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G R U P O D A S A L V A Ç Ã O G A S T R O E N T E R O L O G I A P R O B L E M A 2 I N T E R M E D I Á R I A Pro���m� 2 – In�e�m���ári� 4. Discorrer sobre as principais etiologias relacionadas com o quadro clínico de Sra. Marta COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA - Gastroenterologia pg 714 Colangite esclerosante primária (CEP) é uma doença hepática crônica, de etiologia desconhecida, caracterizada por fibrose inflamatória que oblitera duetos biliares intra- e extra-hepáticos. Caracteristicamente, os pacientes são homens jovens e apresentam estenoses e dilatações das estruturas ductais, evoluindo para estágio avançado de cirrose biliar, com tendência a cursarem exibindo surtos de colangite bacteriana, hipertensão portal e colangiocarcinoma. Retocolite ulcerativa idiopática (RCUI) e, mais raramente, doença de Crohn estão presentes em, no mínimo, 70% dos casos. A RCUI em geral se manifesta antes do início clínico da CEP, mas pode ser diagnosticada simultaneamente ou após o início da CEP. Em geral, a RCUI evolui silenciosamente ou com sintomas moderados. A CEP pode estar associada a outras enfermidades, como fibrose retroperitoneal, tireoidite de Riedel e síndromes de imunodeficiência, sobretudo a AIDS, mas, nesse caso, a colangite esclerosante é secundária. História de trauma cirúrgico sobre a árvore biliar ou existência de neoplasia maligna primária do sistema biliar excluem o diagnóstico de CEP. Aspectos clínicos típicos, radiológicos, histológicos e terapêuticos, incluindo o transplante de fígado, fazem parte da história desses pacientes Aspectos fisiológicos Conferem à CEP uma base patogenética autoimune. ● A presença de níveis séricos circulantes elevados de imunoglobulinas; a identificação de autoanticorpos circulantes não organoespecíficos, sobretudo p-ANCA (anticorpo anticitoplasmático neutrofílico); ● a diminuição do clareamento hepático de irnunocomplexos circulantes; a ativação do complemento aumentada; ● a frequência elevada de antígenos do sistema HLA humano, HLA-BS, DR2, DR3 e DRw52a; ● a expressão aberrante de antígenos HLA de classe li nas células epiteliais dos ductos biliares; os achados histológicos de inflamação das células biliares, agredidas por populações de linfócitos; ● e a possibilidade de controle dos surtos de colangite, por meio do emprego de imunossupressores ASPECTOS CLÍNICOS Diferentemente da cirrose biliar primária ( CBP), os homens são mais afetados pela CEP do que as mulheres. São pacientes jovens, entre 25 e 45 anos, podendo ser a doença encontrada entre crianças com menos de 5 anos de idade. Aproximadamente 70% dos pacientes são portadores concomitantes de RCUI, mas o inverso é observado em apenas 5% dos casos Doença assintomática Em geral, a CEP é identificada durante avaliação de paciente com RCUI. Nesse caso, evidenciam-se hepatomegalia e nível sérico elevado de fosfatase alcalina A comprovação é realizada através da colangiografia endoscópica, ao serem identificadas áreas de estenose e dilatação na árvore biliar intra- e/ou extra-hepática. Esse quadro radiológico também pode ser observado naqueles com doença inflamatória intestinal, evoluindo ainda com valores normais de fosfatase alcalina no sangue periférico. Menos frequentemente, o diagnóstico realiza-se em exame rotineiro nos chamados check-ups ou durante doação sanguínea, ao se detectarem modificações de concentrações plasmáticas de enzimas como aminotransferases e gama glutamiltransferase. Doença Sintomática A CEP é uma doença com tendência progressiva. Sintomas inespecíficos traduzem-se por ● astenia ● anorexia ● emagrecimento típicos: ● dor surda ou em cólica no hipocôndrio direito ● prurido ● icterícia intermitente ● hiperpigmentação cutânea ● xantomas Febre e calafrios são menos frequentemente observados, mas podem aparecer quando há manipulação invasiva ou radiológica do trato biliar. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� intensidade da colangite é inversa à da atividade da RCUI. Preocupa a evolução para o adenocarcinoma de cólon nesses pacientes com doença inflamatória crônica, e 6 a 30% de todos os portadores de CEP desenvolveram colangiocarcinoma, em um período de 10 a 30 anos de evolução. Diagnóstico A CEP deve sempre ser considerada em pacientes com colestase, sobretudo naqueles que evoluem com RCUI. O diagnóstico baseia-se em aspectos laboratoriais, colangiográficos e histológicos, conforme explicitado adiante. Aspectos laboratoriais Classicamente, os pacientes com CEP evoluem com níveis séricos elevados de fosfatase alcalina, ultrapassando em 3 a 6 vezes o limite superior normal Valores de bilirrubina são flutuantes entre 3 e 10 mg/dl, excepcionalmente ultrapassando essas taxas. Sendo doença constatada os pacientes tipicamente evoluem com hipercolesterolemia, hipercuprernia, concentrações aumentadas de ceruloplasmina e de lgM em 50% dos acometidos. Ocasionalmente, identificam-se anticorpos anti mitocôndria e/ou antinúcleo e p-ANCA positivo, exibindo ou não doença inflamatória intestinal. Percentual razoável dos pacientes cursa com eosinofilia, e há, nos surtos de colangite, leucocitose, acompanhada ou não de desvio para a esquerda e anemia. Aspectos Histológicos Embora não seja exigência definitiva ao estabelecimento do diagnóstico de CEP, o estadiamento histológico tem grande importância (Quadro 64.1), sobretudo na elaboração dos modelos de sobrevida. Aspectos colangiográficos É o método diagnóstico de escolha de CEP. Por meio desse procedimento, define-se que o grau de obstrução é o mais forte sinal preditivo de instalação de icterícia, mas não de mortalidade ou de indicação para realização do transplante de fígado. A avaliação colangiográfica estabelece informações importantes sobre a extensão e gravidade da CEP em duetos biliares maiores, enquanto a biopsia avalia melhor a agressão aos pequenos duetos e ao próprio parênquima hepático. Classicamente, os aspectos radiológicos traduzem-se por áreas irregulares de estenoses curtas (0,5 em) ou longas (2,0 em), acompanhadas de dilatações, situadas na árvore biliar intra e/ou extra-hepática. Formações diverticulares podem ser identificadas. Resumão do diagnóstico O diagnóstico da CEP obedece a três critérios: 1. exclusão de causas de colangite esclerosante secundária; 2. aumento sérico da fosfatase alcalina além de 3 vezes o limite de referência, por um período mínimo de 6 meses; 3. achados colangiográficos compatíveis com o diagnóstico. O exame anatomopatológico de material colhido por biopsia hepática não é sempre necessário, exceto em casos que exijam avaliação do acometimento de pequenos duetos. Entretanto, o estadiamento dos pacientes é indispensável antes de alocá-los em qualquer regime terapêutico, com o estadiamenta histológico da CEP dividindo os pacientes em quatro grupos: UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� 1. Estágio I ou portal-Edema e inflamação portal, proliferação ductal, lesões que não ultrapassam a placa limitante. 2. Estágio II ou periportal - Fibrose periportal, inflamação com ou sem proliferação ductular; pode haver necrose em saca-bocados. 3. Estágio III ou septal - Fibrose septal ou necrose em ponte. 4. Estágio IV ou cirr6tico - Cirrose biliar secundária. Pancreatite Aguda A pancreatite aguda é definida pela inflamação aguda do pâncreas, que pode envolver tecidos peripancreáticos e/ou órgãos a distância. É uma doença comum e com amplo espectro de apresentação, variando desde formas leves, que são mais comuns e respondem bem ao tratamento conservador, até formas graves, que requerem internações prolongadas em unidades de terapia intensiva, uso de antimicrobianos de amplo espectro e intervenções cirúrgicas. A morbimortalidade também se dicotomiza, sendo baixa nos casos leves e elevada nos casos graves, sobretudo, naqueles com necrose pancreática infectada. Para a distinção entre essas formas, utilizam-se critérios clínicos, laboratoriaise radiológicos isolados ou agrupados sob a forma de escores prognósticos. Apesar de sua frequência elevada e sua morbimortalidade, a fisiopatologia da pancreatite aguda é pouco conhecida, e as evidências referentes a seu tratamento ideal são de pouca qualidade. A classificação mais amplamente adotada para o estudo das pancreatites agudas é a Classificação de Atlanta. Dados Epidemiológicos A incidência da pancreatite aguda varia de 4,8 a 24,2 casos/100.000 habitantes em países desenvolvidos, mas não há dados concretos a respeito de sua incidência no Brasil. Acredita-se, todavia, que ela se encontra subestimada, pois, em nosso meio, a ingestão de álcool em quantidades capazes de provocar lesão pancreática é bastante comum, e a disponibilidade de meios diagnósticos e de assistência médica adequada é bastante heterogênea no território nacional. A mortalidade na pancreatite aguda respeita um padrão bimodal. Nas primeiras duas semanas, costuma ocorrer em virtude da resposta inflamatória sistêmica e das disfunções orgânicas por ela induzidas. Após esse período, costuma acontecer por causa de complicações infecciosas da doença. O melhor conhecimento a respeito da fisiopatologia da doença e o desenvolvimento e implementação de medidas terapêuticas reduziram a mortalidade dos casos graves, embora ela ainda atinja 30% em algumas casuísticas. É interessante ressaltar que as pancreatites graves geralmente são de etiologia biliar. Etiologia (Coloquei as etiologias destacadas pelo tratado e pintei de vermelho as mais relevantes para o caso) ➔ Litíase Biliar UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� A migração de cálculos biliares é a principal causa de pancreatite aguda, respondendo por aproximadamente 40% dos casos. O mecanismo pelo qual os cálculos provocam a pancreatite aguda é desconhecido, mas as hipóteses são: 1) a passagem do cálculo resulta em edema transitório da papila, logo, em discreta obstrução ao esvaziamento do ducto pancreático principal; 2) durante a passagem do cálculo através da ampola, há refluxo de bile em virtude de obstrução transitória. Apesar de a litíase biliar ser a principal causa de pancreatite aguda, apenas 3 a 7% dos pacientes portadores de cálculos desenvolvem pancreatite aguda. Os principais fatores de risco para sua ocorrência são sexo masculino e cálculos menores que 5 mm. É relevante mencionar que a pancreatite biliar é mais comum em mulheres, pois a litíase é muito mais comum entre elas que entre homens. O barro biliar é uma suspensão viscosa de bile na vesícula biliar que pode conter cálculos pequenos ou microlitíase (cálculos menores que 3 mm). Os portadores de barro biliar/microlitíase em geral são sintomáticos, e a ultrassonografia permite sua identificação, embora possa ser difícil identificar microcálculos em meio à lama biliar. Em geral, ocorrem em indivíduos com estase biliar funcional ou mecânica. Embora não haja estudos adequadamente delineados associando a presença desses achados à ocorrência de pancreatite aguda, sua incidência nos portadores de pancreatite aguda idiopática é de aproximadamente 70%, e a colecistectomia e o uso de ácido ursodeoxicólico reduz sua incidência nos portadores. Dessa maneira, assume-se que ambas possam ser causa de pancreatite aguda. ➔ Álcool O álcool é responsável por 30% das pancreatites agudas, afetando predominantemente homens jovens com história de consumo alcoólico abusivo. De modo geral, considera-se que os pacientes que apresentam pancreatite aguda por álcool apresentam, na maioria das vezes, evidências funcionais ou morfológicas de pancreatite crônica, de tal maneira que é inadequado falar em pancreatite aguda, mas, sim, em pancreatite crônica agudizada. ➔ Hipertrigliceridemia (Sra. Marta!) Esta é uma importante causa de pancreatite aguda não traumática em pacientes sem litíase biliar ou antecedente de consumo de álcool. Os pacientes geralmente apresentam soro lipêmico em virtude de níveis de triglicerídes plasmáticos maiores que 1.000 mg/dL, havendo claro predomínio de VLDL (very low density lipoprotein) e quilomícrons. O mecanismo pelo qual há lesão pancreática não é bem conhecido, mas parece envolver liberação de ácidos graxos livres e lesão direta das células acinares pancreáticas e do endotélio. A maioria dos adultos com pancreatite aguda por hipertrigliceridemia tem hiperlipidemia dos tipos I, II ou V, segundo a Classificação de Fredrickson e Lees. Importante pesquisar ocorrência de hiperlipidemia secundária a medicamentos (p. ex., estrógenos, tamoxifeno, inibidores de protease, corticoides), diabete, hipotireoidismo, síndrome nefrótica e outras causas de hiperlipidemia. De maneira geral, três tipos de pacientes apresentam pancreatite aguda por hipertrigliceridemia: 1) diabéticos mal controlados com antecedente de hipertrigliceridemia; 2) alcoolistas com hipertrigliceridemia; 3) indivíduos magros, não diabéticos e não alcoolistas com hipertrigliceridemia induzida por drogas. Neste último caso, a chance de ocorrência de uma pancreatite aguda é maior se houver hipertrigliceridemia de base. ➔ Hipercalcemia Trata-se de causa rara de pancreatite aguda. Nesse contexto, a doença surge pela deposição excessiva de cálcio no ducto pancreático e ativação prematura do tripsinogênio. Pode ocorrer em pacientes com hiperparatireoidismo, hipercalcemia paraneoplásica, sarcoidose, toxicidade por vitamina D e no intraoperatório de cirurgias cardíacas, durante as quais se utiliza, de modo rotineiro, a infusão de altas doses de cálcio. ➔ Drogas Medicamentos são causa incomum de pancreatite aguda, respondendo por aproximadamente 1,4% dos casos. Apesar de sua baixa frequência, desponta como um problema emergente, pois acredita-se que ela se deva à subestimação de sua frequência, uma vez que, para seu diagnóstico, é necessário alto índice de suspeita. Além disso, casos leves podem não ser reconhecidos pelo fato de a amilase não ser dosada de modo rotineiro, como ocorre com aminotransferases; o período de latência entre a exposição à droga e o efeito adverso é variável entre os indivíduos, e as medicações e muitos casos de pancreatite aguda são erroneamente atribuídos ao etanol ou à litíase biliar. Os mecanismos responsáveis pela pancreatite aguda medicamentosa são variáveis, incluindo efeito tóxico direto da droga, reações de hipersensibilidade ou efeito tóxico indireto, mediado por hipertrigliceridemia ou UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� outras anormalidades metabólicas. O Quadro 81.3 apresenta algumas drogas que causam pancreatite aguda. ➔ Infecções Vários agentes infecciosos são potenciais causadores de pancreatite aguda, mas a frequência com que estas ocorrem é desconhecida. O diagnóstico etiológico nesses casos é complexo e depende da definição do quadro de pancreatite (Quadro 81.4) paralelamente à definição da existência da infecção. Uma pancreatite aguda de causa infecciosa deve ser cogitada se o paciente apresentar a síndrome causada pelo agente infeccioso, o que ocorre na maioria dos casos. ➔ Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CRPE) Pancreatite aguda é observada após 5% das CPRE diagnósticas e 7% das CPRE terapêuticas. Os principais fatores de risco para sua ocorrência são história pregressa de pancreatite, sexo feminino, bilirrubinas séricas normais, ausência de pancreatite crônica, canulação difícil, dilatação biliar por balão, esfincterotomia, múltiplas injeções de contraste e suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi. ➔ Tumores Quaisquer tumores pancreáticos ou papilares que provoquem obstrução à drenagem do suco pancreático podem ocasionar quadros de pancreatite aguda, sobretudo em indivíduos acima dos 40 anos de idade. A pancreatite aguda pode até mesmo ser a primeira manifestação da neoplasia. Adenocarcinomas e neoplasias intradutais mucinosas são os principais responsáveis por esses quadros. Quadro Clínico Dor abdominal é a principal queixa da maioria dos pacientescom pancreatite aguda. Sua intensidade é variável, desde um desconforto sutil à dor incapacitante. Caracteristicamente é contínua, mal definida, localizada no epigástrio ou andar superior do abdome, irradiando-se para o dorso, mas também podendo atingir os flancos direito ou esquerdo. Seu alívio ocorre na posição genupeitoral e há agravamento com posição supina e com esforço. Em 90% dos casos, a dor é acompanhada de náuseas e vômitos, possivelmente relacionados à intensidade da dor ou à inflamação da parede posterior do estômago. O exame físico desses pacientes varia conforme a gravidade do quadro. Na doença leve, revela desconforto abdominal à palpação do epigástrio e andar superior do abdome, em que pode ser notado “plastrão” (massa) inflamatório. Não são habitualmente notados sinais de distensão abdominal ou descompensação hemodinâmica. Nas formas graves, notam--se paciente agudamente enfermo, com sinais de toxemia, abdome doloroso, distendido, com respirações superficiais em virtude de irritação frênica pelo processo inflamatório, e evidências de irritação peritoneal. Outros sinais de gravidade incluem: hipotensão, taquicardia, febre e íleo paralítico. Hipotensão não é infrequente nessa situação. Alterações sensoriais podem ser notadas, caracterizando a chamada encefalopatia pancreática. Até 25% dos pacientes encontram-se ictéricos por causa de litíase biliar, seja por coledocolitíase com ou sem colangite aguda, seja pela passagem do cálculo biliar pela via biliar principal associada a edema da papila duodenal. Hemorragia digestiva pode ocorrer em função de úlceras de estresse ou de síndrome de Mallory-Weiss secundária a vômitos intensos. Diagnóstico e Exames Complementares Para o diagnóstico de pancreatite aguda, utilizam-se os seguintes critérios: 1) dor abdominal persistente, de forte intensidade, localizada no andar superior do abdome, com irradiação para o dorso e associada a náuseas e vômitos; 2) amilase e/ou lípase ≥ 3 vezes o limite superior da normalidade; 3) achados tomográficos compatíveis com pancreatite aguda. Dosagem das enzimas pancreáticas é o exame laboratorial mais indicado para diagnóstico da pancreatite aguda, mas, apesar disso, podem se encontrar alterada em grande número de condições pancreáticas e não pancreáticas, de modo que elevações discretas devem ser analisadas dentro de um contexto clínico bastante amplo. O intervalo de tempo entre o início dos sintomas e a dosagem das enzimas deve ser mantido em mente, pois elevações persistentes das enzimas após a resolução do UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� quadro sugerem presença de complicações, como pseudocistos. Elevações superiores a 3 vezes o limite superior da normalidade são consideradas mais específicas para o diagnóstico de pancreatite aguda. Os níveis séricos dessas enzimas não têm qualquer implicação prognóstica. Há divergência a respeito da eficácia da combinação desses dois ensaios para diagnóstico da pancreatite. Os Quadros 81.5 e 81.6 apresentam os achados laboratoriais e radiológicos na pancreatite aguda. PANCREATITE CRÔNICA As pancreatites crônicas (PC) caracterizam-se pela substituição irreversível do parênquima pancreático normal por áreas de fibrose e pelo surgimento de estenoses e irregularidades nos ductos pancreáticos. Tais lesões são, em geral, progressivas, mesmo com a retirada do fator causal. Sob essa denominação são agrupadas afecções com etiopatogenias diversas que apresentam características morfológicas e evolutivas semelhantes. Há dois tipos principais de pancreatites crônicas – as calcificantes (PCCs) e as obstrutivas (PCOs) –, de acordo com classificação proposta em Roma em 1988, a qual, embora útil, não engloba outros tipos de pancreatites crônicas, em particular as pancreatites crônicas autoimunes (PCAs). As PCCs, assim denominadas porque se calcificarão com o passar do tempo (Figura 82.1), representam a quase totalidade dos casos de pancreatites crônicas e correspondem às pancreatites crônicas alcoólica, hereditária, nutricional, metabólica e idiopática. Tem sido dada importância cada vez maior à identificação de mutações genéticas que predispõem às pancreatites crônicas, o que pode ocorrer na pancreatite crônica hereditária, na fibrose cística ou, mesmo, nas pancreatites crônicas alcoólicas. As principais mutações identificadas até o momento são nos genes CFTR (cystic fibrosis transmembrane conductance regulator), SPINK1 (serine protease inhibitor Kazal type 1) e PRSS1 (cationic trypsinogen). As PCO, bem mais raras e que não se calcificam, são consequentes a qualquer modificação anatômica que dificulte a drenagem de secreção pancreática para o duodeno, como estenose cicatricial, traumática, cirúrgica, endoscópica ou congênita do ducto pancreático principal, pancreas divisum etc. Fig. 82.1 ETIOLOGIAS ➔ Álcool A principal causa de pancreatite crônica em nosso meio, inquestionavelmente, é o uso abusivo de álcool. Os alcoolistas que desenvolvem pancreatite crônica, segundo dados de Mott e Guarita, iniciam o consumo de álcool em torno dos 20 anos de idade, permanecendo assintomáticos por 15 anos, em média. A quantidade média diária de etanol consumida é elevada, correspondendo aproximadamente a uma garrafa de aguardente diária, de modo regular, durante 20 anos. Esses dados mostram que os brasileiros portadores de pancreatite crônica alcoólica iniciam seu consumo mais precocemente do que em outros países, apresentam um tempo de exposição mais prolongado e ingerem quantidades significativamente maiores de etanol. Os exatos mecanismos pelos quais o álcool promove a lesão pancreática não são conhecidos, mas acredita-se que isso ocorra por uma série de fatores, como toxicidade direta às células acinares, produção de um suco pancreático litogênico, aumento do estresse oxidativo, indução da ativação prematura dos zimogênios pancreáticos e carências nutricionais relacionadas ao alcoolismo. Além disso, deve ser mencionada a frequente associação entre tabagismo e etilismo nos portadores de pancreatite crônica, o que potencializa os efeitos tóxicos do etanol, aparentemente por mecanismos de toxicidade direta e aumento do estresse oxidativo, acelerando a progressão da doença e agravando suas manifestações. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� ➔ Pancreatite crônica obstrutiva Qualquer situação que resulte em dificuldade de drenagem da secreção pancreática para o duodeno pode provocar pancreatite crônica. As principais causas são estenoses cicatriciais, congênitas, traumáticas ou cirúrgicas do ducto pancreático principal, inflamações da papila duodenal, pancreas divisum, malformações da junção biliopancreática e neoplasias intraductais mucinosas. ➔ Pancreatite crônica idiopática A prevalência da pancreatite crônica idiopática é variável de acordo com a população estudada (4 a 40%). No Brasil, em virtude da esmagadora prevalência da pancreatite alcoólica, essa forma de pancreatite responde por até 9% dos casos. Do ponto de vista clínico, a doença tem apresentação bimodal, com o primeiro pico de incidência por volta dos 25 anos, e o segundo, por volta dos 60 anos, caracterizando-se por episódios de dor recorrente e, em fases mais tardias, associando-se à má absorção e ao diabete melito. ➔ Pancreatite crônica autoimune (PCA) Essa forma de pancreatite crônica é caracterizada pela presença de massas inflamatórias pancreáticas e irregularidades ductais nos exames de imagem, associadas à presença de hipergamaglobulinemia e, em geral, de autoanticorpos. A boa resposta desses pacientes à corticoterapia favorece a ideia de uma etiologia inflamatória, e é comum a associação com outras doenças autoimunes, como a cirrose biliar primária, a síndrome de Sjögren e a colangite esclerosante. Os critérios diagnósticos adotados para esse tipo específico de pancreatopatia incluem: - aumento nos valores de gamaglobulina sérica ou de IgG4; - presença de autoanticorpos; - aumentodifuso do pâncreas; - tortuosidade com estreitamento irregular do ducto pancreático principal à pancreatografia endoscópica; - fibrose com infiltrado inflamatório predominantemente linfocitário; - ausência de sinais ou sintomas leves, caracterizados como crises de pancreatite aguda; - estreitamento do colédoco terminal com dilatação a montante e hiperbilirrubinemia obstrutiva; - ausência de calcificação pancreática; - associação ocasional com outras doenças autoimunes; - boa resposta terapêutica ao uso de corticosteroides. A sua fisiopatologia é pouco conhecida, mas supõe- se que seja uma forma de doença sistêmica que cursa com inflamação e fibrose do pâncreas e de outras glândulas exócrinas, por exemplo, as salivares. Associa-se a uma resposta imune predominantemente Th1, de modo semelhante à síndrome de Sjögren e à colangite esclerosante. QUADRO CLÍNICO As pancreatites crônicas, particularmente as alcoólicas, predominam em homens entre 30 e 40 anos de idade. As formas hereditárias e nutricionais afetam indivíduos mais jovens, na 1a ou 2a década de vida, ao passo que as formas obstrutivas, as metabólicas e as idiopáticas prevalecem em indivíduos acima dos 40 anos. As manifestações clínicas observadas geralmente são características, sem variações importantes de um caso a outro, salvo as inerentes à própria fase evolutiva do processo. A dor é sintoma habitualmente presente e, em geral, a primeira exteriorização clínica da doença (Figura 82.2). Manifesta-se sob a forma de crises dolorosas recorrentes, intensas, localizadas no andar superior do abdome, com duração de 1 a 7 dias, intercaladas por períodos de acalmia variáveis de meses a anos, precipitadas, quase sempre, pelo abuso alcoólico e/ou por alimentação gordurosa. A sua fisiopatologia não é adequadamente conhecida, mas seu aparecimento é atribuído à hipertensão ductal provocada pela presença de rolhas proteicas nas fases iniciais da doença e por estenoses ductais nas fases mais tardias; inflamação perineural dos nervos intra e peripancreáticos também pode contribuir para o quadro doloroso. Atualmente, o ponto mais importante para que a dor seja corretamente abordada é a evidência de alterações em todos os níveis do sistema nervoso, central e periférico, naqueles pacientes portadores de pancreatite crônica com dor, estando as alterações neuronais bem demonstradas, bem como os receptores PAR-2 e TRPV1 para a dor; as modificações neuronais observadas só ocorrem em portadores de pancreatite crônica e de carcinoma de pâncreas. A dor é considerada a principal causa de indicação cirúrgica em portadores de pancreatite crônica. A redução do peso corporal é notada, pelo menos temporariamente, em quase todos os pacientes; o grau de emagrecimento depende, inicialmente, da frequência e da intensidade das crises dolorosas e, em seguida, do grau de envolvimento do parênquima glandular, determinando má absorção e diabete. A má absorção e o diabete melito são manifestações tardias da afecção, surgindo, em média, dez anos após o início das crises dolorosas, quando já houve comprometimento de mais de 70% do parênquima pancreático. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� Resultam, respectivamente, da substituição do parênquima secretor exócrino e endócrino pela fibrose. As complicações clínicas das pancreatites crônicas podem surgir em qualquer fase da doença, porém, são mais frequentes em suas fases mais iniciais, quando ainda não houve extenso comprometimento do parênquima pancreático. Podem ser locais ou sistêmicas (Quadro 82.1), e sua incidência é elevada em nosso meio, sobretudo em relação a outras grandes casuísticas. A icterícia, clínica e/ou laboratorial, observada em aproximadamente 25% dos pacientes, resulta da compressão do colédoco terminal, retropancreático, por aumento do volume da cabeça do pâncreas, secundário a edema, nódulos fibróticos, cálculos pancreáticos ou cistos cefálicos. Trata-se, em geral, de icterícia discreta, fugaz e apirética, com frequência e intensidade não relacionadas à fase evolutiva da doença, e sim com a relação anatômica entre colédoco terminal e cabeça da glândula. Os cistos, presentes em aproximadamente ⅓ dos pacientes, podem surgir em qualquer fase evolutiva da afecção, sendo pequenos, intraglandulares (cistos de retenção) ou maiores, extraglandulares (cistos necróticos). Podem, eventualmente, ser sede de complicações, como compressões de órgãos ou estruturas vizinhas (estômago, cólon, vesícula, colédoco), infecção (abscessos), hemorragia, fistulização para vísceras ocas ou para o peritônio livre (ascite) e, em cerca de 70% dos casos, têm resolução espontânea.23 Ascite, derrame pleural e, raramente, derrame pericárdico podem surgir durante a evolução da pancreatite crônica, sendo a ascite a mais frequente. Esta, quando presente, deve-se à fistulização de pseudocisto ou do próprio ducto pancreático principal para a cavidade abdominal. Durante a evolução das pancreatites crônicas, os pacientes podem desenvolver hemorragia digestiva, exteriorizada sob a forma de hematêmese ou melena, causada, em geral, pela ruptura de varizes esofagogástricas, secundárias à compressão ou trombose da veia esplênica, pela presença de cisto ou pelo aumento de volume do pâncreas. Pode originar-se, também, da ruptura de vasos intracísticos e da formação de pseudomicroaneurismas. Podem estar presentes necrose pancreática, estéril ou infectada, abscessos e fístulas, mas são complicações raras. A associação com cirrose hepática nas fases iniciais das pancreatites crônicas é excepcional, mas, com a evolução da doença, após a instalação da má absorção do diabete melito, o fígado começa a se comprometer morfofuncionalmente. Alguns pacientes apresentam, concomitantemente ao envolvimento pancreático, tuberculose pulmonar; outros, em longo prazo, têm maior incidência de cânceres relacionados a álcool-tabagismo (p. ex., boca, orofaringe, pulmão etc.). Alguns trabalhos mencionam maior incidência de câncer de pâncreas em PCC, fato não observado em nosso grupo. Fig. 82.2 - Paciente com pancreatite crônica alcoólica em posição antálgica genupeitoral. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das pancreatites crônicas depende de um contexto clínico apropriado (p. ex., homem jovem com intenso e prolongado consumo alcoólico e dor abdominal típica, perda ponderal, insuficiência exócrina e/ou endócrina) associado a exames que reflitam a perda da função pancreática e a presença de anormalidades anatômicas compatíveis. A dosagem das enzimas pancreáticas, em particular da amilase e da lipase, pode estar alterada no sangue durante as crises de exacerbação da doença, especialmente em suas fases iniciais, quando o parênquima pancreático ainda se encontra relativamente preservado. Nas fases finais da afecção, é relativamente comum encontrar níveis normais dessas enzimas, o que se justifica pela escassez da produção enzimática, secundária à extensa substituição do parênquima pancreático por fibrose. Quando houver colestase, a fosfatase alcalina e a gamaglutamiltransferase, além das bilirrubinas séricas, também podem se elevar. Nos derrames cavitários (abdominal, pleural ou pericárdico), a quantificação da amilase e da proteína total no líquido obtido por punção possibilita a caracterização da origem pancreática do derrame, já que ambos os parâmetros estão elevados, especialmente a proteína. No suco duodenal ou no suco pancreático puro, obtidos respectivamente pela tubagem duodenal ou por cateterismo transpapilar, a determinação quantitativa dos componentes do suco pancreático (secreções hidroeletrolítica e enzimática), após estímulo hormonal com secretina e colecistocinina (ou ceruleína), é, até o presente momento, o melhor método de avaliação da função exócrina do pâncreas. No entanto, esse exame não é passível de realização habitual entre nós, haja vista o alto custo para importação dos hormônios. Nas fezes, a pesquisa qualitativa de gordura pode sugerir a síndrome de má absorção relacionada à insuficiênciapancreática. A dosagem de gordura, após dieta padronizada (balanço de gordura fecal), é útil para o UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� diagnóstico do grau de envolvimento do pâncreas. Outro teste que tem sido utilizado é a dosagem fecal da elastase pancreática por técnica de ELISA. Tal exame reflete a reserva funcional do pâncreas exócrino por quantificar nas fezes essa enzima pancreática, que sofre pouca degradação durante o trânsito intestinal. No entanto, é pouco sensível, por não identificar pacientes com função pancreática minimamente reduzida. Quanto menores são os níveis de elastase fecal, mais grave é a insuficiência exócrina apresentada pelo paciente. Após a introdução da US, da TC e da ressonância nuclear magnética (RNM) abdominais, os exames contrastados do tubo digestivo, a colangiografia venosa, a esplenoportografia e a arteriografia seletiva do tronco celíaco e da artéria mesentérica superior são realizados excepcionalmente. O exame radiológico simples do abdome, sem preparação, pela facilidade de realização e pelas informações que traz, revelando a presença da calcificação pancreática em cerca de 50% dos pacientes com pancreatite crônica, deve ser o ponto de partida, com a US abdominal, para a investigação diagnóstica, sobretudo nos pacientes com história clínica sugestiva de comprometimento pancreático há mais de cinco anos. A ausência de calcificação pancreática ao exame radiológico simples do abdome não afasta o diagnóstico de comprometimento crônico da glândula, pois sabe-se que os cálculos surgem, em média, 5 a 10 anos após o início das manifestações clínicas. A US abdominal, método não invasivo e que pode ser repetido várias vezes, tem elevada especificidade diagnóstica e detecta eventuais complicações, sendo as principais alterações ecográficas observadas a textura heterogênea do parênquima, a presença de calcificações e a dilatação e tortuosidade do ducto pancreático principal. A TC abdominal, sobretudo a helicoidal, é útil no diagnóstico das afecções pancreáticas, possibilitando o acesso ao retroperitônio, com observação direta da glândula pancreática e dos tecidos adjacentes, sendo os principais achados tomográficos os cálculos intraductais, a dilatação do ducto pancreático principal e as alterações do parênquima glandular por edema, fibrose ou necrose e atrofia (Figura 82.3). Possibilita, também, como a US, diagnosticar e acompanhar determinadas complicações das pancreatites crônicas, em particular os cistos intra ou extraglandulares, ascite, necrose (infectada ou não), fístulas, abscessos, coleções líquidas, além de dilatações das vias biliares intra ou extra-hepáticas. Figura 82.3 – Tomografia computadorizada de abdome evidenciando pâncreas com calcificaçõe em portador de pancreatite crônica alcoólica. A pancreatocolangiorressonância magnética é útil para a observação de alterações do ducto pancreático principal, da via biliar principal e de complicações como os cistos de pâncreas. Gradativamente, com o aprimoramento das imagens que fornece, ocupa cada vez mais espaço no estudo dos pancreatopatas crônicos, especialmente em relação aos métodos endoscópicos. Nos raros casos em que se verifica a presença de uma massa pancreática e permaneçam dúvidas quanto a tratar-se de uma pancreatite crônica em fase de re-exacerbação ou de uma neoplasia pancreática, a TC por emissão de pósitrons (PET – positron emission tomography) pode ser de grande valia. Durante esse exame, fornece- se ao paciente um radiofármaco contendo glicose, a qual é avidamente captada por células neoplásicas, diferentemente do que ocorre com as lesões inflamatórias. Esse efeito pode ser flagrado por uma câmara de cintilação modificada, e o método, embora não seja suficientemente sensível, tem alta especificidade. A colangiopancreatografia endoscópica permite o detalhado delineamento da anatomia ductal, mas, com o desenvolvimento de técnicas não invasivas, é reservada atualmente para o pré-operatório de cirurgias pancreáticas ou para situações nas quais seu potencial terapêutico seja necessário. É particularmente útil nos casos que evoluem com derrames cavitários (ascítico e pleural), por permitir, na maioria das vezes, localizar a fístula pancreática ou mesmo um cisto roto. Não é um exame isento de riscos, e sua principal complicação relaciona-se à infecção, tanto do pâncreas quanto das vias biliares, condição mais comum nos casos com ducto pancreático principal muito dilatado, com cistos com comunicação com os ductos pancreáticos ou quando há compressão do colédoco (Figura 82.4). UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� Figura 82.4 – CPRE em portador de pancreatite crônica com ducto pancreático principal saculiforme (D), colédoco afilado (C) e cisto pancreático cefálico (CP). A ecoendoscopia realiza detalhado estudo anatômico do parênquima pancreático e do sistema ductal, sem sofrer com a interposição gasosa que limita a US convencional. Os principais achados de uma ecoendoscopia são a textura heterogênea do parênquima, os cistos, as dilatações e irregularidades ductais e as calcificações. Além das imagens obtidas, essa técnica permite punção aspirativa por agulha fina do próprio parênquima ou de cistos, sendo fundamental para o diagnóstico diferencial de lesões císticas pancreáticas. Quando o fator etiológico para a pancreatite crônica não for esclarecido, não deve ser esquecida a possibilidade da presença de mutações genéticas, especialmente no CFTR, relacionado à fibrose cística, e no PRSS1, relacionado à pancreatite crônica hereditária. Para investigar as PCAs, além da busca de doenças autoimunes concomitantes, níveis elevados de IgG4 sérica ou em tecido reforçam a hipótese diagnóstica, embora sua ausência não a afaste. Colecistite Aguda Definição A colecistite aguda constitui um processo patológico inflamatório da vesícula biliar consequente à obstrução aguda do ducto cístico. Epidemiologia Mais frequente no sexo feminino, o número de pacientes do gênero masculino aumenta com o avanço das faixas etárias, chegando a 30% dos casos acima dos 65 anos. Está associada com significativa morbimortalidade, especialmente em doentes idosos. Etiopatogenia A causa mais frequente é a litíase, responsável por 90% dos casos. A colecistite aguda alitiásica pode ocorrer tanto em adultos quanto em crianças, durante a nutrição parenteral prolongada e/ou quadros críticos, como o período pós-operatório de grandes operações, politrauma e outras complicações que causem internação prolongada em terapia intensiva. A colecistite alitiásica tem sido atribuída a inúmeros fatores que podem atuar sinergicamente: a má perfusão tecidual causada por hipovolemia, sepse, estímulo adrenérgico, aterosclerose, aumento da concentração de bilirrubinas na bile acarretado por reabsorção de hematomas, politransfusão e desidratação. O jejum prolongado, assim como a vnutrição endovenosa, diminui a motilidade vesicular. Quadro Clínico O quadro clínico mais frequente consiste de dor epigástrica forte, em cólica, irradiada para o hipocôndrio direito ou esquerdo, às vezes até para a escápula, precórdio ou dorso, acompanhada de náuseas e vômitos reflexos. • A dor persiste por mais de 12 horas, com pouca melhora com analgésicos, diferentemente da cólica biliar, que é limitada. • Durante a evolução, quando a serosa é acometida, a dor localiza-se no hipocôndrio direito e piora com a movimentação e inspiração profunda. • A icterícia é observada em apenas 20% dos pacientes adultos e é mais frequente em crianças (dura 24h). • É comum o surgimento de febre em torno de 38°C. • A palpação do hipocôndrio é dolorosa e obriga o paciente a interromper o movimento inspiratório (Manobra Murphy). Murphy positiva é aceita como sinal patognomônico de colecistite aguda. Esse quadro clínico típico está ausente em um terço dos pacientes, os quadros atípicos ocorrem justamente nos casos em que a decisão rápida é fundamental: pacientescom reflexos diminuídos: idosos, diabéticos, imunossuprimidos e pacientes UTI, inclusive crianças. Sinais: • sinais de sepse, mas não mostram sinais de defesa peritoneal. Diagnóstico UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� 60% dos pacientes não possuem histórico anterior de cálculos. Exames laboratoriais: Contribuem indiretamente porque são pouco específicos. • O hemograma geralmente apresenta leucocitose que pode ser pouco acentuada em pacientes mais graves. • A bilirrubina direta pode ou não estar aumentada, a elevação acentuada e progressiva sugere a presença de coledocolitíase, sem, entretanto, afastar o diagnóstico de colecistite aguda. • A amilase pode estar elevada, podendo atingir níveis de até 500 UI; elevações maiores sugerem o diagnóstico de pancreatite aguda. • A fosfatase alcalina elevada pode ser um indicador de colecistite aguda em pacientes críticos submetidos à alimentação parenteral. • A proteína C-reativa (PCR) elevada tem maior valor discriminativo que a contagem de leucócitos e representa um marcador importante no diagnóstico de colecistite aguda. Tokyo Guidelines 2007 e 2013 Para diagnóstico clínico: ● 1 dos achados de exame abdominal (sinal de Murphy ou dor ou plastrão no hipocondrio direito); + ● 1 sinal sistêmico de inflamação (febre ou leucocitose ou PCR elevada); + ● 1 exame de imagem confirmando. Radiografia simples: Só pode afastar outras causas de ABD agudo. Ultrassonografia: Pode demonstrar a presença de cálculo impactado no colo da vesícula ou no ducto cístico. O diagnóstico pode ser corroborado por espessamento ou separação das camadas da parede vesicular, lama biliar ou debris e também coleções líquidas perivesiculares e distensão acentuada da vesícula. Na colecistite aguda alitiásica, a ultrassonografia pode detectar gangrena e perfuração. Nesses doentes a positividade é mais baixa, em torno de 67%. TC & RNM: Não são 1ª indicação. Indicado para pacientes obesos, com AIDs, alitiásicos. Colecintigrafia: Em situações específicas, pode ser necessário excluir colecistite aguda como causa de abdome agudo e para isso o exame é indicado. (sepse ou dor ABD de origem indetermin). São empregados derivados do ácido iminodiacético (IDA) marcados com TC-99, sendo o DISIDA o mais utilizado. O marcador injetado é captado da corrente sanguínea pelo fígado e excretado na bile, e o contador capta imagens seriadas do fígado, via biliar, vesícula e duodeno. Em jejum, a visualização da vesícula, da via biliar e do duodeno no lapso de uma hora após a injeção afasta a hipótese de colecistite aguda. Por outro lado, se a vesícula não for preenchida, supõe-se que o cístico esteja obstruído, confirmando a presença de colecistite aguda. COLELITÍASE FONTE: Livro - Gastroenterologia vol. 1 (2020). Epidemiologia A prevalência de cálculos biliares nos adultos, estimada mediante estudos epidemiológicos de necrópsia e de investigação clínica, varia de 15 a 20%. A litíase vesicular é rara na criança, começa a ser identificada na adolescência, apresenta marcado acréscimo na incidência entre os 35 e 55 anos e aumenta gradualmente a partir dos 55 anos. Quadro Clínico A dor biliar é a queixa principal da maioria dos sintomáticos com cálculos biliares. Apesar de ser denominada cólica biliar, a dor na colelitíase é usualmente constante, e não uma cólica. A dor biliar é visceral, localiza-se no epigástrio ou no hipocôndrio direito e com frequência irradia para o ombro direito e a escápula. Resulta da obstrução transitória do ducto cístico pelos cálculos, seguida de espasmo. A dor pode ser precipitada por uma refeição gordurosa, porém, mais comumente, não há evento estimulante. Uma crise típica consiste em dor progressiva por 15 minutos a 1 hora, platôdurante 1 hora ou mais e, posteriormente, diminuição lenta da intensidade. Em 1/3 dos pacientes, a dor tem início súbito, e, menos frequentemente, o alívio UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� também é súbito. Se dura mais de 5 a 6 horas, deve sugerir colecistite aguda ou outra complicação. Em ordem decrescente de frequência, a dor é mais observada no epigástrio, nos hipocôndrios direito e esquerdo e em várias partes do precórdio e da porção inferior do abdome. Pacientes com cólica biliar, usualmente, não aparentam estar doentes e não têm febre ou taquicardia. A dor frequentemente não é grave o bastante para procurar o pronto-socorro. O intervalo entre as crises pode ser de semanas, meses ou anos, e a imprevisibilidade da sua duração é característica. A atividade da doença tende a se manter com as mesmas características por longos períodos. O exame físico geralmente é normal, mas alguns apresentam dor no epigástrio e no hipocôndrio direito durante uma crise. (Vai comparando com o caso de senhora Marta). Diagnóstico Tipicamente, a avaliação na suspeita de litíase biliar se inicia com ultrassonografia de abdome, já que essa é a modalidade mais sensível para a sua detecção (sensibilidade de 84% e especificidade de 99%). Se a ultrassonografia é negativa em um paciente com cólica biliar, estudos adicionais que podem auxiliar no diagnóstico incluem a ultrassonografia endoscópica e a microscopia da bile. Os achados à ultrassonografia na doença não complicada podem ser cálculos, microcálculos ou lama biliar. → Cálculos se apresentam na ultrassonografia como focos ecogênicos que causam uma sombra acústica posterior e são móveis; microcálculos aparecem como múltiplos cálculos pequenos ecogênicos; e a lama possui uma aparência ecogênica sem sombra acústica que se move mais lentamente. No caso de cólica biliar típica, mas sem cálculos na ultrassonografia, pode-se repeti-la em poucas semanas (aumenta a sensibilidade). COLECISTITE ACALCULOSA Epidemiologia A colecistite aguda acalculosa, que representa 10% de todos os casos de colecistite aguda, é mais frequente em pacientes gravemente enfermos, com traumatismos, queimaduras, sepse, neoplasias e diabetes. O emprego da nutrição parenteral total em hipotensos que necessitam de múltiplas transfusões de sangue e suporte ventilatório e que estão sépticos reúne condições favoráveis ao desenvolvimento da colecistite aguda acalculosa. Quadro Clínico Os sinais e sintomas clássicos de colecistite, como febre, dor no hipocôndrio direito e leucocitose, estão ausentes na maioria dos casos de colecistite acalculosa. Por ter sinais clínicos pouco evidentes que acabam por retardar o diagnóstico e por acometer pacientes já debilitados, a colecistite acalculosa tem curso mais fulminante do que as outras. Dependendo da intensidade do sangramento, os coágulos podem ficar impactados nos ductos biliares, causando icterícia obstrutiva ou pancreatite. Se não há obstrução, ocorrem hematêmese ou melena. Se o sangue se acumula na vesícula, pode haver rotura. A hemorragia acontece por necrose da mucosa e ulceração, com lesão de pequenos vasos. A patogênese não é totalmente compreendida, mas provavelmente envolve alguma condição de estase biliar com aumento da concentração biliar, isquemia por hipoperfusão, agravada com hipotensão e vasoconstrição simpática, lesão da mucosa, obstrução funcional e invasão bacteriana. Diagnóstico O diagnóstico de colecistite acalculosa deve ser suspeitado em pacientes críticos com quadro de sepse ou icterícia sem uma fonte definida. Hemocultura deve ser colhida para guiar antibiótico posteriormente. A ultrassonografia é o primeiro teste realizado, e os achados sugestivos são ausência de litíase ou lama biliar, espessamento da parede da vesícula (> 3 mm), fluido pericolecístico, vesícula estriada, sinal de Murphy positivo, mucosa rugosa, distensão da vesícula, não visualização da vesícula, colecistite enfisematosa e perfuração franca com formação de abscesso. Naqueles com diagnóstico não estabelecido, deve-se realizar uma colecintilografia. COLECISTITE ENFISEMATOSA A colecistite enfisematosa é causada por uma infecção secundária da parede da vesícula biliar comorganismos formadores de gás (como Clostridium perfringens, Escherichia coli – 15% –, Staphylococcus, Streptococcus, Pseudomonas, Klebsiella). Epidemiologia Ocorre geralmente em diabéticos. Os pacientes afetados são muitas vezes homens, na quinta a sétima décadas de vida, com até metade dos pacientes com diabetes e cálculos biliares. Quadro Clínico Assim como outros com colecistite aguda, pacientes com colecistite enfisematosa geralmente têm dor no quadrante superior direito, náuseas, vômitos e febre baixa. Sinais peritoneais estão normalmente ausentes, mas a crepitação (pista importante para o diagnóstico) na parede UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� abdominal adjacente à vesícula biliar pode raramente ser detectada. Hiperbilirrubinemia não conjugada também pode ocorrer (por hemólise induzida pela infecção de Clostridium). Diagnóstico A ultrassonografia pode mostrar gases recobrindo a vesícula e tornando a visualização difícil quando, na realidade, isso reflete ar na parede da vesícula biliar. Colecistite enfisematosa frequentemente anuncia o desenvolvimento de gangrena, perfuração e outras complicações. COLEDOCOLITÍASE A presença de cálculos na via biliar principal é conhecida como coledocolitíase. Quadro Clínico Seu quadro clínico caracteriza-se por náuseas, vômitos e dor do tipo biliar, até icterícia obstrutiva e colangite. Pode ser classificada como primária, quando os cálculos se formam na própria via biliar principal, ou secundária (forma mais comum), quando se formam na vesícula biliar e migram. A icterícia obstrutiva, em geral, com nível sérico de bilirrubinas < 10 mg/dL, com colúria, hipocolia fecal e prurido cutâneo, constitui achado frequente, associado ou não a outros sintomas biliares, que podem advir de cólica biliar ou colecistite aguda sobreposta. A coledocolitíase é a principal causa de colangite em nosso meio, levando sempre ao afastamento e à prevenção dessa séria complicação. Diagnóstico Muitos pacientes assintomáticos têm a coledocolitíase descoberta unicamente na colangiografia intraoperatória, realizada durante colecistectomia por colelitíase, que permite a identificação de 8 a 10% dos casos. A avaliação completa da função hepática e exames de sangue rotineiros fazem parte da avaliação inicial na suspeita de coledocolitíase; entretanto, a confirmação diagnóstica só pode ser obtida com exames de imagem. O exame inicial para o diagnóstico da coledocolitíase é a ultrassonografia, que, além de ser útil na triagem dos ictéricos, é o melhor para o diagnóstico de colelitíase, associada a 95% dos casos de coledocolitíase. Pode identificar dilatação das vias biliares ou outras situações clínicas associadas, mas só pode fechar o diagnóstico em, no máximo, 50% dos casos. A tomografia é mais útil no diagnóstico diferencial de outras doenças abdominais, principalmente as pancreáticas, mas consegue identificar a coledocolitíase em alguns casos, quando é visto cálculo radiopaco no interior do colédoco, na fase sem contraste. A ressonância nuclear magnética, com a reconstrução das vias biliares por meio da colangiorressonância, é um exame com pouca morbidade, sem risco de infecção ascendente das vias biliares, que proporciona o diagnóstico de coledocolitíase na maioria dos casos. A CPRE é um exame altamente específico para o diagnóstico da coledocolitíase, mas, devido aos altos índices de morbidade (10%) e mortalidade (até 1%), atualmente é mais reservada à terapêutica do que ao diagnóstico. A ecoendoscopia, ou ultrassonografia endoscópica, é um ótimo exame para o diagnóstico diferencial da icterícia obstrutiva e, quando disponível, uma boa opção para o diagnóstico da litíase da via biliar principal. COLANGITE AGUDA A colangite é um quadro infeccioso que tem como foco a via biliar e que necessita de 2 condições para se instalar: presença de bactérias no trato biliar e obstrução parcial ou completa que cause aumento da pressão das vias biliares. A bile é inicialmente estéril, mas pode ser colonizada por via hematogênica ou ascendente, a partir do trato gastrintestinal, principalmente se houver algum grau de disfunção hepática, o que compromete a depuração bacteriana pelas células de Kuppfer. Então, quando há alguma obstrução das vias biliares, há um acúmulo de bile, que pode servir como meio de cultura para o crescimento bacteriano. A pressão aumentada nas vias biliares faz que as bactérias ganhem a circulação sistêmica, comprometendo o estado geral. Os micro-organismos Gram negativos mais comumente encontrados nas culturas de pacientes com colangite são: E. coli (25 a 50%), Klebsiella (15 a 20%) e Enterobacter (5 a 10%). Os Gram positivos mais comuns são enterococos (10 a 20%). Quadro Clínico O quadro clínico da colangite baseia-se na tríade de Charcot, presente em 50 a 70% dos portadores dessa afecção, e na pêntade de Reynolds, a qual indica quadro de sepse grave. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 2 – In�e�m���ári� Pêntade de Reynolds → risco de SEPSE! Diagnóstico Assim como na colecistite aguda, são importantes enzimas canaliculares e bilirrubinas. Nos pacientes com a tríade de Charcot e alteração na bioquímica hepática, pode-se realizar direto a CPRE com drenagem da via biliar. Se há sinais e sintomas sugestivos de colangite aguda, mas sem a tríade de Charcot, a ultrassonografia abdominal é o exame de eleição. CPRE deve ser feita em até 24 horas se há dilatação ou cálculos. Se a suspeita de colangite aguda se mantém, mas a ultrassonografia é negativa, deve ser realizada colangiorressonância para provável visualização de cálculos pequenos perdidos à ultrassonografia. SÍNDROME DE MIRIZZI A síndrome de Mirizzi consiste na obstrução da via biliar por um cálculo impactado no infundíbulo da vesícula biliar (bolsa de Hartmann) ou no ducto cístico. A presença do ducto cístico longo, com implantação baixa e paralelo ao ducto hepático comum, predispõe à síndrome. → Noventa por cento dos casos apresentam da de fosfatase alcalina e bilirrubinas. Quadro Clínico Os cálculos impactados causam compressão mecânica do ducto hepático comum, levando a um quadro de icterícia contínua ou intermitente e episódios de colangite. Diagnóstico O diagnóstico se inicia pela ultrassonografia (podem-se ver dilatação biliar acima do nível do infundíbulo da vesícula,cálculo no infundíbulo, alteração abrupta para calibre normal do colédoco abaixo do cálculo) seguida pela colangiografia: por via direta, CPRE (a mais usada), colangiografia transhepática percutânea ou colangiorressonância podem ser opções. Na CPRE, podem-se visualizar obstrução do ducto hepático comum, cálculo impactado no infundíbulo ou ducto cístico e a fístula biliobiliar; além disso, nos casos de colangite ou aumento de bilirrubinas, pode ser passada prótese na via biliar. SÍNDROME DE GILBERT Sua principal característica constitui-se no aparecimento de discreta hiperbilirrubinemia indireta, cronicamente recorrente. Sua causa primária é a redução na atividade de glucuronidação hepática da bilirrubina. Epidemiologia Atinge aproximadamente 5 a 10% da população, sendo mais frequentemente descrita em adultos jovens, com incidência quatro vezes superior no sexo masculino. Em geral é associada a períodos de baixa ingesta, na vigência de doenças intercorrentes , quando os pacientes são submetidos a estresse ou exercícios, durante a fase de sangramento ativo do ciclo menstrual, podendo ocorrer antes, durante ou após o ato anestésico. Quadro Clínico Esses indivíduos apresentam, ainda, reduzido aumento na produção de bilirrubina, responsável por níveis discretamente aumentados de bilirrubinemia total. Tais níveis não são responsáveis por hiperbilirrubinemias significativas (>15 mg/dL), a não ser que sejam associados a quadros causadores de aumento expressivo de produção de bilirrubina. A concomitância da deficiência de glicose 6 fosfato desidrogenase (G6PD) pode levar a hiperbilirrubinemias graves e kernicterus. Na deficiênciadessa enzima, sem associação com a síndrome de Gilbert, as hiperbilirrubinemias importantes (>15 mg/dL) são raras (9,7%). Nos heterozigotos para Gilbert, esses valores ocorrem em 31,6%; nos homozigotos, aumentam para 50%. Sua associação com ß-talassemia também foi comprovada. A descrição desse caso chama a atenção para a associação pouco frequente de doença hemolítica pelo fator Rh e icterícia prolongada, porém é de suma importância, por produzir hiperbilirrubinemias muito intensas, recorrentes e se não tratadas convenientemente podem conduzir a kernicterus. Diagnóstico O diagnóstico da síndrome pode ser feito observando-se a história familiar, a duração da doença, a ausência de outras hepatopatias que justifiquem a icterícia e o seu aparecimento pelos fatores predisponentes, como: jejum, menstruação, estresse e exercícios, podendo ser confirmado pela melhora da icterícia após o uso de fenobarbital e pela piora após o uso de ácido nicotínico por via venosa. A síndrome de Gilbert não apresenta consequência clínica, exceto a ansiedade que um paciente ictérico poderia justificavelmente experimentar com essa condição inócua sob os demais aspectos. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI�� Gru�� �� Sal��ção #pa�
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