geralmente o bebê sente desconforto respiratório. Observação: Pesquisar a Síndrome de CHARGE, critérios de alteração no olho (pálpebra ou íris) associada a Atresia de coana, alteração do SNC, hipoplasia geniturinária e anomalia de orelha. ESÔFAGO ATRESIA DE ESÔFAGO: interrupção da continuidade da luz do órgão, que causa sintomas como hipersalivação, cianose e dispneia. Está associada a outros defeitos congênitos (cardíacos, urinários, gastrointestinais e esqueléticos), devendo pesquisar Síndrome VACTERL (defeito na vértebra, atresia anal, atrasia esofágica com fístula, anomalia retal e anomalia de orelha). – Diagnóstico: sonda com contraste radiográfico, evidenciando o tipo de atresia (com fistula, sem fistula, distal, proximal), sendo mais comum a fistula distal. Tratamento cirúrgico imediato. TÓRAX MALFORMAÇÃO ADENOMATÓIDE CÍSTICA: massa pulmonar multicística com crescimento excessivo e desordenado dos bronquíolos terminais e alguns sacos alveolares. Resulta em desconforto respiratório no período neonatal e maior chance de infecção de repetição. – Raio-X nem sempre evidencia os cistos, sendo necessária uma TC. – Requer tratamento cirúrgico pela ressecção do lobo pulmonar acometido. HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNITA: formação incompleta do diafragma resultante da ausência de músculo ou de sua eventração. Pode ser uma hérnia póstero-lateral (BOCHDALECK), anterior (MORGANI) ou central. Resulta em deslocamento de vísceras abdominais para cavidade torácica. – Diagnóstico pode ser feito intraútero, ou no RN, quando nasce possuindo desconforto respiratório grande, cianose, taquidispneia, ausculta com MV abolido ou diminuído e ruídos hidroaéreos presentes na parte acometida. Pode ser acompanhada de outras malformações (cardíacas, anomalias cromossômicas, renais, genitais e defeitos do tubo neuronal). – Tratamento: maioria dos casos cirurgia de urgência. ESTÔMAGO ESTENOSE HIPERTRÓFICA DE PILORO: causa mais comum de obstrução gástrica neonatal, com etiologia não totalmente esclarecida. A hipótese diagnóstica deve surgir em casos de pacientes com vômitos persistentes e não biliosos, após período de 10 a 20 dias assintomáticos. Não é um diagnóstico fácil de ser feito nos primeiros dias de vida, sendo mais tardio. Geralmente a parte superior do abdome, próxima do local onde fica o piloro, é mais aumentada do que o restante do abdome. Tratamento: cirúrgico, mas não de urgência. ABDOME ARTÉRIA UMBILICAL ÚNICA: consistem em apenas uma artéria no funículo umbilical. Origem mais provável é a atresia ou atrofia de uma artéria umbilical originalmente patente. A formação do funículo umbilical inicial ocorre entre 13 e 18 dias após a concepção. A partir de 38 dias, uma única artéria se forma no plexo angiogênico funicular, originando-se da pelve do embrião (artérias ilíacas comuns), sendo que sua bifurcação resulta duas artérias umbilicais. Pesquisar malformações cardiovasculares (mais frequentes) e geniturinárias. ONFALOCELE: grave defeito da região umbilical e da parede abdominal anterior, recoberto por uma fina membrana peritonioamniótica, na qual se insere o funículo umbilical. Pesquisar outras malformações (presentes em cerca de 50% dos pacientes): cardíaca, musculoesquelética, gastrointestinal, geniturinária. Anomalias cromossômicas estão presentes em 30% dos pacientes: – Trissomia 13: Síndrome de Patau. – Trissomia 18: Síndrome de Edwards. – Tratamento: cirúrgico. GASTROQUISE: defeito na parede abdominal, de menor diâmetro do que a onfalocele, localizado lateralmente do funículo umbilical normal. Ausência do saco herniário possibilita evisceração do estômago, intestino delgado e cólon. A ausência de membrana torna mais suscetível a necrose (alteração na vascularização). Malformações mais comuns na parede abdominal sem outras anomalias associadas. Natália Furlaneto – Tratamento cirúrgico. – Observação: As malformações estão mais associadas à onfalocele do que à gastroquise. ANOMALIAS ANORRETAIS : malformações congênitas decorrentes de interrupção ou anormalidade no desenvolvimento embriológico do ânus, reto e trato urogenital. – Predominante no sexo masculino. Classificadas em altas, intermediárias ou baixas, de acordo com a posição do fundo do saco retal em relação ao músculo puborretal. Nem sempre é visível, a criança deve ficar em jejum e necessitará de tratamento cirúrgico. Pesquisar defeitos cardíacos (tetralogia de Fallot e defeitos septal ventricular), atresia duodenal e doença de Hirschsprung (megacólon congênito, o RN demora para eliminar mecônio, com vômitos e distensão abdominal. A laparotomia exploradora demonstra uma parte do sigmoide atrésico, sem inervação suficiente). O diagnóstico é feito através de biópsia. – Tratamento cirúrgico. OUTRAS MIELOMENINGOCELE: defeito no fechamento do tubo neural, grave. Ocorre ao redor do 20º dia de gestação. Doença difusa que envolve a medula e as raízes lombares e sacrais. Está relacionado ao metabolismo do ácido fólico, sendo que sua suplementação iniciada dois meses antes da concepção pode reduzir a doença em até 70%. Quando tratada tardiamente, 90% dos pacientes desenvolvem hidrocefalia. Tratamento cirúrgico. FIMOSE: impossibilidade de exteriorizar a glande devido ao meato prepucial ser de pequeno diâmetro. Maior risco de higienização local precária, favorecendo infecção peniana (balonopostite e infecção urinária). Dependendo do grau requer tratamento cirúrgico. HIPOSPÁDIA: desenvolvimento incompleto da uretra com disposição do meato uretral na face inferior do pênis (face ventral) e não na extremidade da glande. – É classificada de acordo com a localização do meato uretral: distal 65% dos casos, média 15% e proximal 20%. – Malformações congênitas associadas: hérnia inguinal, distopia testicular e alteração do aparelho urinário. – Tratamento cirúrgico (geralmente com 1 ano). DISPLASIA DE QUADRIL : descolamento da cabeça femoral para fora da cavidade acetabular. Necessidade de diagnóstico precoce, sequelas gravíssimas se retardo no tratamento. – Exame físico é essencial. Sexo feminino 3 a 5 vezes mais afetado. – Lado esquerdo 60% mais comum. Pode ser bilateral, mas é incomum. – Pensar quando: parto pélvico, RN GIG, herançagenética, frouxidão articular (estrógenos), primigesta, incidência familiar. – Manobra de Ortolani (flexão do membro inferior e abdução da coxa, seguidas de um barulho, indicando Ortolani +). – Manobra de Barlow (adução do quadril trazendo em direção à linha média e aplicar pressão no joelho direcionando a uma força posterior, seguidas de um barulho). – Confirmação diagnóstica por US e avaliação da ortopedia. – Tratamento: suspensório de Pavlik (geralmente o RN fica de 6-12 semanas o tempo inteiro). Tratamento cirúrgico caso o diagnóstico seja tardio. SÍNDROMES CROMOSSÔMICAS Anormalidades numéricas ou estruturais do cromossomo. Pode ser relacionado a alteração do desenvolvimento físico ou mental. Tipo mais comum: aneuploidia (mutação cromossômica com número anormal do cromossomo, devido a um exemplar extra ou inexistente). Identificadas através de: ultrassom, amniocentese (14ª a 18ª semanas de gestação) e cariótipo (este que confirma). Investigar quando: sinais clínicos pré ou pós-natais (dimorfismo, restrição de crescimento intrauterina), histórico familiar (perdas fetais, baixa fertilidade, aborto de repetição), história gestacional, crescimento e desenvolvimento (alteração gonadal, puberdade atrasada). Observação: Quando 2 ou 3 malformações congênitas menores, pensar em malformação maior. S ÍNDROME DE DOWN Trissomia 21 (presença numérica extra do cromossomo 21). Mais comum (1/750 RN vivos) e mais frequente no sexo masculino. Achados clínicos: perfil facial achatado, hipotonia muscular, hipersensibilidade articular, pele redundante na nuca, fendas palpebrais obliquas para cima, displasia de pelve, pavilhões auriculares anormais, clinodactilia do 5° dedo e prega palmar única, defeito septo átrio ventricular (DSAV). S ÍNDROME DE PATAU Trissomia 13. Evolução para óbito no primeiro ano de vida (86%). Diagnóstico firmado pelo cariótipo. Achados clínicos: fronte em declive, raiz nasal proeminente, pescoço curto, microcefalia, micrognatia, microftalmia ou anaftalmia, polidactilia (sobreposição dos dedos), hérnia umbilical/inguinal, hemangioma, holoprosencefalia, fenda labial/palatina, anormalidade renais (rins policísticos), defeitos cardíacos. S ÍNDROME DE EDWARDS Trissomia 18. Segundo tipo mais frequente. Predominante no sexo feminino. Achados clínicos: retardo no crescimento, micrognatia, microcefalia, baixa implantação das orelhas, hiperteilorismo mamário, cardiopatia congênita, criptorquidia ou clitóris proeminente, hérnia umbilical/inguinal, rim em ferradura ou cístico, unhas hipoplásicas, pé torno congênito, sindactilia do 2° e 3° dedo do pé.