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INTRODUÇÃO Úlceras de pressão são áreas de ulceração e necrose de pele e partes moles, causadas por isquemia dos tecidos submetidos a pressão por tempo prolongado. Ocorrem, usualmente, sobre proeminências ósseas, e são dependentes da intensidade e do tempo de compressão. Na prática clínica, frequentemente nos deparamos com denominações erradas ou incompletas dessa patologia, como: • ÚLCERAS DE DECÚBITO: denominação incompleta, pois grande parte das lesões ocorre em pacientes sentados ou semissentados → não pode falar isso • ESCARAS: é a capa de necrose que, comumente, recobre as úlceras de pressão, mas erroneamente é confundida com a patologia que a causou → também está errado falar isso EPIDEMIOLOGIA • Prevalência EUA: 3-14% • Prevalência em home care (EUA): 15-25% • Prevalência Brasil: 29,6-42,6% • O Painel Consultivo Nacional de Úlcera de Pressão (NPUAP) estimou o custo para tratar e cicatrizar úlceras de pressão adquiridas em hospital de até 100.000 dólares por paciente. Se os custos adicionais, tanto cirúrgicos como não cirúrgicos, de manejo das úlceras de pressão em lares e serviços de cuidados domiciliares forem considerados, a carga financeira foi estimada pelo Instituto para a Melhora da Saúde em aproximadamente 11 bilhões de dólares em 2006. • Uma revisão de 2006 do Projeto de Custo e Utilização dos Cuidados de Saúde 19 revelou 503.300 internações durante as quais as úlceras de pressão foram diagnosticadas. Os pacientes com úlceras de pressão ficaram internados por quase três vezes mais tempo do que aqueles sem esse diagnóstico (14,1 dias contra 5 dias). FISIOPATOLOGIA PRESSÃO DIRETA • Esta é aceita como a principal causa da formação das úlceras, com contribuição eventual dos outros fatores. • Comprometimento da perfusão gerado por compressão externa que ultrapassem a pressão arterial do capilar (32 mmHg). • Groth, em 1942, demonstrou que há uma relação inversa entre tempo e pressão na formação das lesões por compressão. • Husain fez um estudo em que demonstrava o aparecimento de alterações histológicas após a aplicação de pressão de 100 mmHg durante 2 horas. Sugere, também, que pressões menores por períodos maiores são mais lesivas do que pressões maiores por curtos períodos de tempo. • Hosiak comprovou que aliviar a pressão a cada 5 minutos previne o aparecimento de lesões irreversíveis. • Daniel, em 1985, demonstrou que animais com medula seccionada são mais susceptíveis ao desenvolvimento de úlceras de pressão após o aparecimento de atrofia muscular. Todas essas teorias, juntas, sugerem que o aparecimento das lesões por pressão está relacionado, sumariamente: 1. Intensidade da pressão 2. Tempo de exposição à pressão 3. Integridade das partes moles ATRITO • O atrito é a força que resiste ao movimento relativo entre duas superfícies, sendo o precursor do cisalhamento. Desenvolve-se entre a pele do paciente e qualquer superfície de contato. • O excesso de atrito pode resultar em lesão cutânea superficial, como abrasões, bolhas e até mesmo lacerações da pele em pacientes com pele frágil. • À medida que a integridade da pele é comprometida, a transpiração aumenta e possibilita o acúmulo de umidade que, por sua vez, aumenta o coeficiente de atrito e promove a aderência aos lençóis e a outras superfícies de contato. CISALHAMENTO • O cisalhamento desenvolve-se quando o atrito adere a pele e os tecidos superficiais aos lençóis e roupas de cama, que são então esticados sobre estruturas mais profundas. Os vasos sanguíneos subjacentes são então esticados, angulados e podem ser lesionados por este estresse. O tecido subcutâneo em especial não possui força de tração e é particularmente suscetível ao teste de cisalhamento. • Goossens et al. observaram que a adição de um componente pequeno de cisalhamento reduz drasticamente o nível de pressão necessário para causar isquemia crítica sobre o sacro. UMIDADE • A umidade excessiva não é apenas um fator de risco para úlceras de pressão, mas também pode resultar em uma patologia separada, inclusive dermatite por incontinência, dermatite perineal e lesões por umidade. • A pele úmida tem um coeficiente mais elevado de atrito e é propensa a maceração e escoriação → quebra de barreiras cutâneas • Embora o excesso de umidade possa ter muitas causas, a incontinência urinária e fecal é particularmente preocupante na etiologia das úlceras de pressão (Idosos: 20-77% e 17-50% respectivamente). DESNUTRIÇÃO • Os pacientes que estão cronicamente doentes e debilitados frequentemente têm deficiências nutricionais associadas que se manifestam como níveis séricos baixos de albumina, pré-albumina ou transferrina. • As taxas de prevalência variam de 1 % a 4% em pacientes idosos que moram em suas casas, contra 20% em pacientes hospitalizados e 37% em pacientes institucionalizados. • Os efeitos deletérios da nutrição deficiente incluem perda de peso, balanço de nitrogênio negativo, cicatrização precária de feridas e imunossupressão. LESÃO NEUROLÓGICA • Imobilidade, seja no leito ou em uma cadeira de rodas, conduz a maior pressão, atrito e cisalhamento, que são os fatores causadores de todas as úlceras de pressão. No entanto, a LM elimina a sensação de proteção que normalmente os estimularia a alterar a posição em resposta à pressão prolongada, principalmente durante o sono. • A espasticidade, uma sequela comum, mas não inevitável da LM, é um problema exclusivo da população de LM, acometendo 65-78% dos pacientes um ano após a lesão (a espasticidade é caracterizada por hiperreflexia, clônus e aumento do tônus muscular). FATORES PREDISPONENTES Intrínsecos Extrínsecos Tolerância tissular Controle autônomo Infecção Idade Percepção Sensorial Incontinência Estado Nutricional Pressão Fricção Cisalhamento Intensidade da Pressão Tempo de Pressão PREVENÇÃO Dispositivos que diminuem a pressão podem ser utilizados, de maneira profilática, nas áreas sob maior risco. Estes incluem: • Espumas espessas fenestradas • Proteções de silicone • Assentos de ar ou água • Colchões de espuma tipo "caixa de ovos" (+ comum) • Camas de flutuação - simulam as propriedades de um fluido em meio seco • Colchões pneumáticos - dispõem de insuflação e desinsuflação intermitentes TEMPO DE EXPOSIÇÃO À PRESSÃO • Os pacientes acamados devem ser reposicionados, no máximo, a cada 2 horas, nos quatro decúbitos: dorsal, ventral e laterais. • Os pacientes restritos à cadeira de rodas devem ser reposicionados a cada 30 minutos, e a distribuição do peso corporal deve ser feita a cada 15 minutos, de modo independente ou com ajuda. A elevação do tronco a cada 30 minutos, por um período de 60 segundos, é suficiente para prevenção de isquemia na região isquiática. INTEGRIDADE DAS PARTES MOLES • A pele deve ser regularmente inspecionada e, ao menor sinal de reação inflamatória local, deve-se evitar pressão na área. • Decúbitos elevados acima de 20 graus são contraindicados, pois provocam deslizamento com fricção e atrito, diminuem o retomo venoso e linfático, e devem ser restritos a curtos períodos, durante as refeições. • Devemos utilizar barras de trapézio ou lençóis para mover os pacientes, em vez de arrastá-los durante as transferências e mudanças de posição. • A pele deve ser mantida limpa e bem hidratada. Deve ser higienizada regularmente com água morna e sabonete neutro, evitando fricção. Após a higiene, deve ser bem enxugada, e aplicados hidrantes ou barreiras contra a umidade, conforme a necessidade. Deve-se evitar o contato com fezes e urina, e utilizar roupas de cama capazes de absorver o excesso de líquido. • Estudos comprovam que a umidade em excesso aumenta para cinco vezes a probabilidade de uma lesão de pele.Da mesma forma, o ressecamento excessivo também contribui para o aparecimento de úlceras de pressão. • Para reduzir as lesões por fricção, pode-se utilizar lubrificantes (compostos de ácidos graxos essenciais [AGE] e cremes), revestimentos ou curativos protetores (filmes transparentes ou hidrocoloides) e acolchoamento de proteção. • Os familiares devem ser orientados a buscar alterações que sugiram lesões iniciais e a realizar massagens delicadas nas zonas de maior pressão, o que melhora o retomo venoso e o tônus muscular. • O suporte nutricional deve ser hiperprotéico, com balanço nitrogenado positivo, e ser adequado para cada tipo de paciente. Suplementação de elementos (ferro ou vitaminas, por exemplo) ou transfusões podem ser necessárias. • A estimulação da circulação sanguínea, através de movimentos ativos e passivos, melhora o tônus vascular, muscular e cutâneo e deve ser encorajada ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO (SHEA) 1975 CLASSIFICAÇÃO DO NATIONAL PRESSURE ULCER ADVISORY PANEL (NPUAP, 1999) SISTEMA DE ESTADIAMENTO DO PAINEL CONSULTIVO NACIONAL DE ÚLCERAS DE PRESSÃO (2007) – CLASSIFICAÇÃO ATUAL (MAIS PARA ESPECIALISTAS ) • ESTÁGIO I: pele intacta com vermelhidão irreversível de uma área localizada geralmente sobre uma proeminência óssea. Pele escuramente pigmentada pode não ter clareamento visível; a sua cor pode ser diferente da área circundante. • ESTÁGIO II: perda de espessura parcial da derme apresentando-se como uma úlcera aberta superficial com um leito de ferida róseo eritematoso, sem esfacelamento. Também pode apresentar-se como uma bolha cheia de soro íntegra ou aberta/rompida. • ESTÁGIO III: perda de tecido de espessura total. A gordura subcutânea pode ser visível, mas osso, tendão ou músculo não são expostos. Esfacelamento pode estar presente, mas não oculta a profundidade da perda de tecidos. • ESTÁGIO IV: perda tecidual de espessura total com exposição de osso, tendão ou músculo. Lesão em grau I: hiperemia persistente na pele, investigar essas regiões arroxeadas 1ª: grau II: bolha e perda parcial da derme Bolha mais profunda, tecidos de fibrina (esfacelo – tecido amarelado) Úlcera mais profunda com exposição óssea Grau I,II, III e IV respectivamente TRATAMENTO CLÍNICO • Alívio do espasmo (ex.: clonidina, baclofeno) (fisioterapia motora também pode ser realizada) (último caso seria a forma cirúrgica – lesando tronco nervoso) • Tratamento da anemia e hipoproteinemia • Investigação do trato urinário • Cuidados locais (o ambiente adequado para cicatrização deve ser limpo, sem tecido desvitalizado, com baixa contagem bacteriana, ser hidratado, sem umidade excessiva e sem ressecamento). TRATAMENTO CIRÚRGICO Três fatores devem nortear o planejamento cirúrgico: 1. Etiologia da úlcera: pressão temporária ou permanente 2. Doença de base: paraplegia, doença consumptiva 3. Classificação da úlcera segundo Shea TRATAMENTO CIRÚRGICO – PRINCÍPIOS Alguns princípios devem ser seguidos no tratamento cirúrgico: • Preservação de possíveis áreas doadoras de retalhos futuros. • Ressecção ampla da úlcera, incluindo porção óssea quando envolvida por processo infeccioso. • Hemostasia cuidadosa: Ligadura dos vasos maiores, eletrocauterização dos vasos menores e utilização de cera de osso nas partes ósseas. • Preenchimento de todos os espaços com tecidos, evitando-se, assim, espaços mortos. • Reaproximação dos tecidos nas áreas doadoras. • Sutura sem tensão de todos os planos. • Drenagem ampla das áreas doadora e receptora por sistema fechado, durante 2 a 10 dias, ou enquanto houver drenagem significativa. • Linhas de sutura fora dos pontos de apoio. • Retirada tardia dos pontos (em aproximadamente 2 semanas). • Exame anatomopatológico da úlcera para pesquisa de degeneração maligna. OS OBJETIVOS PRINCIPAIS DO TRATAMENTO CIRÚRGICO SÃO: • Promover proteção adequada à área ulcerada • Reduzir a perda proteica através da ferida • Prevenir sepse e osteomielite progressiva • Reduzir custos de reabilitação • Melhorar a higiene e a aparência do paciente • Prevenir a degeneração maligna local, como a úlcera de Marjolin • Possibilitar a realização futura de retalhos no caso de recidivas → principalmente no cadeirante TRATAMENTO CIRÚRGICO – RETALHO PACMAN Úlcera em região sacral, não é tão profunda, porém é grande, já foi desbridada e o tecido já foi escarificado (observe as bordas nítidas) → retalho em avanço (uma espécie de V-Y) TRATAMENTO CIRÚRGICO – IGAP Retalho baseado na artéria glútea inferior, conseguimos ver um retalho com o pedículo bem esqueletizado. Não tem nenhuma estrutura ao redor da artéria glútea (o cirurgião precisa ser muito bom para conseguir), isso gera uma maleabilidade, ganhando no arco de rotação Novamente um retalho do tipo PACMAN TRATAMENTO CIRÚRGICO – V-Y BILATERAL Retalho V-Y bilateral, ele avançou os dois lados para conseguir fechar na região central ÚLCERAS ISQUIÁTICAS Retalho do músculo tensor da fáscia lata, ele levantou a musculatura para cobrir uma úlcera troncantéria.
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